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Tribunal de Justiça do Estado da Bahia

PODER JUDICIÁRIO
SALVADOR
4ª VSJE DE CAUSAS COMUNS (VESPERTINO) - PROJUDI

PADRE CASIMIRO QUIROGA, 2403, 1º ANDAR (FÓRUM IMBUÍ), IMBUÍ - SALVADOR


ssa-4vsje-comuns@tjba.jus.br - Tel.: (71) 3372-7446
PROCESSO N.º: 0018728-52.2015.8.05.0001

AUTORES:
ELISANGELA SANTANA DOS SANTOS

RÉUS:
GILDO SANTOS BEZERRA JUNIOR
LUCIMARA DE OLIVEIRA SANTOS

SENTENÇA

Vistos etc.
Alega a autora ser síndica do Condomínio no qual reside juntamente com os acionados. Informa ainda que ambos os acionados foram síndicos do mesmo condomínio em
período anterior. Relata existir diversos problemas na relação dos réus com demais vizinhos, sobretudo pelo uso de uma vaga de garagem, a qual a mesma alega ser de uso
irregular por parte dos réus. Por fim, narra a autora ter sido vítima de xingamentos proferidos pelos acionados.
Assim, requer, a condenação em indenização por danos morais, em valor a ser arbitrado pelo juízo.
Autos instruídos conforme evento n.52, com oitiva das partes e testemunhas e reiterada a juntada de contestação (evento 30).
Em sua defesa, o réu pugna pela improcedência da ação, aduzindo que não é autor das ofensas determinadas pela autora, mas sim vítima de ofensas propostas pela
mesma, além de ameaças. Pede pela improcedência dos pedidos autorais.
É o que importa circunstanciar. Passo a decidir.
DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA:
Alegam os réus, não ter a parte autora a necessária legitimidade posto que a mesma não provou nos autos ser Síndica do condomínio no qual residem as partes, não
tendo, assim, legitimidade para efetuar cobranças ou postular em nome do condomínio.
Indefiro a preliminar suscitada, posto que a ação trata da alegação de ocorrência de dano moral, por conta de ofensas entre outros fatos ocorridos entre autora e réus,
não tendo relação com o exercício direto com a função de síndico condominial. Além disto, a lide não trata de direitos condominiais, mas de direito pessoal da autora, amparado
constitucionalmente.
Passada a análise de questão preliminar, passo ao mérito.
DO MÉRITO
A autora pleiteia indenização por dano moral ao qual alega ter sofrido, tendo narrado situação em que dá conta da ocorrência de discussão, entre outros fatos,
ocasionados pelos réus. As partes residem no mesmo condomínio, sendo a autora a atual síndica e os réus síndicos em período anterior.
Aduz a acionante, evento em que se dirigiu ao imóvel dos réus, no intuito de esclarecer sobre o descumprimento das normas regidas no condomínio.
Narra ainda que neste evento, a autora se dirigiu ao apartamento dos acionados, juntamente com outros moradores, e que os mesmos reagiram de forma agressiva,
proferindo xingamentos contra os vizinhos, e em especial contra a autora conforme narrado no evento n.1.
A autora afirma ser Policial Militar, e por conta dos problemas advindos entre a mesma e os réus, estes a denunciaram perante a Corregedoria de Polícia Militar do
Estado da Bahia, conforme documento acostado no evento n.1, com a intenção, segundo narra a autora em sua inicial “alegando fatos caluniosos e mentirosos jamais praticados
pela Acionante, na tentativa rasteira de apenas prejudicar a Acionante na Corporação”.
Em sede de defesa, os réus negam a narrativa apresentada pela autora. Alega um dos réus, que no dia anterior ao fato narrado pela autora, esta e seu esposo foram até
o apartamento dos mesmos, às 6 horas da manhã, e que o réu sequer abriu a porta, por saber que a autora era policial militar, e que porta arma de fogo. Assim, por temer por sua
vida e de sua esposa, o réu não abriu a porta, o que enfureceu a autora e seu companheiro, que bateram na porta insistentemente e com violência, o que o fez achar que seria
arrombada.
O réu afirma em seu depoimento pessoal, que no dia seguinte ao fato narrado, desta vez à noite, foi interpelado por outros moradores, juntamente com a autora, alguns
aparentando certa embriaguez, e que estes agrediram verbalmente os réus. Alega que a autora xingou a ré para que esta retirasse o carro de uma vaga de garagem.
Ademais, a parte ré, bem como os informantes do juízo, afirmam que a parte autora proferiu xingamentos, bem como protagonizou situações constrangedoras ou até
mesmo ameaçadoras com os réus, o que os fizeram recorrer à corregedoria da Polícia Militar do Estado da Bahia, situação em que houve processo disciplinar, posteriormente
arquivado como se vê do documento acostado no evento n.1.
No que tange ao conjunto probatório, compulsando os autos, se percebe que a parte autora não trouxe ao processo maiores elementos de prova que pudessem
corroborar com tudo o quanto alegado.
Em que pese ter havido depoimento de testemunhas trazidas pela parte autora, os depoimentos não se mostraram suficientes para comprovar os fatos narrados pela
mesma.
Neste passo, a prova testemunhal apresentada não foi suficiente para formar o convencimento desta magistrada, acerca das afirmações da autora.
Assim, temos que a existência apenas de prova testemunhal é insuficiente para formação do juízo de convencimento desta magistrada, especialmente na situação do
caso em tela, onde constam depoimentos conflitantes das partes e testemunhas.
Não é diferente a posição da jurisprudência:
EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. BRIGA DE VIZINHOS. OFENSAS E AGRESSÃO VERBAL. PARTES QUE
SOFREM INTENSAS PROVOCAÇÕES MÚTUAS. SENTENÇA QUE ACOLHEU O PEDIDO CONTRAPOSTO DE DANOS MORAIS DA REQUERIDA FUNDADA
NAS PROVAS TESTEMUNHAIS. DESNECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE UMA SEGUNDA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. PEDIDO INICIAL E CONTRAPOSTO
QUE VERSAM SOBRE OS MESMOS FATOS, DIVERGINDO APENAS SOBRE QUAL DAS PARTES MANTÉM UMA CONDUTA DE INCIVILIDADE EM RELAÇÃO À
OUTRA. PRELIMINARES DE NULIDADES DE DEPOIMENTOS NÃO ACOLHIDAS. CONTRADITA NÃO EFETUADA NO MOMENTO OPORTUNO. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA PARA ACOLHIMENTO DE AMBOS OS PEDIDOS. PROVAS ORAIS PRODUZIDAS EM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO QUE SÃO
INSUFICIENTES A EMBASAR QUALQUER DECRETO CONDENATÓRIO. TESTEMUNHAS CONTRADITÓRIAS, QUE RELATAM OFENSAS RECÍPROCAS.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA PARA JULGAR TAMBÉM O PEDIDO CONTRAPOSTO IMPROCEDENTE. Recurso conhecido e parcialmente provido.
Diante do exposto, resolve esta Turma Recursal, por unanimidade de votos, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento, nos exatos termos do vot
(TJPR - 1ª Turma Recursal - 0007192-52.2013.8.16.0116/0 - Matinhos - Rel.: LetÃcia Guimarães - - J. 12.08.2015)
(TJ-PR - RI: 000719252201381601160 PR 0007192-52.2013.8.16.0116/0 (Acórdão), Relator: LetÃcia Guimarães, Data de Julgamento: 12/08/2015, 1ª Turma
Recursal, Data de Publicação: 19/08/2015)
Assim, cumpriria à parte autora demonstrar com outros meios de prova, que não apenas o testemunhal, as situações apresentadas e narradas como justificadoras
dos pedidos autorais.
Ressalte-se ainda, que só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio do seu bem estar. Conforme ensina SÉRGIO CAVALIERI FILHO:
“Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da
normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto
de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos”. (Programa de Responsabilidade Civil, ed. Atlas, 2012, p. 93).
Deste modo, entendo que não cabe o ressarcimento por dano moral arguido pela parte autora.
Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos deduzidos na inicial.
Sem custas e honorários advocatícios nesta fase por expressa previsão legal, conforme artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/95.

P.R.I.

REGINA HELENA SANTOS E SILVA


Juíza de Direito
Documento Assinado Eletronicamente

Assinado eletronicamente por: REGINA HELENA SANTOS E SILVA


Código de validação do documento: 5c12529e a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

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