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RESUMO
O solo é um sistema aberto, em que os fluxos de energia e de matéria conduzem a diferentes
níveis de ordem, e complexo devido às inter-relações entre os sub-sistemas vegetal, organismos e
mineral. Ambientes tropicais e subtropicais úmidos são caracterizados pela alta energia solar e da
chuva, a qual potencializa a degradação de solos agrícolas quando sob manejo inadequado. Por
outro lado, a possibilidade de alta produtividade de biomassa vegetal durante todo o ano é um
fator a ser explorado para a obtenção de altos fluxos de C e energia no solo os quais intensificam
processos de ordenação biológica. Solos em plantio direto que associam sistema de rotação de
culturas com alto aporte de resíduos vegetais apresentam processos dissipativos< ordenação, e
variação positiva dos estoques de matéria orgânica do solo. Estudos conduzidos no Sul do Brasil
sugerem a necessidade de adição anual de 10 t MS/ha em solos em plantio direto. Nessa
condição de manejo conservacionista, o solo atinje níveis de ordem mais elevados, caracterizados
pela menor entropia e maior energia armazenada (entalpia), nos quais surgem propriedades
emergentes como a resistência à erosão, infiltração e armazenamento de água, retenção e
complexação de nutrientes e elementos tóxicos, alta estabilidade de agregados e da porosidade, e
alta biomassa e atividade microbiana, entre outras, com reflexo favorável na produtividade das
culturas.
Por sua vez, a conversão de energia luminosa (radiação solar) em energia química no processo
de fotossíntese e a adição dos resíduos vegetais aportando C e energia ao solo é a principal
alternativa para intensificação dos processos de ordenação no solo (Figura 1). Os microrganismos
obtém a energia e o C necessário ao seu desenvolvimento da decomposição dos resíduos
vegetais, raízes e exsudatos das plantas e desencadeiam processos de ordenação através da
excreção de compostos orgânicos, os quais interagem com a fração mineral na formação de
agregados organo-minerais, além de redução da entropia e aumento da entalpia do sistema pelo
acúmulo de matéria orgânica humificada e da biomassa microbiana. As práticas como utilização
de sistemas de cultura intensos (maior número de culturas ao ano), eliminação da prática do
pousio, adubação e calagem favorescem o aporte de resíduos ao solo e os processos de
ordenação biológica no solo (Figura 1).
Na figura 2 é apresentada a ciclagem de C em dois sistemas de manejo extremos, nos quais ocorre (i)
alto revolvimento do solo (preparo convencional, PC) e baixo aporte de resíduos vegetais pelas culturas
de aveia preta no inverno e milho sem N mineral no verão (PC A/M, figura 2a), e (ii) não revolvimento do
solo (plantio direto, PD) e alto aporte de resíduos vegetais pelo consórico aveia preta+ervilhaca peluda
no inverno e milho e feijão caupi no verão (PD A+V/M+C, figura 2b).
Figura 2. Ciclagem de C em um Argissolo submetido ao (a) sistema de preparo convencional (PC) associado ao sistema de
cultura aveia/milho (A/M), e (b) ao sistema plantio direto (PD) associado ao sistema de cultura
aveia+vica/milho+caupi (A+V/M+C). Fonte: Adaptado de Lovato et al. (2004).
Na Figura 2a pode-se observar que a utilização do sistema aveia/milho resultou numa ciclagem de 4,4
Mg C ha-1 ano-1, sendo que anualmente 0,9 Mg C ha-1 são incorporados (influxo) na matéria orgânica do
solo, enquanto o efluxo de C-CO2 no solo em preparo convencional é de 1,4 Mg ha-1. O efluxo maior em
0,5 Mg C ha-1 ano-1 do que o influxo de C no sistema solo-atmosfera indica que há uma predominância
dos processos dissipativos em relação aos de ordenação, os quais são decorrentes, respectivamente,
do revolvimento do solo com lavração e gradagem no preparo convencional e do baixo aporte de
resíduos vegetais pelas culturas da aveia e do milho. Como consequência, o estoque de C orgânico do
solo decresceu em 13 anos de 32,55 para 26,6 Mg ha-1, o que foi acompanhado de uma degradação
física, química e biológica do solo (ver item propriedades emergentes), e representa uma diminuição da
entalpia do sistema.
Em contraste ao sistema PC A/M, o sistema PD A+V/M+C apresenta uma ciclagem bem maior de C
fotossintetizado (8 Mg ha-1 ano-1), decorrente do cultivo de quatro culturas ao ano. Esse sistema de
cultura associado ao plantio direto, resultou num influxo anual de 1,6 Mg ha-1 de C na matéria orgânica
do solo, o qual foi superior ao efluxo de 1,1 Mg ha-1. O influxo líquido anual de 0,5 Mg ha-1 indica uma
predominância dos processos de ordenação em relação aos dissipativos no solo, decorrente do alto
aporte de resíduos e do não revolvimento do solo. Treze anos após o início do experimento, o solo no
sistema PD A+V/M+C apresentou um estoque de C orgânico de 38 Mg ha-1, o qual é 11,4 Mg ha-1 maior
do que o existente no solo sob PC A/M. Em consequência da predominância dos processos de
ordenação decorrente do não revolvimento e do alto aporte de resíduos pelas culturas, além do maior
estoque de C orgânico, o solo apresenta agregados mais estáveis, maior biomassa microbiana, entre
outras (ver item propriedades emergentes), os quais evidenciam a menor entropia e maior entalpia
(energia armazenada) do sistema.
A figura 3 apresenta de forma esquemática o nível hierárquico da estrutura do solo nos sistemas
PC A/M e PD A+V/M+C em relação a razão dos processos de ordenação e dissipativos, baseado
nas teorias de Prigogine (1996) e Addiscott (1995). Quanto maior a razão entre os processos de
ordenação e dissipativos, o sistema solo tem condições de se auto-organizar em níveis de ordem
sucessivamente mais elevados. Nesta situação, o solo pode atingir a formação de estruturas
grandes, complexas e diversificadas, que são os macroagregados, contendo alta quantidade de
energia e matéria retida na forma de compostos orgânicos, caracterizando o nível de ordem alto.
Por outro lado, quando os processos dissipativos são mais intensos do que os de ordenação, o
sistema solo se auto-organiza em estruturas menores e mais simples, que são os
microagregados, com menor quantidade de compostos orgânicos retidos, caracterizando o nível
de ordem baixo.
PD A+V/M+C
Ordenação/Dissipativos
PC A/M
Figura 3. Representação esquemática da relação da razão dos processos de ordenação e dissipativos e a organização
do sistema solo. Fonte: A partir de Prigogine (1996) e Addiscott (1995).
C.Org
NMP Quoc.Met.
Campo Nativo
PD A+V/M+C
PC A/M
C >53 N >53
C-Bio
C-CO2
Ntotal
Figura 4. Propriedades emergentes do solo sob preparo convencional (PC) e aveia/milho (A/M) e plantio direto (PD) e
aveia+vica/milho+caupi (A+V/M+C), em comparação ao solo em campo nativo (referência=100). C. org= C
orgânico, NMP= N potencialmente mineralizável, C>53= C na matéria orgânica particulada, C-Bio= C na
biomassa microbiana, Ntotal=nitrogênio total, C-CO2=atividade microbiana, N>53= N na matéria orgânica
particulada, e Quoc. Met.= quociente metabólico. Fonte: A partir de Conceição (2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alto aporte de resíduos vegetais ao solo e não revolvimento do solo são os fundamentos do
manejo para solos atingirem qualidade em regiões tropicais e subtropicais. Atualmente, as
práticas de plantio direto e rotação de culturas, que avançam nestas regiões, estão conduzindo o
solo para uma recuperação e/ou incremento de sua qualidade. O aproveitamento do clima
favorável à produção vegetal durante todo o ano é uma ferramenta importante para a agricultura
cumprir o papel de produzir alimentos, preservando os recursos naturais. A interface agricultura-
ambiente deverá permear a pesquisa em manejo de solo nas próximas décadas no que se refere
o desenvolvimento de sistemas de manejo com características de alta produtividade e de
preservação da qualidade do solo, água e ar.
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