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AULA 3

ANÁLISE DE IMPACTO
AMBIENTAL

Profª Ana Claudia Nuernberg Vaz


CONVERSA INICIAL

Como já sabemos, os empreendimentos e atividades potencialmente


poluidoras, que utilizam recursos naturais ou podem causar degradação
ambiental, estão sujeitos ao licenciamento ambiental.
Para a condução do licenciamento ambiental, foi concebido um processo
de avaliação preventiva que consiste em uma análise dos aspectos ambientais
dos projetos em suas diferentes fases: concepção/planejamento, instalação e
operação (Brasil, 2009, p. 12).
No Brasil, os primeiros estudos ambientais foram realizados como
condicionante de aprovação para empréstimos de órgão internacionais (Brasil,
2009; Sánchez, 2013).
Em cumprimento à Constituição Federal de 1988, incumbe ao poder público
“exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade”, instituindo a obrigatoriedade do
licenciamento ambiental para atividades modificadoras do meio ambiente (Brasil,
1988; Sánchez, 2013). Para isso, o órgão ambiental competente avalia o potencial
da atividade ou empreendimento de causar significativa degradação do meio
ambiente e define os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de
licenciamento, bem como a análise de risco (quando couber), os planos
ambientais e os relatórios pertinentes à atividade (Brasil, 2009). Vamos estuda-
los nesta aula.

TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

Como já vimos nas aulas anteriores, a Avaliação de Impacto Ambiental –


AIA é um conjunto de procedimentos documentados com a finalidade de analisar
a viabilidade ambiental de uma proposta, resultando na obtenção de uma licença
ambiental (Brasil, 2009; Brasil, 2002, Sánchez, 2013). Você deve estar se
perguntando: mas se todos os empreendimentos causam, direta ou indiretamente,
algum tipo de degradação ambiental, como saber quais deles precisam avaliar os
seus impactos ambientais? Vamos ver a seguir o passo a passo de como proceder
nessas situações.
Para atividades e empreendimentos que utilizarão recursos naturais, e/ou
causarão alterações da qualidade ambiental, o primeiro passo é dar entrada no

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processo administrativo no órgão ambiental competente (Brasil, 2016, Brasil,
2002; Sánchez, 2013). Nos casos de menor complexidade e não se enquadrar
como licença ambiental, existe o procedimento administrativo nomeado
Autorização Ambiental (AA) (Brasil, 2016). Para a supressão de vegetação, por
exemplo, seja para a extração de recursos naturais ou para construção de uma
obra, é necessário a solicitação de uma AA (Brasil, 2006; Sánchez, 2013; Brasil,
2016). A autorização de outorga do uso de recursos hídricos é outro exemplo
(Brasil, 2006, Brasil, 2016). Esses documentos ambientais podem ou não fazer
parte do processo de licenciamento ambiental, conforme as particularidades de
cada projeto (Brasil, 2006, Brasil, 2016).
Na Resolução Conama n. 237/77, está presente uma lista de atividades ou
empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, dentre elas: extração e
tratamento de minerais; atividades agropecuárias; indústrias; obras civis;
transporte e depósitos de produtos químicos; turismo, dentre outros (Brasil, 2012).
No caso de licenciamento, é necessário o preenchimento de uma ficha de
caracterização, a qual solicita informações como: dados da empresa, tipo e
descrição das atividades que serão desenvolvidas e finalidade da licença (Brasil,
2002; Brasil, 2009, Brasil, 2016).
Com o documento, o órgão ambiental realiza uma triagem do processo
administrativo para determinar se há necessidade de estudos ambientais e quais
dos documentos e projetos o empreendedor precisa providenciar para a
solicitação da licença a ser requerida (Sánchez, 2013; Brasil, 2016).
Segundo Sánchez (2013), existem três possibilidades de resultado da
etapa de triagem; a solicitação de um EIA/RIMA; realização de uma avaliação
ambiental ou são utilizados normativas e regras gerais para o processo de decisão
a respeito do licenciamento ambiental, conforme a Figura 1:

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Figura 1 – Possíveis resultados da etapa de triagem em um processo de
licenciamento ambiental

1. SIGNIFICATIVOS EIA/RIMA

PROPOSTA
Impactos AVALIAÇÃO
negativos 2. DÚVIDA AMBIENTAL
INICIAL

3. MITIGAÇÃO CONHECIDA
REGRAS
REGRAS
GERAIS
GERAIS

Fonte: Sánchez, 2013, p. 137.

Como vimos na aula passada, o estudo de EIA/RIMA é um documento


obrigatório para atividades e empreendimentos presentes na Resolução Conama
n. 1/86. Nos casos enquadrados nessa resolução ou que apresentam dúvidas a
respeito do potencial impacto negativo, existe no órgão ambiental um documento
chamado Termo de Referência – TR (Brasil, 2002; Sánchez, 2013), que contém
orientações das próximas etapas, seja para a elaboração de um EIA/RIMA, seja
para a solicitação de uma avaliação ambiental inicial para posterior
enquadramento em regras geral ou para a elaboração de um EIA/RIMA (Brasil,
2002).
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, as principais etapas do
processo de LA brasileiro são (Brasil, 2016):

I. Descrição pelo órgão ambiental competente dos documentos necessários


ao início do processo;
II. Solicitação da licença ambiental pelo empreendedor;
III. Análise dos documentos;
IV. Quando necessário, podem ser realizadas vistorias técnicas, pedido de
complementações dos estudos e realização de uma consulta pública;
V. Emissão de parecer técnico conclusivo;
VI. Concessão ou não do pedido de licença.

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A liberação da licença pode ocorrer de duas maneiras: aprovação
incondicional ou aprovação com condições, mediante apresentação de estudos
complementares (Sánchez, 2013). Mas atenção: no caso de solicitação da primeira
licença, a prévia, a avaliação de impactos ambientais e o processo de licenciamento
ambiental não acabam aqui. Com a licença prévia, o empreendedor precisa cumprir
as exigências do órgão licenciador e solicitar a licença de instalação (Brasil, 2009).
Com a LI em mãos, é possível iniciar a obra de construção, sempre com o
acompanhamento dos impactos (Sánchez, 2013). Terminada a obra, é possível dar
entrada no pedido da licença de operação, pois apenas com LO é que o
empreendedor é autorizado a exercer a atividade proposta no projeto, desde que
realizado um monitoramento e gestão ambiental (Brasil, 2009; Sánchez, 2013). Na
solicitação de cada licença ambiental, ocorrem as etapas descritas anteriormente,
desde a solicitação até a aprovação ou não da licença (Brasil, 2016).
Nos casos em que impactos negativos possuem mitigação conhecida e
apresentam legislação ambiental, não é necessária a elaboração de um EIA/RIMA
(Sánchez, 2013). Nessas situações, o órgão ambiental solicita outros tipos de
estudos, como veremos agora.

TEMA 2 – ESTUDOS AMBIENTAIS

De acordo com o Conama, “Estudos Ambientais: são todos e quaisquer


estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação,
operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento” (Brasil, 2012, p.
932). Os estudos ambientais são documentos técnicos que devem ser elaborados
por profissionais legalmente qualificados e ter gastos pagas pelo empreendedor
(Brasil, 2009, p. 39; Ibama, 2002).
O requerimento desses estudos pelo órgão ambiental competente ocorre
“conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração”, conforme presente na Constituição Federal (Brasil, 1988).
No Brasil, embora existam estudos ambientais comuns em grande parte
dos estados, o seu conteúdo e as suas fases do licenciamento podem mudar de
acordo com o estado ou município (Brasil, 2016; Sánchez, 2013).

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Saiba mais

Para poder visualizar os pontos em comuns e os divergentes, sugiro a


leitura do material intitulado Procedimentos de licenciamento ambiental do Brasil,
publicado pelo Ministério do Meio Ambiente no ano de 2016, o qual apresenta os
documentos e etapas do licenciamento ambiental em todos os estados brasileiros:
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Procedimentos de licenciamento
ambiental do Brasil. Brasília: MMA, 2016. Disponível em:
<http://pnla.mma.gov.br/images/2018/08/VERS%C3%83O-FINAL-E-BOOK-
Procedimentos-do-Lincenciamento-Ambiental-WEB.pdf>. Acesso em: 16 nov.
2019.

Para emitir uma licença ou autorização, os órgãos ambientais baseiam-se


na análise de documentos e estudos ambientais referente à localização,
instalação, à operação e à ampliação da atividade ou empreendimento (Brasil,
2016). Os principais documentos e estudos previstos na legislação brasileira são
os seguintes (Brasil, 2016; Sánchez, 2013):

• Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA


• Estudo Ambiental Simplificado;
• Estudo de Viabilidade Ambiental - EVA;
• Estudo de Viabilidade de queima - EVQ;
• Análise de Riscos
• Plano de Manejo Florestal - PMF
• Plano de Gerenciamento de Risco - PGR
• Plano de Gerenciamento de Crises – PGC
• Plano de Ação de Emergência - PAE
• Plano de Controle Ambiental - PCA
• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD;
• Projeto Básico Ambiental - PBA
• Plano de Encerramento;
• Plano de Desativação;
• Relatório Ambiental Simplificado - RAS;
• Relatório de Controle Ambiental - RCA;
• Relatório Ambiental Preliminar - RAP.

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A designação do tipo de estudo ambiental a ser concedido pelo
empreendedor decorre do tipo de projeto a ser licenciado e das condutas e
critérios adotados por cada órgão ambiental (Brasil, 2016). Além do EIA/RIMA,
que é um estudo mais completo, existem outros estudos ambientais. Vamos
estudá-los.
O Estudo Ambiental Simplificado é um exemplo. Esse estudo é solicitado
nos casos em que o projeto não se encaixa no caso de elaboração de um
EIA/RIMA, contudo a sua área de implantação apresenta fragilidades (Brasil,
2016).
Segundo a Resolução Conama n. 23 de 1994, para a exploração e lavra de
jazidas de combustíveis líquidos e gás natural, são necessárias quatro licenças
ambientais, primeiro a Licença Prévia Para Perfuração - LPper; Licença Prévia De
Produção Para Pesquisa - LPpro; a Licença De Instalação - LI e Licença De
Operação - LO (Brasil, 2012). Após a perfuração, o empreendedor precisa realizar
um Estudo de Viabilidade Ambiental – EVA, contendo o plano de desenvolvimento
da produção para a pesquisa pretendida, com avaliação ambiental e indicação
das ações de controle a serem adotadas para então solicitar a licença de produção
para pesquisa (Brasil, 2002; Brasil, 2012). A etapa de viabilidade possui uma
característica técnico-econômica, com o propósito de obter conhecimentos
apresentar a viabilidade do empreendimento (Brasil, 2002).
No Rio Grande do Norte, o empreendedor deve apresentar um EVA nos
casos de solicitação de LPpro viabilidade econômica de jazida no mar ou em terra
(Brasil, 2016). No estado no Ceará, o EVA e o Estudo Ambiental Simplificado
(EAS) são solicitados pelo órgão responsável em casos de menor complexidade,
em que não há a necessidade da elaboração de um EIA/RIMA (Brasil, 2016).
Outro tipo de estudo ambiental é o Viabilidade de Queima (EVQ), no qual
é realizado um “estudo teórico que visa avaliar a compatibilidade do resíduo a ser
coprocessado com as características operacionais do processo e os impactos
ambientais decorrentes desta prática” (Brasil, 2012). Além de ser um dos pré-
requisitos para solicitação do licenciamento ambiental, o EVQ é um estudo
necessário no monitoramento ambiental de das emissões provenientes dos fornos
(Brasil, 2012).
Você deve estar se perguntando: mas não existem situações em que, se
acontecerem, vão resultar em impactos ambientais negativos? “Se”. Por mais que
a probabilidade de ocorrer seja baixa e que não seja uma certeza que irá

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acontecer, é de extrema importância levantar essas situações, analisá-las e
planejar as ações a serem realizadas, de modo a reduzir os danos ambientais,
econômicos e à saúde humana.
Com base nos princípios da precaução e da prevenção presente na
Constituição Federação de 1988, atividades e empreendimentos que apresentam
risco de gerar danos ambientais precisam elaborar um Estudo de Análise de Risco
- EAR (Brasil, 1988; Brasil, 2016). Por se tratar de uma situação diferenciada,
vamos estudá-la no próximo tema.

TEMA 3 – ANÁLISE DE RISCOS (AR)

A Análise de Risco (AR) ou Estudo de Análise de Risco (EAR) consiste em


um documento ambiental cuja finalidade é estimar e analisar as prováveis
consequências negativas decorrentes de acidentes operacionais e de ações da
natureza (Brasil, 2002; Brasil, 2016; Sánchez, 2013). Ao realizar uma análise de
risco, o profissional anseia responder a perguntas como: o que pode ocorrer de
errado? Qual é a probabilidade e a frequência de que isso possa acontecer?
Quais são os riscos são aceitáveis? (Brasil, 2009).
Este estudo pode ser solicitado durante o processo de licenciamento
ambiental ou para a obtenção de LP, LI ou LO, conforme a natureza do projeto
(Brasil, 2016). Portanto, a AR é utilizada em todas as fases do ciclo de vida de
uma atividade ou empreendimento, avaliando os seus perigos e riscos (Ibama,
2002). Mas você sabe qual é a diferença entre perigo e risco?
O perigo é definido como “uma situação ou condição que tem potencial de
acarretar consequências indesejáveis”, sendo uma propriedade inerente de uma
substância, instalação ou artefato (Sánchez, 2013, p. 361). Por exemplo,
quaisquer líquidos, gases ou sólidos que possam pôr em situação de perigo o
meio ambiente, a pessoa ou bens materiais, como os com característica
explosiva, inflamável, infectante, corrosivas e tóxicas (Sánchez, 2013; Brasil,
2012).
O transporte, o armazenamento e a destinação dessas substâncias, sejam
matérias-primas ou resíduos, deverão ser realizados de acordo com os
dispositivos legais vigentes (Brasil, 2012). Um exemplo é o documento
Autorização para Transporte de Cargas Perigosas – ATCP, o qual “autoriza o
transporte de produtos e resíduos tóxicos e inflamáveis por vias rodoviárias,

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ferroviárias e hidroviárias” (Brasil, 2016) e para o órgão ambiental do estado de
Tocantins, possui validade de um ano
Risco, por sua vez, é definido como a “possibilidade de materialização do
perigo ou de um evento indesejado ocorrer” (Sánchez, 2013, p. 362). Sánchez
(2013) classifica os riscos ambientais de acordo com os tipos, categorizando-os,
de acordo com a origem, em riscos naturais e riscos tecnológicos. Vamos estudar
cada um.
Os riscos naturais são aqueles oriundos de fenômenos naturais, sejam eles
atmosféricos, hidrológicos, geológicos, biológicos ou siderais. O autor observa
que as situações de risco natural não são resultantes da ação direta do homem,
porém alguns riscos podem ser intensificados pela ação humana.
Os riscos tecnológicos estão diretamente relacionados com a ação
humana, classificados conforme o modo de ocorrência de seus efeitos em agudos
(imediatos) e crônicos (efeitos se manifestam a médio e longo prazo) (Sánchez,
2013). Por exemplo, um pequeno vazamento de combustível (quantidade inferior
a 100 litros) é uma situação de perigo que pode ter como causa uma ruptura na
tubulação ou tanque de armazenamento e que possui uma consequência
imediata, um risco tecnológico agudo (Sánchez, 2013). Já no caso de pequenas
e contínuas emissões gasosas de poluentes proveniente da atividade de
coprocessamento de resíduos possui uma relação de causa e efeito incerta e com
efeitos crônicos, a longo prazo (Brasil, 2002; Brasil, 2012; Sánchez, 2013).
Em uma avaliação de impactos ambientais de uma atividade que possui
perigos e riscos, normalmente são priorizados os riscos tecnológicos, pois
acidentes e disfunções em dispositivos tecnológicos fazem parte do cotidiano das
indústrias, ainda que se trate de eventos esporádicos (Sánchez, 2013). Sendo
assim, atividades e empresas que possuem riscos e perigos à saúde humana e
ao meio ambiente estão sujeitas à elaboração de uma análise de risco (Brasil,
2002; Brasil, 2009).
No processo de licenciamento ambiental, é realizada, após a
caracterização do empreendimento, a identificação de perigos e o levantamento
dos possíveis cenários acidentais (Brasil, 2009). No caso de substâncias
perigosas, alguns aspectos que influenciam os estudos são: quantidade e
periculosidade das substâncias e vulnerabilidade da região, pois a AR
fundamenta-se no princípio de que o risco está diretamente associado às
características das substâncias químicas manipuladas (Brasil, 2002). Após

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identificar os riscos e perigos, são estimados e avaliados os riscos de todas as
atividades e equipamentos de um projeto (Sánchez, 2013). São avaliadas a
probabilidade de ocorrência e quais serão as consequências caso um certo evento
venha a ocorrer (Sánchez, 2013). Com a determinação dos riscos finalizada, é
realizada uma análise dos resultados de acordo com a aceitabilidade de cada
risco, classificando-os em aceitáveis e não aceitáveis (Brasil, 2009). Nos casos
em que o risco é considerado como não aceitável, seja pela legislação ou critérios
estabelecidos pelos profissionais que estão elaborando o estudo, é necessário
realizar mudanças no projeto (Brasil, 2009). Para os riscos classificados como
aceitáveis, o próximo passo é planejar o gerenciamento dos riscos e elaborar um
plano de ação para situações de emergência, de modo a minimizar os impactos
(Brasil, 2009).
Um exemplo em que é necessário realizar uma avaliação de risco é para
as atividades de coprocessamento de resíduos, regulamentada por meio da
Resolução Conama n. 264 de 1999, que determina que as avaliações de risco
devem estar integradas no processo de licenciamento e devem contemplar “os
riscos decorrentes tanto de emissões acidentais como de emissões não
acidentais” (Brasil, 2012, p. 290; Brasil, 2016).
Portanto, a análise de risco é importante tanto na implementação quanto
na operação de uma atividade ou empreendimento, abordando tanto o manejo de
produtos e resíduos perigosos quanto a emissão de poluentes (Brasil, 2002). Com
o estudo de análise de risco, é possível avaliar as situações de perigo e as
respectivas consequências em relação à saúde humana e ao meio ambiente em
caso de acidentes (Brasil, 2002).

TEMA 4 – PLANOS AMBIENTAIS

De maneira geral, um plano ambiental é conjunto de medidas técnicas que


tem como finalidade diminuir e controlar os impactos negativos de uma atividade
ou empreendimento (Sánchez, 2013). Os planos ambientais bem como e projetos
de controle ambiental e relatórios ambientais são componentes essenciais no
processo de avaliação de impacto ambiental, pois compõem os estudos
ambientais como um todo (Brasil, 2009). Como você deve ter notado, existe uma
grande gama de atividades e empreendimentos que causam alterações no meio
ambiente e em diferentes graus de interferência, conforme a atividade, porte,
necessidades locacionais de instalação, uso de recursos naturais e geração de

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resíduos, entre outros. Para atender a essa demanda diversificada, existem
diferentes tipos de planos ambientais. Vamos ver os mais comuns.
Como já vimos no início da aula, muitas vezes, para dar início às obras de
instalação, é preciso que haja a supressão de vegetação local, sendo necessário
solicitar uma autorização ambiental. Para o caso de extração para uso comercial
ou produção agrícola, pode ser solicitada a elaboração de um Plano de Manejo
Florestal (PMF), um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) ou um Plano
de Manejo Integrado Agrossilvipastoril Sustentável (PMIAS), de acordo com a
atividade a ser desenvolvida e o processo administrativo do órgão ambiental
competente (Brasil, 2002; Brasil, 2016).
Por exemplo, no estado do Acre, a autorização para exploração (Autex) é
um documento emitido pelo órgão competente e que permite a exploração pelo
período de dois anos (Brasil, 2016). Outro documento que pode ser solicitado no
processo de licenciamento deste estado é o Plano de Manejo Florestal
Sustentável (PMFS) (Brasil, 2016), que consiste em um conjunto de técnicas de
exploração florestal cujo objetivo é conciliar o aproveitamento dos recursos com o
desenvolvimento econômico com redução dos impactos da exploração (Pereira,
2015).
Como conversamos no tema anterior, de análise de risco, quando um risco
é classificado como aceitável, é necessário realizar um plano para gerenciá-lo
(Brasil, 2009). Para a elaboração desse plano são planejados ações e
procedimentos com a finalidade de evitar eventos indesejáveis, constituindo um
plano denominado de Plano de Gerenciamento de Risco – PGR (Brasil, 2009).
Tanto o EAR quanto o PGR são documentos ambientais requisitados no
processo de licenciamento ambiental de projetos que apresentam riscos em suas
fases de instalação e/ou operação (Brasil, 2016).
A materialização de um risco, por meio da ocorrência de uma situação
indesejada, é denominada crise, que pode ser definida como “uma situação
inerentemente anormal, instável e complexa que representa uma ameaça aos
objetivos estratégicos, à reputação ou a existência de uma organização” (Cicco,
2012, p. 10; Sánchez, 2013). Uma ferramenta para instruir uma conduta adequada
em situações de crise é o Plano de Gerenciamento de Crises – PGC, constituído
por um “conjunto de cenários de crises previamente definidos e de respectivos
procedimentos de gestão para administrar, neutralizar ou eliminar impactos até a
superação da crise” (Moreira, 2012).

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No processo de licenciamento ambiental, os órgãos competentes solicitam
planos para situações de crises, dentre eles o Plano de Ação de Emergência –
PAE (Brasil, 2009; Brasil, 2002). O conjunto de documentos composto pelo estudo
de análise de risco, plano de emergência e plano de contingência compõem o
Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR (Brasil, 2002; Sánchez, 2013).
Vamos estudar cada um deles.
O Plano de Ação de Emergência (PAE) ou Plano de Emergência é definido
como

conjunto de medidas que determinam e estabelecem as


responsabilidades setoriais e as ações a serem desencadeadas
imediatamente após um incidente, bem como definem os recursos
humanos, materiais e equipamentos adequados à prevenção, controle e
combate à poluição ambiental”. (Brasil, 2012)

O plano de emergência contém o levantamento de todos os riscos


possíveis de acidentes dentro do empreendimento (Brasil, 2009; Brasil, 2016).
Outro documento é o Plano de Controle Ambiental – PCA, que é composto
pela: identificação do empreendedor/empreendimento; caracterização do
empreendimento; diagnóstico ambiental; avaliação dos impactos ambientais e por
propostas de controle e mitigação dos impactos (Estudos..., 2019; Brasil, 2012).
No caso de atividades de exploração e lavra de jazidas de combustíveis
líquidos e gás natural, o PCA é um pré-requisito para solicitação da LO, conforme
consta na Resolução Conama n. 23/1994 (Brasil, 2012). O PCA também é
solicitado para a pratica de carcinicultura, criação de camarões em viveiros,
regulamentado por meio da Resolução Conama n. 312 de 2002 (Brasil, 2012).
No Distrito Federal, o órgão ambiental competente pode requerer do
empreendedor o um PCA na licença de instalação (Brasil, 2016).
No estado de Minas Gerais, o PCA é obrigatório nos processos de
licenciamento ambiental de empreendimentos potenciais causadores de impactos
ambientais significativos, independentemente da exigência de EIA/Rima,
solicitado pelo órgão ambiental durante a LI (Brasil, 2016).
Outro documento ambiental é o Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas PRAD, o qual é requerido no processo de licenciamento de
empreendimentos que acarretaram algum dano ambiental ao solo, por exemplo,
para a recomposição de áreas degradadas por atividades ligadas à mineração
(Brasil, 2016; Brasil, 2009; Brasil, 2002).

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Um documento que reúne todas as medidas de controle e os programas
ambientais apresentados para obtenção da Licença Prévia é o Projeto Básico
Ambiental – PBA (Brasil, 2009; Brasil, 2002). O Projeto Básico Ambiental é o
documento com todas as medidas de controle e os programas ambientais de
maneira detalhada (Brasil, 2002; Estudos..., S.d.).
Dois planos específicos para determinados empreendimentos são o Plano
de Encerramento e o Plano de Desativação (Brasil, 2012). Um exemplo de
solicitação de plano de encerramento é no caso de desativação de postos de
combustíveis, o qual é regulamentado por meio da Resolução Conama n. 273 de
2000 (Brasil, 2012). Para o encerramento de unidades de tratamento térmico de
resíduos, a Resolução Conama 316, de 2002 determina a obrigatoriedade de
submeter ao órgão ambiental competente o Plano de Desativação do sistema
(Brasil, 2012, Sánchez, 2013).

TEMA 5 – RELATÓRIOS AMBIENTAIS

Os relatórios ambientais são ferramentas do processo do licenciamento


ambiental, os quais possuem diversos tipos, com diferentes finalidades, desde
compor documento ambiental simplificado de empreendimentos e atividades de
baixo impacto ambiental até estudos preliminares de um projeto considerado
potencialmente causador de degradação do meio ambiente (CETESB, 2014;
Brasil, 2016). Vamos estudar os principais relatórios ambientais.
Para a primeira situação, de empreendimentos com impacto ambiental e
de pequeno porte, foi estabelecido o Relatório Ambiental Simplificado – RAS
(Brasil, 2002). Esse documento é solicitado como pré-requisito para a solicitação
da LP para “usinas hidrelétricas e sistemas associados; usinas termelétricas e
sistemas associados; sistemas de transmissão de energia elétrica (linhas de
transmissão e subestações); e para usinas eólicas e com outras fontes
alternativas de energia” de pequeno porte, normatizado pela Resolução Conama
n. 279 do ano de 2001 (Brasil, 2012, p. 992; Brasil, 2016).
O RAS é composto pelos estudos relativos à localização, instalação,
operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento e deve ter os
seguintes conteúdos mínimos: descrição do projeto; diagnóstico e prognóstico
ambiental e medidas de controle dos impactos que não podem ser evitados
(Brasil, 2002).

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Outro estudo ambiental solicitado para empreendimentos ou atividades que
não gerem impactos ambientais significativos é o Relatório de Controle Ambiental
– RCA, um estudo simplificado e cujo conteúdo é determinado caso a caso pelo
órgão ambiental (Brasil, 2016; Estudos..., S.d.). O RCA apresenta informações
quanto à localização, à caracterização da região de instalação e plano de controle
ambiental, às fontes de poluição ou degradação e às respectivas medidas de
controle (Brasil, 2002).
Como exemplo, nos estados da Paraíba e Sergipe, para os casos em que
não há a necessidade de um EIA/RIMA, “os estudos ambientais a serem
apresentados pelo empreendedor correspondem ao Relatório de Controle
Ambiental (RCA) ou outro a ser solicitado” pelo órgão ambiental (Brasil, 2016, p.
289).
Já no estado de Minas Gerais, o RCA é sempre obrigatório para
empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, independentemente de
quais outros estudos ambientais necessários para a solicitação da LA (Brasil,
2016). No estado de Roraima, estudos ambientais para PCA e RCA são
solicitados para o licenciamento ambiental de empreendimentos agropecuários
(Brasil, 2016).
Outro tipo de relatório que pode ser solicitado pelos órgãos ambientais é o
Relatório Ambiental Preliminar – RAP (Brasil, 2016). De acordo com a CETESB,
o RAP é definido como:

estudos técnicos e científicos elaborados por equipe multidisciplinar que,


além de oferecer instrumentos para a análise da viabilidade ambiental
do empreendimento ou atividade, destinam-se a avaliar
sistematicamente as consequências das atividades ou
empreendimentos considerados potencialmente causadores de
degradação do meio ambiente, em que são propostas medidas
mitigadoras com vistas à sua implantação. (Cetesb, 2014)

Para a obtenção da LP, a CETESB tem como procedimento a solicitação


de

EIA/Rima, para atividades causadoras de significativa degradação do


meio ambiente, o Relatório Ambiental Preliminar (RAP), para atividades
consideradas potencialmente causadoras de degradação do meio
ambiente, e o Estudo Ambiental Simplificado (EAS), para atividades
consideradas de impactos ambientais muito pequenos e não
significativos. (Cetesb, 2014)

No estado de Amazonas, é comum a solicitação de Relatório Ambiental


Preliminar (RAP) e o Estudo Ambiental Simplificado (EAS) para obter a LI (Brasil,
2016).
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Ceará, Espírito Santo Pernambuco, Santa Catarina e Acre também são
outros estados em que os órgãos ambientais podem solicitar o RAP no processo
de licenciamento ambiental (Brasil, 2016). No Rio Grande do Sul, é considerado
necessário pelo órgão ambiental para a tomada de decisão quanto à realização
de EIA/RIMA (Rio Grande do Sul, 2004). Em Curitiba, o RAP é solicitado para
“empreendimentos comerciais e de serviços, que devido ao seu porte, natureza
ou área de localização, possam representar alteração significativa sobre o meio
ambiente” (Curitiba, 1997).
Como você pode perceber, o processo administrativo de licenciamento
ambiental é semelhante entre os diferentes estados do país, porém cada estado
e município possui as suas particularidades. Por isso, quando você for avaliar os
impactos ambientais de uma atividade ou empreendimento, fique atendo e
pesquise as legislações específicas do estado e do município em que será
realizado o projeto.

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REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 31000: Gestão de


riscos - Diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

BRASADOC TIMBER. Plano de manejo florestal sustentável de uso múltiplo.


Belém: Brasadoc Timber, 2015. Disponível em: <encurtador.com.br/jloJQ>.
Acesso em: 16 nov. 2019.

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