Você está na página 1de 37

SUMÁRIO

1.CONHECIMENTO INTRODUTÓRIO: .......................................................................................... 3


1.1 Evolução jurídica dos direitos e a Teoria da Proteção Integral .......................................... 4
2.FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS ............................................................... 5
2.1 Os artigos 227, 228 e 229 são cláusulas pétreas? ................................................................ 6
3.DISPOSIÇÕES GERAIS: SISTEMA DE DIREITOS E GARANTIAS ............................................ 7
3.1 Criança e adolescente como sujeitos de direitos: .................................................................. 8
3.2 Direito à prioridade absoluta:................................................................................................. 8
4.DIREITO FUNDAMENTAL: À VIDA E À SAÚDE (Arts. 7º a 14): .................................................. 8
5. DIREITO FUNDAMENTAL: À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (Art. 15 a 18-B): 10
6.DIREITO FUNDAMENTAL: À EDUCAÇÃO, CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER (Arts. 53 a
59) ................................................................................................................................................ 11
7.DIREITO FUNDAMENTAL: À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO AO TRABALHO (Art. 60
a 69): ............................................................................................................................................ 12
8.DIREITO FUNDAMENTAL: A PREVENÇÃO ESPECIAL (Arts. 70 a 85): ................................... 13
8.1 Da informação, cultura, lazer, esportes, diversão e espetáculos: ........................................ 13
8.2 Produtos e Serviços ............................................................................................................ 14
8.3 Autorização para viajar:....................................................................................................... 15
9.DIREITO FUNDAMENTAL À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA (Art. 19 a 52): ....... 17
9.1 Poder familiar ...................................................................................................................... 18
9.2 Família natural .................................................................................................................... 19
9.3 Família extensa ou ampliada:.............................................................................................. 20
9.4 Família substituta: ............................................................................................................... 20
9.4.1 Da guarda: ....................................................................................................................... 21
9.4.2 Da tutela........................................................................................................................... 21
9.4.3 Da adoção: ....................................................................................................................... 21
10.AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO: PARTE ESPECIAL ........................................................ 25
11.AS MEDIDAS DE PROTEÇÃO ................................................................................................ 26
11.1 Medidas pertinentes aos pais ou responsáveis: ................................................................ 27
11.2 Conselho Tutelar ............................................................................................................... 27
12. OUTROS PROCEDIMENTOS: ............................................................................................... 28
12.1 Perda ou suspensão do poder familiar: ............................................................................. 28
12.2 Colocação em família substituta: ....................................................................................... 29
13.SISTEMA RECURSAL: ............................................................................................................ 29
14 DAS PEÇAS PROCESSUAIS ESPECÍFICAS:......................................................................... 29
14.1 Pedido de adoção com pais desconhecidos ou falecidos: ..................................................... 30
14.2 Ação de destituição do poder familiar cumulada com pedido de adoção: .............................. 33
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 36

2
1.CONHECIMENTO INTRODUTÓRIO:

A Constituição Federal de 1988 foi o marco interruptivo entre a teoria da Situação


Irregular – tratada pelo Código de Menores, de 1927 e adotado explicitamente no Código
de 1979 – e a teoria da Proteção Integral, que veio a ser posteriormente regulada pela Lei
n. 8.069, de 13 de Julho de 1990, denominado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
As concepções do Direito do Menor, à luz da teoria Situação Irregular, eram de que
os menores fossem apenas sujeitos de direito quando se encontravam em uma situação
caracterizada como irregular, que engloba toda e qualquer situação concretizada de
delinquência, vitimização e pobreza, hipóteses vagas, que permitiam a atuação
discricionária dos denominados Juízes de Menores (os quais tinham autoridade para
investigar os fatos, denunciar, acusar, defender, sentenciar e fiscalizar suas próprias
decisões) (LEITE, 2005, p. 15).
Isto é, havia uma discriminação legal quanto à situação do menor, o qual só era
objeto de interesse jurídico após cometimento de infrações ou pela própria situação de
exclusão social, todas formas denominadas de irregulares.
Significa dizer que a irregularidade era sempre da criança ou do adolescente, e não
das instituições, seja pela prática de infração penal ou pela sua condição de exclusão social,
onde havia distinção entre criança (filho de família financeiramente melhor) e o menor (filho
de família pobre). No antigo código, nem sequer havia distinção entre delinquente e menor
abandonado, tratando todas as situações como irregulares apenas, considerando ambas
as situações iguais, com aplicação das mesmas medidas, incluindo o cumprimento na
mesma unidade de atendimento.
Contudo, a partir de 1980 surgiu um ambiente que almejava a democratização, “onde
os movimentos sociais assumiam o papel de protagonistas na produção de alternativas ao
modelo imposto” (CUSTÓDIO, 2008, p. 05). Diante das diversas denúncias apontando
injustiças contra o tratamento das crianças e adolescente em internatos, como também da
necessidade de ação contra a prostituição e o trabalho infantil, surgem debates sobre a
importância dos direitos das crianças e adolescentes, pugnando-se pelo reconhecimento
destes, enquanto sujeitos de direitos (LEITE, 2005, p. 15).
Oportunidade em que era traçada uma nova visão dos direitos humanos,
reconhecidos como fundamentais para crianças e adolescentes na nova Constituição
Federal. A doutrina da Proteção Integral surge para romper paradigmas da situação
irregular, do assistencialismo, da estabilidade e da centralização das ações e funções
anômalas do Poder Judiciário, na figura do Juiz de Menor (LEITE, 2005, p. 15).

3
A teoria da Proteção Integral encontra amparo jurídico na Constituição Federal, no
Estatuto da Criança e do Adolescente e nas Convenções Internacionais sobre os Direitos
da Criança e dos Direito Humanos, sendo que seus princípios fundamentais, em um
sistema jurídico baseado no reconhecimento de direitos, são como imposições às
autoridades, isto é, são obrigatórios, especialmente para as autoridades públicas
(BRUÑOL, 2001, p. 101). Assentando-se basicamente em três princípios pilares: a criança
e ao adolescente como sujeitos de direitos, destinatários de absoluta prioridade e
respeitando sua condição de desenvolvimento.

RESPOSÁVEIS PELA
PROTEÇÃO INTEGRAL:

ESTADO SOCIEDADE FAMÍLIA

Desta forma, todos os atos relacionados ao atendimento das necessidades da


criança e do adolescente devem atender o seu melhor interesse e essa perspectiva deve
ser seguida pelas famílias, pela sociedade e principalmente pelo Estado, que nas suas
decisões e nos seus procedimentos cotidianos devem tomar uma série precauções e
cuidados com a finalidade de proteger a criança e ao adolescente, levando em conta,
principalmente, a sua condição de pessoa em desenvolvimento. Nota-se um grande marco
diferenciador entre os dois paradigmas.

1.1 Evolução jurídica dos direitos e a Teoria da Proteção Integral

O novo olhar jurídico traçado pela Constituição Federal é um somatório pela busca
de direitos e garantias às crianças e adolescentes, está ligado a importantes tratados
internacionais que passaram a ser adotados pelo Brasil, como: Declaração de Genebra
(1924), a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a Declaração Universal dos
Direitos da Criança (1959), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida
como Pacto de São José da Costa Rica (1969), a Convenção das Nações Unidas sobre os
direitos das crianças (1989), e, também, a pluralidade de direitos nacionais, como a
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, Lei
n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que aprovou o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A Constituição Federal representa o marco jurídico da redemocratização do país,
seu texto trouxe o ser humano e a preservação da sua dignidade como pontos centrais da
4
nova organização política e jurídica do Brasil. Tanto é, que a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, CF) e a promoção do bem de todos sem qualquer distinção ou discriminação
(art. 3º, IV, CF) estão descritas nos fundamentos e objetivos da Constituição.
A partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 05
de outubro de 1988, o processo de valorização dos direitos humanos contou com o
reconhecimento de novos sujeitos de direitos, pela primeira vez homens e mulheres são
juridicamente sujeitos de direitos iguais, as pessoas indígenas ganharam capítulo próprio,
e as crianças e adolescentes passaram a ser tratadas como sujeitos de direito,
principalmente após a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 13
de julho de 1990, onde, uma nova visão foi adotada sobre os direitos da criança e do
adolescente, passou-se a adotar a teoria da proteção integral.
A doutrina da proteção integral está adotada expressamente no artigo 1º do Estatuto.
Importante destacar que a doutrina confere juridicidade aos direitos, isto é, todos direitos
assegurados são plenamente exigíveis pelo poder público, instituições e pelo indivíduo,
que, mediante o direito de ação, poderá pleitear determinado direito.

2.FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS

A Proteção Integral está amparada na Constituição Federal, onde, os artigos 227,


228 e 229 tratam dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes e dos deveres do
Estado, da família e da sociedade com estes.
Prevalece no artigo 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

É dever, estabelecido constitucionalmente, a punição severa ao abuso, violência e a


exploração sexual de criança e adolescentes (art. 227, §4º, CF).
O Estado deverá promover programas de assistência integral à saúde, programas
de prevenção e atendimento especializado para pessoas portadoras de deficiência física,
sensorial ou mental, que contarão com a aplicação de percentual dos recursos públicos,
assim como, disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso
público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, adequados às pessoas
portadoras de deficiência (§1º e 2º, do artigo 227, CF).
5
Por fim, estabelece, no artigo 229, que os pais têm o dever de assistir, criar e educar
os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade.
Todos os direitos de crianças e adolescentes devem ser garantidos tanto para filhos
havidos ou não da relação do casamento e os adotados, que deverão ter os mesmos
direitos e qualificações, sem designações discriminatórias relativas à filiação.

2.1 Os artigos 227, 228 e 229 são cláusulas pétreas?

Devido a sua localização, por estarem fora do rol de direitos individuais fundamentais
do Título II da Constituição Federal, há quem questionem se seriam eles abrangidos pelas
cláusulas pétreas, a resposta é SIM! A resposta justifica-se pela primazia dos Direitos
Humanos, pois não há limitação à previsão de outros direitos fundamentais de forma
esparsa no texto constitucional, assim, é possível aplicar o disposto no artigo 60, §4º, IV,
da CF, que veda a emenda constitucional tendente a ABOLIR direitos e garantias
individuais. Garantias de impossibilidade de retrocesso em matéria de direitos humanos
também previstas no artigo 5º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos (1966) e no artigo 5º,
§2º, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), ambos
ratificados pelo país (ZAPATER, 2017).
Nada impede as alterações no texto ou a criação de leis que sejam para ampliar
esses direitos, como é o caso das recentes Leis:
a) Lei n. 13.715/2018: Dispõe sobre hipóteses de perda do poder familiar pelo autor de
determinados crimes contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar ou
contra filho, filha ou outro descendente, alterando o artigo 23, §2º, do ECA.
b) Lei n. 13.715/2018: Dispõe sobre a racionalização de atos e procedimentos
administrativos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e institui o Selo de desburocratização e Simplificação, trazendo
importante alteração quanto as regras de viagem de crianças e adolescentes.
c) Lei n. 13.509/2017: Dispõe sobre adoção e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT).
d) Lei n. 13.257/2016: Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância, que
dispõe sobre as políticas públicas para crianças até 6 anos de idade.

6
e) Lei n. 13.306/2016: Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente, a fim de fixar em cinco anos a idade máxima para o
atendimento na educação infantil.
f) Lei n. 13.185/2015: Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática
(Bullying).
g) Lei n. 13.010/2014: Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), para estabelecer o direito da criança e do adolescente
de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel
ou degradante, e altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
h) Lei n. 12.962/2014: Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente, para assegurar a convivência da criança e do adolescente
com os pais privados de liberdade.
i) Lei n. 12.594/2012: Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a
adolescente que pratique ato infracional;

3.DISPOSIÇÕES GERAIS: SISTEMA DE DIREITOS E GARANTIAS

Antes de falarmos sobre questões mais principiológicas, é necessário


estabelecermos a classificação de crianças e adolescentes, que será de acordo com a sua
idade, segundo artigo 2º do ECA.
O critério estabelecido pelo legislador é objetivo, CRIANÇAS são aquelas de até 12
anos INCOMPLETOS, já os ADOLESCENTES, são aqueles de 12 anos até 18 anos
INCOMPLETOS, em outras palavras, criança é o ser humano até 11 anos completos e o
adolescente é o ser humano de 12 anos completos até 17 anos completos.
Lembrando que são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, os quais,
estão sujeitos às normas da legislação especial (o Estatuto da Criança e do Adolescente).

ATENÇÃO!
O ECA pode ter aplicação EXCEPCIONAL para pessoas até 21 anos de idade, nos casos de ato
infracional com medida socioeducativa de internação, se o adolescente atingir maioridade durante o
seu cumprimento. Ocorrerá a liberação compulsória quando completar 21 anos (Art. 2º, parágrafo
único, art. 120, §2º e artigo 121, §5º, do EAC.

7
3.1 Criança e adolescente como sujeitos de direitos:

De acordo com o artigo 3º, a criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
o estatuto, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade.
A Lei 13.257/2016 (Marco legal da 1ª Infância), inseriu o parágrafo único, no artigo
3º, reforçando que os direitos enunciados no Estatuto da Criança e do Adolescente aplicam-
se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar,
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de
desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de
moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que
vivem.
No mesmo sentido, o artigo 5º, reforça que o dever de todos prevenir que qualquer
criança ou adolescente seja vítima de alguma forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, devendo, nesses casos, ser punido na forma
da lei qualquer atentado aos direitos fundamentais, seja por ação ou omissão.

3.2 Direito à prioridade absoluta:

O princípio da prioridade absoluta, está legalmente previsto no artigo 4º, do


estatuto, bem como, no artigo 227, da Constituição Federal.
Crianças e adolescentes precisam ser o foco principal, tanto do Poder Executivo, na
destinação de verbas para amparo à família e à criança ou adolescente em situação de
risco, assim como, o Poder Legislativo precisam priorizar a elaboração e votação de leis
com prioridade total, e o Poder Judiciário deve garantir que os processos que envolvem
crianças e adolescentes sejam céleres e que tenham juízes comprometidos (NUCCI, 2017,
p.8).

4.DIREITO FUNDAMENTAL: À VIDA E À SAÚDE (Arts. 7º a 14):

Em consonância com os princípios gerais de Direitos Humanos, adotados pelos


pactos internacionais, os direitos fundamentais à vida e à saúde, estão contemplados
expressamente no artigo 7º, que diz “A criança e o adolescente têm direito a proteção à
8
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.
O legislador preocupou-se em garantir os direitos da infância desde a fase
gestacional, incluindo o planejamento reprodutivo, assegurando a todas as mulheres o
acesso a programas de saúde, nutrição, atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal
integral no SUS. Inclusive, a partir da lei da 1ª infância, a gestante tem direito a ter garantida
sua vinculação, no último trimestre da gestão, ao estabelecimento em que será realizado o
parto, garantido o direito de opção da mulher.
Essas mães terão asseguradas pelo poder público, assistência psicológica, para
prevenir o estado puerperal, assistência para aquelas que tem interesse em entregar seus
filhos para adoção e para auxiliar mães que estejam em situação de privação de liberdade.
O poder público, a partir da Lei n. 13.257/2016, deverá garantir à mulher com filho na
primeira infância que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade,
ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde
para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança (Art. 8º, §§ 2, 4, 5 e 10, ECA).

ATENÇÃO!
Em relação às mulheres que desejam entregar seus filhos para adoção, estas serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude, de
acordo com o artigo 13, §1º, do ECA. Incorre em sanção administrativa, o médico, enfermeiro,
dirigente de estabelecimento de saúde ou funcionário de programa oficial ou comunitário destinado
à garantia do direito à convivência familiar, que deixar de encaminhar (art. 258-B, ECA).

Quanto as garantias de aleitamento materno, o artigo 9º, do ECA, traz que o poder
público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao
aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de
liberdade. Ainda, os serviços e unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de
banco de leite humano ou unidade de coleta de leite humano (Art. 9º, §2º, ECA).
Outras ampliações às garantias de direitos fundamentais como a saúde, trazidas
pela Lei da 1ª Infância, cabe destacar os §§1º e 2º, do artigo 11, o qual reforça a garantia
de atendimento sem discriminação ou segregação de crianças e adolescentes com
deficiência e o dever de oferecer gratuitamente: medicamentos, órteses, próteses e outras
tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e
adolescentes. Nesse sentido, a obrigação de promover assistência médica, odontológica e
vacinação, de acordo com o artigo 14, §§2º e 3º, ECA.
9
5. DIREITO FUNDAMENTAL: À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (Art. 15
a 18-B):

O capítulo II do Estatuto da Criança e do Adolescente, traz em sua redação que as


crianças e os adolescentes têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
sociais garantidos na Constituição Federal e nas leis esparsas, assim como, nos tratados
internacionais.
Possuem, portanto, direito de ir, vir, ter opinião, crença, brincar, praticar esportes,
divertir-se, participar da vida familiar e comunitária sem discriminação.
De suma importância, os artigos 18-A e 18-B, do ECA, que foram introduzidos pela
Lei n. 13.010/2014, inovação legislativa para estabelecer o direito da criança e do
adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento
cruel ou degradante.

• Sofrimento físico
Castigo • Lesão
Físico

Tratamento • Humilhe
cruel ou • Ameaçe
degradante • Ridicularize

Além disso, é dever dos pais, integrantes da família ampliada, responsáveis, agentes
públicos ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e adolescentes, de tratá-
los, educá-los ou protegê-los de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como
forma de correção, disciplina, estando sujeitos às sanções pelo Conselho Tutelar, como:
a) encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família.
b) encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico.
c) encaminhamento a cursos ou programas de orientação.
d) obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado.
e) advertência.

10
6.DIREITO FUNDAMENTAL: À EDUCAÇÃO, CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER
(Arts. 53 a 59)

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento


de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. O
artigo 53, inciso V, do ECA assegura o acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a
mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica (segundo alteração advinda em junto
de 2019), e o artigo 54, do ECA, elenca rol de deveres do Estado, dentre os quais:
a) de ensino fundamental, obrigatório e gratuito (para qualquer idade e como
oferecimento de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência
à saúde).
b) ensino médio.
c) ensino educacional especializado aos portadores de deficiência.
d) atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos.
e) oferta de ensino noturno.
f) de acesso ao ensino mais elevado, da pesquisa e criação artística.

Os pais ou responsáveis são obrigados a matricular seus filhos ou pupilos no ensino


regular. Os pais podem contestar critérios avaliativos, organizar e participar de entidades
estudantis, de forma democratizada.
Aos educadores e dirigentes de estabelecimento de ensino, cabe o dever de
comunicar maus-tratos, reiteração de faltas injustificadas, evasão escolar, elevados níveis
de repetência, segundo o artigo 56, do ECA.
Além disso, conforme Art. 58, no processo educacional respeitar-se-ão os valores
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente,
garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. E os
municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a
infância e a juventude, conforme artigo 59, do ECA.
A lei 13.840/2019 acrescentou ao estatuto o artigo 53-A, o qual trata sobre o dever
das instituições de ensino, clubes e agremiações recreativas e de estabelecimentos
congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou
dependência de drogas ilícitas.

11
7.DIREITO FUNDAMENTAL: À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO AO
TRABALHO (Art. 60 a 69):

O direito à profissionalização e ao trabalho protegido estão assegurados somente


para os adolescentes. Isto porque, o trabalho infantil é proibido, mas o trabalho do
adolescente é permitido, desde que atenda alguns critérios.
O artigo 60, do ECA, possui uma redação confusa, traz em sua redação que “é
proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz”, essa redação nos faz pensar que é possível o trabalho antes dos quatorze anos,
se for na condição de menor aprendiz, mas esse NÃO é o entendimento correto! A partir
da leitura do artigo 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal, podemos perceber que a
idade mínima é de 14 anos, trabalho na condição de aprendiz, sendo que crianças e
adolescentes até 14 anos incompletos NÃO PODEM TRABALHAR.
A partir dessa leitura e da leitura dos artigos 403, 404 e 428 da CLT, podemos
concluir que:

Por fim, importante ressaltar que mesmo na condição de menor aprendiz, o


adolescente tem direito a capacitação profissional, bolsa de aprendizagem, direitos
trabalhistas e previdenciários, de acordo com os artigos 64 a 69, do ECA.
12
8.DIREITO FUNDAMENTAL: A PREVENÇÃO ESPECIAL (Arts. 70 a 85):

Trata-se do sistema de prevenção, atribuindo individualmente, coletivamente e ao


Estado, o dever de prevenir a ocorrência de ameaça, riscos iminentes e futuros, de violação
de direitos de crianças e adolescentes (art. 70, do ECA).
O ECA estipula medidas preventivas relativas à informação, cultura, lazer, esportes,
diversões e espetáculos (art. 74 a 80), a produtos e serviços (art. 81 e 82) e a viagens de
crianças e adolescentes (art. 83 a 85).
É da União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, o dever de agir de forma
articulada e com integração dos órgãos do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria
Pública, Conselho Tutelar, os Conselhos de Direitos da Criança e dos Adolescentes e
entidades não governamentais, que atuam na proteção e defesa de direitos, o deve de
articular políticas públicas e executar ações destinada a promoção de campanhas
educativas, formação e capacitação de profissionais da saúde, educação e da assistência
social.
Também, promove pela articulação dos órgãos públicos e da sociedade na
elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de
castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de
educação de crianças e adolescentes (ZAPATER, 2017, p.1008), conforme o artigo 70-A
e incisos, do ECA, incluído através da Lei n. 13.010/2014.

8.1 Da informação, cultura, lazer, esportes, diversão e espetáculos:

O poder público é responsável por regular as diversões e espetáculos públicos,


informando em lugar de visível e fácil acesso, a natureza, local, horário e a faixa etária que
poderá assistir ou participar (art. 74, do ECA). Sendo que, crianças menores de 10 anos
deverão estar sempre acompanhadas dos pais ou responsáveis.
As emissoras de rádio e televisão devem respeitar horários recomendados para
público infantil, sendo que nada poderá ser apresentado ou anunciado sem o aviso prévio
da classificação etária. Essa regra aplica-se aos proprietários, diretores, gerentes e
funcionários de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas/revistas/CD’s/DVD’s/
ou qualquer tipo de material, cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo
com a classificação atribuída pelo órgão competente.

13
ATENÇÃO!
Nos casos de revistas ou publicações com conteúdo impróprio ou inadequado, deverão ser
comercializadas em embalagens lacradas, com advertência de seu conteúdo, todavia, se o
conteúdo inadequado estiver na capa, a embalagem deverá ser opaca.

As revistas e outras publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão


conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas,
tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da
família.
Os estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou similares e
casas de jogos, deverão cuidar para que não seja permitida a entrada de crianças e
adolescentes, afixando orientação na entrada do local.

8.2 Produtos e Serviços

É proibida a venda às crianças e adolescentes, de armas, munições, explosivos,


bebidas alcoólicas, produtos que possam causar dependência física ou psíquica, fogos de
estampido e de artifício (exceto de reduzido potencial ofensivo), revistas e publicações
inadequadas, bilhetes lotéricos e equivalente, segundo o artigo 81, do ECA.

O artigo 82, do ECA, traz que é PROIBIDA a hospedagem de criança e adolescente em:

Hotel, motel, pensão ou estabelecimentos congêneres.

Salvo se AUTORIZADO ou ACOMPANHADO pelos pais ou responsáveis.

Autorização: não precisa ser com firma reconhecida, basta uma simples autorização.

Portanto, veda-se hospedagem em hotéis, motéis, pensões e estabelecimentos


congêneres para evitar problemas como a fuga de casa, sequestro, prática de sexo não
autorizado, encontros ocultos, para preservar a dignidade sexual de pessoas menores de
18 anos, evitando, assim, o estupro de vulnerável ou a o comércio sexual de crianças e
adolescentes.
A infração a essa regra importa em sanção administrativa, conforme o artigo 250,
do ECA, com pena de multa, no caso de reincidência, além da multa o estabelecimento

14
poderá ser fechado até 15 dias, e se comprovada a reincidência em período inferior a 30
(trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada.

8.3 Autorização para viajar:

Segundo as regras estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo


83 a 85) e pela Lei 13.726/2018 temos as seguintes regras para viagem de crianças e
adolescentes:
Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá


viajar para fora da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos
responsáveis sem expressa autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812,
de 2019)
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou do adolescente
menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída
na mesma região metropolitana; (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver
acompanhado: (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado
documentalmente o parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder
autorização válida por dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a


criança ou adolescente:
I - Estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II - Viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro
através de documento com firma
reconhecida.

Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou


adolescente nascido em território nacional
poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no
exterior.

Lei da desburocratização:

Art. 3º Na relação dos órgãos e entidades dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios com o cidadão, é dispensada a exigência de:

[...]

VI - Apresentação de autorização com firma reconhecida para viagem de menor


se os pais estiverem presentes no embarque.

É dispensável autorização judicial para crianças e adolescentes brasileiros que


residem no exterior, quando estão voltando para seu país de domicilio, desde que estejam
na companhia de pais (ainda que um dos genitores, sem precisar de autorização escrita do
outro), se estiverem desacompanhados ou acompanhados de terceiros maiores, deverá ter
15
a autorização escrita com firma reconhecida. Deve-se comprovar a residência da criança
ou adolescente no exterior, através de Atestado de Residência, emitido por repartição
consular brasileira a menos de dois anos.
Nenhuma criança ou adolescente brasileira poderá sair do Brasil, acompanhada de
estrangeiro residente no exterior, sem prévia autorização judicial, salvo se o estrangeiro é
seu genitor ou se a criança ou adolescente não tiver nacionalidade brasileira.

ATENÇÃO!
Não é necessária a autorização de genitores suspensos ou destituídos do poder familiar, devendo o
interessado comprovar a circunstância por meio de certidão de nascimento devidamente averbada.

Quando solicitado, a autoridade judiciária poderá conceder autorização validade até


dois anos para viagem.
Nestes casos, dos artigos 83, 84 e 85, se uma empresa de ônibus ou avião, por
exemplo, transportar uma criança acompanhada de ascendente, mas sem a documentação
que comprova o parentesco, incorrerá em ilícito administrativo previsto no artigo 251, do
ECA, aplicando-se multa.
A partir do que foi estudado sobre as regras de viagem podemos concluir da seguinte
forma as regras vigentes:

16
9.DIREITO FUNDAMENTAL À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA (Art. 19 a
52):

As concepções de convivência familiar e comunitária tiveram grandes mudanças a


partir de promulgação da Constituição Federal de 1988. Durante a vigência da Constituição
Federal de 1967, família era somente aquela constituída através do casamento, sendo ele
indissolúvel. O Código Civil de 1916, que vigorou até 2002, previa que era legítimo somente
os filhos concebidos no casamento, autorizado, porém, o reconhecimento voluntário, salvo
se quanto a filhos “adulterinos ou incestuosos”, cujo reconhecimento de filiação era vedado
(o que, posteriormente, foi revogado pela Lei de Investigação de Paternidade).
A Constituição Federal de 1988, confere maior ênfase aos laços de consanguinidade
e afetividade, do que ao casamento, além disso, adota-se a isonomia entre filhos havidos
na constância do casamento e filhos havidos fora do casamento, sendo vedada qualquer
discriminação, segundo o artigo 227, §6º, da CF.
O atual entendimento é que a filiação passa a ser entendida como relação de
parentesco de 1º grau e não mais vinculado ao casamento, tanto de natureza consanguínea
(geração biológica), quanto a civil (por adoção), e seu reconhecimento passa a ser
personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser oposto contra pais e
herdeiros, indiferente se havidos fora ou dentro do casamento, possuindo os mesmos
direitos, observado apenas o segredo de Justiça, segundo os artigos 20, 26 e 27, do ECA.

17
9.1 Poder familiar

O poder familiar pode ser considerado como o direito/função/dever dos pais ou


responsáveis, em relação aos deveres pessoais e patrimoniais com relação ao filho não
emancipado, que deve ser exercido com observância do princípio do melhor interesse deste
(ZAPATER, 2017, p. 1004). Segundo o artigo 21, do ECA, o poder familiar será exercido,
em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação
civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à
autoridade judiciária competente para a solução da divergência.
São deveres impostos ao poder familiar, tanto para família natural, família extensa
ou ampliada e a família substituta:
a) Dever de sustento: provisão de subsistência material, se estiver estudando em
ensino superior, aplica-se por analogia as regras previdenciárias e tributárias, que
fixam idade final como dependência os vinte e quatro anos de idade (art. 77, §2º, da
Lei n. 3.000/1999).
b) Dever de guarda: direito ao filho de conviver com os pais.
c) Dever de educação: abrange a educação formal, para instrução básica e a familiar
(de crenças e cultura).

É direito da criança e do adolescente permanecer no seio familiar, excepcionalmente


ocorrerá a suspensão ou destituição do poder familiar. O Estatuto da Criança e do
Adolescente prevê o acolhimento institucional (que substituiu o termo “abrigamento”), de
criança e adolescentes que tiveram seus direitos violados e necessitam ser afastados
temporariamente da convivência familiar, mas cuidado:

ATENÇÃO!
O acolhimento familiar é medida excepcional, antes desta hipótese é necessário avaliar a
possibilidade de afastar o agressor do convívio familiar ou da colocação da criança ou adolescente
em família extensa.

Ainda, lembre-se do princípio do direito à convívio familiar e comunitário, assim, mãe


privada de liberdade tem direito a visitas periódicas com seus filhos.
O acolhimento institucional é medida aplicada a partir de decisão judicial, salvo em
caráter de urgência, no caso de uma criança ou adolescente encontrado em situação de
violação de direitos e não houver outra medida cabível no momento senão o
18
encaminhamento à instituição de acolhimento, o Juiz da Infância e Juventude deverá ser
notificado no prazo máximo de 24 horas sobre este acolhimento.
A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento
institucional não se prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada
necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela
autoridade judiciária, é o que trata o artigo 19 e parágrafos, do ECA. Esse recolhimento
passará por reavaliação no prazo de três meses, sendo que a manutenção ou a
reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer
outra providência.
A criança e adolescente em situação de acolhimento institucional tem direito a visitas,
o qual só será suspenso pela autoridade judiciária no caso de existirem motivos sérios e
fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.

9.2 Família natural

Entende-se por família natural, segundo o artigo 25, caput, do ECA, a comunidade
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes, isto é, corresponde ao
parentesco biológico.
As recentes alterações advindas das Leis n. 12.962/2014 e n. 13.257/2016, que
alteraram a redação de alguns artigo do ECA, asseguraram que a carência de recursos
materiais (art. 23), a dependência de substâncias entorpecentes ou a condenação criminal,
com cumprimento de pena privativa de liberdade, do pai ou da mãe, salvo se for crime
doloso contra o próprio filho(a), descendente ou contra outrem igualmente titular do poder
familiar(art. 23, §2º), não implicam, por si só, na destituição do poder familiar. A perda ou
suspensão do poder familiar só podem ser decretadas judicialmente, respeitado o
contraditório e somente nas hipóteses previstas no Código Civil e se forem
injustificadamente descumpridos os deveres de sustento, guarda e educação (art. 24, do
ECA).
19
9.3 Família extensa ou ampliada:

A família extensa ou ampliada é entendida por aquela formada além da unidade pais
e filhos, isto é, parentes próximos, com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
vínculos de afinidade afeto.

9.4 Família substituta:

A colocação em família substituta ocorre em três modalidades: através da guarda,


tutela ou da adoção, todas elas estão condicionadas a decisão judicial, sendo, em todos os
casos, analisado se a família substituta possui compatibilidade com a natureza da medida
e se oferece ambiente familiar adequado, segundo os artigos 28 e 29, do ECA.
Considerando o profundo impacto que a colocação em família substituta causa, o
Estatuto determina, que sempre que possível a criança será previamente ouvida por equipe
interprofissional, sendo que sua manifestação será levada em consideração, já tratando-se
de maior de 12 anos de idade, portanto, adolescente, será necessário o consentimento
obrigatório, conforme artigo 28, §§1º e 2º, do ECA. Além disso, deve ser apreciado o
parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de preservar o melhor interesse.
Os grupos de irmãos não serão separados, geralmente, salvo situações excepcionais de
solução diversa, plenamente justificados, evitando o rompimento definitivo de qualquer
modo.
O estatuto procura ainda considerar a diversidade cultural, em se tratando de criança
ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo.
Respeitando a identidade social e cultural, costumes e tradições, prevalecendo a colocação
familiar prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia.
No caso de crianças indígenas, estas, deverão ter acompanhamento de antropólogos e de
agentes da FUNAI.
A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente
admissível na modalidade de adoção, segundo o artigo 31, do ECA.
No caso da gestante que pretende entregar o filho à adoção, esta deverá ser
encaminhada à Justiça da Infância e Juventude, onde será ouvida por equipe
interprofissional. O juiz buscará primeiro pela família extensa (no prazo de 90 dias), após o
nascimento a mãe deverá confirmar sua vontade em audiência, até a audiência a mãe
poderá retratar-se, ou então arrepender-se do seu consentimento até 10 dias contado da
data de prolação da sentença de extinção do poder familiar.
20
9.4.1 Da guarda:

Inicialmente cabe a nós lembrarmos que a guarda é um dos deveres inerentes do


poder familiar, assim, preferencialmente são os pais (da família de origem) que detêm a
guarda (ZAPATER, 2017, p. 1006).
A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança
ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos
pais. Ela destina-se a regularizar a posse da criança ou do adolescente, podendo ser
concedida no final de uma ação judicial, liminarmente ou incidentalmente, salvo nos casos
de adoção estrangeira, que não poderá ocorrer de forma liminar ou incidental, segundo o
artigo 33, §1º, do ECA.
Em regra, a guarda será utilizada para casos de tutela e adoção, excepcionalmente
para atender situações peculiares ou para suprir a falta dos pais ou responsáveis, podendo
o direito de representação ser para apenas alguns atos determinados.
Ela confere a criança ou ao adolescente a condição de dependente para qualquer
fim, inclusive para fins previdenciários. Ela não impede o direito de visitas dos pais, ou o
dever deles de prestar alimentos.
A guarda pode ser revogada a qualquer momento mediante ato judicial
fundamentado, ouvido o Ministério Público, segundo o artigo 35, do ECA.

9.4.2 Da tutela

A tutela pode ser deferida a pessoa até 18 anos de idade, ela pressupõe a prévia
decretação da perda do poder familiar e implica, necessariamente o dever de guarda.
O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, tem o prazo de
30 dias após a abertura da sucessão, para ingressar com o pedido de tutela, sendo que
nesse pedido será avaliada a vontade do tutelando e se não existe outra pessoa em
melhores condições para assumir. A tutela está subordinada as regras do artigo 24, do ECA
e dos artigos 1.728 a 1.734 do Código Civil.
É medida que visa suprir a ausência da representação legal dos pais, para cuidado
da criança ou adolescente e de seus patrimônios.

9.4.3 Da adoção:

21
A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas
quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural
ou extensa, atribui a condição de filho ao adotado, análoga à do parentesco biológico, com
os mesmos direitos e deveres, inclusivo sucessórios, desligando o adotado de qualquer
vínculo com pais e parentes, segundo os artigos 39, §1º, e 40, do ECA.
É vedada a adoção por procuração, ela ocorre somente pela via judicial, sendo
observados os interesses do adotando. A criança ou adolescente deve contar com no
máximo 18 anos de idade, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Segundo o artigo 41, §1º, do Eca, se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do
adotante e os respectivos parentes.

ATENÇÃO!
Requisitos para adotar:
• Maiores de 18 anos idade (quem pretende adotar).
• Menores de 18 anos de idade (criança ou adolescente).
• Diferença de 16 anos de idade entre adotante e adotado.
• Consentimento dos pais ou destituição do poder familiar.
• Somente por via judicial.
• Manifestação da criança e consentimento do adolescente.
• Estágio de convivência (para formação de vínculos). NACIONAL: prazo máximo de 90
dias, podendo ser prorrogador por igual período (dispensado se houver vínculo, tutela ou
guarda anterior, art. 46). Se adoção INTERNACIONAL: prazo mínimo de 30 dias e
máximo de 45 dias, podendo ser prorrogado por igual período. Estágio de convivência
internacional deve ser cumprido em território nacional.
• Necessária prévia habilitação.
• Idoneidade, motivos legítimos e desejo de filiação.

Quem não pode adotar? Os ascendentes e os irmãos do adotando e quem tiver menos
de 16 anos de diferença do adotado.

O que precisa para adoção conjunta? Para adoção conjunta, é indispensável que os
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a
estabilidade da família.

Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar


conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o
estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que
22
seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não
detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.

É possível a guarda compartilhada? Conforme §2º, do artigo 42, do ECA e artigo 1.583
e seguinte do Código Civil, é possível a aguarda compartilhada, salvo se houve a perda do
poder familiar. A guarda compartilhada corresponde a responsabilização conjunta do
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivem sob o mesmo teto (NUCCI,
2017, p. 186).

E se o adotante falecer no curso do processo de adoção? A adoção poderá ser deferida


ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
procedimento, antes de prolatada a sentença.

ATENÇÃO!
Família significa núcleo doméstico, pouco importa se é formada por pessoas heteroafetivas ou
homoafetivas. Ainda que não haja previsão expressa quanto a possibilidade de adoção por causa
homoafetivos, o STF decidiu pelo reconhecimento da União Estável homoafetiva (DPF 132), e a
jurisprudência admite a possibilidade de ação.

A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando


(art. 45), isto é, ela não poderá ser forçada, esse consentimento só será dispensado se os
pais forem desconhecimento ou se ocorreu a destituição do poder familiar. Lembrando que
o maior de 12 anos tem direito de consentir com a adoção.
Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País,
o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante decisão
fundamentada da autoridade judiciária
O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço
da Justiça da Infância e da Juventude, será cumprido no território nacional,
preferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do
juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da
comarca de residência da criança.
Depois de trânsito em julgado da ação de adoção (nacional ou internacional) a
decisão será inscrita no registro civil mediante mandado, a inscrição constará o nome dos
pais adotantes, bem como de seus ascendentes. A nova inscrição cancelará o registro
23
original do adotado. A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante, inclusive será
possível, a pedido de qualquer um deles, a modificação do prenome do adotado.
O adotado, após completar 18 anos de idade, tem direito de conhecer sua origem
biológica, bem como, ter acesso irrestrito ao processo de adoção, sendo assegurada
orientação e assistência jurídica e psicológica, conforme artigo 48 e parágrafo único, do
ECA.
A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais, segundo
artigo 48 e parágrafo único, do ECA.
Cabe a autoridade judiciária manter na comarca ou foro regional, o registro de
crianças e adolescente e pessoas aptas para adotar e serem adotadas. A inscrição será
orientada pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude (art. 50 e parágrafos,
do ECA).
O Estatuto também prevê a criação e implementação de cadastros estaduais e a
nível nacional, de crianças e adolescentes e postulantes à adoção. Para casais
estrangeiros, o cadastro será distinto, e somente serão consultados na ausência de casais
nacionais habilitados (brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros).
Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou
o adolescente, sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família
cadastrada em programa de acolhimento familiar (§11, art. 50, do ECA).
É possível pedido de adoção de quem não tenha prévio cadastro, desde que:
 Que o candidato seja domiciliado no Brasil.
 Se tratar de pedido de adoção unilateral.
 Se formulado por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de
afinidade e afetividade.
 Oriundo de quem detém tutela ou guarda legal de criança maior de três anos ou
adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprova fixação de laços de
afinidade e afetividade, e não seja verificada a ocorrência de má-fé ou qualquer situação
prevista nos artigos 237 ou 328 do ECA.
 O candidato comprova, no curso do processo, que preenche os requisitos necessários
para adotar, conforme previstos em lei.
Crianças com deficiência, doença crônica ou necessidades específicas de saúde tem
prioridade no cadastro de adoção.
A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta
Lei, os países devem ser ratificantes da Convenção de Haia, com as seguintes adaptações:
a habilitação deve ocorrer Autoridade Central em matéria de adoção do país onde reside,
24
a qual deverá emitir relatório sobre aptidão e enviará para a Autoridade Centra Estadual,
com cópia para Autoridade Central Federal Brasileira, a Autoridade Centra Estadual poderá
exigir complementações, de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado
a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que
se encontra a criança ou adolescente.
As autoridades do Brasil devem analisar o pedido e emitir, com validade de um ano,
o laudo de habilitação para adoção. Todo esse processo poderá ser intermediado por
organismos credenciados, cadastrados pelo Departamento de Polícia Federal e aprovados
pela Autoridade Central Federal Brasileira.
Após o trânsito em julgado da decisão que concede a adoção é expedido o alvará
de autorização de viagem do adotando.

10.AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO: PARTE ESPECIAL

As políticas de atendimento são um conjunto articulado de ações governamentais e


não-governamentais, que tem como linha de ação desde as políticas básicas até os
serviços especiais de prevenção, identificação e proteção dos direitos e garantias de
crianças e adolescentes (art. 87, do ECA).
Os atendimentos ocorrem de forma municipalizada, existe a criação dos conselhos
municipais, estaduais e nacionais, órgão deliberativo e controlador das ações em todos
os níveis, que visa assegura a participação popular, a função do membro do conselho
nacional e dos conselhos estaduais e municipais não é remunerada, pois considera-se
como de interesse público relevante.
O Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente é responsável por
manter os registros das inscrições das entidades de atendimento, assim como, por
reavaliar, a cada dois anos, os programas em execução, constituindo critérios para
renovação da autorização de funcionamento.
Essas entidades são fiscalizadas pelo judiciário, Ministério Público e pelos
Conselhos Tutelares. Em caso de descumprimentos das obrigações, as entidades podem
sofrer advertências, afastamento provisório ou definitivo de seus dirigentes, fechamento da
unidade ou interdição do programa. Se for entidade não-governamental, poderá haver, além
da advertência, a suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas, interdição ou
suspensão do programa e cassação do registro, segundos os artigos 96 e 97, do ECA.

25
11.AS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

As medidas de proteção, são aplicáveis sempre que direitos reconhecidos são


ameaçados ou violados, de acordo com o artigo 98, do ECA. São três hipóteses de
cabimento para medidas de proteção:

As medidas de proteção podem ser aplicadas isoladas ou cumulativamente, bem


como, substituídas a qualquer tempo, elas não correspondem a qualquer tipo de sanção ou
punição (inclusive nos casos de crianças ou adolescente autor de ato infracional), sua
propositura serve para cessar a violação de direito ou para parar com alguma ameaça de
direitos. Deve-se levar em conta sempre o caráter pedagógico e a necessidade de
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (art. 99 e 100, do ECA).
Verificada alguma das hipóteses do artigo 98, as autoridades competentes poderão
aplicar as seguintes medidas de proteção (art. 101, do ECA): encaminhamento aos pais e
responsáveis, orientação e acompanhamento, matrícula e frequência à escola, inclusão em
serviços e programas oficiais ou comunitários (como para tratamento em problemas com
entorpecentes), requisição de tratamento médico, acolhimento institucional, inclusão em
programa de acolhimento familiar, colocação em família substituta.
O acolhimento institucional e o acolhimento em família substituta, são provisórios e
excepcionais, correspondem a uma etapa de transição entre a reintegração familiar ou
colocação em família substituta, não pode implicar na privação de liberdade. E, conforme
parágrafo único do referido artigo, são também princípios que regem a aplicação das
medidas:
I - Condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos;
II - Proteção integral e prioritária;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público;
IV - Interesse superior da criança e do adolescente;
V - Privacidade;
VI - intervenção precoce;
VII - intervenção mínima;
VIII - proporcionalidade e atualidade;
26
IX - Responsabilidade parental;
X - Prevalência da família;
XI - obrigatoriedade da informação;
XII - oitiva obrigatória e participação.

11.1 Medidas pertinentes aos pais ou responsáveis:

As medidas pertinentes aos pais ou responsável, estão previstas nos artigos 129 e
130, do ECA, são medidas aplicadas a eles, quando não observam os direitos e garantias
de crianças e adolescentes e oferecem risco ou violam esses direitos. São medidas
aplicadas aos pais ou responsáveis: encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família; inclusão em programa oficial ou
comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; encaminhamento a cursos ou
programas de orientação; obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
frequência e aproveitamento escolar; obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a
tratamento especializado; advertência; perda da guarda; destituição da tutela; suspensão
ou destituição do poder familiar.
Deve-se destacar o artigo 130, do ECA, a respeito da medida cautelar de
afastamento do agressor da moradia, quando verificado maus-tratos, opressão ou abuso
sexual, tendo como agressor os pais ou responsável.

11.2 Conselho Tutelar

O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado


pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
segundo o artigo 131, do ECA. Será composto por 5 membros, escolhidos pela população
local, para um mandato de 4 anos, permitida a reeleição, a idade mínima para concorrer
será de 21 anos, além da idade mínima, deverá ter reconhecida idoneidade moral e residir
no mesmo município (art. 132 e 133, do ECA). Atenção, antes da alteração advinda pela
lei 13.824/2019, a reeleição do conselho era possível uma única vez, agora não existem
mais limitações.
Cabe a Lei municipal ou distrital definir local, dia, horário de funcionamento do
Conselho Tutelar, inclusive sobre a remuneração.

27
As principais atribuições do conselheiro são: atender crianças e adolescentes, bem
como, seus pais ou responsável, aconselhar, requisitar serviços públicos na área da saúde,
educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança, encaminhar ao Ministério
Público notícia de violação de direitos, expedir notificações, assessorar o Poder Executivo
local na elaboração de proposta orçamentária para planos e programas de atendimento,
representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder
familiar.
São impedidos de servir no mesmo Conselho (lembrando que mesmo município
poderá haver mais de um Conselho Tutelar) marido e mulher, ascendente e descendente,
sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
madrasta e enteada. O impedimento também se aplica para autoridade judiciária e ao
representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e Juventude, em
exercício na comarcar, foro regional ou distrital.

12. OUTROS PROCEDIMENTOS:

O procedimento para perda ou suspensão do poder familiar e para colocação em


família substituta estão regulados pelos artigos 155 a 170, do ECA.

12.1 Perda ou suspensão do poder familiar:

Pode ser iniciado pelo Ministério Público, pelos pais, ou qualquer pessoa que tenha
interesse, como um membro da entidade familiar. Ao receber a petição inicial. Havendo
motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a
suspensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da
causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de
responsabilidade.
O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias,
e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir
esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em família
substituta. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será
averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.
O procedimento tem prioridade na tramitação, o prazo é em contagem de dias
corridos, conforme estabelece o estatuto (não em dias úteis, conforme código de processo

28
civil). Todos procedimentos regulados pelo ECA possuem isenção de custas e
emolumentos.

12.2 Colocação em família substituta:

O procedimento para colocação de criança ou adolescente em família substituta é


instaurado por petição inicial ajuizada por quem tiver interesse. A inicial poderá conter
pedido de guarda provisória e nos pedidos de adoção o requerimento para a determinação
do estágio de convivência (art. 167, do ECA).
No caso de pais vivos e conhecidos, deverão ser citados para apresentar resposta
na ação de destituição do poder familiar, sob pena de violação do princípio da ampla defesa
e do contraditório. Ademais, no caso de pedido de adoção, os pais deverão ser citados para
que confirmem o seu consentimento perante o juiz.
O juiz requererá a realização de estudo social, ou perícia por equipe de profissionais
interprofissional, para decidir sobre a concessão de guarda provisória, ou no caso de
adoção, pelo estágio de convivência.

13.SISTEMA RECURSAL:

Em regra os procedimentos que acontecem na Justiça da Infância e Juventude são


os que versem sobre: ato infracional; pedido de adoção; interesses individuais, difusos ou
coletivos; decorrentes de irregularidades de entidades de atendimento às crianças e
adolescentes; nos casos de penalidades administrativas; casos encaminhas ao Conselho
Tutelar; ou qualquer caso que poderia ser da Vara de Família, mas como possuí uma
situação de risco junto são atraídos para a Vara da Infância e Juventude.
O artigo 198, do ECA, determina que nas ações relativas a Justiça da Infância e da
Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o
sistema recursal do Código de Processo Civil com as seguintes adaptações: Não haverá
necessidade de preparo para interposição de recursos; Prazos recursais são de 10 dias,
salvo embargos de declaração que são 5 dias; Terão preferência no julgamento; Dispensam
revisor; Da sentença de adoção, de destituição de poder familiar ou ato infracional, só cabe
efeito devolutivo, exceto: a) adoção internacional; b) Perigo de dano irreparável ou de difícil
reparação; ocasião que será possível efeito suspensivo do processo.
14 DAS PEÇAS PROCESSUAIS ESPECÍFICAS:

29
14.1 Pedido de adoção com pais desconhecidos ou falecidos:

DOUTO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA


DE...

AUTOR..., nacionalidade..., estado civil..., união estável... (verificar enunciado),


profissão..., portador da Cédula de identidade nº..., inscrito no CPF sob nº..., e AUTORA,
nacionalidade..., estado civil..., união estável... (verificar enunciado), profissão..., portador
da Cédula de identidade nº..., inscrito no CPF sob nº..., com endereço eletrônico...,
residentes e domiciliados na Rua..., nº..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por
intermédio de seu procurador constituído (procuração em anexo), OAB..., endereço
eletrônico... e endereço profissional na Rua..., nº..., Bairro..., Cidade..., Estado..., onde
recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 39 e seguintes e artigo 165 e seguintes do Estatuto da Criança
e do Adolescente, bem como, no artigo 1.618 do Código Civil, propor a presente

AÇÃO DE ADOÇÃO, COM PEDIDO DE GUARDA PROVISÓRIA

Para adotar NOME DO ADOTADO, nacionalidade..., data de nascimento, estado


civil..., união estável..., profissão..., portador da Cédula de identidade nº..., inscrito no CPF
sob nº..., com endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., nº..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

1. DOS FATOS:
Narrar o que ocorreu no mundo dos fatos que ensejou a propositura da ação,
conforme problema fornecido pela FGV.

3. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA


Nos moldes do artigo 300, do CPC, requerer a guarda provisória da criança,
demonstrando a probabilidade de direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. É possível trabalhar o artigo 157 e 167, do ECA para fundamentar a concessão
da guarda provisória.

2. DO DIREITO:
30
Trazer a fundamentação legal da ação que tratam da possibilidade de adotar a
criança, como, por exemplo, o preenchimento dos requisitos que consta nos artigos 42 e
43, do ECA, se a criança já estiver com os adotantes é possível pedir dispensa do estágio
de convivência, segundo o artigo 46, §1º, do ECA. Fundamente na dispensa do
consentimento dos pais, se for o caso, conforme artigo 45, §1º, do ECA. É muito importante
argumentar sobre o direito à convivência familiar, como direito fundamental previsto no
artigo 227, da CF.

3. DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Autor:

a) O recebimento da presente demanda;

b) A tramitação preferencial do presente feito, tendo em vista o artigo 1.048, inciso II, do
Código de Processo Civil e artigo 47, §9º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

c) O benefício da gratuidade da justiça, por ser o Autor pessoa pobre nos termos da lei,
consoante previsão dos artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil, conforme declaração
anexa (se o enunciado trouxer informações para esse pedido, lembrando que nas ações
que tramitam na Justiça da infância não possuem custo, isto é, são isentas de custas e
emolumentos para às crianças e adolescentes, quando elas configurarem como autora ou
ré, segundo entendimento do STJ, não se aplicando as demais partes do processo,
segundo o §2º, do artigo 141 do ECA).

d) A total procedência da ação com o fim de que seja concedida aos autores a adoção de
NOME DO ADOTADO.

Ou

d) A total procedência da ação com o fim de que seja concedida aos autores a adoção de
NOME DO ADOTADO, dispensando-se o estágio de convivência em razão da criança já
residir com os requerentes há longo tempo (de acordo com as informações do enunciado).

e) A intimação do representante do Ministério Público para que acompanhe o feito;

31
f) A produção de todos os meios de provas permitidos em direito, em especial... (o candidato
deverá analisar se enunciado fala sobre provas documentais, testemunhas, perícia social
e psicológica etc.).

g) Expedição de mandado para o Cartório de Registro Civil desta Comarca, para cancelar
o registro original do adotado e que seja lavrado novo registro contendo o nome dos
adotantes como pais, bem como, de seus ascendentes e que, o adotado, passará a se
chamar FULANO DE TAL, segundo artigo 47, §§1º, 2º e 5º do ECA.

h) A oitiva da criança ou adolescente, para que manifeste sobre sua concordância, ou não,
com o pedido de adoção dos autores, consoante artigo 28, §1º e §2º, do ECA.

g) A dispensa do consentimento dos pais biológicos do adotando, haja vista que eles foram
destituídos do poder familiar (Art. 45, §1º, do ECA).

Dá a causa o valor de R$...

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., Data...
Advogado...
OAB...

32
14.2 Ação de destituição do poder familiar cumulada com pedido de adoção:

DOUTO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA


DE...

AUTOR..., nacionalidade..., estado civil..., união estável... (verificar enunciado),


profissão..., portador da Cédula de identidade nº..., inscrito no CPF sob nº..., e AUTORA,
nacionalidade..., estado civil..., união estável... (verificar enunciado), profissão..., portador
da Cédula de identidade nº..., inscrito no CPF sob nº..., com endereço eletrônico...,
residentes e domiciliados na Rua..., nº..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por
intermédio de seu procurador constituído (procuração em anexo), OAB..., endereço
eletrônico... e endereço profissional na Rua..., nº..., Bairro..., Cidade..., Estado..., onde
recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 155 a 163 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos artigos
1.618 e 1.638 do Código Civil, propor a presente

AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR CUMULADA COM PEDIDO


DE ADOÇÃO

Em face de NOME DO RÉU (pai biológico), nacionalidade..., estado civil..., união


estável... (verificar enunciado), profissão..., portador da Cédula de identidade nº..., inscrito
no CPF sob nº..., e NOME DA RÉ (mãe biológica), nacionalidade..., estado civil..., união
estável... (verificar enunciado), profissão..., portador da Cédula de identidade nº..., inscrito
no CPF sob nº..., com endereço eletrônico..., residentes e domiciliados na Rua..., nº...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

1. DOS FATOS:
Narrar o que ocorreu no mundo dos fatos que ensejou a propositura da ação,
conforme problema fornecido pela FGV.

2. DO DIREITO:
33
Trazer a fundamentação legal da ação com base na extinção do poder familiar (art.
artigo 155 a 163 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos artigos 1.618 e 1.638 do
Código Civil. É possível trabalhar a tese do dever de guarda, artigo 1634, do CC.
Argumentar quanto ao preenchimento dos requisitos que consta no artigo 43, do ECA, se
a criança já estiver com os adotantes é possível pedir dispensa do estágio de convivência,
segundo o artigo 46, §1º, do ECA. É muito importante argumentar sobre o direito à
convivência familiar, como direito fundamental previsto no artigo 227, da CF.

3. DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer o Autor:

a) O recebimento da presente demanda;

b) A tramitação preferencial do presente feito, tendo em vista o artigo 1.048, inciso II, do
Código de Processo Civil e artigo 47, §9º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

c) O benefício da gratuidade da justiça, por ser o Autor pessoa pobre nos termos da lei,
consoante previsão dos artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil, conforme declaração
anexa (se o enunciado trouxer informações para esse pedido, lembrando que nas ações
que tramitam na Justiça da infância não possuem custo, isto é, são isentas de custas e
emolumentos para às crianças e adolescentes, quando elas configurarem como autora ou
ré, segundo entendimento do STJ, não se aplicando as demais partes do processo,
segundo o §2º, do artigo 141 do ECA).

d) A total procedência da ação com o fim de que seja declarada a destituição do poder
familiar dos réus em relação à criança ou adolescente e que seja concedida aos autores a
adoção de NOME DO ADOTADO.

Ou

d) A total procedência da ação com o fim de que seja declarada a destituição do poder
familiar dos réus em relação à criança ou adolescente e que seja concedida aos autores a
adoção de NOME DO ADOTADO, dispensando-se o estágio de convivência em razão da
criança já residir com os requerentes há longo tempo (de acordo com as informações do
enunciado).
34
e) A intimação do representante do Ministério Público para que acompanhe o feito;

f) A produção de todos os meios de provas permitidos em direito, em especial... (o candidato


deverá analisar se enunciado fala sobre provas documentais, testemunhas, perícia social
e psicológica etc.).

g) Expedição de mandado para o Cartório de Registro Civil desta Comarca, para cancelar
o registro original do adotado e que seja lavrado novo registro contendo o nome dos
adotantes como pais, bem como, de seus ascendentes e que, o adotado, passará a se
chamar FULANO DE TAL, segundo artigo 47, §§1º, 2º e 5º do ECA.

h) A oitiva da criança ou adolescente, para que manifeste sobre sua concordância, ou não,
com o pedido de adoção dos autores, consoante artigo 28, §1º e §2º, do ECA.

g) A dispensa do consentimento dos pais biológicos do adotando, haja vista que eles foram
destituídos do poder familiar (Art. 45, §1º, do ECA).

Dá a causa o valor de R$...

Termos em que,
Pede deferimento.

Local..., Data...
Advogado...
OAB...

35
REFERÊNCIAS

BRUÑOL, Miguel Cillero. O interesse superior da criança no marco da Convenção


Internacional sobre os Direitos da Criança. In: MÉNDEZ, Emilio García, BELOFF, Mary
(Orgs.). Infância, Lei e Democracia na América Latina: Análise Crítica do Panorama
Legislativo no Marco da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança 1990 –
1998. Trad. Eliete Ávila Wolff. Blumenau: Edifurb, 2001.

CUSTÓDIO, André Viana; KÜHL, Franciele Letícia. A proteção aos direitos humanos de
crianças e adolescentes contra violência sexual intrafamiliar. In: GORCZEVSKI, Clovis
(Org.). Direitos Humanos e Participação Política. v.8, Porto Alegre: Imprensa Livre, 2017.

CUSTÓDIO, André Viana. Teoria da proteção integral: pressuposto para compreensão do


Direito da Criança e do Adolescente. Revista do Direito. v.29, Santa Cruz do Sul: UNISC,
2008, p.22 - 43.

LEITE, Carla Carvalho. Da doutrina da situação irregular à doutrina da proteção integral:


aspectos históricos e mudanças paradigmáticas. Porto Alegre: Juizado da Infância e da
Juventude, 2005.

NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em


busca da Constituição Federal das Crianças e Adolescentes. 3.ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense, 2017.

ZAPATER, Maíra. Estatuto da Criança e do Adolescente. In: LENZA, Pedro. OAB Primeira
Fase: volume único. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

36
37

Você também pode gostar