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I Encontro Sul-Mineiro de Geografia & 7ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG

Alfenas – Minas Gerais – Brasil


24, 25 e 26 de outubro de 2023
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A DIVISÃO INTRARREGIONAL DO TRABALHO: AS CIDADES
DO AGRONEGÓCIO CAFEEIRO NA MESORREGIÃO
SUL/SUDOESTE DE MINAS GERAIS.

Renata Vieira de Melo (1), Fabiane Ripplinger (2).

INTRODUÇÃO

No transcorrer do século XXI, o Brasil consolidou sua posição como um


significativo fornecedor global de commodities agrícolas. Dentre os cultivos
comercializados, o café, produzido há 200 anos no país e exportado para diversos
países, desempenha um papel importante na geração de receitas para a economia nacional.
De acordo com dados do IBGE (2021), a produção total de café em todas as regiões
brasileiras atingiu a marca 2.993.780 toneladas, consagrando o país como o maior produtor
mundial dessa commodity. O estado de Minas Gerais representa maior parte da produção
nacional, com 1.359.828 toneladas, das quais 566.911 toneladas são provenientes da
mesorregião Sul/Sudoeste do estado.
O estágio atual da economia cafeeira é produto de transformações significativas nas
bases técnicas, políticas e econômicas ao longo do tempo. A reestruturação produtiva da
agropecuária originou novos arranjos territoriais produtivos, como também, novas dinâmicas
socioespaciais e diferentes usos do território.
Nesse contexto, à medida que o campo se moderniza foram estabelecidos ambientes
altamente favoráveis à operação dos capitais hegemônicos à agricultura moderna, ou seja,
relacionados ao consumo produtivo e as demandas da produção (SANTOS, 1993). Nesse
sentido, Elias (2007) denominou de “cidades do agronegócio” aquelas próximas as áreas de
agricultura moderna que se tornaram funcionais à produção.
Portanto, este artigo analisa a divisão intrarregional do trabalho com o propósito de
identificar os principais municípios especializados na produção cafeeira da mesorregião,
bem como, as suas funções quanto à oferta de serviços de um terciário voltado ao consumo
produtivo do segmento.

(1)
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, renata.vieirademelo78@gmail.com Bolsista CAPES
(2)
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, fabianeripplinger2@gmail.com Bolsista CAPES
METODOLOGIA
A metodologia empregada nesta pesquisa envolveu uma revisão bibliográfica para
análise dos pressupostos teórico-conceituais que abrangem a temática central, para isso
utilizamos autores, tais como: Elias (2007, 2022); Frederico (2014); Harvey (2016); Santos e
Silveira (2001); e Santos (1993).
Foram consultados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
incluindo o Censo Agropecuário de 2017 e a Produção Agrícola Municipal (1990-2021)
disponíveis na plataforma Sidra-IBGE.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O agronegócio cafeeiro desempenha um importante papel para a economia brasileira


e, em especial, para a mesorregião Sul/Sudoeste do estado de Minas Gerais, a maior
produtora nacional. O produto segue como uma das principais commodities exportadas pelo
país gerando riquezas que compõem o Produto Inteiro Brasileiro e agregam valor as regiões
que participam da sua produção.
O café esteve intimamente ligado às contínuas divisões territoriais do trabalho
(FREDERICO, 2014) que ao longo do tempo favoreceram o surgimento de regiões
especializadas no cultivo, o caso da mesorregião Sul/Sudoeste do estado de Minas Gerais.
A divisão territorial do trabalho é o processo responsável por atribuir novas funções
aos lugares (CASTILLO; TOLEDO JR; ANDRADE, 1997). Dessa maneira, Santos (1993,
p. 73) afirma que “os lugares têm a tendência a se especializar tanto no campo como na
cidade, estando esta especialização mais ligada às condições técnicas e sociais que aos
recursos naturais”. Com a globalização isso se expressa geograficamente pelo
aprofundamento da especialização produtiva regional.
Conforme observado por Elias (2022, p. 1009), as cidades do agronegócio se
configuram como “pontos e nós fundamentais na rede de relações econômicas, sociais,
políticas, territoriais e de logística do agronegócio” são, portanto, a conexão entre os
circuitos espaciais produtivos que garantem a consolidação do agronegócio, e assim, a
acumulação de capital pelos agentes hegemônicos que dominam o setor.
Face ao exposto, surgiram no interior desses espaços circunscritos, cidades
especializadas no atendimento das demandas do setor cafeeiro, municípios que estão sob o
domínio do agronegócio globalizado (CASTILLO, 2011; FREDERICO, 2013; ELIAS,
2007). Tais cidades desempenham funções específicas dentro do circuito espacial
produtivo, sendo conhecidas como "cidades do agronegócio" (ELIAS, 2007)
imprescindíveis para a reprodução do capital do segmento.
Nessas localidades é possível notar o crescimento do consumo produtivo (SANTOS,
1993) voltado à cafeicultura, ou seja, uma ampla gama de serviços que atendem às
necessidades do agronegócio e incrementam a economica urbana do terciário, abrangendo
desde assistência técnica, estabelecimentos comerciais especializados em insumos
agrícolas, instituições de pesquisa e instituições bancárias que provem os nexos financeiros
por meio do crédito rural (ELIAS, 2022).
Além do expressivo volume de produção muitos municípios apresentam em comum
a presença de sedes ou filias grandes cooperativas de café como a Cooperativa Regional de
Cafeicultores em Guaxupé (COOXUPÉ), primeira cooperativa da região e atualmente a
maior do mundo. As cooperativas são responsáveis por grande parte da produção e
exportação de café da região, reunindo milhares de cooperados e atuando em diversas
etapas do circuito espacial produtivo.
No contexto da produção cafeeira, um município que desempenha um papel
fundamental é Varginha (MG). Isso se deve, em parte, à presença do Porto Seco Sul de
Minas e da estação aduaneira, que desempenham um papel crucial na facilitação do
comércio e no transporte do café. Além disso, Varginha também abriga uma variedade de
agentes internacionais do setor, tornando-se parte da ampla rede global do agronegócio
cafeicultor globalizado.
Outro município que merece destaque é Alfenas (MG), devido à sua ampla gama
de serviços relacionados ao café, como empresas de cultivo, torrefação e moagem. Esse
município se configura como um centro essencial para a transformação dessa commodity. O
presente município também abriga a “Ipanema Coffees”, uma fazenda cafeeira reconhecida
como a maior produtora de cafés especiais em todo o mundo (REVISTA
CAFEICULTURA, 2022).
É válido pontuar a importância de outras localidades, como Poços de Caldas, que se
destaca por abrigar duas empresas pioneiras na exportação de cafés especiais, sendo a
renomada Bourbon Speciality Coffee uma delas. Além disso, temos Carmo de Minas (MG),
onde está situada a Carmo Coffee. Essa notável presença evidencia outra característica de
grande relevância da região, que é a produção de cafés de qualidade superior e certificados,
tais como Gourmet, Fairtrade e orgânico (FREDERICO, 2014). Essa intencional
diferenciação do produto busca assegurar um preço monopolista (HARVEY, 2016),
constituindo-se como uma estratégia capitalista voltada para a ampliação da acumulação e
reprodução do capital.
Por fim, destacamos o município de Guaxupé (MG) por ser sede de uma das maiores
cooperativas de cafeicultores do Brasil. A cidade abriga a Cooperativa Regional de
Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé).
Essas são apenas algumas das principais cidades especializadas no cultivo de café na
mesorregião. Vale ressaltar que outras localidades também têm uma forte presença no setor,
como Três Pontas, Três Corações, Boa Esperança, Campos Gerais, entre outras.
Considerando esses aspectos, a divisão territorial do trabalho desempenha um
papel significativo na especialização produtiva dos municípios. Nesse contexto, é possível
observar a existência de municípios que se destacam por sua especialização na produção
agrícola, que por sua vez está inserida em um contexto de cafeicultura científica globalizada
(FREDERICO, 2014), no entanto a interconexão das escalas local-global implica em
dependência econômica e financeira aos centros mundiais condicionando maior
vulnerabilidade sociais e econômica à mesorregião.
Diante do exposto, percebe-se uma adaptação dos centros urbanos para oferecer
serviços que supram as necessidades da produção cafeeira, ou seja, locais que processam
uma economia urbana voltado ao aumento de uma extensa gama de comércios e de serviços
especializados capazes de oferecer respostas imediatas às necessidades técnicas, científicas,
financeiras, de logísticas e de mão de obra (ELIAS, 2022) garantindo a reprodução do
agronegócio cafeeiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que a subordinação a um único produto prevê a criação de serviços


especializados na região, podemos inferir que o café, como principal produto do agronegócio
em Minas Gerais, desempenha um papel crucial na determinação da especialização produtiva.
Ao mesmo tempo, contribui para dinamizar a economia urbana para o atendimento às suas
demandas crescentes.
Nesse sentido, dentre as cidades especializadas, algumas se destacam como "cidades
do agronegócio" e assumem o papel de pontos nodais na intrincada rede de relações que
sustentam o setor cafeeiro. Portanto, se revelam como componentes essenciais para a
reprodução do capital nesse segmento.
AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior - Brasil (CAPES). As autoras agradecem o incentivo concedido por meio de
bolsas de doutorado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTILLO, R. A. Agricultura globalizada e logística nos cerrados brasileiros. In:


SILVEIRA, M. R. (Org.). Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São
Paulo: Outras Expressões, 2011. p. 331-354.

CASTILLO, R. A.; TOLEDO JUNIOR, R.; ANDRADE, J. Três dimensões da


solidariedade em Geografia. Revista Experimental, São Paulo, v. ano III, n.3, p. 69-99,
1997.

ELIAS, D. Agricultura e produção de espaços urbanos não metropolitanos: notas teóricas-


metodológicas. In: SPOSITO, Maria Encarnação B. (Org.) Cidades médias: espaços em
transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

ELIAS, D. Consumo produtivo e urbanização no Brasil: as cidades do agronegócio.


Ciência Geográfica, Bauru, Vol. XXVI - (2): Janeiro/Dezembro, 2022.

FREDERICO, S. Cafeicultura científica globalizada e as montanhas Capixabas: a


produção de café arábica nas regiões do Caparaó e Serrana no Espírito Santo. Sociedade &
Natureza, v. 25, n. 1, p. 7-20, 2013.

FREDERICO, S. Circuito espacial produtivo do café e o jogo de escalas. Mercator,


Fortaleza, v. 13, n. 1, p. 37-48, jan./abr. 2014.

HARVEY, D. 17 contradições e o fim do capitalismo. São Paulo, SP: Boitempo, 2016.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA e ESTATÍSTICA- IBGE. Censo


Agropecuário 2017: Resultados Definitivos. 2019. Disponível em:
https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017/resultados-
definitivos. Acesso em: dez/2022.

REVISTA CAFEICULTURA. Ipanema Coffes. Disponível em:


http://revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=6688. Acesso em: 23 jun. 2022.

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

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