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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA $

[PROCESSO_VARA] VARA JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE $


[PROCESSO_COMARCA]/$[PROCESSO_UF]
 
 
 
 
 
Processo nº $[processo_numero_cnj]
 
 
 
 
 
$[parte_autor_nome_completo],  já devidamente
qualificados nos autos de AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS, que movem em face de $
[parte_reu_nome_completo], vem, respeitosamente,
à presença de V. Excelência, por meio de seus
advogados, diante de Contestação apresentada ao
mov. 18.1, apresentar
 

IMPUGNAÇÃO À
CONTESTAÇÃO
 
pelas razões de fato e de direito que passa a expor.
 
1. SÍNTESE FÁTICA E PROCESSUAL

 
Os Autores propuseram a presente demanda em face da Ré, em razão de
diversos transtornos de ordem moral e danos materiais que sofreram, uma vez
que tiveram sua bagagem extraviada em plena viagem de ida para lua de mel.
 
Os transtornos foram inúmeros, tendo em vista que nas bagagens tinham
itens de higiene, roupas íntimas, lingeries, artigos com valor emocional, etc.,
sendo que na região não havia comércios que pudessem ofertas itens similares.
 
Todos os incontáveis transtornos e desdobramentos provenientes do
extravio de bagagem foram expostos de forma completa na exordial (mov. 1.1).
 
A audiência de conciliação foi realizada, restando infrutífera (mov. 17.1).
 
A Ré apresentou contestação (mov. 18.1), sustentando, em apertada
síntese, que a responsabilidade do transportador está sujeito as normas
estabelecidas pelo próprio transportador, que não se deve aplicar ao caso a
inversão do ônus da prova, que, embora admitir o extravio temporário de uma
bagagem e o definitivo de outra, não se mediu esforços para resolução imediata
do problema, que não necessariamente a causa de extravio foi atribuída a $
[parte_reu_nome], podendo ter havido “algum problema nas esteiras do
aeroporto quando a bagagem já não estivesse em posse da Ré”, sendo possível
que o extravio tenha sido ocasionado pelos funcionários responsáveis pela
condução das bagagens, que uma das bagagens foi encontrada após dois dias e
efetivamente entregue, que não há que se falar em indenização por montante
superior ao estabelecido na legislação, que a Ré já teria realizada o reembolso
dos valores e que os fatos narrados na inicial são meros dissabores.
 
No entanto, nada trouxe a Requerida que pudesse abalar o disposto na
peça inaugural, como se passará a demonstrar.
 
2. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

 
A Ré requer o afastamento da inversão do ônus da prova, argumentando
não haver um lastro mínimo de provas que corroborem as alegações
apresentadas na inicial.
 
Sem razão!
 
Primeiramente, cumpre destacar que a relação travada pelas partes é
típica relação de consumo.
 
Ademais, é evidente que os Autores são hipossuficientes na relação com
a Ré, havendo uma clara vulnerabilidade jurídica, técnica e econômica.
 
Ora, a Ré é empresa bilionária sendo a terceira maior companhia aérea
do País, como o próprio site da Requerida divulga.
 
Os Autores, por outro lado, são um jovem casal apenas iniciando sua
vida de independência financeira dos pais, havendo um verdadeiro abismo
econômico, jurídico e técnico entre as partes.
 
Além de estar presente o requisito da hipossuficiência, o que por si só já
é suficiente para inversão do ônus da prova, resta claro perceber a
verossimilhança das alegações uma vez que a própria Ré admite o extravio das
bagagens.
 
Não bastando, os Autores efetivamente fizeram prova do alegado,
trazendo aos autos documentos como o formulário de extravio, e-mail trocado
com a Ré, Passagens, etc.
 
Dessa forma, imperioso que se aplique a inversão do ônus da prova,
impugnando o disposto em Contestação.
 
3. DA RESPONSABILIDADE DA RÉ

 
Na Contestação apresentada a Requerida tenta se eximir de sua
responsabilidade de indenizar os autores, argumentando que agiu de boa-fé,
que não mediu esforços para a resolução imediata do problema, que inúmeras
podem ter sido as causas do extravio, dentre outros argumentos.
 
No entanto, a Ré admite o extravio temporário de uma bagagem e o
definitivo de outra, concordando, nesse ponto, com o relato inicial.
 
Ora, ocorre que a relação entre as partes se trata de típica relação de
consumo, sendo claro caso de Responsabilidade Objetiva.
 
É o que dispõe a legislação consumerista:
 
Art. 14.O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
 
Isso quer dizer que pouco importa os esforços da Ré em minimizar os
problemas ou se estava de boa-fé, o dever de indenizar surge apenas da
constatação do nexo causal da atividade desenvolvida com o dano suportado.
 
Além disso, todos os esforços da Ré foram insuficientes e não
conseguiram, de forma alguma, evitar os transtornos suportados pelos autores,
uma vez que a bagagem do Autor se extraviou em definitivo e toda a
programação da lua de mel restou comprometida, conforme relato inaugural.
 
Nesse sentido:
 
DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO INOMINADO.
TRANSPORTE AÉREO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTE DE
EXTRAVIO TEMPORÁRIO DE BAGAGEM. FALHA NO SERVIÇO.
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. REPARAÇÃO POR DANO MORAL E
MATERIAL. NECESSIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 1. A responsabilidade
da companhia em relação ao passageiro é objetiva, desta forma, deve responder
pelos danos decorrentes do extravio da bagagem, na medida dos danos materiais
comprovados, ensejando ainda reparação moral, conforme Enunciado n. 4.2 da
TRU/PR. 2. (...)
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0000428-05.2015.8.16.0076 - Coronel Vivida -  Rel.:
Juiz Rafael Luis Brasileiro Kanayama -  J. 15.09.2017)
 
Ademais, é absurdo a Ré querer se eximir de sua responsabilidade com
base em suposições, tais como de que poderia ter sido um funcionário do
aeroporto o responsável pelo extravio.
 
Ora, os Autores despacharam as suas bagagens na Companhia Ré,
estando com esta o dever de cuidado com os pertences, que se extraviaram.
 
Além disso, quanto a legislação aplicável, a Ré junta julgados dando
conta de uma limitação de indenização baseada na Convenção de Montreal.
 
Primeiramente a Convenção de Montreal apenas limita a indenização
quanto aos danos materiais, não regulando os danos morais, não havendo
qualquer limitação.
 
Nesse sentido, o TJ-PR tem firmado o entendimento de que “não se
aplica a Convenção de Montreal para cobertura de danos morais”.
 
(TJPR - 8ª C.Cível - 0036273-32.2015.8.16.0001 - Curitiba -  Rel.:
Desembargador Mário Helton Jorge -  J. 05.09.2019) 
 
Não bastando, a Convenção de Montreal é aplicável a vôos
internacionais, o que não é o caso da presente demanda.
 
Diante disso, impugna a Contestação apresentada, devendo a Ré ser
responsabilizada pelo ocorrido de forma objetiva, devendo suportar todos os
transtornos causados aos Autores.
 
4. DOS DANOS MATERIAIS

 
Quanto aos danos materiais, aduz a Ré já haver pago, consoante
pagamento anexado no corpo da Contestação, no valor de R$ 1.346,00 (hum mil
trezentos e quarenta e seis reais). Sem razão!
 
Ora, conforme se extrai do próprio relato da Ré, o valor se refere a uma
compensação emergencial por conta do extravio, o que é totalmente irrisório e
insuficiente para suprir os danos dos Autores, quer sejam esses danos morais
ou materiais, não se confundindo com o ressarcimento material pelo valor dos
itens extraviados em definitivo.
 
Essa quantia paga foi apenas para que o Autor pudesse comprar itens
emergenciais, não se confundindo com a indenização pela perda dos objetos
que se encontravam na mala. 
 
Ademais a Ré alega que inexiste nexo de causalidade entre o fato e o
dano, o que é absurdo!
 
Ora, evidente que o fato (extravio definitivo de bagagem) foi a causa do
dano (itens de valor perdidos pelo extravio).
 
Nesse sentido:
 
RECURSO INOMINADO. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E
MORAIS. TRANSPORTE TERRESTRE INTERESTADUAL DE
PASSAGEIROS. EXTRAVIO DEFINITIVO DE BAGAGEM.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO TRANSPORTADOR. DANO
MATERIAL. JUÍZO DE VEROSSIMILHANÇA. RELAÇÃO DE BENS E
VALORES COMPATÍVEL COM A NATUREZA DA VIAGEM. DANO
MORAL CARACTERIZADO, NO CASO CONCRETO. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO NECESSÁRIA PARA ATENDER AOS
PARÂMETROS DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0002956-70.2017.8.16.0131 - Pato Branco -  Rel.:
Juiz Helder Luis Henrique Taguchi -  J. 10.09.2019)
 
Diante disso, impugna a Contestação apresentada.
 
5. DOS DANOS MORAIS

 
Aduz a Ré que todos os acontecimentos relatados na peça inaugural não
passam de meros “dissabores corriqueiros”, situando-se no âmbito de
“contratempos cotidianos”. Absurdo!
 
Ora, a exordial relata inúmeros transtornos de ordem moral suportados
pelos Autores, pedindo vênia, para trazer, novamente, alguns deles:
 
a) Depois de muito planejarem a bagagem para lua de mel, os Autores
foram surpreendidos com o extravio de suas malas quando chegaram ao
destino;
 
b) Os colaboradores da Ré não souberam informar o motivo do extravio,
mas prometeram que as malas chegariam no dia seguinte;
 
c) Os Autores chegaram ao seu destino sem nada, sem escova de dente,
sem roupas íntimas, sem nenhuma muda de roupa, sem material estético, sem
hidratantes, sem protetor solar, em suma, se viram apenas com a roupa do
corpo para passar os dias de lua de mel!;
 
d) A cidade não possuía nenhum local onde pudessem comprar roupas
íntimas, apenas possuíam roupas de banho, não tendo a estrutura necessária
para os Autores reporem itens essenciais que extraviaram com suas bagagens;
 
e) A promessa de que as malas chegariam no dia seguinte se mostrou
falsa, uma vez que os Requerentes se deram ao trabalho de se deslocar até o
aeroporto, no entanto, as malas ainda não haviam chegado, sendo que nenhum
colaborador da Ré soube explicar o motivo;
 
f) Ao invés de desfrutar o segundo dia de sua lua de mel, os Autores
perderam grande parte do dia tentando reaver suas malas no aeroporto,
preenchendo todos os procedimentos burocráticos, no entanto, sem sucesso;
 
g) A bagagem da Autora só chegou na metade de lua de mel e a
bagagem do Autor nunca chegou;
 
h) Sem a bagagem de ambos durante a primeira metade da lua de mel e
sem a bagagem do Autor durante toda a viagem, diversos programas foram
frustrados: os Autores haviam planejado diversas trilhas  e demais passeios na
natureza, no entanto, não conseguiram fazer uma vez que o Autor não tinha seu
tênis apropriado; a Autora não teve a chance de usar as lingeries que havia
cuidadosamente escolhido para os primeiros dias da lua de mel, o que causou
grande frustração, etc;
 
i) Os Requerentes, durante toda a viagem, perderam incontáveis horas
com telefonemas ao aeroporto e a companhia Ré para tentar resolver o
problema, sempre sem sucesso;
 
j) O Autor se viu obrigado a usar roupa de banho ao invés de roupa
íntima, o que causou uma grave irritação na pele, em sua região íntima o que
causou enorme transtorno, por se tratar de viagem de lua de mel;
 
k) Junto com a mala extraviada, o Autor perdeu itens valiosos e itens
com grande valor sentimental, onde se destaca camiseta edição limitada “nerd
lut” da “nerd universe”, item de colecionador que não existe mais no mercado;
 
l) Por conta do extravio das bagagens o que era para ser uma viagem
memorável para os Autores deu lugar a uma viagem de lua de mel frustrada,
estressante e cansativa na tentativa de reaver os pertences;
 
m) Até o momento ninguém da companhia sabe dizer o paradeiro da
bagagem do Autor.
 
Diante de tais transtornos relatados, surgem algumas indagações: 
 
Será que “corriqueiramente“ um casal tem o sonho de lua de mel
frustrado por falta de itens essenciais, como itens de higiene, estéticos e roupas
íntimas?
 
Será que “corriqueiramente” um homem é submetido, em plena lua de
mel, a severas irritações na pele, em sua região íntima, por ser forçado a usar
roupa de banho no lugar de roupa íntima?
 
Será que “corriqueiramente” uma pessoa perde, de uma vez só, diversos
itens valiosos e de grande apego emocional?
 
Será que “corriqueiramente” na vida de uma mulher recém casada, nas
noites de núpcias, ela é impedida de usar as lingeries que cuidadosamente
havia escolhido?
 
Será que “corriqueiramente” um casal em lua de mel é impedido de fazer
diversos passeios na natureza que já haviam sido cuidadosamente escolhidos e
pesquisados, como trilhas, por não estar com o tênis apropriado?
 
Será que “corriqueiramente” um casal, ao invés de desfrutar da lua de
mel, tem que passar horas tentando resolver problemas e burocracias de
extravio de bagagem?
 
Enfim, não é preciso se alongar muito para perceber o abismo existente
entre os graves transtornos do ordem moral relatadas com o conceito de
“dissabor corriqueiro” ou “contratempo cotidiano”.
 
A jurisprudência acompanha:
 
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. EXTRAVIO DE BAGAGEM. AUTORES EM VIAGEM
EM LUA DE MEL. PRIVAÇÃO DO USO DE ITENS PESSOAIS. SITUAÇÃO
QUE ULTRAPASSA O MERO DISSABOR. DANO MORAL
CONFIGURADO. CONVENÇÃO DE MONTREAL. INAPLICABILIDADE.
QUANTUM INDENIZATÓRIO, CRITÉRIO BIFÁSICO. VALOR MANTIDO.
RECURSO DESPROVIDO. 1. A extravio das bagagens ocorreram por duas
vezes; uma na viagem de ida e outra, após compra de novas bagagens, na viagem de
volta, tendo a restituição ocorrida 27 dias, após o retorno. 2. Não se aplica a
Convenção de Montreal para cobertura de danos morais.
 
(TJPR - 8ª C.Cível - 0036273-32.2015.8.16.0001 - Curitiba -  Rel.:
Desembargador Mário Helton Jorge -  J. 05.09.2019). 
 
Diante disso impugna a Contestação apresentada.
 
6. DOS PEDIDOS

 
Diante do exposto, impugnada a Contestação, requer que a ação seja
julgada totalmente procedente, nos termos da inicial.
 
Termos em que, 
Pede deferimento
 
 
$[advogado_cidade], $[geral_data_extenso].
 
$[advogado_assinatura].
 

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