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PREPARO DO SOLO E TRATOS CULTURAIS

1 INTRODUÇÃO

A agricultura é uma atividade econômica que começou a aproximadamente à


10.000 anos a.C. quando o homem passou a plantar, cultivar e aperfeiçoar ervas, raízes
e árvores comestíveis tornando-as domesticadas. Assim, com a agricultura o homem
passava de coletor a cultivador de seu próprio alimento.
Em relação ao que chamamos de propriedade agrícola, para se chegar ao produto
final, são realizadas uma série de atividades denominadas operações agrícolas.
As operações agrícolas se iniciam desde o preparo do solo e terminam com a
comercialização e uso do produto final. Dentre essas operações agrícolas destaque
importante deve ser dado ao preparo do solo e tratos culturais.

2 PREPARO DO SOLO

“O preparo do solo é conceituado como todas as atividades executadas em uma


determinada área, para que essa possa receber uma cultura, por meio de sementes ou
mudas”.
O preparo do solo se subdivide em dois tipos: preparo inicial e preparo
periódico.

Preparo inicial do solo

Consiste em operações em um ambiente de vegetação natural ou regenerada, ou


ainda, envolve alguma movimentação de terra para tornar a superfície regular e
facilmente trabalhável, com a finalidade de receber sementes ou órgãos de propagação
vegetativa, incorporando novas áreas a produção de pastagens ou culturas.
Quando o solo apresenta vegetação natural (mata natural ou artificial, cerrado,
capoeira, pastagens, etc) ou alto teor de umidade (solos de várzea) torna-se necessário a
remoção desse tipo de cobertura ou drenagem para instalação das culturas. As operações
então requeridas são chamadas de preparo inicial do solo e, como exemplo temos as
operações de desmatamento, destoca, enleiramento, limpeza, terraceamento, abertura de
canais de drenagem, etc.
Preparo Periódico

O preparo periódico do solo consiste nas operações realizadas com a finalidade


de oferecer a semente ou órgão de propagação vegetativa, melhores condições de
desenvolvimento e produção.
Na agricultura mais antiga, essas operações eram trabalhosas e demoradas. O
preparo do solo vem evoluindo com equipamentos cada vez maiores e com maior
capacidade operacional, possibilitando o preparo de grandes extensões com menor
esforço físico.
O preparo período do solo compreende diversas operações agrícolas de
mobilização do solo, realizadas antes da implantação periódica das culturas. Esse tipo
de preparo pode ser feito em três sistemas principais: convencional (aração e gradagem
em toda área a ser cultivada), cultivo mínimo (operações mecanizadas reduzidas ao
mínimo possível) e plantio direto (sem revolvimento do solo).

a) Preparo Convencional
O preparo convencional consiste no conjunto de operações realizadas com a
finalidade de facilitar a semeadura, germinação das sementes e desenvolvimento de
plantas.
Desde a antiguidade, dos primeiros implementos para o manejo do solo, sempre
houve a preocupação em melhorá-los. Assim, dos primeiros arados de madeira se
evoluiu para aivecas fabricadas com materiais mais resistentes, posteriormente passou-
se para os arados de discos, que permitiram o trabalho em áreas com presença de pedras
e tocos e, finalmente as grades aradoras com grande capacidade de trabalho.
No preparo convencional do solo objetiva-se a destruição de camadas
compactadas, eliminação de plantas indesejáveis, incorporação de corretivos etc. O
preparo convencional é dividido em:
 Preparo primário: tem como objetivo a movimentação mais profunda do solo,
utilizando implementos conhecidos como arados, grades pesadas, subsoladores e
escarificadores.
 Preparo secundário: tem por objetivo complementar o trabalho de arados,
sendo utilizados implementos denominados grades de molas, grades de dentes e
de discos, enxada rotativa, encanteiradores, rolo faca, cultivadores, etc.
Operações

 SUBSOLAGEM
É a prática pela qual se rompe ou se “quebra” camadas compactadas formados
no interior do solo. A subsolagem é importante para evitar que a camada adensada ou
compactada dificulte a infiltração de água e aumente os riscos de erosão, além de
dificultar a penetração do sistema radicular.

 ARAÇÃO
Consiste numa operação de inversão de camadas. O arado corta uma faixa de solo,
denominada “leiva”, que é elevada e invertida. As finalidades da aração são:
o eliminar plantas daninhas;
o incorporar restos vegetais, calcário e fertilizantes;
o melhorar a infiltração de água;
o melhorar a estruturação (melhoramento de suas condições físicas, químicas e
biológicas, pela mistura da matéria orgânica com o corpo do solo);
o enterrio de larvas e ovos de insetos em profundidade ou destruição de insetos
nocivos pelo exposição de larvas ao efeito do sol, ataque de pássaros etc;
o aumentar a aeração do solo;
o diminuir camadas compactadas do solo;
o acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica;
o favorecer o desenvolvimento de raízes e tubérculos.
A execução da aração sempre à mesma profundidade pode resultar, conforme o
tipo do solo, na formação de uma camada endurecida (compactada), conhecida como
“pé-de-arado” ou “pé-de-grade”.
O pé-de-arado ou pé-de-grade nada mais é a camada de solo compactada que se
desenvolve abaixo da camada que é anualmente arada e gradeada (daí seu nome). Como
esses instrumentos não atingem essa camada, ela permanece ano após ano e vai se
compactando pela perda de sua porosidade e pela compactação das partículas argilosas
que são remobilizadas da camada superior. Geralmente o pé-de-arado forma-se quando
o agricultor usa continuamente, durante alguns anos a grade ou arado para o preparo do
solo. Esses implementos operando em uma mesma profundidade todos os anos resulta
na compactação. Abaixo dessa profundidade que os implementos estão operando, surge
uma crosta de solo compactada que dificulta o desenvolvimento da planta e a infiltração
da água.
Quando há fortes chuvas, essa camada atua impedindo o fluxo descendente de
água para as camadas mais profundas de solo. Com esse impedimento, a água passa a se
acumular sobre a camada e passa a encharcar o solo podendo gerar então escoamento
superficial, o grande gerador da erosão. Assim, por meio do uso inadequado dos
referidos implementos agrícolas, o agricultor acaba favorecendo a perda de solo e,
conseqüentemente, de produtividade já que os nutrientes que concentram na superfície
do solo são também levados pela erosão.
A operação de aração pode variar em sua profundidade de trabalho em 15 até 40
cm de profundidade. Devem-se tomar alguns cuidados nessa operação:
o arar logo após a colheita afim de incorporar restos de cultura e destruir plantas
daninhas;
o evitar a aração em solos muito secos ou muito úmido. O solo seco acarretará
maior desgaste do implemento, formação de torrões, espelhamento do solo e
maior número de operações. O solo muito úmido acarretará também maior
compactação, não inversão correta da leiva e necessitará de maior força de
tração pela patinação do trator. Portanto, o teor de umidade correto para aração é
no ponto de friabilidade;
o não fazer a aração sempre na mesma profundidade;
o nunca arar no sentido da declividade, sempre em nível

Os arados podem ser dos tipos:

 Arado de aiveca: os arados de aiveca foram os implementos mais difundidos


em nosso país devido à utilização de tração animal nas diversas regiões. No
sistema convencional de preparo do solo, tem como principal característica um
melhor revolvimento da camada de solo, fazendo uma inversão completa da
leiva, possibilitando um melhor arejamento, um melhor controle de plantas
daninhas e mais incorporação dos restos vegetais.
 Arado de discos: é o resultado de uma transformação gradual do arado de
aivecas. Com sua construção, procurou-se obter maior capacidade e eficiência
nas operações de preparo do solo na agricultura. Tem como vantagem trabalhar
com movimentos de rotação, o que os tornam menos susceptíveis a impactos ao
encontrar um obstáculo qualquer, pois rola sobre o mesmo, diminuindo a
influência desse impacto sobre sua estrutura.

 ESCARIFICAÇÃO

Atua numa profundidade máxima de 30 cm não podendo ser considerada uma


subsolagem. Esse implemento não provoca a inversão das camadas, portanto grande
parte dos resíduos vegetais permanece sobre a superfície do solo diminuindo o impacto
direto da chuva.
O escarificador assim como o arado de aiveca, não é recomendado para áreas
recém desbravadas e também para áreas com massa vegetal muito densa que irá causar
embuchamento, sendo que nesse caso existe a necessidade de uma gradagem para picar
o material, facilitando assim essa operação.

 GRADE PESADA

Nesse caso, ao invés de se utilizar aração, o preparo é realizado com o uso de


grades pesadas com discos de 32 e 36 polegadas de diâmetro, sendo em seguida
utilizado a grade niveladora, de discos menores. O preparo com grade pesada é mais
utilizado em grandes áreas, por ter maior rendimento que os arados.

 GRADAGEM

A gradagem é a operação que complementa a aração no preparo primário do solo,


apresentando com objetivo, destorroar e nivelar o solo, facilitar as operações de
semeadura, tratos culturais e até colheita de algumas culturas. Além disso, as grades
realizam uma série de outras atividades:
o destruição de restos vegetais da cultura anterior;
o incorporação de corretivos ou defensivos;
o incorporação de adubos e sementes;
o destorroamento;
o eliminação de plantas daninhas em início de desenvolvimento
O uso excessivo das grades agrícolas para o preparo secundário e o número de
passadas pode aumentar o custo de produção devido ao maior consumo de
combustível, promover uma pulverização excessiva do solo, tornando-o mais
suscetível à erosão ou até mesmo causar uma maior compactação devido ao
aumento do tráfego do trator.
Quanto ao tipo de ação as grades são subdivididas em:
o Ação simples: constituída por uma ou duas secções de discos que movimentam
o solo somente para um lado
o Ação dupla: são constituídas por 4 seções de discos (2 na frente e 2 atrás) –
grade “x” ou 2 seções, sendo 1 na frente e a outra atrás – grade “V”.
Quanto ao tipo de discos de grades esses possuem bordas lisas ou recortadas. As
bordas recortadas, além de possuírem maior capacidade de penetração do disco, são
indicadas para maior capacidade de penetração do enterrio de restos de culturas, uma
vez que o disco recortado tem maior superfície de corte, facilitando essa operação.

 ENXADA ROTATIVA
As enxadas rotativas normalmente são pouco utilizadas no preparo do solo.
Entretanto apresentam como vantagem um melhor trabalho de incorporação de restos
vegetais. Por outro lado quando o implemento não é bem regulado, pode pulverizar
demasiadamente o solo, aumentando consequentemente as perdas por erosão.
A enxada rotativa é mais utilizada em áreas de produção de hortaliças, onde se
faz ao mesmo tempo incorporação de adubos e o preparo do solo para semeadura.

 ROÇADORAS

Esse implemento atua sobre a vegetação sendo o corte realizado pelo impacto do
elemento sobre o material. A roçadora substitui a foice manual, que é onerosa e de
baixo rendimento, sendo várias as aplicações, destacando-se:
o limpeza de pastagens, capoeira ou de campo quando da presença de arbustos
invasores;
o cortar, romper, quebra, picar e pulverizar a massa vegetativa ou restos de
culturas existentes na superfície do solo, acelerando a sua decomposição e
facilitando sua incorporação;
o limpeza ou corte das capineiras.
 ROLO-FACA
Esse implemento acama a vegetação esmagando os vasos da planta, picando-a
ou não, dependendo da consistência da mesma. Essa operação de rolagem permite
aumentar a cobertura do solo inibindo o desenvolvimento das plantas daninhas,
decompondo mais rapidamente os restos culturais e melhorando assim as operações
subsequentes, permitindo um plantio direto sem embuchamento das semeadoras.

3. TRATOS CULTURAIS

São práticas ou atividades executadas após o plantio e antes da colheita, em uma


determinada cultura. Essa prática tem como objetivo proporcionar à cultura melhores
condições de desenvolvimento e produção.
Os tratos culturais podem ser subdivididos em:
a) Tratos culturais gerais: são aqueles normalmente utilizados em todas as
culturas
b) Tratos culturais específicos: são aqueles utilizados para culturas específicas.

TRATOS CULTURAIS GERAIS

 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS


Consiste na eliminação total ou parcial de plantas daninhas em uma determinada
área de cultivo, para que não concorram com a cultura em água, luz e nutrientes. Outros
prejuízos podem haver caso não haja o controle de plantas daninhas, dentre eles:
o hospedagem de pragas e doenças;
o redução dos índices de produtividade;
o prejuízo na qualidade e produção de toxinas ao animais
Os métodos mais comuns no controle de plantas daninhas são:
 Manual: consiste no uso de enxada;
 Mecânico: consiste no uso de roçadoras e cultivadores;
 Químico: método mais comum com a utilização de herbicidas de pré e pós
emergência;
 Cobertura morta: a cobertura morta suprime o desenvolvimento de plantas
daninhas;
 Físico: pode ser utilizado o fogo e por inundação
 Manejo Integrado: consiste na utilização de mais de um método

 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS


Consiste na aplicação de produtos químicos (inseticidas e fungicidas e
fertilizantes foliares) misturados em água com a utilização de pulverizadores. Tem
como objetivo a proteção da planta contra patógenos.

 IRRIGAÇÃO
A irrigação supre as plantas de suas necessidades em água, para que
desenvolvam e produzam o máximo. Os principais tipos de irrigação são:
o inundação;
o infiltração;
o aspersão convencional;
o pivô;
o gotejamento;
o microaspersão

TRATOS CULTURAIS ESPECÍFICOS

 ESCARIFICAÇÃO
É uma operação realizada superficialmente com o objetivo de melhorar a
aeração do solo e infiltração da água. É mais utilizado em culturas perenes ou semi-
perenes, pois com a colheita pode ocorrer a compactação do solo pelo trânsito de
veículos.
 AMONTOA
A amontoa consiste em “chegar” solo na base da planta. É muito utilizada em
culturas produtora de tubérculos com o objetivo de diminuir o acamamento, facilitar o
enraizamento, controlar plantas daninhas, incorporação de adubos, etc.

 DESBASTE
Também chamado de raleação, é a eliminação de plantas em excesso na área de
cultivo para obtenção de uma população adequada de plantas.
 ADUBAÇÃO EM COBERTURA
Existem nutrientes que devido às suas características ou devido a características
da cultura devem ser aplicados parceladamente, como exemplo o nitrogênio e o
potássio. A adubação de cobertura deve ser realizada imediatamente antes do máximo
de absorção pela planta.
 PODA
Algumas plantas necessitam de podas para sua boa formação, produção de
frutos, regularização da produção, reforma da planta, limpeza, etc.
As podas podem ser de dois tipos, de formação e de frutificação. São muito
utilizadas na fruticultura.

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