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LOGÍSTICA PÚBLICA

AULA 4

Prof. John Jackson Buettgen


CONVERSA INICIAL

Um dos objetivos estratégicos do Governo é ampliar a sustentabilidade


nas compras e contratações, buscando o fortalecimento das políticas públicas
de uso estratégico do poder aquisitivo do Estado. E esse poder, vale ressaltar,
não é pequeno.
O Governo brasileiro1 movimenta em média 12,5% do produto interno
bruto (PIB) com suas compras, estimulando o mercado e induzindo mudanças
nos padrões de produção e consumo na Administração Pública. No entanto,
tamanho poder traz grandes responsabilidades.
Nesta aula, vamos abordar a natureza dessa influência do Estado e como
ela toma forma. Cabe ao Poder Público usar essa brutal força a favor da
sociedade, provocando mudanças positivas para os cidadãos brasileiros.
Também é importante compreender como o Estado internaliza em suas
atividades a questão da sustentabilidade, por meio de normativas que,
amparadas pela legislação, orientam a atuação dos órgãos e das autarquias.
Para tanto, dividimos o conteúdo nos seguintes temas:

 Tema 1: Visão geral da sustentabilidade


 Tema 2: Uma lógica conceitual para a sustentabilidade no Setor Público
 Tema 3: Contratações sustentáveis e o papel do Setor Público
 Tema 4: A Instrução Normativa n. 01 de 19 de janeiro de 2010
 Tema 5: A Instrução Normativa n. 10 de 12 de novembro de 2012

TEMA 1 – VISÃO GERAL DA SUSTENTABILIDADE

Desde o século passado, principalmente na segunda metade, as questões


ambientais ganharam interesse, e isso determinou profundas mudanças nas
relações sociais e na interação das pessoas com o meio ambiente. Percebemos,
entre outras coisas, que a forma como nos relacionamos com o ambiente é fator
determinante das condições de saúde da população.
A industrialização impulsionou fortemente a economia e o crescimento
mundial, mas trouxe consigo o efeito negativo do aumento do consumo de
energia. Essa nova demanda energética e a própria industrialização trazem

1
Considerando os governos Federal, Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios.
impactos na poluição do ar, da terra e das águas, trazendo implicações para a
saúde humana (Furie; Balbus, 2012).
Cardoso (2014) ainda complementa que a globalização, impulsionada
pelo desenvolvimento técnico-científico dos meios de comunicação e transporte,
alterou de tal forma a dinâmica dos processos produtivos que deles resultou um
modelo predatório e consumista.
Esse contexto adverso estimulou uma busca global por soluções para os
problemas ambientais, com o objetivo de mitigar os efeitos negativos no
ambiente gerados pelo desenvolvimento econômico dos países. Daí surgiu o
conceito de sustentabilidade (Brundtland, 1987).
O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão2 afirma que a
definição de sustentabilidade concilia o desenvolvimento com a conservação
ambiental e a construção da equidade social, tendo sido disseminada pelo
relatório Brundtland (CMMAD, 1987) e pela Agenda 21 (ONU/Unced, 1992).

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O conceito de sustentabilidade se baseia na necessidade de garantir a


disponibilidade de recursos naturais hoje e para as gerações que virão. Isso só
é possível por meio de uma gestão pública que contemple a proteção ambiental,
a justiça social e o desenvolvimento econômico equilibrado das sociedades
(Brasil, 2014).

A ideia não é impedir o acesso aos recursos naturais, mas utilizá-los de


forma que seja garantida a igualdade de oportunidades para todos e que as
nações possam desenvolver suas economias de forma equilibrada.
Nesse cenário, o Estado é um ator de grande importância como indutor
das mudanças necessárias, cabendo a ele agir sobre as dimensões da
sustentabilidade. Vamos a elas.

1.1 As dimensões da sustentabilidade

A sustentabilidade é resultado de um processo de aprendizagem da


própria humanidade e é dinâmica por natureza, melhorando ao longo do tempo.

2
Nomenclatura adotada em 2014, durante o Governo Dilma Rousseff. Atualmente essas
atividades de planejamento estão sob responsabilidade do Ministério da Economia.
3
Saiba mais

É possível afirmar que a sustentabilidade gera equilíbrio entre o


socialmente desejável, o economicamente viável e o ecologicamente sustentável
e o faz incorporando dimensões e atributos em seu escopo.

Segundo Sachs (1993), um modelo representativo ideal deveria


incorporar um contexto global e não apenas empresarial e, para tanto, ele sugere
cinco dimensões, conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1 — Dimensões da sustentabilidade

Fonte: Sachs, 1993.

A dimensão social deve ser entendida como a criação de um processo


sustentável de desenvolvimento em que a sociedade busca equilíbrio e um novo
estilo de vida. Ela objetiva um desenvolvimento que traga qualidade de vida para
a população (melhor distribuição de renda, melhorias na saúde e na educação,
oportunidades de emprego etc.).
A dimensão econômica deve ser avaliada sob uma ótica
macroeconômica em que alocação, gerenciamento e fluxo mais eficiente de
recursos públicos e privados objetivam formas sustentáveis de crescimento. O
critério de rentabilidade dos investimentos é importante, mas, nessa nova
realidade, devem ser considerados os ganhos da sociedade.
A dimensão ecológica considera a racionalidade no uso dos recursos
naturais, dos combustíveis fósseis e de recursos renováveis e não renováveis
em geral. A inserção de conceitos de redução de volume de resíduos e de
poluição (3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar), além da aplicação de tecnologia para

4
minimização de impactos e melhoria de eficiência, também faz parte dessa
dimensão. A criação de normas de proteção ambiental também está nesse
contexto. Em suma, ela busca uma produção que use menos recursos naturais
e consiga atender às demandas da população sem degradar o meio ambiente.
A dimensão espacial tem relação direta com a distribuição da população
no espaço geográfico. A concentração de populações em áreas metropolitanas
causa distúrbios severos na biodiversidade, o que pode ser resolvido por meio
do equilíbrio da distribuição da população e das atividades econômicas nas
zonas urbanas e rurais. A preservação de ecossistemas frágeis, o estímulo à
agricultura inteligente e à exploração sustentável de florestas fazem parte do
arsenal de medidas relativas a essa dimensão.
Finalmente, a dimensão cultural indica que a busca das melhores
soluções deve ser adequada a cada ecossistema, considerando os valores
culturais das populações locais. A cultura é a forma de adequação das
populações, como espécie, ao ecossistema em que vivem. Em outras palavras,
a diversidade biológica está intimamente ligada à diversidade cultural, na busca
do desenvolvimento sustentável.
Por óbvio, o entendimento conceitual vai muito além do que foi aqui
exposto, mas a ideia desta aula não é estudar e compreender a sustentabilidade
em si, mas o seu impacto na logística pública. Para tanto, no tema seguinte
vamos avaliar essa conexão.

TEMA 2 — UMA LÓGICA CONCEITUAL PARA A SUSTENTABILIDADE NO


SETOR PÚBLICO

As dimensões da sustentabilidade apresentadas no tema anterior podem


ser estimuladas pelo Governo em função do enorme peso que têm na economia.
Ribeiro e Inácio Júnior (2019) afirmam que a magnitude dos gastos com
compras públicas gera um impacto sobre a economia, sendo uma das maneiras
usadas pelo Governo para apoiar e fomentar o desenvolvimento. A Tabela 1
demonstra o tamanho dessas compras em comparação com o PIB.
Partindo da premissa de que o Estado deve assumir um papel indutor do
desenvolvimento do país, salta aos olhos a importância da adoção de políticas
pelo Governo brasileiro para fazê-lo da forma mais adequada. Na Tabela 2, é
possível perceber que o país tem um baixo nível de investimentos, se
comparados aos gastos com as compras para custeio da máquina pública. As

5
médias do período analisado mostram 72% de gastos com compras de custeio
e 28% de gastos em investimentos. Essa diferença considerável pode levantar
a dúvida sobre a capacidade do Governo de realmente estimular o crescimento
da economia com base em investimentos.

Tabela 1 — Compras governamentais do Brasil, segundo entes da Federação


(2006-2017)

Fonte: Ribeiro e Inácio Júnior, 2019, p. 18.

Tabela 2 — Natureza das compras governamentais brasileiras (2006-2017)

Fonte: Ribeiro e Inácio Júnior, 2019, p. 21.

A explicação para essa queda nos investimentos é relativamente simples.


Os governos adotam políticas de contingenciamento de gastos para que
consigam cumprir suas metas fiscais. A Lei Orçamentária Anual (LOA) define

6
uma série de gastos governamentais obrigatórios, vinculando verbas. Como os
investimentos não são obrigatórios, normalmente é neles que ocorrem os cortes.
O modelo atual de produção e consumo gera um cenário de degradação
para o qual os governos e a sociedade buscam formas alternativas e
sustentáveis. Torna-se necessário questionar a real necessidade de compra e
consumo, além de considerar os fatores sociais, econômicos e ambientais
relacionados às decisões de consumo (Brasil, 2014).

TEMA 3 — CONTRATAÇÕES SUSTENTÁVEIS E O PAPEL DO SETOR PÚBLICO

A sustentabilidade, tendo como premissa a garantia de um meio ambiente


adequado para a geração atual e as futuras, é um dever do Estado e da própria
sociedade, previsto no art. 225 da Constituição Federal de 1988 (Brasil, 2014).
Portanto, segundo Finger (2012), o Estado deve se submeter ao texto
constitucional que define o desenvolvimento como um objetivo fundamental da
República, juntamente com o bem-estar, a igualdade e a justiça. Estes devem
ser tomados como valores supremos do Poder Público.
Isso se deve ao fato de que o meio ambiente preservado é um bem
jurídico coletivo e transindividual, que toma a forma de um direito individual. Cabe
ao Estado a conciliação dos objetivos de desenvolvimento econômico com a
defesa e preservação de meio ambiente (Brasil, 2014).

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Para que se obtenha isso é inevitável que o Estado crie políticas de


aderência às dimensões da sustentabilidade estudadas anteriormente.

Finger (2012) e Gomes (2013) afirmam que, para atingir esse modelo ideal
de atuação, o Estado deve se utilizar de seus poderes de regulamentação da
matéria ambiental, como a implementação instrumentos de políticas ambientais,
como as licitações sustentáveis.
Tais procedimentos influenciam diretamente o processo produtivo dos
potenciais fornecedores, os quais buscam desenvolver produtos com critérios
ambientais relevantes para o seu ciclo de vida. Como a introdução de critérios
de sustentabilidade nas licitações públicas é resultado do interesse público, os
fornecedores acabam por segui-los, pois têm grande interesse em atender às
demandas.

7
Uma ação contundente do Estado foi a Lei n. 12.349/2010, de 15 de
dezembro de 2010, que promoveu alterações na Lei 8.666/1993, de 21 de junho
de 1993, dando uma nova redação para o art. 3º da Lei de Licitações, trazendo
foco especial para a sustentabilidade:

Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio


constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para
a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com
os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade,
da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos
que lhes são correlatos. (Brasil, 2010, grifo do autor)

Dessa forma, o Estado usa o seu poder de compra para estimular uma
postura sustentável de seus fornecedores, adequando-os aos interesses
públicos.

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Isso mostra que a preocupação da Lei n. 8.666/1993 não é apenas o


cumprimento de dispositivos legais, mas também uma política pública de
integração entre desenvolvimento e meio ambiente.

Ainda no âmbito da legislação, outro impacto importante para a Logística


Pública é a Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998).
Ela estabelece sanções para fornecedores que infringem as normas ambientais,
como a impossibilidade de firmar contratos com o Poder Público por um período
de três anos.
Existem inúmeras outras leis, decretos e normativas que estabelecem o
envolvimento do Estado com a questão ambiental e que impactam na atividade
logística. Como futuro gestor público, você precisa compreender que o Estado
não pode se furtar do seu papel de indutor da sustentabilidade, e caberá a você
buscar a aderência dos fornecedores a essa intencionalidade. Mas quais são os
requisitos que devem ser estabelecidos? Vejamos isso nos próximos temas.

TEMA 4 — A INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 01, DE 19 DE JANEIRO DE 2010

Dentre os diversos elementos normativos que regulam a questão da


sustentabilidade nas relações com o Estado, uma das mais relevantes é a
Instrução Normativa n. 01, de 19 de janeiro de 2010, emitida pela Secretaria de

8
Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão3. Segundo a sua ementa:

Dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição


de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública
Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências.
(Brasil, 2010b)

Nesta seção, faremos uma avaliação dos principais pontos dessa


normativa de forma a compreender a base legal dos processos de
relacionamento com um Estado que se preocupa com as questões ambientais.

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Existe uma regra geral que estabelece que as aquisições do Poder


Público devem conter critérios de sustentabilidade ambiental, considerando os
processos de extração ou fabricação, utilização dos produtos e matérias-primas.
Esses critérios deverão estar claramente especificados nos instrumentos
convocatórios4 de forma a não interferir na capacidade competitiva dos
interessados em participar do certame.

4.1 Obras públicas sustentáveis

Segundo o TCU (2014), obra pública é considerada toda construção,


reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de bem público. Para tais obras,
a Instrução Normativa n. 01 define:

 Os projetos para obras públicas devem considerar a economia com


manutenção e operacionalização de suas estruturas, a redução de
consumo de energia e água, além de utilizar tecnologias que reduzam o
seu impacto ambiental.
 Com um olhar na distribuição geográfica da população, a IN aponta para
a prioridade no uso de mão-de-obra, materiais, tecnologias e matérias-
primas de origem local para a execução, conservação e operação das
obras públicas contratadas.
 Os instrumentos convocatórios e os contratos celebrados devem prever o
uso de agregados reciclados nas obras, quando disponíveis, com

3
A nomenclatura do órgão pode mudar com as trocas de Governo. A nomenclatura aqui
apresentada é a que estava em vigor quando da publicação da Instrução Normativa em 2010,
durante o Governo Luiz Inácio Lula da Silva.
4
Instrumento convocatório é o edital da licitação.
9
suprimento adequado e com custo inferior aos agregados naturais. Eles
devem atender todos os requisitos técnicos e qualitativos estabelecidos
nas normas brasileiras.
 Os projetos básicos e executivos das obras deverão observar as normas
do INMETRO5 e as normas ISO 140006.

4.2 Bens e serviços

Os processos licitatórios para a aquisição de bens e serviços para o Poder


Público devem seguir as seguintes premissas da Instrução Normativa:

 Os bens adquiridos devem ser constituídos, no todo ou em parte, por


material reciclado, atóxico e biodegradável, conforme normas da ABNT 7.
 Devem apresentar os requisitos ambientais necessários para a obtenção
de certificação de produto sustentável e de baixo impacto, emitida pelo
INMETRO.
 As embalagens devem considerar o aspecto ambiental, sendo individuais
e com o menor volume quando possível, além de usar materiais
recicláveis, garantindo proteção adequada no transporte e armazenagem
dos bens.
 Outro aspecto importante é o impacto na saúde. Em função disso, os bens
não devem conter substâncias perigosas em concentração superior da
recomendada pelos organismos reguladores específicos.
 O fornecedor deve apresentar certificação, emitida por instituição pública
ou credenciada, que ateste o cumprimento de todas as exigências de
sustentabilidade do edital. Caso não se confirme a adequação às
exigências, a proposta será desclassificada.
 Os editais de contratação de serviços devem prever exigências para as
empresas contratadas:
o Usar produtos de limpeza, conservação e que atendam as regras da
ANVISA8;
o Ter medidas de controle de uso de água e emissão de ruídos;

5
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia.
6
É uma série de normas emitidas pela ISO (International Organization for Stardardization) que
define as diretrizes para garantir que empresas públicas e privadas pratiquem a gestão
ambiental. Esse conjunto de normas também é conhecido como Sistema de Gestão Ambiental
(SGA).
7
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
8
Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
10
o Oferecer EPIs9 adequados aos seus funcionários;
o Ter programas de treinamento que contemplem as questões
ambientais;
o Realizar a separação dos resíduos recicláveis;
o Respeitar a normas ambientais da ABNT;
o Prever a destinação adequada dos inservíveis, pilhas e baterias e
outros, conforme regras do CONAMA 10.
 Os entes do Poder Público deverão disponibilizar os bens considerados
ociosos para doação a outros entes, tornando públicas as listas com esses
bens. Em função disso, antes de proceder com a publicação de um edital
de licitação, os entes públicos deverão verificar esse tipo de
disponibilidade pode atender sua demanda.

O portal eletrônico de contratações públicas do Governo Federal


(Comprasnet) deve divulgar dados sobre planos e práticas de sustentabilidade
ambiental na Administração Pública Federal, contendo ainda um fórum
eletrônico de divulgação materiais ociosos para doação a outros órgãos e
entidades da Administração Pública (BRASIL, 2010b).

TEMA 5 — A INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 10, DE 12 DE NOVEMBRO DE


2012

Outro elemento regulatório bastante importante para a questão ambiental


é a Instrução Normativa n. 10, de 12 de novembro de 2012, emitida pela
Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. Segundo a ementa, a Instrução Normativa:

Estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística


Sustentável de que trata o art. 16, do Decreto n. 7.746, de 5 de junho
de 2012, e dá outras providências (Brasil, 2012).

Mas o que são esses Planos de Gestão de Logística Sustentável (PLS)?


A própria Instrução Normativa define:

Os PLS são ferramentas de planejamento com objetivos e


responsabilidades definidas, ações, metas, prazos de execução e mecanismos
de monitoramento e avaliação, que permite ao órgão ou entidade estabelecer

9
Equipamentos de Proteção Individual.
10
Conselho Nacional do Meio Ambiente.
11
práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na
Administração Pública.

Servem para planejar a gestão do processo de coordenação do fluxo de


materiais, de serviços e de informações, do fornecimento à destinação final
(logística), considerando a proteção ambiental, a justiça social e o
desenvolvimento sustentável no órgão ou entidade da administração pública.
Esses PLS devem ser criados pelo próprio ente e submetidos à aprovação
da Secretaria Executiva do ministério a qual estiver vinculado. A ideia central é
que os órgãos e autarquias promovam práticas ambientalmente responsáveis
também em suas próprias operações.
A IN n. 10 aponta para o conteúdo mínimo e obrigatório a ser abordado
nestes Planos de Logística Sustentável. Basicamente são:

 Atualização do inventário de bens e materiais para identificação de


substitutos similares com menor impacto ambiental;
 Práticas sustentáveis e de racionalização do uso de materiais e serviços;
 Indicação de responsáveis, metodologia de implementação e avalição
para assegurar a efetividade do plano;
 Ações de divulgação, conscientização e capacitação. A percepção da
importância da sustentabilidade deve acompanhar os funcionários para
“além muros” e fazer parte do seu modo de pensar;
 As práticas de sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e
serviços deverão abranger:
o Materiais de consumo (papel para impressão, copos descartáveis,
cartuchos de impressão etc.);
o Energia elétrica;
o Água;
o Coleta seletiva;
o Qualidade de vida no ambiente de trabalho;
o Compras e contratações (obras, equipamentos, serviços de vigilância,
de limpeza, de telefonia, de processamento de dados, de apoio
administrativo e de manutenção predial etc.);
 As práticas deverão impactar os processos, que deverão ser
formalizados. As normas resultantes deverão conter, objetivos do plano,
detalhamentos da implementação, unidades afetadas pela

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implementação, metas, cronograma de implantação, previsão de recursos
(financeiros, humanos, instrumentais e outros que venham a ser
necessários).

O PLS poderá incorporar outras iniciativas que tenham aderência ao


propósito de sustentabilidade ambiental e que emanem de outras instâncias que
não o próprio órgão.
Os resultados obtidos pelos PLS deverão ser publicados semestralmente
pelo órgão e anualmente deverá ser elaborado um relatório de
acompanhamento.
É perceptível a intencionalidade da IN n. 10 de fazer com que a
sustentabilidade ambiental seja incorporada ao dia a dia organizacional através
da adequação dos processos conduzidos no órgão.
Um plano bem elaborado, com objetivos claros, metas estabelecidas e
indicadores de controle adequados, tem grandes possibilidade de êxito.

NA PRÁTICA

Nada como a prática para dirimir dúvidas que surgem após a leitura de
um texto. Para isso apresentamos, como exemplo prático, o Plano de Gestão de
Logística Sustentável da ANVISA.
É possível perceber que um PLS pode ser conciso, mas deve prever o
mínimo necessário para a sua eficácia: objetivos e metas claramente
estabelecidos e divulgados, metodologia de controle difundida e compreendida
e, finalmente, publicidade dos resultados.
O PLS demonstrado foi criado para o período de 2017 a 2020 e é aplicável
à sede e às subsidiárias estaduais do órgão, buscando a mudança cultural
necessária para que os valores socioambientais e de desenvolvimento
sustentável sejam consolidados na Agência.
Em se escopo, além da prática da sustentabilidade, orienta a gestão de
recursos e eficiência do gasto público, reduzindo e combatendo desperdícios.
É claramente perceptível, pelo caráter público do órgão, a obrigatória
aderência do PLS à legislação. Isso fica claro quando o documento explicita todo
o marco legal no qual se apoia o Plano.
Também fica clara a atribuição de responsabilidade, quando da criação
de uma Comissão Gestora. No caso específico, tem entre suas

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responsabilidades definir as orientações técnicas complementares, os prazos e
as diretrizes para as alterações periódicas, observando os princípios
constitucionais aplicáveis a Administração Pública. Também é responsável pela
avaliação e revisão do Plano.
As ações de divulgação, conscientização e capacitação também são
expressas no documento. Educação ambiental é um processo permanente de
aprendizagem e ação educativa, gerador de consciência ambiental. Portanto, os
conhecimentos, habilidades, experiências, valores gerados e discutidos
estimulam a ação individual e coletiva voltada à solução dos problemas
ambientais.
Outro elemento central do PLS é a apresentação de uma série de práticas
a serem adotadas na Agência com foco na sustentabilidade ambiental. Como
são integradas aos processos normatizados, a sua aplicação é monitorada e
bastante eficaz.

FINALIZANDO

No início desta aula, estabelecemos a intenção de abordar a natureza da


influência do Estado sobre o mercado e os padrões de produção, e como ele faz
isso. Também vimos que seria necessário entender as normativas como
elemento orientador das práticas sustentáveis dos órgãos e autarquias.
No tema 1, apresentamos uma base conceitual sucinta sobre
sustentabilidade e interpretamos as dimensões da sustentabilidade.
No tema 2, compreendemos a aplicabilidade dessa lógica conceitual no
ambiente público. Analisamos alguns números que comprovam a enorme
capacidade de influência do Estado no mercado, indicando a necessidade de
responsabilidade na gestão da temática. Isso aponta para o próximo tema.
O tema 3 mostrou o uso da força do seu tamanho e da licitação como
ferramenta de influência do mercado, por meio de exigências ambientais para os
potenciais fornecedores do Setor Público.
Os temas 4 e 5 fazem uma avaliação das Instruções normativas mais
impactantes para o setor. A IN n. 01 estabelece o regramento para as licitações
sustentáveis, e a IN n. 10 define a introdução de um modelo de gestão da
temática nos órgãos e autarquias.
Esperamos que a aula tenha atingido seu propósito. Bom estudo a todos!

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI,
da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências. Brasília: DOU, 21 jun. 1993.

______ Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais


e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
e dá outras providências. Brasília: DOU, 12 fev. 1998.

______. Lei n. 12.349, de 15 de dezembro de 2010. Altera as Leis nos 8.666, de


21 de junho de 1993, 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de
dezembro de 2004; e revoga o § 1o do art. 2o da Lei no 11.273, de 6 de fevereiro
de 2006. Brasília: DOU, 15 dez. 2010a.

______. Instrução Normativa n. 01, de 19 de janeiro de 2010. Dispõe sobre os


critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de
serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e
fundacional e dá outras providências. Brasília: Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação, 2010b.

______. Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. Ministério do


Planejamento, Orçamento e Gestão. Planos de gestão de logística
sustentável: contratações públicas sustentáveis. Brasília: SLTI, 2014. 30 p.
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