Você está na página 1de 10

CONSERVAÇÃO DE SOLOS

1. INTRODUÇÃO

O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da


coletividade, independente do seu uso ou posse. Também é um dos componentes vitais
do meio ambiente e constitui substrato natural para o desenvolvimento das plantas.
A ciência do manejo e conservação do solo preconiza um conjunto de medidas,
objetivando a manutenção ou recuperação de condições físicas, químicas ou biológicas
do solo estabelecendo critérios para uso e manejo das terras.
Os problemas que vem ocorrendo com os recursos naturais devem ser
enfrentados de forma global e integrados. Para o alcance de altos níveis de
produtividade deve-se evitar o desgaste e o empobrecimento do solo por meio de
práticas que aumentem a infiltração de água no perfil do solo, além de práticas que
intensifiquem a cobertura vegetal e reduza o escoamento superficial da água de chuva.
Nesse contexto, a conservação do solo é aqui tratada sob um ponto de vista
holístico dentro de um todo indivisível, onde a produção agrícola, os recursos edáficos,
químicos e biológicos devem interagir harmonicamente.
Dessa forma, o conjunto de práticas conservacionistas recomendadas tem como
objetivos fundamentais manter ou instaurar um processo de progressiva restauração da
biodiversidade (vegetal e animal), otimizar as condições de desenvolvimento vegetal,
reduzir a exposição do solo às intempéries climáticas e preservar os recursos hídricos.

2. EROSÃO

A erosão consiste no processo de desprendimento, transporte e depósito de


partículas do solo superficiais e subsuperficiais, de forma acelerada, causado pela ação
da água e do vento.
Dessa forma, quanto ao tipo de agente causador, a erosão pode ser classificada
em dois tipos principais: eólica e hídrica.

Erosão Eólica
A erosão eólica é causada pela ação do vento. Ocorre geralmente nas regiões
planas, de pouca chuva, onde a vegetação natural é escassa (regiões áridas e semi-
áridas), há predomínio de ventos fortes, e o solo são normalmente secos. As áreas são
descampadas, sem nenhuma obstrução aos ventos, o que favorece o processo erosivo.

Erosão Hídrica

No Brasil a erosão hídrica é a mais frequente, sendo causada pela ação física das
águas pluviais que incidem sobre o solo, desagregando e arrastando suas partículas.
A erosão hídrica começa com a incidência das chuvas. Do volume total
precipitado parte é interceptado pela vegetação e a outra parte atinge a superfície do
solo, provocando umedecimento dos agregados e reduzindo as forças de coesão. Com a
continuação da chuva ocorre desagregação das partículas (areia, silte e argila), sendo
que essas partículas podem obstruir os poros do solo, além do que, o impacto das gotas
tende a compactar o solo, ocasionando o selamento superfícial e, consequentemente,
uma menor taxa de infiltração de água no solo.
A formação de poças de água nas depressões da superfície do solo tende a
ocorrer quando a intensidade de precipitação excede a capacidade de infiltração.
Esgotada a capacidade de retenção superficial, a água começa a escoar. Associado ao
escoamento superficial ocorre o transporte de partículas do solo.
Assim, os principais processos envolvidos na ocorrência de erosão hídrica são:
perda de coesão, selamento superficial, formação de poças ou armazenamento
superficial, redução da infiltração de água, escoamento superficial e desprendimento e
transporte de partículas do solo.
Os principais fatores que interferem no processo erosivo são:
a) Chuva: constitui-se no agente responsável pela energia necessária para
ocorrência de erosão hídrica, tanto pelo impacto direto das gotas de chuva
quanto pela capacidade de produzir o escoamento superficial;
b) Solo: o comportamento do solo diante do processo erosivo é conhecido como
erodibilidade do solo, que expressa, portanto a susceptibilidade à erosão;
c) Declividade do terreno: quanto maior a declividade do terreno, maior tensão
relacionada ou escoamento superficial;
d) Tipo de vegetação: a cobertura do solo com vegetação e/ou resíduos vegetais é a
melhor proteção contra a erosão, devido aos fatos de impedir o impacto direto
das gotas de chuva sobre o solo, além de proteger a superfície do solo da
radiação direta solar impedindo perda de água por evaporação.

3 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS

Algumas das causas do esgotamento do solo pela erosão podem ser controladas.
Todas as técnicas utilizadas para aumentar a resistência do solo ou diminuir as forças do
processo erosivo são denominadas práticas conservacionistas.
A melhor forma de conservação dos solos agrícolas é ocupar a área de acordo
com sua capacidade de uso, o que pode otimizar seu aproveitamento econômico,
reduzindo perdas de água e consequentemente os riscos de erosão.
Todo o esforço visando à redução na erosão hídrica deve estar voltado, portanto,
à minimização do impacto associado aos agentes responsáveis pelo desprendimento das
partículas do solo e à redução da capacidade de transporte do escoamento superficial.
Todas as práticas que possibilitem diminuição da energia cinética da chuva e o aumento
da capacidade de armazenamento de água sobre a superfície ou perfil do solo são
favoráveis à redução da erosão.
As práticas conservacionistas de solo podem ser divididas em três tipos:
edáficas, vegetativas e mecânicas.

Práticas Edáficas

São práticas conservacionistas que mantém ou melhoram a fertilidade e as condições


físicas do solo. Dessa maneira, essas práticas propiciam melhor desenvolvimento da
cultura, aumentando a proteção do solo contra agentes erosivos. Esse conjunto de
medidas está resumido nos seguintes princípios básicos:
a) Controle do fogo: de modo geral as queimadas só poderão contribuir para o
empobrecimento dos solos com reflexos na degradação das áreas cultivadas.
Como prejuízo as queimadas provocam: destruição da matéria orgânica,
eliminação dos microorganismos, volatilização de nutrientes, alta propensão ao
aumento da erosão e redução da capacidade produtiva;
b) Adubação verde: cultivo de espécies de plantas com a finalidade de melhorar
as características e propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;
c) Adubação química: a utilização técnica e racional da adubação química com o
uso de fertilizantes melhora o fornecimento de nutrientes e aumenta a vegetação,
diminuindo a erosão;
d) Adubação orgânica: a matéria orgânica do solo é formada por componentes
distintos e heterogêneos. O adubo orgânico além de disponibilizar nutrientes
para as plantas, melhora a estrutura do solo, retém água e nutrientes. De maneira
geral são considerados adubos orgânicos diversos tipos de tortas, estercos,
resíduos urbanos e industriais, compostos orgânicos dentre outros;
e) Calagem: é a aplicação de calcário para corrigir a acidez do solo, com a
finalidade de aumentar o crescimento e desenvolvimento das plantas, neutralizar
o alumínio, elevar o pH, fornecer Ca e Mg, melhorando a disponibilidade dos
demais nutrientes.

Práticas Vegetativas

Práticas vegetativas são aquelas que utilizam a vegetação para proteger o solo
contra a ação direta dos agentes erosivos (água e vento) minimizando a ocorrência da
erosão. A intensidade da erosão será tanto menor quanto mais densa for à cobertura
vegetal sobre a superfície do solo.
Essa prática cobre o terreno não só com árvores ou com culturas de menor porte,
mas com folhagem ou restos vegetais. A cobertura vegetal deixada sobre o solo, além de
protegê-lo contra gotas de chuva e reduzir a velocidade de escoamento, fornece matéria
orgânica e sombreamento. As principais práticas vegetativas são:
a) Florestamento e/ou reflorestamento: terras de baixa capacidade de produção e
susceptíveis a erosão; topos de morros, margens de rios, matas ciliares, encostas.
b) Pastagem: a utilização da pastagem como cobertura, fornece, embora em menor
intensidade que o reflorestamento boa proteção ao solo contra agentes erosivos.
Porém a falta de critérios racionais para a utilização das pastagens acarreta
degradação das áreas de pastagens, causando menor cobertura vegetal e maior
processo erosivo. Dentre as principais causas estão à baixa fertilidade do solo,
não reposição de nutrientes, fogo indiscriminado, manejo inadequado de
pastagens, uso de espécies inadequadas, etc.
c) Plantas de cobertura e adubação verde: a adubação verde é a prática pela qual
se cultivam determinadas plantas (normalmente leguminosas), tanto com a
finalidade de impedir o impacto direto das gotas de chuva sobre o solo, como de
incorporá-las, proporcionando melhorias nas propriedades físicas, químicas e
biológicas.
d) Cultivo em faixas: consiste na disposição das culturas em faixas de largura
variável, alocadas em nível, de forma que a cada ano se alterem em determinada
área, plantas de cobertura densa e plantas que apresentem menor cobertura.
Exemplo: Mandioca/Feijão. A largura das faixas é variável, atentando-se para
que seja sempre de valores múltiplos da largura dos implementos a serem
utilizados.
e) Cordões de Vegetação Permanente: são fileiras de plantas perenes e de
crescimento denso em contorno a cultura principal, com 2 a 3m de largura.
Exemplos: Cana-de-açucar, Capim elefante.
f) Alternância de capinas: consiste em fazer capinas alternando as faixas de
mobilização do solo, deixando sempre uma ou duas faixas de cobertura vegetal
logo abaixo daquelas recém capinadas. O princípio da utilização dessa prática é
bem semelhante ao cultivo em faixas, que é alternar faixas de diferentes
densidades de culturas.
g) Roçada das plantas daninhas: uma das maneiras mais eficientes de controlar a
erosão em culturas perenes (café, cacau, citrus). Consiste em substituir as
capinas pela roçada das plantas daninhas, cortando-as a uma pequena altura da
superfície do solo. Desse modo o sistema radicular fica intacto e permanece
sobre a superfície uma vegetação protetora.
h) Cobertura morta: é a deposição de plantas de cobertura do solo já mortas na
superfície do solo, visando não deixar área descoberta, evitando assim o impacto
direto das gotas de chuva. É uma das práticas agrícolas de maior sucesso, que
além dos muitos benefícios, dá sustentação ao sistema de plantio direto.
i) Faixas de bordadura e quebra-ventos: quebra-ventos arbóreos são definidos
como barreiras constituídas de renques de árvores dispostos em direção
perpendicular aos ventos dominantes. Essas barreiras quando plantadas na
proteção de lavoura, tem a função de reduzir a velocidade do vento, reduzindo a
evapotranspiração da cultura e conservando mais a umidade do solo.
j) Rotação de culturas: consiste em alternar, seguindo uma sequência planejada,
o plantio de diferentes culturas em uma mesma área, porém em anos agrícolas
diferentes. Ao escolher culturas que entrarão nesse sistema é preciso levar em
consideração fatores como: condição do solo, topografia, clima, implementos
agrícolas disponíveis etc. Alterna-se a cada ano, culturas que tenham diferentes
comportamentos frente ao processo erosivo.

Práticas Mecânicas

Nem sempre as práticas edáficas e vegetativas são suficientes para controle da


erosão, principalmente em regiões com alta intensidade de chuvas. Nesse caso é
necessário a adoção de medidas capazes de diminuir a velocidade de escoamento e
aumentar a capacidade de infiltração de água no solo.
Isso pode ser feito por meio de barreiras mecânicas como terraços, canais
escoadouros, bacias de captação de águas pluviais, barragens para contenção de água
decorrente do escoamento superficial (barraginhas). Assim, práticas mecânicas são
aquelas que utilizam de estruturas artificiais para diminuir a velocidade de escoamento,
agindo especificamente no escoamento superficial.

a) Terraceamento: O terraceamento é a prática mais difundida entre os


agricultores. Consiste na construção de terraços, estruturas compostas de um
canal e um camalhão, no sentido perpendicular à declividade do terreno,
formando obstáculos físicos capazes de reduzir a velocidade de escoamento da
água. O objetivo fundamental do terraceamento é reduzir riscos de erosão
hídrica e proteger mananciais (rios, lagos e represas). A determinação do
espaçamento entre terraços depende do tipo de solo, da declividade do terreno,
do regime pluvial, do manejo de solo e das culturas. O tipo de terraço a ser
utilizado também interfere na distância entre os mesmos e podem ser com
gradiente ou nivelados.
A declividade do terreno é fator determinante na largura da faixa do terraço,
sendo esse de base estreita, média ou larga (Tabela 1). Em declives acima de 20% é
recomendável o uso de pastagem ou culturas perenes.
Tabela 1 -Tipo de terraços de acordo com a declividade do terreno.

Declividade (%) Tipo de terraço

2-8 Base larga

8- 12 Base média

12 - 20 Base estreita

O tipo de cultura e o sistema de cultivo determinam a intensidade de


mecanização necessária e orientam a escolha do tipo do terraço. Terraços de base
estreita e média adaptam-se melhor à culturas permanentes, enquanto que os de base
larga se adaptam melhor para culturas anuais por facilitar a mecanização.

Marcação das Curva de Nível

Para a construção do terraço é necessário que todos os pontos do mesmo estejam


no mesmo nível, denominando-se curvas de nível. Além de fazer os terraços, outra
prática adotada pelos produtores é o plantio em nível, onde a linha de plantio da cultura
segue a linha da curva de nível, isso aumenta ainda mais a eficiência da prática.
Existem diversos instrumentos utilizados para a marcação da curva de nível,
alguns mais sofisticados e outros mais rústicos, sendo que ambos apresentam bons
resultados. Dentre os instrumentos mais tecnificados destacam-se: GPS, estação total,
nível de precisão, teodolito, clinômetro, e são indicados e necessários para áreas
maiores. Já os instrumentos mais rústicos são o nível de mangueira, o cavalete e o pé-
de-galinha, sendo práticos e simples, contudo, são recomendados apenas para pequenas
áreas.
Existem alguns fatores que determinam a distância entre as curvas de nível:
 Declividade: a declividade do terreno é inversamente proporcional a distância
entre os terraços, ou seja, quanto maior a declividade menor será a distância
entre os terraços;
 Solo: o tipo de solo também influencia na distância entre os terraços. Solos
arenosos são mais soltos e oferecem menor resistência ao desprendimento das
partículas, e dessa forma menor deverá ser a distância entre os terraços. Já para
solos argilosos, por esses serem mais coesos, permitem a construção de terraços
em distâncias maiores entre si;
 Cultura: culturas anuais exercem uma menor proteção (cobertura) do solo e,
dessa forma, terraços devem ser construídos em distâncias menores; ao contrário
de culturas perenes e pastagens, que protegem mais o solo e dessa forma os
terraços podem ser construídos em distâncias maiores entre si.

O primeiro passo para a marcação da curva de nível é determinar a declividade do


terreno. Considerando uma área em que serão utilizados os instrumentos mais rústicos,
a determinação da declividade inicia-se pelo local de maior declive, pois permite saber a
distância mínima entre uma curva e outra. Realiza-se pelo menos 4 medidas; como por
exemplo utilizando o cavalete.
Exemplo de cálculo da declividade:
Cavalete: 4,0 metros x 4 medições = 16 metros
Considerando que a soma das 4 leituras do desnível tenha sido de 1,44 m
16 m ----------- 1,44m
100m ---------- x Desnível = 9,0%

Após o cálculo da declividade consulta-se a Tabela 2. Considerando o exemplo


acima e que a cultura a ser implantada é uma cultura perene, solo arenoso e com o
terraço do tipo nivelado, obtém-se a informação de que a distância entre as curvas de
nível e posteriormente os terraços deverá ser de 14 metros.
Tabela 2 – Espaçamento horizontal em metros para terraços nivelados

Cultura Anual Cultura Perene Pastagem


Declive
Tipo de Solo Tipo de solo Tipo de Solo
(%)
Argiloso Arenoso Argiloso Arenoso Argiloso Arenoso

1 66,00 64,00 70,00 67,00 75,00 70,00

3 26,00 25,00 30,00 27,00 35,00 30,00

5 18,00 16,80 21,80 20,00 27,00 21,80

7 15,00 13,60 18,40 16,00 23,60 18,40

9 12,70 11,70 16,70 14,00 21,70 16,70

11 11,50 10,40 15,40 13,00 20,40 15,40

13 10,60 9,60 14,70 12,00 19,60 14,70

15 10,00 9,00 14,00 11,50 19,00 14,00

17 9,60 8,50 13,60 11,00 18,50 13,60

Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1990)

A marcação das curvas de nível deve começar da parte superior do terreno para a
parte inferior, pois a rampa não é múltipla de 14 m. Se sobrar um pedaço com 18 m, por
exemplo, não há necessidade de fazer uma curva de 14 m e outra de 4m, e sim deixar
com 18 m. Isto só poderá ser feito se a curva for a última em baixo. Caso isso seja feito
na parte de cima, poderia “estourar” os terraços dando um "efeito dominó".

b) Barragem
A barragem é destinada à contenção do escoamento superficial em uma encosta
cuja localização é definida pela constatação de pequenos sulcos de erosão hídrica. Esses
sulcos são características de que já se tem energia suficiente para promover o
desprendimento de partículas do solo e, para conseguir dissipar essa energia são
construídas barraginhas que intervém em uma fase mais avançada que o próprio
terraceamento, que é quando já se tem a localização dos sulcos de erosão.
A principal diferença entre a barraginha e as bacias de captação é que a primeira
é implantada em área de exploração agropecuária e deve-se localizar sulcos de erosão e
a segunda são para captação do escoamento de águas em estradas não pavimentadas.

c) Bacias de captação
As bacias de captação de água têm a função de interceptar e reter água que escoa
pelos canais laterais das estradas não pavimentadas, evitando que o volume e a
velocidade a ela associada sejam capazes de provocar erosão excessiva do canal. Assim,
atuam como controle de erosão de estradas não pavimentadas e favorecem a recarga do
lençol freático.

Você também pode gostar