Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÃNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Fundamentos de Metodologia Científica
Prof. Dr. Júlio Cesar de Lima Ramires
Profa. Dra. Vera Lúcia Salazar Pessôa
Doutoranda: Andréa dos Santos Vieira

TÍTULO

Análise socioeconômica e ambiental do agronegócio em Rio Verde

OBJETIVO GERAL

Investigar os impactos ambientais provocados pela atividade do agronegócio


relacionado às granjas de aves e suínos no município de Rio Verde-GO, no contexto da
expansão da produção de alimentos incentivada por políticas públicas frente à legislação
ambiental vigente.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Contextualizar histórica e geograficamente o desenvolvimento do agronegócio
no Brasil e suas influências na região Centro Oeste e em Rio Verde.
 Analisar à luz da legislação ambiental municipal, estadual e federal, os impactos
ambientais (resíduos, efluentes, solo, água e ar) produzidas pela atividade granjeira.
 Identificar e avaliar os impactos ambientais do agronegócio em Rio Verde e suas
possíveis consequências para população do município.

REFERENCIAL TEÓRICO

Ao constituir-se como atividade econômica, a agropecuária mudou


acentuadamente seu propósito e ampliou sua dependência de energias fósseis para
incrementar a produtividade, acarretando consequências como a poluição ambiental e a
problemática dos excedentes. Ela deve ser encarada como um fenômeno social que tem
de se adaptar às condições ecológicas e sociais, tem como embasamento principal o
domínio da diversidade, seja no ajuste paisagístico, nos solos, no clima, no
comportamento dos homens, no papel da agropecuária na economia global, na
tecnologia disponível, no equipamento utilizado e no grau de utilização do potencial
produtivo dos terrenos.
A agricultura não pode ser abordada de maneira independente, deve se
considerar a atividade agrícola como parte de uma extensa rede de agentes econômicos
que vai desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e
distribuição de produtos agrícolas e derivados (BATALHA, 2001). Dentro dessa forte
relação surgem agrupamentos de novas atividades e subsetores que se confundem entre
eles. Através dessa inter-relação, encontra-se o conceito de agronegócio.
O setor agropecuário, como o restante das economias capitalistas, não tem
função apenas de produzir. É preciso interagir com outros setores, com outros
estabelecimentos agropecuários, intermediários comerciais ou industriais e o
consumidor final. As indústrias que compram ou recebem produtos agropecuários para
transformá-los em produtos industrializados são denominadas agroindústrias. Elas
fazem parte de vários ramos ou subsetores do setor industrial, juntamente com o setor
agropecuário, com as indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos. Enquanto os
ramos dos produtores de insumos e equipamentos são definidos como indústria para a
agricultura, os ramos propriamente agroindustriais constituem a chamada indústria da
agricultura (SZMRECSÁNYI, 1936; BACHA, 2007).
O que é moderno na agroindústria é também na produção industrial de insumos e
equipamentos para a agricultura. Por industrialização da agricultura entende-se a
adaptação dos processos produtivos da indústria de transformação aos processos
produtivos do setor agropecuário. Foi no período de 1930 a 1970 que se completou a
integração funcional dos setores agropecuário e industrial na economia brasileira. Como
resultados dessa integração, ambos tiveram desenvolvimento não apenas regional, mas
nacional, diversificação da produção, crescimento agropecuário, maior migração rural-
urbana, expansão da fronteira agrícola e aumento da produtividade.
O agronegócio brasileiro desempenha, historicamente, importante papel
desenvolvimentista em todas as regiões do país, cada qual com suas particularidades e
características próprias. As áreas de fronteiras agrícolas estabelecidas ao longo do
último século se destacam no cenário nacional, como a região Sul, na produção de
grãos, suínos, aves e pecuária de corte; a região Centro-Oeste, na produção de grãos e
pecuária, e, recentemente suínos e aves; a região Nordeste, com a tecnificada produção
de frutas no semiárido, além da cana-de-açúcar no litoral; e a região Sudeste, com
diversas culturas, entre elas a cana-de-açúcar, pecuária em geral, café, citricultura e
grãos.
Denomina-se complexo agroindustrial (CAI) ou agronegócio o conjunto de
atividades realizadas pela agropecuária e pelos setores diretamente a ela vinculados.
Apresenta uma visão sistêmica da economia, como segmentos que fornecem insumos à
agropecuária e segmentos que trabalham com a transformação industrial e distribuição
dos produtos in natura ou transformados (BACHA, 2007).
Dessa forma, tem como ponto de partida determinada matéria-prima de base
(complexo de soja, complexo cana-de-açúcar, complexo café etc.), origina-se diferentes
processos industriais e comerciais transformando a matéria-prima em diferentes
produtos finais. Portanto, a formação de um complexo agroindustrial exige a
participação de um conjunto de cadeias de produção, cada uma delas associadas a um
produto ou família de produtos.
O território de Rio Verde passou a ser estruturado e organizado para atender aos
requisitos necessários à continuidade da plena racionalização e do funcionamento eficaz
na produção de grãos para o mercado internacional. O arranjo na produção da soja e do
milho e os insumos que visam a produção no complexo agroindustrial de carne suína e
de aves requer um fluxo contínuo e atualizado de ordens e informações, que permeia a
totalidade desse complexo, articulando os diferentes lugares participantes, a fim de
viabilizar a própria racionalização e o pleno desenvolvimento desse ramo produtivo.
No cenário atual, a carne suína e de aves no Brasil é produzida com alta
tecnologia, manejo e também possui certificação sanitária. A produção, hoje, ocorre em
propriedades pequenas, médias e integradas a grandes processadores como as empresas
BR Foods, Grupo Marfrig, Cooperativa Copérdia, entre outras. A produção integrada
compreende o fornecimento por parte da indústria processadora de insumos e
tecnologia, bem como métodos e procedimentos de trabalho. O sistema integrado tem o
objetivo produzir de acordo com as normas e fornecer o produto com qualidade e
características solicitadas pela indústria, que por sua vez, é responsável por processar e
distribuir aos pontos de venda e finalmente promover o produto para o mercado
consumidor com ações de marketing.
A Brasil Foods é uma empresa com um portfólio que inclui marcas consagradas
no Brasil e no exterior, como Sadia, Perdigão, Qualy, Chester, Perdix e Paty. A BRF é,
hoje, a sétima maior companhia de alimentos do mundo em valor de mercado e segunda
maior abatedora de aves do mundo. Por meio de negócios nos segmentos de carnes
(aves e suínos), alimentos processados de carnes, pizzas, massas e vegetais congelados,
atende a mais de 120 países, na Europa, na América Latina, no Oriente Médio, na
África, na Eurásia e na Ásia. A estrutura operacional é hoje composta de 47 fábricas –
sendo 34 de processamento de carnes e 13 da operação descontinuada de lácteos – e 27
centros logísticos no Brasil, além de 10 unidades industriais no exterior.
Ao fim de 2014, a BRF acumulou R$29 bilhões de receita líquida e R$2,1
bilhões de lucro líquido nas operações continuadas, que não levam em consideração os
resultados obtidos com o negócio de lácteos. Tais resultados foram atingidos graças a
mudanças estruturais realizadas ao longo do ano de 2014, sendo que uma destas
unidades de processamento de carnes encontra-se na cidade de Rio Verde-GO.
Para compreender a composição dos elos e os mecanismos de coordenação da
cadeia produtiva da carne, é necessário conhecer a estratégia das agroindústrias líderes
de mercado. São empresas e cooperativas de grande porte, com mais de uma unidade
industrial (multiplantas) e diversificadas (outras carnes, laticínios e alimentos
processados). Entre os produtos destas organizações predominam os processados de
carne suína e de aves para o mercado interno e a carne congelada em cortes ou meia
carcaça para o mercado externo. A produção de carne envolve uma grande diversidade
de produtores (familiares, patronais e empresariais) e é exercida sobretudo em sistemas
de produção segregados, onde a produção ocorre em partes em uma unidade e são
complementadas em outra unidade.
Em Rio Verde, a grande produção de soja (que representa uma vantagem do
território) e a possibilidade do aumento da produção de milho, através de incentivos e
pagamento de preços melhores, devem ser consideradas como um atrativo no conjunto
dos fatores locacionais [...], pois, com o aumento da produção de milho no sudoeste de
Goiás, a microrregião se torna muito mais competitiva para a criação e industrialização
de aves e suínos, elevando ainda mais a economia de escala na atividade de cria e
engorda de animais. E estrutura fundiária propícia para o desenvolvimento da integração
de grande escala, salienta Borges (2006).
Os principais fatores foram além da disponibilidade de grãos, oferta de mão de
obra; proximidade com o mercado consumidor; incentivos fiscais; condições climáticas
e infraestrutura. Estas variáveis concordam com a denominação de vários autores no
sentido do complexo agroindustrial (CAI) de Rio Verde. Conforme revela Muller
(1989):

“[...] a articulação da agricultura com a indústria [...] produziu a expansão de


um complexo agroindustrial (CAI) que gerou formas específicas de produção
na agricultura que embora tenham assumido expressão concreta em áreas
espacialmente restritas, acabaram contingenciando as condições gerais de
produção no país. Desse modo, as diferentes porções do território inserem-se,
hoje num esquema global, em escala nacional e os aspectos que assumiu a
evolução da agricultura nos diferentes contextos regionais só podem ser
apreendidos a partir da ideia de que a dinâmica da agricultura passou a ser
comandada pelas forças controladoras do complexo agroindustrial.”

No município de Rio Verde já estavam arraigados os circuitos espaciais de


produção de grãos, formando o CAI de grãos, que facilitou a circulação de mercadoria e
capitais, permitindo a implantação com maior facilidade do CAI de carnes (BRF
Foods), viabilizando condições ou bases técnicas e econômicas para uma organização
de atividades agrícolas integradas à indústria. Ou seja, a BRF Foods já teria fortes
indícios para a sua territorialização e desterritorialização, principalmente no campo.
Esse CAI foi implementado por um projeto denominado Buriti.
O Projeto Buriti consistiu na implantação de um sistema completo de integração
avícola e suinícola, contando com um frigorífico de aves com capacidade para abater
281 mil cabeças/dia; um frigorífico de suínos para 3.500 cabeças/dia; uma fábrica de
rações para 60 mil t/mês; duas granjas de matrizes de aves (1.738.000 ovos/semana);
um incubatório de aves (1.460.000 pintos/semana); e 810 módulos de integração (aves e
suínos). Do ponto de vista tecnológico, o sistema utilizado consiste em galpões
modulares com capacidade de alojamento para 22 mil a 25 mil aves. O projeto técnico
padrão é fornecido pela empresa, os sistemas de alimentação e água são automatizados e
os galpões climatizados.
Na seleção dos integrados, o projeto Buriti diferiu da experiência no que se
refere ao perfil destes, bem como da área da propriedade em relação às características
da região sul do Brasil, onde a pequena propriedade e mão de obra familiar eram
requisitos básicos. Porém, estas condições elevaram custos logísticos e dificultaram o
gerenciamento devido a um grande número de integrados que participam do processo de
integração, aumentando expressivamente os custos com o transporte de ração, coleta de
animais, assistência técnica e supervisão dos contratos dos milhares de pequenos
integrados, reduzindo a margem de lucro.
Deste modo, em Rio Verde, o projeto Buriti optou por unidades com escalas
significativamente maiores que possibilitaram a adoção de tecnologias de fronteira,
como alimentação automatizada e climatização, com relativo ganho na redução do
número de unidades integradas e melhor logística pela abundância de matéria prima
para rações apresentada no município. Ainda, a implantação simultânea das granjas
promoveu uma homogeneidade, com contratos padronizados reduzindo os custos
administrativos, com relação à redução nos custos no processo de integração.
O cenário de produção de suínos em Rio Verde está condicionado
principalmente a integração BRF, sendo que 96% dos produtores encontram-se
integrados ao sistema BRF. Destes temos um panorama no Tabela 1.

Tabela 1 –Sistema de Produção em granjas, Rio Verde-GO.


Sistema de Produção Integrados Não-integrados

SPL 35 2

SVT 85 3

SVTR 2 1

FGO 109 0

SPO 16 0

Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Rio Verde, 2015.


Organização: Vieira,2016.

Dentro deste sistema de produção a quantidade de núcleos em cada unidade


determina o número de animais alojados. Sendo que, dentro das granjas de suínos, o
SPL é o Sistema Produtor de Leitões, o SVT é o Sistema Vertical Terminador, o SVTR
é o Sistema Vertical Terminador de Recria, o FGO é o Sistema Terminador de Frango e
o SPO é o Sistema Produtor de Ovos.

METODOLOGIA
Revisão da legislação ambiental por meio de consultas ao acervo público e sitio
governamental, resgatando leis e normativas no âmbito federal, estadual e municipal,
pertinentes ao agronegócio, com intuito de demonstrar a consciência ambiental
instituída no país em relação ao tema apresentado. A legislação ambiental brasileira é
rica e possui um amplo amparo legal, apesar de carecer de aplicabilidade, em especial
porque o tema é novo entre nós, fazendo com que grande parte da população
desconheça que tem direito a um meio ambiente equilibrado.
O apanhado histórico geográfico da expansão do agronegócio na região Centro
Oeste, sobretudo no município de Rio Verde será realizado levando em consideração os
instrumentos governamentais que modificaram o caráter econômico e social desta
região, possibilitado pela análise de leis e programas de incentivos que tiveram o intuito
de expandir a fronteira agrícola, prevendo contextualizar este trabalho geográfica e
temporalmente. Ao trabalhar o contexto histórico e geográfico dos fatos, é possível
trazer à tona o sentido mais puro e genuíno destes, possibilitando inserir o leitor dentro
do período e local de ocorrência dos eventos, facilitando a interpretação e compreensão
dos mesmos.
Investigações no campo com intuito de localizar as granjas e verificar em loco os
possíveis impactos ambientais através de geotecnologias, tais como, imagens de satélite,
Sistema de Posicionamento Global - GPS e Sistemas de Informações Geográficas - SIG
e visitas pessoais, possibilitando a localização destes empreendimentos e tornando
possível uma análise espacial destes e ainda, a partir de sua localização, a sua interação
com o meio natural. Segundo Haesbaert (2006), território é visto antes de tudo como o
espaço concreto em que se produzem ou se fixam os processos sociais, abordando
aspectos humanos, culturais e os meios de produção, analisando o território por meio de
diferentes combinações que podem ser funcionais e simbólicas (jurídico-política,
cultural e econômica). A espacialização de um processo ou de um evento pode trazer
clareza à administração dos recursos de um território.
Espacializar por meio de geotecnologias as granjas de aves e suínos no
município, correlacionando sua localização com susceptibilidade com os aspectos
ambientais e possíveis impactos a população do entorno. Ao espacializar a ocorrência
das granjas de suínos no município de Rio Verde, por meio de um sistema de
informação geográfica, pretende-se fazer um diagnóstico dos locais onde estas unidades
se instalaram e ligar estes territórios com suas características ambientais e
socioeconômicas.
REFERÊNCIAS

BACHA, C.J.C. Entendendo a Economia Brasileira. Campinas: Atomo, 2007. 109 p.

BATALHA, M. O.; Gestão Agroindustrial - GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas


Agroindustriais. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2001.692 p.

BORGES, R.E. No meio da soja, o brilho dos telhados: a implantação da Perdigão em


Rio Verde (GO), transformações e impactos socioeconômicos e espaciais. 2006. 210 f.
Tese de doutorado da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho –UNESP-
Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro – SP, 2006.

HAESBAERT, R. Mitos da desterritorialização: Do fim dos territórios à


multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 400p

MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas do Mundo. Ed. Instituto Piaget.
2001. Lisboa. 520 p.

SZMRECSÁNYI, Tamás, 1936. Pequena história da agricultura no Brasil. São


Paulo: Ed. Contexto, 1900.104 p.

Você também pode gostar