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ALVES, L. R.; FERRERA DE LIMA, J.; RIPPEL, R.; PIACENTI, C. A.

O continuum, a
localização do emprego e a configuração espacial do Oeste do Paraná. Heera – Revista de
História Econômica & Economia Regional Aplicada, v.1, n.2, ago/dez. 2006.

O objetivo do trabalho foi analisar a localização do emprego e a organização


espacial da região Oeste do Paraná. A partir deste, observou-se que há vários tipos de
regiões no espaço do Oeste Paranaense e que a coexistência desses vários tipos de regiões é
o principal reflexo espacial do paradigma tecnológico/industrial no processo da introdução
do sistema capitalista de produção. Nesse contexto, Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo
foram os principais beneficiados, atraindo população e diversificando sua base produtiva a
partir de 1970. Ainda há os municípios lindeiros à Hidrelétrica de Itaipu que estão em
transição no desenvolvimento do setor do turismo, e os municípios que integram o corredor
viário das BRs 277 e 467 que estão emergindo no contexto regional. Os demais municípios
tornaram-se periferia nesse processo, sentindo o impacto com a imposição do novo
processo de produção deixando o local totalmente subordinado ao global, que se
concentram nos municípios pólos.
O século XX passou por muitas transformações na divisão social do trabalho. Essas
mudanças, desde o modelo fordista ao de acumulação flexível, devem-se, grosso modo, à
interação das mudanças no processo de acumulação capitalista, da reprodução da força de
trabalho e dos processos políticos e ideológicos. A imposição de sistemas técnicos de
ordem hegemônica reconfiguraram os espaços e tornaram uns mais dinâmicos que outros
nesse processo de transformação a partir da concentração e centralização dos capitais.
Neste contexto, no que tange à área rural, há o impacto relativo à modernização,
tecnificação e industrialização da agricultura que afetaram a estrutura fundiária, as relações
de produção, a pauta dos produtos, os sistemas agrícolas, o habitat e a paisagem, além das
densidades demográficas rurais.
Observa-se na Oeste do Paraná, uma colonização no início do século XX marcada
pela exploração extrativista no binômio mate/madeira fornecendo as condições necessárias
para ocupação, exploração e unificação da região. Num segundo momento, após 1940, a
agricultura familiar ocupa esta função, com base em dois fluxos: o primeiro oriundo dos
demais estados do Sul do Brasil e o segundo, de colonizadores do norte paranaense,
impulsionados pelo café, e originários de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e do
Nordeste Brasileiro. Colonização que apenas se firmou a partir de 1946 com a chegada de
uma empresa gaúcha: Maripá, com base na exploração de madeira e um projeto de
colonização baseado em pequenas propriedades que serviram de subsistência para
imigrantes italianos e alemães. Esta imigração e a modernização da agricultura ocorrida a
partir de 1960 encerram o ciclo de ocupação e entra-se numa nova fase econômica.
Em 1970, quando a região caracterizava-se como essencialmente agrícola, ocorre a
reorganização da base produtiva, ocasionada pela modernização da base técnica vigente, da
expansão agropecuária regional e do esgotamento da fronteira agrícola ocasionando o uso
intensivo das novas áreas e a reestruturação das demais. Isso levou a um forte êxodo para
os centros urbanos e, principalmente, para outros estados brasileiros. Outros fatores
relacionados ao êxodo foram a “geada negra de 1975” que extinguiu praticamente o café
como principal cultura agrícola do Paraná; a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu
Binacional, que obrigou pelo menos oito mil agricultores a deixar suas propriedades e,
algumas culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, que sofriam com o clima
e a conjuntura econômica desfavorável.
A partir de 1980, há o surgimento e crescimento de agroindústrias cooperativas e a
indústria local passa a se consolidar e ter sua dinâmica orientada pelo comportamento do
agronegócio cooperativo. A população urbana ultrapassa a população rural no estado do
Paraná devido, da mesma forma, à industrialização e a mecanização agrícola. Esta
reestruturação da população na região Oeste do Paraná refletiu-se na reestruturação da mão-
de-obra: enquanto o setor primário declina entre 1970-2000 os setores industrial e terciário
aumentam. Isto vai impulsionar o crescimento e o desenvolvimento das atividades urbanas
e a região Oeste integra-se ao “global”, consolidando as redes entre o local e o resto do
mundo, deixando o “local” estritamente submisso as condições globais. É claro que, ainda a
maioria dos municípios ainda possui uma economia com o setor primário significativo,
sinalizando dependência e concentração de mão-de-obra nesse setor e uma posição de
periferia regional.
Em 1970, Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu tinham a localização mais forte do
setor industrial, fato que continuou em 1980. No entanto, Guaíra e Medianeira aparecem
como municípios emergentes. A partir de 1991, o setor industrial começou a dispersar na

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região, como é o caso de Terra Roxa, que têm uma particularidade em especial na região,
pois sua base produtiva é voltada para setor têxtil, enquanto os outros se especializaram na
transformação agroalimentar. Isto sinaliza que o setor industrial não é tão homogêneo
regionalmente.
Com relação aos principais gêneros da região destaca-se o setor de abate de suínos
e bovinos com 21 frigoríficos. Sendo que a região Oeste é a maior produtora de soja no
Estado e sedia cinco esmagadoras da oleaginosa. Cabe observar também a presença das
unidades de recebimento, armazenamento e comercialização de grãos: a Bunge e a Cargil,
cujas instalações estão localizadas junto ao terminal das Ferrovias Paraná (Ferropar), em
Cascavel. Informações que confirmam os dados do QL e demonstram que a economia
regional evoluiu nos últimos anos para a concentração industrial no corredor viário das BRs
267 e 467.
No setor terciário, em 1970, verifica-se que somente os municípios de Foz do
Iguaçu e Cascavel possuem QL significativo. No entanto, em 1980 esta situação muda, e a
totalidade dos municípios apresentaram evolução do quociente, continuando entre 1991-
2000, quando Cascavel, Foz do Iguaçu, Guaíra, Medianeira e Santa Terezinha do Iguaçu
foram os únicos que apresentaram QL significativos. Foz do Iguaçu manteve esse
desenvolvimento devido ao turismo ecológico, comércio, produção de energia e fluxo de
transporte; e Santa Terezinha se beneficiou da proximidade em relação à Foz do Iguaçu. Já
em Medianeira o QL é influenciado pelo setor de transportes e sua localização ao longo do
corredor viário da BR-277, valendo salientar que os demais municípios que fazem parte da
BR-277 também estão evoluindo neste setor.
Cascavel, pólo regional, é privilegiado pela localização no entroncamento das
principais rodovias da região, além da rede ferroviária que passa pelo município, fazendo
que passe pelo município grande parte da produção agroindustrial dos municípios
circunvizinhos. Além de que possui a polarização mais forte da região e fica em primeiro
lugar no quesito hierarquia regional, fazendo com que Cascavel apresentasse um forte QL
do setor terciário em todo o período analisado.
Ainda em relação ao setor terciário, vale destacar que a região apresenta um enorme
potencial turístico pela riqueza ambiental e natural e apesar da especialização produtiva
regional assentar-se na agroindústria, o que toma centro de referência na atividade.

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Analisando o perfil do Continuum Setorial Regional no Oeste do Paraná, a partir da
afirmação de Ferrera de Lima (2004) que o continuum regional é um padrão locacional de
desenvolvimento ininterrupto no espaço, observamos que os municípios mais diversificados
da região (Toledo e Cascavel) mantiveram uma posição favorável na localização dos
setores secundário e terciário e reforçaram sua posição no continuum urbano/industrial. Foz
e Medianeira mantiveram, também, sua posição apesar das oscilações. No caso de
Medianeira é o setor primário que fornece insumos ao seu parque industrial. No caso de
Foz do Iguaçu, o setor terciário é altamente representativo para sua economia e, também é
válido destacar que a emancipação de Santa Terezinha de Itaipu açambarcou uma parcela
de seu distrito industrial.
Há em transição os municípios de Marechal Cândido Rondon, Terra Roxa, Guaíra,
Capitão Leônidas Marques e Matelândia. Que no final de 1990 marcou-se o fortalecimento
de uma estrutura agroindustrial até então inexistente.
No caso dos demais municípios existentes em 1970, a localização forte do setor
primário e a incapacidade de localizar de forma forte o setor secundário, aprofundou seu
continuum urbano/rural. Denotando-as como fornecedoras em potencial de insumos para o
parque industrial das cidades com um continuum urbano/industrial.
Estas informações demonstram o “poder” de transformação do capitalismo
industrial/tecnológico exercido nas regiões, modificando as bases econômicas de alguns
municípios e concentrando e/ou fortalecendo a base de outros.
Desse modo, para concluir, é fato que o processo de introdução da forma capitalista
de desenvolvimento não foi positivo em todo o conjunto da região Oeste do Paraná,
deixando alguns municípios na posição de periferia regional e intensificando outros na
posição central e polarizante. Da mesma forma, o processo de reestruturação econômica
regional reforçou a posição de destaque dos municípios pólos. A modificação nas últimas
três décadas não definem a região apenas como agrícola ou natural, dividindo a região em
outras regiões: pólos (Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Medianeira), turismo (municípios
lindeiros), e agrícolas (a periferia regional que fornece insumos para os municípios pólos),
necessitando de estudos específicos sobre a dinâmica no interior desses espaços.

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Leandro Moreira é aluno da disciplina Economia Brasileira no Programa de
Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá – período
2/2011.

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