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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

I - AS NOVAS POTÊNCIAS E O CAMINHO PARA A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

1 - A UNIFICAÇÃO ITALIANA
A Itália, imbuída de forte sentimento nacionalista, despertado principalmente pelas divisões impostas pelo
Congresso de Viena, aceleraria sua política de unificação. No início do século XIX, destacaram-se nesse processo os
carbonários – cujo nome está associado às cabanas dos carvoeiros onde se encontravam secretamente –, precursores
dos movimentos pela unificação. Reunindo monarquistas e republicanos, sem uma linha de ação definida, os
carbonários atuavam em toda a Itália.
Nas lutas de 1848 destacaram-se os republicanos, liderados por Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, e os
monarquistas, liderados pelo conde Camilo Cavour. Estes últimos tomaram a frente das lutas pela unificação a partir
do reino do Piemonte-Sardenha, Estado independente, industrializado e progressista, governado por Vitor Emanuel II.
No rastro da primavera dos povos, houve rebeliões liberais impondo reformas em quase todos os reinos italianos.
No mesmo período aconteciam as lutas de independência da Veneza-Lombardia, que estava sob domínio austríaco.
O movimento pela unificação italiana, enfraquecido pelas diversas derrotas para os austríacos, não ofereceu
resistência para a reinstalação do absolutismo, só voltando a ganhar força, novamente, na década de 60.
Em 1860, os “camisas vermelhas” de Garibaldi, forças populares republicanas que já haviam conquistado Parma,
Módena, Toscana e parte dos Estados Pontifícios, libertaram a Sicília e o Sul da Itália, governados pelo monarca
absolutista da família Bourbon, Francisco II. Entretanto, eram os monarquistas liberais e burgueses, instigado pelo
jornal Risorgimento, que lideravam os movimentos de libertação do restante da Itália, especialmente da República de
Veneza e da parte não conquistada dos Estados Pontifícios. Assim, mesmo contrário a uma unidade monarquista,
Garibaldi abandonou a política para não dividir as forças italianas de unificação, favorecendo Vítor Emanuel II.
O Piemonte contou com a ajuda de Napoleão III para anexar vários territórios italianos ao norte, sob tutela dos
austríacos. Depois, durante a Guerra das Sete Semanas (1866), graças à aliança com os prussianos contra a Áustria,
anexou Veneza. Nesse mesmo período, o papa recusava-se a entregar seus territórios para o Piemonte e perder Roma
para os unificadores, ameaçando excomungar o rei e seus ministros.
Contando com a promessa do monarca de que não invadiria Roma, as tropas francesas deixaram a capital
católica, em 1870, para enfrentar os alemães de Bismarck na Guerra Franco-Prussiana, em que foram derrotados. As
forças de unificação aproveitaram a conjuntura e invadiram Roma, transformando-a na capital italiana. Em janeiro de
1871, Vítor Emanuel II transferia-se para Roma, completando o processo unificador e, pouco depois, um plebiscito
consagraria a anexação.
O papa, considerando-se um prisioneiro no Vaticano, recusava-se a reconhecer o novo Estado italiano unificado,
originando a Questão Romana, que duraria até 1929, quando Mussolini assinou com o papa Pio XI o tratado de
Latrão, que criava dentro da cidade de Roma o território independente do Estado do Vaticano, pertencente à Igreja.
Hoje corresponde ao menor Estado independente do mundo.
Mesmo com a unificação italiana, várias questões restavam pendentes, como a das províncias setentrionais do
Tirol, Trentino e Ístria, de população predominantemente italiana e em mãos dos austríacos. Reivindicadas pela Itália,
essas regiões, que formavam as províncias irredentas, foram uma das razões que levaram a Itália a entrar na Primeira
Guerra Mundial contra a Áustria.

2 - A UNIFICAÇÃO ALEMÃ
O Congresso de Viena acabou com a Confederação do Reno, criada por Napoleão I, formando em seu lugar a
Confederação Germânica (Deutscher Bund), composta por 39 estados soberanos e liderada pelo Império Austríaco
absolutista e de economia agrária. À Áustria contrapunha-se a Prússia, que, mais desenvolvida comercial e
industrialmente, buscava a edificação de um grande Estado germânico que forjasse seu espaço internacionalmente.
O passo fundamental para a unidade foi dado, inicialmente, em 1834, com a criação do Zollverein – união
alfandegária, que derrubou as barreiras aduaneiras entre os Estados alemães, proporcionando uma efetiva união
econômica que dinamizaria o capitalismo alemão. Deixada fora do Zollverin pela diplomacia prussiana, a Áustria
reagiu, ameaçando a Prússia de guerra e obrigando-a a recuar. O Império Austríaco recuperava, dessa forma, sua
supremacia na Confederação Germânica, impondo seus interesses contrários à unificação.
A Prússia, por seu lado, iniciou a partir de 1860 de um programa de modernização militar sustentado pela aliança
da alta burguesia com os grandes proprietários e aristocratas – os junkers. Tendo à frente o chanceler Otto von
Bismarck, reiniciaram-se as lutas pela unificação alemã com uma estratégia que visava à exaltação do espírito
nacionalista alemão por meio de sua participação em guerras.
A Confederação Germânica foi extinta com a assinatura do tratado de Praga, após a Guerra das Sete Semanas
(1866). Nesse conflito, em que ambos os reinos disputaram a partilha de educados de população alemã pertencentes à

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Dinamarca, a Prússia saiu vitoriosa sobre a Áustria. Isso deu-lhe condições para reorganizar a aliança entre os
Estados do Norte, formando a Confederação Germânica do Norte sob a liderança do Kaiser Guilherme I
Hohenzollern, de quem Bismarck era ministro. O processo de unificação de toda a Alemanha, entretanto, encontrava
obstáculos nos Estados autônomos do Sul, apegados às soberanias locais ou ainda sob influência austríaca.
Napoleão III opunha-se à completa unificação alemã, pois faria emergir uma grande potência em suas fronteiras
orientais. O aguçamento das tensões deu-se quando, em 1869, o trono espanhol ficou vago, cabendo a Coroa a um
primo do Kaiser Guilherme I, Leopoldo Hohenzollern. Napoleão III vetou a tal sucessão, vendo-a como um cerco da
família Hohenzollern à França.
Explorando a rivalidade franco-prussiana, Bismarck forjou o estado de guerra entre os dois países, ao alterar o
texto de um despacho de Guilherme I ao embaixador francês. Tomado como um insulto à França, foi a causa imediata
da declaração de guerra de Napoleão III contra os prussianos.
Como era previsto por Bismarck, os Estados do Sul da antiga Confederação Germânica uniram-se, então, aos do
Norte contra a França, vencendo-a na batalha de Sedan e completando a unificação germânica. Em janeiro de 1871,
para humilhação dos franceses, era criado na Sala dos Espelhos do palácio de Versalhes o Segundo Reich (ou
império) alemão – o primeiro fora o Sacro Império Romano-Germânico.
Além de uma indenização de 5 bilhões de francos, o tratado de Frankfurt garantia à Alemanha a rica região da
Alsácia-Lorena, fomentando o revanchismo francês, elemento importante nos acontecimentos europeus do final do
século XIX e início do século XX.
Com a unificação, a Alemanha cresceu vertiginosamente, a ponto de, em 1990, superar a Inglaterra na produção
de aço. O desenvolvimento industrial alemão colocou em risco a hegemonia britânica mundial, causando sucessivos
atritos. A exigência alemã de uma redivisão colonial que a favorecesse, somada às alianças político-militares,
levaram à Primeira Guerra Mundial.

2.1 - O DESENVOLVIMENTO DO PODER NAVAL ALEMÃO, SÉCULOS XIX E XX (Análise de João


Caminha)
Abstraindo a intensa atividade marítimo-comercial desenvolvida nos fins da Idade Média e nos primórdios da
Idade Moderna pelas cidades hanseáticas, a participação alemã nos empreendimentos oceânicos foi diminuta até
época bem recente.
O povo alemão, habitando dezenas de diferentes Estados, muitos dos quais não dispunham de limites marítimos,
dizimado por seguidas e prolongadas guerras, não participou da investida para os mares iniciada pelos portugueses e
prosseguida depois pela Espanha, Holanda, Inglaterra e França. O comércio alemão para o além-mar caiu assim nas
mãos dos holandeses.
A partir do século XVIII, a Prússia começou a emergir como o mais poderoso dos Estados germânicos, mas,
cercada por nações rivais, também ela não pôde cogitar do desenvolvimento marítimo, nem sequer empreender a
construção de uma esquadra que protegesse o litoral do 8áltico contra os ataques inimigos. Assim, durante todo o
século XVIII, não se encontra nenhum traço da Marinha de Guerra da Prússia. A necessidade de haver uma se fizera
sentir no país por várias vezes durante esse período perturbado, mas o estado precário das finanças do reino fez
sempre adiar a realização dessa empresa. Suecos e dinamarqueses disso se aproveitaram para levar a bom termo
várias campanhas em solo da Alemanha, no decorrer dos séculos XVII e XVIII.
Em meados do século XIX, a Prússia criou uma pequena Marinha de Guerra. Ela surgiu por força da guerra
contra a Dinamarca e foi planejada levando em conta as peculiaridades da campanha contra aquele país nórdico.
Terminada a guerra, seguiu-se novamente um período de esquecimento para a nascente Marinha prussiana. Os
recursos militares que se davam aos navios alemães em serviço eram fracos. Era o resultado pouco brilhante de uma
política naval sempre entravada e sacrificada. Por conseguinte, antes de 1870 a esquadra alemã aumentou apenas por
golpes. Como a Marinha Mercante era pouco desenvolvida para poder incrementar a construção naval,
acompanhando os novos processos, a Marinha de Guerra era obrigada a recorrer quase sempre ao estrangeiro.
Decorreram assim longos anos antes que a Alemanha se convertesse em potência naval. Somente quando várias
circunstâncias favoráveis coexistiram surgiu a Marinha que iria disputar à Grã-Bretanha a supremacia dos mares. A
razão principal desse retardamento pode ser atribuída à posição geográfica do país. Com efeito, o território alemão é
quase todo fechado por terra e onde ele toca o mar este é dominado por potências situadas mais favoravelmente. Em
terra, a Alemanha dispunha sobre os seus vizinhos das facilidades de milhares de comunicações interiores. No mar,
os territórios das potências inimigas, ocupavam posição estratégica mais favorável, permitindo o controle dos acessos
oceânicos aos portos germânicos.
Dentro de uma estratégia nitidamente continental, a Prússia iniciou em meados do século XIX uma série de
guerras expansionistas, visando firmar-se como grande potência européia.
Nas guerras de 1864 (contra a Dinamarca) e 1866 (contra a Áustria), não houve encontro naval de qualquer
espécie, e na guerra franco-prussiana de 1870-71 houve apenas um combate no mar, entre dois pequenos navios.
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Depois, porém, que a Alemanha constituiu um Império, em 1871, pela união dos vários Estados germânicos, a
necessidade de um poder naval capaz de defender os interesses alemães no ultramar tornou-se patente.
O rápido desenvolvimento do comércio alemão sob o estímulo das indenizações francesas e tarifas protetoras
exigia novas fontes de matéria-prima e novos mercados. O maior incremento da população, por outro lado, indicava a
necessidade de lugar para a expansão germânica no ultramar. Por muitos anos a emigração de alemães da terra-pátria,
em média cerca de dois mil por dia, dirigira-se em grande fluxo para os Estados Unidos, para o Brasil, para a
Argentina e outras regiões onde o Governo Imperial não tinha controle. Parecia claro que colônias eram desejadas e
mesmo necessárias. Em 1884, a Alemanha, sem mover um navio ou disparar um canhão, achou-se possuidora de ter-
ritório na África, cuja área combinada excedia a mais de quatro vezes a área do Império Germânico na Europa.
Depois da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos, a Alemanha ocupava, enfim, posto eminente no comércio
internacional, posição essa que se consolidou com o passar dos anos.
Entre todas as potências mercantis foi à Alemanha a que relativamente acusou o mais grandioso desenvolvimento
até a Primeira Guerra Mundial.
A indústria metalúrgica, que já na primeira metade do século avançava com sucesso, no fim dos oitocentos e no
primeiro decênio do século XX, prosperou a passos gigantescos, graças à descoberta de jazidas de minério de ferro no
subsolo da Alemanha. Em 1871, a produção de ferro alemã não superava 1.563.000 toneladas e mantinha 23 mil
operários, e em 1904, a produção passava a 10 milhões de toneladas e ocupava 35 mil pessoas. A produção de aço
aumentou da mesma maneira. Em 1912, ela era avaliada em 17 milhões de toneladas contra 1.100 mil em 1887.
Desse modo, se antes de 1880 a Alemanha ocupava o quarto lugar no comércio mundial, em 1914 ocupava o
segundo. De 1898 a 1914 o comércio externo da Alemanha aumentou em 100%, dos quais três quartos eram de
comércio marítimo cuja escala era em Roterdam e Antuérpia.
As cidades costeiras do mar do Norte e do Báltico beneficiaram-se amplamente do cuidado incessante dado à
Marinha e da expansão comercial alemã no ultramar. Hamburgo, na embocadura do Elba, agigantou-se. Porto Franco
desde 1881, possuía em 1914, 1.087 navios que deslocavam l.362.000 toneladas. Todo ano entravam e freqüentavam
seu porto mais de 30 mil navios. A importação subia a 12 milhões de toneladas, e a exportação a nove. Naturalmente
as companhias marítimas de Hamburgo cresceram em número e como entidade, de modo extraordinário. A partir de
1885, Bismarck começou a autorizar fortes subvenções do Governo Imperial à Marinha Mercante germânica.
Em 1870, uma só companhia existia, a Hamburg Amerika Line; em 1914, depois de quarenta anos, portanto,
havia não menos de quarenta companhias orgulhosas. Só a Hamburg dispunha de um capital não inferior a 125
milhões de marcos, sendo proprietária de 388 navios com uma tonelagem que, em 1910, subia a 1.021.963 toneladas.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a frota mercante alemã era a segunda do mundo. Ela compreendia
mais de quatro mil navios com mais de cinco milhões de toneladas. Oitenta mil marinheiros guarneciam esta frota. A
percentagem da Alemanha na frota mercante mundial, que era, em 1874-75, somente 5,2%, elevou-se até o começo
da guerra a 10,8%.
Estimulados pelo desenvolvimento da Marinha Mercante e amparados por uma sólida indústria siderúrgica, os
estaleiros alemãs proliferaram. Em 1870, havia no país apenas sete estaleiros. Esse número elevou-se a 107 em 1912.
Enquanto até o nono decênio do século passado os grandes navios transatlânticos só procediam da Inglaterra, as
conhecidas firmas de armadores de Hamburgo e Bremen fizeram dai por diante suas encomendas aos estaleiros
alemães, estimulando-os com isso a desenvolverem uma capacidade de produção cada vez mais elevada. Em poucos
anos, converteram-se essas estaleiros em empresas construtoras de primeira categoria, e a contínua ampliação de suas
explorações demonstrou o desenvolvimento crescente dessa indústria.
O aumento do comércio alemão depois de 1871 e o crescimento da Marinha Mercante mostraram a necessidade
de uma Marinha de Guerra. Essa necessidade foi posteriormente acentuada pelo estabelecimento do Império
Colonial. Contudo, somente quando o jovem Kaiser (Guilherme II) subiu ao trono é que a construção de uma forte
Marinha foi encarada. A impotência da Alemanha devido à falta de Marinha foi amplamente demonstrada em 1896,
quando o Kaiser foi incapaz de sustentar seu telegrama ao Presidente Kruger, do Transwaal, com outro meio que não
mais telegramas. Ainda mais efetivamente foi demonstrada em 1889, quando começou a guerra Anglo-Boer. O
Kaiser se enfurecia quando os navios mercantes alemães, carregados de armas e munições para os Boers, eram
detidos pelos cruzadores ingleses e condenados ao confisco por tribunais britânicos. Usando a experiência sul-
africana como um meio para inflamar a opinião pública alemã (que é altamente inflamável), ele conseguiu as duas
primeiras das quatro Ligas Navais sob as quais foi construída a grande frota que custou ao povo alemão 200 milhões
de libras. O zelo do Kaiser pela construção naval foi posteriormente estimulado pela Guerra Hispano-Americana de
1898, na qual a influência decisiva do poderio naval foi demonstrada conspicuamente. Depois de 1896, o Kaiser
passou a contar com o concurso, na pasta da Marinha, do Almirante Von Tirpitz, que foi a alma do desenvolvimento
naval da Alemanha.
Ao raiar o século XX. a Alemanha reunia as condições fundamentais necessárias a uma potência naval:
comércio, atividade industrial, sentido militar, aptidão para a organização, amor ao trabalho, poderio do Estado e
patriotismo. Bem cedo os programas modestos das duas primeiras Ligas Navais foram abandonados (1898 e 1900). O
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segundo ato naval acelerou e quase dobrou o programa de 1898, procurando criar uma frota de combate com 34
encouraçados, 38 grandes cruzadores e 106 pequenos cruzadores. A Inglaterra evidentemente não deixou de consi-
derar o desenvolvimento da Marinha alemã e, sob o. pulso firme de Lord Fisher, ampliou por seu turno, o programa
de construção naval. As duas grandes potências européias iniciaram então uma corrida armamentista que durou até o
inicio da Primeira Guerra Mundial.
Em agosto de 1914. a Alemanha tinha a segunda Marinha de Guerra do mundo. Sua esquadra compunha-se de 13
encouraçados modernos, 30 encouraçados antiquados, 5 cruzadores de batalha, 60 cruzadores pesados, 12 cruzadores
ligeiros, 152 contratorpedeiros. 45 torpedeiros e 40 submarinos. O emprego dessa formidável força naval no conflito
de 1914-18 presta-se até hoje a controvérsias. A Marinha alemã bateu-se com denodo, e a alta qualidade de seus
navios foi comprovada por mais de uma vez. Ela não impediu, contudo, que a Marinha Mercante alemã abandonasse
todos os mares, com exceção do Báltico.
A supressão do comércio germânico no além-mar teve conseqüências funestas para as armas do Kaiser. Ao
contrário da guerra de 1870, relativamente curta, o domínio das rotas oceânicas foi adquirindo, com o correr dos
meses, cada vez maior importância, uma vez perdido o elã inicial do avanço dos exércitos alemães na França. Com a
estabilização dos exércitos beligerantes na luta de trincheiras, a guerra assumiu um aspecto de desgaste que tornava
problemática a vitória da Alemanha, cortada das principais fontes de suprimento do mundo. A guerra de corso
começou a ser considerada, por certo círculos na Alemanha, como o único recurso capaz de quebrar o esforço da
guerra aliada. O submarino tinha-se revelado capaz de ameaçar a vida econômica da Inglaterra malgrado a proteção
de sua esquadra. A Intima dependência que a Inglaterra se achava de sua Marinha Mercante permitia a esperança de
ver o Estado insular tão profundamente atingido que não pudesse prosseguir na luta. Quatro quintos dos viveres e das
matérias-primas que consumia, com exceção do carvão e da metade do minério de ferro, procediam do além-mar.
Levou muito tempo, porém, para felicidade dos aliados, antes que a Alemanha se empregasse a fundo na guerra de
corso submarina. Todo o esforço naval do país, antes da guerra, tinha sido consagrado a Forças de Alto-Mar e
relativamente pouca atenção se tinha dado à Força de Submarinos. Além do mais, havia os problemas políticos, que
eram os principais. A guerra submarina irrestrita fatalmente arrastaria para o campo aliado outras potências.
No decorrer de 1915, a média mensal de afundamento de navios mercantes por submarinos foi de 120 mil
toneladas. Antes de iniciada a guerra submarina, o comércio marítimo procedente da Inglaterra ou a ela destinado não
tinha sofrido apreciavelmente. O encarecimento do frete mantinha-se em limites razoáveis, e o povo inglês, em suma,
sofria pouco. Não havia carência, e o encarecimento da vida era suportável. A guerra submarina, ao contrário,
modificou sensivelmente as condições de vida na Inglaterra. O frete se elevou notavelmente. De janeiro a maio de
1915, dobrou; em janeiro de 1916, era em média dez vezes mais elevado que antes da guerra (janeiro de 1914). Os
preços do comércio, grosso modo, seguiram a ascensão antes mesmo que as importações tivessem sofrido reduções
bastantes para se falar em penúria de mercadorias. No fim de 1916, a perda de tonelagem tornara-se já sensível. Era
evidente que o problema da guerra submarina reduzia-se a uma questão de tonelagem. Os argumentos a favor da
campanha submarina irrestrita eram fortes em face dos resultados já alcançados com a campanha moderada empreen-
dida até então. No entender de von Tirpitz e von Scheer "não se poderia atingir a Inglaterra senão no seu comércio
marítimo. O meio para se alcançar o objetivo era a guerra submarina sem restrições à qual a Inglaterra não poderia
sustentar por mais de seis a oito meses, considerando os recursos de que os aliados dispunham então".
Os estaleiros tinham estado bastante ativos em 1915 para fornecer um número de submarinos satisfatório, mas
tinha-se perdido um ano precioso. Durante o ano de 1916 a Inglaterra teve tempo para tomar, metodicamente, as
contramedidas. O resto do ano de 1916 se passou em discussões entre o Estado-Maior Geral, a Marinha e o Governo
do Império; o Chefe do Estado-Maior Geral procurando forçar o Governo a empreender a guerra submarina sem
restrições, enquanto tentava fazer o Comandante-Chefe recomeçar a guerra comercial restrita.
A guerra submarina sem restrições começou enfim a 1º de fevereiro de 1917. Tratava-se de quebrar a resistência
da Inglaterra, destruindo seu comércio marítimo, malgrado a superioridade de sua esquadra. Dois anos e meio de
guerra se tinham passado sem ter sido iniciada essa tarefa, até que as autoridades responsáveis se viram na obrigação
de utilizar os meios de que dispunham para evitar o desastre ameaçador. Começou então a fase crucial da guerra
marítima, e todas as nações beligerantes compreenderam que o seu resultado seria talvez mais importante ainda que a
decisão da batalha do Mame. Nunca potência alguma colocou tal empenho e tantos recursos em cortar as vias marí-
timas da nação inimiga como fez a Alemanha em relação à Inglaterra em 1917 e 1918. Esforço semelhante s6 viria a
ser empreendido em idênticas circunstâncias na Segunda Guerra Mundial. Nenhuma campanha mobilizou tantos
recursos no mundo todo quanto essa primeira batalha do Atlântico. Enquanto a guerra de corso, realizada pelos
franceses nos conflitos dos séculos XVII, XVIII e XIX, não chegou a impedir o crescimento da Marinha Mercante
inglesa, a campanha submarina irrestrita em poucos meses causou uma diminuição sensível na tonelagem mundial.
O número de submarinos cresceu sempre, malgrado as contramedidas aliadas. No começo do ano de 1915, o
número de unidades consagradas à guerra no comércio era de 24. A tonelagem afundada durante o ano de 1915 não
atingiu o número de seis semanas de guerra sem restrições. Em 1916, o número de submarinos foi acrescido para 87
entre os vários tipos, mais 14 estavam em experiência e 151 em construção. Trinta e cinco submarinos não haviam
regressado às bases desde o início das hostilidades. No primeiro dia de guerra submarina sem restrições havia já no
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mar do Norte 57 submarinos, no Báltico, oito, em Flandres, 38, e as bases do Mediterrâneo dispunham de 31. A to-
nelagem afundada aumentou brutalmente, atingindo a mais de um milhão de toneladas nos meses de abril a junho de
1917, fato não registrado em nenhum mês na Segunda Guerra Mundial. As potências aliadas tomaram uma série de
contramedidas eficazes não só organizando comboios de navios mercantes fortemente escoltados como também
aperfeiçoando a técnica do combate ao submarino e realizando, em todos os países possíveis, principalmente nos
Estados Unidos, um programa de construção naval em massa capaz de compensar as perdas experimentadas. Tais
medidas lograram sucesso, e os submarinos alemães pagaram pesado tributo. Durante a guerra foram utilizados ao
todo 360 submarinos; 184 não regressaram.
Em meados de 1918, a tonelagem aliada afundada mensalmente orçava em média por 500 mil toneladas. O
sucesso da campanha submarina achava-se comprometido. Os alemães procuraram reunir todos os seus recursos
industriais para aumentar a produção de submarinos. Cento e vinte haviam sido encomendados em dezembro de 1917
e mais duzentos e vinte em janeiro de 1918, mas destes, até setembro de 1918, apenas 74 haviam sido entregues.
Enquanto isso a poderosa frota alemã poucas saldas realizara depois da batalha de Jutlândia em maio de 1916. Os
navios parados nas bases, em contato com as forças desmoralizantes que grassavam na retaguarda, acabaram
contaminados, e já em 1917 os primeiros indícios de indisciplina surgiram nos encouraçados.
Ante a ameaça do colapso na Frente Ocidental, o Alto Comando Alemão decidiu realizar uma surtida
desesperada com toda a esquadra, mas a 29 de outubro de 1918, ao ser conhecida a ordem, explodiram desordens em
vários navios, sobretudo nos encouraçados. A surtida teve que ser suspensa.
Com o fim da guerra, a frota alemã foi enviada para Scapa Flow onde se auto-afundou ao se difundir a suspeita
de que os navios seriam entregues aos vencedores. Em águas inglesas, foram dessa forma afundados 19
encouraçados, 5 cruzadores de batalha, 16 cruzadores, 92 contratorpedeiros, 50 torpedeiros e 152 submarinos.
Sem frota de guerra e com a Marinha Mercante reduzida a 600 mil toneladas, assim terminou a primeira fase da
expansão alemã nos mares.
Embora derrotada de forma esmagadora e malgrado as dificuldades sem conta surgidas em conseqüência do
conflito, revolução, inflação, indenização etc, a estrutura sólida da economia alemã permitiu uma rápida volta do país
às transações comerciais. O renascimento do comércio acarretou, logicamente, o incremento da Marinha Mercante.
Em -1923, só a Companhia Norddenstcher Loyd tinha já em construção 28 novos navios com 232 mil toneladas, e 34
grandes transatlânticos de outras companhias estavam sendo construídos numa série de estaleiros. A Marinha de
Guerra, porém, não pôde acompanhar o crescimento da frota de comércio em virtude de cláusulas do Tratado de Ver-
sailles e permaneceu reduzida até o advento do nazismo.
No começo da terceira década do século, a Alemanha já era novamente uma das três importantes nações
comerciais do mundo. Sua Marinha Mercante ultrapassava cinco milhões de toneladas. Com a subida dos nazistas ao
poder, a Alemanha iniciou febrilmente seus preparativos para a guerra. Todavia Hitler e seus auxiliares imediatos não
encararam o aspecto naval do futuro conflito com grande zelo. Faltou à Alemanha a firme vontade de um von Tirpitz,
bem como a megalomania de Guilherme II. Em confronto com o rápido desenvolvimento do Exército e da Força
Aérea, a Marinha germânica aumentou pouco. Também não foi considerada no começo pelo Alto-Comando a
eventualidade de uma guerra contra a Inglaterra. O Almirante Raeder, contudo, não aceitou esses pontos de vista e,
apontando a Von Blomberg a expansão da Marinha francesa, conseguiu maiores verbas. Com esses fundos ele iniciou
os fundamentos de uma pequena e equilibrada esquadra.
O Tratado de Londres, assinado em 1935, permitiu à Alemanha possuir uma esquadra equivalente a trinta e cinco
por cento da frota de superfície inglesa, e acordos posteriores estipularam que a força de submarinos germânicos
poderia ser igual à britânica. A Alemanha podia construir, pelos tratados, cinco navios de linha, dois porta-aviões,
vinte e um cruzadores e sessenta e quatro destróieres. Na verdade, porém, tudo o que possuíam por ocasião do
começo da guerra eram 2 encouraçados, 11 cruzadores e 25 destróieres. Cinqüenta e sete submarinos estavam já
construídos quando a guerra começou.
Em 1937, Hitler alterou os planos da expansão alemã, tornando a guerra com a Inglaterra quase uma certeza.
Para a Marinha alemã tornou-se preciso uma revisão dos planos estabelecidos noutras hipóteses. Era necessário
tempo, e Hitler prometeu que não haveria guerra contra' a Inglaterra até 1944 ou 1945. Foi elaborado, então, com
base nessa hipótese, um plano para aumentar o poderio naval tanto quanto possível. Esse plano, conhecido como
Plano Z, foi baseado na capacidade total dos estaleiros alemães e no tipo de guerra a ser engajada. A concepção do
Almirante Raeder da guerra naval contra a Inglaterra visava evitar grandes ações e concentrar os ataques contra a
Marinha Mercante. Submarinos e rápidos e poderosos navios de superfície, operando independentemente ou com
porta-aviões, eram encarados como os melhores meios de levar adiante essa linha de ação. O desenvolvimento da
Aviação Naval, também cogitado, foi fortemente combatido por Goering.
Na primavera de 1939, a anexação da Tcheco-Eslováquia e as ordens preliminares para a invasão da Polônia
tornaram claro a Raeder e ao Estado-Maior da Armada que a, guerra com a Inglaterra teria lugar muito antes do
previsto. Raeder mostrou a Hitler a falta de preparo naval da Alemanha, mas a invasão da Polônia não foi adiada,
deflagrando o conflito.
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No mesmo dia da declaração de guerra foi afundado o primeiro navio mercante inglês, dando inicio à campanha
que, conhecida como batalha do Atlântico, tornou-se a maior, mais importante e mais monótona batalha da guerra.
Em essência, foi ela uma luta entre a Alemanha e os Aliados, visando cada qual estrangular a linha de suprimento do
inimigo. Começada no dia da abertura das hostilidades ela durou até dois dias antes do armistício, cinco anos e oito
meses mais tarde, mas antes de chegar ao fim, 4.783 navios mercantes com mais de 21 milhões de toneladas e 635
submarinos foram afundados.
Em linhas gerais, a guerra no Atlântico foi repetição da do Primeiro Conflito Mundial. Em poucos dias, a
bandeira de comércio germânica desapareceu dos mares exceto no Báltico. A frota de superfície alemã empreendeu
algumas investidas sem grandes resultados, a não ser na Campanha da Noruega, onde, à custa de pesadas perdas,
atingiu plenamente seu objetivo. Pouco a pouco os navios de superfície alemães deixaram de constituir preocupação
séria, e o submarino cresceu cada vez mais em importância.
A orientação seguida pelos dirigentes alemães na guerra naval também foi a repetição da política obedecida pelo
Governo do Kaiser na Primeira Guerra Mundial. No começo, durante mais de um ano, confiança ilimitada nos
resultados das fulminantes campanhas terrestres. Com o prolongamento da guerra, maior atenção à guerra naval, e,
por fim, concentração angustiosa dos recursos disponíveis no ataque às comunicações aliadas, visando a uma decisão
já impossível.
Nos oito primeiros meses da guerra, a Alemanha, dispondo de menos de sessenta submarinos, não causou
grandes danos à navegação aliada. As perdas sofridas foram compensadas pelas novas construções e pelos navios do
Eixo capturados.
Depois da queda da França e com a entrada em serviço de um número crescente de submarinos, a devastação das
frotas mercantes atingiu ritmo alarmante. Em maio de 1942 havia, operando nos oceanos, 124 submarinos alemães e
mais 114 estavam em experiência no Báltico. No decorrer de 1942, o pior ano da batalha do Atlântico, foram
afundados 1.570 navios mercantes com quase oito milhões de toneladas. A Alemanha estava vencendo a batalha,
tendo perdido, até agosto de 1942, 105 submarinos, ou seja, uma perda mensal de 4,9% das unidades em operação.
Todavia, em fevereiro de 1943, foram afundados 19 U-Boats, em março, 15 e em abril, 16. Essas perdas já eram
elevadas, mas, em maio, uma série de ataques aeronavais no golfo de Gasconha afundou 37 submarinos, ou seja,
aproximadamente 30% de todos os submarinos no mar.
A batalha do Atlântico assumiu aspecto mais animador para os aliados que no decorrer desse ano de 1943
perderam menos da metade dos navios afundados no ano anterior. A Alemanha procurou elevar a produção de
submarinos de 30 para 40 por mês com sacrifício da produção numa série de setores importantes. O número de
submarinos em operação cresceu sempre, mas as escoltas aliadas eram cada vez mais eficientes. Em dezembro de
1943, a frota submarina consistia em 419 unidades, das quais 161 para operações, 168 em experiência e 90 usadas
para treinamento. Em junho de 1944, havia 181 U Boats em atividade, número que caiu para 140 em dezembro, em
virtude de perdas no mar e dos bombardeios aéreos dos estaleiros. Entretanto, a produção de submarinos fez uma
recuperação espetacular apesar de todas as dificuldades, e, em fevereiro de 1945, Doenitz informou a Hitler que 237
U Boats estavam sendo preparados. O total de 450 submarinos em comissão foi o máximo que a Alemanha possuiu,
mas esse máximo coincidiu justamente com um dos mínimos na destruição de navios aliados. Na última ofensiva
submarina, em abril de 1945, 57 submarinos foram destruídos, 33 no mar e 24 nos portos, por bombardeio aéreo, ao
passo que apenas 13 navios mercantes aliados foram afundados.
A frota de superfície alemã durante todo o conflito viu o número de seus navios diminuir. Uma a uma as
principais unidades foram sendo destruídas: primeiro o Graf Spee, ainda em 1939, depois a campanha da Noruega
desfalcou a esquadra de vários cruzadores e de mais de uma dezena de contratorpedeiros. Em 1941, o Bismarck foi
afundado; em 1943 o Schanhorst; em 1944 o von Tirpitz. No final da guerra, os bombardeios aéreos afundaram ou
danificaram outros navios mais. As perdas não foram substituídas, em virtude de a Alemanha ter consagrado aos
navios de superfície baixa prioridade no esforço de guerra, depois de 1942. Dessa forma, a construção do navio-
aeródromo Graf Zepelin foi suspensa, e depois do fracasso de um ataque de cruzadores germânicos a um comboio
inglês escoltado por contratorpedeiros por ordem de Hitler, não se cogitou mais da construção de navios de superfície
de porte alentado. Hitler chegou mesmo, na sua ira, a determinar a retirada dos canhões de grosso calibre dos navios
maiores, para utilizá-los como artilharia de campanha.
No final da guerra, os marinheiros dos navios de superfície alemães foram reunidos em divisões especiais e
marcharam para lutar nas trincheiras em defesa do solo ameaçado, tal como os franceses haviam feito em 1870, e os
russos em 1854.
Ao terminar a guerra, 156 submarinos germânicos renderam-se aos aliados e 221 foram destruídos pelas próprias
guarnições. Os poucos navios da Marinha de Guerra alemã, encontrados nos portos ocupados, foram distribuídos
pelas nações vencedoras. Da Marinha Mercante também restava pouca coisa.
Assim, pela segunda vez, em menos de trinta anos, a Alemanha perdeu a expressão como país marítimo; como
depois da Primeira Guerra Mundial, a vitalidade da economia germânica iria permitir em poucos anos o renascimento
da Marinha Mercante.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

3 - JAPÃO
Isolado do Ocidente até 1542, quando chegaram os primeiros navegadores portugueses, seguidos dos espanhóis,
o Japão reagiu duramente à presença europeia em seu território, caracterizada na época, principalmente, por missões
jesuíticas. Em 1616, foram mortos 37 mil cristãos japoneses e, a partir de 1648, fecharam-se os pontos estrangeiros,
isolando o país do resto do mundo por mais de dois séculos.
No século XIX, o Japão era dominado por uma aristocracia – os daimios – que se apoiava numa classe de
guerreiros profissionais, os samurais, numa estrutura que se assemelhava ao sistema feudal europeu. Apesar das
disputas entre os senhores feudais, o comando político efetivo do reino cabia ao xogunato, título criado no século
VIII para os comandantes militares. Ganhando poder e prestígio, ao longo dos séculos, essa instituição estava sob o
domínio de uma única família – Tokugawa (sucessora das dinastias reinantes dos Minamotos e dos Ashikaga) –, que
rivalizava com outros clãs poderosos, no século XIX.
Dessa forma, o imperador, denominado micado, exercia um pode apenas formal a jpartir da cidade sagrada de
Kyoto, enquanto o xogum estava instalado em Edo – antigo nome de Tóquio.
Em 1854, em plena era do expansionismo europeu e norte-americano, uma esquadra dos Estados Unidos,
comandada pelo almirante Perry, forçou a abertura dos portos japoneses ao comércio mundial. Sob ameaças militares,
foram assinados inicialmente acordos comerciais com os Estados Unidos e, em seguida, com vários outros países.
Com a abertura comercial japonesa, teve início a europeização do país, que passou por profundas transformações
econômicas, militares, técnicas e científicas. A sujeição do Japão ao Ocidente ativou o nacionalismo e a oposição ao
xogum por ter permitido a abertura. Apoiado pelos opositores às transformações, especialmente os clãs rivais do
xogunato, o imperador Mutsuhito – que desejava transformava o micado no verdadeiro poder nacional – promoveu a
centralização política. Inaugurou uma nova fase na história japonesa, iniciando a partir de 1868 a era do
industrialismo e da modernização, que ficou conhecida como Era Meiji.
Processou-se a partir de então a rápida industrialização do Japão, articulada a uma política imperialista sobre a
China. Objetivando tomar a região chinesa da Manchúria. O Japão declarou guerra à China, em 1894. Também
interessada na região a Rússia opôs-se e, em 1904, teve início a Guerra Russo-Japonesa, com a tomada, pelos
japoneses, de Port Arthur e de parte da ilha de Sacalina. Pelo tratado de Portsmouth, a Rússia acabou se rendendo à
supremacia japonesa sobre a China.
No início do século XX, o Japão havia se tornado um dos países mais avançados e poderosos do mundo, graças à
sua dinâmica desenvolvimentista, superior à de muitos países industriais do Ocidente. Como consequência,
promoveu, também, maior expansão colonialista, o que logo esbarrou no expansionismo norte-americano que
avançava sobre o oceano Pacífico, originando atritos entre as duas potências no decorrer das décadas de 1930 e 1940.

3.1 - O DESENVOLVIMENTO DO PODER NAVAL DO JAPÃO, SÉCULOS XIX E XX (Análise de João


Caminha)
Até a restauração Meiji (1868), o Japão era quase unicamente um país agrícola. A terra japonesa é, entretanto,
muito estéril, havendo pouco espaço para o desenvolvimento progressivo das lavouras, pois a natureza montanhosa
das ilhas e as rígidas temperaturas na grande ilha nórdica de Yeso impedem a expansão da cultura. Assim sendo, as
terras disponíveis no Japão nas quais se pode colher com aproveitamento oscilam apenas entre 15a 20%. Em grande
parte, as terras aproveitáveis destinam-se às culturas do arroz e da cevada que, com a pesca abundante nos mares
circunvizinhos, constituem a base da alimentação japonesa.
A restauração Meiji marcou uma mudança de época, transformando completamente o Japão numa moderna
nação industrial. A restauração teve lugar cerca de um século após a revolução industrial inglesa. A visita dos navios
negros conduzidos pelo Comodoro Perry à Uraga levantou a nação japonesa do estado sonolento que havia durado
mais de dois séculos devido à reclusão do mundo exterior. A abolição dos clãs governamentais e a completa mudança
de todas as instituições pollticas, sociais e econômicas introduziram O Japão no período de industrialização
capitalista. Durante dez anos, porém, a agitação interna provocada pelo novo estado de coisas impediu o progresso do
país.
Com o término da Rebelião Saigo em 1877, várias indústrias surgiram em rápida sucessão, e pouco a pouco o
comércio exterior se desenvolveu.
A navegação japonesa era então quase inteiramente costeira, e o comércio exterior era feito em porões
estrangeiros. Entretanto, com o correr dos anos o desenvolvimento do intercâmbio comercial com as outras nações
conduziu à fundação de várias companhias de navegação, todas elas amparadas pelo Governo.
Querendo ampliar cada vez mais o campo das atividades nacionais, o Japão adotou uma política de linhas
imperialistas, cuja finalidade principal era a conquista de novos mercados consumidores e fontes de matérias-primas.
Em conseqüência, o Governo japonês procurou desde cedo criar uma Marinha de Guerra capaz de atender à sua
política exterior.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A primeira manifestação concreta do imperialismo japonês foi a inesperada agressão à China em 1894. A recém-
criada Marinha logo alcançou o domínio absoluto do mar Amarelo, com a vitória de Yalu, abrindo caminho às forças
terrestres que não tiveram grande dificuldade em derrotar o Exército chinês. O efeito dessa guerra vitoriosa nos
negócios foi extraordinário. A guerra não só chamou a atenção do mundo para o Japão, como estimulou seu comércio
exterior. Além do mais, o Japão recebeu uma indenização da China de 400 milhões de taels para não mencionar a
aquisição de Formosa e a hegemonia na Coréia. Acima de tudo, a guerra deu confiança ao país na própria força e ca-
pacidade. Não é, pois, de estranhar que o comércio e os meios industriais, inativos por muitos anos, súbito entrassem
em período de grande animação e desenvolvimento. A vitalidade da nação, adormecida nos anos de depressões,
surgiu com energia durante a guerra e depois de seu término transladou-se para o comércio e para os
empreendimentos industriais. O comércio exterior recebeu impulso considerável, e o seu desenvolvimento continuou
nos anos seguintes. A lei de apoio à navegação, promulgada em 1896, acelerou o crescimento da navegação
ultramarina pelas Companhias Japonesas. Até 1887, cerca de 87% das exportações japonesas e 88% das importações
eram feitas em navios estrangeiros. Em 1901, as exportações em navios mercantes estrangeiros eram de apenas 48%.
A partir dessa época, a posição da navegação na economia nacional do Japão tornou-se muito importante, ocupando
lugar de destaque. na balança internacional de pagamentos do país.
Com interesses no ultramar acrescidos e não pretendendo abandonar as linhas-mestras de sua política
imperialista, o Japão não se deteve, após a guerra contra a China, na ampliação de sua frota de guerra. Em 1896, foi
estabelecido e aprovado pelo Parlamento um programa naval com uma despesa global de 95 milhões de iens para a
construção de navios e o equipamento dos portos. No ano seguinte, desde que se soube da intenção da Rússia de
concentrar uma frota poderosa no oceano Pacifico, um programa suplementar foi estabelecido o qual subia a 118
milhões de iens. O parlamento sancionou sem explicações esse esforço que impunha um fardo extremamente pesado
a todo o povo japonês. A maior parte dos navios foi encomendada no estrangeiro, principalmente na Inglaterra, pois o
estado da indústria de construção naval no Japão, que apenas nascia, não permitia contar com a execução rápida e
perfeita demanda.
Percebendo que os interesses antagônicos russo-japoneses só tenderiam a aumentar com o tempo, o Governo
japonês, assim que se sentiu forte no mar e em terra, determinou o ataque, sem declaração de guerra, à esquadra
tzarista fundeada em Porto Arthur.
Os japoneses assumiram vigorosamente a ofensiva em terra e no mar, desde o inicio das hostilidades, não dando
oportunidade aos russos para se recobrarem dos golpes iniciais ou concentrarem recursos. Bem treinados e bem
comandados, os nipônicos pouco a pouco cercaram de perto a Base Naval de Porto Arthur, por terra e mar. As
diversas tentativas russas para romper o cerco fracassaram. Depois de uma prolongada resistência, a praça se rendeu
em janeiro de 1905. Já então a esquadra russa no Pacífico praticamente deixara de existir. Os combates e as minas
tinham destruído um grande número de navios. As unidades restantes foram sabotadas em Porto Arthur quando a
queda da Base se tornou certa.
Num esforço supremo, a Rússia reuniu os navios das esquadras do mar Báltico e do mar Negro e os enviou, sob o
comando do Almirante Rodjestvensky, para o Extremo Oriente. Essa força naval, heterogênea e desorganizada,
empreendeu uma longa e exaustiva viagem do norte da Europa aos mares do Japão, contornando o sul da África. A
esquadra russa sofreu esmagadora derrota no estreito de Tsuchima, onde o Almirante Togo a interceptou com seus
navios mais rápidos, melhor comandados. Apenas três navios russos conseguiram escapar à destruição e ao cativeiro
e atingir Vladivostok. Com essa vitória naval, o Japão se colocou entre as grandes potências mundiais.
A vitória deu nova vida aos negócios, e em 1906 o povo tomou-se de febre por novos empreendimentos. O
comércio de exportação mostrou um incremento notável. As indústrias expandiram-se em ritmo mais acelerado ainda.
Em 1892, o número de operários nas fábricas era de aproximadamente 300 mil. Em 1897, já eram 440 mil e, em
1911, setecentos e noventa mil. De todas as indústrias as que mais se desenvolveram foram a de construções navais e
as relacionadas com as atividades marítimas para fins pacíficos ou não. Desde a guerra russo-japonesa, quando
constituíra e armara a maior parte de sua esquadra em estaleiros estrangeiros, o Japão procurou desenvolver as
próprias construções navais de maneira a não depender de ninguém no futuro.
Esse objetivo foi alcançado completamente, e em breve o Japão conseguiu não somente utilizar os próprios aços,
pólvoras, carvão e viveres, mas também as próprias produções técnicas para o Exército e para a Marinha. Dai por diante o
progresso não cessou, e já na Primeira Grande Guerra a maioria dos navios japoneses era de construção nacional. Osaka,
Kioto, Yokoama, Nagasaki, Kobe, Wakudate transformaram-se em centros marítimos e industriais de importância
mundial. A capacidade anual dos estaleiros japoneses já então ultrapassava 600 mil toneladas, facilitando o rápido
desenvolvimento da Marinha Mercante que de 528 navios com 330 mil toneladas em 1895 alcançou 1.390 unidades em
1905 com 930 mil toneladas, para atingir em 1929 mais de quatro bilhões de toneladas.
Da segunda década do século até a Segunda Guerra Mundial, o Japão teve a terceira Marinha Mercante do mundo, só
sendo ultrapassada pela Inglaterra e pelos Estados Unidos. De todos os empreendimentos levados a cabo no país desde a
restauração Meigi, nenhum tivera maior sucesso, embora o progresso noutros setores também fosse notável, bastando
notar que o número-índice de produção geral do Japão foi 475 em 1931, tomando como base 100, em 1905, ao término da
guerra russo-japonesa com o número de fábricas aumentando de 32.390, em 1909, para 67.318 em 1932.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Outro setor de atividade onde o povo japonês se distinguiu foi na pesca marítima. A linha da costa nipônica é
irregular e daí ser longa em comparação com a área das ilhas. As ilhas também são cercadas em alguns lugares por
correntes marítimas quentes e noutros por correntes frias o que favorece, sobremodo, o aparecimento de espécies
diversas. A posição natural e as proximidades dos centros de consumo fizeram, naturalmente, a pesca se desenvolver
desde a Antiguidade. Antes, porém, de se ocidentalizar, a pesca no Japão era, sobretudo costeira, enquanto mais
recentemente a esfera de atividade de pesca dos japoneses é muito grande, ocupando um terço das áreas de pesca do
mundo. Ela cobre o estreito de Behring, a Austrália, a Nova Zelândia e o oceano Índico.
Premido pela pobreza do solo e pelo aumento da população a buscar no mar os recursos indispensáveis à vida,
nenhum povo retira das águas tantas riquezas quanto o japonês. A pesca fornece mais de cinco milhões de toneladas
de peixe, anualmente. A pesca em águas russas foi um importante direito concedido ao Japão pelo Tratado de
Portmouth, que pôs fim à guerra de 1904-05, o que revela a preocupação constante do Governo nesse particular.
Ainda é do mar que os japoneses retiram algas utilizadas na alimentação do povo e uma série de outras riquezas para
a exportação. Outrossim, a participação de produtos marítimos na exportação japonesa é realmente notável, oscilando
em torno de 10% do total.
Por conseguinte, tanto para a subsistência do povo como para manter sua atividade econômica, o Japão dependia do
mar e de fontes de matéria-prima externas. A gigantesca industrialização do país e o aumento da população tornaram cada
vez maior a dependência do exterior. Em relação a carvão, cobre, depósito de ferro sulfuroso, enxofre, o Japão era auto-
suficiente, mas produtos minerais mais importantes para a indústria e para fins de ferro sulfuroso e enxofre, o Japão era
auto-suficiente, mas depósitos eram inadequados. Por essa razão, o Japão procurou ansiosamente fontes permanentes de
suprimento. A China, a Rússia, as índias Orientais Holandesas e os Estados Unidos forneciam ao Japão a maior parte das
matérias-primas que faltavam, mas todas essas nações ou eram possíveis inimigos, ou controlados por potências rivais.
Prosseguindo na sua política imperialista, o Japão invadiu a Mandchúria em 1931 de onde passou a extrair ferro e
carvão. Em 1937 atacou a China, ocupando as regiões mais ricas daquele país. Em 1940, depois da queda da França,
ocupou a Indochina e, por fim, aproveitando as dificuldades das potências anglo-saxônias na Europa, lançou as vistas para
as índias Orientais Holandesas, ricas em petróleo, borracha e muitas outras matérias-primas. A Holanda, a Inglaterra e os
Estados Unidos evidentemente não estavam inclinados a cederem as ricas áreas da Indonésia, e o Japão decidiu pela
guerra.
Os japoneses tinham, no começo, a intenção de fazer uma guerra relâmpago. O plano fundamental consistia em
avançar rapidamente para o sul, a fim de se apoderarem das regiões onde se encontravam os recursos cuja importância
estratégica era vital. Eles contavam estabelecer, em seguida, um perímetro em defesa, a leste e a oeste, ao abrigo dos quais
esses recursos poderiam ser explorados. Esperavam organizar assim uma defesa escalonada em profundidade, cuja ruptura
se poderia mostrar tão difícil que os Estados Unidos seriam susceptíveis de cessar a guerra e procurar uma paz de
compromisso.
A condição fundamental para o sucesso desse plano era a realização de uma batalha decisiva com a esquadra
americana no início das hostilidades. a fim de destruí-la antes que o imenso poderio industrial da América se fizesse sentir
no teatro de guerra. Para levar a cabo o plano, o Japão dispunha da terceira Marinha de Guerra do mundo a qual, entre as
duas guerras, fora notavelmente desenvolvida com pesados sacrifícios para o povo.
A primeira parte do plano foi executada ultrapassando' as previsões mais otimistas. As Filipinas, as Índias Orientais
Holandesas e a Malásia, com a Base Naval de Singapura, caíram antes das datas previstas. A Marinha japonesa expulsou
ou destruiu em sanguinolentos encontros as forças navais holandesas, americanas e inglesas. A segunda parte do plano foi
cumprida apenas em parte. A Marinha americana sofrera um rude golpe em Pearl Harbour, mas impunha-se um outro
encontro para reduzi-Ia à impotência. A batalha do mar Coral não trouxe, também, a decisão almejada. Essa esperança
desvaneceu-se em junho de 1942, em Midway, em conseqüência de uma operação imaginada pelo Almirante Yamamoto
para criar a ocasião almejada para a batalha. No decorrer da operação, os japoneses perderam quatro de seus melhores
navios-aeródromo e com eles a melhor oportunidade que tiveram de conseguir a batalha final.
O que Midway começara foi terminado pela Campanha das Salomão que, de agosto de 1942 até fins de 1943, causou
desgaste considerável à Marinha japonesa. Tolhida pelo número de seus navios e tendo falta de pilotos treinados, a força
de navios aeródromo japoneses se encontrou reduzida à impotência. A idéia de apoiar a defesa do perímetro, pela Marinha,
foi abandonada no fim de 1943, e quando os americanos desembarcaram nas Marshall, a esquadra deixou Truk pelas
Carolinas Ocidentais abandonando à sua sorte as guarnições avançadas. Cada vez mais inferiorizado face à Marinha
americana em meios de superfície aéreos, o Japão perdeu a iniciativa no Pacifico.
Além da perda de poderio ofensivo de sua esquadra, dois outros graves problemas pesavam na estratégia marítima
japonesa. Em primeiro lugar, era-lhes preciso proteger seu tráfego marítimo, sangue do Império. Fato estranho: os
japoneses negligenciaram completamente a ameaça submarina a despeito dos sucessos alcançados pela Alemanha no
decorrer das duas guerras mundiais, erro tanto mais grave em virtude de o Japão não poder construir navios senão em
número limitado. As conseqüências dessa falta capital foram agravadas pelas perdas em contratorpedeiros e outros navios
de escolta no decorrer da longa campanha das Salomão, o que colocou o Comando Naval na impossibilidade de proteger
eficazmente a Marinha Mercante. O acréscimo súbito da destruição ocasionada pelos submarinos, no fim de 1943,
prometia levar ao desastre uma nação cuja capacidade de continuar a guerra repousava unicamente no intercâmbio
marítimo.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Enfim, os japoneses foram terrivelmente prejudicados pela falta de combustível, falta essa que aumentou
consideravelmente suas dificuldades militares. Eles tinham entrado na guerra com uma tonelagem de petroleiros
completamente insuficiente, e os sucessos logrados pelos submarinos americanos agravaram rapidamente a situação.
Se o Japão pôde conquistar no primeiro arranco as regiões mais ricas em petróleo do mundo, não resolveu jamais o
problema dos transportes e dos suprimentos de combustível líquido elemento essencial à guerra moderna. Os es-
toques disponíveis não cessaram de diminuir até o fim do conflito.
Entretanto, a despeito de todas as dificuldades, a ameaça criada pela invasão de Saipan obrigou o Japão a arriscar
a esquadra. A aviação dos navios-aeródromo estava mais ou menos reconstituída e treinada. Reinava um grande
otimismo a respeito do resultado que ela poderia obter. Na batalha do mar das Filipinas, a 19 e 20 de junho de 1944,
os japoneses tiveram a registrar, entretanto, a perda de três navios-aeródromo (dos quais dois foram afundados por
submarinos oue furaram a barreira insuficiente dos contratorpedeiros), mais outro navio-aeródromo foi avariado, e a
aviação embarcada foi quase totalmente destruída.
Pelo meio do verão de 1944, o Japão se encontrava em grande perigo. Enfraquecido intensamente pelas perdas
experimentadas em certas categorias de armas, cambaleando sob os golpes sucessivos e incessantes dos americanos,
os japoneses não tinham realizado o desejo de travar uma batalha naval decisiva. A destruição de navios de comércio
realizada pelos submarinos e pelos aviões dos navios-aeródromo paralisava cada vez mais eficazmente a economia de
guerra, e os laços que ligavam a metrópole às regiões do sul, onde encontravam os recursos indispensáveis,
afrouxavam dia a dia.
Em outubro de 1944, ante o desembarque americano nas Filipinas, que ameaçava cortar definitivamente as
comunicações marítimas da metrópole com as fontes de matéria-prima do sul, o Japão lançou todos os navios e
aviões remanescentes de sua Marinha em busca de uma batalha decisiva. De 21 a 26 de outubro, feriu-se a grande
batalha de Leyte que praticamente pôs fim à Marinha do Mikado como força combativa. Em cinco dias o Japão
perdeu quatro navios-aeródromo, três encouraçados, seis cruzadores pesados, quatro cruzadores ligeiros e onze
contratorpedeiros. Muitos outros navios foram gravemente avariados. A derrota causou uma confusão e uma
desorganização que tornaram os navios remanescentes presas fáceis para as aeronaves dos porta-aviões americanos,
para os submarinos e navios ligeiros. No fim de janeiro novas perdas haviam custado ao Japão um encouraçado, dois
grandes navios-aeródromo, um navio aeródromo de escolta, três cruzadores e vinte e um contratorpedeiros.
Ao todo, no decorrer da guerra, a Marinha Imperial japonesa perdeu 328 navios dos 489 que estiveram em
serviço. Quanto à Marinha Mercante, perdeu 4.780.000 toneladas de navios, a maior parte dos quais, 63%, afundados
pelos submarinos americanos. Restava apenas pouco mais de 1 milhão de toneladas de navios mercantes, em agosto
de 1945. Os vinte e dois estaleiros existentes no Japão não conseguiram construir mais do que um milhão de
toneladas por ano, o que não bastou para compensar as perdas.
No final da guerra, o Japão tinha seus exércitos praticamente intactos e ainda uma grande Força Aérea, mas a
Marinha de Guerra, a Frota Mercante e as áreas industriais estavam devastadas. Sem Marinha para proteger as linhas
de suprimentos, sem navios para carregar as matérias-primas e sem fábricas para efetivar a transformação desse
material em equipamento, a nação japonesa era incapaz de continuar a luta. Seria erro supor que a sorte do Japão foi
determinada pela bomba atômica. Sua derrota era coisa certa antes mesmo que tivesse caído a primeira bomba e foi
provocada pelo esmagador poderio naval. Somente isso é que tornou possível o domínio das bases oceânicas de onde
se desfecharia o ataque final e forçaria o exército metropolitano a capitular sem tardança.
No pós-guerra, o Japão, desmembrado de suas antigas possessões em Formosa, na Mandchúria, na China, na
Coréia e nas Ilhas do Pacifico, atirou-se mais uma vez para o mar em busca do amparo econômico.
Na pesca e, sobretudo na construção naval voltaram os japoneses a se destacar no cenário mundial. Não é de crer,
entretanto, que a China ou a URSS permitam o ressurgimento do Poder Marítimo japonês na sua antiga plenitude.

4 - OS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX


A organização política do novo Estado norte-americano, após a declaração de sua independência (1776),
realizou-se em meio a duas tendências partidárias: a republicana, defendida por Thomas Jefferson, que desejava
maior autonomia para os Estados e que deu origem ao atual Partido Democrático, e a federalista, sustentada por
Alexander Hamilton, que defendia um forte governo central e que foi o embrião do atual Partido Republicano.
As duas tendências foram combinadas na constituição de 1787, elaborada por deputados dos 13 Estados iniciais,
com a organização de uma república federativa presidencial e assegurando a cada Estado da federação o direito de ter
sua própria constituição. O poder executivo ficaria com o presidente eleito por seis anos e o legislativo, com a
Câmara de Deputados e o Senado. À Suprema Corte de Justiça caberia o poder judiciário e a função de zelar pela
constituição. Em 1789, o Congresso elegeu George Washington o primeiro presidente dos Estados Unidos.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

4.1 - CONSOLIDAÇÃO E EXPANSÃO DO NOVO ESTADO


Durante a presidência de Washington (1789-1797), consolidou-se o desenvolvimento comercial, industrial e
financeiro do país, atraindo, por isso, um grande número de imigrantes europeus. A população nacional, que na época
da independência era de 3,5 milhões de habitantes, em 1810 chegava a mais de 7 milhões. O progressismo e o
crescimento demográfico estimularam a conquista de territórios na América do Norte (expansão interior) e a
ampliação da atuação econômica em todo o continente americano (expansão exterior).
O crescente comércio norte-americano foi indiretamente afetado pelas guerras napoleônicas e pelo bloqueio
continental europeu, devido a pressões da Inglaterra, maior inimiga do Império Francês e sua rival na conquista de
novos mercados, que desejava barrar as relações comerciais dos Estados Unidos com os países europeus e mesmo
com as nações latino-americanas.
O expansionismo norte-americano, que ambicionava adquirir a região do Canadá, somado aos atritos comerciais,
levou à Segunda Guerra de Independência (1812-1814). A assinatura da Paz Eterna de Gand, ao final da guerra,
confirmava a região dos Grandes Lagos como zona neutra e fixava a fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá
inglês.
A guerra despertou o sentimento nacionalista norte-americano com relação à unidade territorial e à ameaça das
potências que compunham a Santa Aliança ao crescente comércio entre os Estados Unidos e a América Latina
independente. Este nacionalismo foi expresso na Doutrina Monroe através de uma mensagem do presidente James
Monroe ao Congresso, que foi assim resumida: “A América para os americanos”.
A Doutrina Monroe corporificou politicamente a expansão econômica internacional dos Estados Unidos,
fundamental para o desenvolvimento capitalista do país. A expansão interior, por meio da conquista de territórios na
América do Norte, iniciou-se com a corrida para o Oeste. A partir da faixa atlântica, correspondente às antigas 13
colônias, os pioneiros avançaram para o interior até chegar à costa ocidental, alcançando o oceano Pacífico.
As dimensões continentais do país, em meados do século XIX, haviam sido atingidas pela expropriação de
nativos e povos vizinhos ou da compra de áreas coloniais pertencentes a potências européias, como a compra da
Louisiana à França (1803), da Flórida à Espanha (1819) e do Alasca à Rússia (1867) e a anexação dos territórios
mexicanos do Texas, Califórnia, Novo México, Arizona, Utah e Nevada após a guerra contra o México (1848).
O avanço territorial norte-americano, justificado pelo papel que os Estados Unidos se impunham de dominar as
áreas entre o Atlântico e o Pacífico – doutrina do Destino Manifesto –, processou-se em função da expansão
capitalista internacional. A conquista da Costa Oeste até o oceano Pacífico deu aos Estados Unidos acesso direto ao
Oriente e lhes propiciou os cobiçados mercados da China e do Japão. A anexação da Flórida, por sua vez, abriu
caminho para o golfo do México e o mar das Antilhas, pontos importantes para alcançar toda a América Latina.

4.2 - A GUERRA DE SECESSÃO (1861-1865)


Ao mesmo tempo que se davam a expansão territorial e econômica e o desenvolvimento capitalista dos Estados
Unidos, crescia a rivalidade econômica, social e política entre os Estados do Norte e os do Sul. Suas diferenças
remontavam à época colonial: ao norte, estabeleceu-se uma colonização de povoamento, com pequenas propriedades
agrícolas, trabalho livre, comércio dinâmico e uma economia que propicia intensa capitalização, culminando na
industrialização do início do século XIX. Ao sul, ao contrário, estabeleceram-se colônias de exploração baseadas na
monocultura para exportação e no latifúndio escravista, com a formação de uma poderosa aristocracia rural.
Por volta de 1860, o Norte dos Estados Unidos, industrializado e progressista, encontrava no Sul poderosos
entraves ao seu desenvolvimento, interessando-lhe eliminar a escravidão, base do trabalho latifundiário. Isso
representaria um aumento expressivo de mão-de-obra assalariada para suas indústrias, barateando a produção, além
de ampliar o mercado consumidor.
Os nortistas defendiam também a elevação das tarifas alfandegárias, medida que visava proteger sua produção
industrial da concorrência externa. Para o Sul, ao contrária, cuja produção estava voltada para o atendimento do
mercado externo, interessava o livre-cambismo com relação às tarifas alfandegárias, o que lhes garantiria as
exportações.
Os partidos que representavam as divergências políticas norte-americanas eram o Partido Republicano, mais
representativo das ambições burguesas e industriais nortistas, e o Partido Democrata, controlado pela aristocracia
sulista, firme defensora das autonomias dos Estados.
Em 1860, o nortista Abraham Lincoln, líder do Partido Republicano, venceu as eleições presidenciais, com base
na plataforma política que defendia tarifas protecionistas e união a todo preço, referindo-se ao autonomismo dos
sulistas. Descontentes com a vitória de Lincoln, os Estados do Sul, liderados pela Carolina do Sul, separaram-se da
União. Formaram os Estados Confederados da América, com capital em Richmond, na Virgínia, tendo como
presidente Jefferson Davis.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Devido à auto-suficiência de sua economia, que garantia o uso de armas e navios construídos por eles mesmos,
os Estados do Norte (federalistas) conseguiram derrotar as forças sulistas (confederadas). Na guerra, que durou quatro
anos e mobilizou mais de 2,5 milhões de homens, utilizaram-se recursos bélicos modernos, como o telégrafo, as
ferrovias para transporte de tropas e suprimentos, trincheiras e embarcações que eram protótipos dos couraçadas e
cruzadores.
A vitória do Norte consolidou sua supremacia política e econômica, enquanto o Sul saía totalmente arrasado.
Morreram na guerra mais de 600 mil pessoas.
Em janeiro de 1863, ainda em meio à guerra, Lincoln tinha assinado a Proclamação da Emancipação, um decreto
que determinava a libertação dos escravos apenas nas áreas rebeldes (Sul), medida justificada sob o fundamento de
“necessidade militar”. Mas foi somente em 1865, com a completa vitória militar nortista, que se aprovou a décima
terceira emenda à constituição norte-americana, proibindo a escravidão em todo o país. Em 14 de abril de 1865, cinco
dias após a rendição dos confederados, Lincoln foi assassinado por um fanático sulista, John Wilkes Booth.
Os 4,5 milhões de negros libertos, porém, não passaram a ter os mesmos direitos que os brancos. Manteve-se a
segregação social e política que motivaria seguidas lutas e radicalismos pelo resto do século XIX e também durante o
século XX, como o do grupo de origem sulista e racista, Ku-Klux-Klan, que nega a integração social dos negros nos
Estados Unidos.

4.3 - UMA POTÊNCIA MUNDIAL EMERGENTE


O progresso industrial norte-americano foi acelerado pela vitória dos nortistas sobre o Sul, levando o país a
ultrapassar a França, a Alemanha e até a Inglaterra em produtividade e desenvolvimento econômico, transformando-
se, já no final do século XIX, na primeira potência mundial. A prosperidade tornou-se atrativa à imigração,
impulsionando o crescimento demográfico: de pouco mais de 30 milhões de habitantes em 1865, a população passou
para 90 milhões em 1914.
A consolidação do capitalismo após a Guerra de Secessão favoreceu também o expansionismo imperialista norte-
americano para o restante do continente americano e a Ásia. A Doutrina Monroe e a teoria do Destino Manifesto
serviram de base ideológica para que os Estados Unidos assumissem a tutela sobre toda a América, especialmente da
América Central.
Adaptados pelo presidente Theodore Roosevelt (1901-1909), os fundamentos da Doutrina Monroe passaram a
ser conhecidos como Corolário Roosevelt. Visando preservar seus interesses econômicos e políticos, os Estados
Unidos garantiram-se o direito de usar a força para intervir nos países do continente, na posição de “salvadores da
América”. Das várias intervenções norte-americanas na América Latina, desde o final do século XIX até as últimas
décadas do XX, destacaram-se as efetuadas em Cuba, no Panamá e na Nicarágua.
A colônia espanhola de Cuba lutava, em 1898, por sua independência sob a liderança de José Martí. Sob o
pretexto de proteger propriedades e vidas de norte-americanos, os Estados Unidos intervieram na região, combatendo
os espanhóis e garantindo a independência cubana e a anexação de Porto Rico, no Caribe, e das Filipinas, no oceano
Pacífico.
Por imposição norte-americana, foi acrescentada à constituição de Cuba de 1901 a Emenda Platt, que instituía o
direito de intervenção dos Estados Unidos no país, além de conceder aos norte-americanos uma área de 117
quilômetros quadrados, a baía de Guantánamo, ainda hoje base militar americana em solo cubano. O
intervencionismo dos Estados Unidos vigorou no país até a Revolução de 1959, quando Fidel Castro assumiu o
governo da ilha, instalando um regime socialista.
O movimento separatista dos panamenhos em relação à Colômbia também foi estimulado pelos Estados Unidos,
em 1903, que recebeu o direito de continuar a construção de um canal ligando o Atlântico ao Pacífico, trabalho
iniciado um pouco antes (1881) pelos franceses. Pouco depois, obtiveram do governo do Panamá o controle perpétuo
da Zona do Canal. Na década de 1970, entretanto, uma campanha nacionalista promovida pelo governo panamenho
retificou esse acordo, comprometendo-se os Estados Unidos a devolver o canal ao Panamá até o final do século XX, o
que ocorreu em 31 de dezembro de 1999.
Os Estados Unidos intervieram na Nicarágua, em 1909, ocupando-a militarmente até 1933, a fim de estabilizar a
região, que vivia intensas lutas camponesas. Na luta contra a presença militar dos Estados Unidos destacou-se o
camponês guerrilheiro Augusto César Sandino. Transformado em herói nacional, seu nome inspiraria, décadas mais
tarde, outro movimento nacionalista para a derrubada da ditadura de Anastácio Somoza (1979), aliado dos Estados
Unidos.
Com as intervenções militares na América Latina, os Estados Unidos acabaram exercendo completa tutela
econômica na região, processo que se integrou à sua crescente supremacia mundial. Após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), especialmente, e também depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos
conquistaram a plena consolidação do seu progressismo, desbancando a tradicional liderança e hegemonia capitalista
inglesa.

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4.4 - O DESENVOLVIMENTO DO PODER NAVAL DOS ESTADOS, SÉCULOS XVIII, XIX E XX (Análise
de João Caminha)
Ao longo de todo o período colonial, a partir do século XVII, a grande causa de irritação dos colonos contra a
metrópole eram as Leis de Navegação. O famoso "Ato de Navegação" posto em vigor por Cromwell, em 1660, interditou
as colônias inglesas a importação e exportação de toda mercadoria, a não ser em navios ingleses ou coloniais. Proibiu,
além disso, que certos artigos, tais como o fumo, açúcar, algodão, lã, madeiras comuns, madeiras de tintura etc., fossem
encaminhados para outros países que não a Inglaterra ou domínios seus. A essa lista juntaram-se mais tarde outros artigos.
Havia ainda outras leis do mesmo gênero: as leis sobre os cereais e as leis contra as manufaturas; as primeiras, feitas para
favorecer o fazendeiro inglês, entraram em vigor em 1666. Elas interditavam, praticamente, o mercado inglês aos cereais
cultivados nas colônias. Esse procedimento levou Nova Inglaterra e Nova York a fabricarem objetos manufaturados, ao
que a Inglaterra respondeu, interditando a produção industrial nas colônias. A lei inglesa mais dura nessa campanha de
supressão do comércio colonial foi provavelmente a sobre o açúcar, em 1733. O Governo britânico procedia dessa forma
baseado no princípio, então admitido por todas as nações européias, de que as colônias existiam para enriquecer a Mãe-
Pátria. Esse princípio levava a subordinação dos interesses coloniais aos interesses da metrópole. O fim da Grã-Bretanha
era exportar para a América produtos manufaturados e ao mesmo tempo importar matérias-primas, fazendo inclinar a
balança comercial a seu favor. Em 1759, o total de exportações da Nova Inglaterra para a Grã-Bretanha elevou-se a 38.000
libras e as importações a 600.000 libras.
Num ponto a política inglesa estimulou grandemente a indústria americana: a construção de navios da Nova
Inglaterra em virtude das Leis de Navegação colocaram os navios construídos nas colônias no mesmo pé dos navios
de origem inglesa.
Essas leis exclusivistas motivaram a insatisfação dos colonos com o domínio da metrópole, e bem cedo,
sobretudo depois da Guerra dos Sete Anos, outras causas vieram aumentar o mal-estar. A irritação foi crescendo com
o correr dos anos, e por fim, eclodiu a rebelião aberta. Com a guerra surgiu a necessidade de ser criada uma força
naval, mas os colonos preferiram, na luta no mar, dedicar-se sobretudo à rendosa guerra de corso. Numerosos navios
particulares foram empregados como corsários e destruíram um número muito grande de navios mercantes ingleses.
Quase todos os Estados enviaram corsários contra o inimigo. Massachusetts forneceu mais de quinhentos; a
Pensilvânia quase o mesmo número.
Em 1775, o Congresso ordenou a construção de uma frota nacional, e um ano depois treze navios estavam
terminados. Alguns desses navios não chegaram a se fazer ao mar; quase todos os outros foram capturados ou
queimados antes do fim da guerra, não, todavia, sem terem prestado antes grandes serviços ao país.
Concluída a aliança com a França, a poderosa frota desse país foi empregada no serviço da causa patriota.
Juntou-se a ela, posteriormente, a Frota espanhola com a declaração de guerra da Espanha à Inglaterra em 1779. A
Inglaterra iria contar, ainda, com um outro inimigo. Pelo fim de 1780, arrebentou a guerra com a Holanda, e, desde
então, foi necessário à Grã-Bretanha lutar contra três grandes potências européias além da América.
Nos mares, coube à Marinha francesa o papel preponderante. Com a Royal Navy dispersa por todo o mundo, lutando
contra três grandes potências navais, a Inglaterra perdeu para a França o controle dos mares junto às colônias revoltadas, e
suas forças de terra, desamparadas da metrópole, foram obrigadas à rendição, face ao Exército franco-americano.
A Grã-Bretanha vencida assinou a paz em 1783. Também nesse Tratado percebe-se a importância que os
dirigentes britânicos sempre deram aos assuntos marítimos. O Mississipi ficava aberto aos navios americanos e
ingleses. Os americanos continuavam com direitos de pesca nas costas da Terra Nova e do golfo de São Lourenço.
Foi assim que no decorrer da Guerra da Independência surgiu a Marinha americana, mas a massa heterogênea que a
constituía (corsários particulares, navios pertencentes às colônias e navios armados pelo Congresso) dissolveu-se no
caos que se seguiu à guerra. Em 1785, ano da venda do último navio, os Estados Unidos não possuíam um só navio
de guerra. Entretanto, muito pouco tempo depois do fim da Guerra da Independência, a necessidade de uma marinha
fez-se sentir em virtude da captura de navios mercantes americanos pelos corsários do Bei de Alger. Em 1793, os
corsários argelinos espalhavam-se no Atlântico e em um mês capturaram onze navios americanos. Essa situação
vergonhosa levou enfim o Congresso a tomar medidas, e no ano seguinte foi iniciada a construção de várias fragatas.
Os navios recém-construídos não tiveram, porém, o batismo de fogo em luta contra os piratas do Norte da África e
sim na guerra contra os corsários franceses das Antilhas. As operações navais contra a França duraram ao todo cerca
de dois anos e meio. A guerra nunca foi formalmente declarada, desenrolando-se apenas nas Antilhas e foi muito
proveitosa à jovem Marinha americana. O grande acréscimo das exportações, devido à proteção dada pelos cruzeiros
de navios americanos e os brilhantes sucessos obtidos nos combates navais deram à Marinha uma popularidade
necessária naqueles dias em que a manutenção de um navio de guerra parecia a muitos ameaça de monarquismo.
Mal terminadas as lutas contra os corsários franceses, a Marinha americana levou a cabo uma série de operações
navais no Mediterrâneo contra o Bei de Tripoli. A guerra contra os norte-africanos serviu para proporcionar uma
certa expansão à Marinha. A duração relativamente longa da luta (1801-06) nesse teatro afastado de operações,
aprimorou o valor combativo das guarnições. Estas vantagens seriam apreciadas devidamente cerca de dez anos
depois na guerra contra a Inglaterra.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Malgrado o contratempo representado pelas operações nas Antilhas e no Mediterrâneo, o comércio marítimo
americano expandia-se rapidamente. As guerras napoleônicas absorveram de tal forma as populações da Europa que
uma parte sempre crescente do comércio marítimo coube à América. Durante vinte anos os lucros desse comércio
foram enormes, e a navegação mercante progrediu a passos de gigante. Em 1790 o valor total das exportações dos
Estados Unidos elevara-se a 19 milhões de dólares; cinco anos mais tarde, 26 milhões de dólares de mercadorias
procedentes somente das possessões francesas, holandesas e espanholas foram importadas para serem em seguida
reexportadas. Em 1806, o valor das reexportações elevou-se a 60 milhões de dólares. Não é de estranhar que a
Inglaterra se tenha sentido alarmada quanto ao futuro de sua supremacia marítima e, dedicando-se ainda à fase
econômica de sua luta contra Napoleão, ela pôs em vigor medidas restritivas. A Inglaterra declarou então bloqueio
geral da França, desde o Elba até Brest, com um bloqueio cerrado do Sena e Ostende (ato do Conselho de 16 de maio
de 1806). Napoleão respondeu com o famoso decreto de Berlim (21 de novembro de 1806), o qual declarou as Ilhas
Britânicas, dali por diante, em estado de bloqueio. O comércio americano encontrava-se assim entre as duas pedras de
mó. O remédio previsto pelo Presidente Jefferson para todos esses problemas foi a coerção pacífica. Em 1807, ele
decretou para todos os navios empregados no comércio exterior um embargo que durou quinze meses e que custou
oito milhões de dólares só aos comerciantes da Nova Inglaterra. O embargo foi extremamente impopular nos Estados
Unidos que sofreram bem mais que a Europa. O espetáculo oferecido pelo país era o mais desolador. Os navios
ficavam a apodrecer nos portos. Cereais, algodão, fumo e outros produtos acumulavam-se nos celeiros dos fazen-
deiros do Norte, dos plantadores do Sul e ao longo do cais nos portos de mar. A maior parte dos historiadores vê no
voto e na aplicação do embargo um grande erro de Jefferson. As conseqüências do embargo para a França foram
mínimas. Napoleão lançou o decreto de Bayonne que determinou a captura de todos os navios americanos
encontrados nas águas francesas, espanholas e italianas. Ele confiscou assim mais de duzentos navios americanos. O
embargo afetou mais a Inglaterra, mas mesmo lá os efeitos foram inferiores aos esperados. A guerra contra a In-
glaterra foi, contudo, adiada para o período presidencial seguinte.
Durante a presidência de Madison, no quatriênio que se seguiu, ante a inquietante situação internacional, foi
proposta no Congresso a construção de uma esquadra relativamente poderosa de 10 navios de linha e 20 fragatas,
porém o Congresso, dominado pela oposição Jeffersoniana contrária à política armamentista naval, julgou a proposta
custosa e perigosa para a liberdade pública. Em conseqüência, ao ser iniciada a guerra contra a Inglaterra em 1812, a
Marinha americana compunha-se de apenas dezesseis navios em estado de servir. Além disso, havia 257 chalupas
canhoneiras construídas nos anos precedentes, pois Jefferson, que se opunha tão violentamente à Marinha, tinha
grande confiança nesse tipo de embarcação, destinada à defesa das costas. Tais embarcações, entretanto, se
mostrariam sem valor. Durante esse conflito, as fragatas americanas, melhor construídas, venceram uma série de
combates singulares contra congêneres ingleses. Esses êxitos parciais, todavia, não puderam evitar o absoluto
controle dos mares pela esmagadora superioridade naval dos britânicos. O comércio americano foi banido dos
oceanos, e os ingleses desembarcaram tropas a seu bel prazer no litoral dos Estados Unidos, chegando mesmo a
incendiar Washington. O que restava da pequena Marinha americana ficou bloqueado nos portos. A retaliação
americana foi a guerra de corso. A perda que sofreu o comércio marítimo inglês durante os dois anos e meio de
guerra foi incalculável. O Congresso autorizou cerca de duzentos e cinqüenta corsários que varreram os oceanos à
cata dos infelizes navios mercantes, capturando centenas deles. Estima-se em 600 o número de navios mercantes
ingleses vítimas dos corsários e dos navios de guerra americanos. Um grande número deles, porém, foi retomado
pelos ingleses, antes de atingir portos americanos.
Com o fim da guerra em 1815, a Marinha Mercante americana voltou à senda do progresso. Na Nova Inglaterra,
a construção naval atingiu elevados índices de perfeição, e de suas carreiras saíram os famosos Clippers, os navios
mais velozes da Marinha a vela, os quais chegavam a navegar mais de 420 milhas em 24 horas.
A partir de meados do século, a Marinha de Comércio americana entrou em decadência. Vários fatores concorreram
para esse fim, mas o principal foi o fracasso da construção naval do país em acompanhar a evolução da vela para o vapor e
da madeira para o ferro. Outra razão foi a marcha para o Oeste que então se processava, absorvendo todas as atenções e
todos os interesses, com o correspondente crescimento das estradas de ferro. O deflagrar da Guerra Civil foi o sopro que
acabou com a fase áurea da Marinha Mercante dos Estados Unidos. Paralelamente, a Marinha de Guerra dos Estados
Unidos não fez grandes progressos após a paz de 1815. Ela foi empregada numa série de operações secundárias, tais como
na guerra contra o Bei de Alger e nas operações que suprimiram a pirataria nas Antilhas. Sua ação contra o México foi
muito restrita em face da não existência de oposição nos mares. Digna de nota foi a ação do Comodoro Perry no Japão em
1854, abrindo aquele país ao comércio mundial.
Ao começar a Guerra Civil, a Marinha dos Estados Unidos estava em precário estado. A 4 de março de 1861,
quando o Presidente Lincoln prestou juramento assumindo as funções, ela tinha em serviço, compreendendo navios
de transporte e auxiliares, 42 navios, dos quais apenas 23 movidos a vapor poderiam ser considerados de algum valor.
Por sua cegueira e indiferença, o Congresso havia desorganizado a Marinha quase tanto quanto havia feito a
administração. Em seguida ao desastre financeiro de 1857, a renda da Nação tinha diminuído, e, nos esforços de
economia, o Congresso havia destruído a Marinha. A oposição às construções e mesmo aos reparos dos navios vinha
tanto dos Estados do Norte quanto dos Estados do Sul. Os membros do Congresso pelo Ohio e o Illinois conduziam o
ataque ao orçamento da Marinha e à Marinha propriamente dita. No seu conjunto, o Congresso era apático.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A Guerra Civil começou com o bombardeio do Forte Sumter a 12 de abril de 1861. O novo Ministro da Marinha,
capaz, ocupou-se logo com vigor da direção dos assuntos navais. Foram estabelecidos rapidamente planos para o
rearmamento naval. O orçamento da Marinha votado pelo Congresso precedente, que era de 13 milhões de dólares,
foi elevado para 43.500.000. Os Arsenais do Norte, onde o trabalho tinha sido quase inteiramente suspenso durante os
anos que precederam a guerra, tornaram-se o teatro de grande animação. Alguns meses depois do bombardeio do
Forte Sumter, o Norte tinha onze mil homens ocupados em recolocar em atividade velhos navios desarmados, a
reparar os navios chegados das estações longínquas e a construir novos navios adaptados especialmente para os
serviços previstos. Ao mesmo tempo, o Ministro da Marinha, apelando para todas as fontes, comprava e adaptava
havias mercantes. Os navios incorporados à esquadra exigiam guarnições para armá-los, e, antes do fim do ano, o
número de marinheiros elevava-se de 7.600 para 22 mil.
Durante a guerra, as duas grandes tarefas da Marinha foram o bloqueio das costas confederadas e a separação em
duas porções da confederação, pelo domínio do rio Mississipi. Essas duas operações eram essenciais para impedir a
chegada de munições e aprovisionamento aos exércitos confederados, batendo-se no Leste. A captura de Port Royal,
o bizarro combate de Hampton Road, as operações no baixo Mississipi, a batalha da baía de Mobile, os encontros da
baía de Albermale marcaram o desenrolar das duas ações fundamentais.
A rigor, o bloqueio e a ocupação dos portos confederados puseram fim ao comércio do Sul. Durante a guerra, a
esquadra bloqueadora capturou ou destruiu 1.150 navios com as respectivas cargas, representando um valor total de
30 milhões de dólares. Por outro lado, a Marinha Mercante americana sofreu forte redução no decorrer da guerra. De
2.500.000 toneladas em 1861, ela caiu para 1.500.000 em 1865, ao acabar o conflito, concorrendo para o declínio não
só a destruição oriunda das operações bélicas, mas também a perda do mercado de transporte para a Marinha inglesa.
Em condições normais, a navegação comercial americana poderia renascer após a Guerra de Secessão como se
restabelecera depois da guerra de 1812. A razão pela qual ela não retomou vida, residiu na mudança das
circunstâncias econômicas acarretadas, ao menos, em parte, pelo aumento dos impostos que tornaram impossível
construir e armar navios de forma barata, como faziam os rivais estrangeiros. Também foram nocivas certas leis de
navegação que interditavam a compra de navios estrangeiros para navegar sob pavilhão americano. Essas medidas
tiveram efeito penoso sobre a Marinha Mercante e levaram o capital americano a não mais ser empregado em navios
mas de preferência nas empresas ferroviárias, usinas e minas. Em conseqüência, rapidamente a percentagem do
tráfego marítimo efetuado em porões de navios americanos decaiu. Ela era de 66,5% ainda em 1860. Em 1865 caíra a
27,7% e em 1901 baixara a 8,2%.
O desenvolvimento da ciência da Guerra Naval que tinha sido tão rápida nos Estados Unidos durante a guerra de
Secessão, parou bruscamente com ela. Durante vinte anos os Estados Unidos não tiveram um só navio encouraçado.
No decorrer do período do Presidente Hayes, a Marinha americana era inferior a de qualquer nação européia, e
mesmo os dois encouraçados do Chile, bem guarnecidos, teriam constituído uma força superior a todos os navios de
guerra americanos reunidos. A Marinha nessa época parecia não ter nenhum defensor junto ao Governo, e o país, em
geral, parecia inteiramente indiferente às suas necessidades. Todos os créditos arrancados ao Congresso eram des-
tinados à manutenção dos navios existentes, e uma boa parte desse dinheiro era esbanjado porque os parlamentares
estavam bem mais interessados em atender aos casos de seus eleitores do que em fazer reparar os navios. A sombra
da negligência havia quase completamente obliterado a Marinha em 1881, quando dificilmente um único navio estava
preparado para missões de guerra e poucos estavam em condições para um cruzeiro normal.
O ano de 1881, em que Garfield assumiu a presidência, marca o ponto mais baixo atingido pela Marinha desde os
dias em que os Estados Unidos tinham pago tributo ao Sei de Argel. Não é de espantar que os comandantes
americanos dessa época tivessem vergonha de levar seus navios às águas européias.
Se o ano de 1881 marca o mínimo atingido pela Marinha americana, também marca o início da recuperação.
Embora dificultado pela má vontade do Congresso, o Presidente Arthur conseguiu dar início à regeneração da
Marinha americana. Em 1885, ainda foi preciso recorrer ao estrangeiro para a montagem de canhões modernos nos
navios em construção, mas cinco anos depois a criação de um mercado americano de navios de guerra e de canhões
fez desenvolver nos Estados Unidos estabelecimentos industriais capazes de fabricar os modelos mais aperfeiçoados
de equipamentos bélicos. As perspectivas de um conflito próximo com a Espanha vieram acelerar o renascimento da
Marinha de Guerra americana e quando a guerra deflagrou, em 1898, ela não teve dificuldades em esmagar em
Manila, em Santiago de Cuba, as frotas obsoletas da Espanha.
Em lugar de declinar depois da assinatura da paz, como acontecera nas outras vezes, a Marinha de Guerra
americana, progrediu a passos de gigante, contrastando com a decadência da frota de comércio. Embora o comércio
externo houvesse aumentado enormemente entre 1880 e 1914, o número de navios empregados nesse tráfego
continuara a diminuir. Em 1880, cerca de 1.200.000 toneladas eram registradas como se dedicando ao comércio com
o estrangeiro; em 1914 só havia um milhão de toneladas.
A Primeira Guerra Mundial forçou a terceira expansão da Marinha Mercante americana. A ameaça da
interrupção das rotas marítimas aliadas por parte dos submarinos alemães obrigou os Estados Unidos a dedicarem à
construção de navios mercantes uma parte considerável de seus recursos.

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O programa gigantesco de construções da Emergency Fleet Corporation permitiu o lançamento ao mar em 1917
de três milhões e meio de toneladas. Graças a esse esforço, em poucos anos os Estados Unidos passaram a contar com
a segunda frota mercante do mundo a qual só era sobrepujada pela inglesa. Ela passou de pouco mais de quatro
milhões de toneladas, em 1914, para 14.574.000 em 1920, ou seja, de 4% para 23% da tonelagem mundial. Também
a Marinha de Guerra americana sofreu grande expansão em virtude da Primeira Guerra Mundial e bem cedo ocupou o
segundo posto.
Entre as duas guerras, a frota mercante americana declinou ante a concorrência européia. Embora continuando a
ocupar o segundo posto, sua participação na tonelagem mundial caiu de 22%, em 1923, para 14% em 1939, quando
dispunha em serviço de 6 milhões de toneladas, ou seja, menos da terça parte da Marinha de Comércio britânica.
Apenas 25% das transações mercantis com o além-mar eram efetuados em porões americanos. A construção naval
ultrapassava de pouco a cifra de cem mil toneladas anuais. A Marinha de Guerra, entretanto, não foi descurada e
permaneceu em nível próximo ao da Grã-Bretanha.
A Segunda Guerra Mundial elevou os Estados Unidos à primazia incontestável nos mares. O perigo crescente de
um conflito na Europa levou o governo de Roosevelt a pôr em execução um gigantesco programa naval que já ia bem
adiantado quando do ataque da Pearl Harbour. Empregando-se a fundo em dois oceanos, a Marinha dos Estados
Unidos rapidamente se recuperou dos golpes iniciais e empreendeu ação decisiva tanto na batalha do Atlântico como
contra o Japão. No Atlântico, a quantidade fabulosa de navios de escolta e aeronaves que a América colocou na luta
anti-submarina teve efeitos decisivos. No Pacífico, a esmagadora superioridade americana bem cedo varreu os
nipônicos das principais áreas por eles conquistadas na arrancada inicial da guerra e por fim atingiu o próprio
território metropolitano japonês.
Os estaleiros dos Estados Unidos, nos quais chegaram a trabalhar mais de novecentos mil operários em 1944,
produziram navios para a América e para quase todos os países aliados, conseguindo compensar as perdas tremendas
oriundas da campanha submarina. Só em 1942 foram lançados ao mar mais de oito milhões de toneladas de navios
mercantes e, em 1943, dezenove milhões. No fim das hostilidades, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos
ultrapassava três milhões de toneladas, e Marinha Mercante cinqüenta milhões.
No pós-guerra, mais uma vez a Marinha Mercante americana cedeu ante a recuperação das frotas de comércio
européias. A Grã-Bretanha voltou ao primeiro posto em tonelagem de navios de comércio com a passagem para a
reserva de um grande número de unidades americanas. Em 1946, já 33% do comércio exterior americano eram
transportados em porões estrangeiros, proporção que se elevou a 50% em 1950. Nesse mesmo ano, a frota mercante
dos Estados Unidos, em serviço, estava reduzida a 11 milhões de toneladas, cerca da metade do Reino Unido, sendo
bem verdade que os armadores americanos também dispunham de mais alguns milhões de toneladas sob as bandeiras
do Panamá, Libéria e outros países.
Onde os Estados Unidos conservaram a primazia absoluta, sem mostrar a mínima intenção de perdê-la, foi na
Marinha de Guerra. Se depois da Guerra de Sucessão da Espanha restou apenas uma grande potência naval, a
Inglaterra, depois da Segunda Guerra Mundial coube aos Estados Unidos essa situação privilegiada.

5 - INGLATERRA E FRANÇA NOS SÉCULOS XIX E XX (Análise de João Caminha)


O completo domínio dos mares, que a grande vitória de Nelson em Trafalgar conferiu li Inglaterra, teve efeito
decisivo nas fases finais da Guerra Napoleônica: frustrou a tentativa de Napoleão para, por meio do Bloqueio
Continental, eliminar o comércio inglês da Europa; quebrou sua projetada colisão naval contra a Grã-Bretanha, pela
captura da esquadra dinamarquesa em 1807; tornou possível a continuação vitoriosa da Guerra Peninsular (1808-14)
na qual os recursos militares de Napoleão ficaram isolados; cortou a França das fontes vitais de suprimento. O
poderio marítimo também afetou profundamente o desenvolvimento do Império Britânico durante esses vinte e dois
anos gloriosos. Datam de então novas conquistas coloniais inglesas na América, na África do Sul e na índia.
A derrota de Napoleão deu à Grã-Bretanha o senhorio sobre os mares, senhorio que não foi seriamente desafiado
durante cem anos. Esse domínio elevou-a à proeminência do mundo, de uma forma que ela nunca antes alcançara. A
Inglaterra ficou numa posição comparável à de Veneza na Idade Média ou a da Holanda na primeira metade do
século XVII. Nesses cem anos a Grã-Bretanha esforçou-se para não se envolver em qualquer conflito de importância,
exceto na breve Guerra da Criméia de 1854-56.
Devido à supremacia industrial da Grã-Bretanha vitoriosa, o advento da idade do vapor e do ferro nos mares
redundou inteiramente em sua vantagem, tanto mais que tinha então dificuldades em obter madeiras. E o frete de ida
de carvão, vendável na maioria dos portos de todo o globo, constituiu forte estimulo para a navegação britânica.
Através do resto do século, a Marinha insular continuou a desenvolver-se sem rivalidade séria. Assim, em 1870 a
Grã-Bretanha já dispunha de 1.202.000 toneladas de navios a vapor, enquanto os Estados Unidos s6 contavam com
192.000, e a França com 154.000. Entretanto, a revolução industrial, tornando obsoletos os antigos navios de madeira
que por séculos haviam engrandecido o Império Britânico, permitiu, ao mesmo tempo, às demais potências
industriais consagrarem-se à construção de novos tipos de vasos de guerra, ameaçando, por conseguinte, o poderio
naval inglês.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Depois da Guerra da Criméia, a França iniciou a construção de navios de guerra de novo tipo, extremamente
poderosos. Também a Rússia, analisando as conseqüências fatais de sua importância naval, tanto no mar Negro como
no Báltico, durante a mesma guerra, empenhou-se em construir uma armada do novo tipo. Ap6s 1870, tanto a
Alemanha como a Itália começaram a construção de navios, embora as respectivas atividades não causassem alarma
até pr6ximo ao fim do século. As crescentes marinhas dos Estados Unidos e do Japão, também, a principio, não
causaram inquietação.
A partir de 1897, von Tirpitz, apoiado pelo Kaiser, deu inicio ao grandioso programa naval alemão. O alto nível
alcançado pela indústria germânica bem cedo fez ver que uma nova potência ia surgir nos mares. A Inglaterra se
alarmou ante essa possibilidade e começou a grande corrida armamentista naval entre as duas nações. Ao deflagrar a
Primeira Guerra Mundial, a Alemanha dispunha da segunda Marinha de Guerra do mundo, e sua frota de comércio
crescia cada ano mais, levando os produtos germânicos a lodos os cantos da Terra. A Alemanha manteve-se, contudo,
na defensiva nos mares ante a superioridade da Marinha Real aliada às Marinhas francesa, russa e italiana. A
supremacia gozada na superfície dos mares pela Grã-Bretanha e seus aliados se deu realmente desde o princípio mais
absoluta do que fora em qualquer guerra precedente. Ao romperem as hostilidades, a Alemanha tinha para mais de
dois mil navios-vapor e cerca de três mil navios a vela empregados no comércio. Em poucas semanas, cada um deles
fora capturado ou internado, e durante o decorrer dos quatro anos de guerra nenhum voltou a navegar como navio
mercante. O imenso e lucrativo comércio exterior da Alemanha foi inteiramente eliminado. A Alemanha teve, é
verdade, um novo e poderoso poder no submarino. O submarino era porém - e é - um mero instrumento de destruição.
Ele foi completamente incapaz de fazer qualquer coisa para reviver o extinto tráfego da Alemanha.
Comparadas ao bloqueio inglês dos Impérios Centrais e à campanha submarina alemã, as outras operações navais
de guerra foram relativamente insignificantes, pouco ou nada contribuindo para o desenrolar do conflito. A Frota
Alemã de Alto-Mar nunca se atreveu a um teste decisivo e perdeu oportunidade após oportunidade para influir
decisivamente nos acontecimentos. A fuga do Goeben e do Breslau no Mediterrâneo, a escaramuça ao largo de
Heligoland (agosto de 1914), a batalha de Coronel (novembro de 1914) com a sua seqüência ao largo das Ilhas
Falklands (dezembro de 1914), a caça ao largo de Dogger Bank (janeiro de 19151, a longa e penosa aventura dos
Dardanellos (abril de 1915-janeiro de 1916), todos foram meros episódios dramáticos e espetaculares, custosos mas
indecisos. A batalha da Jutlândia (31.5.1916), de longe a mais considerável ação naval da guerra, poderia bem ter
sido decisiva, mas não o foi. Na verdade, Jutlândia foi seguida por dois anos e meio de agonia desnecessária. No fim,
porém, o poderio naval teve sua parte decisiva, derrotando a campanha submarina, assegurando o trânsito seguro das
forças inglesas e americanas, conservando abertas todas as comunicações aliadas.
Em 11 de novembro de 1918, a Grande Guerra acabou, e, pouco depois, toda a frota alemã se rendeu; dezenove
encouraçados, cinco cruzadores de batalha, dezesseis cruzadores ligeiros, noventa e dois contratorpedeiros, cinqüenta
torpedeiros e cento e cinqüenta e oito submarinos. Nessa mesma época, a Grã-Bretanha dispunha de quarenta e nove
navios de linha, oitenta e oito cruzadores de vários tipos e para mais de trezentos contratorpedeiros. Nunca antes fora
tão esmagador o domínio dos mares pela Inglaterra, como em fins de 1918.
Rapidamente, após a guerra, a Grã-Bretanha recuperou a primazia da Marinha Mercante que perdera, por efeito
da campanha submarina, para a crescente frota de comércio dos Estados Unidos. A Inglaterra, que perdera na guerra
mundial 7.923.023 das 21.445.439 toneladas possuídas por sua frota mercante antes das hostilidades, ja em 1921
dispunha de 19.288.000 toneladas. Em 1925, a Grã-Bretanha já estava com sua frota mercante inteiramente
restaurada e voltou a participar do tráfego mundial mais ou menos na mesma proporção de antes da guerra. Além de
atender às permutas do vasto Império, a Marinha de comércio inglesa cobria deficiências de transporte em regiões
afastadas de todo o mundo. Nos portos brasileiros, argentinos, chilenos, chineses etc. era a bandeira do Reino Unido a
mais vista; 35% das exportações americanas eram feitas em porões ingleses. Já não era, entretanto, a Grã-Bretanha a
única potência marítima, nem permitiam mais seus recursos financeiros manter a supremacia absoluta, conservada
por cerca de duzentos anos. Entre as duas guerras, ela procurou nas conferências de desarmamento salvaguardar sua
posição, mas foi obrigada a aceitar a paridade naval com os Estados Unidos.
A par disso, outras potências navais surgiram ameaçadoras: a Itália, no Mediterrâneo, e o Japão, no Extremo
Oriente, se bem que contrabalançados pelas Marinhas americana e francesa, respectivamente.
Desde que começou a Segunda Guerra Mundial, o principal esforço de Alemanha no mar foi orientado no
sentido de cortar as ligações oceânicas do Império Britânico, recorrendo principalmente à arma submarina e à
aviação. A batalha do Atlântico, que começou no primeiro dia da guerra, foi assim a campanha naval chave de todo o
conflito. Seu desenrolar não pôde ser determinado pelos resultados de um encontro decisivo, mas pelas listas
anotados numa folha onde figuravam navios perdidos em face de navios construídos, navios afundados em face de
submarinos alemães destruídos. Referindo-se à batalha do Atlântico, assim se expressou Winston Churchill: "A única
coisa que sempre me atemorizou realmente durante a guerra foi o perigo dos submarinos. A nossa linha vital mesmo
através dos amplos oceanos e particularmente nas entradas para a Ilha estava em perigo. Sentia-me ainda mais
ansioso a respeito dessa batalha do que me sentira a respeito da gloriosa luta aérea chamada Batalha da Grã--
Bretanha".

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A conservação da supremacia do Atlântico pelos britânicos, a despeito das forças aéreas e marítimas do Eixo, durante
os dois terríveis primeiros anos de guerra, conta-se entre os feitos mais extraordinários da História. O principal problema
naval das nações unidas na Segunda Guerra Mundial foi, até pelo menos o meio do ano de 1943, o de achar um número de
navios de guerra para assegurar a proteção conveniente da navegação comercial. Ante a destruição gigantesca sofrida pelas
marinhas de comércio aliadas, as disponibilidades de navios de transporte tornaram-se o fundamento da estratégia de
guerra aliada. Os aliados perderam quatro milhões de toneladas de barcos mercantes em 1940 e mais de quatro milhões em
1941. Em 1942, foram postos a pique quase 8 milhões de toneladas da navegação aliada, então já aumentada depois que os
Estados Unidos se tinham tornado aliados. Até fins de 1942, os submarinos afundaram navios mais depressa do que os
aliados podiam construí-los. Em começos de 1943, o nível das novas tonelagens foi subindo nitidamente, e as perdas dimi-
nuíram. Antes do fim daquele ano, a nova tonelagem havia finalmente ultrapassado as perdas marítimas oriundas de causas
diversas. O segundo semestre presenciou, pela primeira vez, as perdas de submarinos excederem a sua capacidade de
poderem ser substituídos. Logo viria o tempo em que seriam afundados no Atlântico mais submarinos do que navios
mercantes. "A batalha do Atlântico", afirmou ainda Winston Churchill, "foi o fator dominante durante toda a guerra.
Jamais podíamos esquecer que tudo que acontecesse algures, em terra, no mar ou no ar, dependia em última instância do
resultado daquela batalha, e, em meio a todas as outras preocupações, considerávamos os seus altos e baixos, dia a dia
presos de esperança ou apreensão."
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha havia sido ultrapassada nos mares pelos Estados
Unidos. Entretanto, enquanto os Estados Unidos encostavam uma grande parte de seus navios mercantes construídos em
regime de urgência durante a guerra, a Inglaterra mantinha seus estaleiros em plena atividade. Tendo perdido 12 milhões
de toneladas de navios de comércio durante o conflito, já estava em 1946 com 90% da tonelagem de 1939 e três anos
depois com 100%. Mais uma vez voltou assim a recuperar sua posição a frota de comércio inglesa, mas em quase todos os
mares encontrou a concorrência de novas bandeiras.
O período de pós-guerra viu a Grã-Bretanha perder a posição que ocupara no cenário marítimo durante três séculos.
Ao mesmo tempo que diminuía a percentagem da participação da Marinha Mercante inglesa no tráfego marítimo, era
perdida a supremacia naval para os Estados Unidos e União Soviética, e desmembrava-se o antigo Império Colonial.
A batalha de Trafalgar, esmagando totalmente a remanescente Marinha francesa e comprometendo por longo tempo
seu futuro, resolveu de maneira definitiva o grande problema da rivalidade pela hegemonia marítima, nascida sob Luiz
XIV. Como único recurso, a França continuou a guerra de corso. No total de 11 anos de guerra (1803-14), 5.314 navios
mercantes ingleses foram capturados, mas os britânicos por seu turno destruíram ou colocaram fora de estado de os atacar,
440 corsários guarnecidos por 27.600 marinheiros. No fim dessa longa guerra, a França não tinha mais que 100 corsários
armados. Na mesma época, perto de 25.000 navios mercantes faziam tremular o pavilhão britânico em todos os mares do
globo. Dos 1.500 navios franceses de longo curso existentes na abertura das hostilidades não restavam mais de 200 em
1814. A Marinha Mercante da França estava morta ao lado da Marinha de Guerra. Depois do esboroamento do Império e
da última convulsão dos Cem Dias, a França renunciou à marinha. Com a paz, a Marinha Mercante francesa recuperou-se,
graças ao vigor do comércio interno e à existência de estaleiros eficientes no país. Mais lento foi o renascimento da frota
de guerra. Cerca de quarenta anos durou a convalescença da Marinha de Guerra francesa. Malgrado a ação por ela
desenvolvida em várias demonstrações de força contra o Brasil (1828), Algéria (1830), Portugal (1831), México (1837) e
Argentina (1845), só voltou a ser poderosa de fato durante o Segundo Império, por ocasião da guerra da Criméia.
A política imperialista de Napoleão III e a revolução industrial processada pouco mais ou menos no mesmo período
favoreceram o desenvolvimento da Marinha francesa. Com efeito, depois da Grã-Bretanha, era a França a maior potência
industrial da época, seguida de perto pela Alemanha e pelos Estados Unidos. Em 1864, contavam-se 430 altos-fornos em
56 departamentos que produziam 1.213.000 toneladas de ferro. A França compreendeu que se apresentava uma
oportunidade única para alcançar a supremacia marítima, já que as antigas esquadras de madeira não poderiam subsistir na
era do ferro e do vapor. Sob a orientação de hábeis técnicos, como Depuy de Lome, foi a França em muitos aspectos a
vanguardeira da evolução marítima. De seus estaleiros saiu o primeiro navio encouraçado, o Glorie. Todavia a Grã-
Bretanha, nação também tecnicamente evoluída, enfrentou a corrida armamentista, conseguindo manter a sua supremacia,
malgrado a ameaça francesa.
A corrida armamentista anglo-francesa sofreu um hiato com a Guerra Franco-Prussiana em 1870-71. Poucos serviços
relativamente prestou a Marinha francesa nessa guerra, apesar de seu imenso aparato bélico. A Prússia, nação continental
por excelência, dispondo de pequena Marinha, não disputou o domínio dos mares à sua inimiga. A guerra se decidiu
totalmente em terra, e, ante a ameaça cada vez maior dos exércitos invasores prussianos, os marinheiros franceses muitas
vezes desembarcaram de seus magníficos navios, para lutar em trincheiras na defesa do solo pátrio.
Depois do conflito, uma só questão dominava todas as outras: retomar as províncias perdidas a revanche. Não se tinha
em absoluto necessidade da Marinha para isso e convinha reduzi-la para não desperdiçar créditos que eram necessários
noutros lugares. Como a França não tinha interesses no mar para justificar a existência da Marinha, uma vez ainda,
conforme a frase de seu ministro, o Almirante Pothuan, a Marinha deveria sacrificar-se no altar da pátria. De novo
desabava a grandeza da Marinha, grandeza toda artificial, criada por um regime de prestígio e ligada à sorte deste. O
programa de 1872 fixou os destinos da Marinha Republicana. Dos 400 navios do Império, foram conservados apenas 217.
A Marinha foi, portanto sacrificada no altar da pátria. Thiers reduziu brutalmente seu orçamento, qualificando-a de arma
de luxo. O próprio Ministro da Marinha, Almirante Pothuam, declarou do alto da tribuna: "Todos os esforços devem ser
feitos do lado da terra. De que nos serviria agora uma marinha?" perguntava ele.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A partir da oitava década do século passado, a França começou a perder a sua posição privilegiada de grande
potência econômica. Foi ultrapassada em produção industrial e desenvolvimento comercial, pela Alemanha e pelos
Estados Unidos. As causas desse fenômeno era a paralisação, acusada desde vários anos, do processo demográfico,
assim como da falta de suficientes reservas carboníferas, circunstâncias que dificultavam o crescimento da grande
indústria. O tráfego ultramarino francês mostrou crescente empenho em se servir das companhias de navegação de
outros paises, mas baratas e rápidas, em vez de navegar sob o pavilhão nacional. Foi essa a causa da navegação na
França não participar do florescimento da frota mundial. De 1866 a 1900, ela permaneceu quase estacionária em um
milhão de toneladas, e a construção naval chegou quase à paralisação durante o último decênio anterior à Primeira
Grande Guerra.
Em oposição, a França retornou aos empreendimentos coloniais paralisados desde a conquista da Algéria e da
aventura no México. A primeira das grandes operações coloniais foi a conquista da Tunísia em 1881. Seguiu-se a da
Indochina em 1884-85 e a de Madagascar em 1893, sem falar noutras menores levadas a cabo em vários pontos da
África e da Oceania. Em todos esses empreendimentos, a Marinha de Guerra francesa teve atuação de primeira plana,
ou destruindo as forças navais inimigas, ou reduzindo as fortificações terrestres, ou, enfim, apoiando as tropas de
desembarque.
Data também do final do século XIX o movimento chamado de "Jovem Escola" o qual causou não pequenos
prejuízos ao desenvolvimento da Marinha de Guerra francesa. A Jovem Escola defendia a construção de uma
esquadra numerosa de pequenos navios, sobretudo torpedeiros. A aparição do torpedo e da mina perturbou os
espíritos e o debate veio a público. Bem menos que por uma reforma administrativa das instituições, uma opinião in-
competente mal esclarecida apaixonou-se por uma reforma de concepções da guerra naval. Uma grave crise de idéias
se declarou e em conseqüência a Marinha francesa viu sua força profundamente abalada. Agradava ao espírito francês
mal avisado das realidades navais, desprezar uma força que achava brutal, substituindo-a pelos recursos de um
espírito inovador e fecundo. A França que nunca antes se tinha interessado pela Marinha ficou com febre. Dessa falta
de uniformidade de vistas e das contínuas mudanças de governo resultou uma armada numerosa mas heterogênea.
Malgrado os sacrifícios consentidos pelo país, a Marinha francesa, nas vésperas da Primeira Grande Guerra, havia
caldo para o quinto lugar, se bem que seu Império Colonial fosse o segundo do mundo. A razão básica dessa queda
devia de novo ser procurada na fraqueza da Marinha Mercante que, malgrado todos os esforços freqüentemente
grandes do Governo, não conseguiu acordar de seu longo sono.
Tivesse tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses no mar, não
haveria lugar para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses ameaçados faria prevalecer a
verdadeira doutrina de que, numa questão de força como a guerra, deve-se ter poder. Mas a Marinha Mercante
francesa em 1914 era menos da metade da alemã e apenas um décimo da britânica. Tendo perdido cerca de 920 mil
toneladas durante a guerra, graças ao tratado de paz, a Marinha Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada,
alcançando, em 1921, a 2 milhões e trezentas mil toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, poucos progressos
realizou. Enquanto a Inglaterra voltava a ter nos mares mais de 20 milhões de toneladas de navios mercantes e a
Alemanha, partindo novamente do zero, ultrapassava os cinco milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua
Marinha de comércio de 2 milhões e trezentas mil para dois milhões e setecentas mil toneladas.
A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se beneficiando da longa
continuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na tonelagem. As forças navais
francesas perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material ganhou reputação. Todavia, quase toda
sua magnífica obra de mais de vinte anos desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.
Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas mesmo
assim conserva-se entre as mais importantes potências navais do mundo.
Entretanto, da mesma forma que a sua antiga rival, a Grã-Bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar-
se ao mesmo tempo que desaparecia seu antigo Império Colonial.

6 - A CORRIDA COLONIAL
Europeus e norte-americanos puseram-se em campo para rapidamente estenderem suas influências e até mesmo
hastearam suas bandeiras nas áreas em ser que existissem sobre a Terra.
Esta sôfrega procura fez-se pela persuasão e pela força, mais por esta do que por aquela. Ao mesmo tempo em
que avançavam em busca de mercados novos e de fontes de matérias primas, esses Estados cuidavam de proteger seu
próprio desenvolvimento interno, resguardando sua indústria da concorrência estrangeira, estimulando a produção
nacional através do protecionismo econômico, com o estabelecimento de pesadas barreiras alfandegárias para as
mercadorias estrangeiras que pudessem ser produzidas em seu próprio território.
E quais as áreas que podiam ser economicamente exploradas pelos Estados desenvolvidos industrialmente? Sem
dúvida, as que dispusessem de bons recursos naturais, bom índice populacional e baixa proporção de crescimento
industrial, ou seja: Ásia, África e América Latina, exatamente o Terceiro Mundo de hoje.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Seria demais desejar que, com todo o espírito de liberalismo econômico de que estavam imbuídos os estadistas,
os políticos e os homens de negócio do final do século XIX e do início do século XX, os mais ricos pensassem em
desenvolver os mais pobres. Se ainda hoje isso não acontece sem segundas intenções, que dizer daqueles dias em que
apenas uma voz se ergueu serenamente em favor da paz social já ameaçada? Essa voz foi a da Igreja, pedindo justiça.
Daí o papa Leão XIII ter lançado sua famosa carta encíclica de 1891, a Rerum novarum, que teve como resultado a
criação de ministérios do Trabalho diante das “coisas novas” aparecidas no mundo do trabalho.
Os homens não conseguiram enxergar a longo prazo. Não conseguiram ver com 50 anos de antecedência.
Partiram os europeus e os americanos para a grande conquista, a segunda colonização.
Os primeiros a entrarem nesse processo foram a Grã Bretanha, a França e os Estados Unidos. Logo depois, um
pouco atrasadas, Alemanha e Itália. Rússia, Bélgica e outros Estados europeus também se aventuraram e tiveram seu
quinhão.
A primeira investida norte-americana fez-se sobre o Japão, em 1853. Nesse ano, uma força naval norte-
americana, sob o comando do comodoro Mateus Calbraith Perry, obrigou o Japão a sair de seu tradicional
isolamento, assinando, sob a ameaça dos canhões, um tratado de comércio com os Estados Unidos.
Depois, os Estados Unidos vão ampliar seus interesses em outras áreas, não só na Ásia, como na América Latina.
Aí sua influência se fará sentir de duas maneiras diferentes. A primeira pela guerra diretamente, como foi o caso da já
remota conquista dos territórios mexicanos (1846-1848), em período anterior ao que ora se comenta, e a guerra
Hispano-Americana de 1898. Nesta, o grande interesse direto eram as plantações de cana-de-açúcar em Cuba, então
possessão espanhola. Tais plantações montavam 50 milhões de dólares de investimentos e um movimento anual de
comércio da ordem de 100 milhões de dólares. Com a vitória nessa guerra, os Estados Unidos ganharam Cuba, cuja
independência foi algum tempo depois concedida. Ganharam também as ilhas Filipinas, no Extremo Oriente, onde
haveriam de manter sua bandeira até a Segunda Guerra Mundial. Nessas ilhas orientais, os norte-americanos
impediram duramente sua independência, perseguindo sangrentamente seus líderes populares com guerra interna.
A outra maneira de agir sobre os negócios latino-americanos foi o famoso corolário Roosevelt (Teodoro) à
doutrina de Monroe. Assim, os Estados Unidos podiam estar sempre presentes nas áreas de seu interesse na América
Latina.
A demonstração de que os norte-americanos estavam em condições de intervir na defesa de seus interesses em
qualquer parte do mundo fez-se com o cruzeiro de uma esquadra de 16 encouraçados de alta qualidade da US Navy
em volta ao mundo em 1907-1909.
A Grã Bretanha e a França estenderam seus impérios coloniais na África e na Ásia. Tempo houve em que se
podia atravessar a África desde o cabo da Boa Esperança até o mar Mediterrâneo pisando apenas em solo inglês. Da
Ásia, o grande presente que a rainha Vitória recebeu foi o título de imperatriz da Índia, que lhe arranjou Disraeli. A
França, além da África Equatorial e de outras regiões, manteve-se na Indochina, de onde só saiu após a derrota de
Dien Bien Phou, em 1954.
Na Ásia, a grande vítima foi a China, que, depois da infeliz guerra Sino-Japonesa (1894-1895), mostrou-se fraca
ao mundo ocidental. Daí em diante foi repartida entre russos, franceses, ingleses e alemães, que caíram sobre ela em
busca de uma série de vantagens comerciais. Todo esse abuso resultou no crescimento de um espírito de revolta que
se expressou no último ano do século XIX com a célebre Revolta dos Boxers (1900).
A Alemanha e a Itália, ocupadas desde a década de 1860 em preparar sua unificação, chegaram atrasadas à
corrida colonial, disputando com denodo áreas de influência e mesmo colônias. Isso deu margem a grandes conflitos
diplomáticos que quase resultaram em guerra, como foi o caso do Marrocos.
O sistema de áreas de influência foi uma constante desse e de outros períodos posteriores. Um caso curioso foi a
situação da Pérsia, que tinha duas áreas de influência em seu território nacional, uma russa e outra britânica.
Dentro de tudo isso, o interesse da Rússia imperial era um só: obter a saída para as águas quentes. Este objetivo
era buscado desde o século XVII e só recentemente foi alcançado, mesmo assim sem muita segurança. Os
Dardanelos, o mar do Japão e o mar Amarelo sempre estiveram nas cogitações dos russos e os levaram a diversas
guerras durante a História.

7 - OS INSTRUMENTOS DA CORRIDA COLONIAL


A corrida colonial despertou nas potências concorrentes um grande desenvolvimento das armas e das técnicas
militares. Foi, sem dúvida, um período de apogeu para as atividades militares, intimamente relacionadas com a
política comercial de cada país. A corrida colonial redundou numa corrida armamentista, pois, como dito acima, a
conquista de novas áreas geográficas fez-se muito mais pela força do que pela persuasão. Além disso, era preciso
resguardar os interesses nacionais em jogo entre as diversas potências.
Viveu-se a chamada paz armada. Nunca a arrogância foi tão generalizada, tão comum. Foi o período áureo da
Marinha britânica e do Exército alemão, ambos inexcedíveis em suas eficiências próprias.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
No mar, os progressos foram velocíssimos. Da torreta do Monitor, de Hampton Roads, depois de um breve
período de incerteza entre aquele sistema e a casamata, dotaram-se os navios de guerra de enormes torres protegidas,
cujos canhões cresceram em calibre até atingirem 16,25 polegadas no encouraçado Victoria, de 1889, o maior calibre
do século XIX. Os cascos, definitivamente de ferro, passaram a ser dotados de couraças cada vez mais eficientes no
caso dos navios de linha. O Inflexible, de 1874, tinha uma couraça de 24 polegadas de espessura. O desenvolvimento
da metalurgia é que permitiu o aparecimento de novas ligas que, em peças de menor espessura, apresentavam maior
resistência à penetração.
O tamanho dos navios também cresceu, atingindo grandes proporções no final do século XIX. Apesar de maiores
e mais pesados, os navios aumentaram de velocidade pela maior potência de suas máquinas. De 5.200 HP em 1861, a
potência das máquinas dos encouraçados ingleses chegou a 14.000 HP em 1892, com um aumento de velocidade de
14 para 18 nós, apesar de o deslocamento ter aumentado de 9.000 para 14.000 toneladas. A velocidade dos
cruzadores, navios menores, passou de 16 nós em 1868 para 24 nós em 1895. Ao acabar o século XIX, os
encouraçados já haviam ultrapassado as 15.000 toneladas de deslocamento, alcançando velocidades de 18,5 nós. Os
contratorpedeiros, pequenos navios que não deslocavam mais do que 400 toneladas, alcançaram velocidades
experimentais de até 35,5 nós.
Foi, porém, o começo do século XX que trouxe o orgulho das esquadras. Secretamente concebido, a Grã
Bretanha lançou ao mar em 1906 o Dreadnought, encouraçado que tornou imediatamente obsoletos todos os demais
encouraçados que não eram de sua classe. Ele tinha 10 canhões de 12 polegadas dispostos em cinco torres duplas,
com poder de fogo duas vezes e meia maior do que os navios de linha de seu tempo. Sua velocidade alcançava 21,5
nós, com máquinas de 27.500 HP. Deslocava 17.900 toneladas, com 183 m de comprimento e 8,5 m de calado. Seu
custo foi a terrível realidade de £ 1.813.100, preço astronômico para a época.
O Dreadnought revolucionou tanto as marinhas de guerra, que, assim como o Monitor norte-americano, deu
nome a um tipo de navio, passando a ser também substantivo comum. Daí em diante, os navios de linha passaram a
ser pré-dreadnought, dreadnought, ou, pouco depois, super-dreadnought. Dentre estes estava o Queen Elizabeth,
construído em 1914, com 25 nós de velocidade, 8 canhões de 15 polegadas e dezesseis de 6 polegadas.
O Brasil também entrou no acompanhamento do grande progresso dos navios de linha, recebendo, em 1909 e
1910, os dreadnoughts Minas Gerais e São Paulo, de 19.300 toneladas, com 12 canhões de 13 polegadas (305 mm).
Deixamos de receber o Rio de Janeiro, de 1912, maior navio do mundo em sua época, com 27.500 t e 14 canhões de
12 polegadas, que foi vendido à Turquia pelo governo do marechal Hermes da Fonseca e, durante a Grande Guerra,
arrecadado pela Grã Bretanha com o nome de Agincourt. Houve quem dissesse que a seu bordo participou da batalha
da Jutlândia, em 1916, a grande batalha naval envolvendo 250 navios, o então segundo-tenente brasileiro Harold
Reuben Cox, depois almirante. Esse fato não consta de sua biografia1, porém, nem o almirante Carlos Pena Boto
sabia disso, em conversa pessoal com o então tenente Porto, autor deste livro. O que se sabe seguramente é que o
tenente Cox, em 21/11/1918, estando a bordo do Florida, assistiu à rendição da Esquadra de Alto-Mar alemã à Grand
Fleet.
Como elemento fundamental para a circulação das riquezas, as marinhas mercantes também cresceram
espantosamante. O tráfego marítimo, tanto de passageiros como de carga, intensificou-se com grande número de
navios, alguns de imenso tamanho, como foi o caso dos majestosos liners transatlânticos citados anteriormente. O
movimento mercante mundial em 1907/1908 contava com 185.771 navios, totalizando 60.438.000 toneladas.
No Brasil infelizmente, a marinha mercante foi inexpressiva durante longos anos. Queixaram-se sucessivos
ministros da Marinha sobre este aspecto. O almirante Juvenal Greenhalgh, em sua magnífica obra O Arsenal de
Marinha do Rio de Janeiro na História, comenta que no campo da evolução da construção naval, por exemplo, no
século XIX, “não há no Brasil capítulo para a marinha mercante”.

1
Cf. O almirante Harold R. Cox: um notável oficial da Marinha do Brasil (1892-1967); lembrado por seus amigos, colegas e admiradores.
Rio de Janeiro: Gráfica Editora do Livro, 1973.
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II – O SÉCULO XX.

1 - A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


As grandes disputas geradas no século XIX não poderiam terminar em paz. A corrida colonial foi acompanhada
de uma corrida armamentista de enormes proporções, como se viu. As tensões internacionais cresceram em tal ordem
que, apesar dos esforços de paz do papa Bento XV junto aos governos, tudo culminou numa guerra como jamais o
mundo vira antes: a Grande Guerra, como ficou logo conhecida. Essa guerra não foi apenas fruto da corrida colonial,
mas o desembocadouro de todas as divergências internacionais do século XIX. Costuma-se até assinalar o término
desse século com o ano de 1918, o do fim do grande conflito.

1.1 - A POLÍTICA DE ALIANÇAS


No final do século XIX, o mundo se sujeitava à supremacia econômica de algumas potências capitalistas
européias, sobretudo a Inglaterra. Surgiram, entretanto, indícios do deslocamento desse centro dinâmico, pois
alemães e norte-americanos sobrepunham-se aos ingleses na produção de ferro e aço, matérias-primas fundamentais
para o desenvolvimento industrial do período.
Nos Estados Unidos, as indústrias química, elétrica e automobilística se desenvolviam consideravelmente, e na
Alemanha a indústria bélica prosperava com o programa naval de 1900, que visava conquistar um tardio império
colonial, despertando e acirrando a rivalidade britânica.
A Inglaterra, por meio de suas casas bancárias, era responsável por mais da metade do total de capitais investidos
em várias partes do mundo, e constituía o maior império colonial e uma das maiores potências militares do início do
século XX. Apesar disso, porém, cada vez mais sua hegemonia, a chamada Pax Britannica, era ameaçada por outros
países imperialistas que exigiam a redivisão colonial, sobretudo na África e na Ásia.
A esses elementos desafiadores dessa paz mundial vieram somar-se as reivindicações das minorias nacionais
europeias, que exigiam direito de autogoverno, baseando-se nos ideais de unificação italianos e alemães e
intensificando o militarismo europeu. Poloneses, irlandeses, filandeses e, principalmente, os povos do antigo Império
Austro-Húngaro (húngaros e grupos eslavos, como os sérvios, os croatas e os eslovenos) lutavam por sua
independência, envolvendo as grandes potências e ativando suas rivalidades.
A derrota francesa na batalha de Sedan (1870), decisiva na guerra Franco-Prussiana, acarretou a perda da região
da Alsácia-Lorena para a Alemanha, o que despertou um forte espírito nacionalista, de revanche, entre os franceses,
abrindo a possibilidade de uma nova guerra europeia. A Alemanha, desde a sua unificação, fundamentou a política
externa no isolamento da França, criando um sistema internacional de alianças político-militares que cerceassem o
revanchismo francês.
Em 1873, Bismarck instaurou a Liga dos Três Imperadores, da qual faziam parte a Alemanha, a Áustria-Hungria
e a Rússia. Entretanto, as divergências entre a Rússia e a Áustria com relação à região dos Bálcãs, ocasionadas pelo
fato de a Rússia apoiar as minorias eslavas da região, que almejavam a independência, acabaram com essa aliança em
1878. Em 1882, o Segundo Reich firmou a Tríplice Aliança, unindo-se ao Império Austro-Húngaro e à Itália. O reino
italiano, entretanto, estava em atrito com a França graças à anexação da Tunísia, na África.
Somente na última década do século XIX, a França começou a sair do seu isolamento internacional, conseguindo
estabelecer um pacto militar com a Rússia em 1894. A Inglaterra se aproximou da França, formando com ela a
Entente Cordiale, em 1904, que fundia os interesses comuns dos dois países no plano internacional. A partir de então,
as antigas hostilidades franco-inglesas foram esquecidas, para que os dois países enfrentassem um inimigo comum: o
sucesso econômico da Alemanha, sua expansão colonial e seu exaltado nacionalismo.
A adesão da Rússia à Entente Cordiale originou a Tríplice Entente. Passavam, assim, a existir na Europa dois
grandes blocos antagônicos: a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente, que fomentaram a tensão que levou os países
europeus aos preparativos armamentistas.
O posicionamento assumido pela Itália diante desses dois blocos era dúbio, pois, embora fizesse parte da Tríplice
Aliança, cultivava sérios conflitos com o Império Austro-Húngaro. Por causa da disputa pelas regiões irredentas,
Trentino, parte sul do Tirol e da Ístria, chegou a assinar acordos secretos de não-agressão com a Rússia e com a
França, países da Tríplice Entente.

1.2 - A QUESTÃO MARROQUINA (1904)


As disputas imperialistas sobre o Norte da África resultaram na Convenção de Madri, em 1880, que definiu uma
“política de porta aberta” para o Marrocos, regulando os direitos de exploração da região para os franceses, alemães e
britânicos. Entretanto, as ambições francesas e alemãs sobre esse território acabou por despertar uma acirrada disputa,
tornando mais intensas as rivalidades entre os dois países, iniciadas com a Guerra Franco-Prussiana (1870).

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Em 1904, França e Inglaterra firmaram um acordo pelo qual os franceses reconheciam os interesses ingleses no
Egito e, em contrapartida, recebiam o apoio inglês para a dominação francesa sobre o Marrocos, dificultando, assim,
a ação dos alemães nesse país. Em 1905, entretanto, o Kaiser Guilherme II desembarcou em Tânger, criando um
impasse ao prometer preservar a independência do Marrocos.
A crise do Marrocos foi resolvida em 1906, na conferência de Algeciras, na qual se confirmou a “política de
porta aberta” aos franceses e alemães, porém com vantagens para os franceses, a exemplo da divisão do controle da
polícia do país com a Espanha.
Em tal situação, o sultão do Marrocos subordinou-se ao domínio francês, que o auxiliava nos enfrentamentos dos
chefes tribais rivais e das rebeliões muçulmanas. Afora os colonizados, novas crises entre as potências imperialistas
ocorreram em 1908, em Casablanca, e em 1911, em Agadir sendo solucionadas pela cessão do Congo francês à
Alemanha, que, em troca, abandonava suas pretensões sobre o Marrocos. Mesmo assim, permaneceu o
descontentamento, pois os alemães consideraram pequena a compensação recebida e os franceses ficaram
inconformados por cederem uma área colonial.

1.3 - A QUESTÃO BALCÂNICA


A disputa pelos Bálcãs – região entre os mares Negros e Adriático – iniciou-se no final do século XIX, com o
desmembramento do Império Turco-Otomano, que se encontrava em rápida desagregação. A intervenção imperialista
internacional na região, polarizada pela Tríplice Entente e pela e pela Tríplice Aliança, e as lutas nacionalistas dos
diversos povos que faziam parte do império originaram agudas crises locais e internacionais.
Pretendendo dominar a região do mar Negro ao mar Egeu, passando pelos Bálcãs, a Rússia defendia o pan-
eslavismo e a independência das minorias nacionais. Seu intento era unificar os povos eslavos balcânicos, libertando-
os do enfraquecido Império Turco e garantindo sua influência e supremacia sobre as novas nações.
Os russos, entretanto, encontraram resistência do Império Austro-Húngaro e da Alemanha, que projetava
construir a estrada de ferro Berlim-Bagdá, para ter acesso às áreas petrolíferas do golfo Pérsico. Cruzando os Bálcãs e
seguindo em direção ao Sul, pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos, a ferrovia cruzaria territórios pertencentes ao
Império Turco.
O ideal de unificação eslava, encabeçado pela Sérvia e que se chamaria Grande Sérvia, tornou-se mais distante
quando as regiões da Bósnia e Herzegovina foram tomadas ao domínio turco e anexadas à Áustria-Hungria, em 1908.
Desse modo, para conquistar a unidade, os sérvios tinham agora de lutar contra os impérios Turco e Austro-Húngaro,
motivo das agitações nacionalistas na região, promovidas pela Sérvia com respaldo russo, nos anos seguintes.

1.4 - A MORTE DO HERDEIRO DO IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO


Reunidos, a partir de 1912, em uma coligação de países balcânicos contra o arruinado Império Turco, os países
da região acabaram se desentendendo quanto à questão da definição de fronteiras. Em 1913, a Bulgária, apoiada pela
Áustria-Hungria, atacou a Sérvia, mas foi derrotada pela coligação desta com Montenegro, Romênia e Grécia.
Ao mesmo tempo, os povos eslavos da Bósnia e Herzegovina, submetidos ao domínio austro-húngaro,
aproveitavam-se da situação e rebelavam-se, buscando a independência, com respaldo da Sérvia.
A fim de acalmar os ânimos na região, o herdeiro do trono austro-húngaro, arquiduque Francisco Ferdinando,
viajou a Sarajevo, capital da Bósnia, em 1914, para anunciar a formação e uma monarquia tríplice (autro-húngara-
eslava), elevando teoricamente a Bósnia e a Herzegovina ao mesmo nível de importância da Áustria e da Hungria.
A 28 de junho de 1914, entretanto, Francisco Ferdinando foi assassinado por terroristas bósnios, num atentado
planejado pela organização secreta sérvia Mão Negra (ou União ou Morte), que desejava frustrar o projeto austríaco.
Em represália, o Império Austro-Húngaro deu um ultimato à Sérvia, exigindo a eliminação de todas as organizações
nacionalistas locais, o que veio a frustrar uma solução pacífica para o impasse criado com o assassinato.
Em 1º de agosto de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia. Imediatamente, a Rússia
posicionou-se a favor da Sérvia e, a partir de então, o sistema de alianças foi ativado, resultando na entrada da
Alemanha, França e Inglaterra no conflito, que se generalizou.
Exatamente um mês depois, os grandes exércitos marchavam para a guerra. O atentado em Sarajevo foi,
portanto, o gatilho que acionou uma arma há muito preparada.

1.5 - O DESENVOLVIMENTO DO CONFLITO


A Primeira Guerra Mundial foi assim chamada por envolver todas as grandes potências do mundo ocidental da
época, caracterizado um confronto bélico sem precedentes históricos. No esforço de guerra, cada Estado assumiu o
controle absoluto da economia e todos os cidadãos foram recrutados para participar tanto do exército quanto da
produção industrial, principalmente de armamentos. Os tanques de guerra, os encouraçados, os submarinos, os obuses
de grosso calibre e a aviação, entre outras inovações tecnológicas da época, constituíram artefatos bélicos de um
poder de destruição até então inimaginável.
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De forma sintética, podemos dize que foram duas as fases do conflito: em 1914, houve a guerra de movimento e,
de 1915 em diante, a guerra de posição ou de trincheiras. A primeira fase estava relacionada ao Planalto Schilieffen,
estratégia ofensiva alemã elaborada ainda em 1905, sob os efeitos do clima de revanchismo que preponderava em sua
política externa. Esse plano previa a mobilização de boa parte do exército alemão para invadir o território francês,
pela Bélgica e pela Alsácia-Lorena, e render Paris ao final de seis semanas. Alcançado tal intento, os alemães
julgavam que estariam livres para enfrentar os russos, direcionando suas tropas para o ataque e a invasão daquele
país.
Para a execução da ofensiva à França, os alemães violaram a neutralidade da Bélgica, ao invadirem o seu
território. Esse foi o pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha. Mesmo assim, a execução do Plano
Schlieffen permitiu aos exércitos alemães marcharem em direção a Paris surpreendendo as tropas francesas.
Do lado oeste, uma ofensiva russa inesperada, ainda em 1914, obrigou as forças alemãs a se dividirem,
deslocando tropas para a região da ex-Prússia Orienta. A França, beneficiando-se do apoio inglês, salvou-se do
fulminante ataque alemão na batalha de Marne, em setembro do mesmo ano.
Com o fracasso da guerra de movimento, teve início a guerra de posição ou de trincheiras. Outras potências
entraram no conflito, posicionando-se ao lado da Tríplice Entente (França, Inglaterra e Rússia): Japão (1914), Itália
(1915), Romênia (1916) e Grécia (1917). Ao lado das chamadas potências centrais (Alemanha e Áustria-Hungria)
colocaram-se o Império Turco-Otomano (1914) e a Bulgária (1915).
Enquanto na frente ocidental a guerra entrava na fase das trincheiras, com cada país defendendo, palmo a palmo,
o território conquistado, na frente oriental ocorria uma sequência de vitórias alemãs, como na batalha de Tannenberg,
na qual cem mil russos foram aprisionados. Em 1916, em Verdun, frustra-se nova ofensiva alemã contra a França,
mantendo-se em geral as posições já existentes. O ano de 1917, ao contrário, foi marcado por acontecimentos
decisivos para a guerra.
As contínuas derrotas russas aceleraram a queda da autocracia czarista, culminando nas revoluções de 1917, que
implantaram o regime socialista. Com a ascensão do novo governo, concluiu-se um acordo de paz em separado, o
tratado de Brest-Litovski, de 1918, oficializando a saída dos russos da guerra.
No mesmo ano, a derrota italiana na batalha de Caporetto possibilitou às potências centrais voltarem-se para a
frente ocidental franco-inglesa, e a Alemanha intensificou o bloqueio marítimo à Inglaterra, objetivando deter seus
movimentos e o abastecimento da ilha da Grã-Bretanha.
Sentindo-se ameaçados pela agressividade marítima alemã, os Estados Unidos, que até então se mantinham
neutros, embora abastecessem os países da Entente de alimentos e armamentos, usaram como pretexto o afundamento
do seu transatlântico Lusitânia e do navio Vigilentia para a declaração de guerra contras as potências centrais. A
entrada desse país na guerra, em 1917, com seu imenso potencial industrial e humano, reforçou o bloco liderado pela
Inglaterra e pela França. A abundante oferta de novas armas – tanques, navios e aviões de guerra – dinamizou o
conflito e possibilitou aos países da Entente impor sucessivas derrotas aos alemães.
A derrota das potências centrais diante da superioridade econômico-militar dos Aliados acarretou a renúncia do
próprio Kaiser alemão, em novembro de 1918, e a assinatura do armistício de Compiégne. O cessar-fogo foi
conseguido por meio de um plano de paz formulado pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson (os chamados
14 Pontos de Wilson), que pregava “uma paz sem vencedores”.

1.6 - AS ESTRATÉGIAS OPONENTES


A Grã Bretanha precavera-se com a maior esquadra do mundo. A Alemanha, com o melhor e maior exército. Era
evidente o comportamento estratégico de ambas as potências para a guerra. Embora entusiasta da Marinha imperial, a
ponto de levá-la ao segundo lugar entre as demais do mundo – sendo entretanto aproximadamente a metade da
inglesa – o kaiser tinha a herança de uma tradição terrestre para a guerra. A Grã Bretanha haveria de manter-se firme
em sua estratégia marítima, como sempre o fizera.
Entretanto, nem tão terrestre nem tão marítima foram, respectivamente, as condutas estratégicas da Alemanha e
da Grã Bretanha.
Desde o início do conflito, o plano alemão havia sido a invasão da França através da Bélgica, pelo famoso plano
Schliefen. Fracassando nessa invasão, com o estabelecimento das enormes linhas de trincheiras, estabilizando-se
também a frente oriental com linhas de trincheiras ao longo do Império russo, desde o mar Báltico até o mar Negro,
seria preciso tentar uma decisão no mar.
Até aí, no entanto, qual tinha sido o pensamento inglês? Poderia a Grã Bretanha adotar a concepção estratégica
das três primeiras grandes coligações contra Napoleão, essencialmente marítima, ou a da quarta grande coligação,
que levou os soldados ingleses ao continente para a batalha de Waterloo?
Só que, na última grande coligação, não havia mais inimigo no mar. A batalha de Trafalgar, de vitória britânica,
liquidara com a ameaça marítima francesa. Agora, os britânicos tinham um inimigo também forte no mar. Não
bastaria apenas o bloqueio, nem seria acertada uma estratégia preponderantemente terrestre.
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A França aliara-se à Grã Bretanha. Para ela era interessante contar com o reforço inglês no continente para que
não tivesse que bater-se sozinha na frente ocidental. Sozinha, de qualquer modo não haveria de ficar, já que a
neutralidade da Bélgica havia sido violada e os belgas, sob o comando de seu enérgico soberano, o rei Alberto I,
combateram bravamente ao lado dos franceses e dos ingleses.
Formaram-se logo duas correntes de pensamento estratégico. Uma liderada por lorde Kitchener, conde de
Cartum, veterano soldado inglês, sexagenário, cuja voz se fazia ouvir com grande acatamento no gabinete de guerra
britânico. Era Lorde Kitchener favorável à estratégia direta, isto é, ao desembarque de tropas no continente, para
lutarem ao lado dos franceses. O emprego da Royal Navy seria secundário, de caráter defensivo, para manter abertos
os portos ingleses e garantir o comércio marítimo.
A outra corrente era liderada pelo almirante barão Fisher de Kilverstone. Lorde Fisher encontrava no emprego da
Esquadra britânica a chave do êxito para a grande luta. Dever-se-ia empregá-la ofensivamente, obrigando a Esquadra
alemã a um encontro decisivo. Depois de liquidada a ameaça marítima, então poder-se-ia fazer um desembarque no
Báltico, por onde se chegaria mais facilmente a Berlim. Fisher via a grande ameaça que a Marinha alemã causava aos
interesses ingleses. O tempo lhe daria razão, quando da terrível campanha submarina irrestrita.
Prevaleceu o ponto de vista de Kitchener, para contento dos franceses.

1.7 - A TRAGÉDIA DOS DARDANELOS


Depois de algumas batalhas e outras ações isoladas, das quais as mais importantes até então foram as batalhas de
Coronel e das Ilhas Falklands, em novembro e dezembro de 1914, onde alternaram-se vitórias alemãs e britânicas, vão os
aliados defrontar-se com um grande problema.
Depois de a Grã Bretanha, a França, a Alemanha, a Rússia e a Áustria-Hungria estarem engajadas, a Turquia entrou
na guerra, em outubro de 1914, ao lado dos impérios centrais (Alemanha e Áustria-Hungria).
As frentes estavam paralisadas, tanto a ocidental quanto a oriental. Foi nessa oportunidade que a Rússia pediu socorro
a seus aliados ocidentais, França e Grã- Bretanha.
A pressão austro-alemã na frente oriental era grande. Além disso, os turcos invadiram o Cáucaso, obrigando a Rússia
a mais um esforço defensivo naquela área. Assim, pressionados, os russos necessitavam de apoio logístico, especialmente
munições e precisavam também escoar sua produção de cereais, que tinham em excesso desde que os turcos lhes fecharam
o estreito de Dardanelos para exportações.
O que fazer pela Rússia? Onde e como o fazer?
Este problema foi para o Conselho de Guerra britânico, onde as duas linhas de pensamento, a de Kitchener e a de
Fisher, colidiram mais uma vez.
Decidiu-se chegar à Rússia pelos Dardanelos, afastando-se todas as demais hipóteses de alcançá-la pelo mar. A
tarefa de tomar os Dardanelos coube, porém, exclusivamente à Marinha.
Winston Leonard Spencer Churchill, então Primeiro Lorde do Almirantado, entusiasmara-se com a idéia de chegar à
Rússia pelo estreito de Dardanelos, porém não atendeu aos clamores de Fisher para que aquela tarefa não coubesse apenas
à Marinha. Churchill esteve mais interessado em realizar a Campanha dos Dardanelos do que em como realizá-la.
Os Aliados fizeram inúmeras tentativas. Os turcos haviam minado o estreito e fortificado suas margens sob a
orientação de um general alemão, von Saunders. Os aliados perderam ali alguns navios, até que perceberam que não
podiam tomar os Dardanelos apenas com navios, porque navios nunca tomaram posição alguma de terra.
Quando, depois de empregarem até navios novos – como foi o caso dos super-dreadnoughts classe Queen Elizabeth –
o que resultou no pedido de demissão de Lorde Fisher, os aliados decidiram usar tropas de terra, já sendo tarde demais.
Uma das margens do estreito de Dardanelos era na península de Galípoli, onde o desastre foi completo. Tudo
aconteceu ao contrário do que se pretendia. A Turquia (Império Otomano) fortaleceu-se e a Bulgária entrou na guerra a
favor das potências centrais. Churchill deixou o Gabinete de Guerra inglês, o mesmo acontecendo com o primeiro-ministro
Asquith. Kitchener morreu antes de ser demitido.
Tudo porque se empregou erradamente o poder naval. Tudo porque os partidários de uma rígida estratégia
terrestre não quiseram abrir mão de suas convicções. O mau emprego dos navios resultou numa custosa lição.

1.8 - A GUERRA CONTRA A NAVEGAÇÃO MERCANTE


O grande revés experimentado pelos aliados com a Campanha de Constantinopla, como também ficou conhecida
a Campanha dos Dardanelos, foi seguida em 1916 de uma gigantesca batalha naval, a maior do mundo até então, a
Batalha da Jutlândia (também chamada de Skagerrak pelos alemães)2, que envolveu 250 navios, sendo cento e
cinqüenta e um ingleses e noventa e nove alemães. Tal batalha, apesar de sua magnitude, não teve conseqüências
estratégicas importantes. Tudo continuou como antes no mar. Não tendo havido vencedores bem definidos, também
não houve resultados claros. Ambas as esquadras, a britânica e a alemã, continuaram a ser o que já vinham sendo:
esquadras em potencial (fleets in being).
2
Esses nomes se explicam porque a batalha tanto se deu ao largo da península da Jutlândia (Dinamarca continental) como ao norte de mar do
Norte, em frente ao estreito de Skagerrak.
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 5 25 CURSOASCENSAO.COM.BR
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A estratégia marítima britânica envolvia uma atividade principal: o bloqueio do inimigo. Esse bloqueio, muitas
vezes furado, não conseguiu impedir que um perigosíssimo elemento aparecesse no cenário da guerra naval: o
submarino.
O submarino era uma arma obscura. Ninguém conhecia exatamente seu valor. Nunca havia sido experimentado
em larga escala. Era conhecido apenas como um navio adequado para a defesa dos portos. O submarino era,
exclusivamente, um navio de emprego defensivo.
Entretanto, tendo finalmente fracassado a célebre ofensiva de Verdun, levada a efeito pelos alemães no começo
de 1916, permanecendo estabilizada a frente ocidental, tendo sido infrutíferos os resultados da Batalha da Jutlândia, a
guerra estava num impasse.
Sem condições de alcançar cedo uma vitória que pretendiam obter sobre a França com seis semanas de guerra, os
alemães voltaram-se tenazmente contra os Aliados no mar, especialmente contra a Grã-Bretanha, lançando as
campanhas submarinas.
Ao começar a guerra, os ingleses tinham 64 submarinos, os franceses, setenta e três, e os alemães, vinte e três.
Quando a guerra terminou, os alemães haviam construído mais de 800 submarinos, o que mostra a importância que
deram a este tipo de navio.
A primeira campanha submarina foi em 1915; a segunda, em 1916. Ambas, porém, foram restritas, isto é, tinham
como objetivo os navios mercantes inimigos, preferencialmente aos de guerra, quando em águas declaradas como
zona de guerra. Dentre os navios afundados, no entanto, cotavam-se freqüentemente navios neutros, o que gerava
protestos diplomáticos. A guerra restrita dava poucos resultados, considerando-se, sobretudo, o abuso de bandeiras
neutras por parte dos ingleses.
Por fim, em 1917, o imperador da Alemanha, Guilherme II, proclamou a campanha submarina irrestrita. Os
alemães afundariam os navios mercantes de qualquer nacionalidade que navegassem na zona de guerra em torno das
ilhas britânicas. Os alemães pretendiam liquidar com a economia inglesa e fazer o povo inglês padecer de fome, já
que a Grã-Bretanha importava alimentos em grande quantidade. Os alemães calculavam que, em 1917, a comida era
transportada para a Grã-Bretanha por 10.750.000 toneladas de navios mercantes, dos quais dois terços era ingleses.
Os alemães pretendiam afundar uma média de 600.000 t de navios mercantes por mês, fazendo com que em pouco
tempo a Grã-Bretanha passasse fome. Tudo teria dado excelente resultado para os alemães, não fossem estudos novos
que se fizeram sobre o tráfego marítimo.
Os ingleses vinham tendo pesados prejuízos na guerra contra a navegação mercante, em face dos elevados
índices de afundamento por submarinos alemães.
Tal situação apresentou-se gravíssima para os britânicos. Havia, porém, uma solução preconizada pelos oficiais
mais jovens do Almirantado.
Por estudos feitos, conforme acima mencionado, verificou-se o seguinte: o tráfego no canal da Mancha, realizado
em comboio, trazia o índice de apenas 5 afundamentos em 2.600 viagens, o que significa apenas 0,19 % de perdas;
nas viagens para a Noruega, com o uso de comboio, as perdas eram da ordem de 0,24 %, enquanto que sem comboio
elevavam-se a 25 %. Tais resultados induziam ao uso do comboio como medida geral a ser adotada para o tráfego
marítimo durante a guerra. O Almirantado britânico, contudo, reagia à idéia, fundamentando-se em argumentos
aparentemente razoáveis como:
a) a velocidade do comboio teria que ser reduzida em função do navio mais lento, o que aumentaria
demasiadamente a demora nas travessias;
b) os portos ficariam congestionados em face da chegada simultânea de um número grande de navios para as
operações de carga e descarga;
c) a viagem em grupo aumentava os riscos de colisão e de conseqüente perda de navios; e
d) o emprego de navios de guerra para a cobertura dos comboios retirá-los-ia de missões ofensivas, com prejuízo
para o desenvolvimento das operações navais.
Os oficiais partidários do comboio contra-argumentaram e por fim viu-se que tinham razão, pois:
a) os comboios poderiam ser agrupados de modo a se comporem de navios com velocidade aproximadamente
igual; os muito lentos viajariam escoteiros (isolados); assim, não haveria substancial prejuízo na rapidez das viagens;
b) a chegada programada, em certa data, de um comboio de navios, permitiu melhor planejamento e execução
das operações de carga e descarga do que a vinda aleatória de navios escoteiros, impossibilitados de prevenir sua
chegada ao porto, por terem que manter silêncio-rádio;
c) os comandantes de navios mercantes mostraram-se hábeis em manter a posição de seus navios em formatura;
e
d) a missão de comboio requisitou poucos navios para escolta, muito menos do que se imaginava, geralmente 5%
dos navios engajados em missões operativas, nunca ultrapassando a porcentagem de 15 % destes.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A vitória do emprego do comboio deveu-se, sobretudo, ao almirante Sims, da US Navy, que tratava, em Londres, do
apoio dos Estados Unidos à Grã-Bretanha. Sims exigiu do Almirantado britânico a adoção do comboio, pressionando-o a
aceitar tal solução, pela qual se entusiasmara ao tomar conhecimento dos estudos realizados, em função da substancial
ajuda que os americanos começavam a prestar com sua entrada na guerra.
O comboio foi a salvação do tráfego marítimo inglês. Todas as outras contramedidas mostraram-se fracas em
comparação com esta.
Depois de usarem minas, redes, hidrofone, mercantes armados, navios-armadilha (Q-ships), carga de profundidade e
comboio, tudo contra os submarinos, apareceu a grande novidade da época, o avião, também usado em larga escala na
proteção à navegação mercante.
No final da guerra, 565 aviões, hidraviões e zepelins apoiaram comboios (últimos seis meses do conflito). Voaram
uma média de 14.000 horas por mês, marca somente ultrapassada em meados de 1943, na Segunda Guerra Mundial. Tais
equipamentos aéreos avistaram 28 submarinos inimigos e atacaram dezenove. Embora não tenham alcançado nenhum
afundamento, seu caráter pioneiro foi brilhante, marcando o início de uma tática anti-submarina que se desenvolveria mais
tarde no segundo grande conflito do século. Dentre as centenas de comboios com proteção aérea e de superfície, apenas
seis foram atacados, com cinco afundamentos.

1.9 - OS TRATADOS DE PAZ: SEMENTES PARA A GUERRA


Com o fim das operações militares, os vitoriosos reuniram-se em janeiro de 1919, no palácio de Versalhes, nos
arredores de Paris, para as decisões do pós-guerra. O encontro foi dirigido pelo presidente norte-americano Wilson e os
chanceleres Lloyd George, da Inglaterra, e Georges Clemenceau, da França.
O plano proposto pelo presidente norte-americano foi inviabilizado por diversos acordos paralelos e, principalmente,
por pressão da França e da Inglaterra. As conversações resultaram no tratado de Versalhes, que considerou a Alemanha
culpada pela guerra e criou uma série de determinações que visavam enfraquecê-la e desmilitarizá-la.
Por esse tratado, estabelecia-se a devolução da Alsácia-Lorena à França e o acesso da Polônia ao mar por uma faixa
de terra dentro da Alemanha que desembocava no porto livre de Dantzig – seria o chamado “corredor polonês”. A
Alemanha perdia todas as suas colônias ultramarinas e parte de seu território europeu para os franceses, ingleses e seus
aliados. Perdia também a artilharia e a aviação e passava a ter um exército limitado a cem mil homens, além de ficar
proibida de construir navios de guerra. Estava obrigada ainda a indenizar as potências aliadas pelos danos causados, num
total aproximado de 30 bilhões de dólares, valor que se foi sendo renegociado nos anos 20, até ser extinto em 1932, na
Conferência Internacional de Lausanne.
O tratado de Versalhes também oficializou a criação da Liga das Nações, que funcionaria como um fórum
internacional no interesse da paz mundial. Essas pretensões, porém, não se concretizaram, pois a liga não contaria no
início com a participação da Alemanha e da Rússia nem do próprio país que a idealizara e que se transformara na maior
potência mundial, os Estados Unidos. Por discordar de muitas das decisões de Versalhes, os norte-americanos preferiram
assinar com a Alemanha um acordo de paz em separado.
No mesmo ano de 1919, o Império Austro-Húngaro foi desmembrado, pelo tratado de Saint-Germain. A Áustria
perdia a saída para o mar e era forçada a reconhecer a independência da Polônia, da Tchecoslováquia, da Hungria e a
criação do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (que, em 1929, adotaria o nome de Iugoslávia), perdendo, assim, a
maior parte de seu território.
Com a Hungria foi assinado o tratado de Trianon; com a Bulgária, o de Neuilly; e com a Turquia, o de Sèvres, este
último reformado por um outro tratado bem mais tarde, o de Lausanne, em 1923, por causa da reação turca às imposições
de Sèvres.
O conjunto de tratados assinados entre 1919 e 1921 selou, enfim, não só a desintegração territorial dos impérios
Austro-Húngaro, Turco-Otomano e Alemão, como determinou o início do processo de consolidação da independência de
novos Estados, cujas soberanias foram ratificadas pelos povos atingidos, por meio de plebiscitos. Tais países, quase todos
situados na península Balcânica e constituídos de etnias eslavas, passaram a integrar as novas áreas para a atuação dos
interesses capitalistas das potências vencedoras.
Somado ao fato de que essas mesmas potências conseguiram, ao final das discussões diplomáticas ocorridas nesse
período, manter praticamente intactas suas possessões na África e na Ásia, temos, na década de 20, o fortalecimento da
supremacia econômica e financeira da França, Inglaterra e Estados Unidos. Supremacia que, 20 anos mais tarde, foi
contestada pelo espírito revanchista alemão que não havia morrido, nem em Versalhes, nem nos acordos posteriores.

2 - O PERÍODO ENTRE GUERRAS


A Primeira Guerra Mundial trouxera grandes alterações no mundo. Com ela findou também uma época, a belle
époque. No mar, a década que imediatamente a antecedeu e o período em que durou foi reconhecido pelos franceses como
l’âge d’or de la marine (a era de ouro da marinha). Isto porque nunca antes o poderio das esquadras foi tão formidável.
Nunca haviam navegado, até então, navios tão grandes sobre os mares. Foi uma época de refinamento em todos os setores.
Foi o tempo do último universalista na ciência, Poincaré; do lançamento da Teoria da Relatividade, por Einstein; do
apogeu da corrida colonialista; do início das preocupações sociais da Igreja; da reformulação do mapa da Europa em favor
das aspirações nacionalistas. Em suma, entre 1880 e 1918 terminou não apenas um século, mas toda uma estrutura social e
política, e novas preocupações vieram à mente dos responsáveis pelo destino da Humanidade.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
A guerra debilitara economias nacionais. A antiga supremacia britânica estava abalada. Novas forças emergiam
no cenário mundial. Os norte-americanos haviam desembarcado pela primeira vez na Europa em missão de guerra e,
ao chegarem à França, disseram estar retribuindo os esforços do Marquês de Lafaiete em prol de sua independência,
cerca de um século e meio antes. Isso tinha, então, grande significado.
Tudo se decidira pela força. A guerra havia sido exatamente como dissera Clausewitz, a continuação da política
por meios violentos. Só que da política de gabinete, a portas fechadas, em conversações bilaterais. O sistema de
alianças, que gerara enorme rede intrincada entre as nações européias, mostrara-se fatal. Em todo esse esquema, as
marinhas e os exércitos eram os poderosos instrumentos de execução da política, ou, quando menos, excelentes
argumentos para o diálogo – bastante convincentes.
Agora os vencedores queriam desforrar-se dos vencidos por uma catástrofe em que todos tinham sua parcela de
responsabilidade. A França estava decidida a cobrar da Alemanha os custos de todas suas divergências com os
germanos, que já eram milenares. Em tudo isso, sobrou um homem bem intencionado: Woodrow Wilson, presidente
dos Estados Unidos da América. Ele compreendeu que um novo mundo se formava. O Império Russo caíra em 1917
e a velha Rússia dos czares se comunizava. O Império Austro-Húngaro esfacelara-se, libertando as nacionalidades
oprimidas da Europa Central. A Alemanha, a Grã Bretanha e a França estavam exaustas. O Império Alemão se
desfizera. O Japão progredia sem desgastes no Extremo Oriente. A América Latina era ainda, junto com a África,
palco das representações dos artistas da economia européia e norte-americana, cada vez mais desta do que daquela.
Onde iria parar o mundo?
Wilson quisera pôr fim às negociações bilaterais ameaçadoras da paz. Insistiu pela criação de uma assembléia de
nações, onde se pudessem discutir as questões comuns. E apareceu a Liga das Nações. Era, pelo menos, uma esperança.
Quanto às armas, reapareceu a velha questão: reduzir os armamentos. Como se isso fosse segurança da paz, quando os
espíritos se mantêm armados. Isso já não tem mais sentido, sobretudo quando já se viu um país semi-desarmado como os
EUA, preparar-se em pouco tempo de maneira fantástica durante o segundo conflito mundial do século XX.
As preocupações com o desarmanento, porém, ficaram na pauta. E as grandes vítimas foram as esquadras. A
alemã já se afundara por vontade própria no fundeadouro de Scapa Flow, abrindo as válvulas de fundo de todos os
seus navios, em 21 de junho de 1919. Sucederam-se as famosas conferências navais, quando se tentou estabelecer um
equilíbrio entre as diversas potências quanto à composição de suas frotas de guerra. Tudo foi, entretanto, inútil. Não
se chegou a um acordo que todos julgassem razoável e começaram as defecções. Em breve cada um teria a marinha
que quisesse, fora do controle internacional.
A Alemanha, esmagada por compromissos de pós-guerra que não poderia cumprir, buscava a revanche.
Encontrou em Hitler o homem que conseguiu encarnar os anseios pela restauração de seu antigo poderio, só que
dessa vez em meio às mais infames violências. Em pouco tempo a Alemanha negociava com seus antigos vencedores
de igual para igual. Foi formando uma marinha e aguerrindo um fabuloso exército.
O medo da guerra apenas adiou-a. A devassidão da política francesa e a complacência inglesa permitiram a
ascensão de um poder militarista capaz de trazer as mais graves dificuldades à Europa.
Alemanha e Itália levantaram-se como as grandes ameaças. Muito mais aquela do que esta.
As guerras localizadas e as conquistas sucediam-se: Etiópia, Manchúria, Tchecoslováquia, Áustria etc.
O último passo foi dado pela invasão da Polônia em 1º. de setembro de 1939. A 3 de setembro a guerra começou.

3 - A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


A guerra eclodira, finalmente. Era o caminho natural de tantos desentendimentos. Dir-se-ia mais tarde que aquele
conflito foi uma continuação do primeiro. Uma diferença era fundamental: a guerra de 1914 estava calcada nitidamente
sobre feroz concorrência internacional, em termos puramente econômicos. Quase tudo girava em torno de acirrada disputa
de mercados, no que a Alemanha foi a grande concorrente da Grã-Bretanha. Era o “gran finale” da corrida colonial. Em
1939, embora persistissem motivos econômicos, sobretudo geopolíticos, havia indisfarçável e até gritante acento
ideológico na contenda. A exacerbação de características de raça, o desejo de vingança e a subestimação da capacidade de
outros povos estavam mesclados com os demais motivos que levaram a Alemanha à enorme guerra.
Apesar de todas as aparências, ao eclodir o conflito, a Itália não contava entre os agressores: mantivera-se neutra,
apesar de sua aliança com os alemães.

3.1 - A ESTRATÉGIA ALEMÃ


Hitler pusera a Alemanha sem grandes opções estratégicas ao romper-se o conflito. Mais uma vez ela era uma
potência continental. Como na Primeira Guerra Mundial, quando sua rede de estradas de ferro, a melhor e a maior da
Europa, lhe garantia excelentes condições para ocupar a “posição interior”, a Alemanha de 1939 estava
magnificamente preparada para uma guerra terrestre. Em 1914, ela contava ainda com a segunda marinha do mundo,
apesar das concepções essencialmente terrestres de guerra de seus chefes militares; naqueles dias, foi a economia de
forças que limitou o emprego da Esquadra de Alto Mar (Hoch See Flotte) com toda sua potência. Em 1939, não havia
opção naval para a guerra, Tudo já estava medido em escala continental.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
É fácil constatar-se isso. Em 1938, quando o almirante Raeder, comandante da Marinha alemã, perguntou ao
fuhrer quando deveria dar-se o esperado e inevitável conflito. Essa pergunta tinha importantíssima razão de ser. Em
função dela Raeder iria traçar a política naval alemã. Se a guerra fosse realmente iminente, a Alemanha trataria de
prover-se de elementos capazes de realizar a guerra de corso – sempre a do mais fraco no mar – empregando
submarinos, cruzadores, navios-mineiros e navios de defesa costeira. Era tudo o que se poderia fazer em pouco
tempo. Se a guerra fosse remota, então a Marinha alemã preparar-se-ia para fazer face à Marinha britânica,
construindo navios de superfície de grande poder de fogo, em condições de disputar o domínio do mar aos ingleses e
de obtê-lo.
A resposta de Hitler foi que não se esperava a guerra antes de dez anos, isto é, de 1948.
Com tal elemento, Raeder elaborou o Plano Z para a Marinha Alemã, que pôs em prática em 1939. Por ele, a
Alemanha teria em 1948 uma Marinha composta de: 10 encouraçados de 54.000 t, 12 encouraçados de 20.000 t, 3
encouraçados de bolso de 10.000 t, 5 cruzadores pesados, 22 cruzadores ligeiros3, 22 cruzadores de escolta, 4 navios-
aeródromos, 68 contratorpedeiros, 249 submarinhos etc.
Em vez de tão poderosa frota, a Alemanha contou, no início do conflito, com poucos navios em relação a suas
necessidades, no caso de se ter que manter uma estratégia naval de grande estilo. Em setembro de 1939, a Marinha
alemã (Kriegsmarine) compunha-se de: 2 encouraçados prontos (Scharnhost e Gneisenau), dois em construção
(Bismarck e Tirpitz), 3 encouraçados de bolso (Deutschland cujo nome mudou para Lützow em outubro de 1939, por
causa do abatimento moral que poderia trazer o afundamento de um navio com o nome da pátria, Scheer e Graf
Spee), 3 cruzadores pesados, 6 cruzadores ligeiros, 26 navios mercantes armados, 56 submarinos e outros navios
menores, como contratorpedeiros, navios-mineiros, navios auxiliares etc.
A Alemanha não pretendia engajar-se a fundo numa guerra naval, como se depreende da situação exposta acima. O
pensamento de Hitler votava-se para o continente. Os alemães estavam impregnados das idéias do inglês Mackinder que
foram expostas em seu livro Democratic ideals and reality, de 1919. Suas teorias podem ser resumidas em: 1) ao contrário
do que afirmou Mahan, ao fim do século XIX, em seu livro The influence of seapower upon History, o poder marítimo e o
poder terrestre alternaram-se decisivamente em longos períodos da História; 2) quando o poder terrestre esteve no ápice,
foi-lhe possível freqüentemente derrotar o poder marítimo, tomando suas bases por meio de campanhas militares
terrestres; 3) o efetivo domínio do mar deu à Grã-Bretanha a hegemonia mundial até o século XX, mas as máquinas a
vapor e a gasolina, as redes de estradas de ferro e de rodagem tiraram ao mar o monopólio do transporte de grandes
volumes de carga; além do mais, o próprio poderio relativo da Grã-Bretanha declinou, se comparado com o poder
continental; 4) uma vez que se tenham alcançado adequadas comunicações e um alto nível de desenvolvimento
econômico, o centro da maior massa de terra estará em condições de exercer o maior poder. Este “Coração da Terra”
(Heartland) compreende a Sibéria Ocidental e a Rússia Européia; 5) um povo vigoroso, empregando moderna tecnologia,
pode vir a dominar a “Ilha do Mundo” (World Island), isto é a Eurásia e a África, através do “Coração da Terra”; 6) a
população e os recursos da “Ilha do Mundo” podem, finalmente, tornar possível a conquista da “Orla da Terra”
(Fringelands), isto é Grã-Bretanha, Japão, Austrália e Américas.
Hitler também pensava assim. Seu principal problema era o do “espaço vital”. Desejava expandir-se justamente
para o “Coração da Terra”, a fim de pôr em prática os pensamentos de Mackinder, que julgava acertados. Daí a futura
campanha contra a União Soviética. Daí o escândalo de um pacto de não-agressão germano-russo, assinado nas
vésperas da guerra. As idéias de Hitler estavam claramente expostas no seu famoso livro Minha Luta (Mein Kampf).
Não havia dúvidas. Sua estratégia haveria de ser de inspiração eminentemente continental. Nada queria da Grã-
Bretanha, senão sua neutralidade. E tentou obtê-la, até ver-se compelido a lutar inexoravelmente contra ela.
Sendo assim, a Alemanha apenas adotou uma tímida estratégia no mar, a do corso. Ela tentou, por todos os meios
disponíveis, usando até mercantes armados (dos quais dispunha vinte e seis ao eclodir a guerra) arruinar o tráfego
marítimo da Grã-Bretanha e de seus aliados. A conduta estratégica alemã foi, substancialmente, a mesma de 1917: a
guerra submarina. Seus corsários de superfície tiveram também grande atividade, tornando-se famosos, como foi o
caso do Graf Spee, afundado em decorrência da Batalha do Rio da Prata, de 13 de dezembro de 1939; ou o do
Bismarck, afundado depois de memorável epopéia, em sua primeira e única viagem, em 27 de maio de 1941.

3.2 - A GRÃ-BRETANHA
A Grã-Bretanha mais uma vez apelou para seu poder marítimo. Tanto quanto em 1914, para ela eram vitais as
linhas de comunicação no mar. Dessa vez, porém, o inimigo era muito mais fraco nos mares.
Os britânicos, aliados dos franceses, desembarcaram tropas no continente europeu. A queda da França, em junho
de 1940, fê-los regressar à ilha depois da tristemente famosa retirada de Dunquerque.
A Grã-Bretanha estava só, enquanto um novo inimigo surgia, aproveitando-se da desgraça francesa: a Itália.
Embora sem ser grande potência militar, a Itália tinha uma boa marinha de guerra, com navios modernos e oficiais
competentes. Sua entrada no conflito veio alterar substancialmente a situação do mar Mediterrâneo, agravada com a
defecção da França. Passou a caber à Grã Bretanha a defesa do Mediterrâneo.

3
A qualificação “pesado” e “ligeiro” refere-se ao calibre dos canhões, maior ou menor; não tem a ver com o deslocamento.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Em que este mar poderia interessar aos ingleses? Acima de tudo por causa do canal de Suez. Através do mar
Mediterrâneo fluíam os interesses ingleses ligados ao Extremo Oriente e ao Oriente Médio, este o principal
fornecedor de petróleo para a Europa Ocidental. Os britânicos não se haviam descurado. Mantinham posições na
entrada (Estreito de Gibraltar), no meio (Ilha de Malta) e na saída do mar Mediterrâneo (Alexandria). Uma esquadra
estabelecera-se em Gibraltar (Força H), outra tinha sede em Alexandria e, mais tarde, outra força naval estabeleceu-se
em Malta (Força K).
Os britânicos cuidavam, assim, de garantir a liberdade dos mares e por eles se defender.
Restava a Hitler uma alternativa para destruir a Grã-Bretanha: a invasão, já que não poderia derrotá-la em seu
elemento. Os alemães cuidaram de planejar a grande Operação Leão Marinho (Sealion), para desembarcarem nas
ilhas britânicas. Antes da invasão, bombardearam duramente o solo britânico, lançando uma terrível campanha aérea,
conhecida correntemente como Batalha da Inglaterra. Os alemães encontraram, contudo, a defesa impressionante
realizada pela Real Força Aérea (RAF) e, embora tenham tentado durante todo o segundo semestre de 1940 e o
primeiro semestre de 1941, acabaram por desistir. Não haveriam de subjugar a Grã-Bretanha pelo ar. Haviam errado
enormemente considerando o avião como arma absoluta, fazendo eco à doutrina do general Douhet, italiano, que a
havia lançado entre as duas guerras mundiais, exagerando a importância do avião. O poder marítimo ainda não
haveria de ceder à nova e temível arma. Embora até hoje se discuta o problema do avião em face do navio, embora a
Segunda Guerra Mundial tenha trazido grandes novidades nesse setor, a verdade é que os usuários do mar mais uma
vez venceram.
A Alemanha abandonou definitivamente suas pretensões com relação à Grã-Bretanha e voltou-se, em junho de
1941, para seu verdadeiro objetivo: a União Soviética. Parecia restar para os britânicos um único sério obstáculo
marítimo: a Marinha italiana operando dentro do mar Mediterrâneo.
Entretanto, enquanto parecia que a guerra naval terminara entre ingleses e alemães com o afundamento do
Bismarck, uma já antiga e terrível ameaça surgiu no Atlântico, contra as comunicações marítimas britânicas: o
submarino.

3.3 - A CAMPANHA DO ATLÂNTICO


Ao começar a guerra, ainda em 1939, iniciaram-se os ataques do Eixo à navegação dos Aliados no oceano
Atlântico. Como dito, o principal meio desses ataques foi o submarino. Depois de pequena dúvida, os ingleses
adotaram o sistema de comboios, que tivera tanto êxito no conflito global precedente. Os alemães, reconhecendo a
impossibilidade de uma guerra regular sobre as águas, adotaram definitivamente a guerra submarina como linha de
ação. O comandante da frota submarina alemã, almirante Doenitz, era partidário entusiástico desse tipo de navio. Por
fim, acabaria por assumir o comando da Marinha alemã, substituindo o almirante Raeder, que se desentendera
constantemente com Hitler em questões estratégicas, uma delas exatamente sobre o emprego dos submarinos.
Os submarinos germânicos espalharam-se por todo o Atlântico, chegando até às costas brasileiras, onde
torpedeariam navios nossos, o que resultou no estado de beligerância entre o Brasil e os países do Eixo Berlim-Roma
(depois acrescido de Tóquio, quando do ataque japonês a Pearl Harbour – ou Porto Pérola como dizem os
portugueses – em dezembro 1941). Embora eficaz, o sistema de comboios era mais vulnerável do que durante a
Primeira Guerra Mundial, devido aos novos recursos com que contava a guerra sob as águas. O índice de
afundamentos era maior, contudo, onde não chegava a proteção aérea à navegação, uma vez que as distâncias eram
superiores ao raio de ação dos aviões encarregados dessa cobertura. Mesmo depois da entrada dos Estados Unidos da
América na guerra, com a utilização de bases em ambas as margens do Atlântico, na Groenlândia e nas ilhas de Cabo
Verde, persistia uma grande área ao norte daquele oceano, conhecida como “black pit”, onde não alcançava a
cobertura aérea aos comboios. Aí davam-se grandes perdas.
Foi uma invenção norte-americana que liquidou com o “black pit”: o navio-aeródromo de escolta, dos quais os
EUA construíram nada menos do que 121 unidades durante o conflito. Tais navios faziam a cobertura aérea próxima
ao comboio, integrando sua escolta. Com eles organizaram-se os grupos de caça e destruição (hunter killer groups),
que reduziram consideravelmente o efeito dos submarinos inimigos. A partir de então os mares podiam ser
completamente cobertos pelos aviões destinados à proteção da navegação mercante.
Ao todo, os U boats alemães (U booten) afundaram 2.775 navios mercantes aliados, dos quais apenas 28 %
navegavam em comboio. De um total de perdas de 23.351.000 t pelas mais variadas causas, os submarinos alemães
foram responsáveis por 14.573.000 t, ou sejam 62,4 % dos afundamentos. A Alemanha empregou 1.175 submarinos
em toda a guerra, tendo perdido 781 deles, enquanto a Itália perdeu apenas 85 submarinos, sendo que 21 desses
navios no Oceano Atlântico. É de se notar, no entanto, que os Aliados realizaram mais de 300.000 viagens marítimas
com êxito através do Oceano Atlântico, ao mesmo tempo que muitas outras centenas de milhares de viagens se
realizaram sem dano nas águas costeiras da Grã-Bretanha.
Tais dados motivam-nos a crer na importância das comunicações marítimas e na necessidade de protegê-las. Daí
a relevância do controle do tráfego marítimo. Foi dentro de todo esse esquema, na defesa da navegação mercante dos
Aliados, que se empenhou a Marinha do Brasil na campanha do Atlântico.
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3.4 - O JAPÃO E A GUERRA NO PACÍFICO


O Japão alinhara-se com os países do Eixo, ampliando-o para Roma-Berlim-Tóquio. Sua política expansionista
na Ásia inquietava enormemente os Estados Unidos da América, de quem o Japão era grande comprador de matérias-
primas. A Guerra da China, resultante da expansão japonesa sobre o continente, começara em 1937, apesar dos
protestos levantados na Liga das Nações. Nada, entretanto, conteria o Japão. Esse país padecera grandemente a
pressão de potências ocidentais, principalmente entre os Estados Unidos da América e a Rússia czarista; cedera em
detrimento de sua soberania, porém, preparou-se cuidadosamente para provar que a raça amarela não era inferior à
branca. Desde meados do século XIX, especialmente depois que foi obrigado a abrir seus portos ao comércio
ocidental sob a ameaça dos navios norteamericanos do Comodoro Perry (1853), o Japão enviou seus estudantes e
técnicos à Europa, enquanto recebia em seu território elementos estrangeiros que lhe deixavam know-how. Depois de
se sentirem seguros, os japoneses dispensaram a atenção estrangeira e dedicaram-se a seu desenvolvimento por conta
própria. Ao findar o século XIX, disputavam com a China domínios continentais (Coréia), o que resultou na Guerra
Sino-Japonesa (1894-1895). Mais tarde, ajustaram velhas contas com a Rússia, por ocasião da Guerra Russo-
Japonesa (1904-1905). Em ambas as ocasiões mostraram-se extraordinários marinheiros, vencendo, respectivamente,
dentre outras, as grandes Batalhas de Yalu (17 de setembro de 1894) e Tsushima (27 e 28 de maio de 1905), ambas
de enorme valor tático.Descortinaram naquela ocasião para o mundo a fraqueza inesperadada China tradicional e as
gravíssimas dificuldades do regime russo.
No primeiro caso, o chinês, a conseqüência da derrota foi oesquartejamento da China pelas potências européias,
cada uma disputando seu quinhão, o que gerou naquele país sério descontentamento, culminando em revoltas contra
os espoliadores estrangeiros, das quais a mais famosa foi a Revolta dos Boxers, em 1900. No segundo caso,
desgastara-se a Rússia numa guerra difícil, cujo teatro de operações estava extremamente longe de suas principais
forças, tanto navais como terrestres, dando lugar a graves demonstrações de inquietamento interno, das quais a mais
célebre é, sem dúvida, o caso do encouraçado Potemkin (1905), junto com a revolução do mesmo ano. Saído sem
desgastes da Primeira Guerra Mundial e vitorioso nos dois conflitos precedentes, o Japão preparara-se para prosseguir
o caminho de conquistas territoriais.
As contínuas agressões realizadas contra a Ásia continental levaram os EUA, por fim, a cancelarem o envio de
matérias-primas para o Japão, uma vez que caducara em 1940 o tratado comercial de 1911. Isso tornava
extremamente crítica a posição japonesa, já que exigia a busca em territórios estrangeiros das matérias-primas que
faltavam no arquipélago nipônico. A grande investida haveria de ser contra as Índias Orientais Holandesas, ricas e
populosas, fornecedoras de petróleo e borracha, dentre outros produtos. Também a Malásia era importante, por sua
rica produção de borracha. Matéria-prima: o grave problema japonês, que seria solucionado (esperavam os nipônicos)
pela conquista das áreas produtoras. Entretanto, a neutralidade norte-americana diante do avanço japonês parecia
cada vez mais difícil. A guerra contra os EUA parecia cada vez mais próxima. Finalmente, uma decisão ficou
tomada: era preciso garantir as comunicações marítimas do Japão com suas novas (futuras) fontes de matérias-primas
no Sudeste Asiático. No meio delas estavam as ilhas Filipinas, ainda nas mãos dos norte-americanos. Se os EUA
rompessem sua neutralidade e adotassem atitude hostil à política japonesa, as comunicações marítimas vitais estariam
seriamente ameaçadas. A grande e definitiva cartada era liquidar com a ameaça norte-americana ocupando as
Filipinas e fazendo guerra, portanto, contra os Estados Unidos da América. Conhecia-se a capacidade industrial
norte-americana, embora esta fosse menosprezada por muitos chefes japoneses. Contudo, por medida de segurança, o
primeiro golpe nos EUA deveria ser fatal, de modo a fazê-los desistirem de prosseguir na guerra. Daí a violência do
ataque a Pearl Harbor (Porto Pérola) em dezembro de 1941, com a intenção de destruir o grosso da esquadra do
Pacífico, encouraçados e navios-aeródromos, principalmente estes últimos. Pretendia-se que, com tal golpe, os norte-
americanos desistissem da contenda e aceitassem as conquistas japonesas na Ásia como um fato consumado. Não foi
isso, porém, o que aconteceu, mas o oposto. Estimuladapela terrível agressão de 7 de dezembro de 1941, a nação
norte-americana levantou-se em armas no maior e mais difícil teatro marítimo da história: o oceano Pacífico.
Por sua imensidão, o oceano Pacífico trouxe dificuldades nunca antes enfrentadas pelas marinhas nas guerras
navais. A mais característica de todas elas foi o apoio a ser dado às esquadras em tão longas distâncias, fora de suas
bases. A solução norte-americana foi a criação do “trem da esquadra” (maintenance fleet), isto é, um grupo de navios
portadores de sobressalentes, combustível, oficinas especializadas para reparos etc. Outra questão foi o
desenvolvimento, em elevado grau, das doutrinas anfíbias, para o desembarque nas diversas ilhas daquele oceano.
Outro aspecto marcante da guerra no Pacífico foi a afirmação do navio-aeródromo como navio capital, logo após a
Batalha de Midway (1942). Sustentam os estrategistas, dentre eles Bernard Brodie, com justa razão, que não se pode
falar em “domínio do mar” no Oceano Pacífico, em face da extensão de sua área. A Segunda Guerra Mundial
exemplificou bem isto, vendo-se constantemente a ação da esquadra japonesa, do começo ao fim do conflito, apesar
da investida constante da esquadra norte-americana. Até a campanha submarina, por parte do Japão, assumiu aí
aspectos particulares. Ao contrário dos alemães, que atacavam a navegação mercante, os japoneses visavam destruir
os navios de guerra inimigos. Com isto, pretendiam poupar sua própria esquadra de ataques de navios norte-
americanos.
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3.5 – A GUERRA AERONAVAL NO MEDITERRÂNEO

3.5.1 – SITUAÇAO EM SETEMBRO DE 1939


A atitude da Itália no começo da guerra é julgada severamente na Alemanha. Entretanto, à luz das informações
de que hoje dispomos, a posição italiana em face da Alemanha parecia forte.
Em maio de 1939, Mussolini havia enviado a Hitler um memorando ultrassecreto, que foi levado a Berlim por
Cavallero, oficial-general que mais tarde foi chefe do estado-maior e que viria a ter um destino trágico (tendo
recusado seus serviços à Alemanha, foi assassinado pela Gestapo em setembro de 1943, sendo sua morte camuflada
em suicídio). A nota do Duce, conhecida hoje em dia como "memorando Cavallero", poderia ter assegurado alguma
tranquilidade à Europa, talvez mesmo a paz, se tal trégua fosse aproveitada. Mussolini achava que um conflito era
inevitável mas a Itália não poderia estar envolvida nele antes de três anos. Ele pedia, então, ao Fuhrer que evitasse a
guerra até 1942. Hitler concordou a princípio com as sugestões do Duce. Em fios de maio de 1939, era assinado o
pacto de aço entre a Itália e a Alemanha. Seu primeiro artigo especificava que as duas potências se manteriam em
contato permanente e concordariam em todos os assuntos de interesse comum; o artigo terceiro estipulava que, se
uma das partes contratantes se envolvesse em uma ação militar, a outra devia auxiliá-la com todas as suas forças. Em
11 de agosto, Ribbentrop anunciava ao Conde Ciano que a Alemanha atacaria a Polônia e lhe solicitava a aplicação
do pacto. Os italianos, não tendo sido consultados previamente, poderiam prevalecer-se do artigo primeiro do pacto
para sofismarem sobre o terceiro. Preferiram, entretanto, agir dentro do espírito do "memorando Cavallero": a entrada
em guerra três anos antes do que haviam previsto pegava-os desprevenidos. Em 25 de agosto, Mussolini telegrafava a
Hitler dizendo-lhe que a Itália não podia entrar em campanha, a menos que recebesse uma ajuda substancial. Eram
então pedidas 6.000.000 toneladas de carvão, 2.000.000 de toneladas de aço, 7. 000.000 de toneladas de combustíveis
líquidos, 1.000.000 de toneladas de madeira e 150.000 toneladas de couro. Attolico, embaixador italiano em Berlim,
fez ver que a liberação de tais matérias devia ser imediata, precedendo mesmo a entrada em guerra. No mesmo dia,
Hitler' respondia que não tinha condições de atender imediatamente tais exigências. Dizia também que compreendia a
situação da Itália e lhe pedia simplesmente que operasse deslocamentos de tropas com o intuito de reter junto aꞏ suas
fronteiras forças franco-britânicas. Uma nova troca de mensagens confirmou a neutralidade italiana com a
aquiescência de Hitler. A manobra da Itália poderá ser taxada de oportunista, mas na verdade, como hoje se sabe, era
bastante grave o despreparo de seu Exército, o que justificava sua atitude. A Itália proclama, então, sua não-
beligerância, termo que, para Mussolini significava neutralidade, favorável à Alemanha. Durante a guerra, os
italianos passariam da não-beligerância à guerra contra os Aliados, depois à co-beligerância, ou guerra ao lado destes.
Apesar do termo inquietante de não-beligerância, a posição tomada pela Itália em setembro de 1939 nos foi
extremamente favorável. A Espanha, extenuada pela guerra civil e inquieta com o pacto de não-agressão germano-
russo, encontrava na decisão da Itália uma razão suplementar para não entrar na luta e proclamou sua neutralidade.
No Mediterrâneo Oriental a situação era ainda melhor. A Turquia, ao contrário do que acontecera em 1914, era
francamente favorável aos Aliados e, em 19 de outubro, foi assinado um tratado entre a Turquia, a França e a Grã-
Bretanha, dando garantias à Grécia e à Romênia, o que foi seguido por contatos entre os estados-maiores. Assim,
todas as costas do Mediterrâneo estavam neutras ou se encontravam sob o domínio da França ou da Grã-Bretanha. A
guerra começava nesse teatro nas condições mais favoráveis, apesar da necessidade que tinham as duas potências de
manter aí forças de segurança.
Durante muitos anos os estados-maiores franceses haviam tido no primeiro plano de suas preocupações o
transporte rápido de tropas da África do Norte para a metrópole. A Marinha, a quem cabia grande responsabilidade,
havia estudado a questão em todas as suas formas e previsto todas as eventualidades. As turmas da Escola de Guerra
Naval estavam todas dedicadas a este problema e uma grande parte dos exercícios da Esquadra tinha como motivo o
tema da passagem. Tudo se tomou fácil pela neutralidade da Itália e a impotência das forças navais alemãs.
No começo da guerra, a Alemanha dispunha essencialmente de dois encouraçados - Scharnhost e Gneisenau; três
encouraçados de bolso; três cruzadores pesados; cinco cruzadores ligeiros; nos cinquenta contratorpedeiros e
cinquenta e sete submarinos, dos quais somente vinte e seis eram capazes de agir fora do Mar do Norte. As forças de
superfície alemãs não podiam penetrar no Mediterrâneo devido a sua inferioridade e os submarinos tinham muito que
fazer no Atlântico. Além do mais, em 7 de setembro, Hitler ordenava aos submarinos alemães que não
empreendessem nenhuma ação ofensiva contra os navios franceses. Ele esperava, então, que a França, após a derrota
da Polônia, aceitasse uma paz de compromisso. Tal ordem foi revogada em 23 de setembro, mas a Marinha alemã
não enviou submarinos ao Mediterrâneo. Somente no verão de 1941 os primeiros U-Boote transporão Gibraltar.
Assim, a situação do Mediterrâneo em 1939 se apresentava o mais favoravelmente possível. A França e a Grã-
Bretanha puderam destacar para o Atlântico uma grande parte das forças reservadas para combater a Itália. Somente
alguns navios leves, participando do bloqueio, asseguravam a proteção ao tráfego marítimo no Mediterrâneo contra
eventuais corsários inimigos.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Por outro lado, a estratégia aliada pretendia, a longo prazo, realizar uma intervenção nos Bálcãs, onde a
diplomacia preparava o terreno. Ao mesmo tempo, a 86ª divisão argelina foi enviada à Síria. A manobra de alas,
bastante empregada pelos chefes franceses, baseava-se na certeza da cristalização da frente nordeste, o que
infelizmente estava errado. A neutralidade da Itália, que deixava aos Aliados o domínio inconteste do Mediterrâneo,
permitia conceber grandes planos para o futuro, esperando-se conservar as margens desse mar.
O bloqueio marítimo foi, desde o princípio, mais severo do que durante a Primeira Guerra Mundial. Foram muito
extensas as listas de contrabando absoluto e condicional estabelecidas pelos Aliados. Em 8 de setembro, já estavam
designados os portos de controle. Em 1º de dezembro, foi criado o sistema dos navicerts: o navio que aceitasse ter a
sua carga examinada por um agente aliado em um porto neutro, se não transportasse contrabando, recebia um
certificado que lhe permitia atravessar rapidamente os Cruzeiros de controle. Ele encontrava em tal método uma
vantagem certa, enquanto a própria vigilância aliada era mais fácil e mais segura. Desde o começo da guerra, as
importações dos neutros vizinhos da Alemanha foram limitadas a um certo valor, com o que se evitavam os desvios
para o inimigo, que, na guerra de 1914-18, haviam sido de vulto. Nos tempos de paz, os países Danubianos enviavam
suas exportações destinadas à Alemanha pelo Mar Negro ou pelo Mediterrâneo. Era-lhes preciso usar o Danúbio em
contrapartida e, durante os períodos de gelo, as estradas de ferro, cujo rendimento era ainda menor. Dispondo de
meios para comércio, os Aliados podiam comprar, ainda que a preços elevados, na Suécia, na Bélgica e no Sudeste da
Europa, matérias-primas, que a Alemanha só podia obter com pesadas dificuldades. A Itália chegou a fornecer
material de guerra à França, do que o Reich se queixou amargamente. O Governo italiano respondeu neste caso que
tais vendas lhe permitiam obter fornecimentos necessários à sua preparação militar e que o aumento de sua força
ajudava indiretamente o seu Aliado.
Tudo isso podia parecer bastante sutil, mas muitos italianos ainda hesitavam. "Ganhai vitórias e estaremos
convosco, dizia Ciano aos Aliados. Novas medidas de bloqueio tinham altera as nossas relações com a Itália. Em 21
de novembro de 1939, os Aliados anunciaram que, em represálias às mensagens efetuadas ilegalmente pelos alemães,
eles se apoderariam de todas as exportações da Alemanha, sem levar em conta a bandeira do navio transportador.
Tais medidas contrariavam a Declaração de Paris, de 1856. O Japão, a Bélgica, a Holanda, a Dinamarca e a Suécia
reclamaram. A 27 de novembro, o Rei Jorge assinava a "ordem em conselho" e a 28 o Governo francês publicava um
decreto, tudo para aplicar a decisão tomada em comum; sua execução começou em 4 de dezembro. Entretanto, não
foram apreeendidas as exportações alemãs, de carvão para a Itália, que passassem sob pavilhão neutro. Em dezembro,
o Governo italiano enviou à Grã-Bretanha uma nota de protesto contra o bloqueio, solicitando sobretudo o fim dos
desvios das rotas dos navios e a anulação de todo o controle das comunicações entre a Itália e seu império colonial.
Deixando a porta aberta às discussões, o governo britânico rejeitou as pretensões da Itália em 9 de janeiro de 1940.
Em fevereiro, fracassaram as negociações entre a Grã-Bretanha e a Itália para um tratado de comércio e, em 18
desse mês, Sir Percy Lorraine informava ao Conde Ciano, em Roma, que todos os transportes de carvão que viessem
da Alemanha, por via marítima com destino à Itália, seriam detidos. No início de março, treze carvoeiros italianos
partiram da Alemanha com destino à península Itálica; foram rapidamente interceptados no Mar do Norte pela
Esquadra britânica, e não surtiram efeito os protestos italianos.
Por mais severo que fosse o bloqueio, não podia ter senão uma fraca influência sobre o desenrolar do conflito. A
Alemanha havia organizado uma política de auto suficiência que diminuía sua vulnerabilidade. Por outro lado, ela
contava receber da União Soviética as matérias-primas que lhe faltavam. O bloqueio irritou profundamente os
italianos. Embora não tendo sido a causa principal de sua entrada na guerra, serviu à propaganda de Mussolini para
preparar a opinião pública.

3.5.2 – ENTRADA ITALIANA GUERRA


É de alguma forma injusto dizer-se que Mussolini esperou os acontecimentos militares de maio de 1940 para
entrar na guerra ao lado da Alemanha porque sua decisão fora anterior. Desde a queda da Polônia ele estava
convencido da vitória alemã. Dizia o Duce a Ciano: A Inglaterra será derrotada, inexoravelmente derrotada. E farás
bem em meter essa verdade na sua cabeça”. Além do mais, ele achava que a intervenção era uma questão de honra
que declarava que os italianos não podiam ser “gli eterni traditori”. Em 10 de março de 1940, Ribbentrop vinha de
Roma. Após essa visita, Mussolini encontrou-se com Hitler em Brenner, a 18 do mês de março, e lhe prometeu
intervir. Em 31 de março, o Duce enviou ao Rei e aos altos chefes militares uma nota ultra-secreta sobre a
necessidade de se engajar no que chamava de guerra paralela, termo ao qual voltaremos a falar. A guerra estava,
portanto, decidida no pensamento de Mussolini, em fins de março de 1940. A derrota da França apenas ajudou a
vencer as resistências internas e o levou a antecipar a data das hostilidades.
As intenções dos italianos não eram desconhecidas dos aliados. Desde fins de abril, a Grã-Bretanha retirou seus
navios do Mediterrâneo e tomou junto com a França as medidas militares previstas para o caso de guerra contra a
Itália. Por convecção a Inglaterra encarregava-se da guarda do estreito de Gibraltar e do Mediterrâneo Oriental; A
França encarregava-se da bacia ocidental. Um encouraçado e três cruzadores franceses foram mandados para
Alexandria às ordens do almirantado britânico e, por outro lado, os submarinos de Malta foram colocados à
disposição do Almirantado francês.
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Todas as medidas foram tomadas em tempo, no mar, pelos aliados e em nenhum momento eles ficaram em
posição de serem surpreendidos por um ataque aeronaval italiano. Em maio, o ritmo dos acontecimentos na frente
ocidental conduziu Mussolini a precipitar a entrada na guerra. A campanha pela imprensa crescia na Península e
permitia prever o próximo desencadeamento das hostilidades. Entre os agravos invocados para arrastar o país para a
guerra, destacava-se o bloqueio. A 11 de maio, a imprensa publicou um relatório de Luca Pietromarchi, chefe do
escritório de guerra econômica, em que punha em relevo os prejuízos sofridos pela Itália por causa do bloqueio naval
e, sobretudo, devido à maneira como este foi exercido. Em 8 de junho, um novo relatório proclamava que a Itália não
podia mais tolerar tal situação. No dia 10, às 18 horas, do famoso balcão do Palazo Veneza, Mussolini anunciava a
entrada na guerra, a partir da zero hora do dia 11 daquele mês. Várias corpo-rações e associações (Academia da Itália,
Universidade, Associação dos Mutilados e Combatentes, Corporação dos Trabalhadores, etc...) haviam dirigido ao
Duce mensagens de calorosa adesão. Assim, eles aprovavam o que o Presidente Roosevelt iria chamar de punhalada
nas costas, e que era pior na realidade, pois era um golpe dado em um combatente já vencido. Porém, inúmeros
italianos reprovavam em silêncio essa agressão contra irmãos de raça, os camaradas de Piave, os descendentes dos
combatentes de Magenta. Ao assinar o armistício alguns dias mais tarde, o Marechal Badoglio dirá a seus oficiais:
"Jamais estive tão aborrecido e penalizado como hoje". O país entrava em guerra com a consciência profundamente
inquieta e perturbada. Colocavam-se todas as esperanças numa guerra curta, estado de espírito pouco favorável para
suportar a longa adversidade que o futuro reservava.
Em 8 de junho, o Almirantado italiano tinha dado a ordem de se refugiarem o mais rapidamente possível em
águas neutras a todos os navios mercantes italianos que não pudessem demandar um porto do Eixo. Com o fim de
melhorar sua balança comercial, a Itália havia deixado navegar sem restrições a sua frota mercante, e a repentina
entrada na guerra não havia lhe permitido recuperar a tempo os seus navios. 218 navios, representando cerca de
1.200,00 toneladas de arqueação, permaneciam no estrangeiro. Esta perda atingia cerca de um terço da Marinha
Mercante italiana e os navios que ela envolvia estavam entre os melhores. Isto era um revés do qual não se deu
plenamente conta logo, mas que teve maus tarde as piores consequências. Não existe marinha de guerra forte sem
marinha mercante. O almirantado italiano sabia disso, mas o governo de Mussolini o ignorava. Depois o Duce viria
lamentar amargamente o que o pessoal da marinha na Itália chamou de tragédia inicial de sua marinha mercante.
O teatro do Mediterrâneo caracteriza-se por sua compartimentagem. Ele é esquadrinhado pela linha das Baleares,
orientada do Sudeste para o nordeste e pela linha Córsega-Sardenha-Sicília, o que isola o mar Tirreno. Tal separação
havia conduzido o comando francês a dividirem três grupos suas forças de alto mar: em Toulon, a Segunda Esquadra;
em Oran, a Terceira Esquadra; em Argel, uma divisão de cruzadores. Além disso, havia sido criado um comando de
teatro sob as ordens do Almirante Esteva. Este tinha a missão de assegurar proteção aos comboios e estabelecer
dispositivos de segurança: um dispositivo no Sudoeste para reforçar e escalonar a vigilância exercida pelos britânicos
em Gibraltar; um dispositivo no Sudeste, entre a Sicília e a Tunísia; um dispositivo no Nordeste, no Alto Tirreno. O
Almirante Esteva dispunha de elementos ligeiros de superfície, de submarinos e de aviões, mas as esquadras não
estavam sob suas ordens, pois eram subordinadas diretamente ao Almirante Darlan, comandante-em-chefe das forças
navais francesas, sediado em Maintenon. Esta organização se justificava pela necessidade de se manterem as
comunicações entre as forças de alto mar do Atlântico e do Mediterrâneo, e também pela excelência das transmissões
de que dispunha o comandante-em-chefe em Maintenon, onde a Marinha havia estabelecido um quartel-general
altamente organizado. Entretanto, não havia nisso uma dualidade de comando no Mediterrâneo, e o comando
britânico podia tratar de todas as questões de sua competência com o Almirante Esteva.
Tal era, em resumo, a organização do comando naval francês e a distribuição das forças navais no Mediterrâneo.
Tais dispositivos funcionaram por um período curto demais para que se possa julgá-los à luz da experiência. É
verdade que seríamos levados a aumentar as forças ligeiras baseadas na Tunisia, em detrimento de elementos
baseados em Argel e Oran, que estavam demasiadamente excêntricos para uma ação eficaz contra as comunicações
inimigas entre a Líbia e a Itália. Em outras palavras, seria preciso aproximar nossas forças navais do Mediterrâneo
central, mas essa transferência de forças só poderia ser feita após o reforço da aviação de caça baseada na Tunísia. Os
italianos haviam disposto suas forças no Baixo Tirreno e no Mar Jónio, podendo elas juntar-se através do Estreito de
Messina. A 15 de junho, os italianos declararam perigosa para a navegação uma zona de 12 milhas em volta das
costas da metrópole, da Albânia e das colônias. A 1º de junho, anunciaram que o Estreito da Sicília devia ser
considerado como minado e que a navegação neutra poderia demandar o Estreito de Messina. Realizaram or ações de
minagem entre a Tunísia e a Sicília, tendo sido estas executadas com a cobertura de cruzadores e contratorpedeiros,
sem terem sido perturbadas por forças navais inimigas.
A única operação de certa importância no Mediterrâneo Ocidental foi o bombardeio de Gêova e de Vada pela
Segunda Esquadra francesa. Prevista inicialmente para o dia 12 de junho, ela foi adiada 48 horas por causa das
hesitações do Governo francês. Este estimava, então, que a Itália, em presença de uma Alemanha poderosa,
procuraria evitar o esmagamento da França no tratado de paz, sendo necessário, pois, não se indispor contra ela.
Mussolini, entretanto, pensa sobretudo em arrancar à França e à Grã-Bretanha o máximo de despojos possível, aos
mínimos custos. Em 12 de junho, o bombardeio de Bizerta, realizado por cerca de vinte aviões italianos, resultou na
decisão do Governo francês, e o Almirante Darlan, às 22,50 horas, deu a ordem para se executar a operação. Sob o
comando do Almirante Duplat, a esquadra suspendeu no dia 14, às 21 horas. No dia 15, por volta das 4:30 o Grupo de
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Vado (Algérie, Foch e as 1ª e 5ª divisões de contratorpedeiros) abriu fogo sobre reservatórios de combustível e sobre
os estabelecimentos metalúrgicos de Savo, sobre as usinas de aço de Ilva, em Savona, e sobre as baterias de terra. A
reação do inimigo foi viva e o tiro das baterias enquadrou o Algérie sem atingi-lo. Os italianos dispunham apenas de
elementos móveis de defesa costeira naquela região. Por duas vezes as lanchas torpedeiras atacaram sem resultado.
Ao mesmo tempo, o grupo de Gênova (Dupleix, Colbert e a 7ª divisão de contratorpedeiros) bombardeava a usina de
gás, os estabelecimentos metalúrgicos de Sestri Ponente e as baterias de terra. Lá também a reação das baterias de
terra foi viva. O contratorpedeiro Albatros foi atingido por um projetil que o pôs momentaneamente fora de ação e
matou ou feriu quatorze homens. O velho contratorpedeiro italiano Calatafini encontrava na área escoltando um
varredor de minas, realizou, sem resultado, um ataque torpédico contra os contratorpedeiros franceses. Oito
bombardeiros de nossa aviação participaram desses ataques. A aviação italiana não interveio nem em Vado nem em
Gênova. A esquadra regressou a Toulon por volta do meio-dia do dia 14. No Mediterrâneo Oriental, compreendendo
quatro encouraçados, um navio-aeródromo cinco crizadores e uns tantos contratorpedeiros. A Esquadra de Alexandria
explorava o mar até o sul da Itália desde o dia 11 de junho, sem encontrar o inimigo. Em 21 do mesmo mês, uma
esquadra composta do encouraçado Lorraine, de quatro cruzadores britânicos e de contratorpedeiros bombardeou os
depósitos de munição) e de material em Bardia, sem resposta dos italianos. Os cruzadores franceses de Alexandria
fizeram uma exploração no mar Egeu e, de sua parte, os italianos suspenderam para cruzeiros com a sua Segunda
Esquadra. Em 1 l de junho, um submarino italiano havia afundado o velho cruzador inglês Calypso, junto à Ilha de
Creta. As aviações oponentes bombardearam algumas posições os franceses atacaram Savona, Gênova, Livorno,
Cagliari e Palermo; os italianos, Malta, Bizerta, Toulon e Marselha. Todas essas operações tiveram pequena
envergadura. As operações aeronavais se limitaram, cm suma, a escaramuças. Em terra, a 21 de junho, as tropas
italianas tomavam a ofensiva na frente alpina, a qual pouco progrediu, tendo sido sangrenta para os assaltantes.

3.5.3 - A ESQUADRA FRANCESA APÓS A QUEDA DA FRANÇA


O Governo francês não cessara de afirmar que em nenhum caso deixaria os navios franceses caírem em mãos do
inimigo. Entretanto, a sorte da Esquerda francesa inquietava profundamente o Governo britânico. A 25 de junho, dia
seguinte da assinatura do armistício franco-italiano, Churchill declarava aos Comuns: A segurança da Grã-Bretanha e
do Império está ligada de maneira considerável, senão decisiva, à sorte da Esquadra francesa".
A principal cláusula marítima do armistício franco-alemão era dada pelo artigo 89, assim redigido:
"A Esquadra francesa, com exceção da parte deixada à disposição do Governo francês para a salvaguarda de seus
interesses em seu império colonial, reunir-se-á em portos a serem determinados e deverá ser desmobilizada e
desarmada sob o controle da Alemanha e da Itália.
A determinação dos portos se fará segundo as sedes dos navios em tempo de paz. O Governo alemão declara
solenemente ao Governo francês que não tem a intenção de usar a seu serviço, durante a guerra, a Esquadra francesa
sediada em portos sob seu controle, exceto as unidades necessárias para a patrulha costeira e a varredura de minas.
O Governo alemão declara ainda, formal e solenemente, que não tem a intenção de fazer reivindicações com
respeito à Esquadra francesa por ocasião da conclusão do tratado de paz.
Com exceção da parte da Esquadra francesa, a ser determinada, que se destinará à salvaguarda dos interesses
franceses em seu império colonial, todos os demais navios de guerra que se encontrarem fora das águas territoriais
francesas deverão retornar à França.
Os delegados franceses haviam tentado modificar a prescrição concernente ao desarmamento nos portos-sede,
fazendo crer que os navios franceses corriam o risco de serem destruídos pela Aviação britânica, caso permanecessem
baseados no Atlântico e na Mancha. Keitel observou, então, que o texto alemão empregava a palavra "soit', que
deixava a porta aberta para discussões na comissão de armistício, e não a palavra "muss", que é imperativa; os dois
termos "muss" e "soit' traduzem-se em francês pela mesma palavra "doit' (deve). O artigo J 29 do armistício com a
Itália era análogo ao artigo 89 do armistício franco-alemão. Alguns navios franceses tinham como sede Brest, Lorient
e Cherburgo. Seu regresso a esses portos colocava-os mais ou menos à disposição dos alemães, Na realidade, a
discussão em torno dêste assunto era bastante teórica, pois, no momento do armistício, a Esquadra francesa estava
espalhada em portos livres ou sob o controle dos ingleses. Quanto aos navios nesta última situação, era evidente que a
Grã-Bretanha não os deixaria zarpar e muito menos permitiria que um navio nosso, de algum valor militar
importante, suspendesse da África para alcançar qualquer porto francês do Atlântico ou da Mancha. E os britânicos
tinham meios para se fazerem valer. Aliús, nunca veio à mente de um oficial sério a ideia de enviar o Richilieu de
Dacar para Brest. O Almirantado britânico, contudo, considerava perigosa a permanência de nossos navios tanto em
Toulon como em Dacar, e só admitia como solução o seu desarmamento em um porto inglês ou na América. Para o
Governo britânico, a França só estaria livre de suas obrigações do tratado de aliança se enviasse seus navios para
portos controlados pelos ingleses. Os alemães jamais aceitariam tal condição, o que tornaria impossível o armistício
julgado imprescindível pelo Governo francês. As posições eram inconciliáveis Assim como Churchill, o Almirantado
britânico julgava indispensável a neutralização da Esquadra francesa e pediu ao Governo autorização para tomar as
medidas necessárias. Tal autorização foi dada após dramática reunião do gabinete de guerra inglês em Downing
Street, por decisão unânime de seus membros. A necessidade supera a lei. Além disso, havia já um ilustre precedente,
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pois, a 2 de abril de 1801, Nelson havia aniquilado a Esquadra dinamarquesa, que era neutra, porque a Coligação dos
Neutros ameaçava a supremacia marítima da Grã-Bretanha.
A esquadra francesa do Atlântico estava concentrada em Mers-el-Kebir, onde começaria sua desmobilização.
Compreendia os quatro encouraçados Dunquerque, Strasbourg, Provence e Bretagne, e os seis contratorpedeiros
Volta, Mogador, Terrible, Lynx, Tigre e Kerasit, todos sob as ordens do Almirante Gensoul. Além desses,
encontravam-se em Mers-el-Kebir o transporte de aviação Commandant-Teste, alguns contratorpedeiros e
submarinos subordinados à região marítima da Argélia-Tunísia.
Em 3 de julho, de manhã cedo, o Almirante Sommerville chegava diante de Mers-el-Kebir, à frente de uma
importante força britânica compreendendo o grande cruzador de batalha Hood, os encouraçados Resolution e Valiant,
o navío-aeródromo Ark Royal, dois cruzadores e nove contratorpedeiros, e apresentou ao Almirante Gensoul um
ultimato em que lhe pedia tomar uma das seguintes medidas:
a) suspender e continuar a combater ao lado da Grã-Bretanha e contra a Alemanha e a ltá1ia;
b) suspender com guarnição reduzida para um porto inglês;
c) conduzir a esquadra com guarnição reduzida para um porto francês das Antilhas, onde seriam desarmados ou
confiados à vigilância dos Estados Unidos.
O ultimato terminava assim: "Se rejeitardes as alternativas acima oferecidas, lamentando profundamente eu devo
solicitar-vos que afundeis vossos navios dentro de um prazo de seis horas. Em caso de recusa definitiva, tenho ordens
do governo de sua Majestade Britânica de empregar a força que se fizer necessária para impedir que vossos navios
caiam nas mãos dos alemães ou italianos. Depois de entrar em contato com a Marinha de Vichy, o Almirante Gensoul
rejeitou o ultimato.
É difícil aceitar um exigência estrangeira sob ameaça da força. Tal consideração, contudo, deveria ser revelada,
tendo-se em conta os interesses em jogo. Aceitando o ultimato, o Almirante salvava a esquadra e a reservava para o
futuro. Mas isso violava o armistício, o que podia acarretar consequências desastrosas, talvez o reinício da luta e a
ocupação da África do Norte. Não é possível saber-se com certeza como os alemães teriam reagido, mas o comando
francês devia pesar todas as consequências. A discussão com os ingleses prolongou-se durante todo o dia, após o
prazo já dilatado do Almirante Sommerville. Tendo consultado seus contra-almirantes, chefes-de-divisão, que
achavam que o ultimato não podia ser aceito, o Almirante Gensoul dispoê-se a desarmar seus navios no lugar em que
se encontravam, porém julgou que nada maus podia fazer como concessão aos ingleses. Cerca de 17:50 horas,
parecendo esgotar-se todas as possibilidades de se chegar a um acordo, a esquadra britânica abriu fogo.
Não era uma batalha, mas uma execução. Os navios franceses não tinham nenhuma liberdade de manobra, pois
estavam reunidos num lugar restrito. O almirante Gensoul havia revidado com o fogo dos seus canhões, mas não
pudera suspender, uma vez que fora informado desde o início que qualquer movimento poria fim ás negociações. Os
navios ingleses se beneficiavam da observação aérea, enquanto os aviões franceses não estavam em condições de
intervir imediatamente.
O bombardeio inglês não durou mais de um quarto de hora, tendo resposta dos navios franceses, que tentavam
suspender. O Starsbourg teve sucesso na difícil manobra e conseguiu chegar a Toulon, acompanhado de alguns
contratorpedeiros, apesar de ter sido perseguido e atacado por aviões do Ark Royal. O Dunkerke fora atingido nas
maquinas e imobilizado; o Bretagne recebera dos projeteis de 380mm, um em uma caldeira e, outro, nos paióis de
munição, afundando rapidamente; o Provence, com grande rombo no costado (água aberta), teve que encalhar. O
Mogador, que havia suspendido, foi atingido por um projetil de grosso calibre, que destruiu sua popa. As minas
magnéticas lançadas pelos aviões ingleses não causaram nenhuma perda. Nos dias que se seguiram, os aviadores
ingleses, que haviam vindo constatar o estado da esquadra em Mers-El-Kebir, julgavam que o Dunkerke estava
insuficientemente avariado. A 6 de julho, três esquadrilhas de aviões torpedeiros renovaram o ataque; o Dunkerke,
tinha a seu contrabordo uma chata de munição, que, atingida por um torpedo, explodiu causando novas avarias ao
encouraçado. As perdas totais de navios franceses foi de mais de 1.300 mortos nos dias 3 e 6 de junho.
Entretanto, navios afundados em um porto pouco fundo são postos fora de ação definitivamente. Com exceção
do Bretagne, os outros navios, após sofrerem reparos provisórios, puderam alcançar Toulon, onde se prosseguiu na
sua recuperação, que poderia ter sido mais rápida se os alemães fornecessem os materiais necessários. Pode-se
perguntar se os inconvenientes da operação não foram maiores do que os benefícios. Ela enfureceu o pessoal da
Marinha francesa, criando assim um estado de espírito que influiu no curso dos acontecimentos. Por outro lado, o
Governo francês foi obrigado a aceitar a concentração da maior parte da Esquadra de Toulon, onde ela se encontrava
em uma armadilha, o que poderia ter sido evitado sem os acontecimentos de Mers-el-Kebir. As forças francesas de
mar, terra e ar conheceram terríveis sofrimentos morais após a derrota, mas foi a Marinha quem teve o mais doloroso
calvário, marcado por diversas estações, das quais Mers-el-Kebir não foi a menos triste.
Em Alexandria, as coisas se passaram o menos mal pos-sível. Por ocasião do armistício, a esquadra francesa,
fun-deada no porto ao lado dos navios britânicos, compreendia o velho encouraçado Lorraine, os cruzadores Suffren,
Tourville, Duguay-Trouin e Duquesne, os três contratorpedeiros Fortuné, Forbin e Basque e o submarino Protée, que
havia suspendido após o armísticio. A esquadra era comandada pelo Almirante Godfroy. A esquadra britânica, bem
mais poderosa, era composta pelos quatro encouraçados Warspite, Malaya, Ramillies e Royal Sovereign, pelo navio-
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aeródromo Eagle, por cruzadores e contratorpedeiros. Os dois Comandantes, Almirante Godfroy e Cunningham,
mantinham relações de confiança e amizade. Apesar da superioridade da esquadra britânica, uma batalha dentro do
porto podia trazer-lhe sérias perdas que o Almirante Cunningham desejava evitar. Além do mais, ele queria evitar
uma luta cujo caráter odioso compreendia perfeitamente. Os dois chefes, de moral igualmente elevada, manteriam nas
dis-cussões grande espírito de conciliação.
Pouco depois do armistício, o Almirante Cunningham enviou ao Almirante Godfroy um ''aviso cortés"
informando-o de que o Almirantado britânico opunha-se à saída da esquadra e, a 3 de julho, dirigiu-lhe uma
notificação solicitando-lhe que adotasse uma das seguintes medidas:
a) juntar-se à esquadra britânica;
b) desarmar -se no porto;
c) afundar-se.
Durante a discussão que se seguiu, Godfroy declarou que as duas primeiras medidas lhe pareciam contrárias ao
armistícios. Como Gensoul em Mers-cl-Kebir, ele não podia perder de vista as consequências que suas decisões
poderiam trazer para o Governo francês. Ele aceitava a terceira solução: o auto afundamento ao 1argo de Alexandria,
ao qual estava resignado. Ao anoitecer, no entanto, soube-se pelo rádio o que acontecera em Mers-cl-Kcbir. Uma
grande emoção tomou toda a força francesa e o Almirante Godfroy considerou seriamente a possibilidade de um
combate. Durante uma nova entrevista, contudo, os dois almirantes contemporizaram. Entrementes, chegou uma
ordem do Almirante Darlan: ''Fazei-vos ao mar imediatamente, ainda que pela força". A ordem era impossível de ser
cumprida. Naquele porto congestionado, sem o auxílio de rebocadores e sob o fogo dos navios britânicos, a manobra
seria suicídio. O Almirante Godfroy respondeu: "As condições de atracação não permitem sair do porto, mesmo
combatendo". À noite, podendo manobrar, o Almirante Cunningham posicionou seus navios vantajosamente para o
combate. Os contratorpedeiros ingleses colocaram-se em posição de poder torpedear os navios franceses ao primeiro
sinal. Depois de haver consultado os comandantes de seus navios, Godfroy decidiu aceitar a solução do
desarmamento no porto. O entendimento se fez entre os dois almirantes e foi ratificado pelo ministro francês no
Cairo, Sr. Pozzi. O Almirante Cunningham havia ultrapassado grandemente os prazos concedidos pelo Almirantado
britânico. A compreensão e o sangue-frio dos dois chefes, o inglês e o francês, permitiram que se evitasse o pior.
Deve-se, entretanto, reconhecer que eles estavam em situação menos difícil do que em Mers-el-Kebir, onde a decisão
do Almirante Gensoul de fazer-se ao mar com a esquadra francesa uas águas dos ingleses poderia ser considerada
pela Alemanha como uma violação flagrante do armistício, acarretando consequências graves para a França. Em
Mers-d-Kebir, os Almirantes Gensoul e Sommerville estavam nas circunstâncias mais extraordinárias e mais
dramáticas em que se podem encontrar dois comandantes de esquadras.
É questão que honra os almirantes ingleses que comandaram a Esquadra de Alexandria, o fato de que, durante os
anos que se seguiram, jamais tenham tentado apoderar-se dos navios desarmados, se bem que o avanço de Rommel
por duas vezes pudesse tê-los tentado a isso e também porque os alemães tentaram apoderar-se de nossos navios em
Toulon, em 1942. Em 1943, a Esquadra francesa de Alexandria retomou voluntariamente a luta contra o Eixo.
Enquanto isso, a Grã-Bretanha se apoderava, a 3 de julho de 1940, dos navios franceses refugiados em
Portsmouth, Plymouth e Sheerness, cujas guarnições inspiravam confiança. Estes navios foram enviados para as
forças livres do General de Gaulle. A 8 de julho, em Dacar, o encouraçado Richilieu era atacado e a variado.
Depois de todos esses acontecimentos, mudando as cláusulas do armistício, a Itália autorizou a França a
conservar armados os portos militares do mediterrâneo. (Os navios de guerra conservaram suas guarnições, seus
suprimentos e suas munições. Eles permaneciam, portanto, praticamente armados, o que Mussolini julgava perigoso
para a Esquadra italiana. Porém, após o caso de Mers-el-Kebir, a Alemanha acalentava a esperança de engajar a
Marinha francesa a seu lado no conflito. O Governo francês havia proibido aos navios e aviões ingleses
aproximarem-se a menos de vinte milhas de nossas costas, sob pena de serem atacados sem advertência. A 7 de julho,
dia seguinte ao do segundo ataque ao Dunkerque, a Força Aérea francesa bombardeou Gibraltar a título de represália.
Felizmente, essas hostilidades mantiveram-se limitadas.
Incidentes menos graves ainda se produziram em seguida. Durante dois anos, as marinhas de guerra e mercante
francesas esforçaram-se por melhorar o abastecimento do país com carregamentos vindos do Império. Em meio ao
estrépito das batalhas, tal atividade essencial passou desapercebida e permanece mal conhecida. Entre as exigências
contraditórias dos Aliados e do Eixo, ela se operou em meio às piores dificuldades, que foram superadas sem
conseqüências demasiado graves para país, graças, em parte, ao sangue-frio do pessoal de marinha de todos os postos
e graduações.

3.5.4 - ATAQUE À ESQUADRA ITALIANA EM TARENTO


O ataque aéreo à esquadra italiana no fundeadouro havia sido estudado, desde 1938, pelo Capitão-de-Mar-e-
Guerra Lyster, um dos melhores especialistas de aviação embarcada. Em agosto de 1940, Lyster, promovido a contra-
almirante, comandava os navios-aeródromo da Esquadra de Alexandria e, nessa condição, retomou seu projeto. A
Marinha inglesa adquirira alguma experiência por ocasião dos ataques ao Richelieu, em Dacar, e ao Dunkerque, em
Mers-el-Kebir. Desde o mês de agosto, a Fletir Arm preparava a operação contra Tarento, o que não se podia
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executar antes que Malta recebesse os aviões de reconhecimento Glenn Martin, subordinando-se o êxito do
empreendimento a um perfeito conhecimento do ancoradouro. A ação, marcada em princípio para 21 de outubro, data
de aniversário da Batalha de Trafalgar, foi adiada para o mês de novembro. O plano previa o ataque ao fundeadouro
em duas vagas de doze Swordfish cada uma. A Esquadra de Alexandria fizera-se ao mar em 6 de novembro com o
navio-aeródromo Iilustrious, mas o Eagle, estando em reparos, não seguiu, sendo que cinco de seus Swordfish
embarcaram no Ilustrious. A 9, 10 e 11 de novembro, três aviões se perderam por causa de amerrissagens forçadas. A
força de ataque estava, assim, reduzida a vinte e um aviões. Excelentes fotografias foram obtidas pelos aviões da
RAF baseados em Malta. Em 11, um Glenn Martin ainda foi verificar, à noite, se a esquadra italiana não deixara
Tarento. No mesmo dia, às 18 horas, no ponto de coordenadas 3 7º 33' N e 019º 35' E, o lllustrious separou-se da
esquadra e continuou em direção a Tarento, escoltado por quatro cruzadores e quatro contratorpedeiros. As 20:40 h, a
primeira vaga de aviões deixou o navio-aeródromo, a 40 milhas a oeste-sudoeste de Cefalônia e a 170 milhas de
Tarento. Compunha-se de seis aviões armados com torpedos, quatro com bombas e dois portando bombas e foguetes
iluminativos. A caminho, em um cúmulus, quatro aparelhos se perderam do grupo e prosseguiram independentemente
a curta distância. Ao largo do Cabo San Vito, o chefe da esquadrilha, que conduzia os oito primeiros aparelhos,
destacou os dois aviões dotados de foguetes iluminativos, que, cerca das 23 horas, lançaram uma cúpula de granadas
iluminativas sobre o porto e, depois de se voltarem por algum tempo à procura de um objetivo, largaram suas bombas
sobre o reservatório de petróleo ao sul do ancoradouro. Os aviões seguintes passaram pela ilhota San Pietro a 1. 200
m de altitude, depois voaram em picada sobre a doca interior. A defesa antiaérea, que já fizera fogo sobre os aviões
iluminativos, mantém, nesse momento, um tiro intenso. O chefe da esquadrilha, Comandante Williamson,
desaparece. Os demais aparelhos passam felizmente entre os cabos da barragem de balões e lançam seus torpedos. Os
aviões do grupo à ré, munidos de bombas, lançam-nas em meia picada. A segunda vaga, cinco aviões torpedeiros,
dois com granadas iluminativas e um bombardeiro, parte às 21:35 h. Um avião atrasa-se vinte minutos; outro
aparelho, por força de avarias, foz meia volta 11:22 horas e pousa no Illustrious depois de dificilmente conseguir ser
reconhecido. Conduzida pelo Comandante Hale, a formatura percebe, a 60 milhas de Tarento, os foguetes
iluminativos do primeiro grupo e os disparos anti-aéreos. ÀS 23:55 h, os dois aviões encarregados da iluminação são
destacados diretamente para San Vito, lançam suas cúpulas de granadas iluminativas a leste e a sueste do porto,
depois bombardeiam em picada e retiram-se. Os quatro aviões torpedeiros passam ao largo de San Pietro, atravessam
sobre a Ponta Rondinella e dirigem-se para o fundeadouro; atacam os dois classe Littorio e os classe Cavour
fundeados ao norte. Um dos aparelhos (tripulação Bayley Sautter) não entrará na área; foi visto peia última vez ao
norte de Rondinella.
O único bombardeiro do grupo descarrega sobre os cruzadores no Mar Picollo (Mar pequeno). Todos os
aparelhos, com exceção dos dois aviões perdidos, conseguem retornar ao Illustrious por volta das 02:50h. O navio-
aeródromo e suas escoltas juntam-se ao Almirante Cunningham às 07:30 horas.
Os resultados foram os seguintes: ingleses - dois aviões perdidos, um oficial morto e três prisioneiros; italianos -
encouraçado Cavour atingido por um torpedo pelo través da torre n 2, a proteção antitorpédica cede e, ao fim de
algumas horas, o navio afunda; encouraçado Duilio, atingido por um torpedo na altura da torre n 2, com a proa
mergulhada e encalhado; encouraçado Littorio, atingido por três torpedos, dois a boreste a ré e um a bombordo a ré,
afunda; o cruzador Trento e o contratorpedeiro Libeccio avariados ligeiramente por bombas que caíram sem explodir.
O Littorio e o Duilio permanecerão seis meses em reparos, enquanto o Cavour assim ficará durante toda a guerra.
Para julgar o moral das tripulações inglesas, citemos o relatório do Comandante Boyd, do lllustrious: "O ataque
realizou-se em circunstâncias bastante difíceis. Em virtude do sobrecarregado programa da esquadra, nenhum
treinamento precedeu a operação. Os aviões do Eagle foram embarcados na véspera da partida e não tinham nenhuma
experiência de pouso no llustrious. Uma dificuldade suplementar se apresentou quando se descobriu que o
combustível embarcado estava po-luído, o que motivou a perda de três Swordfish nos dias anteriores. Apesar disso, o
zelo e o entusiasmo de cada um para levar a cabo essa grande empresa jamais se abateram e é impossível deixar de
louvar bem alto os que, em máquinas relativamente lentas, realizaram tais ataques coordenados e precisos em meio a
um intenso fogo antiaéreo". O fundeadouro de Taranto era insuficientemente protegido. As redes antitorpédica
previstas estavam apenas parcial-mente colocadas e desciam até oito metros somente, profundidade então julgada
suficiente. Os torpedos, lançados, porém, estavam regulados para 10,60 m e munidos de espoletas de contato e
magnéticas, o que o comando italiano ignorava. Houve aí, portanto, surpresa tática e surpresa técnica. Os ingleses
espantaram-se por constatar que nenhum holofote se acendeu em Tarento, se bem que se saiba que eles não
conseguiriam alcançar seus objetivos. Por outro lado, os italianos não se protegeram com nuvens de fumaça, o que
suscitou fortes críticas. Nessa época, porém, não havia doutrina fixada a esse aspecto na Esquadra, pois muitos
oficiais julgavam que o uso da fumaça como proteção, no caso de ataque ao porto, era mais prejudicial do que útil,
uma vez que, ocultando os aviões atacantes, diminuía-se a eficiência da artilharia antiaérea. Entretanto, daí cm diante,
o comando preferiu o uso de fumaça para a defesa, já que o tiro noturno deu resultados decepcionantes e levou a
excessivas despesas de munição.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

4 – AS PRINCIPAIS MARINHAS, SUAS ATUAÇÕES NA GUERRA E CARACTERÍSTICAS NO PÓS-GUERRA

4.1 – EUA
Os estaleiros dos Estados Unidos, nos quais chegaram a trabalhar mais de novecentos mil operários em 1944,
produziram navios para a América e para quase todos os países aliados, conseguindo compensar as perdas tremendas
oriundas da campanha submarina. Só em 1942 forma lançados ao mar mais de oito milhões de toneladas de navios
mercantes e, em 1943, dezenove milhões. No fim da hostilidades, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos
ultrapassava três milhões de toneladas, e a Marinha Mercante cinqüenta milhões.
No pós-guerra, mais uma vez a Marinha Mercante americana cedeu ante a recuperação das frotas de comércio
européias. A Grã-Bretanha voltou ao primeiro posto em tonelagem de navios de comércio com a passagem para a
reserva de um grande número de unidades americanas. Em 1946, já 33% do comércio exterior americano eram
transportados em porões estrangeiros, proporção que se elevou a 50% em 1950. Nesse mesmo ano, a frota mercante
dos Estados Unidos, em serviço, estava reduzida a 11 milhões de toneladas, cerca da metade do Reino Unido, sendo
bem verdade que os armadores americanos também dispunham de mais alguns milhões de toneladas sob as bandeiras
do Panamá, Libéria e outros países.
Onde os Estados Unidos conservavam a primazia absoluta, sem mostrar a mínima intenção de perdê-la, foi a
Marinha de Guerra. Se depois da Guerra de Sucessão da Espanha restou apenas uma grande potência naval, a
Inglaterra, depois da Segunda Guerra Mundial coube aos Estados Unidos essa situação privilegiada.

4.2 – JAPÃO
Em outubro de 1944, ante o desembarque americano nas Filipinas, que ameaçava cortar definitivamente as
comunicações marítimas da metrópole com as fontes de matéria-prima do sul, o Japão lançou todos os navios e
aviões remanescentes de sua Marinha em busca de uma batalha decisiva. De 21 a 26 de outubro, feriu-se a grande
batalha de Leyte que praticamente pôs fim à Marinha do Mikado como força combativa. Em cinco dias o Japão
perdeu quatro navios-aeródromo, três encouraçados, seis cruzadores pesados, quatro cruzadores ligeiros e onze
contratorpedeiros. Muitos outros navios foram gravemente avariados. A derrota causou uma confusão e uma
desorganização que tornaram os navios remanescentes presas fáceis para as aeronaves dos porta-aviões americanos,
para os submarinos e navios ligeiros. No fim de janeiro novas perdas haviam custado ao Japão um encouraçado, dois
grandes navios-aeródromo, um navio-aeródromo de escolta, três cruzadores e vinte e um contratorpedeiros.
Ao todo, no decorrer da guerra, a Marinha Imperial japonesa perdeu 328 navios dos 489 que estiveram em
serviço. Quanto á Marinha Mercante, perdeu 4.780.000 toneladas de navios, a maior parte dos quais, 63%, afundados
pelos submarinos americanos. Restava apenas pouco mais de 1 milhão de toneladas de navios mercantes, em agosto
de 1945. Os vinte e dois estaleiros existentes no Japão não conseguiram construir mais do que um milhão de
toneladas por ano, o que não bastou para compensar as perdas.
No final da guerra, o Japão tinha seus exércitos praticamente intatos e ainda uma grande Força Aérea, mas a
Marinha de Guerra, a Frota Mercante e as áreas industriais estavam devastadas. Sem Marinha para proteger as linhas
de suprimentos, sem navios para carregar as matérias-primas e sem fábricas para efetivar a transformação desse
material em equipamento, a nação japonesa era incapaz de continuar a luta. Seria erro supor que a sorte do Japão foi
determinada pela bomba atômica. Sua derrota era coisa certa antes mesmo que tivesse caído a primeira bomba e foi
provocada pelo esmagador poderia naval. Somente isso é que tornou possível o domínio das bases oceânicas de onde
se desfecharia o ataque final e forçaria o exército metropolitano a capitular sem tardança.

4.3 – RÚSSIA
A contribuição da Marinha russa na Segunda Guerra Mundial não foi decisiva. Mais uma vez ela não disputou à
Marinha alemã o domínio do mar Báltico. Seus navios atuaram mais como baterias flutuantes no flanco do Exército
que se apoiava no mar ou na defesa das cidades marítimas atacadas pelos exércitos nazistas. A Marinha russa gozou
de relativa supremacia no mar Negro, o que facilitou a prolongada defesa de Sebastopol, em 1942, e posteriormente a
reconquista da Criméia.
As forças navais soviéticas, por outro lado, pouco auxílio prestaram às nações ocidentais na escolta dos
comboios para Murmansk, o que talvez devesse ser sua missão principal.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Rússia iniciou um vasto programa naval que a colocou mais uma vez, em
segundo lugar entre as potências marítimas.
Os ganhos territoriais da Rússia depois da Segunda Guerra Mundial colocaram-na numa posição
estrategicamente mais favorável para sua expansão nos oceanos.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Hoje a URSS está consciente de seu futuro com potência marítima, e a nação que pôde no passado ser chamada
de “animal terrestre” está adquirindo consciência marítima. Ela não só desenvolveu consideravelmente sua Marinha
de Guerra, como também tem procurado mais que nenhuma outra potência expandir sua Marinha Mercante e todas as
atividades ligadas ao mar.
A expansão marítima russa não é um anseio de seu povo, que aliás não dispõe de muitas maneiras de manifestá-
lo, mas o resultado dos interesses em jogo nos oceanos. Nada alterou tanto nos últimos anos a balança de poderes nos
mares como a crescente presença da bandeira soviética em todos os oceanos.

4.4 – FRANÇA
Tivesse tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses no mar, não
haveria lugar para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses ameaçados faria prevalecer a
verdadeira doutrina de que, numa questão de força como a guerra, deve-se ter poder. Mas a Marinha Mercante
francesa em 1914 era menos da metade alemã e apenas um décimo da britânica. Tendo perdido cerca de 920 mil
toneladas durante a guerra, graças ao tratado de paz, a Marinha Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada,
alcançando, em 1921, a 2 milhões e trezentas mil toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, poucos progressos
realizou. Enquanto a Inglaterra voltava a ter nos mares mais de 20 milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua
Marinha de comércio de 2 milhões e trezentas mil para dois milhões e setecentas mil toneladas.
A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se beneficiando da longa
continuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na tonelagem. As forças navais
francesas perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material ganhou reputação. Todavia, quase toda
sua magnífica obra de mais de vinte anos desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.
Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas mesmo
assim conserva-se entre as mais importantes potências navais do mundo.
Entretanto, da mesma forma que a sua antiga rival, a Grã-Bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar-
se ao mesmo tempo que desaparecia seu Império Colonial.

4.5 – GRÃ-BRETANHA
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha havia sido ultrapassada nos mares pelos Estados
Unidos. Entretanto, enquanto os Estados Unidos encostavam uma grande parte de seus navios mercantes construídos
em regime de urgência durante a guerra, a Inglaterra mantinha seus estaleiros em plena atividade. Tendo perdido 12
milhões de toneladas de navios de comércio durante o conflito, já estava em 1946 com 90% da tonelagem de 1939 e
três anos depois com 100%. Mais uma vez voltou assim a recuperar sua posição a frota de comércio inglesa, mas em
quase todos os mares encontrou a concorrência de novas bandeiras.
O período de pós-guerra viu a Grã-Bretanha perder a posição que ocupara no cenário marítimo durante três
séculos.

5 – BALANÇO DA GUERRA
A Segunda Guerra Mundial deixou um saldo devastador: um custo material superior a um bilhão e trezentos
milhões de dólares (em dólares de 1945, mais valorizados que os de hoje), mais de trinta milhões de feridos, mais de
cinqüenta milhões de mortos e outras perdas incalculáveis. A União Soviética perdeu mais de vinte milhões de
habitantes; a Polônia, seis milhões; a Alemanha, cinco milhões e meio; o Japão, um milhão e meio. Morreram, ainda,
cerca de cinco milhões de judeus, grande parte nos campos de concentração nazistas.
O mundo que surgiu com o final da guerra estava devastado e dividido entre capitais e socialistas, liderados,
respectivamente, por Estados Unidos e União Soviética. Mergulhado em novos conflitos, que apontavam um futuro
incerto e a perspectiva de um confronto nuclear, o mundo seria marcado por um período de insegurança e incerteza: a
Guerra Fria, a grande herança deixada à humanidade pela Segunda Guerra Mundial.
Antes mesmo de findar a guerra, as grandes potências firmaram acordos sobre seu encerramento, além de
definirem partilhas, inaugurando novos confrontos com potencial de desencadear uma hecatombe nuclear. O primeiro
dos acordos foi a conferência de Teerã, no Irã, em novembro de 1943, que reuniu pela primeira vez os três grandes
estadistas ocidentais da época: Josef Stálin, da União Soviética, Winston Churchill, da Inglaterra, e Franklin
Roosevelt, dos Estados Unidos.
Ali decidiu-se que as forças anglo-americanas interviriam na França, completando o cerco de pressão à
Alemanha, juntamente com as forças orientais russas, o que se concretizou no desembarque dos Aliados na
Normandia. Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras da Polônia ao findar a guerra, além de se
formularem propostas de paz com a colaboração de todas as nações. Estados Unidos e Inglaterra reconheceram,
ainda, a fronteira soviética no Ocidente, com a anexação da Estônia, da Letônia, da Lituânia e do Leste da Polônia.

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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Em fevereiro de 1945, deu-se a conferência de Yalta, às margens do mar Negro, na Criméia (União Soviética).
Novamente reunidos, Roosevelt, Churchill e Stálin discutiram a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em
bases diferentes das da Liga das Nações. Definiram, também, a partilha mundial, deixando à União Soviética o predomínio
sobre a Europa oriental, incorporando os territórios alemães a leste e definindo a participação da União Soviética na
rendição do Japão, com a divisão da Coréia em área de influência soviética e norte-americana. Separava-se o mundo
capitalista do socialista.
Meses depois, em agosto, realizou-se nos subúrbios de Berlim a conferência de Potsdam. Com a rendição alemã,
Stálin, Harry Truman, sucessor de Roosevelt, e Clement Attllee, sucessor de Churchill, decidiram pela desnazificação
da Alemanha, com a criação do Tribunal de Nurembergue para julgar os criminosos de guerra, a desmilitarização do país e
a abolição dos trustes e cartéis que subsidiaram o nazismo e a cessão de Dantzig (Gdansk) à Polônia.
A principal medida, no entanto, foi a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação: inglesa, francesa, norte-
americana – que mais tarde deu origem à Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha) – e soviética – mais tarde
originando a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã). Esse mesmo estatuto foi aplicado a Berlim, localizada
no interior da zona soviética, que também foi dividida em quatro zonas.

6 – FUNDAÇÃO DA ONU
A carta das Nações Unidas foi redigida pelos representantes de cinqüenta países, reunidos em São Francisco, nos
Estados Unidos, entre 25 de abril e 26 de junho de 1945. A Organização das Nações Unidas passou a existir oficialmente
em 24 de outubro de 1945, com o objetivo principal de manter a paz e a segurança internacionais e de desenvolver a
cooperação entre os povos na busca de soluções dos problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários, promovendo
o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.
O Conselho de Segurança, a Assembléia Geral, o Secretário, o Conselho Econômico e Social e a Corte Internacional
da Justiça são órgãos da ONU que trabalham separadamente, mas com ampla intercomunicação, coordenando as
atividades da organização.
Embora fundamentada na igualdade soberana de todos os seus membros, a forma como a ONU foi estruturada impôs
a supremacia das grandes potências. O Conselho de Segurança, seu organismo mais importante, tem cinco membros
permanentes, com direito de veto — Estados Unidos, Rússia (antes de 1991, era a União Soviética), Reino Unido, França e
China (inicialmente a China nacionalista, Formosa e, a partir de 1971, a China continental, comunista) —, e dez membros
eleitos pela Assembléia Geral, com mandato de dois anos. [Você sabia que o Brasil, entre outros países, reivindica a
ampliação do número de membros permanentes do Conselho de Segurança e sua participação entre eles?]
A Assembléia Geral é composta por todos os países-membros (mais de 180, atualmente) e sua função é discutir os
assuntos relacionados com a paz, a segurança, o bem-estar e a justiça no mundo. Não pode tomar decisões, apresentando
apenas “voto de recomendação” e função consultiva. Há ainda o Secretariado, dirigido pelo secretário-geral, que tem por
função administrar a organização e é escolhido pelo Conselho de Segurança e votado pela Assembléia Geral. [Você sabe
qual é o atual secretário-geral da ONU? Qual a sua nacionalidade?]
A ONU possui também um Conselho Econômico e Social, ao qual estão ligados a FAO (Organização para
Alimentação e Agricultura), a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), a OIT
(Organização Internacional do Trabalho), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), o FMI (Fundo Monetário Internacional), a OMC (Organização Mundial de Comércio,
antigo Gatt — Acordo Geral de Tarifas e Comércio), entre outros. Finalmente, há a Corte Internacional de Justiça, o
principal órgão jurídico da ONU, com sede em Haia, nos Países Baixos.
Destinada a substituir a fraca e ineficiente Liga das Nações, a ONU obteve relativo sucesso, especialmente na área de
justiça, embora não tenha conseguido solucionar satisfatoriamente os grandes conflitos internacionais nas décadas
seguintes à Segunda Guerra. O direito de veto das grandes potências limitou seu caráter, retirando-lhe credibilidade que
deveria possuir como organização efetivamente representante de todos os países do mundo.
Na segunda metade do século XX, a emergência econômica do Japão e da Alemanha, em meio ao colapso da antiga
União Soviética, bem como a importância dos países em desenvolvimento, têm ativado uma ampla discussão sobre a
reformulação do Conselho de Segurança, incluindo novos membros.
Numa análise abrangente, a ONU teve um papel significativo na solução de alguns conflitos, na redução de tensões e,
especialmente, nas missões de paz em vários confrontos localizados ao redor do mundo. A atuação dos chamados
capacetes azuis (soldados das tropas multinacionais da ONU) e das agências especializadas tem contribuído para poupar
milhões de vidas. O Unicef, por exemplo, tem salvado a vida de milhões de crianças, além de manter acesa a chama da
consciência internacional para com a grande parte pobre do mundo.

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 5 41 CURSOASCENSAO.COM.BR

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