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Jaider Esbell, Pata Ewa’n – O coração do mundo, 2016

SEMINÁRIO NACIONAL DO FÓRUM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA


SOCIOAMBIENTAL

Brasília,
março de 2024

Relatora: Thayane Queiroz


ÍNDICE

1. Apresentação ....................................................................................... 3
2. Semeadura virtual ................................................................................ 4
3. Encontro presencial em Brasília ............................................................ 10
4. Pós-Seminário e conquista coletiva: criação do IMCJS .............................. 31
Anexo I - Registros do esperançar ............................................................ 33
Anexo II - Carta Pública .......................................................................... 36
1. Apresentação

O Seminário Nacional do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça


Socioambiental, edição 2023/2024, frutificou a partir do tema “Enfrentando a
emergência socioambiental com esperança”. Realizado de modo híbrido, o evento
foi composto por duas etapas: uma primeira em modalidade virtual, nos dias 21 e
22 de fevereiro de 2024; e uma segunda em Brasília, Distrito Federal, entre 04 a
06 de março do mesmo ano.
O objetivo comum a ambas as etapas foi o avanço e a definição das
prioridades para a atuação do Fórum no biênio 2024-2025, o que pôde se
concretizar mediante uma programação dada aos trabalhos de grupo e aos debates
em plenária. Além dessas dinâmicas participativas, o evento também contou com
momentos de mística cultural e celebração, que inspiraram os trabalhos e a união
coletiva.
Como de praxe, elaborou-se uma Carta Pública endereçada à sociedade
brasileira, como meio de reafirmar compromissos de luta do Fórum e fomentar a
incidência política.
A grande novidade deste ano, assim, ficou por conta da criação do Instituto
Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (IMCJS), em Assembleia que se
sucedeu aos dias do Seminário. Considerado um momento histórico da caminhada
em rede, a formalização do Instituto foi tomada por otimismo, tendo em vista seu
potencial de fortalecer a multiplicação de boas práticas nos biomas e a missão do
Fórum, como articulação orgânica, em defesa da vida.

Urgente é só amar, unir, viver


Viva a beleza, a natureza!
Viva a grandeza
que há em cada coração!
Chegou a hora
É hoje, agora
Viva o abraço!
Viva o laço!
A gratidão!

(Canção Urgente - Zé Vicente)


2. Semeadura virtual

O Seminário Nacional teve início com uma etapa de semeadura virtual,


ocorrida, como mencionado, nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2024.
Esses encontros virtuais agregaram, em média, cerca de 40 participantes
por dia, reunidos com um duplo propósito de avaliar a atuação do Fórum ao longo
de 2023 e de já ensaiar um diálogo sobre as futuras prioridades de ação. “Que a
gente tenha manhãs prósperas, criativas, que terminarão na Assembleia de criação
do IMCJS”, declarou Ivo Poletto, responsável por moderar as atividades junto com
Nahyda Franca e Iremar Ferreira.
“Saudamos a presença de companheiras(os) de longa data. Queremos
saudar também, de modo especial, os que estão chegando; são convidados pelas
pessoas e vão se articulando a nível local, no bioma, e demonstraram interesse
por esse processo nacional. Bem vindo, todas e todos!”, acrescentou Ivo.
Antes de iniciar o trabalho, a musicalidade e a espiritualidade foram
nutridas. Iremar solicitou proteção e inspiração ao Criador, enquanto Nahyda
trouxe à memória a figura da pajé de nosso povo Tupinambá, Nega Muniz Pataxó,
da Bahia, que virou semente no último janeiro, sob o signo da violência. “Eu
gostaria de trazer a forte presença dessa mulher conosco, em canto que ela
entoava lindamente”, solicitou Nahyda.

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Quanto às discussões, um instrumento serviu de animação: o questionário
circulado previamente entre as entidades-membro do Fórum, incitando um
balanço avaliativo e sugestões para o seguimento da luta.
O balanço avaliativo contemplou, por exemplo, perguntas a respeito da
Formação Continuada e Multiplicadora em 2023; da produção de materiais e das
práticas mobilizadoras nos biomas; e do papel do Fórum em gerar consciência
crítica e motivação nas pessoas alcançadas. Ademais, questionou-se sobre a
contribuição do Fórum a iniciativas em rede.
Como destaque, pode-se mencionar o reconhecimento de que a Formação
Continuada e Multiplicadora avançou e os elogios à abordagem focada nos
biomas, que possibilitou trabalhar o tema das mudanças climáticas conforme as
especificidades e desafios de cada local.
Por outro lado, despontaram algumas preocupações, sobretudo quanto à
dificuldade de envolver mais pessoas e atores no processo formativo.
Quanto à elaboração de textos, houve destaque positivo para a produção
coletiva da Cartilha sobre os Corredores Bioculturais do Brasil, que se mostra
um material valioso para o trabalho com as bases e que, a partir de agora, exige
uma forte estratégia de difusão.
Outra produção elogiada foram os programas de rádio, entendidos como
uma ferramenta estratégica por conta de seu amplo alcance. Os lançamentos
semanais de conteúdo no Spotify foram vistos como um esforço apreciável e
permanente do Fórum de acompanhar as ameaças aos biomas e de celebrar as
conquistas populares.
Em resumo, relatou-se que o Fórum tem contribuído de maneira consistente
no crescimento e motivação das pessoas alcançadas, sobretudo ao possibilitar
dinâmicas de intercâmbio entre os distintos biomas. Assim, elogiou-se a
metodologia de descentralizar o saber e o fazer, adotada pelo Fórum, e a
propulsão que o esclarecimento sobre a crise climática tem gerado às lutas e às
lideranças. “A coragem e a indignação cresceram, o que é um sinal de esperança
para as lutas, ainda mais duras, que virão”.
Sobre as práticas mobilizadoras e locais, visando a convivência com o
bioma e a interligação entre eles, o entendimento geral é de que elas precisam ser
fortalecidas e incentivadas. Nesse aspecto, é sugerida a promoção de mais
intercâmbios que favoreçam a dinâmica de trocas, replicação de experiências e
também o surgimento de novas fontes de apoio técnico e financeiro.

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Quanto aos desafios vislumbrados, mencionou-se justamente a
necessidade de aprimorar a interlocução entre os biomas e de fortalecer as
capacitações e os projetos de conscientização, a fim de potencializar o impacto
positivo do Fórum. Entende-se que é preciso estender os debates, ampliando a
consciência crítica entre as pessoas que mais sofrem o ônus da emergência
climática.
Desse modo, é vista como importante a aproximação do Fórum com a
juventude e as lideranças populares, bem como seu maior envolvimento, em
futuros debates e ações, com representantes dos povos tradicionais e originários.
Surgiu, ainda, menção à necessidade de se ter grupos formados nos territórios
para um combate mais focal aos empreendimentos que neles se instalam e
ameaçam a vida das comunidades.
A partir dessas trocas online, o grupo não só abordou a importância do
Fórum para a luta nos biomas, como também encaminhou a discussão sobre as
tônicas desejáveis para o trabalho coletivo em 2024-2025, prevista para ser
aprofundada no encontro presencial de Brasília.
De modo geral, houve grande apoio ao seguimento e ampliação da formação
continuada e multiplicadora; à centralidade da agenda dos Direitos da Natureza,
que precisa avançar nos municípios; e ao fortalecimento das boas práticas
territoriais no enfrentamento à crise climática.
Outras prioridades também tiveram relevo, como a preparação da
participação do FMCJS na COP-30, que ocorrerá em Belém do Pará, em 2025; e a
necessidade de pautar, com maior força, o debate sobre a vida nas cidades em
contexto de emergência climática, acompanhado de estratégias específicas de
incidência política e pressão.
Abaixo, seguem com maior detalhe as prioridades sedimentadas na etapa
virtual do Seminário:

● Seguir pautando e defendendo, como agenda transversal do FMCJS:


○ a bandeira dos direitos da Natureza e dos Rios, com destaque,
nas falas, para o cuidado e gestão das águas;
○ e tema do enfrentamento à emergência climática (com atenção
às suas causas, efeitos desproporcionais sobre grupos já vulneráveis
e às especificidades regionais).

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● Promover a interconexão entre biomas e aprendizados, favorecendo a
comunicação entre os grupos e a perspectiva da unidade (corredores
bioculturais) no entendimento e no combate às mudanças climáticas.
● Dar continuidade à formação continuada e multiplicadora nos moldes
atuais, encontrando caminhos para engajar mais setores da sociedade
(escolas, universidades, movimentos sociais e populares, entre outros).
● Definir orientações para a criação de núcleos locais, visando fortalecer
formação de base em comunidades e municípios, via educação popular
crítica.
● Investir no fortalecimento dos núcleos estaduais, proporcionando-lhes
maior estrutura e recursos, como meio de mobilizar as bases e multiplicar
experiências exitosas.
● Implementar boletim periódico para difundir, em um só meio, as diversas
iniciativas dos biomas.
● Persistir no enfrentamento aos megaprojetos de energia renovável, o
que demanda, além do processo formativo e apoio a boas práticas, a criação
de indicadores e materiais para contrapor narrativa falaciosa da
economia verde e azul.
● Preparar intervenção na COP-30, que ocorrerá no Pará em 2025, de forma
que o Fórum e seus núcleos atuem de modo coordenado e articulado, com
estratégias conjuntas.
● Explorar o tema da conexão campo-cidade.
● Incorporar o debate mais metropolitano ao Fórum, com o objetivo de
pautar o debate político sobre a vida nas cidades em meio à crise
climática, o que inclui:
○ Pressão para que Planos de Adaptação Climática municipais e
estaduais sejam executados ou saiam do papel;
○ Articulação com parlamentares aliados, tal qual na experiência fértil
dos Núcleos do Rio de Janeiro e de Santa Catarina;
○ E construção de Planos Populares de Emergência Climática, para
lidar com desastres.
● Desenvolver e estimular projetos pilotos do uso de tecnologias sociais na
área do clima.
● Mobilizar a incidência política nos distintos níveis (nacional, estadual e
municipal).

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○ Em particular, foi feita menção à PEC 37/2021, à PEC 504 (da ASA)
e à V Conferência Nacional de Meio Ambiente e Mudança do
Clima, como iniciativas para o envolvimento e apoio pelo FMCJS; e
também ao PL do Mercado de Carbono, o qual precisa ser
problematizado e tensionado.

Assim, encaminhou-se para o fim a etapa virtual do Seminário. Em


momento de palavra aberta, as(os) participantes fizeram elogios às partilhas,
aprendizados e espírito de comunhão propiciados.
Regina Dantas, em sua primeira participação em atividades do Fórum,
agradeceu pelo evento e disse ter sido contemplada pelos debates. “Tudo está
interligado, apesar desse Brasil ser diversos: nossas angústias, problemas e
situações. Portanto, quero ressaltar a importância dessa construção coletiva,
sobretudo na assunção de compromissos”.
A companheira, que é da União Nacional das Cooperativas Solidárias,
destacou a importância de inserir o debate ambiental dentro do espaço do
cooperativismo e da economia solidária e, com fala representativa do clima
coletivo, finalizou: “Saio no esperançar de que eu não estou só, nós não estamos
sós. Podemos não ser a maioria, mas somos uma força que tem muito a
transformar”.
Na mesma linha seguiu Angela Silva, para
A união de forças é essencial,
quem há muita harmonia nas lutas porque a solução é coletiva.
representadas no evento. “Estou aqui para o que As demandas das regiões se
assemelham. Vejo o evento
der e vier. Temos que garantir os direitos da
muito positivamente.
Natureza como um dos pontos mais importantes
(Izabel Carvalho)
de nossa caminhada em 2024. Faço parte da
Associação de Favelas, junto com Cosme Vitor.
Somos de São José dos Campos. Nosso bioma é
a Mata Atlântica”.
Mary Nelys Sares também parabenizou a metodologia dos encontros
virtuais, expressando gratidão, assim como Adriana Maria Braga: “Estes dois dias
de seminário foram de grande aprendizado. Feliz que poderei levar o que ouvi aqui
para as salas de aula para a conscientização das crianças, para que elas cresçam
com a responsabilidade de cuidar dos biomas e do meio ambiente”.

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Finalmente, cabe ressaltar a presença de
Essa primeira etapa
novos jovens à atividade, representando o Norte e online fui muito boa! Vai
o Nordeste do país; as intervenções potentes das servir de suporte para a
continuidade do encontro
mulheres participantes; e o fortalecimento dos
em Brasília. Vamos lá
laços transnacionais de luta, evidente na construir juntos essa luta!
participação de 3 companheiros(as) da Bolívia no ✊🏽

evento, ligados(as) ao COMVIDA (Comité Defensor (Lucidalva Cardoso)


de la Vida Amazónica en la Cuenca del Río Madera).
Cientes dos desafios, mas em clima de
gratidão, todo o grupo se despediu com a certeza de que “nossa responsabilidade
é priorizar a vida na Terra”, como resumiu Nahyda Franca.

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3. Encontro presencial em Brasília

A etapa presencial do Seminário transcorreu entre os dias 04 e 06 de março


de 2024, no Centro Cultural de Brasília, com programação que incluiu momentos
abertos à participação virtual. Ao todo, estiveram reunidos na capital federal 31
participantes, 17 homens e 14 mulheres, oriundos dos distintos biomas do país,
para o intercâmbio de conhecimentos e o fortalecimento da luta comum. Abaixo,
segue relato sintético do andamento do Seminário.

3.1 Primeiro dia (04/03): avanço na seleção de prioridades para


2024-2025

O primeiro dia de trabalho teve início no turno da tarde, após a chegada


dos participantes e da realização de um almoço coletivo. Com um momento inicial
e palavras de acolhimento, Iremar Ferreira deu as boas-vindas aos presentes,
reafirmando o grande propósito da atividade. “Aqui estamos para enfrentar a
emergência socioambiental com esperança”, prosseguiu: “somos guardiões da
vida integral”.
Juntamente com ele, Lucidalva Cardoso mobilizou a mística de comunhão,
convidando a todos que admirassem os símbolos e bandeiras de luta colocados ao
centro da roda. “Para mim”, disse a companheira, “a formação e o conhecimento
são importantíssimos para a luta, pois nos inspiram nesse enfrentamento com
esperança”. “Nossa luta tem que ser com o lápis, com a caneta, com o texto, para
que toquem o coração e a mente das pessoas”.
Entre os símbolos dispostos ao centro da roda, houve menção às águas, que
alimentam a vida; à causa e resistência indígenas; à ave pantaneira Tuiuiú; e ao
mandacaru florido. Ruben Siqueira, neste momento, partilhou: “Boa parte da
minha vida de militância tem sido nas Caatingas. A flor do mandacaru é a
grande explosão da vida! Temos que ser como o mandacaru no sertão,
resistentes ao excesso de chuva e ao excesso de sol, tendo em vista o cenário
geral que enfrentamos!”.
Com esse espírito, houve um momento para trocas iniciais em roda, ao qual
se seguiram os trabalhos de grupo. “Queremos iniciar a roda com pequenas
participações sobre os desafios que enxergamos para a luta, a partir de nossos

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cenários”, explicou Ivo Poletto, que moderou as atividades do dia ao lado de
Nahyda Franca. E assim circulou a palavra:

Nahyda Franca - Núcleo Rio:


● Falo do Rio de Janeiro e, portanto, de uma realidade bem urbana e caótica.
Nós, do Rio, temos uma Frente Parlamentar por Justiça Climática, que reúne
vários parlamentares empenhados em construir e demandar soluções e
ações positivas no enfrentamento às mudanças climáticas; e em evidenciar
direitos violados nos eventos extremos que têm acometido a cidade.
● Destaco a reunião que tivemos com o Conselho Nacional de Direitos
Humanos por conta de um relatório que está sendo feito sobre direitos
violados nesse contexto das mudanças climáticas. Penso ser uma
articulação importante de sublinhar.

Joadson Silva - Seridó Vivo, Rio Grande do Norte:


● É minha primeira vez neste evento, sou do FMCJS local (Rio Grande do
Norte) e lá faço parte da organização Seridó Vivo. Tenho experiência como
militante desde jovem e depois me tornei pesquisador. Continuo fazendo
pesquisas, mas procuro também me envolver com ações mais próximas do
povo, gerindo conhecimento popular.
● No Seridó, chegaram soluções para a crise climática que são falsas soluções,
catalisadoras de problemas, capitaneadas por empresas e com apoio do
governo. Três anos atrás levantávamos esta fala e éramos taxados de
loucos. E hoje temos feito essas vozes ecoarem críticas aos grandes
empreendimentos em energias renováveis no Nordeste. A solução nós
temos: são locais, como os quintais produtivos e os painéis solares.

Iremar Ferreira - Instituto Madeira Vivo e COMVIDA:


● Venho de Rondônia, do Rio Madeira, Amazônia. Vivemos neste momento as
contradições do clima, frente ao que antes tínhamos como normal: Acre
está debaixo d’água e Rondônia, sob chamas. A soja já chegou lá, na
barranca do rio, com a proposta das hidrelétricas, rodovias… e com a ponte
binacional licitada para viabilizar escoamento da soja, que querem produzir
com intensidade no cerrado boliviano. Temos esses nomes, do grupo da
soja, do veneno, que vêm desde 2000 com o projeto IRSAA. Mas a

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resistência também está viva e ocorrendo no território. As populações estão
se unindo (Brasil-Bolívia) em proteção à Mãe Terra, criando resistência
jurídica inclusive.

Angelo Zanré - CPT e Núcleo Pernambuco:


● Sou Ângelo, do Núcleo Pernambuco do Fórum e da Cáritas. Gostaria de
destacar dois desafios que temos em nossa região: a expansão devastadora
das fazendas solares e eólicas; e os processos de desertificação. Hoje já
temos uma área entre Bahia e Pernambuco de desertificação mesmo, um
alerta grande para nós. Pela ótica da esperança, porém, temos as
lutas. Temos lutas que já se oficializaram, por exemplo, no reconhecimento
dos direitos dos rios, como no município de Bonito; e seguimos acumulando
força no enfrentamento às renováveis e também na luta contra a
pulverização de agrotóxicos.

Silvana Canário (participação online):


● Me chamo Silvana, sou do Gambá (Grupo Ambientalista da Bahia). Estou
contribuindo com o grupo da carta. Devido à agenda de trabalho, não
poderei acompanhar o evento todo, mas desde já parabenizo a iniciativa!

Renato (participação online):


● Sou Renato, também do Gambá: boa tarde para todo mundo! Vejo aqui
vários parceiros(as) que conheço. Pena não estar presente. Teremos
reunião daqui a pouco, mas é uma alegria estar somando com FMCJS, cujo
trabalho acompanho através de outras articulações, como a Articulação
Antinuclear Brasileira.
● Estamos trabalhando essa questão da transição energética e lançamos,
recentemente, uma salvaguarda ambiental para as energias
renováveis. Podemos fazer circular o material dentro do Fórum, Joilson
também pode falar mais um pouquinho sobre essa produção. Estamos nessa
luta para garantir a emergência de um novo modelo energético mais justo
e sustentável.

Mariana de Oliveira - Cáritas Nacional:

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● Assim como Nahyda, também moro no Rio de Janeiro, mas não é desse
lugar que quero partir. Vou partir do lugar da minha atuação: a Cáritas
Nacional. Dentre nossas ações, gostaria de pontuar uma: a realização de
oficinas interregionais, que têm ocorrido em comunidades que têm
vivenciado desastres naturais, em especial inundações. Nesse esforço,
conversamos como a comunidade tem vivenciado a crise climática, que
varia pelos territórios e conforme critérios como classe, raça, etc., e no final
dessas oficinas temos apoiado a construção de planos comunitários de
ação. Sempre saem indicações tanto para demandas de ações concretas -
como construir pontes, saneamento básico - quanto para ações de
incidência local, cujos temas perpassam, por exemplo, o reconhecimento de
rios importantes para o desenvolvimento social e econômico das
comunidades.
● O local é nosso ponto de partida. As emissões geram impactos globais,
mas são as ações locais que têm efeito global.

César Nóbrega - CERSA, Paraíba:


● Venho lá da Paraíba, da cidade de Souza, sou do FMCJS e integrante do
Comitê de Energias renováveis do Semiárido (CERSA). Por muito tempo fui
essa voz, não ouvida, que tratava dos impactos da crise climática no bioma
único que é a Caatinga. Fui ouvido pelo Fórum. E o que dizem ser solução,
tem levado à extinção do próprio bioma Caatinga. Temos risco de perder
nosso bioma. Região tem problema hídrico, é populosa. Ingressamos ano
em um contexto eleitoral e pergunto: como municipalizar o tema das
mudanças climáticas? Se não mudarmos o nosso modo de vida, não
venceremos a batalha.

CosmeVitor (participação online):


● Faço parte da Associação de Favelas de São José dos Campos, São Paulo, e
temos acompanhado as tragédias do litoral. Nesta semana, tais tragédias
atingiram Lagoinhas, Guaratinguetá e cidades vizinhas à São José.
Queremos fazer ato no dia 22 de março, Dia Mundial das Águas, pela vida
na cidade. Dia 06, estamos lutando por uma audiência pública contra as
remoções promovidas pelo governo Tarcísio.

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Aercio Barbosa - FASE e Núcleo Rio:
● Sou da FASE, instituição de educação popular, com atuação em seis estados
do Brasil, embora nossa sede seja no Rio. Quero destacar algumas coisas:
1) está em curso a revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas
e essa revisão está sendo pouco participativa. Vemos como esses eventos
extremos exigem mobilização de toda a sociedade civil; 2) o Brasil retornou
ao grupo das dez maiores economias do mundo. Diante do que vem
ocorrendo em nosso país, temos que retomar a discussão sobre os recursos
públicos, sobre o orçamento, encarando com vigor este debate! Crise
climática exige investimento em alta escala, em tecnologia social… e junto
disso, 3) temos de pensar em política de reparação! Quando o pobre
perde uma geladeira, móveis… o carioca conta apenas com um cartão de 3
mil reais para reestruturar sua vida. A tendência, infelizmente, é que esses
eventos climáticos extremos ocorram em intervalos cada vez menores.

Vanda dos Santos e Isidoro Salomão - Fé e Vida:


● O território das águas, da biodiversidade, aquela coisa linda que é o
Pantanal, é hoje a terra da seca, do fogo e da devastação pelo agronegócio.
O pequeno agricultor perde sua roça, eu mesmo perdi três vezes a minha,
e não somos indenizados. Então, o que falta neste país? Coragem
política e vontade para enfrentar fazendeiros e grandes do
agronegócio que ocupam grande parte do Cerrado, da Amazônia… e
fazem da vida um negócio. Os Comitês Populares são que acendem a
nossa esperança!

Rosilene Wansetto - Rede Jubileu Sul Brasil:


● Nossa preocupação central reside no uso dos recursos públicos e definição
dos orçamentos. Capital tem se organizado através do mercado verde.
Temos que olhar o micro e o macro. Teremos em 2025, a COP-30 e o G-20:
todas conferências internacionais com pauta central da economia verde,
ligada à financeirização da natureza. E o que significa para nós? Mais
impactos para o campo e a cidade. Temos que mobilizar nossas energias e
aprendizados de nossos povos para fazer enfrentamento à crise climática.
Outro ponto é o racismo ambiental, que vemos no litoral de São Paulo, e

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que não difere do que se passa em outras comunidades. Precisamos
recuperar o olhar também para o urbano!
● Temos, ainda, trabalho que vem sendo feito com as mulheres. A importância
de trabalharmos com as mulheres, a juventude e as crianças é central. São
as mulheres que espraiam conhecimento e resistência no mundo
urbano.

Marline Dassoler - CIMI Regional Sul:


● Sou Marline e atuo no CIMI. Nossa luta se dá na defesa dos territórios dos
povos indígenas - é a nossa luta maior! Nosso foco é a defesa e garantia
dos territórios indígenas e comunidades tradicionais; é contra a lei do Marco
Temporal (setembro de 2023). Percebemos manobra da Câmara dos
Deputados para enfrentar o Supremo; os territórios dos povos indígenas são
lidos como moedas de troca. O que nos mantém esperançosos é a força
dos povos indígenas, que negam qualquer tipo de falsa solução
ambiental!

Lucidalva Cardoso - Tapajós Vivo, Belém:


● Nossa luta no Pará também é grande, com a expansão da soja, “o grande
monstro”. Um evento amplo está sendo realizado no território para
gritarmos que não queremos a Ferro-Grão, que vai passar por cima
das comunidades, da biodiversidade! Decidimos que queremos refazer
esse estudo (sobre a infraestrutura Ferro-Grão), feito nos anos Temer, para
englobar o tema das mudanças climáticas. Percebemos que a ferrovia se
une a outros empreendimentos também.
● Outro apontamento nosso é a necessidade da consulta: NÓS, POVOS,
QUEREMOS SER CONSULTADOS! Essa é a nossa luta, em nosso território,
e contamos com a ajuda de todos(as).

Ruben Siqueira - CPT, Bahia:


● Quero trazer o aspecto da conjuntura política. 140 organizações se uniram
para tratar da pauta ambiental e social e governo estadual não nos recebia.
Licenciamento ambiental para mineradoras, empresas energéticas…
violência só aumenta! Há resistência, mas uma insegurança muito
grande contra defensores dos direitos humanos e da Natureza. Uma

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resposta que seu deu foi a criação da Frente Parlamentar
Socioambientalista, a nível estadual. No entanto, na prática, a expectativa
não é boa.

Após partilhas em roda, Ivo Poletto agradeceu a participação de quem veio


de longe para se somar virtualmente ao debate. “Trouxemos a tragédia que está
em andamento. Não nos deixamos iludir, mas temos de enfrentar!”. “Diante
dessas reflexões, o que nos cabe é dar continuidade ao trabalho já feito nos dois
encontros à distância! Selecionar prioridades!”, defendeu. E, assim, o coletivo se
encaminhou à primeira dinâmica de trabalho de grupo acerca dessas
prioridades após Thayane Queiroz, relatora do evento, realizar um breve resgate
dos acúmulos obtidos na etapa virtual do Seminário.
Resumidamente, o retorno dos grupos incluiu prioridades tanto internas,
como o fortalecimento institucional do FMCJS e a mobilização de recursos
adicionais para ações; quanto externas e temáticas, vinculadas, de forma
ampla, ao enfrentamento à crise climática e socioambiental em nível local e
comunitário e, em específico: ao fortalecimento da interconexão entre biomas,
pessoas e conhecimentos; ao seguimento da luta pelos direitos da Natureza; à
consideração pelo desafio urbano na atuação do Fórum; e, por fim, ao
aproveitamento do contexto de realização da COP-30 para a promoção de
atividades e incidência política.
Tais prioridades foram organizadas pela relatora Thayane e colocadas para
aprovação popular na manhã de terça-feira, segundo dia de atividades, como
narrado a seguir.

3.2 Segundo dia (05/03): pactuação coletiva das prioridades e


proposição de ações concretas

Tudo está interligado,


como se fôssemos um!
Tudo está interligado,
nesta casa comum.

(Canção entoada coletivamente)

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O segundo dia de Seminário mostrou-se bastante produtivo, tendo em vista
a aprovação coletiva das prioridades do Fórum no biênio 2004-2025 e uma
segunda dinâmica de grupos, desta vez voltada à proposição de ações específicas
para a materialização das prioridades firmadas. Também foi reservado tempo para
leitura do primeiro esboço da carta coletiva para publicação, findo o evento. A
coordenação do dia esteve a cargo de Rosilene Wansetto, pela manhã, e de Joilson
Costa, pela tarde.

Palavras e desejos de luta afirmados pelos participantes na dinâmica de acolhida do dia 05.

Após a mística de acolhida, Ivo Poletto comemorou e


Quero trazer um grito
valorizou a chegada dos companheiros Fernando
dos pantaneiros:
Aristimunho e Vanuza Machado, representando os
“Direitos da Natureza Pampas. Em seguida, foi a vez da relatora Thayane
quando?
JÁ! JÁ! JÁ!” apresentar a sistematização sobre as prioridades que
despontaram no dia anterior, a fim de que os
(Vanda dos Santos)
presentes pudessem qualificar o texto final, a partir
de complementações. Votadas e aprovadas, as
prioridades então se ramificaram em três,
conforme sumarizado no quadro que segue:

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PRIORIDADES 2024/2025

Enfrentamento às emergências climáticas nos biomas e


sua relação com os megaprojetos
Fomentar resistências conforme
realidades locais, observando as especificidades do
contexto rural/urbano e os tipos de empreendimento
a enfrentar (mineração, agro, projetos energéticos,
etc.) e seus distintos impactos;
Visibilizar impactos diferenciados das
mudanças climáticas, via recortes de gênero, classe e
étnico/racial.
Dar força à denúncia de crimes ambientais
e à exigência por responsabilização e reparação.
Enfrentar discurso da economia verde e
azul e as falsas soluções ambientais.

Defesa dos direitos da Natureza e coletividades, à terra,


ao território, às florestas, aos campos e às águas, com
promoção de intercâmbio de saberes e fazeres entre
biomas e pessoas;
Visibilizar, valorizar e multiplicar boas
práticas locais de convivência harmoniosa com a
natureza, já existentes, considerando a perspectiva
dos Corredores Bioculturais.

Fortalecimento institucional do Fórum;


Definição de orientações para formação e
fortalecimento de núcleos.
Captação de recursos.

Ademais, foram consensuadas três estratégias que devem permear essas


prioridades, especificadas abaixo:

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Definidos tais pontos, os participantes se dedicaram, na tarde de terça-feira
(05/03), à proposição e à especificação de ações capazes de concretizar as
prioridades estabelecidas para 2024 e 2025. Desse modo, houve uma nova divisão
em grupos (3), em que cada qual esteve responsável por idealizar medidas para
uma das três prioridades ora pactuadas.
A metodologia pretendida, explicou Joilson Costa, seria a mesma de
momentos anteriores: cada grupo maturaria ideias para o posterior
compartilhamento em roda. Assim, todos os companheiros podem interagir com
as propostas surgidas em grupos que não o seu e o processo coletivo, enriquece-
se.
Documento à parte foi elaborado com o detalhamento das propostas, isto
é, incluindo onde, quando, com que atores e com quais recursos cada ação poderia
ser desenvolvida. Para os propósitos desta relatoria, porém, é considerado
suficiente o foco apenas nas ações propriamente ditas.

Ações vinculadas à prioridade 1:

➔ Promover incidência política popular e institucional;

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➔ Fomentar a educação e a formação popular no sentido de participação
efetiva no processo decisório do uso do território, com uso do kit de cartilhas
dos biomas no processo formativo;
➔ Implementar Tribunal dos Povos que foram impactados por megaprojetos e
mudanças climáticas nos diferentes biomas, cobrando responsabilidade e
reparação, no contexto da COP-30;
➔ Criar de Inventário das intervenções de megaempreendimentos por bioma
do país.

Ações vinculadas à prioridade 2:

➔ Promover formações e elaborar materiais sobre os Direitos da Natureza e


os Corredores Bioculturais para alinhar entendimento entre as entidades
que compõem o Fórum;
➔ Dialogar e fortalecer a Articulação pelos Direitos da Natureza, o Fórum
Popular da Natureza, a Coalização pela defesa dos Rios, a Rede Brasileira
de Justiça Ambiental e as iniciativas já propostas por estes;
➔ Selecionar alguém de referência do Fórum para participar organicamente da
Articulação pelos Direitos da Natureza, a fim de reportar anseios das
entidades-membro e auxiliar nas estratégias políticas e jurídicas de luta nos
biomas;
➔ Fortalecer uma Frente Nacional em defesa dos Direitos da Natureza e dos
Corredores Bioculturais com autonomia e protagonismo dos povos e
comunidades tradicionais, sustentados nos seus direitos étnico-territoriais e
coletivos.

Ações vinculadas à prioridade 3:

➔ Estimular momentos nas atividades do Fórum para alimentar mística


coletiva;
➔ Criar espaço no site do Fórum para partilhar textos, músicas, poesias,
místicas, vivências metodológicas, boas práticas do Bem ConViver, etc;
➔ Fortalecer o processo de comunicação em rede à partir e nas bases, com
momentos de formação específica;
➔ Consolidar a criação do IMCJS;

20
➔ Realizar e incentivar a captação de recursos junto à diversas instâncias
nacional e internacional para fomentar as boas práticas coletivas;
➔ Identificar novas parcerias para atuar na captação de projetos;
➔ Mapear novas parcerias para projetos de gestão direta do IMCJS ou por
entidades da rede;
➔ Identificar possíveis parcerias para fortalecer a fase inicial do IMCJS;
➔ Elaborar um instrumental orientativo para constituição e consolidação de
núcleos do FMCJS;
➔ Construir, em diálogos, políticas de salvaguardas (direitos socioambientais
e territoriais).

E, dessa maneira, o segundo dia de trabalho foi encaminhando-se para o


fim. Após Joadson Silva fazer breve leitura da primeira versão da carta coletiva,
elaborada a diferentes mãos1, o grupo se uniu em uma despedida musical.

Ah, meu amigo, vem cantar,


Pois o dia vai raiar,
E morar nesta canção.
Ah, que saudades do poeta,
do artista,
do profeta,
Que o tempo eternizou.
Ah, como eu falei das flores,
Liberdade,
beija-flores,
Que meu coração sonhou.

(Canção Guaranis - Padre Gildasio Mendes)

1
A equipe de produção da carta foi composta por Ivo Poletto, Aércio Barbosa, Silvana
Canário, Clecir Trombetta, Joadson Silva e Ruben Siqueira.

21
3.3 Terceiro dia (06/03): conclusão da jornada e momento
avaliativo

Na manhã de quarta-feira (06/03) o Seminário teve sua conclusão. A


programação do dia, moderada por Ivo Poletto e Marline Dassoler, incluiu uma
reapresentação das prioridades e respectivas ações propostas coletivamente,
então submetidas a uma aprovação final e alegre. Afinal, este foi o espírito do
grupo: de alegria pelas confluências e perspectivas de trabalho, para o Fórum, nos
anos de 2024 e 2025.
De acordo com Ivo Poletto, “esse esforço revelou, para todos, que não é
fácil e seria muito arriscado entregar, a dois, três, a responsabilidade de definir
prioridades. É sempre mais seguro e rico que façamos isso juntos, porque, juntos
temos mais olhos, mais ouvidos… e construímos um caminho coletivo”. E
continuou: “É sempre importante colocarmos em comum a definição de caminhos
que vamos seguir. Daqui para frente, cabe organizar e colocar as prioridades em
prática criativamente. Caminho em conjunto não é fácil, mas valoroso por ser
participativo”.
Após aprovação das referidas prioridades e ações, o grupo conheceu a
versão aprimorada da carta coletiva de posicionamento do Seminário, alterada
conforme as sugestões advindas da roda, no dia anterior, e também aprovada com
celebração.
Nesse contexto, César Nóbrega sugeriu a entrega presencial do documento
no Ministério do Meio Ambiente e dos Povos Originários, assim como uma
articulação com a Frente Parlamentar Mista Ambientalista, já iniciando a incidência
política a partir da carta. Nessa mesma direção apontou Marcílio Gomide, da equipe
de comunicação, que sublinhou a importância de retrabalharmos e divulgarmos a
carta em cada base e bioma, valendo-se do território virtual.
Já Vanuza Machado destacou: “Eu tenho pressa. De onde venho, do
Quilombo Vila Nova, no Rio Grande do Sul, estamos sendo cercados por duas
empresas: uma de mineração e outra do setor de energia eólica. A carta tinha que
ser entregue para ontem, inclusive à ministra do Meio Ambiente!”.
Feita a apreciação da carta pública, o grupo então passou a um balanço
avaliativo acerca do Seminário, “com inscrição e palavras livres”, sinalizou Ivo.

Isidoro Salomão:

22
● Vou iniciar a roda, já que terei de sair em cinco minutos. Acho que o
processo online é muito bom para nós. Primamos pela questão de base,
porque estamos construindo coisas a partir de um alicerce. Este mês
tiramos muito tempo para participar do Fórum porque acreditamos neste
espaço e o priorizamos. Essa questão de ser rede de verdade (e não um
embaraço), com interligação entre biomas e organizações, é muito
relevante. Nós, do Pantanal, ganhamos força nesses 4-5 anos de
participação no Fórum. Na articulação internacional de nossa luta,
colocamos o Fórum como o parceiro de referência no Brasil. Temos a difícil
tarefa de ser base. Gosto de pensar na base primeiro, com a aceitação do
povo. Quero agradecer por mais essas trocas enriquecedoras.

Vanda dos Santos:


● O Fórum está tão impregnado nos nossos comitês que esses até mudaram
de nome para “Comitês das Águas e do Clima”. Esse Seminário foi um
momento gostoso, de muita interação e aprendizados entre os biomas.

Angelo Zanre:
● Gostaria de destacar três pontos. O primeiro é sobre a construção do
evento, com processo participativo e que ajuda a crescer. O segundo
é a convivência humana, a humanização das nossas relações, que se
refletiu em momentos como a Noite Cultural, que gera memórias especiais.
A terceira é a motivação para retomar os trabalhos, na luta e nas bases.

Luciano Galeno:
● O processo foi interessante porque foi algo tranquilo, mesmo com tempo
restrito, e a escuta foi garantida. Estivemos com pé no chão, sem
agenda atropelada.

César Nóbrega:
● Gostaria de chamar atenção para o desafio que temos nesta caminhada. O
Fórum pauta co-construção e questão climática, que deve chegar à
sociedade. Esse é o nosso grande desafio. Entre nós, os movimentos, nem
todos incluíram a crise climática como foco do trabalho. E aqui falo das

23
grandes centrais sindicais, movimentos, que ainda não incorporaram essa
luta, para que possamos melhor pressionar a nível de governo.

Moacir dos Santos:


● Fico feliz com nossa metodologia positiva. Reforçamos, aqui, a ideia de
ter unidade básica em questões centrais: o que são mudanças climáticas,
quem causa, que impactos são gerados. Assim, cada unidade pode fazer
seu trabalho sabendo que não está só. Esse lastro comum é importante para
animar a luta.
● Sugestão: considerar que próximos seminários ocorram em outros biomas,
dedicando um dos dias a uma vivência. Precisamos, sobretudo, de
experiências urbanas, boas práticas. Se possível, acho importante
capricharmos em uma vivência como essa.

Lucidalva Cardoso:
● Percebi que nosso encontro foi tranquilo, suave. Acredito que a conexão
entre nós estava forte, estávamos centrados nas prioridades e o que
está em nosso alcance para ação. Acredito que sairemos daqui e iremos
para nossas bases, com carta em mãos e maior motivação. Meu movimento
conhece o Fórum, mas outras organizações não. Devemos divulgar. O
Fórum tem muita força de mudança, mas também depende da gente.

Nahyda Franca:
● É momento difícil, em que estamos vivendo na pele a transição climática.
Muita gente está indo embora, por conta disso. E é isso que Ivo fala: é
momento duro. Acho que precisamos apelar para nossas crenças e
espiritualidade. Mas uma coisa boa que queria destacar é a presença
de jovens, engajados, trabalhando. Há muito tempo não renovamos as
pessoas. Precisaremos renovar nossas bases, cada vez mais. Trazer a
juventude é muito importante. Jovens atraem outros jovens. Temos que
estar antenados nisso.
● Temos restrição de recursos, para trazer mais pessoas… mas concordo com
Moacir, de fazer o Seminário outros biomas. Temos, porém, uma porta nova
sendo aberta, com criação do instituto, com que esperamos atrair mais
recursos para nossas ações.

24
● Enquanto Fórum, temos que fortalecer nossas parcerias em rede, ampliar
tentáculos e aproveitar, ao máximo, oportunidades que podem nos
fortalecer.

Fernando Aristimunho:
● Nós do Pampa estamos aqui porque acreditamos nesta articulação de
biomas. Tenho para mim que esta é a primeira iniciativa, a nível de Brasil,
que se propõe a aproximar os biomas, acreditando que somos um país
diverso, mas com aproximações enquanto povos. Estamos dizendo que
os corredores bioculturais nos conectam. Acreditamos nisso.
● Proposta: incluir na programação dos próximos eventos, criação de
comissão com representantes dos biomas para já realizar incidência
em Brasília, em paralelo ao Seminário, aproveitando o deslocamento dos
participantes que vêm de outros estados.

Marcos Espíndola:
● Foi maravilhoso encontrar pessoas com quem temos contato virtual. Essa
presença carrega muito afeto. Foi muito suave, tranquilo. Creio que
o título do seminário, com o verbo esperançar, ajudou muito, pois, apesar
de tudo que está acontecendo, temos esperança. Acreditamos que há uma
solução, uma solução conjunta.
● Desafio, que vejo, é colocar em prática as prioridades que elencamos e
ventilar essa carta ao máximo. Essa simbiose, por conta da
metodologia, foi muito feliz. Quero endossar sugestão do colega, de
realizar evento em outro bioma. E que, sendo em Brasília ou qualquer outro
lugar, tirar comissão para fazer incidência nas casas legislativas. Quero
agradecer e dizer que temos mandatos de apoio em Santa Catarina, à
disposição.

Iremar Ferreira:
● Quero celebrar nosso momento virtual realizado dias atrás, com a
participação dos companheiros da Bolívia. Nosso processo está
inspirando práticas de resistência dos vizinhos, da fronteira. Quero
saudar a nossa juventude. Essa tem que ser nossa priorização.
Conseguimos ter essa presença importante e que assim seja nas nossas

25
bases também. O processo de participação foi muito rico e isso nos
ajudou, como coletivo e rede, entrelaçada e não embaraçada, a
seguir na caminhada. A participação fez com que cada momento fosse
riquíssimo. Quando a gente se coloca na vivência, cada um agrega com sua
parte. Comunga desse desafio e da vontade de fortalecer nossas realizações
em outros espaços.
● E ainda registrar, nessa perspectiva de rede, algo sobre a Articulação de
Amazônia sobre COP-30. Carlos, do Movimento Tapajós Vivo, vai
representar o Fórum nesse processo, que vai fluindo. Depois dessa
chamada regional, haverá uma ampliada, em âmbito nacional.

Ivo Poletto:
● Eu queria dar duas indicações. 1) de fato, vocês colocaram bem: é da
tradição do nosso seminário ter essa incidência. Dessa vez, a criação do
Instituto nos ocupou o tempo. Tentaremos compensar. Mas acho que essa
proposta de criar comissão de incidência é muito importante, porque
pressão coletiva, com representação dos biomas, seria excelente.
● Além disso, foi relembrado que o Fórum comemora 15 anos em 2025.
Me dei conta de que estamos na adolescência, em que tudo se transforma.
Nessa fase, despertam energias novas e curiosidades, e estaremos no ano
da COP-30. Quem sabe não consigamos levantar recursos para fazer
encontro em cada bioma, para ampliar o enraizamento dessa
perspectiva nos biomas? Por que não sonhar com um envio de delegação
plural para a COP de Belém?
● Acho que estamos inovando nesse esforço de conexão dos biomas. Sou um
dos primeiros que levantou o tema dos biomas como questão política e
intercultural. Aqui, quem falava dos biomas eram os geógrafos e os
biólogos. Hoje, muito mudou. Que bom! Pessoalmente, me sinto um
semeador.
● No mais, gostaria de indagar: a realização do evento no mês de março foi
interessante? Deveríamos manter?

Aércio Barbosa:
● Ano que vem tem a COP, mas acho que evento em março é bom, porque as
agendas estão mais livres. Quanto à metodologia, considerei muito

26
relevante. Vejo avanços, de encontro a encontro e considero
processo metodológico bem interessante, com possibilidade de
todos falarem - o que se soma agora ao processo virtual, que facilita a
participação.
● Também gostei muito da proposta do Moacir: sou do Rio de Janeiro e
espero que um encontro desse possa acontecer na capital, na
Baixada, nas favelas cariocas, para ver boas práticas e experiências!
Seria um coroamento, reforçaria a integração dos biomas, campo-
cidade.
● É sempre uma experiência nova estar presencialmente. Essa integração com
outros biomas representa para nós, do urbano, um constante
aprendizado.

Ruben Siqueira:
● Quero destacar a pluralidade desse encontro. Senti falta, porém, de um
tempo específico para análise de conjuntura. Seria importante
consolidar uma análise mais segura para o que iríamos propor, planejar.
Estamos em uma escuridão. A gente está hegemonizado. Paulista encheu,
em último ato bolsonarista, e estamos batendo cabeça para unir forças. A
dificuldade de construir contra hegemonia é grande.
● A questão ambiental, climática, tem viés de congregar e avançar nessa
direção - basta ver por aqui, o que cada um está fazendo em seu território.
Estamos dando a cara, com esperança, com depressão. Precisamos ter
ciência de nosso alcance, como potencializar e promover eventos paralelos
à COP. Quais são as razões reais da nossa esperança?
● A gente avançou muito no diagnóstico da crise, mas o que está ocorrendo
de enfrentamento local e regional precisa ganhar mais visibilidade.
Temos que fazer também levantamento também das experiências
tradicionais de resistência, para nos dar esperança, em amplitude
nacional, latinocaribenha, etc. Vamos olhar mais para isso!

Carmen Castro (PACS):


● Estamos tentando adiar o fim do mundo. Primeira vez que estou nesse
espaço, então queria agradecer a acolhida. Muito aprendizado e ao mesmo
tempo seguimento da atuação do PACS, que atua no Núcleo Rio. A gente

27
também vai reativando memórias, coletivas, pessoais e de coisas que nem
vivemos, mas das quais nos sentimos parte. Falo concretamente das
trajetórias que compartilhamos em outros momentos e espaços; sejam as
memórias pessoais. Na matriz africana, uma das ideias compartilhadas é
que, pior que a morte, é o esquecimento.
● Outra questão é: reafirmar o encontro presencial. Vivemos momentos de
urgências e ansiedades. É importante que tenhamos tempo, tempo
também é um orixá. Que a gente consiga considerar isso.
● Quero saudar a carta, que será instrumento de atuação do Núcleo Rio e do
PACS, como instrumento de educação popular; e também a criação do
IMCJS! Que a gente siga firme e possa alterar essa relação destruidora com
a natureza que também é machista, lgbtqfóbica, racista e patriarcal. Avante!

Joadson Silva:
● Pessoal, vim com grande missão, a mim delegada por Moema e Nevinho,
que não é fácil, mas que é preciso assumir. Sou de uma comunidade perto
de São Vicente. Morando no sertão nordestino, não cheguei a passar fome,
mas sempre tivemos de lidar com dificuldades no acesso à água, resultantes
de políticas errôneas e da indústria da seca.
● Entrei na universidade há 12 anos. Entrei na área da história indígena e
arqueologia, a fim de entender as ocupações humanas e depois vi que isso
refletia a minha própria história. Por isso me identifiquei com tantos aqui.
Cinco anos atrás, arqueólogo formado, pobre, comecei a trabalhar nas
empresas e ter maior autonomia financeira. Viajava a trabalho e me sentia
cidadão. Porém, comecei a encarar os impactos desses grandes
empreendimentos de energia renovável com os que eu trabalhava,
enquanto arqueólogo, que se assemelhavam aos das barragens e outros.
● Assim, começamos a nos articular em prol da luta, junta do povo, que
é minha também, porque eu sou povo. Empreendimentos impactam
nosso sono e tomam lugares sagrados, serras onde estão as áreas mais
preservadas do Seridó, ricos arqueologicamente falando, e também de
domínio indígena.
● A parceria estabelecida aqui fortaleceu, em mim, a importância
dessa articulação. Juntos poderemos exigir que energias renováveis
sejam desenvolvidas de forma mais humana e respeitosa com a Mãe Terra!

28
Marline Dassoler:
● A gente viveu dias de uma intensidade tão grande, tão boa! Esses
momentos, como o Seminário, alimentam nossa mística e
caminhada, fazendo-nos continuar acreditando que outro mundo é
possível. Obrigada pela ousadia, pela determinação e coragem em fazer
denúncias! Penso que o papel do Fórum, nesse momento, é o de propagar
as denúncias que vêm das nossas bases, mas sobretudo de realizar um
anúncio profético sobre a abundância de vida e práticas que existem
em nossos territórios e comunidades!
● Precisamos fomentar a sistematização do que vem dando certo, focando na
realidade de abundância que nossas lutas promove: as cisternas verticais,
a vida no quilombo, o trabalho na aldeia… nas nossas comunidades…
mostrar tudo isso! Vida em abundância!

De mãos dadas, o grupo entoou novamente músicas de esperança,


despedindo-se de mais uma edição do Seminário Nacional. Tecida em fios
coloridos, a rede representada pelo Fórum saiu renovada da atividade e pronta
para os próximos passos, um deles já efetivado logo em sequência: a criação do
Instituto Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (IMCJS), para um maior
apoio às lutas nos biomas.

Crer

Na paz que se firma


através das relações de reciprocidade;

Na harmonia - entre comunidades e povos -


tecida pela ternura e respeito;

29
No amor brotado em atos e gestos de pura solidariedade;

Na vida para todos,


sem distinção de cor, credos,
opções de gênero e sexualidade;

Na terra mãe, dignificando seu corpo


e protegendo-a dos usurpadores;

Na força da natureza como gestora do ar,


das águas, bichos, plantas, que irradiam futuro;

Nas sementes que germinam


a agroecosustentabilidade do amanhã;

Na partilha fraterna dos bens


em oposição à perversão da concentração das riquezas;

Na potência transformadora dos de baixo,


aqueles e aquelas que alimentam
a construção de um outro mundo possível;

Crer, por fim, no Bem Viver,


como lugar de ser e existir
de todos os povos.

(Poesia de Roberto Liebgott recitada por Marline Dassoler)

30
4. Pós-Seminário e conquista coletiva: criação do IMCJS

Em seguimento ao Seminário Nacional do Fórum, houve a criação do


Instituto Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (IMCJS), formalizada em
Assembleia ocorrida entre os dias 06 e 07 de março de 2024, também no Centro
Cultural de Brasília, Distrito Federal. Em clima de otimismo e esperança, o ato foi
testemunhado por 26 membros cofundadores pertencentes aos distintos biomas
brasileiros, unidos pela missão de fortalecer e multiplicar iniciativas de convivência
amorosa com a Mãe Terra.
Dadas as prioridades de ação colectiva pactuadas, no Seminário, para o
biênio 2024-2025, a fundação do Instituto deve ser compreendida como um passo
elementar já dado entre as ações da prioridade 3, além de uma estratégia jurídica
que se coloca, fundamentalmente, a serviço das lutas e resistências, em rede, que
dão vida e identidade ao Fórum.
Em seu primeiro dia, a Assembleia contou com a participação virtual do
assessor jurídico Danilo Tiisel, que apresentou o Estatuto Social do IMCJS aos
presentes, e momentos de deliberação para a validação do documento. Em
observância a protocolos, votou-se para selecionar Ivo Poletto como presidente da
Assembleia e Clecir Trombetta como secretária. Além disso, houve votação para
aprovar a composição dos Conselhos Fiscal e Deliberativo2 – órgãos que, somados
à Assembleia Geral, resumem a estrutura do Instituto recém criado.
Já no segundo dia, houve tempo para vislumbrar ações segundo o enfoque
dos biomas e as necessidades de cada comunidade. Na ocasião, Rosilene Wansetto
partilhou como foi o processo de criação do Instituto vinculado à Rede Jubileu Sul
Brasil (JSB), no tocante a trâmites burocráticos, e César Nóbrega, do CERSA,
recompôs o florescimento das ações de promoção à energia solar no Semiárido,
como inspiração para os demais biomas.
“Queremos essa energia renovável como economia popular, com
agroecologia, em prol de maior autonomia para as comunidades! O ideal é que
essas iniciativas ocorram de forma mobilizadora, ligada à formação e, se possível,
atuem também como fonte de incidência política”, declarou Ivo. “Essas
alternativas anunciam novidades de futuro, incitam a curiosidade e, assim,

2
O Conselho Deliberativo contará com cinco membros, a saber: Ivo Poletto, Rosilene
Wansetto, Nahyda Franca, Luiz Felipe Lacerda e Marline Dassoler. Já o Conselho Fiscal, de
três membros e um suplente: Joilson Costa, Delci Franzen, Iremar Ferreira e Lucidalva
Cardoso (suplente).

31
ganham potencial de multiplicação”. “Nossa causa, além de ampla, é estratégica
para a vida no planeta”.
Entre as propostas concretas que emanaram da roda, consta a ideia de
buscar acesso a projetos exitosos e que receberam recursos como modelos. Mais
especificamente, falou-se em designar equipe para esse levantamento e criar um
banco de projetos (de três a quatro por região ou bioma), já avançados, para que
sejam adaptados conforme surjam editais e oportunidades específicas.
O tema da água, ao fim, foi visto como central e transversal aos diferentes
biomas. A partir da provocação de Isidoro Salomão, do Pantanal, o grupo entendeu
ser interessante mobilizar as bases a respeito do tema, em conexão com a crise
climática, a fim de lançar uma possível Campanha Nacional, a partir de novembro
de 2024.
Já há conexões de lutas panamazônicas com o mote da água e também
problemas, nas grandes cidades, de abastecimento hídrico e privatização da água,
que ensejam múltiplos enfoques formação e incidência, para além da crítica ao
impacto do agronegócio, entendeu-se.
Despontou, ainda, a possibilidade de se tratar, no seio da Campanha, dos
impactos que empreendimentos verdes têm gerado sobre a água da Caatinga, o
oceano e comunidades locais. A ideia, resumidamente, é trabalhar o tema da água
a partir do cotidiano e das particularidades regionais, de modo a garantir maior
engajamento e adesão.
Quanto ao Tribunal dos Povos, proposto para o horizonte da COP-30, em
Belém do Pará, houve sugestão de Rosilene Wansetto: Rede JSB já promoverá
tribunal semelhante para condenar violações e falsas soluções ambientais no
contexto do G-20. Portanto, propôs junção das iniciativas, para unir forças.
Além do trabalho conforme as prioridades locais, o Fórum seguirá apostando
na interconexão entre biomas como diferencial e meio de enriquecimento da luta
pelos povos e pelos Direitos da Natureza.
Finalmente, recordando a proximidade do 8 de março, Vanda dos Santos
mobilizou um canto coletivo com que o grupo se despediu: “Sem água não há vida.
Sem mulheres também não!”.

32
Anexo I - Registros do esperançar

33
34
35
Anexo II - Carta Pública

36
Disponível em: https://fmclimaticas.org.br/alerta-aos-povos-do-brasil-e-seu-governo/.

37

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