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Mesmo após alguns anos e com casos de sucesso, este método de preparo de solo divide
opiniões. Segundo especialistas, ele pode ser benéfico, mas também pode se tornar um
grande problema para a lavoura de cana-de-açúcar
Natália Cherubin
Ao longo dos últimos anos, o aumento da compactação do solo nas áreas canavieiras,
causado principalmente pelo intenso tráfego de máquinas e implementos no campo –
decorrentes da mecanização da colheita – vem causando uma série de impactos no
crescimento e desenvolvimento radicular dos canaviais.
Uma das ações que vem sendo implementadas por algumas usinas e produtores de cana
ao longo dos últimos anos é o preparo profundo de solo, que tem como finalidade
romper as camadas mais compactadas em profundidade de 60 cm a 80 cm,
proporcionando uma maior penetração de água da chuva, com menor corrimento
superficial, e aprofundamento do sistema radicular da cana, resultando em maior
absorção de água, nutrientes e aumento da produtividade dos canaviais. Como a técnica
vem sendo aplicada mais intensamente há pouco mais de cinco anos – depois do
surgimento de implementos específicos para esta operação – o assunto continua
polêmico, pois apesar de comprovados os seus benefícios à lavoura, dependendo da
área, o preparo profundo pode virar um grande problema para a produção de cana.
Então como saber em quais áreas este tipo de preparo de solo pode ser realizado?
Primariamente é importante saber qual é o tipo de solo onde se encontra a cana, pois as
características físicas (textura, teor de argila, areia, umidade, impedimento físico etc)
ajudarão na determinação do preparo mais adequado. De acordo com o executivo e
engenheiro agrônomo Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, atualmente são empregados
diversos tipos de preparo e cada usina ou produtor aplica as sequências de operações
que acreditam serem as mais adequadas. “Escolhe-se o melhor método buscando
atender ao nível de compactação do solo e também de incorporar a matéria orgânica
(palha) remanescente da colheita, no caso de cana soca.”
BOM OU RUIM?
O equipamento que faz o preparo profundo – que teve como origem o Penta, fabricado
pela Mafes – é um subsolador com uma haste que trabalha a uma profundidade efetiva
de 80 cm, com uma caixa para aplicação de corretivos e adubos em profundidade, uma
enxada rotativa destorroadora que incorpora insumos a 30-40 cm de profundidade, e um
aleirador, que conduz a palha restante da colheita da cana-de-açúcar no sentido da haste
e da enxada rotativa, com o intuito de incorporá-la ao solo.
“Na minha opinião nunca se deve fazer o preparo profundo. Um estudo realizado por
mais de 30 anos pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), onde foi feita uma análise
da densidade de solo em trincheiras, concluiu que a camada de solo compactada pela
mecanização da cultura não ultrapassa 40 cm de profundidade, sendo assim, trabalhar o
solo a uma profundidade maior para descompactar não é necessário”, opina.
De acordo com Conde, quando se trabalha o solo a uma profundidade maior do que a
compactação há uma redução da sua densidade, o que é prejudicial para a cultura e para
a vida microbiana do solo, porque aumenta a aeração e a taxa de evaporação de água.
“As raízes precisam encontrar um pouco de resistência à penetração no solo para
melhorar o contato e assim efetuar absorção de água, exsudação e absorção de
nutrientes. A redução da densidade de solo a níveis muito baixos a uma profundidade
acima de 60 cm durante o plantio, aumenta a dificuldade operacional. Durante a colheita
quando o transbordo passa sobre esta faixa ocorre o afundamento da soqueira,
aumentando as perdas e danos para a colheita da próxima safra.”
“Quanto mais intenso o preparo e maior a superfície preparada, mais o solo estará
suscetível à erosão, principalmente se for realizado em desnível. Além disso, em alguns
solos a resposta ao preparo profundo não é favorável. A desvantagem do preparo
profundo associado à enxada rotativa é fragmentar a estrutura do solo, produzindo
agregados pequenos e partículas soltas que caminham em profundidade obstruindo
poros importantes para a respiração das raízes e movimentação da água no solo. Isso
pode resultar em compactação em profundidade, que é de mais difícil recuperação”,
destacam.
“Como pontos negativos destacamos que o preparo profundo exige tratores de alta
potência (maiores investimentos); pode causar aumento da lixiviação na região
trabalhada devido ao aumento da VIB; causa maior risco de erosão se for feito em
desnível devido à concentração da enxurrada na faixa preparada; e é limitado e indicado
apenas para alguns tipos de solo. Além disso, os canteiros com preparo profundo
apresentam uma baixa capacidade de suporte de carga e exigem o controle de tráfego
para que não ocorra compactação adicional”, salientam os pesquisadores.
Conde concorda. Ele diz que apesar do preparo profundo poder ser feito em solos com
perfil homogêneo, sem ocorrência de pedras, em solos abruptos com os Argissolos, a
técnica deve ser evitada. “Deve-se evitar também áreas com declividades acima de 6%
e solos com teores de argila menor que 15%”, aponta.
Uma usina paulista, que não quis ser identificada, vem realizando o preparo profundo
canteirizado em espaçamento alternado há aproximadamente três anos. De acordo com
Francisco Pedro dos Santos Filho, líder de colheita desta unidade, os principais benefícios
observados são com relação aos custos com o preparo de solo, que reduziram bastante
devido a quantidade de operações que podem ser realizadas de uma só vez com o
mesmo consumo de combustível. Além disso, afirma que é notável a melhora na
produtividade do canavial por conta da maior absorção de água e nutrientes, o que
também vem reduzindo os impactos causados nos longos períodos de estiagem. “Um dos
pontos que devem ser destacados é que não podemos utilizar este preparo em qualquer
área de cana. Além disso é preciso investir em tratores adequados e bem dimensionados
para obter máxima eficiência com o implemento, que por ser multifunções é muito mais
pesado.”
Para Ripoli, o preparo de solo mais adequado para cultura de cana-de-açúcar,
independentemente do tipo de solo, deve atingir no máximo a profundidade de
45 a 50 cm e deve ser localizado
ESTUDO
O trabalho concluiu que no sistema canteirizado com preparo profundo do solo há maior
concentração de raízes, tanto nos canteiros quanto nas ruas, quando comparado ao
sistema convencional de preparo do solo. O preparo profundo resultou em melhor
qualidade física do solo na área do canteiro, com consequente aumento da biomassa
radicular e do volume de solo explorado pelas raízes em relação ao preparo
convencional.
“Foi verificada melhor qualidade física no preparo profundo do solo (PPC), principalmente
onde o preparo com enxada rotativa e subsolador reduziu a densidade, aumentou a
porosidade total e macroporosidade do solo, reduziu a resistência do solo à penetração
das raízes e pressão de preconsolidação, o que refletiu em um baixo escore, permitindo
maior crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar. No sistema convencional a
redução da qualidade física do solo decorrente do tráfego de máquinas sobre o solo que
foi revolvido pelas operações de preparo, resultou em limitações ao crescimento das
raízes abaixo da camada 0,0-0,2 m reduzindo 23% a produtividade da cultura”, afirma
Camila em pesquisa.