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GEOGRAFIA VER CAPÍTULO

CAP. 09
INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL Escaneie com o
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Conteúdo

SLIDES DO CAPÍTULO
Para começar e refletir

Rotina de pensamento:
Dominó
 ROTINA DE PENSAMENTO

Você já ouviu falar sobre o estilo techwear? Se traduzirmos a expressão para o


português, em sentido literal, significa vestir tecnologia. Esse estilo surgiu em

países asiáticos e é baseado em uma estética futurista e utilitarista. Muitas


personagens de games – principalmente os de temática pós-apocalíptica – são

apresentadas com roupas que seguem essa tendência: largas, com muitos bolsos
e acessórios úteis. Uma das peças que compõem esse estilo é a calça cargo.

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Ilustração em aquarela de jovem utilizando roupas no estilo
techwear.
arteria.lab/Shutterstock

O modelo da calça cargo foi projetado na década de 1940 e inicialmente era

usado pelos militares britânicos por conta da sua funcionalidade: guardar


munição e proporcionar agilidade nos movimentos. A partir da década de 1980,

esse modelo foi absorvido pelo mercado da moda, passando pelo uso esportivo

até chegar nas populares lojas de departamento. Após determinado tempo, ele
"saiu da moda" em detrimento de outras tendências.

A revista Elle Brasil (um importante veículo de moda) publicou uma matéria

em junho de 2021 anunciando o retorno da calça cargo às passarelas.


Celebridades como Zendaya e Billie Eilish utilizaram o modelo repaginado da

calça cargo, sendo possível encontrar a peça em diferentes cores, modelos e


tamanhos nas lojas de departamento.

E, para você, o que é mais importante quando você escolhe o que vai vestir no

seu dia a dia? É provável que você considere uma série de fatores: as condições
climáticas da sua região, o seu trajeto/ local de destino, a ocasião social e o seu

estilo – talvez este o fator de maior importância na sua escolha.

As roupas, os calçados e os acessórios que você utiliza fazem parte de uma

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lógica de produção que tem por objetivo um alcance massivo, ou seja, existe

uma padronização para que esses produtos alcancem um grande número de

consumidores(as). Você consegue identificar o que está por trás das suas
escolhas de vestuário?

1.
Com base na leitura do texto e nas suas experiências pessoais, reflita
individualmente sobre a relação entre as tendências da moda e o modo de
produção industrial.

2.
Agora, escolha uma palavra ou elabore uma frase que sintetize o que você
pensou. Você vai compartilhar a palavra ou frase em uma rodada, cuja
sequência será definida pelo(a) professor(a). É importante que você não repita
frases ou palavras que já tenham sido ditas por seus(suas) colegas.

3.
Ao final da rodada, a turma se reunirá para falar sobre quais foram as frases e
palavras mais recorrentes, além de compartilhar as justificativas de suas
escolhas.

Made in Brazil

Juta é colocada em máquinas para fazer fios para tecelagem –


produção de sacos de juta para exportação de café. Manaus,
Amazonas (2013).
Paulo Fridman/Pulsar Imagens

No Brasil atual, é possível produzir uma peça de roupa dentro dos modelos industriais, pois
hoje o território possui todos os elos da cadeia produtiva do vestuário, mas nem sempre foi
assim. A indústria têxtil, que havia sido o motor da Revolução Industrial na Inglaterra a

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partir do final do século XVIII, foi uma das primeiras a se desenvolver no Brasil. No
entanto, ela não era totalmente voltada para o vestuário, estando mais ligada a outras

finalidades, como a confecção de sacas para exportação do café. A industrialização do Brasil


é considerada tardia ou retardatária em relação aos países líderes da Revolução
Industrial. Durante o século XX, a economia brasileira passou por profundas transformações
que proporcionaram a transição para uma economia industrializada.

O início da atividade industrial aconteceu de forma concentrada na Região Sudeste devido,


principalmente, à economia cafeeira, que possibilitou a construção de estruturas, como
portos e estradas, e a modificação das relações de produção e trabalho. A partir da década

de 1930, o processo de industrialização no Brasil se intensificou. Isso ocorreu por conta das
políticas de Estado, nas quais se verificou uma forte nacionalização e substituição das
importações, além de investimentos no setor de base. Já na década de 1950, houve a

entrada de empresas estrangeiras que dominaram o setor de bens de consumo duráveis no


país, principalmente o automobilístico.

Atualmente, o Brasil possui uma grande variedade de indústrias espalhadas pelo território.

As categorias industriais que geram maior renda para o país são as siderúrgicas,
metalúrgicas, químicas, têxteis, calçadistas, eletrônicas, automobilísticas, navais, militares,
alimentícias e de papel e celulose. Entretanto, o país tem passado por um movimento de

desindustrialização e a produção agrícola ainda ocupa uma posição de destaque nas


atividades econômicas, tornando o país um dos principais exportadores agrícolas do mundo.

No primeiro objetivo deste capítulo, vamos entender melhor o início desse processo que

envolveu transformações relacionadas à economia global e às políticas de incentivo do


Estado brasileiro. Já no segundo objetivo, vamos compreender melhor a posição atual da
indústria brasileira no contexto global e sua atual distribuição.

Relembre

Para iniciar este capítulo, é importante relembrar alguns conceitos e definições que

foram trabalhados no capítulo "Atividade industrial no contexto mundial", da 2ª série,


na sugestão Geekie.

► Atividade industrial: toda atividade humana que, por meio do trabalho e


consequente uso de máquinas, transforma a matéria-prima em outros produtos,
que podem ser comercializados. De acordo com a tecnologia empregada na
produção e com a quantidade de capital, a atividade industrial pode ser artesanal,

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manufatureira ou propriamente fabril.

► Fatores locacionais: as vantagens que um determinado local pode oferecer para


a instalação de uma indústria, como disponibilidade de infraestrutura, acesso às
matérias-primas e ao mercado consumidor, além dos custos necessários à
produção em um determinado local.

► Infraestrutura: conjunto de serviços essenciais para o desenvolvimento de uma


área, da população e da economia. São fundamentais para a instalação e
funcionamento da indústria, pois incluem a rede elétrica, de água e esgoto, vias
de transportes, serviços de coleta e uma gama de serviços para atender à
população local de trabalhadores(as) e residentes do entorno das fábricas.

► Incentivo fiscal: conjunto de políticas públicas que promovem a redução ou

isenção de impostos, de modo a estimular o aporte de capitais de entidades


privadas em uma determinada área.

► Classificação da atividade industrial: divisão do tipo de atividade industrial de

acordo com determinados critérios: matéria-prima, energia, tecnologia e destino.


Abaixo indicamos a divisão conforme cada critério.

► Quanto à matéria-prima e à energia

• Pesada ou de base: é a indústria que consome grande quantidade de matéria-


prima e energia, além de produzir matéria-prima para outras indústrias mais
especializadas. Exemplos: siderurgia e metalurgia.
• Leve: executa o processo inverso, pois recorre à matéria-prima já trabalhada.
Exemplos: indústrias têxtil e farmacêutica.

► Quanto à tecnologia

• Tradicional: possui numerosa mão de obra e pouco avanço tecnológico; está


ligada à Primeira ou à Segunda Revolução Industrial.
• Moderna: possui grande automação das atividades, com mão de obra qualificada e
grande robotização.
• De ponta: possui elevada tecnologia no processo de suas atividades, com mão de
obra altamente qualificada.

► Quanto ao destino do produto

• De bens não duráveis: são aquelas que produzem bens de consumo rápido,
como os produtos alimentícios, confecção e bebidas.
• De bens duráveis: produz bens de uso contínuo, como automóveis, máquinas e
eletrodomésticos.
• De bens de produção ou de bens de capital: é a indústria que produz máquinas e
ferramentas para outras indústrias.

► Quanto ao acabamento

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• Base ou germinativa: produz bens que servirão de matéria-prima para outras
indústrias, como a siderurgia.
• Derivados: possui bens beneficiados por outras indústrias, como o setor de
confecção.

O início da atividade industrial no Brasil

Pré-indústria

A condição de colônia de Portugal contribuiu para o atraso no desenvolvimento industrial

do Brasil, o qual se iniciou de forma mais efetiva cerca de dois séculos após a Primeira
Revolução Industrial. Tratados e acordos relacionados à lógica de produção global
interferiram para que a condição de país agroexportador fosse priorizada em detrimento da
indústria, conforme podemos conferir no esquema visual abaixo.

Linha do tempo com os principais marcos e características do


período pré-industrial no Brasil.
Dukesn/Shutterstock

Ao analisar o desenvolvimento industrial brasileiro, o geógrafo Ruy Moreira considera os


ramos-base da produção industrial. A partir desses ramos, é possível periodizar o

desenvolvimento da indústria em três bases: alimentar-têxtil (1870-1950), automobilística

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(1960-90) e a agroindustrial complexificada (1990-atual).

Base alimentar-têxtil (1870-1950)

Desde o início da colonização, a situação de país agroexportador predominava no Brasil,

com produtos como açúcar, borracha, fumo e cacau. No entanto, a partir do século XIX, o

café se tornou o principal produto da economia brasileira. Vários fatores associados à


cafeicultura favoreceram o desenvolvimento de indústrias:

► disponibilidade de matérias-primas;

► modernização de portos (com destaque para o Porto de Santos);

► tensões e crises na Europa, estimulando a vinda de imigrantes;

► disponibilidade de capitais advindos do café, auxiliando na compra de máquinas e


equipamentos;

► leis abolicionistas, que ampliaram o trabalho assalariado e, automaticamente,

expandiram o mercado consumidor interno.

Dessa forma, a industrialização do país está vinculada ao café, que era o principal produto
exportado; seu cultivo estava centralizado na Região Sudeste – em São Paulo, no Rio de

Janeiro, em Minas Gerais e no Espírito Santo. A estrutura deixada nessa fase – como portos,

comércio, mão de obra e ferrovias – foi fundamental para o início da industrialização no


Brasil.

Vista interna do Museu do Café, instalado no antigo Palácio da Bolsa


Oficial de Café, inaugurado em 1922, no Centro Histórico de Santos,
São Paulo.
Maurício Simonetti/Pulsar Imagens

No caso do setor têxtil, ocorreu a ampliação na produção de algodão no mercado

brasileiro, destacando-se a produção nordestina sertaneja e também no norte do Paraná. A

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expansão da cotonicultura brasileira deveu-se à redução da produção de algodão dos

Estados Unidos, os quais eram os maiores exportadores do produto para o mercado


britânico até se envolverem em conflitos, como a Guerra de Secessão, entre 1861 e 1865.

É preciso destacar que, até 1930, o Brasil ainda não havia realizado sua Primeira Revolução

Industrial, o que o colocava em uma situação de dependência em relação aos países já

industrializados. Até a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra foi o grande parceiro


comercial do país, exercendo forte influência nas decisões políticas e econômicas

brasileiras. Porém, no período compreendido entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial,

os Estados Unidos influenciaram mais diretamente o mercado nacional.

Outra característica marcante da industrialização brasileira até 1930 está ligada às cidades
de São Paulo e do Rio de Janeiro (eixo Rio-São Paulo), que representavam, respectivamente,

o centro econômico e político do Brasil. As duas cidades se destacavam pela centralização

de capitais e de mercados consumidores, infraestrutura mais adequada (energia, transportes


e comunicações) e mão de obra mais qualificada em comparação a outras regiões do país.

Assim, ficam evidentes as razões pelas quais a Região Sudeste polarizou a sociedade urbana

e industrial brasileira, fortalecendo a burguesia e exercendo uma hegemonia política nas


três primeiras décadas do século XX. Nesse período, o controle político ficou nas mãos da

aristocracia.

Embora, até 1930, o Brasil ainda fosse um país rural e agrário, com sua economia baseada

na exportação de café, muitos cafeicultores passaram a investir parte dos lucros no


estabelecimento de indústrias, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eram

fábricas de tecidos, calçados e outros produtos de fabricação mais simples. A mão de obra

empregada nessas fábricas era, essencialmente, formada por imigrantes italianos. Nesse
contexto, surgiram sindicatos de operários.

Essa configuração possibilitou: a ampliação do mercado interno, com base nos processos de
imigração e urbanização; a liberação de capitais, antes apenas investidos na compra de

pessoas escravizadas; a integração de mercados, devido à expansão da malha ferroviária e

a importação de equipamentos industriais. Dessa forma, esse período marca o início do


processo de substituição de importações, principal característica do início da

industrialização no Brasil.

Outro aspecto relacionado a essa base diz respeito ao surto industrial ocorrido no período

da Primeira Guerra Mundial (1914-18). Por conta desse conflito, as exportações da atividade
cafeeira e as importações de bens não duráveis e de maquinaria declinaram, direcionando

as atividades para a produção bélica. Assim, os capitais disponíveis foram alocados para o

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setor industrial, quase não havendo concorrência em relação aos produtos estrangeiros.

Ruínas da primeira fábrica têxtil com energia hidráulica do Brasil –


Fábrica Todos os Santos – localizada nas margens do Rio Una, na
Área de Preservação do Candengo, Bahia.
Rubens Chaves/Pulsar Imagens

As políticas do Estado brasileiro e a indústria

Em 1929, a crise na Bolsa de Valores de Nova York ocasionou uma profunda mudança

social, política e econômica no Brasil. Até essa fase, a base da economia brasileira era a

agroexportação, destacando-se a produção de café, e a política brasileira era controlada por


São Paulo e Minas Gerais (conhecida como a Política do Café com Leite).

A quebra da bolsa de Nova York provocou uma redução das importações de manufaturados,
abrindo uma lacuna que permitiu o desenvolvimento de indústrias nacionais. Isso ocorreu,

pois, com a consequente crise econômica sem precedentes que se iniciou nos países mais
desenvolvidos, tais países diminuíram drasticamente a importação de produtos primários,

como o café brasileiro. Assim, a elite cafeeira não tinha mais meios para continuar

sustentando um padrão de vida similar ao dos países desenvolvidos.

A solução encontrada foi pressionar o Estado brasileiro a financiar a construção de

indústrias que substituiriam a produção dos bens que a elite brasileira não conseguia mais
importar.

Nesse período, houve a substituição da mão de obra imigrante pela nacional: o êxodo rural

do interior de São Paulo, provocado pela decadência cafeeira, combinado à vinda dos

primeiros contingentes de populações nordestinas ao Rio de Janeiro e a São Paulo,


formaram as bases de um mercado de trabalho industrial realmente nacional.

Do ponto de vista político, a crise fez a oposição apoiar o golpe de 1930 dado por Getúlio

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Vargas, que estabeleceu as bases para um país urbano e industrial de cunho nacionalista e
centralizador. Nesse momento, a atividade industrial foi impulsionada e se baseou nos

seguintes elementos:

• intenso êxodo rural;

• a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT);

• a formação de indústrias de base e energia;

• intenso desenvolvimento da infraestrutura de transportes e comunicações;

• a formação de indústrias de base e energia, como a Companhia Siderúrgica Nacional


(CSN), em 1941, a Vale do Rio Doce, em 1942, as Centrais Hidrelétricas do São Francisco
(Chesf), em 1945, e a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), em 1953.

Acesse: um passeio pelas vilas operárias

A crescente industrialização no início do século XX trouxe uma demanda maior por

moradia próxima ao trabalho. Os cortiços – moradia mais comum da classe

trabalhadora das fábricas – eram uma preocupação em relação à salubridade e à


higiene das cidades. Para tentar resolver esse problema de forma mais imediata, o

Estado isentava impostos das indústrias que construíssem vilas operárias – conjuntos

de residências criados para os(as) trabalhadores(as) da fábrica. No entanto, a


quantidade de vilas não era suficiente para resolver o problema de habitação.

Para conhecer mais sobre as vilas operárias e o modo de vida durante a crescente

industrialização, o webdocumentário Entre vilas proporciona um verdadeiro passeio

pelas vilas operárias sem precisar sair de casa. Ao acessar o site, você pode escolher
quais casas vai visitar e quais histórias conhecer.

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Saiba mais: as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo

Painel de mosaicos com mapa do Brasil.


Rubens Chaves/Pulsar Imagens

O painel exposto na imagem ao lado foi feito em Veneza por Giulio Rosso, a pedido

da família Matarazzo. O mapa representa as atividades comerciais e industriais das

Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo e está exposto na sede atual da Prefeitura


Municipal de São Paulo (Edifício Matarazzo, inaugurado em 1939). O primeiro

empreendimento dos Matarazzo no Brasil foi fundando em 1882: uma casa comercial

dedicada ao comércio rural. A primeira fábrica foi fundada em Sorocaba em 1908 e


tinha como objetivo a produção da banha de porco, produto que era normalmente

importado pelo Brasil. Uma das novidades trazidas pelas Indústrias Matarazzo era a

banha em lata, produto comum nos Estados Unidos.

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Leitura Complementar

No livro O cativeiro da terra, o sociólogo José de Souza Martins aborda a transição do


trabalho escravo para o trabalho assalariado. Essa mudança na relação de trabalho

não aconteceu de forma rápida e foi necessária a construção de uma mentalidade, a

criação do que Martins chama de "mito do burguês" ou "aburguesamento das


aspirações operárias". O trecho abaixo explica a construção desse mito.

[...] desde o século passado, estabelecidas as grandes correntes migratórias de trabalhadores


livres para o Brasil, a burguesia agrária empenhou-se em buscar evidências de que o trabalho
e a privação com ele combinada levavam, efetivamente, ao enriquecimento do trabalhador.
Muita literatura de propaganda foi produzida, especialmente para divulgação na Europa, nos
centros de recrutamento de trabalhadores, para apresentar casos, provas e indicações de que
o enriquecimento pelo trabalho não era apenas uma aspiração, uma ideia, mas um fato
comprovado no Brasil de então.

A gênese e a expansão da indústria na área cafeeira abriram uma possibilidade mais ampla de
comprovação da validade dessa concepção mítica de trabalhador. O pequeno
estabelecimento, mais artesanal do que industrial, operado por pessoas que estavam mais
próximas da condição proletária do que da condição burguesa, veio com muita frequência e
durante muitos anos coroar aspirações de ascensão e independência do trabalhador paulista.
Aliás, a legislação trabalhista de Getúlio Vargas, instituindo a indenização por tempo de
serviço para o trabalhador despedido sem justa causa, veio a acrescentar um reforço
significativo a essa concepção de trabalho. Por esse meio, justamente no momento mais
crítico da vida de um operário, que é o da dispensa do emprego, ele recebia um pecúlio que
podia ser transformado em capital de um pequeno empreendimento comercial ou artesanal
independente.

[...] A industrialização brasileira encontrou no mito do burguês enriquecido pelo trabalho e


pela vida penosa um ingrediente vital. Ao contrário da burguesia agrária, que tivera de
enfrentar o problema de produção e elaboração da ideologia de transição do trabalho escravo
para o trabalho livre, a burguesia industrial já encontrou prontas a justificativa e a legitimação
da exploração do trabalhador, ainda que com base numa concepção pré-capitalista de
trabalho independente.

MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1986. (adaptado)

O desenvolvimento industrial brasileiro


O Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) promoveu grande

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crescimento na infraestrutura do país em um curto espaço de tempo. Com o slogan

"Cinquenta anos em cinco", o plano tinha como objetivo acelerar o crescimento econômico
do país e era composto por 31 metas agrupadas em cinco setores: energia, transportes,
indústrias de base, alimentação e educação. Por esse motivo, houve uma

internacionalização da economia brasileira, em que o setor automobilístico tornou-se


protagonista.

Cerca de 75% do total do capital investido foi implementado no setor de energia e


transportes. Houve um aumento considerável na produção de petróleo, além da ampliação

da produção de energia elétrica, garantindo um menor custo. Essa política de governo


também foi responsável pela ampliação do sistema rodoviário, que se tornou a principal
matriz para o escoamento de mercadorias. Essa mudança favoreceu a interiorização

industrial, levando para o Centro-Oeste um maior investimento estrutural.

A economia industrial do Brasil transformou-se, nesse momento, em um tripé sustentado


pelo capital estatal, no setor de base; pelo capital estrangeiro, nas indústrias de bens
duráveis; e pelo capital privado nacional, no controle do setor de bens não duráveis.

Seguindo a tendência da industrialização por substituição de importações iniciada depois da

crise de 1929, o Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek aprofundou a dívida


externa brasileira, além de tornar a indústria nacional extremamente dependente do
capital internacional, que até hoje tem um grande poder de definição de certos aspectos da

estrutura industrial brasileira.

Este processo nos mostra como a globalização econômica atua: as grandes empresas
multinacionais pressionam os países que querem recebê-las a adotar baixos salários,
legislação trabalhista e ambiental frágeis, além da diminuição da carga de impostos, de

forma que a qualidade de vida da maioria da população e a capacidade do Estado em


produzir o bem-estar coletivo se torne bastante reduzida. Assim, a expansão das
multinacionais intensifica a desigualdade entre os países, e dentro dos países.

Base automobilística (1960-90)

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Linha de montagem de automóveis da Nissan localizada no Vale do
Paraíba (Resende, Rio de Janeiro).
Eduardo Zappia/Pulsar Imagens

A entrada de empresas multinacionais estimulou o setor de bens duráveis, destacando-se as


indústrias automobilísticas, que se concentraram na região do ABCD Paulista (Santo André,
São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema, municípios vizinhos localizados na Região

Metropolitana de São Paulo), e as indústrias de equipamentos industriais. Essas indústrias


foram beneficiadas pela mão de obra barata, pelos incentivos fiscais, pelas matérias-primas,
pela energia de baixo custo e por uma maior interligação regional, ampliando o mercado

interno.

Durante os anos 1970, muito por conta da região do ABCD Paulista, o Brasil chegou a
concentrar o maior número de operários industriais do mundo, o que acabou facilitando a
concentração e a organização desses trabalhadores, que construíram um dos principais

movimentos sindicais do mundo.

Outro grande incentivo foi a transformação da matriz de transportes brasileira. Para


estimular o crescimento da indústria automobilística, o Estado optou por desenvolver uma
grande malha rodoviária, de modo que houvesse a infraestrutura necessária para a

produção em massa de veículos automotores, como carros, motos, ônibus e caminhões –


estes últimos até hoje são os principais meios de transporte de carga no Brasil.

Tal escolha se reflete até hoje no alto custo de manutenção das estradas e dos combustíveis,
muito mais altos do que se comparado aos mesmos custos relacionados à malha ferroviária,

ainda que esta apresente altos custos de instalação.

Entre 1961 e 1964, o Brasil passou por instabilidades de ordem econômica e política,
geradas por fatores externos, como o acirramento da Guerra Fria, mas também por
conjunturas internas, como a renúncia de Jânio Quadros e a chegada de seu vice, João

Goulart, cujo projeto de governo consistia na implementação das reformas de base, para

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atingir diversos setores: agrário, administrativo, educacional, tributário, cambial etc.

A burguesia nacional se uniu à burguesia estrangeira temendo ações estatais que pudessem

interferir diretamente no quadro de desenvolvimento industrial, a exemplo do


fortalecimento da classe operária. Nesse cenário de tensão, em 31 de março de 1964,
ocorreu um golpe militar, interrompendo a política pretendida pela gestão do Governo

Goulart.

Importante: a proposta de reforma educacional

Um dos objetivos da reforma educacional era qualificar a massa de trabalhadores(as)


para que esta pudesse ocupar os novos postos de trabalho que surgiriam na
indústria, em meio a uma enorme transformação da sociedade brasileira que deixava

de ser predominantemente rural. Assim, projetava-se que os(as) trabalhadores(as) que


chegavam nas cidades precisavam ter maior qualificação educacional e profissional.

Entre as propostas vinculadas à reforma educacional, destacava-se o Plano Nacional


de Alfabetização, que seria coordenado pelo educador Paulo Freire. O projeto de

governo de João Goulart incomodava parte da elite conservadora nacional, que não
queria abrir mão de seus privilégios. É importante lembrar que, no período em
questão, os(as) analfabetos(as) não possuíam o direito ao voto. Como o Plano Nacional

de Educação previa erradicar o analfabetismo em um curto espaço de tempo, a elite


temia as profundas mudanças na política nacional que este cenário poderia causar.
Tal plano foi cancelado assim que se deu o golpe militar de 1964, e Freire foi um dos

primeiros exilados brasileiros.

Ditadura Civil-Militar e industrialização

Durante a Ditadura Civil-Militar, houve um aprofundamento na internacionalização


econômica. A entrada cada vez mais numerosa de empresas estrangeiras impôs ao país

novos hábitos de consumo, intensificando a dependência econômica e tecnológica do Brasil


em relação às grandes potências. Ao mesmo tempo, o Estado realizava investimentos
estruturais por meio de obras de alto custo, ampliando o endividamento do país.

A construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu é um dos exemplos dessa gestão. Seu projeto

era anterior ao período de Ditadura Civil-Militar e as turbinas de geração de energia viriam


da União Soviética. Com o golpe militar, o Brasil rompeu relações com a URSS em meio à
polarização crescente da Guerra Fria. As turbinas acabaram vindo da Alemanha, custando

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dez vezes mais, em um dos principais escândalos de corrupção que acabaram sendo
desvendados apenas ao final do regime militar.

Na década de 1970, a entrada de capital estrangeiro cessou por conta da crise internacional
de petróleo, ocasionando o fim do milagre econômico brasileiro e expondo a grande

dependência econômica e tecnológica em relação aos países industrializados. Assim, com o


agravamento da crise e a elevação dos juros internacionais, na década de 1980, ocorreu o
sucateamento da indústria brasileira.

Enquanto o regime ditatorial chegava ao fim no Brasil, iniciava-se a transição para um


governo democrático por meio de eleição indireta. Nesse cenário, em 1985, o presidente
José Sarney assumiu o poder com o Brasil economicamente arruinado, chegando a decretar

a suspensão do pagamento dos serviços da dívida externa.

Base agroindustrial complexificada (1990-atual)

Usina de açúcar e álcool em Quirinópolis, Goiás.


Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Ao longo da década de 1970, a concentração espacial no Sudeste chegou a quase 80%. O


governo, percebendo tamanha disparidade regional, atuou por meio de Superintendências
Regionais de Planejamento, como a Sudene (no Nordeste), a Sudam (na Amazônia), a Sudeco

(no Centro-Oeste) e a Sudesul (no Sul), com o intuito de atrair indústrias e reduzir tais
disparidades. Assim, foram feitos investimentos industriais na Amazônia, constituindo a
Zona Franca de Manaus. Na Região Nordeste, a Sudene realizou obras e estimulou a

industrialização de três grandes cidades: Salvador, Recife e Fortaleza, que se tornaram


metrópoles regionais, centralizando recursos tecnológicos e polarizando outras cidades. Esse
movimento também impulsionou a criação de complexos agroindustriais nas regiões

Centro-Oeste e Nordeste.

A partir de 1988, quando a Constituição Federal concedeu mais autonomia aos municípios,

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estes realizaram as chamadas guerras fiscais para atrair indústrias, deslocando
corporações para cidades de pequeno e médio porte, o que acarretou o atual processo de

desmetropolização.

Acesse: Fordlândia

O industrial Henry Ford idealizou um projeto inspirado na sua vivência no meio-

oeste dos Estados Unidos para uma cidade do Pará: a Fordlândia. O seu principal
objetivo era garantir uma fonte de borracha para a produção de seus carros
(importante matéria-prima para a indústria automobilística). Contudo, o seu

empreendimento fracassou por uma série de motivos apresentados na matéria


"Fordlândia, a utopia industrial que Henry Ford queria construir no meio da Amazônia",
publicada pela BBC Brasil.

Saiba mais: regras, normas e métricas

Laboratório de testes biológicos para controle de qualidade em


fábrica de chocolate, em Ilhéus, Bahia.
Tales Azzi/Pulsar Imagens

Você conhece a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)? Talvez você já

tenha ouvido falar da ABNT quando algum(a) professor(a) pediu para você entregar
uma pesquisa ou escrever um texto utilizando os padrões estabelecidos por essa
organização. Você também já deve ter visto o selo do INMETRO nos eletrodomésticos

da sua casa ou até em brinquedos que você tinha quando era criança. Mas o que
essas organizações têm em comum?

A ABNT é o Foro Nacional de Normalização reconhecido pelo governo federal

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brasileiro, responsável por padronizar e regular as normas das várias etapas da
construção de um produto, desde a pesquisa até a fabricação de mercadorias. A
associação foi criada em 1940 e atua desde 1950 no desenvolvimento de programas

de certificação adequados a diversas áreas da sociedade brasileira, conforme os


modelos internacionalmente aceitos e estabelecidos no âmbito do Comitê de
Avaliação da Conformidade (CASCO) da International Standartzation Organization

(ISO). Para obter as certificações, o processo produtivo da indústria precisa seguir


várias normas e ter um departamento de controle de qualidade que garanta que os
processos e resultados estejam dentro do esperado.

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) credencia a

ABNT para realizar essas certificações. O INMETRO é uma autarquia federal,


vinculada à Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, do
Ministério da Economia. O INMETRO foi criado em 1970 para substituir o Instituto

Nacional de Pesos e Medidas (INPM).

Outra autarquia federal envolvida nesse processo de padronização – da qual


dificilmente você deve ter ouvido falar – é o Instituto Nacional da Propriedade

Industrial (INPI). Criada no mesmo período do INMETRO, o INPI é responsável pelo


registro de marcas, desenhos industriais, softwares e patentes.

Sugestão para ler

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RUFFATO, Luiz. De mim já nem se lembra. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016.

De mim já nem se lembra

O romance epistolar de Luiz Ruffato é uma ficção baseada nas cartas escritas por

Célio, um torneiro-mecânico que deixa a família em Minas Gerais para trabalhar em


uma fábrica do ABCD Paulista. O narrador é o irmão mais novo de Célio que lê as
cartas que seu irmão mais velho escrevia para a mãe. As cinquenta cartas

reconstituem um passado enquanto ilustram as mudanças políticas, econômicas e


culturais durante a Ditadura Civil-Militar brasileira, trazem para o(a) leitor(a) as
memórias de uma família.

A rotina de trabalho desgastante, as novidades da metrópole em expansão, a luta

sindical e a saudade de casa são alguns dos elementos presentes na correspondência


entre o operário e sua mãe.

Pratique: bases da industrialização brasileira

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Questão 01

A industrialização do Brasil é um fenômeno recente e se processou de maneira bastante

diversa daquela verificada nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo notáveis, entre outras
características, a concentração industrial em São Paulo e a forte desigualdade de renda
mantida ao longo do tempo.

Outra característica da industrialização brasileira foi:

A a fraca intervenção estatal, dando-se preferência às forças de mercado, que definem


os produtos e as técnicas por sua conta.
B a presença de políticas públicas voltadas para a supressão das desigualdades sociais e
regionais e para a desconcentração técnica.
C o uso de técnicas produtivas intensivas em mão de obra qualificada e produção
limpa em relação aos países com indústria pesada.
D a presença constante de inovações tecnológicas resultantes dos gastos das empresas
privadas em pesquisa e em desenvolvimento de novos produtos.
E a substituição de importações e a introdução de cadeias complexas para a produção
de matérias-primas e de bens intermediários.

Questão 02

Entre os trabalhadores brasileiros e os empresários nacionais, existiam aqueles que


defendiam essa industrialização associada ao capital e empresas estrangeiros, para usufruir
dos privilégios nos mercados internacionais e garantir a ampliação da oferta de empregos.

[...] O governo protegia a indústria nacional aumentando as taxas de importação de bens


duráveis e facilitava a entrada de máquinas e equipamentos.

ROSS, Jurandyr L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2014.

A economia brasileira passou por várias transformações, adaptando-se às tendências da


economia mundial. O período descrito no texto foi marcado pela:

A financeirização e aumento dos fluxos de mercadorias e capitais.


B Divisão Internacional do Trabalho, balança comercial desfavorável e déficit.
C abertura econômica, aumento das importações e exportação de ativos.
D produção industrial interna, controle da taxa de câmbio e protecionismo.

Questão 03

Sobre o processo industrial brasileiro, suas origens e momentos importantes, assinale a

20
alternativa correta.

A A concentração de capitais, proporcionada pela economia canavieira, favoreceu


sequencialmente o desenvolvimento industrial paulista.
B A ocorrência de combustíveis fósseis, em especial o carvão, foi um dos motivos que
levaram à concentração industrial no Sudeste.
C A designada "guerra fiscal" e a organização sindical contribuíram para a
concentração verificada a partir do último quartel do século XX.
D O desenvolvimento desigual brasileiro reflete-se na disparidade da espacialização
industrial do país.
E Responsável pela maior fatia do parque industrial brasileiro, a maior concentração
siderúrgica do país localiza-se, igualmente, no estado de São Paulo.

Questão 04

Assinale a alternativa que expressa corretamente o período do chamado Plano de Metas de


Juscelino Kubitschek no desenvolvimento da indústria brasileira.

A Período marcado pelo predomínio das exportações de produtos tropicais para a


Europa, tais como cana-de-açúcar, cacau, café e minérios.
B Época do início da chamada indústria de base brasileira, com a criação da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), localizada em Volta Redonda/RJ.
C Marcou a chegada da família real portuguesa para o Brasil e o estímulo à
industrialização com a adoção de tarifas de importação de 60%.
D Caracterizou o início da expansão do espaço industrial brasileiro com a construção
de estradas e a entrada maciça de capital estrangeiro, principalmente no setor
automobilístico, bem como o grande investimento no setor energético.
E Foi o período de entrada do Brasil na economia globalizada, com a intensa
desnacionalização da indústria e de outros setores estratégicos da economia
brasileira.

Questão 05

Constituem monopólio da União a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo [...], a


refinação do petróleo nacional ou estrangeiro, o transporte marítimo do petróleo bruto de

origem nacional.

Artigo 1º da Lei de criação da Petrobras (1953). In: CASTELLI JUNIOR, Roberto.História: texto e contexto. São
Paulo: Scipione, 2006. p. 604.

A criação da Petrobras, em 1953, representa uma vitória:

A dos grupos ligados ao capital inglês, que garantiu baixas taxas de importação do

21
petróleo brasileiro.
B do projeto nacionalista de desenvolvimento econômico do Brasil, por meio do
monopólio estatal do petróleo.
C do capital norte-americano, que garantiu controle acionário sobre a Petrobras pelo
financiamento para sua criação.
D da burguesia brasileira, que passava a ter o monopólio sobre a extração, transporte e
distribuição do petróleo nacional.
E da iniciativa privada ligada ao capital nacional ou estrangeiro, que receberia do
Estado brasileiro garantias para investir na exploração do petróleo.

Questão 06

Sobre o processo histórico industrial, responda aos itens seguintes.

a) Apresente duas diferenças básicas entre a industrialização atual no Brasil e a ocorrida


até a Segunda Guerra Mundial.

b) Por que a industrialização do Brasil não favoreceu o desenvolvimento e o crescimento de


outros setores industriais?

c) Comente resumidamente a seguinte afirmação: "O fenômeno da industrialização

proporcionou uma verdadeira revolução no panorama geográfico do Brasil".

Questão 07

Levando em consideração que, historicamente, a implantação de indústrias siderúrgicas


constituiu um fator fundamental no processo de industrialização,

a) justifique a importância das indústrias siderúrgicas.

b) explique como se deu a implantação desse tipo de indústria no Brasil.

Questão 08

Nos últimos vinte anos, os estados nordestinos ofereceram boas oportunidades para

investimentos nacionais e estrangeiros, resultantes de políticas de isenção de impostos,


subsídios e empréstimos especiais. Os três estados nordestinos que apresentaram o maior
crescimento no período indicado foram:

A Sergipe, Piauí e Ceará.


B Alagoas, Piauí e Sergipe.

22
C Bahia, Maranhão e Pernambuco.
D Ceará, Pernambuco e Bahia.
E Amazonas, Acre e Roraima.

A indústria brasileira no contexto global


Na década de 1990, o Brasil adotou uma política de caráter neoliberal, inaugurada no

governo de Fernando Collor (1990-1992). Essa política consistiu na alteração de diversas leis
que possibilitaram a privatização de empresas estatais, além de uma maior abertura do
mercado nacional para a importação de bens como automóveis, com a diminuição do

protecionismo da produção nacional, que até hoje ocorre por meio de filiais de empresas
transnacionais.

A entrada de grandes capitais em investimentos industriais, sem uma adequada proteção do


Estado para as empresas nacionais, expôs a fragilidade tecnológica e o baixo poder de

competitividade do país diante de grupos estrangeiros, desencadeando a falência de


diversas empresas brasileiras.

Roupa fabricada no Brasil.


Brenda Rocha - Blossom/Shutterstock

Desindustrialização

A valorização da moeda brasileira, o real, e a estabilidade econômica vivenciada pelo Brasil


proporcionaram às empresas nacionais linhas de crédito que possibilitaram maiores
investimentos, promovendo a ampliação dos parques industriais e a expansão da atividade

industrial em direção a outras regiões. Entretanto, essa livre concorrência atrelada à


globalização no século XXI possui também pontos negativos, como o fechamento de
empreendimentos que não conseguem concorrer com as multinacionais, principalmente

aqueles que não possuem o capital e a estrutura das empresas.

23
Importante: a diferença entre desconcentração industrial e desindustrialização

Quando falamos em desconcentração industrial, estamos nos referindo à


redistribuição da atividade industrial pelo território brasileiro. Já o processo de
desindustrialização significa o fechamento de indústrias.

Nas páginas anteriores, vimos que o Sudeste foi a região de concentração industrial no
Brasil. Quando a indústria começou a expandir para além do Sudeste, houve um processo

de desconcentração industrial, ou seja, uma pulverização da atividade industrial para


outras regiões, motivada principalmente por vantagens oferecidas por outros estados, por

exemplo: terrenos mais baratos, redução ou isenção de impostos e disponibilidade de mão

de obra. Esse processo também aconteceu dentro do próprio polo industrial de São Paulo,
com a saída de muitas indústrias da metrópole paulistana durante a década de 1990 para o

interior do estado, formando o entorno industrial.

Nesse mesmo período, houve a redução das tarifas de importação, estimulando a entrada
de produtos e empresas estrangeiras que passaram a ocupar grande espaço na economia

brasileira. Essa medida teve como objetivo modernizar a indústria, pois facilitava o acesso a

máquinas mais sofisticadas que proporcionaram uma produção de melhor qualidade.

No entanto, essa ação também provocou a venda de empresas nacionais para as

multinacionais e o fechamento de empresas que não conseguiram concorrer com a

crescente importação de produtos, causando a desindustrialização. Esse processo teve


como consequência as elevadas taxas de desemprego no país, uma vez que a política

adotada por esses empreendimentos era a de redução da mão de obra e a robotização da

produção. Parte dessa mão de obra foi absorvida por outros setores, como o terciário
(comércio e serviços) de forma precarizada.

24
Linha de produção de fábrica de máquinas de lavar roupas, em Rio
Claro, São Paulo, em 2017.
Alex Tauber/Pulsar Imagens

Mesmo diante da crise econômica americana de 2008 e 2009 e a crise europeia iniciada em
2010, o Brasil conseguiu certo crescimento, pois o governo assumiu medidas de redução do

Imposto em Produto Industrializado (IPI). Essa foi uma tentativa de estimular o consumo no

setor automobilístico, um dos mais afetados no início da crise, e também no de eletrônicos


e de móveis, durante certo período. Porém, desde 2014, a economia tem sofrido retração

devido à crise econômica internacional, e mais recentemente por conta da pandemia de

COVID-19, eventos que refletem negativamente no desempenho do PIB brasileiro, que nos
últimos anos tem crescido menos do que a média mundial.

Série histórica da participação do Brasil na produção industrial


mundial (1994-2019).
CNI – Perfil da Indústria Brasileira/ Banco Mundial

25
Série histórica da participação da atividade industrial no PIB
brasileiro (1947-2021).
CNI/ IBGE

26
Virou notícia

Linha de produção em fábrica de motores da Ford em


Camaçari, Bahia, 2015.
Paulo Fridman/Pulsar Imagens

Em janeiro de 2021, a montadora de automóveis Ford anunciou a sua saída do Brasil,

o que resultou no fechamento de três importantes fábricas: Camaçari, na Bahia;

Taubaté, em São Paulo; e Horizonte, no Ceará. A saída da empresa foi justificada por
dois motivos: ambiente econômico desfavorável e a pandemia da COVID-19. Todavia,

a reportagem da BBC Brasil aponta que esses não foram os únicos fatores: o Custo

Brasil também influenciou nessa decisão. Para entender melhor sobre o que levou a
montadora a deixar o país e os impactos dessa decisão, leia a reportagem "Ford: afinal,

por que a montadora decidiu encerrar a produção de veículos no Brasil?" na íntegra.

27
Sugestão para ler

PATER, Ruben. Políticas do design. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

Políticas do design: um guia (não tão) global

Projetar e produzir de forma massiva exigiu o conhecimento de uma área que até

então não era muito comum: o design. Industrialização e design possuem uma

relação muito estreita. Para além de apresentar os tópicos essenciais da área – como
a tipografia, as cores, a fotografia e os infográficos –, o livro Políticas do design: um

guia (não tão) global mostra que não há neutralidade no design. A dimensão política

e social é apresentada em exemplos visuais do mundo todo, selecionados e


comentados pelo designer holandês Ruben Pater.

A atividade industrial no Brasil atual

28
Investigando:
Indústria e desenvolvimento
 PRÁTICA ATIVA

Leia o trecho de texto extraído do site da UNICEF Brasil:

Os 193 Estados membros da ONU, incluindo o Brasil, comprometeram-se a adotar a


chamada Agenda Pós-2015, considerada uma das mais ambiciosas da história da
diplomacia internacional. A partir dela, as nações trabalharão para cumprir os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Os ODS representam um plano de ação global para eliminar a pobreza extrema e a


fome, oferecer educação de qualidade ao longo da vida para todos, proteger o planeta
e promover sociedades pacíficas e inclusivas até 2030.

[...] Os ODS compreendem 17 objetivos e 169 metas. Nem todos fazem referência às
crianças e aos adolescentes, mas todos são relevantes para a vida deles. Juntos, os
objetivos representam uma abordagem integral para atender às necessidades de
meninas e meninos e para proteger seus direitos.

UNICEF Brasil. Objetivos de desenvolvimento sustentável: ainda é possível mudar 2030.


Disponível em: www.unicef.org/brazil/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel. Acesso em:
12 jul. 2022.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 9, incluído no contexto

apresentado do trecho acima, diz respeito a indústria, inovação e


infraestrutura. Uma das metas desse objetivo é "promover a industrialização

inclusiva e sustentável e, até 2030, aumentar significativamente a participação

da indústria no setor de emprego e no PIB, de acordo com as circunstâncias


nacionais, e dobrar sua participação nos países menos desenvolvidos". Será que

o Brasil está perto de atingir essa meta?

De acordo com a CNI, o Brasil ocupa a 16ª posição no ranking mundial da


participação na produção industrial. Desde 2014, o país vem perdendo posições

nesse ranking e passando por um processo de desindustrialização, conforme

vimos na página anterior. Qual a relação entre indústria e desenvolvimento?


Por que uma das metas da ODS 9 é dobrar a participação da indústria nos

países menos desenvolvidos? Como proporcionar o desenvolvimento e, ao

mesmo tempo, preservar o meio ambiente? Para tentar responder essas


perguntas, vamos trabalhar com dados oficiais.

29
Reflexões iniciais

O mapa abaixo indica a distribuição espacial da indústria em 2016. O

referencial para essa distribuição foi o número de empresas das indústrias

extrativas ou de transformação por município.

Mapa da distribuição espacial da indústria (2016).


IBGE. Distribuição espacial da indústria - 2016

1.
Observe o mapa atentamente. A partir do que vimos no capítulo, qual a
primeira leitura que você faz do mapa? Registre as suas primeiras impressões
em seu caderno.

2.
Forme um grupo de até 6 pessoas com seus(suas) colegas. Em troquem
as impressões iniciais sobre a primeira leitura do mapa.

Após essa primeira rodada de discussão, o grupo deverá acessar o Mapa


interativo das Regiões de Influência das Cidades (2018). Ao navegar pelo mapa

interativo, observem o Mapa 1 - Rede Urbana - Brasil (2018). Escolham uma das

regiões de maior influência indicadas no mapa e, em seguida, acessem o mapa


dessa região e escolham um dos centros locais (menor hierarquia da área de

influência).

Coletando dados

Depois das escolhas, o grupo deverá identificar os três principais setores da


atividade industrial desenvolvidos na unidade da federação da região de

influência. A Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-Empresa) pode ser uma das

fontes de consulta. Após identificar esses setores, verifiquem qual a


participação da atividade industrial em relação aos outros setores da economia

na região de influência escolhida.

30
Em seguida, vocês deverão pesquisar os seguintes indicadores socioeconômicos
da capital da região de influência:

• IDH;

• PIB;

• taxa de escolarização;

• esgotamento sanitário;

• urbanização de vias públicas;

• impacto socioambiental;

• empregabilidade e média salarial.

Em seguida, o grupo vai pesquisar os mesmos dados, mas dessa vez em relação
ao centro local de menor hierarquia. Para organizar essas informações, vocês

podem utilizar uma planilha (Excel, Google Sheets, Libre Office) ou uma tabela

em algum programa com formatos pré-definidos (Power Point, Canva). No site


do IBGE, vocês podem localizar esses dados no Portal Cidades@.

Discutindo dados

A partir dos dados coletados, do conteúdo trabalhado no capítulo e dos seus

conhecimentos, o grupo deverá refletir sobre as seguintes perguntas:

1.
Qual é a relação entre a atividade industrial e os indicadores coletados pelo
grupo?

2.
Quais os aspectos positivos e negativos da presença/ausência da atividade
industrial nas regiões selecionadas?

Reflexões finais

Para finalizar essa investigação, os grupos deverão compartilhar os resultados


finais da pesquisa em uma apresentação com os dados coletados e conclusões

dos(as) integrantes. Antes das apresentações, cada grupo deverá enviar um

resumo com os principais resultados para toda a turma. Para realizar essa
apresentação, vocês precisam destacar qual foi a interpretação dos dados, quais

foram as dificuldades durante o processo de pesquisa e o que mais chamou a

31
atenção na etapa de discussões.

Saiba mais: quantos litros de água são necessários para a produção de uma
calça jeans no Brasil?

Costureira corta e repara jeans velhos em estúdio.


Iryna Imago/Shutterstock

O relatório Fios da Moda, desenvolvido pelo Instituto Modefica, analisa os impactos

socioambientais da produção das três fibras mais utilizadas na indústria da moda:


algodão, poliéster e viscose. Segundo o relatório, a quantidade de litros de água

utilizada na produção de uma calça jeans com fibras de algodão é maior que o

número que uma pessoa precisa por mês: 5,2 mil litros (considerando desde o
plantio da fibra até o pós-consumo). O mesmo instituto produziu a série de vídeos Em

pauta que explica como funciona o processo produtivo da indústria da moda

brasileira e os principais problemas relacionados à precarização da mão de obra e


impacto socioambiental.

32
Saiba mais: profissões

Pesquisador observando substância em tubo de ensaio.


Standret/Shutterstock

O(a) bacharel(a) em Química pode atuar em diversos tipos de indústrias, uma vez que
sua formação permite a realização de experiências, estudos, ensaios, análises de

substâncias e matérias-primas utilizadas nas indústrias. Uma das fundadoras do

Instituto de Química da USP foi Blanka Wladislaw, que inclusive trabalhou no


laboratório de óleos e gorduras das Indústrias Matarazzo. Para conhecer a trajetória

da pesquisadora, assista ao vídeo "A pioneira nos estudos e no ensino da química no país:

Blanka Wladislaw".

Pratique: distribuição atual da indústria brasileira


Questão 01

Em 1992, o Brasil passou por um processo de desindustrialização, estimulado pela agenda


neoliberal adotada pelo então presidente Fernando Collor de Mello (1949-hoje), que

governou de 1990 a 1992. Na prática, isso resultou:

A na saída de indústrias estrangeiras do país, que buscavam países com melhores


incentivos fiscais.

B na maior proteção às indústrias brasileiras, que buscavam se fortalecer frente as

indústrias estrangeiras.

C na maior exportação de produtos de alto valor agregado e importação de produtos

agrícolas.

33
D na maior exportação de commodities e importação de produtos de alto valor

agregado.

Questão 02

Atualmente, uma das principais características do processo produtivo é a exigência de um

elevado nível de qualificação da mão de obra. No Brasil, a renda anual per capita, em 1987,

era de dólares, enquanto na Alemanha era de dólares; a taxa da


população brasileira adulta analfabeta, em 1985, era de 22%. Frente a esses dados, qual a

principal consequência para o mercado de trabalho resultante da automação na indústria e

da competitividade dos produtos brasileiros nos mercados internacionais?

Questão 03

No ano passado, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades em todo o País. Em 2015, o Brasil tinha
384,7 mil estabelecimentos industriais e, no fim do ano passado, a estimativa era de que o número
tinha caído para 348,1 mil. Em seis anos, foram extintas 36,6 mil fábricas, o que equivale a uma
média de 17 fábricas fechadas por dia no período. Os números são de um estudo feito pela
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) para o Estadão/Broadcast.

JUNIOR, Ferraz. Processo de desindustrialização no Brasil se acentua. Jornal da USP, 2021. Disponível em:
https://jornal.usp.br/atualidades/processo-de-desindustrializacao-no-brasil-se-acentua/. Acesso em: 26 jan.
2022.

O processo de desindustrialização atinge os países em desenvolvimento, como o Brasil.


Assinale a alternativa que representa as principais consequências desse processo para esses

países no mundo globalizado.

A Provoca o aumento nas exportações de mercadorias industrializadas pelos países em


desenvolvimento.

B Possibilita uma maior dinamização da economia nesses países, principalmente na

área tecnológica.

C Restringe a economia à exportação de commodities e à importação de tecnologia,

levando ao endividamento.

D Incide em uma maior arrecadação do Produto Interno Bruto (PIB), pois libera

capitais para investimento em outros setores da economia.

34
Pratique: Vestibulares e Enem
Questão 01

Ao deflagrar-se a crise mundial de 1929, a situação da economia cafeeira se apresentava

como se segue. A produção, que se encontrava em altos níveis, teria que seguir crescendo,

pois os produtores haviam continuado a expandir as plantações até aquele momento. Com
efeito, a produção máxima seria alcançada em 1933, ou seja, no ponto mais baixo da

depressão, como reflexo das grandes plantações de 1927-1928. Entretanto, era totalmente

impossível obter crédito no exterior para financiar a retenção de novos estoques, pois o
mercado internacional de capitais se encontrava em profunda depressão, e o crédito do

governo desaparecera com a evaporação das reservas.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1997. (adaptado)

Uma resposta do Estado brasileiro à conjuntura econômica mencionada foi o(a):

A atração de empresas estrangeiras.


B reformulação do sistema fundiário.
C incremento da mão de obra imigrante.
D desenvolvimento de política industrial.
E financiamento de pequenos agricultores.

Questão 02

A Crise de 1929 atingiu em cheio a economia do Brasil, muito dependente das exportações

de um único produto, o café. Mas, mais do que gerar dificuldades econômicas, o crash que
completa 86 anos em 2015 provocou na época uma mudança no foco de poder no país

acabando com um pacto político interno que já durava mais de trinta anos.

Disponível em: http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=27265. Acesso em: 20 fev. 2015.

Perante a situação descrita, o Brasil implementa a partir de 1930 uma política de incentivo

à:

A produção de bens intermediários.

B importação de produtos manufaturados.

C diversificação da produção agrícola.

D atração de capital estrangeiro.

35
Questão 03

Com base no mapa anterior e em seus conhecimentos, faça o que se pede.

a) Cite o tipo de indústria predominante no Nordeste, considerando a capacidade geradora

de emprego nessa região.

b) Caracterize o parque industrial da Região Sudeste.

Questão 04

A atual organização espacial do território brasileiro contém disparidades regionais de


diferentes ordens. O governo brasileiro implementou, nas últimas décadas, várias estratégias

e políticas públicas, objetivando superá-las. Mesmo assim, algumas dessas disparidades

persistiram e se intensificaram. No que se refere à atividade industrial, verifica-se que:

A o processo de desconcentração espacial do setor metalúrgico foi eficaz e conseguiu


reduzir a concentração na Região Norte com a implantação da Zona Franca de
Manaus.
B a formação das regiões metropolitanas na Região Centro-Oeste está associada ao
desenvolvimento industrial promovido pelo projeto desenvolvimentista de Juscelino
Kubitschek.
C a descentralização industrial ocorre com maior frequência para o interior dos estados
do Sudeste e Sul, desencadeando a chamada "guerra fiscal".
D na Região Norte essa atividade está ligada à implantação de numerosos polos agroindustriais
durante os governos militares, visando promover a integração nacional.
E as estratégias desenvolvidas na Região Nordeste estão focadas no setor farmacêutico e de
cosméticos, baseadas no modelo de substituição de importações.

36
Questão 05

A partir da década de 1970, surgiu uma nova forma de organização espacial da

indústria, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento: os tecnopolos,


também denominados no Brasil de Centros de Alta Tecnologia.

A respeito da formação, da importância e da localização dos tecnopolos no Brasil, é

correto afirmar que:

A esses estão em fase de implementação, visto que há necessidade de ampliar a rede

de infraestrutura básica para que esses polos sejam conectados a todo o território

nacional.

B existem dezenas de polos tecnológicos, criados por fatores de atração como, por

exemplo, mão de obra barata e disponível à indústria.

C para a instalação de um tecnopolo, há necessidade de que a cidade apresente um

forte setor industrial de base, que forneça matéria-prima abundante e um sólido

mercado consumidor.

D esses concentram as atividades industriais de alta tecnologia como

telecomunicação, aeroespacial, informática e biotecnologia em universidades e em

centros de pesquisa e de desenvolvimento.

Questão 06

As proposições a seguir tratam de características da industrialização brasileira. Assinale V

quando forem verdadeiras e F quando forem falsas.

( ) Na segunda metade do século XX, o Brasil experimentou uma das mais rápidas

transições urbanas da sua história. Transformou-se rapidamente de país rural e agrícola em


um país urbano e industrializado, com grande parte da população passando a morar nas

cidades. Com a Crise de 1929, o Brasil voltou-se para o desenvolvimento do mercado interno

por meio de uma industrialização por substituição de importações, o que demandou uma
mão de obra numerosa.

( ) No início do crescimento industrial, os investimentos em infraestrutura concentravam-se

no Sudeste do país. Esse fenômeno reforçou a tendência à concentração industrial e

37
acentuou as desigualdades regionais.

( ) Apesar de vir perdendo indústrias nas últimas décadas, a Região Sudeste ainda mantém

a liderança nacional tanto no que se refere ao valor da produção, quanto ao número de


empregados no setor industrial.

( ) Até a década de 1990, a metrópole de São Paulo concentrava a maior parte da produção

nacional de veículos. Na última década do século XX, as transnacionais automobilísticas

optaram pela descentralização industrial, surgindo unidades produtivas no Sul e no


Nordeste.

( ) A década de 1990 foi marcada pela globalização da economia e a consolidação do Brasil


como grande exportador de tecnologia do mundo.

A alternativa que apresenta a sequência correta é:

A F, F, V, V, V.
B F, F, F, F, V.
C V, V, V, V, F.
D V, F, V, F, V.
E F, V, F, V, V.

Questão 07

O sistema capitalista teve suas origens com a expansão comercial europeia e consolidou-se
com a denominada Revolução Industrial. No Brasil, as atividades capitalistas industriais

desenvolveram-se no período compreendido entre as últimas décadas do século XIX e a Era

Vargas, provocando significativas mudanças socioeconômicas. Mencione e explique três


mudanças socioeconômicas vinculadas ao processo de industrialização que se estruturou no

país, do final do século XIX até a Era Vargas.

Questão 08

A atividade industrial e a industrialização brasileira estão desigualmente distribuídas pelas


regiões do país. Construídas predominantemente no século XX, elas são componentes da

modernização urbana que reinventa a sociedade e a dinâmica espacial.

38
Sobre a indústria e industrialização brasileira, é correto afirmar que:

A a industrialização tem suas raízes fincadas na economia da cana-de-açúcar e do café,


que possibilitou a acumulação de capital necessária para a diversificação em
investimentos no setor industrial, e esse fato permitiu a produção de bens de
consumo duráveis, sobretudo automóveis e eletrodomésticos.
B a indústria nasceu dos capitais restantes do declínio da economia da cana-de-açúcar e
do café. Esses capitais impulsionaram uma diversidade de pequenas indústrias de
produção de bens de consumo não duráveis, como perfumaria, cosméticos, bebidas e
cigarros, que, apoiadas pelo Estado, difundiram-se pelo país.
C a ação do Estado foi fundamental para desencadear o processo de industrialização
brasileira, por exemplo, criando empresas estatais, como a antiga Companhia Vale do
Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional, para investir na indústria de base.
Sem elas, não seria possível a implantação de indústria de bens de consumo
duráveis.
D a industrialização brasileira é fruto da capacidade inovadora do Estado e do
empresariado nacional. Este último construiu em todo o território nacional sistemas
de transporte, comunicação, energia e portos, necessários à circulação de bens,
serviços e pessoas por todas as regiões.
E a industrialização brasileira se tornou possível a partir de investimentos do capital
internacional, que não mediu esforços para construir em todo o território nacional
sistemas de transporte, comunicação, energia e portos, necessários à circulação de
bens, serviços e pessoas por todas as regiões.

Resumo

• A industrialização do Brasil é considerada tardia ou retardatária em relação aos países


líderes da Revolução Industrial. Durante o século XX, a economia brasileira passou por
profundas transformações que proporcionaram a transição para uma economia
industrializada.

• A condição de colônia de Portugal contribuiu para o atraso no desenvolvimento


industrial do Brasil, o qual se iniciou de forma mais efetiva cerca de dois séculos após a
Primeira Revolução Industrial.

• É possível periodizar o desenvolvimento da indústria em três bases: alimentar-têxtil


(1870-1950), automobilística (1960-90) e a agroindustrial complexificada (1990-atual).

• O início da industrialização no Brasil está vinculada ao café, principal produção da


exportação no início do século XX. Para além do produto, a estrutura deixada pela
cadeia produtiva do café – como portos, comércio, mão de obra e ferrovias – foi
fundamental para o início da industrialização no Brasil.

39
• No caso do setor têxtil, ocorreu a ampliação na produção de algodão no mercado
brasileiro, destacando-se a produção nordestina sertaneja e também no norte do
Paraná.

• A principal característica do período inicial de industrialização no Brasil é


a substituição de importações.

• A quebra da bolsa de Nova York (crise de 1929) provocou uma redução das
importações de manufaturados, abrindo uma lacuna que permitiu o desenvolvimento
de indústrias nacionais.

• Do ponto de vista político, a crise fez com que a oposição apoiasse o golpe de 1930 dado
por Getúlio Vargas, que estabeleceu as bases para um país urbano e industrial de
cunho nacionalista e centralizador.

• O Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) tinha como objetivo


acelerar o crescimento econômico do país e era composto por 31 metas agrupadas em
cinco setores: energia, transportes, indústrias de base, alimentação e educação. Nesse
período, houve uma internacionalização da economia brasileira, em que o setor
automobilístico tornou-se protagonista.

• Durante a Ditadura Militar, houve um aprofundamento na internacionalização


econômica. A entrada cada vez mais numerosa de empresas estrangeiras impôs ao país
novos hábitos de consumo, intensificando a dependência econômica e tecnológica do
Brasil em relação às grandes potências.

• A entrada de capital estrangeiro cessou por conta da crise internacional de petróleo,


ocasionando o fim do milagre econômico brasileiro e expondo a grande dependência
econômica e tecnológica em relação aos países industrializados. Assim, com o
agravamento da crise e a elevação dos juros internacionais, na década de 1980, ocorreu
o sucateamento da indústria brasileira.

• Ao longo da década de 1970, a concentração espacial no Sudeste chegou a quase 80%.


O governo, percebendo tamanha disparidade regional, atuou por meio de
Superintendências Regionais de Planejamento. Alguns dos resultados dessas ações
foram: a Zona Franca de Manaus, a criação de polos industriais no Nordeste e de
complexos agroindustriais nas regiões Centro-Oeste e Nordeste.

• A valorização da moeda brasileira, o real, e a estabilidade econômica vivenciada pelo


Brasil proporcionaram às empresas nacionais linhas de crédito que possibilitam maiores
investimentos, promovendo a ampliação dos parques industriais e a expansão da
atividade industrial em direção a outras regiões.

• Quando a indústria começou a expandir para além do Sudeste, houve um processo


de desconcentração industrial.

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• A redução das tarifas de importação estimulou a entrada de produtos e empresas
estrangeiras que passaram a ocupar grande espaço na economia brasileira. No entanto,
essa ação também provocou a venda de empresas nacionais para as multinacionais e o
fechamento de empresas que não conseguiram concorrer com a crescente importação
de produtos causando a desindustrialização.

• Desde 2014 a economia tem sofrido retração devido à crise econômica


internacional e, mais recentemente, por conta da pandemia da COVID-19, eventos que
refletem negativamente no desempenho do PIB brasileiro, que nos últimos anos tem
crescido menos do que a média mundial.

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