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USO, MANEJO E

CONSERVAÇÃO DO
SOLO
Sistemas de preparo
e manejo do solo
Francihele Cardoso Müller

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar os sistemas de preparo e cultivo do solo.


>> Definir o papel da rotação de culturas na preservação do solo.
>> Reconhecer formas de uso do maquinário agrícola em favor do produtor e
da conservação do solo.

Introdução
O crescimento populacional trouxe consigo uma grande demanda por alimentos
e, consequentemente, a necessidade de aumentar a produtividade da agricultura.
Nesse contexto, a atividade agrícola enfrenta um grande desafio, que é o de unir
o aumento dessa produtividade com a preservação e a recuperação ambiental.
Considera-se, portanto, que utilizar técnicas de conservação e conhecer os siste-
mas de preparo e cultivo são aspectos de suma importância para tornar a prática
agrícola menos danosa aos ecossistemas.
Neste capítulo, você conhecerá os diferentes sistemas de preparo do solo e
seus objetivos, bem como estudará os sistemas de cultivo e os seus benefícios a
longo prazo. Além disso, verá como é possível aliar o uso de máquinas para evitar
problemas de degradação das áreas agrícolas.
2 Sistemas de preparo e manejo do solo

Sistema de preparo do solo


Na agricultura, preparar o solo consiste em movimentá-lo por meio de força
manual, tração mecânica ou animal, com o objetivo de modificar as con-
dições do solo para uma futura semeadura ou plantio, para o manejo dos
restos culturais, para o controle de plantas invasoras ou para incorporação
de calcário ou fertilizantes no solo. Entretanto, existem diferentes tipos e
formas de preparo que afetam o solo e a magnitude dos processos erosivos
(BERTOL; DE MARIA; SOUZA, 2019). A seguir, serão apresentados os principais
tipos de preparo do solo utilizados na agricultura.

Sistema de preparo convencional do solo


No sistema de preparo convencional, o solo é preparado com o revolvimento
de suas camadas superficiais. Seus objetivos são incorporar corretivos e
fertilizantes, descompactar/aumentar os espaços entre os agregados do solo
e, assim, aumentar a permeabilidade e o armazenamento de água e ar, além
de otimizar as condições de germinação e favorecer o desenvolvimento do
sistema radicular das plantas que virão a ser cultivadas na área. Ademais,
por meio desse revolvimento das camadas superficiais, ocorre o corte das
plantas invasoras e a incorporação de sua massa verde no solo, contribuindo
para o controle dessas espécies (BRAUNAK; DEXTER, 1989; GADANHA JUNIOR
et al., 1991).
Esse tipo de preparo, caracterizado por uma aração (preparo primário)
e duas gradagens (preparo secundário), já foi o mais utilizado pelos agricul-
tores no Brasil, porém sua utilização vem diminuindo nas últimas décadas.
A primeira etapa dessa preparação é mais grosseira, a qual utiliza-se de arados
(de disco ou de aivecas) para o afrouxamento do solo. Sua maior desvantagem
é o potencial de compactação subsuperficial do solo.
A segunda etapa trata-se do destorroamento e nivelamento da camada
previamente arada com a aplicação de gradagens no terreno (Figura 1)
(ALBUQUERQUE FILHO et al., [202-?]). A ação dos arados deve ocorrer em uma
profundidade de 25 a 35 cm, portanto, é necessário regular os arados para essa
profundidade, e, dessa forma, eliminar as camadas compactadas e favorecer
o sistema radicular das plantas (SILVA et al., 2003).
Sistemas de preparo e manejo do solo 3

Figura 1. Preparo convencional do solo.


Fonte: Embrapa ([201-?], documento on-line).

Se adotado de forma contínua, esse sistema gera, ao longo do tempo,


alterações nos atributos físicos do solo, como a densidade do solo, volume
e distribuição dos poros, estabilidade dos agregados, que, por sua vez, irão
refletir sobre outros aspectos, como a infiltração da água, por exemplo (BER-
GAMIN, 2014; BERTOL et al., 2004).
Como efeito negativo, esse sistema mobiliza excessivamente o solo, oca-
sionando o aumento da taxa de decomposição dos resíduos vegetais e a
mineralização da matéria orgânica do solo, comprometendo a sua qualidade.
O aumento da taxa de decomposição está diretamente relacionado à elevação
da temperatura no solo, que ocorre devido a maior incidência do sol pela
incorporação dos resíduos vegetais. Isso porque, ao retirar a proteção contra
raios solares, ocorre o estímulo da atividade microbiana e a aceleração dos
processos bioquímicos do solo — entre eles a decomposição dos resíduos
vegetais e a mineralização da matéria orgânica do solo.
4 Sistemas de preparo e manejo do solo

Além disso, o uso excessivo de equipamentos para o preparo do solo pode


aumentar a erosão, sobretudo se o solo permanecer sem cobertura em perío-
dos de chuva intensa. A formação de camadas subsuperficiais compactadas,
conhecidas como pé-de-arado, também agravam a erosão, uma vez que o
solo acima dessa camada é carregado pela enxurrada, gerando os canais que
podem tornar-se voçorocas. Ainda, o pé-de-arado limita o desenvolvimento
do sistema radicular das culturas (FRANCHINI et al., 2007; GONÇALVES et al.,
2010; MIELNICZUK, 2008; BAYER; MIELNICZUK, 2008).
Na Figura 2, observe o resultado dos processos que são realizados no
preparo convencional do solo sobre a superfície.

Figura 2. Aspecto da superfície após o preparo convencional do solo.


Fonte: Embrapa ([201-?], documento on-line).

Quanto ao rendimento operacional do preparo convencional do solo,


utilizando-se um arado de três discos e uma grade leve de 30 discos, o tempo
de preparo de um hectare fica em torno de 5 a 6 horas. Na cultura do feijão
em algumas regiões, por exemplo, utiliza-se gradagens médias ou pesadas
(superficial), e o tempo de preparo leva de 2 a 3 horas por hectare (SILVA
et al., 2003).
A seguir, você verá situações comparativas entre o sistema de preparo
convencional e o sistema de plantio direto em diferentes sistemas de cultura.
Sistemas de preparo e manejo do solo 5

Sistema de plantio direto


O sistema de plantio direto é um manejo conservacionista, isto é, faz parte
de um grupo de práticas que envolvem dois fundamentos: o não revolvimento
do solo e o alto aporte de fitomassas residuais, de forma a possibilitar a
melhoria gradual da qualidade do solo (BERTOL et al., 2019).
Quando se utiliza o termo “plantio direto” (semeadura direta), refere-se
basicamente ao ato de depositar sementes, plantas ou parte de plantas
(reprodução assexuada de plantas) no solo sem uma prévia mobilização por
meio de aração ou escarificação e gradagem, além de manter os resíduos
das culturas na superfície do solo.
O sistema de plantio direto, entretanto, possibilita a redução ou a su-
pressão de mobilizações intensas de solo. Esse sistema mantém os resíduos
culturais na superfície do solo e amplia a biodiversidade pela diversificação
de espécies e de modelos de rotação, sucessão ou consorciação de cultu-
ras. Desse modo, mantém-se no solo materiais orgânicos que apresentam
qualidade, quantidade e frequência e que supram as demandas biológicas
do solo (Figura 3) (DENARDIN et al., 2012).

Figura 3. Sistema de preparo convencional (A) e sistema de preparo direto (B).


Fonte: Adaptada de Debiasi et al. (2013).

Os fundamentos do sistema de plantio direto, conforme Cruz (2007),


incluem:
6 Sistemas de preparo e manejo do solo

„„ eliminação e redução de operações no preparo do solo — evitam o


selamento superficial que ocorre devido ao impacto da gota da chuva.
Esse processo reduz o escoamento superficial, uma vez que a cobertura
do solo reduz a energia cinética da gota da chuva e a velocidade da en-
xurrada. Assim, por consequência, aumenta-se a infiltração de água no
solo e reduz-se as perdas no processo de erosão hídrica, por exemplo.
Além disso, as perdas de água por meio da evaporação também são
reduzidas, pois a manutenção da cobertura do solo protege contra o
aumento da temperatura. Sua disponibilidade para as plantas é maior,
atuando também sobre a atividade biológica do solo e a manutenção
da matéria orgânica;
„„ uso de herbicidas no controle de plantas invasoras — substitui os pro-
cessos de preparo do solo por revolvimento. A utilização de herbicidas
atua no controle dessas plantas por meio de equipamentos mecânicos
associados a práticas como o uso de culturas de cobertura, rotação
de culturas e herbicidas específicos;
„„ formação e manutenção dos restos culturais — atuam como barreira
contra o impacto da gota da chuva de forma a reduzir o escoamento
superficial que carrega os sedimentos e gera erosão do solo. Além
disso, protege o solo contra a radiação solar e evita a evaporação
da água, o aumento da temperatura do solo e a ação do vento. A de-
composição desses resíduos colabora com a incorporação de matéria
orgânica no solo;
„„ rotação de culturas — torna o sistema de plantio direto muito eficiente,
uma vez que apresentam exigências nutricionais, velocidade de de-
composição, sistema radicular e produção de fitomassa diferentes.
Ainda, sua implementação facilita o controle integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas.

A priorização da cobertura do solo é fundamental para a conversão do


sistema de plantio direto, especialmente em áreas que apresentam um certo
grau de degradação. Assim, para que essa conversão seja eficiente, faz-se
necessária a utilização integrada das culturas do milho e do milheto de
forma planejada e em sistema de rotação, proporcionando alto potencial de
produção de fitomassa e relação C/N alta e garantindo a cobertura do solo.
Outra forma de obtenção de grande quantidade de fitomassa é a consorciação
de milho com leguminosas, como o feijão-bravo, por exemplo (CRUZ, 2007).
Sistemas de preparo e manejo do solo 7

O sistema de plantio direto é beneficiado por rotações de cultura em


regiões onde o milho e a soja são plantados. O milho, entretanto, se
destaca pela grande produção de fitomassa com alta relação C/N, que colabora
para maior cobertura do solo.

De acordo com Bertol e colaboradores (2019), estudos realizados sobre


o rendimento da soja em experimento de longa duração em Londrina-PR,
evidenciam resultados que destacam as fases desse sistema. No período
de 3 a 5 anos de adoção do sistema de plantio direto (período inicial), foi
possível constatar um processo de transição, com alterações no solo pouco
intensas e rendimentos das culturas similares ou, algumas vezes, inferiores
aos obtidos por meio do sistema convencional, caracterizando a fase crítica.
Após esse período, a área refletiu condições na qualidade do solo e na
produtividade das culturas superiores ao sistema convencional, carac-
terizando a fase de consolidação. A partir de 10 anos, aproximadamente,
as alterações na qualidade do solo foram muito expressivas e entraram em
fase de estabilização, na qual o sistema de plantio direto entrou em matu-
ridade — quando a produtividade das culturas responde às alterações na
qualidade do solo, o que reflete em uma constante produtividade superior
às culturas submetidas ao sistema convencional.
Na Figura 4, observe os dados de experimentos com a utilização de
diferentes sistemas de culturas, nas diferentes fases do sistema direto.
Em áreas de monocultura trigo-soja a fase crítica estende-se até o 5º ano após
a implantação, com consolidação no período do 5º ao 10º ano e a maturidade
a partir do 11º ano.
Ao avaliar o sistema de rotação de culturas introduzindo leguminosas
e gramíneas de cobertura no inverno e de milho em rotação com soja no
verão, os resultados representam uma redução nos períodos encontrados
em monocultura. A fase crítica seguiu apenas até o 3º ano, e a maturidade
foi alcançada no 7º ano após a implantação do sistema direto. Estudos como
esse são fortes indicadores de que um sistema de culturas diversificado e
com maior aporte de fitomassa, quando adotado, é capaz de melhorar a
qualidade do solo, assim como a produtividade das culturas implantadas
(BERTOL et al., 2019).
8 Sistemas de preparo e manejo do solo

2.000 Maturidade
Monocultura
1.500

Consolidação
1.000

ns ns ns
500 Crítica ns
ns ns
ns ns ns
0
Produtividade de soja (SD -PC. t ha–1)

–500

–1.000

2.500 Rotação de culturas

2.000

1.500

1.000
Consolidação
500 ns ns
Crítica
0

–500

–1.000
1 2 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Anos

Figura 4. Diferença na produtividade de soja (kg ha-1) entre semeadura direta e preparo con-
vencional em diferentes fases no decorrer do período de adoção da SD (crítica, consolidação,
maturidade) em latossolo vermelho na monocultura trigo-soja e na rotação de culturas
tremoço-milho/ aveia-preta-soja/ trigo-soja/ trigo-soja. Embrapa-Soja, Londrina, PR.
Fonte: Adaptada de Bertol et al. (2019).

Nesse mesmo estudo, Debiasi e colaboradores (2013) verificaram que


em situação de déficit hídrico o desenvolvimento da soja foi evidentemente
melhor em relação a outros sistemas de preparo do solo, dentre eles o con-
vencional (Figura 5).
Sistemas de preparo e manejo do solo 9

Figura 5. Aspecto visual da cultura do solo na safra 2008/2009 (cultivar BRS 184), em função
dos diferentes sistemas de preparo do solo.
Fonte: Debiasi et al. (2013, documento on-line).

Assim, é possível observar que o sistema de plantio direto consiste em


uma estratégia de exploração que visa manter a qualidade do solo não por
meio de práticas isoladas, mas por meio de técnicas de manejo.

Sistema de cultivo mínimo


O sistema de cultivo mínimo refere-se ao preparo mínimo do solo, indicado
para locais onde não há compactação acentuada, aspectos químicos que
sugerem a calagem e a gessagem, ou ainda a existência de pragas no solo, pois
nesse sistema prioriza-se a mínima utilização de maquinário. Esse sistema é
adotado com o objetivo de romper as camadas compactadas pela redução
10 Sistemas de preparo e manejo do solo

da densidade do solo, resistência à penetração e aumento da infiltração de


água no solo (HAQUE et al., 2016).
Assim como o sistema de plantio direto, o sistema de cultivo mínimo
corresponde a uma prática conservacionista que visa a menor mobilização do
solo. A maior parte da área a ser preparada apresenta cobertura de resíduos
culturais, mulching, cobertura viva com plantas espontâneas ou cobertura
verde. Nessa preparação, que pode ser feita somente na linha da semeadura,
é realizada apenas a gradagem leve do solo. Já os espaços entre as linhas
não são revolvidos, semelhante ao que ocorre no plantio direto. Além disso,
a preparação pode ser realizada com o auxílio de escarificadores (Figura 6),
os quais têm hastes de ferro que passam pelo solo preparando-o (CERETTA;
AITA, 2010).

Figura 6. Escarificador tipo Jumbo.


Fonte: Ceretta e Aita (2010, p. 76).

Ainda, o sistema de cultivo mínimo, comparativamente ao preparo con-


vencional do solo, traz benefícios como, por exemplo (ROSSETTO; SANTIAGO,
[201-?]):

„„ plantio em períodos chuvosos;


„„ utilização intensa da área;
„„ redução da erosão do solo;
„„ redução da utilização de máquinas, implementos e combustível;
„„ controle de espécies de plantas invasoras.
Sistemas de preparo e manejo do solo 11

Sistema de rotação de culturas


A rotação de culturas consiste na alternância regular de culturas de espécies
vegetais diferentes em uma mesma área, de preferência que apresentem sis-
temas radiculares diferentes (leguminosas e gramíneas, por exemplo). Assim,
cada cultura deixa efeitos diversos e positivos no solo e, consequentemente,
para a cultura sucessora. Além disso, a rotação de culturas pode ser realizada
de forma planejada, considerando fatores como a cultura predominante da
região (a rotação será programada em torno dela), temperatura e precipitação,
(SANTOS; REIS, 2001; GONÇALVES et al., 2007).
Essa prática vem sendo utilizada para solucionar problemas como doenças
em cereais (de inverno ou de verão), pragas de uma leguminosa, controle de
espécie vegetal daninha específica, adição de nitrogênio no solo, entre outros.
Esses efeitos são possíveis uma vez que a alternância de culturas ocorre com
espécies que apresentam características distintas quanto a sensibilidade
e resistência a pragas, sistema radicular, metabolismo, incorporação de
nutrientes no solo, relações com a microbiota do solo, entre outros (SANTOS;
REIS, 2001).
Nesse contexto, a cultura predominante em diversas regiões é a soja.
No entanto, é necessário reduzir a vulnerabilidade inerente à monocultura,
pois ela tende a desiquilibrar quimicamente o solo, esgotando alguns ele-
mentos e mantendo elevados os níveis de outros nas camadas mais próximas
da superfície. Por isso, é fundamental inserir espécies que tornem o sistema
mais produtivo e mais sustentável ao longo do tempo.
Essas espécies, conhecidas como adubos verdes e plantas de cobertura,
desenvolvem-se de acordo com as condições disponíveis de solo, clima e época
de cultivo e são grandes aliadas na redução da erosão a partir da produção
de palhada, além de elevar os níveis de carbono no solo, reduzir as plantas
daninhas, fertilizar o solo e ciclar nutrientes (AITA; GIACOMINI, 2006; GARCIA;
GAUDENCIO; TORRES, 1999).
A escolha das espécies de cobertura deve ser criteriosa para que se uti-
lize as mais adequadas à determinada região, com ciclos compatíveis com a
entressafra das plantas cultivadas comercialmente, que sejam resistentes
às principais doenças e pragas das culturas, que seus sistemas radiculares
sejam profundos para que ocorra o rompimento das camadas compactadas
do solo e, ainda, que tenham capacidade de produzir grandes quantidades
de biomassa (GONÇALVES et al., 2007).
12 Sistemas de preparo e manejo do solo

A rotação de culturas é uma prática que abrange uma grande diversidade


de alternativas, entre elas, Santos e Reis (2001) citam as seguintes:

1. alternar culturas que tenham diferentes habilidades quanto ao apro-


veitamento de nutrientes do solo ou que tenham um sistema radicular
que alcance diferentes profundidades;
2. alternar culturas resistentes a pragas ou a doenças com culturas
suscetíveis;
3. alternar culturas que tenham efeitos negativos com aquelas que tenham
efeitos positivos;
4. alternar culturas que tenham tendência ao esgotamento do solo com
aquelas que melhorem a sua fertilidade;
5. alternar culturas que façam uso do mesmo tipo de mão de obra, equi-
pamentos e instalações em diferentes estações.

Alguns sistemas de rotação, além de melhorar a produtividade e o ren-


dimento da cultura principal, proporcionam benefícios específicos, como
os descritos a seguir (CRUZ; PEREIRA FILHO; ALBUQUERQUE FILHO, [201-?]):

„„ a sucessão de aveia preta – milheto – soja é ideal para a produção


de palha;
„„ a sucessão de aveia – soja – nabo forrageiro – milho são utilizadas para
elevar a reciclagem de potássio e nitrogênio para o milho;
„„ a sucessão de nabo forrageiro – milheto (primavera) – soja atua na
descompactação superficial do solo, com alta produção de palha e
reciclagem de potássio, além do controle de plantas invasora);
„„ a sucessão de soja – girassol safrinha – milho melhora a produtividade
do milho e a estruturação do solo.

Conforme Gonçalves e colaboradores (2007), são diversas as possibili-


dades de rotação de culturas comerciais e plantas de cobertura no Brasil.
Na Figura 7, veja um exemplo de indicação de sistemas de rotação de culturas
para regiões do Paraná.
Sistemas de preparo e manejo do solo 13

Figura 7. Sistemas de rotação de culturas com ciclos de três a sete anos indicados para
regiões do Paraná.
Fonte: Gonçalves et al. (2007, p. 4).

Na Figura 8, veja modelos de produção conduzidos em sistemas de plantio


direto mediante o processo de redução do intervalo de tempo entre colheita
e semeadura, os quais demonstram o ciclo das espécies ao longo dos anos
agrícolas (letras representam os meses) para regiões de clima tropical no
Brasil.

Figura 8. Exemplos de produção em rotação sob plantio direto para regiões de clima tropical
no Brasil.
Fonte: Denardin et al. (2012, p. 24).
14 Sistemas de preparo e manejo do solo

Devido às tecnologias disponíveis para regiões de clima subtropical,


o mesmo processo pode ser viabilizado com o aumento do número de sa-
fras por ano (DENARDIN et al., 2012). Exemplos de modelo de produção em
sistema de plantio direto para regiões de clima subtropical do Brasil podem
ser vistos na Figura 9.

Figura 9. Exemplos de produção em rotação sob plantio direto para regiões de clima sub-
tropical do Brasil.
Fonte: Denardin et al. (2012, p. 26).

Ao final desta seção, é possível observar que diferentes espécies podem


ser utilizadas nos sistemas de rotação com diferentes possibilidades de
sucessão. Além disso, pode-se compreender que o principal fundamento da
rotação é a diversificação de culturas a fim de obter maior rentabilidade e
estabilidade produtiva juntamente com a conservação do solo.

Maquinário e seu papel na manutenção


da conservação do solo
A mecanização sempre andou junto do manejo e da conservação do solo,
ainda que o seu objetivo estivesse mais relacionado à sustentabilidade eco-
nômica em curto período do que à sustentabilidade ambiental e energética
a longo prazo. Nesse contexto, ocorreram muitos avanços no maquinário
agrícola, facilitando operações como preparo do solo, semeadura, adubação,
tratamentos fitossanitários e colheita. No entanto, a má utilização desses
equipamentos tem ocasionado problemas como a erosão e a compactação
do solo (BERTOL et al., 2019).
A adoção de modelos produtivos que utilizam uma diversidade de espé-
cies, a qual promove a fertilidade do solo, requer a utilização de máquinas
compatíveis com a produção em larga escala. As diferentes formas de manejo
e preparo do solo exigem uma escolha adequada dos equipamentos agrícolas,
Sistemas de preparo e manejo do solo 15

pois eles dependem do tratamento que será aplicado ao solo. Ainda, é ne-
cessário avaliar os requerimentos de energia nos sistemas de manejo, o que
irá definir a sua viabilidade econômica (ALBUQUERQUE FILHO et al., [202-?]).
Na agricultura atual não é possível separar a mecanização do processo
produtivo, no entanto, é clarividente a necessidade de utilização da mecani-
zação de forma técnica e com conhecimento para que os impactos ambientais
não sejam potencializados, tanto dentro como fora do sistema de produção.
O maquinário agrícola pode gerar efeitos negativos ao ambiente, incluindo
ao solo, que sofre com a pressão do tráfego de rodados e a sua mobilização
pelos equipamentos de preparo. Assim, para confrontar esses impactos, em
algumas regiões do Brasil, é utilizado o tráfego controlado dentro dos talhões,
criando uma área para o tráfego e outra para o cultivo (RADFORD et al., 2007).
A semeadura direta substituiu todos os preparos de solo para semeadura
que eram utilizadas no passado, tornando-se uma prática consolidada no
Brasil. Isso refletiu na redução da frota de tratores nas propriedades rurais,
pois tratores específicos para cada operação passaram a ser utilizados.
Além disso, a qualidade de semeaduras passou a ser verificada não apenas
com relação à distribuição de plantas na linha de semeadura, mas com relação
a aspectos de conservação do solo, mão de obra, entre outros. A interação
entre a semeadora e a superfície do solo é um fator determinante na eficiência
na semeadura direta, assim como a mobilização do solo e o trabalho realizado
diante das adversidades que são encontradas no ambiente.
Diante disso, alguns modelos de máquinas semeadoras já vêm de fábrica
somente como semeadoras e não como semeadoras-adubadoras. Essa possi-
bilidade diminui o custo das máquinas e as tornam mais leves para tracionar,
sendo possível, inclusive, o uso de tratores menos potentes (BERTOL et al., 2019).
Os equipamentos utilizados na colheita, assim como aqueles utilizados
em outras fases do processo produtivo, também passaram por grandes avan-
ços tecnológicos nos últimos anos. As colhedoras tiveram seu desempenho
e capacidade operacional incrementados, em especial pelo aumento do
tamanho. Quando empregadas plataformas despigadoras, como na cultura
do milho, em que apenas as espigas e outras pequenas partes da planta são
processadas, há uma grande vantagem na conservação do solo, pois ocorre
a redução da biomassa residual liberada pelo equipamento, além de reduzir
o problema de distribuição desuniforme da biomassa sobre a superfície do
solo (BERTOL et al., 2019).
Quanto à compactação do solo, um fator importante a ser considerado
na ação das máquinas agrícolas é a interação pneu–solo relacionada ao
desempenho dos tratores. As características de eficiência de um rodado
16 Sistemas de preparo e manejo do solo

dependem, além da pressão de contato, do tamanho e da forma da área de


contato (MAZETTO et al., 2004).
Em estudo realizado por Mazetto e colaboradores (2004), foram avaliados
três tipos de pneus: com carcaça diagonal, com carcaça radial e com configu-
ração mista (Figura 10). Os autores observaram que os maiores incrementos de
resistência do solo à penetração foram encontrados no pneu diagonal. Dessa
forma, os autores indicam que sejam utilizados em culturas que apresentam
alto teor de tráfego os pneus radiais e mistos.

Figura 10. Tipos de pneus: radial (a), diagonal (b) e misto (c).
Fonte: Mazetto et al. (2004, documento on-line).

Conforme observado nos estudos deste capítulo, a mecanização agrícola


é, portanto, um componente essencial no manejo e na conservação do solo e
esses equipamentos vêm sendo aprimorados para que a sua utilização seja
cada vez menos danosa ao solo, à água e, consequentemente, à produção
de alimentos.

Referências
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Sistemas de preparo e manejo do solo 17

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