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1 - A UNIFICAÇÃO ITALIANA
A Itália, imbuída de forte sentimento nacionalista, despertado principalmente pelas divisões impostas pelo
Congresso de Viena, aceleraria sua política de unificação. No início do século XIX, destacaram-se nesse processo os
carbonários – cujo nome está associado às cabanas dos carvoeiros onde se encontravam secretamente –, precursores
dos movimentos pela unificação. Reunindo monarquistas e republicanos, sem uma linha de ação definida, os
carbonários atuavam em toda a Itália.
Nas lutas de 1848 destacaram-se os republicanos, liderados por Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, e os
monarquistas, liderados pelo conde Camilo Cavour. Estes últimos tomaram a frente das lutas pela unificação a partir
do reino do Piemonte-Sardenha, Estado independente, industrializado e progressista, governado por Vitor Emanuel II.
No rastro da primavera dos povos, houve rebeliões liberais impondo reformas em quase todos os reinos italianos.
No mesmo período aconteciam as lutas de independência da Veneza-Lombardia, que estava sob domínio austríaco.
O movimento pela unificação italiana, enfraquecido pelas diversas derrotas para os austríacos, não ofereceu
resistência para a reinstalação do absolutismo, só voltando a ganhar força, novamente, na década de 60.
Em 1860, os “camisas vermelhas” de Garibaldi, forças populares republicanas que já haviam conquistado Parma,
Módena, Toscana e parte dos Estados Pontifícios, libertaram a Sicília e o Sul da Itália, governados pelo monarca
absolutista da família Bourbon, Francisco II. Entretanto, eram os monarquistas liberais e burgueses, instigado pelo
jornal Risorgimento, que lideravam os movimentos de libertação do restante da Itália, especialmente da República de
Veneza e da parte não conquistada dos Estados Pontifícios. Assim, mesmo contrário a uma unidade monarquista,
Garibaldi abandonou a política para não dividir as forças italianas de unificação, favorecendo Vítor Emanuel II.
O Piemonte contou com a ajuda de Napoleão III para anexar vários territórios italianos ao norte, sob tutela dos
austríacos. Depois, durante a Guerra das Sete Semanas (1866), graças à aliança com os prussianos contra a Áustria,
anexou Veneza. Nesse mesmo período, o papa recusava-se a entregar seus territórios para o Piemonte e perder Roma
para os unificadores, ameaçando excomungar o rei e seus ministros.
Contando com a promessa do monarca de que não invadiria Roma, as tropas francesas deixaram a capital
católica, em 1870, para enfrentar os alemães de Bismarck na Guerra Franco-Prussiana, em que foram derrotados. As
forças de unificação aproveitaram a conjuntura e invadiram Roma, transformando-a na capital italiana. Em janeiro de
1871, Vítor Emanuel II transferia-se para Roma, completando o processo unificador e, pouco depois, um plebiscito
consagraria a anexação.
O papa, considerando-se um prisioneiro no Vaticano, recusava-se a reconhecer o novo Estado italiano unificado,
originando a Questão Romana, que duraria até 1929, quando Mussolini assinou com o papa Pio XI o tratado de
Latrão, que criava dentro da cidade de Roma o território independente do Estado do Vaticano, pertencente à Igreja.
Hoje corresponde ao menor Estado independente do mundo.
Mesmo com a unificação italiana, várias questões restavam pendentes, como a das províncias setentrionais do
Tirol, Trentino e Ístria, de população predominantemente italiana e em mãos dos austríacos. Reivindicadas pela Itália,
essas regiões, que formavam as províncias irredentas, foram uma das razões que levaram a Itália a entrar na Primeira
Guerra Mundial contra a Áustria.
2 - A UNIFICAÇÃO ALEMÃ
O Congresso de Viena acabou com a Confederação do Reno, criada por Napoleão I, formando em seu lugar a
Confederação Germânica (Deutscher Bund), composta por 39 estados soberanos e liderada pelo Império Austríaco
absolutista e de economia agrária. À Áustria contrapunha-se a Prússia, que, mais desenvolvida comercial e
industrialmente, buscava a edificação de um grande Estado germânico que forjasse seu espaço internacionalmente.
O passo fundamental para a unidade foi dado, inicialmente, em 1834, com a criação do Zollverein – união
alfandegária, que derrubou as barreiras aduaneiras entre os Estados alemães, proporcionando uma efetiva união
econômica que dinamizaria o capitalismo alemão. Deixada fora do Zollverin pela diplomacia prussiana, a Áustria
reagiu, ameaçando a Prússia de guerra e obrigando-a a recuar. O Império Austríaco recuperava, dessa forma, sua
supremacia na Confederação Germânica, impondo seus interesses contrários à unificação.
A Prússia, por seu lado, iniciou a partir de 1860 de um programa de modernização militar sustentado pela aliança
da alta burguesia com os grandes proprietários e aristocratas – os junkers. Tendo à frente o chanceler Otto von
Bismarck, reiniciaram-se as lutas pela unificação alemã com uma estratégia que visava à exaltação do espírito
nacionalista alemão por meio de sua participação em guerras.
A Confederação Germânica foi extinta com a assinatura do tratado de Praga, após a Guerra das Sete Semanas
(1866). Nesse conflito, em que ambos os reinos disputaram a partilha de educados de população alemã pertencentes à
3 - JAPÃO
Isolado do Ocidente até 1542, quando chegaram os primeiros navegadores portugueses, seguidos dos espanhóis,
o Japão reagiu duramente à presença europeia em seu território, caracterizada na época, principalmente, por missões
jesuíticas. Em 1616, foram mortos 37 mil cristãos japoneses e, a partir de 1648, fecharam-se os pontos estrangeiros,
isolando o país do resto do mundo por mais de dois séculos.
No século XIX, o Japão era dominado por uma aristocracia – os daimios – que se apoiava numa classe de
guerreiros profissionais, os samurais, numa estrutura que se assemelhava ao sistema feudal europeu. Apesar das
disputas entre os senhores feudais, o comando político efetivo do reino cabia ao xogunato, título criado no século
VIII para os comandantes militares. Ganhando poder e prestígio, ao longo dos séculos, essa instituição estava sob o
domínio de uma única família – Tokugawa (sucessora das dinastias reinantes dos Minamotos e dos Ashikaga) –, que
rivalizava com outros clãs poderosos, no século XIX.
Dessa forma, o imperador, denominado micado, exercia um pode apenas formal a jpartir da cidade sagrada de
Kyoto, enquanto o xogum estava instalado em Edo – antigo nome de Tóquio.
Em 1854, em plena era do expansionismo europeu e norte-americano, uma esquadra dos Estados Unidos,
comandada pelo almirante Perry, forçou a abertura dos portos japoneses ao comércio mundial. Sob ameaças militares,
foram assinados inicialmente acordos comerciais com os Estados Unidos e, em seguida, com vários outros países.
Com a abertura comercial japonesa, teve início a europeização do país, que passou por profundas transformações
econômicas, militares, técnicas e científicas. A sujeição do Japão ao Ocidente ativou o nacionalismo e a oposição ao
xogum por ter permitido a abertura. Apoiado pelos opositores às transformações, especialmente os clãs rivais do
xogunato, o imperador Mutsuhito – que desejava transformava o micado no verdadeiro poder nacional – promoveu a
centralização política. Inaugurou uma nova fase na história japonesa, iniciando a partir de 1868 a era do
industrialismo e da modernização, que ficou conhecida como Era Meiji.
Processou-se a partir de então a rápida industrialização do Japão, articulada a uma política imperialista sobre a
China. Objetivando tomar a região chinesa da Manchúria. O Japão declarou guerra à China, em 1894. Também
interessada na região a Rússia opôs-se e, em 1904, teve início a Guerra Russo-Japonesa, com a tomada, pelos
japoneses, de Port Arthur e de parte da ilha de Sacalina. Pelo tratado de Portsmouth, a Rússia acabou se rendendo à
supremacia japonesa sobre a China.
No início do século XX, o Japão havia se tornado um dos países mais avançados e poderosos do mundo, graças à
sua dinâmica desenvolvimentista, superior à de muitos países industriais do Ocidente. Como consequência,
promoveu, também, maior expansão colonialista, o que logo esbarrou no expansionismo norte-americano que
avançava sobre o oceano Pacífico, originando atritos entre as duas potências no decorrer das décadas de 1930 e 1940.
4.4 - O DESENVOLVIMENTO DO PODER NAVAL DOS ESTADOS, SÉCULOS XVIII, XIX E XX (Análise
de João Caminha)
Ao longo de todo o período colonial, a partir do século XVII, a grande causa de irritação dos colonos contra a
metrópole eram as Leis de Navegação. O famoso "Ato de Navegação" posto em vigor por Cromwell, em 1660, interditou
as colônias inglesas a importação e exportação de toda mercadoria, a não ser em navios ingleses ou coloniais. Proibiu,
além disso, que certos artigos, tais como o fumo, açúcar, algodão, lã, madeiras comuns, madeiras de tintura etc., fossem
encaminhados para outros países que não a Inglaterra ou domínios seus. A essa lista juntaram-se mais tarde outros artigos.
Havia ainda outras leis do mesmo gênero: as leis sobre os cereais e as leis contra as manufaturas; as primeiras, feitas para
favorecer o fazendeiro inglês, entraram em vigor em 1666. Elas interditavam, praticamente, o mercado inglês aos cereais
cultivados nas colônias. Esse procedimento levou Nova Inglaterra e Nova York a fabricarem objetos manufaturados, ao
que a Inglaterra respondeu, interditando a produção industrial nas colônias. A lei inglesa mais dura nessa campanha de
supressão do comércio colonial foi provavelmente a sobre o açúcar, em 1733. O Governo britânico procedia dessa forma
baseado no princípio, então admitido por todas as nações européias, de que as colônias existiam para enriquecer a Mãe-
Pátria. Esse princípio levava a subordinação dos interesses coloniais aos interesses da metrópole. O fim da Grã-Bretanha
era exportar para a América produtos manufaturados e ao mesmo tempo importar matérias-primas, fazendo inclinar a
balança comercial a seu favor. Em 1759, o total de exportações da Nova Inglaterra para a Grã-Bretanha elevou-se a 38.000
libras e as importações a 600.000 libras.
Num ponto a política inglesa estimulou grandemente a indústria americana: a construção de navios da Nova
Inglaterra em virtude das Leis de Navegação colocaram os navios construídos nas colônias no mesmo pé dos navios
de origem inglesa.
Essas leis exclusivistas motivaram a insatisfação dos colonos com o domínio da metrópole, e bem cedo,
sobretudo depois da Guerra dos Sete Anos, outras causas vieram aumentar o mal-estar. A irritação foi crescendo com
o correr dos anos, e por fim, eclodiu a rebelião aberta. Com a guerra surgiu a necessidade de ser criada uma força
naval, mas os colonos preferiram, na luta no mar, dedicar-se sobretudo à rendosa guerra de corso. Numerosos navios
particulares foram empregados como corsários e destruíram um número muito grande de navios mercantes ingleses.
Quase todos os Estados enviaram corsários contra o inimigo. Massachusetts forneceu mais de quinhentos; a
Pensilvânia quase o mesmo número.
Em 1775, o Congresso ordenou a construção de uma frota nacional, e um ano depois treze navios estavam
terminados. Alguns desses navios não chegaram a se fazer ao mar; quase todos os outros foram capturados ou
queimados antes do fim da guerra, não, todavia, sem terem prestado antes grandes serviços ao país.
Concluída a aliança com a França, a poderosa frota desse país foi empregada no serviço da causa patriota.
Juntou-se a ela, posteriormente, a Frota espanhola com a declaração de guerra da Espanha à Inglaterra em 1779. A
Inglaterra iria contar, ainda, com um outro inimigo. Pelo fim de 1780, arrebentou a guerra com a Holanda, e, desde
então, foi necessário à Grã-Bretanha lutar contra três grandes potências européias além da América.
Nos mares, coube à Marinha francesa o papel preponderante. Com a Royal Navy dispersa por todo o mundo, lutando
contra três grandes potências navais, a Inglaterra perdeu para a França o controle dos mares junto às colônias revoltadas, e
suas forças de terra, desamparadas da metrópole, foram obrigadas à rendição, face ao Exército franco-americano.
A Grã-Bretanha vencida assinou a paz em 1783. Também nesse Tratado percebe-se a importância que os
dirigentes britânicos sempre deram aos assuntos marítimos. O Mississipi ficava aberto aos navios americanos e
ingleses. Os americanos continuavam com direitos de pesca nas costas da Terra Nova e do golfo de São Lourenço.
Foi assim que no decorrer da Guerra da Independência surgiu a Marinha americana, mas a massa heterogênea que a
constituía (corsários particulares, navios pertencentes às colônias e navios armados pelo Congresso) dissolveu-se no
caos que se seguiu à guerra. Em 1785, ano da venda do último navio, os Estados Unidos não possuíam um só navio
de guerra. Entretanto, muito pouco tempo depois do fim da Guerra da Independência, a necessidade de uma marinha
fez-se sentir em virtude da captura de navios mercantes americanos pelos corsários do Bei de Alger. Em 1793, os
corsários argelinos espalhavam-se no Atlântico e em um mês capturaram onze navios americanos. Essa situação
vergonhosa levou enfim o Congresso a tomar medidas, e no ano seguinte foi iniciada a construção de várias fragatas.
Os navios recém-construídos não tiveram, porém, o batismo de fogo em luta contra os piratas do Norte da África e
sim na guerra contra os corsários franceses das Antilhas. As operações navais contra a França duraram ao todo cerca
de dois anos e meio. A guerra nunca foi formalmente declarada, desenrolando-se apenas nas Antilhas e foi muito
proveitosa à jovem Marinha americana. O grande acréscimo das exportações, devido à proteção dada pelos cruzeiros
de navios americanos e os brilhantes sucessos obtidos nos combates navais deram à Marinha uma popularidade
necessária naqueles dias em que a manutenção de um navio de guerra parecia a muitos ameaça de monarquismo.
Mal terminadas as lutas contra os corsários franceses, a Marinha americana levou a cabo uma série de operações
navais no Mediterrâneo contra o Bei de Tripoli. A guerra contra os norte-africanos serviu para proporcionar uma
certa expansão à Marinha. A duração relativamente longa da luta (1801-06) nesse teatro afastado de operações,
aprimorou o valor combativo das guarnições. Estas vantagens seriam apreciadas devidamente cerca de dez anos
depois na guerra contra a Inglaterra.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Malgrado o contratempo representado pelas operações nas Antilhas e no Mediterrâneo, o comércio marítimo
americano expandia-se rapidamente. As guerras napoleônicas absorveram de tal forma as populações da Europa que
uma parte sempre crescente do comércio marítimo coube à América. Durante vinte anos os lucros desse comércio
foram enormes, e a navegação mercante progrediu a passos de gigante. Em 1790 o valor total das exportações dos
Estados Unidos elevara-se a 19 milhões de dólares; cinco anos mais tarde, 26 milhões de dólares de mercadorias
procedentes somente das possessões francesas, holandesas e espanholas foram importadas para serem em seguida
reexportadas. Em 1806, o valor das reexportações elevou-se a 60 milhões de dólares. Não é de estranhar que a
Inglaterra se tenha sentido alarmada quanto ao futuro de sua supremacia marítima e, dedicando-se ainda à fase
econômica de sua luta contra Napoleão, ela pôs em vigor medidas restritivas. A Inglaterra declarou então bloqueio
geral da França, desde o Elba até Brest, com um bloqueio cerrado do Sena e Ostende (ato do Conselho de 16 de maio
de 1806). Napoleão respondeu com o famoso decreto de Berlim (21 de novembro de 1806), o qual declarou as Ilhas
Britânicas, dali por diante, em estado de bloqueio. O comércio americano encontrava-se assim entre as duas pedras de
mó. O remédio previsto pelo Presidente Jefferson para todos esses problemas foi a coerção pacífica. Em 1807, ele
decretou para todos os navios empregados no comércio exterior um embargo que durou quinze meses e que custou
oito milhões de dólares só aos comerciantes da Nova Inglaterra. O embargo foi extremamente impopular nos Estados
Unidos que sofreram bem mais que a Europa. O espetáculo oferecido pelo país era o mais desolador. Os navios
ficavam a apodrecer nos portos. Cereais, algodão, fumo e outros produtos acumulavam-se nos celeiros dos fazen-
deiros do Norte, dos plantadores do Sul e ao longo do cais nos portos de mar. A maior parte dos historiadores vê no
voto e na aplicação do embargo um grande erro de Jefferson. As conseqüências do embargo para a França foram
mínimas. Napoleão lançou o decreto de Bayonne que determinou a captura de todos os navios americanos
encontrados nas águas francesas, espanholas e italianas. Ele confiscou assim mais de duzentos navios americanos. O
embargo afetou mais a Inglaterra, mas mesmo lá os efeitos foram inferiores aos esperados. A guerra contra a In-
glaterra foi, contudo, adiada para o período presidencial seguinte.
Durante a presidência de Madison, no quatriênio que se seguiu, ante a inquietante situação internacional, foi
proposta no Congresso a construção de uma esquadra relativamente poderosa de 10 navios de linha e 20 fragatas,
porém o Congresso, dominado pela oposição Jeffersoniana contrária à política armamentista naval, julgou a proposta
custosa e perigosa para a liberdade pública. Em conseqüência, ao ser iniciada a guerra contra a Inglaterra em 1812, a
Marinha americana compunha-se de apenas dezesseis navios em estado de servir. Além disso, havia 257 chalupas
canhoneiras construídas nos anos precedentes, pois Jefferson, que se opunha tão violentamente à Marinha, tinha
grande confiança nesse tipo de embarcação, destinada à defesa das costas. Tais embarcações, entretanto, se
mostrariam sem valor. Durante esse conflito, as fragatas americanas, melhor construídas, venceram uma série de
combates singulares contra congêneres ingleses. Esses êxitos parciais, todavia, não puderam evitar o absoluto
controle dos mares pela esmagadora superioridade naval dos britânicos. O comércio americano foi banido dos
oceanos, e os ingleses desembarcaram tropas a seu bel prazer no litoral dos Estados Unidos, chegando mesmo a
incendiar Washington. O que restava da pequena Marinha americana ficou bloqueado nos portos. A retaliação
americana foi a guerra de corso. A perda que sofreu o comércio marítimo inglês durante os dois anos e meio de
guerra foi incalculável. O Congresso autorizou cerca de duzentos e cinqüenta corsários que varreram os oceanos à
cata dos infelizes navios mercantes, capturando centenas deles. Estima-se em 600 o número de navios mercantes
ingleses vítimas dos corsários e dos navios de guerra americanos. Um grande número deles, porém, foi retomado
pelos ingleses, antes de atingir portos americanos.
Com o fim da guerra em 1815, a Marinha Mercante americana voltou à senda do progresso. Na Nova Inglaterra,
a construção naval atingiu elevados índices de perfeição, e de suas carreiras saíram os famosos Clippers, os navios
mais velozes da Marinha a vela, os quais chegavam a navegar mais de 420 milhas em 24 horas.
A partir de meados do século, a Marinha de Comércio americana entrou em decadência. Vários fatores concorreram
para esse fim, mas o principal foi o fracasso da construção naval do país em acompanhar a evolução da vela para o vapor e
da madeira para o ferro. Outra razão foi a marcha para o Oeste que então se processava, absorvendo todas as atenções e
todos os interesses, com o correspondente crescimento das estradas de ferro. O deflagrar da Guerra Civil foi o sopro que
acabou com a fase áurea da Marinha Mercante dos Estados Unidos. Paralelamente, a Marinha de Guerra dos Estados
Unidos não fez grandes progressos após a paz de 1815. Ela foi empregada numa série de operações secundárias, tais como
na guerra contra o Bei de Alger e nas operações que suprimiram a pirataria nas Antilhas. Sua ação contra o México foi
muito restrita em face da não existência de oposição nos mares. Digna de nota foi a ação do Comodoro Perry no Japão em
1854, abrindo aquele país ao comércio mundial.
Ao começar a Guerra Civil, a Marinha dos Estados Unidos estava em precário estado. A 4 de março de 1861,
quando o Presidente Lincoln prestou juramento assumindo as funções, ela tinha em serviço, compreendendo navios
de transporte e auxiliares, 42 navios, dos quais apenas 23 movidos a vapor poderiam ser considerados de algum valor.
Por sua cegueira e indiferença, o Congresso havia desorganizado a Marinha quase tanto quanto havia feito a
administração. Em seguida ao desastre financeiro de 1857, a renda da Nação tinha diminuído, e, nos esforços de
economia, o Congresso havia destruído a Marinha. A oposição às construções e mesmo aos reparos dos navios vinha
tanto dos Estados do Norte quanto dos Estados do Sul. Os membros do Congresso pelo Ohio e o Illinois conduziam o
ataque ao orçamento da Marinha e à Marinha propriamente dita. No seu conjunto, o Congresso era apático.
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A Guerra Civil começou com o bombardeio do Forte Sumter a 12 de abril de 1861. O novo Ministro da Marinha,
capaz, ocupou-se logo com vigor da direção dos assuntos navais. Foram estabelecidos rapidamente planos para o
rearmamento naval. O orçamento da Marinha votado pelo Congresso precedente, que era de 13 milhões de dólares,
foi elevado para 43.500.000. Os Arsenais do Norte, onde o trabalho tinha sido quase inteiramente suspenso durante os
anos que precederam a guerra, tornaram-se o teatro de grande animação. Alguns meses depois do bombardeio do
Forte Sumter, o Norte tinha onze mil homens ocupados em recolocar em atividade velhos navios desarmados, a
reparar os navios chegados das estações longínquas e a construir novos navios adaptados especialmente para os
serviços previstos. Ao mesmo tempo, o Ministro da Marinha, apelando para todas as fontes, comprava e adaptava
havias mercantes. Os navios incorporados à esquadra exigiam guarnições para armá-los, e, antes do fim do ano, o
número de marinheiros elevava-se de 7.600 para 22 mil.
Durante a guerra, as duas grandes tarefas da Marinha foram o bloqueio das costas confederadas e a separação em
duas porções da confederação, pelo domínio do rio Mississipi. Essas duas operações eram essenciais para impedir a
chegada de munições e aprovisionamento aos exércitos confederados, batendo-se no Leste. A captura de Port Royal,
o bizarro combate de Hampton Road, as operações no baixo Mississipi, a batalha da baía de Mobile, os encontros da
baía de Albermale marcaram o desenrolar das duas ações fundamentais.
A rigor, o bloqueio e a ocupação dos portos confederados puseram fim ao comércio do Sul. Durante a guerra, a
esquadra bloqueadora capturou ou destruiu 1.150 navios com as respectivas cargas, representando um valor total de
30 milhões de dólares. Por outro lado, a Marinha Mercante americana sofreu forte redução no decorrer da guerra. De
2.500.000 toneladas em 1861, ela caiu para 1.500.000 em 1865, ao acabar o conflito, concorrendo para o declínio não
só a destruição oriunda das operações bélicas, mas também a perda do mercado de transporte para a Marinha inglesa.
Em condições normais, a navegação comercial americana poderia renascer após a Guerra de Secessão como se
restabelecera depois da guerra de 1812. A razão pela qual ela não retomou vida, residiu na mudança das
circunstâncias econômicas acarretadas, ao menos, em parte, pelo aumento dos impostos que tornaram impossível
construir e armar navios de forma barata, como faziam os rivais estrangeiros. Também foram nocivas certas leis de
navegação que interditavam a compra de navios estrangeiros para navegar sob pavilhão americano. Essas medidas
tiveram efeito penoso sobre a Marinha Mercante e levaram o capital americano a não mais ser empregado em navios
mas de preferência nas empresas ferroviárias, usinas e minas. Em conseqüência, rapidamente a percentagem do
tráfego marítimo efetuado em porões de navios americanos decaiu. Ela era de 66,5% ainda em 1860. Em 1865 caíra a
27,7% e em 1901 baixara a 8,2%.
O desenvolvimento da ciência da Guerra Naval que tinha sido tão rápida nos Estados Unidos durante a guerra de
Secessão, parou bruscamente com ela. Durante vinte anos os Estados Unidos não tiveram um só navio encouraçado.
No decorrer do período do Presidente Hayes, a Marinha americana era inferior a de qualquer nação européia, e
mesmo os dois encouraçados do Chile, bem guarnecidos, teriam constituído uma força superior a todos os navios de
guerra americanos reunidos. A Marinha nessa época parecia não ter nenhum defensor junto ao Governo, e o país, em
geral, parecia inteiramente indiferente às suas necessidades. Todos os créditos arrancados ao Congresso eram des-
tinados à manutenção dos navios existentes, e uma boa parte desse dinheiro era esbanjado porque os parlamentares
estavam bem mais interessados em atender aos casos de seus eleitores do que em fazer reparar os navios. A sombra
da negligência havia quase completamente obliterado a Marinha em 1881, quando dificilmente um único navio estava
preparado para missões de guerra e poucos estavam em condições para um cruzeiro normal.
O ano de 1881, em que Garfield assumiu a presidência, marca o ponto mais baixo atingido pela Marinha desde os
dias em que os Estados Unidos tinham pago tributo ao Sei de Argel. Não é de espantar que os comandantes
americanos dessa época tivessem vergonha de levar seus navios às águas européias.
Se o ano de 1881 marca o mínimo atingido pela Marinha americana, também marca o início da recuperação.
Embora dificultado pela má vontade do Congresso, o Presidente Arthur conseguiu dar início à regeneração da
Marinha americana. Em 1885, ainda foi preciso recorrer ao estrangeiro para a montagem de canhões modernos nos
navios em construção, mas cinco anos depois a criação de um mercado americano de navios de guerra e de canhões
fez desenvolver nos Estados Unidos estabelecimentos industriais capazes de fabricar os modelos mais aperfeiçoados
de equipamentos bélicos. As perspectivas de um conflito próximo com a Espanha vieram acelerar o renascimento da
Marinha de Guerra americana e quando a guerra deflagrou, em 1898, ela não teve dificuldades em esmagar em
Manila, em Santiago de Cuba, as frotas obsoletas da Espanha.
Em lugar de declinar depois da assinatura da paz, como acontecera nas outras vezes, a Marinha de Guerra
americana, progrediu a passos de gigante, contrastando com a decadência da frota de comércio. Embora o comércio
externo houvesse aumentado enormemente entre 1880 e 1914, o número de navios empregados nesse tráfego
continuara a diminuir. Em 1880, cerca de 1.200.000 toneladas eram registradas como se dedicando ao comércio com
o estrangeiro; em 1914 só havia um milhão de toneladas.
A Primeira Guerra Mundial forçou a terceira expansão da Marinha Mercante americana. A ameaça da
interrupção das rotas marítimas aliadas por parte dos submarinos alemães obrigou os Estados Unidos a dedicarem à
construção de navios mercantes uma parte considerável de seus recursos.
6 - A CORRIDA COLONIAL
Europeus e norte-americanos puseram-se em campo para rapidamente estenderem suas influências e até mesmo
hastearam suas bandeiras nas áreas em ser que existissem sobre a Terra.
Esta sôfrega procura fez-se pela persuasão e pela força, mais por esta do que por aquela. Ao mesmo tempo em
que avançavam em busca de mercados novos e de fontes de matérias primas, esses Estados cuidavam de proteger seu
próprio desenvolvimento interno, resguardando sua indústria da concorrência estrangeira, estimulando a produção
nacional através do protecionismo econômico, com o estabelecimento de pesadas barreiras alfandegárias para as
mercadorias estrangeiras que pudessem ser produzidas em seu próprio território.
E quais as áreas que podiam ser economicamente exploradas pelos Estados desenvolvidos industrialmente? Sem
dúvida, as que dispusessem de bons recursos naturais, bom índice populacional e baixa proporção de crescimento
industrial, ou seja: Ásia, África e América Latina, exatamente o Terceiro Mundo de hoje.
1
Cf. O almirante Harold R. Cox: um notável oficial da Marinha do Brasil (1892-1967); lembrado por seus amigos, colegas e admiradores.
Rio de Janeiro: Gráfica Editora do Livro, 1973.
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II – O SÉCULO XX.
3.2 - A GRÃ-BRETANHA
A Grã-Bretanha mais uma vez apelou para seu poder marítimo. Tanto quanto em 1914, para ela eram vitais as
linhas de comunicação no mar. Dessa vez, porém, o inimigo era muito mais fraco nos mares.
Os britânicos, aliados dos franceses, desembarcaram tropas no continente europeu. A queda da França, em junho
de 1940, fê-los regressar à ilha depois da tristemente famosa retirada de Dunquerque.
A Grã-Bretanha estava só, enquanto um novo inimigo surgia, aproveitando-se da desgraça francesa: a Itália.
Embora sem ser grande potência militar, a Itália tinha uma boa marinha de guerra, com navios modernos e oficiais
competentes. Sua entrada no conflito veio alterar substancialmente a situação do mar Mediterrâneo, agravada com a
defecção da França. Passou a caber à Grã Bretanha a defesa do Mediterrâneo.
3
A qualificação “pesado” e “ligeiro” refere-se ao calibre dos canhões, maior ou menor; não tem a ver com o deslocamento.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Em que este mar poderia interessar aos ingleses? Acima de tudo por causa do canal de Suez. Através do mar
Mediterrâneo fluíam os interesses ingleses ligados ao Extremo Oriente e ao Oriente Médio, este o principal
fornecedor de petróleo para a Europa Ocidental. Os britânicos não se haviam descurado. Mantinham posições na
entrada (Estreito de Gibraltar), no meio (Ilha de Malta) e na saída do mar Mediterrâneo (Alexandria). Uma esquadra
estabelecera-se em Gibraltar (Força H), outra tinha sede em Alexandria e, mais tarde, outra força naval estabeleceu-se
em Malta (Força K).
Os britânicos cuidavam, assim, de garantir a liberdade dos mares e por eles se defender.
Restava a Hitler uma alternativa para destruir a Grã-Bretanha: a invasão, já que não poderia derrotá-la em seu
elemento. Os alemães cuidaram de planejar a grande Operação Leão Marinho (Sealion), para desembarcarem nas
ilhas britânicas. Antes da invasão, bombardearam duramente o solo britânico, lançando uma terrível campanha aérea,
conhecida correntemente como Batalha da Inglaterra. Os alemães encontraram, contudo, a defesa impressionante
realizada pela Real Força Aérea (RAF) e, embora tenham tentado durante todo o segundo semestre de 1940 e o
primeiro semestre de 1941, acabaram por desistir. Não haveriam de subjugar a Grã-Bretanha pelo ar. Haviam errado
enormemente considerando o avião como arma absoluta, fazendo eco à doutrina do general Douhet, italiano, que a
havia lançado entre as duas guerras mundiais, exagerando a importância do avião. O poder marítimo ainda não
haveria de ceder à nova e temível arma. Embora até hoje se discuta o problema do avião em face do navio, embora a
Segunda Guerra Mundial tenha trazido grandes novidades nesse setor, a verdade é que os usuários do mar mais uma
vez venceram.
A Alemanha abandonou definitivamente suas pretensões com relação à Grã-Bretanha e voltou-se, em junho de
1941, para seu verdadeiro objetivo: a União Soviética. Parecia restar para os britânicos um único sério obstáculo
marítimo: a Marinha italiana operando dentro do mar Mediterrâneo.
Entretanto, enquanto parecia que a guerra naval terminara entre ingleses e alemães com o afundamento do
Bismarck, uma já antiga e terrível ameaça surgiu no Atlântico, contra as comunicações marítimas britânicas: o
submarino.
4.1 – EUA
Os estaleiros dos Estados Unidos, nos quais chegaram a trabalhar mais de novecentos mil operários em 1944,
produziram navios para a América e para quase todos os países aliados, conseguindo compensar as perdas tremendas
oriundas da campanha submarina. Só em 1942 forma lançados ao mar mais de oito milhões de toneladas de navios
mercantes e, em 1943, dezenove milhões. No fim da hostilidades, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos
ultrapassava três milhões de toneladas, e a Marinha Mercante cinqüenta milhões.
No pós-guerra, mais uma vez a Marinha Mercante americana cedeu ante a recuperação das frotas de comércio
européias. A Grã-Bretanha voltou ao primeiro posto em tonelagem de navios de comércio com a passagem para a
reserva de um grande número de unidades americanas. Em 1946, já 33% do comércio exterior americano eram
transportados em porões estrangeiros, proporção que se elevou a 50% em 1950. Nesse mesmo ano, a frota mercante
dos Estados Unidos, em serviço, estava reduzida a 11 milhões de toneladas, cerca da metade do Reino Unido, sendo
bem verdade que os armadores americanos também dispunham de mais alguns milhões de toneladas sob as bandeiras
do Panamá, Libéria e outros países.
Onde os Estados Unidos conservavam a primazia absoluta, sem mostrar a mínima intenção de perdê-la, foi a
Marinha de Guerra. Se depois da Guerra de Sucessão da Espanha restou apenas uma grande potência naval, a
Inglaterra, depois da Segunda Guerra Mundial coube aos Estados Unidos essa situação privilegiada.
4.2 – JAPÃO
Em outubro de 1944, ante o desembarque americano nas Filipinas, que ameaçava cortar definitivamente as
comunicações marítimas da metrópole com as fontes de matéria-prima do sul, o Japão lançou todos os navios e
aviões remanescentes de sua Marinha em busca de uma batalha decisiva. De 21 a 26 de outubro, feriu-se a grande
batalha de Leyte que praticamente pôs fim à Marinha do Mikado como força combativa. Em cinco dias o Japão
perdeu quatro navios-aeródromo, três encouraçados, seis cruzadores pesados, quatro cruzadores ligeiros e onze
contratorpedeiros. Muitos outros navios foram gravemente avariados. A derrota causou uma confusão e uma
desorganização que tornaram os navios remanescentes presas fáceis para as aeronaves dos porta-aviões americanos,
para os submarinos e navios ligeiros. No fim de janeiro novas perdas haviam custado ao Japão um encouraçado, dois
grandes navios-aeródromo, um navio-aeródromo de escolta, três cruzadores e vinte e um contratorpedeiros.
Ao todo, no decorrer da guerra, a Marinha Imperial japonesa perdeu 328 navios dos 489 que estiveram em
serviço. Quanto á Marinha Mercante, perdeu 4.780.000 toneladas de navios, a maior parte dos quais, 63%, afundados
pelos submarinos americanos. Restava apenas pouco mais de 1 milhão de toneladas de navios mercantes, em agosto
de 1945. Os vinte e dois estaleiros existentes no Japão não conseguiram construir mais do que um milhão de
toneladas por ano, o que não bastou para compensar as perdas.
No final da guerra, o Japão tinha seus exércitos praticamente intatos e ainda uma grande Força Aérea, mas a
Marinha de Guerra, a Frota Mercante e as áreas industriais estavam devastadas. Sem Marinha para proteger as linhas
de suprimentos, sem navios para carregar as matérias-primas e sem fábricas para efetivar a transformação desse
material em equipamento, a nação japonesa era incapaz de continuar a luta. Seria erro supor que a sorte do Japão foi
determinada pela bomba atômica. Sua derrota era coisa certa antes mesmo que tivesse caído a primeira bomba e foi
provocada pelo esmagador poderia naval. Somente isso é que tornou possível o domínio das bases oceânicas de onde
se desfecharia o ataque final e forçaria o exército metropolitano a capitular sem tardança.
4.3 – RÚSSIA
A contribuição da Marinha russa na Segunda Guerra Mundial não foi decisiva. Mais uma vez ela não disputou à
Marinha alemã o domínio do mar Báltico. Seus navios atuaram mais como baterias flutuantes no flanco do Exército
que se apoiava no mar ou na defesa das cidades marítimas atacadas pelos exércitos nazistas. A Marinha russa gozou
de relativa supremacia no mar Negro, o que facilitou a prolongada defesa de Sebastopol, em 1942, e posteriormente a
reconquista da Criméia.
As forças navais soviéticas, por outro lado, pouco auxílio prestaram às nações ocidentais na escolta dos
comboios para Murmansk, o que talvez devesse ser sua missão principal.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Rússia iniciou um vasto programa naval que a colocou mais uma vez, em
segundo lugar entre as potências marítimas.
Os ganhos territoriais da Rússia depois da Segunda Guerra Mundial colocaram-na numa posição
estrategicamente mais favorável para sua expansão nos oceanos.
4.4 – FRANÇA
Tivesse tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses no mar, não
haveria lugar para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses ameaçados faria prevalecer a
verdadeira doutrina de que, numa questão de força como a guerra, deve-se ter poder. Mas a Marinha Mercante
francesa em 1914 era menos da metade alemã e apenas um décimo da britânica. Tendo perdido cerca de 920 mil
toneladas durante a guerra, graças ao tratado de paz, a Marinha Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada,
alcançando, em 1921, a 2 milhões e trezentas mil toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, poucos progressos
realizou. Enquanto a Inglaterra voltava a ter nos mares mais de 20 milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua
Marinha de comércio de 2 milhões e trezentas mil para dois milhões e setecentas mil toneladas.
A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se beneficiando da longa
continuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na tonelagem. As forças navais
francesas perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material ganhou reputação. Todavia, quase toda
sua magnífica obra de mais de vinte anos desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.
Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas mesmo
assim conserva-se entre as mais importantes potências navais do mundo.
Entretanto, da mesma forma que a sua antiga rival, a Grã-Bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar-
se ao mesmo tempo que desaparecia seu Império Colonial.
4.5 – GRÃ-BRETANHA
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha havia sido ultrapassada nos mares pelos Estados
Unidos. Entretanto, enquanto os Estados Unidos encostavam uma grande parte de seus navios mercantes construídos
em regime de urgência durante a guerra, a Inglaterra mantinha seus estaleiros em plena atividade. Tendo perdido 12
milhões de toneladas de navios de comércio durante o conflito, já estava em 1946 com 90% da tonelagem de 1939 e
três anos depois com 100%. Mais uma vez voltou assim a recuperar sua posição a frota de comércio inglesa, mas em
quase todos os mares encontrou a concorrência de novas bandeiras.
O período de pós-guerra viu a Grã-Bretanha perder a posição que ocupara no cenário marítimo durante três
séculos.
5 – BALANÇO DA GUERRA
A Segunda Guerra Mundial deixou um saldo devastador: um custo material superior a um bilhão e trezentos
milhões de dólares (em dólares de 1945, mais valorizados que os de hoje), mais de trinta milhões de feridos, mais de
cinqüenta milhões de mortos e outras perdas incalculáveis. A União Soviética perdeu mais de vinte milhões de
habitantes; a Polônia, seis milhões; a Alemanha, cinco milhões e meio; o Japão, um milhão e meio. Morreram, ainda,
cerca de cinco milhões de judeus, grande parte nos campos de concentração nazistas.
O mundo que surgiu com o final da guerra estava devastado e dividido entre capitais e socialistas, liderados,
respectivamente, por Estados Unidos e União Soviética. Mergulhado em novos conflitos, que apontavam um futuro
incerto e a perspectiva de um confronto nuclear, o mundo seria marcado por um período de insegurança e incerteza: a
Guerra Fria, a grande herança deixada à humanidade pela Segunda Guerra Mundial.
Antes mesmo de findar a guerra, as grandes potências firmaram acordos sobre seu encerramento, além de
definirem partilhas, inaugurando novos confrontos com potencial de desencadear uma hecatombe nuclear. O primeiro
dos acordos foi a conferência de Teerã, no Irã, em novembro de 1943, que reuniu pela primeira vez os três grandes
estadistas ocidentais da época: Josef Stálin, da União Soviética, Winston Churchill, da Inglaterra, e Franklin
Roosevelt, dos Estados Unidos.
Ali decidiu-se que as forças anglo-americanas interviriam na França, completando o cerco de pressão à
Alemanha, juntamente com as forças orientais russas, o que se concretizou no desembarque dos Aliados na
Normandia. Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras da Polônia ao findar a guerra, além de se
formularem propostas de paz com a colaboração de todas as nações. Estados Unidos e Inglaterra reconheceram,
ainda, a fronteira soviética no Ocidente, com a anexação da Estônia, da Letônia, da Lituânia e do Leste da Polônia.
6 – FUNDAÇÃO DA ONU
A carta das Nações Unidas foi redigida pelos representantes de cinqüenta países, reunidos em São Francisco, nos
Estados Unidos, entre 25 de abril e 26 de junho de 1945. A Organização das Nações Unidas passou a existir oficialmente
em 24 de outubro de 1945, com o objetivo principal de manter a paz e a segurança internacionais e de desenvolver a
cooperação entre os povos na busca de soluções dos problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários, promovendo
o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.
O Conselho de Segurança, a Assembléia Geral, o Secretário, o Conselho Econômico e Social e a Corte Internacional
da Justiça são órgãos da ONU que trabalham separadamente, mas com ampla intercomunicação, coordenando as
atividades da organização.
Embora fundamentada na igualdade soberana de todos os seus membros, a forma como a ONU foi estruturada impôs
a supremacia das grandes potências. O Conselho de Segurança, seu organismo mais importante, tem cinco membros
permanentes, com direito de veto — Estados Unidos, Rússia (antes de 1991, era a União Soviética), Reino Unido, França e
China (inicialmente a China nacionalista, Formosa e, a partir de 1971, a China continental, comunista) —, e dez membros
eleitos pela Assembléia Geral, com mandato de dois anos. [Você sabia que o Brasil, entre outros países, reivindica a
ampliação do número de membros permanentes do Conselho de Segurança e sua participação entre eles?]
A Assembléia Geral é composta por todos os países-membros (mais de 180, atualmente) e sua função é discutir os
assuntos relacionados com a paz, a segurança, o bem-estar e a justiça no mundo. Não pode tomar decisões, apresentando
apenas “voto de recomendação” e função consultiva. Há ainda o Secretariado, dirigido pelo secretário-geral, que tem por
função administrar a organização e é escolhido pelo Conselho de Segurança e votado pela Assembléia Geral. [Você sabe
qual é o atual secretário-geral da ONU? Qual a sua nacionalidade?]
A ONU possui também um Conselho Econômico e Social, ao qual estão ligados a FAO (Organização para
Alimentação e Agricultura), a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), a OIT
(Organização Internacional do Trabalho), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), o FMI (Fundo Monetário Internacional), a OMC (Organização Mundial de Comércio,
antigo Gatt — Acordo Geral de Tarifas e Comércio), entre outros. Finalmente, há a Corte Internacional de Justiça, o
principal órgão jurídico da ONU, com sede em Haia, nos Países Baixos.
Destinada a substituir a fraca e ineficiente Liga das Nações, a ONU obteve relativo sucesso, especialmente na área de
justiça, embora não tenha conseguido solucionar satisfatoriamente os grandes conflitos internacionais nas décadas
seguintes à Segunda Guerra. O direito de veto das grandes potências limitou seu caráter, retirando-lhe credibilidade que
deveria possuir como organização efetivamente representante de todos os países do mundo.
Na segunda metade do século XX, a emergência econômica do Japão e da Alemanha, em meio ao colapso da antiga
União Soviética, bem como a importância dos países em desenvolvimento, têm ativado uma ampla discussão sobre a
reformulação do Conselho de Segurança, incluindo novos membros.
Numa análise abrangente, a ONU teve um papel significativo na solução de alguns conflitos, na redução de tensões e,
especialmente, nas missões de paz em vários confrontos localizados ao redor do mundo. A atuação dos chamados
capacetes azuis (soldados das tropas multinacionais da ONU) e das agências especializadas tem contribuído para poupar
milhões de vidas. O Unicef, por exemplo, tem salvado a vida de milhões de crianças, além de manter acesa a chama da
consciência internacional para com a grande parte pobre do mundo.