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MÁQUINAS E

MECANIZAÇÃO
AGRÍCOLA
Máquinas para o
preparo de solo
Rodrigo Garcia Brunini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar os tipos de manejo de solos.


>> Definir preparo primário e secundário do solo.
>> Identificar as máquinas empregadas no preparo, suas regulagens e manu-
tenções.

Introdução
O solo é a base fundamental para a agricultura e, assim como as plantas, neces-
sita de cuidados para que as práticas agrícolas consigam entregar todo o seu
potencial. Por exemplo, o manejo adequado de um solo é capaz de determinar se
a produtividade da lavoura será elevada, e técnicas de manejo, como o preparo
primário e secundário, são essenciais para que ocorra o pleno desenvolvimento das
culturas, podendo diminuir as plantas invasoras e aumentar a taxa de infiltração
da água no perfil do solo.
O sucesso de um preparo adequado do solo depende das máquinas e dos
implementos utilizados nas operações, considerando que cada um tem sua função
e objetivo específico. Arados, grades e subsoladores são de uso comum na maior
parte dos procedimentos de manejo do solo e podem ser utilizados em práticas
de uso e de conservação do solo e da água, possibilitando a manutenção da
fertilidade do solo, a diminuição da compactação e a conservação de resíduos
vegetais que irão contribuir para o estabelecimento ideal de uma nova lavoura.
2 Máquinas para o preparo de solo

Neste capítulo, você vai estudar sobre as principais técnicas de preparo e de


manejo e conservação do solo, os procedimentos técnicos adotados em cada
uma dessas operações e quais máquinas e implementos estão envolvidos nessas
práticas. Além disso, você vai conhecer as funcionalidades de máquinas e implemen-
tos, seus componentes, especificidades na lavoura, bem como os procedimentos
fundamentais para regulagem desses equipamentos que garantem o sucesso nas
práticas de preparo do solo.

Preparo do solo e o sucesso na implantação


da lavoura
Manejar o solo significa colocar em prática processos e técnicas capazes
de aumentar o potencial de sucesso no estabelecimento das plantas na
área cultivada. O preparo do solo envolve ferramentas de uso comum aos
agricultores, tais como os arados de aivecas e discos, subsoladores, grades
leves e pesadas, enxadas rotativas, entre outros equipamentos capazes de
atuar em operações específicas no manejo do solo (STONE; SILVEIRA, 2001).
De acordo com Figueiredo, Ramos e Tostes (2008), toda e qualquer ação
que envolva o revolvimento das camadas do solo, independentemente de
sua profundidade, terá influência direta e indireta em alguma característica
física (porosidade, densidade, aeração, infiltração de água, erosão, etc.) e/
ou química (acidez, macro e micronutrientes, condutividade elétrica, matéria
orgânica, etc.), bem como de sua microbiota (comunidades de organismos
vivos como vírus, fungos, bactérias, insetos, etc.).
Portanto, o uso e manejo correto de máquinas e implementos agrícolas nas
operações de preparo do solo devem ser realizados com consciência e susten-
tabilidade, visando sempre à conservação das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo. Conheça a seguir as principais práticas de preparo do solo
na agricultura e sua importância no estabelecimento das culturas agrícolas.

Preparo convencional: aração e gradagem do solo


O preparo convencional tem como objetivo garantir condições físicas ideais do
solo para que sementes e mudas sejam cultivadas com muito mais eficiência
e tenham plenas condições de se desenvolverem sem que haja barreiras e/ou
impedimentos físicos no local (COSTA; GOEDER; SOUSA, 2006). Nessa técnica,
ocorre o revolvimento inicial do solo na área escolhida, podendo-se fazer
uso do arado (arado de aivecas ou discos) acoplado a um trator (pequenas
áreas podem utilizar tração animal).
Máquinas para o preparo de solo 3

A técnica de aração (uso do arado, Figura 1) é capaz de revirar as camadas


mais profundas do solo trazendo-as para a superfície. Esse procedimento
contribui para aeração do solo, descompactação, disposição da matéria
orgânica que estava em profundidade, condições de maior infiltração da
água no solo, bem como para o controle inicial de plantas invasoras e de
potenciais pragas de solo (SEGUY et al., 1984).

Figura 1. Operação de aração (arado de aivecas) no preparo convencional do solo.


Fonte: Hernani (2020, documento on-line).

Na sequência da aração para o preparo convencional, faz-se a gradagem


(uso da grade) da área, que tem como objetivos a destruição dos torrões de
solo oriundos da aração, a homogeneização das camadas mais superficiais do
solo fazendo com que restos vegetais, matéria orgânica, adubos e corretivos
sejam distribuídos de forma homogênea, e o nivelamento da camada mais
superficial, que contribui na infiltração da água, tráfego de veículos e des-
truição de produtos fitossanitários. Dependendo das condições do solo, após
a operação de aração, pode ser necessário realizar duas ou mais gradagens
para atender às necessidades de cultivo das culturas (COSTA et al., 2003).
Contudo, tanto a técnica de aração do solo como qualquer outra técnica
que envolva máquinas e implementos transitando na superfície ou na sub-
superfície, promove a compactação do solo (Figura 2). Segundo Mantovani
(1987), o solo, quando compactado, deforma suas estruturas físicas, afetando
a sua porosidade e a sua densidade. Isso causa prejuízos devido à dificuldade
de emergência e de penetração das raízes das plantas, a maior potencial
erosivo (por causa do escoamento superficial da água pelas chuvas) e à perda
da fertilidade e da capacidade de infiltração da água no solo. Dessa forma,
torna-se fundamental adotar medidas de conservação que irão proteger as
características físicas, químicas e biológicas do solo na área agricultável.
4 Máquinas para o preparo de solo

Figura 2. Efeito da compactação do solo causado pelo tráfego de máquinas e implementos


agrícolas.
Fonte: Adrienne Andersen/Pexels.com.

Cultivo mínimo
O uso contínuo de máquinas e implementos agrícolas contribui para a compac-
tação do solo e a longo prazo pode gerar graves problemas erosivos, como o
aparecimento de voçorocas (formação de grandes buracos ocasionados pelo
intenso processo erosivo) na área agrícola. A adoção de medidas protetivas e
conservacionistas pode diminuir os efeitos da compactação e da erosão do solo, e,
nesse sentido, o cultivo mínimo é uma opção para limitar práticas de revolvimento
do solo, como arações, gradagens e subsolagens (TAVARES; LIMA; ZONTA, 2010).
No manejo do solo com adoção de cultivo mínimo, o produtor utiliza de
uma só aração ou gradagem (mais comum). O objetivo é que a intensidade de
tráfego na área e o revolvimento do solo sejam mínimos, contribuindo para
que sejam mantidas as características físicas, químicas e biológicas do solo
(FUENTES LLANILLO et al., 2006). Ainda, é comum nesse método que a aplicação
de fertilizantes e corretivos da acidez do solo sejam realizados em conjunto
com a operação adotada (como gradagem, por exemplo).

O cultivo mínimo pode ser utilizado para a descompactação do solo


por meio do implemento subsolador entre linhas as do plantio. É
comum também a prática de cultivo mínimo para a incorporação de material
vegetal (resíduos orgânicos) no solo, o que contribui para a formação de matéria
orgânica a longo prazo.
Máquinas para o preparo de solo 5

Descompactação do solo: subsolagem e escarificação


A compactação do solo aumenta o potencial de erosão devido ao escoamento
superficial da água, arraste de partículas e agregados do solo, e isso, consequen-
temente, causará a perda da fertilidade do solo. Portanto, a descompactação
das camadas cultiváveis do solo é necessária para que o ambiente de cultivo de
sementes e mudas esteja em plenas condições agrícolas (TORRES; SARAIVA, 1999).
A cultura de cana-de-açúcar em extensas áreas agrícolas, principalmente
no estado de São Paulo, é um exemplo da ocorrência do problema de com-
pactação do solo devido à grande movimentação e ao tráfego de máquinas
e implementos durante as fases de implementação e desenvolvimento da
cultura (preparo do solo e tratos culturais) (LIMA; LEÓN; SILVA, 2013). De acordo
com Câmara e Godoy (2019), é comum que sejam realizadas operações de
descompactação de camadas profundas, chegando a 100 cm no perfil do
solo por meio do uso de subsolador (operação denominada subsolagem).
A operação de descompactação de camadas mais superficiais do solo
no geral é conhecida como escarificação, no entanto também se trata de
uma subsolagem. Seu uso está atrelado ao objetivo principal de criar um
ambiente favorável à expansão radicular (maior crescimento das raízes) das
plantas. Todavia, como é um método que limita o implemento (subsolador/
escarificador) a trabalhar mais próximo da superfície do solo, pode não ser
usual para problemas de compactação mais profundos (ARAÚJO et al., 2004).
Uma ferramenta muito utilizada junto ao subsolador é o rolo destorroador
adaptado na parte de trás do implemento, cujos objetivos são a destruição
total ou parcial dos torrões gerados pela operação de subsolagem — princi-
palmente em solos mais argilosos e secos, onde é comum a formação desses
torrões — e a incorporação de resíduos vegetais ao solo. Se não forem eli-
minados no preparo do solo, os torrões podem prejudicar a germinação e a
emergência de novas plantas (GARCIA et al., 2008).
De modo geral, na operação de semeadura, o implemento utilizado acom-
panha as mesmas hastes do subsolador, cuja função é fazer uma abertura
primária ou um sulco no solo a fim de serem depositadas as sementes. A
prática de preparo do solo em plantio direto faz uso frequente desse tipo
de equipamento (SANTOS; VOLPATO; TOURINO, 2008).

Você sabia que o penetrômetro é o principal instrumento utilizado


para avaliar o valor da compactação do solo (resistência de penetra-
ção das raízes)? A partir dos dados coletados em campo com esse equipamento
é possível realizar uma avaliação das condições de compactação da área.
6 Máquinas para o preparo de solo

Plantio direto: conservação da água e do solo


O plantio direto vem sendo adotado há muitos anos em diversos países, e o
seu uso é mais comumente atrelado ao cultivo de grãos (milho, soja, sorgo,
triticale, arroz de terras altas, lentilha, grão-de-bico, trigo, entre outros), mas
também pode ser adaptado para sistemas de cultivo consorciado ou para
culturas semiperenes, como é o caso da cana-de-açúcar, em que a condução
da lavoura e os sucessivos cortes (colheitas) dão suporte à manutenção da
palhada no campo para a próxima safra (ALVARENGA et al., 2001).
Sendo considerado uma operação de cultivo mínimo, o plantio direto
prioriza a manutenção da cobertura vegetal sobre o solo, onde são realizadas
apenas operações necessárias ao estabelecimento de uma nova lavoura,
como é o caso da semeadura que faz uso da semeadora acoplada ao trator,
realizando, em uma única operação, a abertura do sulco, a deposição da
semente e/ou adubo e o fechamento do sulco ao final.
O objetivo do plantio direto é manter o solo em condições propícias para
o aumento da fertilidade do solo, para manutenção da umidade e da matéria
orgânica e dar condições ideais para o estabelecimento das novas plantas,
propiciando a germinação, a emergência e o desenvolvimento de raízes.
Outras vantagens em relação ao plantio direto é que a cobertura morta
sobre a superfície do solo ajuda a diminuir a energia aplicada ao solo pelo
impacto das gotas de chuva, com isso, o processo de erosão se torna menor.
A limitação do tráfego de máquinas e implementos sobre a área cultivada
também contribui para minimizar os efeitos de compactação no solo (MAN-
TOVANI, 1987).
Atualmente, existem diversas associações de produtores que adotam
somente a prática de plantio direto em suas lavouras, bem como grupos de
pesquisa cuja finalidade é tornar essa técnica cada vez mais sustentável e
aconselhável para o manejo e a conservação da água e do solo na agricultura.

Preparo periódico do solo


O preparo periódico do solo é uma operação de rotina, feita antes e após as
safras. Essa operação exige conhecimento técnico do produtor e tem como
objetivo propiciar condições favoráveis de estrutura, fertilidade e microclima
do solo para que o dossel de plantas possa se desenvolver e, assim, expressar
seu máximo potencial produtivo no campo e reduzir os riscos de degradação
do solo (CARVALHO FILHO et al., 2007).
Máquinas para o preparo de solo 7

Os preparos primários e secundários do solo em conjunto constituem toda


a tecnologia por de trás do preparo periódico, sendo possível categorizar
cada tipo de máquina e implemento utilizado em cada trabalho exigido na
lavoura. A seguir, são descritas as principais vantagens e desvantagens do
preparo periódico do solo.
Vantagens:

„„ controle inicial de plantas invasoras;


„„ manejo de resíduos vegetais;
„„ melhora na aeração e na porosidade do solo;
„„ favorece o nivelamento das linhas de plantio;
„„ controle inicial de insetos, pragas e doenças de solo;
„„ auxílio no controle erosivo;
„„ incorporação de fertilizantes e corretivos;
„„ contribui para o melhor desenvolvimento de raízes;
„„ influencia na amplitude térmica das camadas superficiais;
„„ faz a descompactação em locais necessários;
„„ propicia a infiltração de água.

Desvantagens:

„„ ocasiona a pulverização dos agregados da superfície do solo, favore-


cendo processos erosivos de chuva e vento;
„„ compactação de camadas de solo abaixo da zona de manejo dos im-
plementos utilizados;
„„ são passíveis de causar interferência no desenvolvimento radicular.
„„ tem potencial de diminuir a fertilidade do solo e a produtividade das
culturas.

Preparo primário
O preparo primário do solo é a técnica responsável pelo deslocamento das
camadas mais profundas do solo para a superfície, fazendo a inversão dessas
camadas (inversão de leiva) (Figura 3). Esse revolvimento, além de aproximar
a matéria orgânica que estava mais profunda na zona radicular (0 a 40 cm),
também realiza a aeração do solo (troca de gases), tornando-o mais maleável
e fácil de se trabalhar no preparo secundário (SECCO et al., 2004).
8 Máquinas para o preparo de solo

Figura 3. Efeito da aração sobre o solo durante o preparo primário.


Fonte: Adaptada de Molina Junior (2017).

Os principais implementos utilizados nessa prática são os arados (discos ou


aivecas), pois suas hastes ou discos fatiam e, ao mesmo tempo, invertem o solo.
Essa técnica facilita a incorporação de resíduos vegetais, adubos e fertilizantes.
A desvantagem é que torna a área irregular e, dependendo da cultura, inade-
quada ao cultivo (por exemplo, grãos como o milho e a soja) (SEGUY et al., 1984).
Arados, quando acoplados aos tratores, são capazes de trabalhar em áreas
extensas e em diversas condições de solo. Uma observação é que a aração
deve ser evitada quando o solo se encontra na capacidade de campo (alta
umidade), pois dificulta a operação, aumenta a compactação e a quantidade
de torrões sobre a superfície do solo (BEUTLER; CENTURION, 2004).
Máquinas para o preparo de solo 9

Preparo secundário
As grades são os implementos responsáveis por trabalhar o solo após as
operações de preparo primário, são equipamentos robustos e, em sua grande
maioria, pesados, dotados de muitos discos de corte e/ou hastes e aivecas.
Em operação no campo, esses implementos têm como finalidades o destor-
roamento, a incorporação de produtos fitossanitários (herbicidas, fungicidas,
nematicidas, etc.), o nivelamento da área cultivável, a destruição inicial de
plantas invasoras e a homogeneização do solo para promover condições
ideais às práticas de semeadura ou plantio (CARVALHO FILHO et al., 2007).
Segundo Hernani e Fabricio (1999), para que o preparo secundário tenha
sucesso é importante que o produtor evite o uso contínuo da grade sobre
o mesmo solo, pois esse cenário pode acarretar pulverização do solo (de-
sagregação intensa do solo), principalmente quando ele se encontra abaixo
da capacidade de campo (solo muito seco) e maior compactação devido ao
peso do implemento sobre o mesmo local diversas vezes.

Uso da enxada rotativa no preparo secundário


Enxadas rotativas são implementos cuja função se baseia no mesmo princípio
da enxada manual, porém de forma contínua e com maior intensidade de
“ataque” ao solo. As principais vantagens desse equipamento é o revolvimento
do solo e seu destorroamento, a incorporação de restos vegetais, adubos e
fertilizantes, controle inicial de plantas invasoras, além de ser encontrado
em tamanhos variados, tanto para uso na agricultura familiar, na construção
de canteiros e hortas (acoplado a tobatas), como para áreas agrícolas mais
extensas (acoplado ao trator) (MANTOVANI, 1987).
Sem as técnicas de preparo primário e secundário no solo (Figura 4), a
agricultura extensiva se torna obsoleta, diminuindo a produção intensiva e a
oferta de alimentos para a população. O manejo correto do preparo periódico,
aliado às técnicas de aração e gradagem são fatores fundamentais para o
sucesso da agricultura moderna e demais técnicas de manejo e conservação
da água e do solo, como a construção de terraços, cultivo mínimo, curvas de
nível e o plantio direto (STONE; SILVEIRA, 2001).
10 Máquinas para o preparo de solo

Figura 4. Comparativo entre o preparo primário (aração) e preparo secundário (gradagem)


no solo.
Fonte: Adaptada de Molina Junior (2017).

Uso correto de máquinas e implementos


no preparo do solo
Os implementos agrícolas necessitam ser classificados e separados de acordo
com as suas funções e regulagens, pois cada um exerce uma atividade agrícola
capaz de influenciar de forma positiva e ou negativa nas diferentes práticas
de preparo do solo.
Arados, grades, subsoladores e escarificadores e as enxadas rotativas
dependem de fontes de energia para seus funcionamentos. As duas principais
fontes de energia para execução dos trabalhos no campo são a tração animal
e a tração mecânica. Grande parte dos implementos mais leves e que não
dependem da tomada de potência do trator (TDP) podem ser tracionados por
animais (equinos e bubalinos), no entanto, essa prática é realizada em áreas
agrícolas menores, geralmente na agricultura familiar.
Quanto ao engate à fonte de potência no caso de acoplamento ao trator
(Figura 5) — podendo ser utilizados como locais de acoplamento: a barra de
tração, tomada de potência e o sistema hidráulico de três pontos—, os imple-
mentos podem ser classificados como de arrasto, montados e semimontados
(CORRÊA et al., 2016).
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Figura 5. Pontos de acoplamento no trator para engate de implementos agrícolas: (a) barra
de tração; (b) sistema hidráulico de três pontos; (c) tomada de potência (TDP); (d) terminais
de engate rápido.
Fonte: Lamma ([201-?], documento on-line).

De acordo com Mello et al. (1995), os arados de discos podem ser classi-
ficados em interdependentes (os arados são unidos por um conjunto porta-
-discos), cuja função é realizar um corte mais superficial da camada de solo,
podendo até mesmo substituir o gradeamento em algumas situações; e os
arados independentes (corpo do arado está acoplado ao chassi), tendo por
objetivos o corte, a elevação e a inversão da leiva de solo.
Ainda, os arados de discos são constituídos de chassi, raspadores (limpa-
dores de barro), discos e de rodas estabilizadoras. Em relação aos arados de
aivecas, os arados de discos diferenciam-se por conseguir realizar a inversão
completa das camadas de solo, tendo como componentes principais a relha
(realiza o corte do solo), a sega circular (corte da palha) e aiveca (inversão
da leiva) (Figura 6).
12 Máquinas para o preparo de solo

Figura 6. Componentes principais dos arados de discos e de aivecas.


Fonte: Adaptada de Gadanha Júnior et al. (1991).

Os arados de discos merecem maior atenção pois os discos podem variar


de acordo com a forma e o tamanho. Além disso, o seu uso se dá em função
das condições físicas do solo, sendo mais indicado discos lisos para solos
mais leves e discos recortados para solos mais pesados. O tamanho do disco
também segue esse conceito, assim, para solos mais duros, recomenda-se
utilizar discos de menor diâmetro (MELLO et al., 1995). Já em relação à pro-
fundidade de trabalho, quanto mais pesados os arados, mais profunda será
a operação no solo. Veja mais detalhes no Quadro 1.
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Quadro 1. Escolha dos discos do arado de acordo com o tamanho e as


condições locais do solo

Diâmetro dos discos


(polegadas/cm) Condições de uso

24/61 Solos extremamente duros; argilosos; com grandes


quantidades de palhada.

26/61 Solos duros; argilosos ou argiloarenosos; com


abundância de raiz.

28/71 Solos de consistência mediana; arenosos, nos quais


a penetração seja relativamente fácil.

30/76 Arações profundas em solos de consistência


mediana; nos solos pesados e compactados,
deve-se adicionar peso a arado.

Fonte: Adaptado de Balastreire (1987).

O arado de disco deve trabalhar com o ângulo vertical entre 15 até 25°
para ajustar a profundidade do equipamento ao solo, sendo que, quanto
maior o ângulo vertical do disco, menor sua profundidade de trabalho. Já em
relação ao ângulo horizontal que determina a largura do trabalho, o arado
deve operar entre 42 até 45°, sendo, que quanto maior o ângulo horizontal,
maior será a largura de trabalho. Outro detalhe importante de trabalho é
o ajuste da roda estabilizadora, cuja função é dar estabilidade ao arado,
absorvendo os esforços da operação e controlar a profundidade do disco
no solo (BALASTREIRE, 1987).
Nos arados de aivecas é necessário ficar atento à profundidade de tra-
balho, pois quanto maior a profundidade, maior será a tração exigida na
operação. Outro detalhe importante é que existem arados reversíveis, cuja
função é diminuir as manobras do trator no campo, gastando menor tempo
e combustível e diminuindo o tráfego na área (FALLEIRO et al., 2003).
14 Máquinas para o preparo de solo

Os implementos de subsolagem (subsoladores e escarificadores) são


utilizados para a descompactação das camadas de solo por meio de seu
rompimento por força de tração. Subsoladores rompem as camadas mais
profundas do solo (até 100 cm no perfil), enquanto os escarificadores rompem
as camadas mais superficiais (de 0 até 15 cm no perfil) (SÁ et al., 2007). Os
subsoladores são constituídos por: chassi, roda reguladora de profundidade,
haste (para o rompimento do solo e descompactação da camada) e ponteira
(facilita a penetração da haste ao solo) (Figura 7).

Figura 7. Componentes principais dos arados de discos e aivecas.


Fonte: Adaptada de Gadanha Júnior et al. (1991).

As principais regulagens realizadas nos subsoladores e escarificadores são


de acordo com as ponteiras, pois elas têm influência direta na penetração das
hastes no solo, sendo que ponteiras estreitas são indicadas para situações
de 1 a 1,5 vezes a profundidade de trabalho, enquanto as ponteiras largas
são indicadas para situações de 1,5 a 2,0 vezes a profundidade de trabalho
(SALVADOR; BENEZ; MION, 2009).
As grades agrícolas são implementos mais robustos e apresentam como
objetivo a realização de destorroamento e nivelamento do solo, principal-
mente após o preparo primário. As grades agrícolas são caracterizadas, de
acordo com Galeti (1981), conforme a seguir.

„ Podem ser acopladas, montadas (nos três pontos de acoplamento do


trator) ou de arrasto (na barra de tração).
„ O elemento ativo pode ser uma grade de dentes ou uma grade de discos.
Máquinas para o preparo de solo 15

„ A ação ao solo (forma com que os elementos ativos vão trabalhar o


solo) pode ser de simples ação ou de dupla ação.
„ Os discos lisos exercem menor pressão no solo, e os recortados exercem
maior pressão no solo.
„ A posição dos órgãos ativos pode ser de dupla ação (offset em V), dupla
ação em tandem ou simples ação (Figura 8).

Figura 8. Esquema do tipo de grade quanto à posição dos órgãos ativos: (a) simples ação; (b)
dupla ação; (c) offset em V; (d) linha de tração.
Fonte: Adaptada de Galeti (1981).

Futuro da agricultura no preparo do solo


A cada dia, o setor de máquinas e implementos agrícolas vem sendo aper-
feiçoado tecnologicamente. Diversos equipamentos estão sofrendo modifi-
cações positivas e influenciando na eficiência das operações agrícolas. Além
disso, sensores de posicionamento, computadores de bordo e instrumentos
digitais estão tornando as práticas de preparo e conservação do solo mais
sustentáveis. Já é possível, inclusive, encontrar veículos não tripuláveis que
sejam capazes de trafegar nas áreas agricultáveis e executar as operações
de preparo do solo e tratos culturais (MACEDO, 2009).
Contudo, embora a modernização das máquinas e implementos agrícolas
já seja uma realidade, o uso de implementos como arados de aivecas, grades e
subsoladores ainda predominam as práticas de manejo agrícola e necessitam
de manutenções e regulagens constantes. Entretanto, é possível promover
a alta produtividade das lavouras conhecendo técnicas de operação desses
equipamentos para cada atividade no campo, de modo a manter um solo
bem cuidado e manejado.
16 Máquinas para o preparo de solo

Referências
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