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Brasília,
março de 2024
1. Apresentação ....................................................................................... 3
2. Semeadura virtual ................................................................................ 4
3. Encontro presencial em Brasília ............................................................ 10
4. Pós-Seminário e conquista coletiva: criação do IMCJS .............................. 31
Anexo I - Registros do esperançar ............................................................ 33
Anexo II - Carta Pública .......................................................................... 36
1. Apresentação
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Quanto às discussões, um instrumento serviu de animação: o questionário
circulado previamente entre as entidades-membro do Fórum, incitando um
balanço avaliativo e sugestões para o seguimento da luta.
O balanço avaliativo contemplou, por exemplo, perguntas a respeito da
Formação Continuada e Multiplicadora em 2023; da produção de materiais e das
práticas mobilizadoras nos biomas; e do papel do Fórum em gerar consciência
crítica e motivação nas pessoas alcançadas. Ademais, questionou-se sobre a
contribuição do Fórum a iniciativas em rede.
Como destaque, pode-se mencionar o reconhecimento de que a Formação
Continuada e Multiplicadora avançou e os elogios à abordagem focada nos
biomas, que possibilitou trabalhar o tema das mudanças climáticas conforme as
especificidades e desafios de cada local.
Por outro lado, despontaram algumas preocupações, sobretudo quanto à
dificuldade de envolver mais pessoas e atores no processo formativo.
Quanto à elaboração de textos, houve destaque positivo para a produção
coletiva da Cartilha sobre os Corredores Bioculturais do Brasil, que se mostra
um material valioso para o trabalho com as bases e que, a partir de agora, exige
uma forte estratégia de difusão.
Outra produção elogiada foram os programas de rádio, entendidos como
uma ferramenta estratégica por conta de seu amplo alcance. Os lançamentos
semanais de conteúdo no Spotify foram vistos como um esforço apreciável e
permanente do Fórum de acompanhar as ameaças aos biomas e de celebrar as
conquistas populares.
Em resumo, relatou-se que o Fórum tem contribuído de maneira consistente
no crescimento e motivação das pessoas alcançadas, sobretudo ao possibilitar
dinâmicas de intercâmbio entre os distintos biomas. Assim, elogiou-se a
metodologia de descentralizar o saber e o fazer, adotada pelo Fórum, e a
propulsão que o esclarecimento sobre a crise climática tem gerado às lutas e às
lideranças. “A coragem e a indignação cresceram, o que é um sinal de esperança
para as lutas, ainda mais duras, que virão”.
Sobre as práticas mobilizadoras e locais, visando a convivência com o
bioma e a interligação entre eles, o entendimento geral é de que elas precisam ser
fortalecidas e incentivadas. Nesse aspecto, é sugerida a promoção de mais
intercâmbios que favoreçam a dinâmica de trocas, replicação de experiências e
também o surgimento de novas fontes de apoio técnico e financeiro.
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Quanto aos desafios vislumbrados, mencionou-se justamente a
necessidade de aprimorar a interlocução entre os biomas e de fortalecer as
capacitações e os projetos de conscientização, a fim de potencializar o impacto
positivo do Fórum. Entende-se que é preciso estender os debates, ampliando a
consciência crítica entre as pessoas que mais sofrem o ônus da emergência
climática.
Desse modo, é vista como importante a aproximação do Fórum com a
juventude e as lideranças populares, bem como seu maior envolvimento, em
futuros debates e ações, com representantes dos povos tradicionais e originários.
Surgiu, ainda, menção à necessidade de se ter grupos formados nos territórios
para um combate mais focal aos empreendimentos que neles se instalam e
ameaçam a vida das comunidades.
A partir dessas trocas online, o grupo não só abordou a importância do
Fórum para a luta nos biomas, como também encaminhou a discussão sobre as
tônicas desejáveis para o trabalho coletivo em 2024-2025, prevista para ser
aprofundada no encontro presencial de Brasília.
De modo geral, houve grande apoio ao seguimento e ampliação da formação
continuada e multiplicadora; à centralidade da agenda dos Direitos da Natureza,
que precisa avançar nos municípios; e ao fortalecimento das boas práticas
territoriais no enfrentamento à crise climática.
Outras prioridades também tiveram relevo, como a preparação da
participação do FMCJS na COP-30, que ocorrerá em Belém do Pará, em 2025; e a
necessidade de pautar, com maior força, o debate sobre a vida nas cidades em
contexto de emergência climática, acompanhado de estratégias específicas de
incidência política e pressão.
Abaixo, seguem com maior detalhe as prioridades sedimentadas na etapa
virtual do Seminário:
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● Promover a interconexão entre biomas e aprendizados, favorecendo a
comunicação entre os grupos e a perspectiva da unidade (corredores
bioculturais) no entendimento e no combate às mudanças climáticas.
● Dar continuidade à formação continuada e multiplicadora nos moldes
atuais, encontrando caminhos para engajar mais setores da sociedade
(escolas, universidades, movimentos sociais e populares, entre outros).
● Definir orientações para a criação de núcleos locais, visando fortalecer
formação de base em comunidades e municípios, via educação popular
crítica.
● Investir no fortalecimento dos núcleos estaduais, proporcionando-lhes
maior estrutura e recursos, como meio de mobilizar as bases e multiplicar
experiências exitosas.
● Implementar boletim periódico para difundir, em um só meio, as diversas
iniciativas dos biomas.
● Persistir no enfrentamento aos megaprojetos de energia renovável, o
que demanda, além do processo formativo e apoio a boas práticas, a criação
de indicadores e materiais para contrapor narrativa falaciosa da
economia verde e azul.
● Preparar intervenção na COP-30, que ocorrerá no Pará em 2025, de forma
que o Fórum e seus núcleos atuem de modo coordenado e articulado, com
estratégias conjuntas.
● Explorar o tema da conexão campo-cidade.
● Incorporar o debate mais metropolitano ao Fórum, com o objetivo de
pautar o debate político sobre a vida nas cidades em meio à crise
climática, o que inclui:
○ Pressão para que Planos de Adaptação Climática municipais e
estaduais sejam executados ou saiam do papel;
○ Articulação com parlamentares aliados, tal qual na experiência fértil
dos Núcleos do Rio de Janeiro e de Santa Catarina;
○ E construção de Planos Populares de Emergência Climática, para
lidar com desastres.
● Desenvolver e estimular projetos pilotos do uso de tecnologias sociais na
área do clima.
● Mobilizar a incidência política nos distintos níveis (nacional, estadual e
municipal).
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○ Em particular, foi feita menção à PEC 37/2021, à PEC 504 (da ASA)
e à V Conferência Nacional de Meio Ambiente e Mudança do
Clima, como iniciativas para o envolvimento e apoio pelo FMCJS; e
também ao PL do Mercado de Carbono, o qual precisa ser
problematizado e tensionado.
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Finalmente, cabe ressaltar a presença de
Essa primeira etapa
novos jovens à atividade, representando o Norte e online fui muito boa! Vai
o Nordeste do país; as intervenções potentes das servir de suporte para a
continuidade do encontro
mulheres participantes; e o fortalecimento dos
em Brasília. Vamos lá
laços transnacionais de luta, evidente na construir juntos essa luta!
participação de 3 companheiros(as) da Bolívia no ✊🏽
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3. Encontro presencial em Brasília
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cenários”, explicou Ivo Poletto, que moderou as atividades do dia ao lado de
Nahyda Franca. E assim circulou a palavra:
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resistência também está viva e ocorrendo no território. As populações estão
se unindo (Brasil-Bolívia) em proteção à Mãe Terra, criando resistência
jurídica inclusive.
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● Assim como Nahyda, também moro no Rio de Janeiro, mas não é desse
lugar que quero partir. Vou partir do lugar da minha atuação: a Cáritas
Nacional. Dentre nossas ações, gostaria de pontuar uma: a realização de
oficinas interregionais, que têm ocorrido em comunidades que têm
vivenciado desastres naturais, em especial inundações. Nesse esforço,
conversamos como a comunidade tem vivenciado a crise climática, que
varia pelos territórios e conforme critérios como classe, raça, etc., e no final
dessas oficinas temos apoiado a construção de planos comunitários de
ação. Sempre saem indicações tanto para demandas de ações concretas -
como construir pontes, saneamento básico - quanto para ações de
incidência local, cujos temas perpassam, por exemplo, o reconhecimento de
rios importantes para o desenvolvimento social e econômico das
comunidades.
● O local é nosso ponto de partida. As emissões geram impactos globais,
mas são as ações locais que têm efeito global.
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Aercio Barbosa - FASE e Núcleo Rio:
● Sou da FASE, instituição de educação popular, com atuação em seis estados
do Brasil, embora nossa sede seja no Rio. Quero destacar algumas coisas:
1) está em curso a revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas
e essa revisão está sendo pouco participativa. Vemos como esses eventos
extremos exigem mobilização de toda a sociedade civil; 2) o Brasil retornou
ao grupo das dez maiores economias do mundo. Diante do que vem
ocorrendo em nosso país, temos que retomar a discussão sobre os recursos
públicos, sobre o orçamento, encarando com vigor este debate! Crise
climática exige investimento em alta escala, em tecnologia social… e junto
disso, 3) temos de pensar em política de reparação! Quando o pobre
perde uma geladeira, móveis… o carioca conta apenas com um cartão de 3
mil reais para reestruturar sua vida. A tendência, infelizmente, é que esses
eventos climáticos extremos ocorram em intervalos cada vez menores.
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que não difere do que se passa em outras comunidades. Precisamos
recuperar o olhar também para o urbano!
● Temos, ainda, trabalho que vem sendo feito com as mulheres. A importância
de trabalharmos com as mulheres, a juventude e as crianças é central. São
as mulheres que espraiam conhecimento e resistência no mundo
urbano.
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resposta que seu deu foi a criação da Frente Parlamentar
Socioambientalista, a nível estadual. No entanto, na prática, a expectativa
não é boa.
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O segundo dia de Seminário mostrou-se bastante produtivo, tendo em vista
a aprovação coletiva das prioridades do Fórum no biênio 2004-2025 e uma
segunda dinâmica de grupos, desta vez voltada à proposição de ações específicas
para a materialização das prioridades firmadas. Também foi reservado tempo para
leitura do primeiro esboço da carta coletiva para publicação, findo o evento. A
coordenação do dia esteve a cargo de Rosilene Wansetto, pela manhã, e de Joilson
Costa, pela tarde.
Palavras e desejos de luta afirmados pelos participantes na dinâmica de acolhida do dia 05.
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PRIORIDADES 2024/2025
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Definidos tais pontos, os participantes se dedicaram, na tarde de terça-feira
(05/03), à proposição e à especificação de ações capazes de concretizar as
prioridades estabelecidas para 2024 e 2025. Desse modo, houve uma nova divisão
em grupos (3), em que cada qual esteve responsável por idealizar medidas para
uma das três prioridades ora pactuadas.
A metodologia pretendida, explicou Joilson Costa, seria a mesma de
momentos anteriores: cada grupo maturaria ideias para o posterior
compartilhamento em roda. Assim, todos os companheiros podem interagir com
as propostas surgidas em grupos que não o seu e o processo coletivo, enriquece-
se.
Documento à parte foi elaborado com o detalhamento das propostas, isto
é, incluindo onde, quando, com que atores e com quais recursos cada ação poderia
ser desenvolvida. Para os propósitos desta relatoria, porém, é considerado
suficiente o foco apenas nas ações propriamente ditas.
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➔ Fomentar a educação e a formação popular no sentido de participação
efetiva no processo decisório do uso do território, com uso do kit de cartilhas
dos biomas no processo formativo;
➔ Implementar Tribunal dos Povos que foram impactados por megaprojetos e
mudanças climáticas nos diferentes biomas, cobrando responsabilidade e
reparação, no contexto da COP-30;
➔ Criar de Inventário das intervenções de megaempreendimentos por bioma
do país.
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➔ Realizar e incentivar a captação de recursos junto à diversas instâncias
nacional e internacional para fomentar as boas práticas coletivas;
➔ Identificar novas parcerias para atuar na captação de projetos;
➔ Mapear novas parcerias para projetos de gestão direta do IMCJS ou por
entidades da rede;
➔ Identificar possíveis parcerias para fortalecer a fase inicial do IMCJS;
➔ Elaborar um instrumental orientativo para constituição e consolidação de
núcleos do FMCJS;
➔ Construir, em diálogos, políticas de salvaguardas (direitos socioambientais
e territoriais).
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A equipe de produção da carta foi composta por Ivo Poletto, Aércio Barbosa, Silvana
Canário, Clecir Trombetta, Joadson Silva e Ruben Siqueira.
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3.3 Terceiro dia (06/03): conclusão da jornada e momento
avaliativo
Isidoro Salomão:
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● Vou iniciar a roda, já que terei de sair em cinco minutos. Acho que o
processo online é muito bom para nós. Primamos pela questão de base,
porque estamos construindo coisas a partir de um alicerce. Este mês
tiramos muito tempo para participar do Fórum porque acreditamos neste
espaço e o priorizamos. Essa questão de ser rede de verdade (e não um
embaraço), com interligação entre biomas e organizações, é muito
relevante. Nós, do Pantanal, ganhamos força nesses 4-5 anos de
participação no Fórum. Na articulação internacional de nossa luta,
colocamos o Fórum como o parceiro de referência no Brasil. Temos a difícil
tarefa de ser base. Gosto de pensar na base primeiro, com a aceitação do
povo. Quero agradecer por mais essas trocas enriquecedoras.
Angelo Zanre:
● Gostaria de destacar três pontos. O primeiro é sobre a construção do
evento, com processo participativo e que ajuda a crescer. O segundo
é a convivência humana, a humanização das nossas relações, que se
refletiu em momentos como a Noite Cultural, que gera memórias especiais.
A terceira é a motivação para retomar os trabalhos, na luta e nas bases.
Luciano Galeno:
● O processo foi interessante porque foi algo tranquilo, mesmo com tempo
restrito, e a escuta foi garantida. Estivemos com pé no chão, sem
agenda atropelada.
César Nóbrega:
● Gostaria de chamar atenção para o desafio que temos nesta caminhada. O
Fórum pauta co-construção e questão climática, que deve chegar à
sociedade. Esse é o nosso grande desafio. Entre nós, os movimentos, nem
todos incluíram a crise climática como foco do trabalho. E aqui falo das
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grandes centrais sindicais, movimentos, que ainda não incorporaram essa
luta, para que possamos melhor pressionar a nível de governo.
Lucidalva Cardoso:
● Percebi que nosso encontro foi tranquilo, suave. Acredito que a conexão
entre nós estava forte, estávamos centrados nas prioridades e o que
está em nosso alcance para ação. Acredito que sairemos daqui e iremos
para nossas bases, com carta em mãos e maior motivação. Meu movimento
conhece o Fórum, mas outras organizações não. Devemos divulgar. O
Fórum tem muita força de mudança, mas também depende da gente.
Nahyda Franca:
● É momento difícil, em que estamos vivendo na pele a transição climática.
Muita gente está indo embora, por conta disso. E é isso que Ivo fala: é
momento duro. Acho que precisamos apelar para nossas crenças e
espiritualidade. Mas uma coisa boa que queria destacar é a presença
de jovens, engajados, trabalhando. Há muito tempo não renovamos as
pessoas. Precisaremos renovar nossas bases, cada vez mais. Trazer a
juventude é muito importante. Jovens atraem outros jovens. Temos que
estar antenados nisso.
● Temos restrição de recursos, para trazer mais pessoas… mas concordo com
Moacir, de fazer o Seminário outros biomas. Temos, porém, uma porta nova
sendo aberta, com criação do instituto, com que esperamos atrair mais
recursos para nossas ações.
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● Enquanto Fórum, temos que fortalecer nossas parcerias em rede, ampliar
tentáculos e aproveitar, ao máximo, oportunidades que podem nos
fortalecer.
Fernando Aristimunho:
● Nós do Pampa estamos aqui porque acreditamos nesta articulação de
biomas. Tenho para mim que esta é a primeira iniciativa, a nível de Brasil,
que se propõe a aproximar os biomas, acreditando que somos um país
diverso, mas com aproximações enquanto povos. Estamos dizendo que
os corredores bioculturais nos conectam. Acreditamos nisso.
● Proposta: incluir na programação dos próximos eventos, criação de
comissão com representantes dos biomas para já realizar incidência
em Brasília, em paralelo ao Seminário, aproveitando o deslocamento dos
participantes que vêm de outros estados.
Marcos Espíndola:
● Foi maravilhoso encontrar pessoas com quem temos contato virtual. Essa
presença carrega muito afeto. Foi muito suave, tranquilo. Creio que
o título do seminário, com o verbo esperançar, ajudou muito, pois, apesar
de tudo que está acontecendo, temos esperança. Acreditamos que há uma
solução, uma solução conjunta.
● Desafio, que vejo, é colocar em prática as prioridades que elencamos e
ventilar essa carta ao máximo. Essa simbiose, por conta da
metodologia, foi muito feliz. Quero endossar sugestão do colega, de
realizar evento em outro bioma. E que, sendo em Brasília ou qualquer outro
lugar, tirar comissão para fazer incidência nas casas legislativas. Quero
agradecer e dizer que temos mandatos de apoio em Santa Catarina, à
disposição.
Iremar Ferreira:
● Quero celebrar nosso momento virtual realizado dias atrás, com a
participação dos companheiros da Bolívia. Nosso processo está
inspirando práticas de resistência dos vizinhos, da fronteira. Quero
saudar a nossa juventude. Essa tem que ser nossa priorização.
Conseguimos ter essa presença importante e que assim seja nas nossas
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bases também. O processo de participação foi muito rico e isso nos
ajudou, como coletivo e rede, entrelaçada e não embaraçada, a
seguir na caminhada. A participação fez com que cada momento fosse
riquíssimo. Quando a gente se coloca na vivência, cada um agrega com sua
parte. Comunga desse desafio e da vontade de fortalecer nossas realizações
em outros espaços.
● E ainda registrar, nessa perspectiva de rede, algo sobre a Articulação de
Amazônia sobre COP-30. Carlos, do Movimento Tapajós Vivo, vai
representar o Fórum nesse processo, que vai fluindo. Depois dessa
chamada regional, haverá uma ampliada, em âmbito nacional.
Ivo Poletto:
● Eu queria dar duas indicações. 1) de fato, vocês colocaram bem: é da
tradição do nosso seminário ter essa incidência. Dessa vez, a criação do
Instituto nos ocupou o tempo. Tentaremos compensar. Mas acho que essa
proposta de criar comissão de incidência é muito importante, porque
pressão coletiva, com representação dos biomas, seria excelente.
● Além disso, foi relembrado que o Fórum comemora 15 anos em 2025.
Me dei conta de que estamos na adolescência, em que tudo se transforma.
Nessa fase, despertam energias novas e curiosidades, e estaremos no ano
da COP-30. Quem sabe não consigamos levantar recursos para fazer
encontro em cada bioma, para ampliar o enraizamento dessa
perspectiva nos biomas? Por que não sonhar com um envio de delegação
plural para a COP de Belém?
● Acho que estamos inovando nesse esforço de conexão dos biomas. Sou um
dos primeiros que levantou o tema dos biomas como questão política e
intercultural. Aqui, quem falava dos biomas eram os geógrafos e os
biólogos. Hoje, muito mudou. Que bom! Pessoalmente, me sinto um
semeador.
● No mais, gostaria de indagar: a realização do evento no mês de março foi
interessante? Deveríamos manter?
Aércio Barbosa:
● Ano que vem tem a COP, mas acho que evento em março é bom, porque as
agendas estão mais livres. Quanto à metodologia, considerei muito
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relevante. Vejo avanços, de encontro a encontro e considero
processo metodológico bem interessante, com possibilidade de
todos falarem - o que se soma agora ao processo virtual, que facilita a
participação.
● Também gostei muito da proposta do Moacir: sou do Rio de Janeiro e
espero que um encontro desse possa acontecer na capital, na
Baixada, nas favelas cariocas, para ver boas práticas e experiências!
Seria um coroamento, reforçaria a integração dos biomas, campo-
cidade.
● É sempre uma experiência nova estar presencialmente. Essa integração com
outros biomas representa para nós, do urbano, um constante
aprendizado.
Ruben Siqueira:
● Quero destacar a pluralidade desse encontro. Senti falta, porém, de um
tempo específico para análise de conjuntura. Seria importante
consolidar uma análise mais segura para o que iríamos propor, planejar.
Estamos em uma escuridão. A gente está hegemonizado. Paulista encheu,
em último ato bolsonarista, e estamos batendo cabeça para unir forças. A
dificuldade de construir contra hegemonia é grande.
● A questão ambiental, climática, tem viés de congregar e avançar nessa
direção - basta ver por aqui, o que cada um está fazendo em seu território.
Estamos dando a cara, com esperança, com depressão. Precisamos ter
ciência de nosso alcance, como potencializar e promover eventos paralelos
à COP. Quais são as razões reais da nossa esperança?
● A gente avançou muito no diagnóstico da crise, mas o que está ocorrendo
de enfrentamento local e regional precisa ganhar mais visibilidade.
Temos que fazer também levantamento também das experiências
tradicionais de resistência, para nos dar esperança, em amplitude
nacional, latinocaribenha, etc. Vamos olhar mais para isso!
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também vai reativando memórias, coletivas, pessoais e de coisas que nem
vivemos, mas das quais nos sentimos parte. Falo concretamente das
trajetórias que compartilhamos em outros momentos e espaços; sejam as
memórias pessoais. Na matriz africana, uma das ideias compartilhadas é
que, pior que a morte, é o esquecimento.
● Outra questão é: reafirmar o encontro presencial. Vivemos momentos de
urgências e ansiedades. É importante que tenhamos tempo, tempo
também é um orixá. Que a gente consiga considerar isso.
● Quero saudar a carta, que será instrumento de atuação do Núcleo Rio e do
PACS, como instrumento de educação popular; e também a criação do
IMCJS! Que a gente siga firme e possa alterar essa relação destruidora com
a natureza que também é machista, lgbtqfóbica, racista e patriarcal. Avante!
Joadson Silva:
● Pessoal, vim com grande missão, a mim delegada por Moema e Nevinho,
que não é fácil, mas que é preciso assumir. Sou de uma comunidade perto
de São Vicente. Morando no sertão nordestino, não cheguei a passar fome,
mas sempre tivemos de lidar com dificuldades no acesso à água, resultantes
de políticas errôneas e da indústria da seca.
● Entrei na universidade há 12 anos. Entrei na área da história indígena e
arqueologia, a fim de entender as ocupações humanas e depois vi que isso
refletia a minha própria história. Por isso me identifiquei com tantos aqui.
Cinco anos atrás, arqueólogo formado, pobre, comecei a trabalhar nas
empresas e ter maior autonomia financeira. Viajava a trabalho e me sentia
cidadão. Porém, comecei a encarar os impactos desses grandes
empreendimentos de energia renovável com os que eu trabalhava,
enquanto arqueólogo, que se assemelhavam aos das barragens e outros.
● Assim, começamos a nos articular em prol da luta, junta do povo, que
é minha também, porque eu sou povo. Empreendimentos impactam
nosso sono e tomam lugares sagrados, serras onde estão as áreas mais
preservadas do Seridó, ricos arqueologicamente falando, e também de
domínio indígena.
● A parceria estabelecida aqui fortaleceu, em mim, a importância
dessa articulação. Juntos poderemos exigir que energias renováveis
sejam desenvolvidas de forma mais humana e respeitosa com a Mãe Terra!
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Marline Dassoler:
● A gente viveu dias de uma intensidade tão grande, tão boa! Esses
momentos, como o Seminário, alimentam nossa mística e
caminhada, fazendo-nos continuar acreditando que outro mundo é
possível. Obrigada pela ousadia, pela determinação e coragem em fazer
denúncias! Penso que o papel do Fórum, nesse momento, é o de propagar
as denúncias que vêm das nossas bases, mas sobretudo de realizar um
anúncio profético sobre a abundância de vida e práticas que existem
em nossos territórios e comunidades!
● Precisamos fomentar a sistematização do que vem dando certo, focando na
realidade de abundância que nossas lutas promove: as cisternas verticais,
a vida no quilombo, o trabalho na aldeia… nas nossas comunidades…
mostrar tudo isso! Vida em abundância!
Crer
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No amor brotado em atos e gestos de pura solidariedade;
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4. Pós-Seminário e conquista coletiva: criação do IMCJS
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O Conselho Deliberativo contará com cinco membros, a saber: Ivo Poletto, Rosilene
Wansetto, Nahyda Franca, Luiz Felipe Lacerda e Marline Dassoler. Já o Conselho Fiscal, de
três membros e um suplente: Joilson Costa, Delci Franzen, Iremar Ferreira e Lucidalva
Cardoso (suplente).
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ganham potencial de multiplicação”. “Nossa causa, além de ampla, é estratégica
para a vida no planeta”.
Entre as propostas concretas que emanaram da roda, consta a ideia de
buscar acesso a projetos exitosos e que receberam recursos como modelos. Mais
especificamente, falou-se em designar equipe para esse levantamento e criar um
banco de projetos (de três a quatro por região ou bioma), já avançados, para que
sejam adaptados conforme surjam editais e oportunidades específicas.
O tema da água, ao fim, foi visto como central e transversal aos diferentes
biomas. A partir da provocação de Isidoro Salomão, do Pantanal, o grupo entendeu
ser interessante mobilizar as bases a respeito do tema, em conexão com a crise
climática, a fim de lançar uma possível Campanha Nacional, a partir de novembro
de 2024.
Já há conexões de lutas panamazônicas com o mote da água e também
problemas, nas grandes cidades, de abastecimento hídrico e privatização da água,
que ensejam múltiplos enfoques formação e incidência, para além da crítica ao
impacto do agronegócio, entendeu-se.
Despontou, ainda, a possibilidade de se tratar, no seio da Campanha, dos
impactos que empreendimentos verdes têm gerado sobre a água da Caatinga, o
oceano e comunidades locais. A ideia, resumidamente, é trabalhar o tema da água
a partir do cotidiano e das particularidades regionais, de modo a garantir maior
engajamento e adesão.
Quanto ao Tribunal dos Povos, proposto para o horizonte da COP-30, em
Belém do Pará, houve sugestão de Rosilene Wansetto: Rede JSB já promoverá
tribunal semelhante para condenar violações e falsas soluções ambientais no
contexto do G-20. Portanto, propôs junção das iniciativas, para unir forças.
Além do trabalho conforme as prioridades locais, o Fórum seguirá apostando
na interconexão entre biomas como diferencial e meio de enriquecimento da luta
pelos povos e pelos Direitos da Natureza.
Finalmente, recordando a proximidade do 8 de março, Vanda dos Santos
mobilizou um canto coletivo com que o grupo se despediu: “Sem água não há vida.
Sem mulheres também não!”.
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Anexo I - Registros do esperançar
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Anexo II - Carta Pública
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Disponível em: https://fmclimaticas.org.br/alerta-aos-povos-do-brasil-e-seu-governo/.
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