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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do


Pará Comarca de Marabá

DECISÃO DE PRONÚNCIA

Processo nº: 080006-18.2021.8.14.0025

Vistos etc.

Trata-se de ação penal proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL


em face de SANDRO RODOLFO DE SOUZA, devidamente qualificado, como incurso
nas sanções do artigo 121, § 2º, incisos I, e VI do Código Penal, constando como vítima
MARIANA FERREIRA DA SILVA, já qualificada nos autos.

Narra a denúncia, em síntese, que no dia 23 de agosto de 2023, por volta das
17:10 horas, na residência da vítima , o acusado SANDRO REDOLFO DE SOUZA
concorreu para morte de Marana Ferreira da Silva, com que mantinha um
relacionamento afetivo, sendo motivado por ciúmes após uma briga, ATIRANDO contra
a região torácica do lado esquerdo da vítima, que não resistindo aos ferimentos, evoluiu
a óbito no local.

A peça acusatória foi recebida em 22/06/2023. O acusado foi devidamente


citado em 26/07/2023. Em resposta escrita à acusação, a Defesa arguiu ausência de
suporte probatório que possa sustentar a acusação.
Após a instrução processual, inclusive com o interrogatório, em alegações finais, a
representante do Ministério Público pugnou pela pronúncia de Sandro, nos termos da
denúncia, dada, segundo o parquet, a subsunção do fato ao tipo penal situado no art.
121, § 2º, incisos I e VI do CPB.

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A Defesa, também em suas alegações finais, realizou uma breve digressão acerca
da impossibilidade de decreto condenatório e a improcedência do pronunciamento do
acusado, visto que, segundo esta, há ausência de materialidade dos fatos, sendo
insuficientes o conteúdo probatório, o que decorre em uma presunção de inocência.

DECIDO.

A preliminar contida na resposta escrita à acusação foi decidida em decisão


interlocutória, em que foi deferida a prisão preventiva do acusado. Mantida a
decisão que recebeu a peça vestibular acusatória.

MÉRITO

A pronúncia consiste em um mero juízo de admissibilidade da acusação, sendo ele


relacionado à existência de provas da materialidade do delito e suficientes indícios de
autoria, sem exame aprofundado da prova, no intuito de não influenciar os jurados, que
são, nesta causa, juízes naturais.

A pronúncia do réu é de rigor, nos termos do artigo 413 do Código de Processo


Penal, posto que os fatos alegados e provas juntadas convencem sobre os elementos nele
apresentados. Portanto, os elementos de convicção coletados durante a instrução
processual são suficientes para que o Ministério Público possa prosseguir com a
acusação.

MATERIALIDADE DO FATO

Consta que o corpo da vítima foi atingido por 01 (um) projétil de arma de fogo,
sendo que este atingiu a região torácica do lado esquerdo da vítima. Consta óbito sem
motivos naturais, tendo este sido causado pelo projétil

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disparado.
Consta que em posse do réu foi encontrada uma camiseta com manchas de sangue,
cujo laudo pericial conluiu qus o material genético pertecia à vítima Mariana Ferreira da Silva.
O artificial utilizado no crime em comento não fora encontrado com o réu.

INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA OU PARTICIPAÇÃO

Estou convencida da existência de indícios suficientes de autoria a permitir o


prosseguimento da acusação contra o réu.
Sem adentrar no mérito ou fazer interpretações sobre os depoimentos, perfazem-
se presentes indícios suficientes de autoria por meio dos relatos em juízo das
testemunhas,
JOÃO PRADO CORREA, testemunha do ocorrido, indicado pela acusação,
disse que no dia do crime por volta das 17h10min, viu um homem de porte médio, cabelo
preto e com uma camisa branca ou amarela com detalhes. Ele que mora cerca de 20
metros longe da casa da vítima e que após ouvir os disparos acionou a polícia. Além
disso, a testemunha viu o momento em que o suposto autor dos fatos saiu correndo da
casa da vítima, mas não conseguiu identificar de quem se tratava a pessoa.
MARIA OLIVEIRA DA SILVA, vizinha da vítima, menciona que no dia do
ocorrido ela fez seu café da manhã e tudo que de costume faz em sua residência, mas que
no fim da tarde foi a frente de sua casa varrer sua calçada e que ficou por lá quando
ouviu um barulho muito alto e que parecia ser de um tiro, depois disso então ela entrou
para sua residência e ligou para polícia. Além disso, a testemunha conta que antes de
ouvir os disparos ainda quando estava em frente sua casa, se recorda ter visto um
homem alto, de barba. Em relação ao relacionamento do acusado com a vítima, a
testemunha diz que nunca notou algo de estranho e que eles pareciam um casal feliz.
O acusado, em seu interrogatório, negou ter matado Mariana. Afirmou que estava
voltando de viagem da casa de seus pais em suas férias e que tentou entrar em contato
com a vítima, mas que não obteve resultado, foi quando que por volta das 17:10 daquela
tarde, ele foi até a residência dela e que quando entrou na casa dela e viu a vítima
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coberta de sangue no chãoentrou em desespero e por temer a sua vida saiu da residência
e foi para sua casa.
.
Os indícios de autoria se perfazem pela oitiva das pessoas em juízo, além de
digitais compatíveis com as do acusado na arma do crime, sendo que os horários citados
pelas testemunhas coincidem com o dos fatos, bem como a motivação e materialidade
dos fatos, restando o posterior esclarecimento das condições e localização do acusado
perante os jurados, para que se aponte, ou não, os indícios de autoria que pairam sobre o
acusado.
Portanto, há no conjunto probatório elementos bastantes para autorizar o
prosseguimento da acusação.

DAS QUALIFICADORAS

Também caberá aos Jurados decidir se estão ou não caracterizadas as


qualificadoras (artigo 121, § 2º, incisos I e IV do CPB), invocadas pelo Ministério Público
em suas alegações finais. Neste ponto, importante esclarecimento sobre a tipificação
penal.
Na denúncia e nas alegações finais, o Ministério Público acusou o denunciado da
prática das qualificadoras contidas nos incisos I e IV do § 2º do artigo 121 do Código
Penal.
Há elementos suficientes no conjunto probatório para autorizar o Ministério
Público a sustentar em plenário a ocorrência do fato que estaria a caracterizar as duas
qualificadoras, ou seja, que o réu matou a vítima mediante paga ou promessa de
recompensa, ou por outro motivo torpe; à traição, de emboscada, ou mediante
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
Indicados resumidamente os elementos iniciais de provas das qualificadoras,
apenas com a finalidade de indicar indícios e subsídios probatórios, sem qualquer juízo
de mérito ou conclusão acerca das provas produzidas, para não influenciar na cognição
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dos jurados.
Assim, caberá aos jurados decidir se esses elementos de prova são ou não
suficientes para afirmar a ocorrência do fato invocado e, ainda, se esse fato é ou não
hábil para caracterizar as qualificadoras mencionadas.

DA DECISÃO DOS JURADOS

Conforme o Código de Processo Penal, os jurados deverão decidir sobre a


procedência ou não da acusação, formando a sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, mas sem levar em consideração, com
exclusividade, os elementos informativos colhidos na investigação policial. Por isso, o
processo penal democrático, deve desenvolver-se sob a guarda do contraditório e da
ampla defesa.

DO DISPOSITIVO DA PRONÚNCIA

ISSO POSTO, nos termos do artigo 413 do Código de Processo Penal,


PRONUNCIO o réu SANDRO RODOLFO DE SOUZA, devidamente qualificado,
como incurso no artigo 121, § 2º, incisos I e VI, do Código Penal, para que seja
submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, em obediência ao artigo 5º, inciso
XXXVIII da Constituição Federal, e nos termos do artigo 74, parágrafo 1º, do Código de
Processo Penal.
O artigo 476 do CPP determina que o Ministério Público deverá, em plenário,
sustentar a acusação nos limites da pronúncia. Por isso, passo a fixar esses limites, com
as devidas adequações oportunas, JULGANDO admissível o prosseguimento da
pretensão acusatória nos seguintes termos:

DA IMPUTAÇÃO DE HOMICÍDIO
a) No dia 23 de agosto de 2022, por volta das 17:10h da tarde, na cidade de
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Marabá/PA, a vítima MARIANA FERREIRA DA SILVA foi atingida por 1(um)
projétil de arma de fogo, sendo essas a causa eficiente de sua morte?
b) O réu SANDRO RODOLFO DE SOUZA foi o autor do disparo que causou a
morte da vítima?
c) Os jurados absolvem o acusado?
d) O crime foi cometido por motivo fútil?
e) O réu concretizou o crime contra MARIANA FERREIRA DA SILVA por
razões da condição de sexo feminino (feminicídio)?
Atenta ao que preceitua o art. 413, § 3º do CPP, verifico que, no caso em tela,
mantenho a prisão preventiva do acusado. Deixo de me aprofundar a fim de não
influenciar na convicção dos jurados.
publique-se. registre-se. intimem-se. Havendo recurso tempestivo, cumpra-se o
disposto no art. 588 do CPP e, depois das manifestações das partes, voltem me os autos
conclusos. Caso contrário, certificado o trânsito em julgado desta decisão, dê-se vista às
partes para que se manifestem nos termos e no prazo do art. 422 do CPP.

Marabá/PA, 13 de julho de 2023.

KAROLAYNE DE MELO BARROS


(JUÍZA TITULAR DE DIREITO)

PLÁCIDO SODRÉ PEREIRA


(JUÍZ SUBSTITUTO DE DIREITO)

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