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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA ......... - ........

FULANO DE TAL, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão), endereço eletrônico ... ,


portador da Carteira de Identidade no ..., inscrito no CPF sob o no ..., residente e domiciliado
na Rua ..., no ..., Bairro ..., Cidade ..., Cep. ..., no Estado de ..., , através de seu advogado
comum que a esta subscreve, constituído nos termos da procuração anexa (doc. 01), vem, à
presença de Vossa Excelência,

AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face de ........ S.A., sociedade empresária inscrita no CNPJ sob o nº ......, com sede
na ......., CEP: ......, onde deverá ser citada e intimada para os atos do presente processo
consoante os fundamentos de fato e de direito a seguir expostos:

1 – DOS FATOS

O requerente realizou uma viagem internacional com múltiplos destinos, passando


precipuamente pelas cidades de Lisboa, Barcelona, Paris e Milão na segunda quinzena de
Fevereiro de ........
Ao retornar em um voo da companhia ré, na data de ......, a ...... extraviou
definitivamente suas duas malas, que continham todos os seus pertences, além das volumosas
compras realizadas durante a viagem.
A empresa ré não prestou qualquer informação ao requerente lesado, ou sequer
depreendeu esforços para localização de sua bagagem, limitando-se a obriga-lo a prestar
declarações e a preencher dois documentos onde reclamação e recuperação de bagagem
(docs. 03, 04 e 05).
O documento escrito, emitido pela própria companhia ré, confessa a perda de 02
(duas) malas (doc. 05), bem como confessa a própria responsabilidade civil da empresa,
aduzindo ispi literis “XXXXX resarcisce i danni secondo limiti e norme stabiliti dalla convenzione
di Montreal”, que em tradução livre diz: “A XXXX compensará os danos de acordo com os
limites e regulações da Convenção de Montreal”.

Apesar de todas as dificuldades impostas pela companhia Ré, impondo ao requerente


preencher e receber documentação em língua estrangeira, e obrigando-o a tratar, no Brasil,
com escritório internacional da empresa para tentar recuperar sua bagagem, o Requerente
percorreu todos os trâmites impostos pela empresa, que nunca se dignou a apresentar sequer
uma resposta sobre seus pertences e compras.

Com efeito, até a presente data a empresa Ré XXXXX não prestou qualquer informação
sobre as bagagens do requerente, bem como não cumpriu o dever de ressarcir o passageiro
por suas perdas.

As perdas suportadas pelo passageiro são deveras e assaz vultosas, eis que a um só
tempo, e por culpa e desídia exclusiva perdeu, a um só tempo, duas malas, todas as suas
roupas, sapatos, cosméticos e itens pessoais, além das compras.

Como fazem prova os bilhetes de passagens aéreas e todos os recibos de compras que
ora se anexa aos autos, o prejuízo material mínimo suportado pelo requerente, apenas com as
compras efetuadas e extraviadas definitivamente pela empresa Ré, assoma a vultosa monta de
........... (em euro), ou seja, R$ ....... (por extenso), da forma abaixo descriminada:

• Compra na loja Reebok – Portugal, no valor de ..... euros.


• Compra na loja Fnac – Portugal, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Emporio Armani – Barcelona, no ..... euros.
• Compra na loja Emporio Armani – Barcelona, no valor de ..... euros.
• Compra na loja Emporio Armani – Barcelona, no valor de ..... euros.
• Compra na loja Emporio Armani – Barcelona, no valor de ..... euros.
• Compra na loja Emporio Armani – Barcelona, no valor de ..... euros.
• Compra na loja D&G Dolce Gabbana – Barcelona, no valor de ...... euros.
• Compra na loja D&G Dolce Gabbana – Barcelona, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Bankinier – Barcelona, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Louis Vuitton – Paris, no valor de ..... euros.
• Compra na loja Gucci – Milão, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Gucci – Milão, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Luxury Goods – Milão, no valor de ...... euros.
• Compra na loja Guess by Marciano – Milão, no valor de ...... euros.
• Compra na loja La Rinascente – Milão, no valor de ..... euros.
• Compra na loja La Rinascente – Milão, no valor de ....... euros.
• Compra na loja La Rinascente – Milão, no valor de ..... euros.
• Compra na loja Diesel Outlet – Roma, no valor de ...... euros.

Cumpre enfatizar que os recibos que o requerente ainda tem em mãos correspondem
a apenas uma parte de suas compras. Ademais, a partir das compras efetuadas pelo
requerente, é perfeitamente dedutível e factível inferir que seus pertences pessoais, como
roupas, sapatos, perfumes e objetos de uso pessoal possuíam expressivo valor, de forma que o
extravio de suas 02 (duas) malas acarretou elevado prejuízo material, impondo-se seu
ressarcimento.

Mister ainda observar, Douto Magistrado que a conduta ilícita da ré gerou ainda sério
prejuízo moral ao passageiro. O requerente planejou esta viagem internacional com cerca de
01 (um) ano de antecedência, planejou realizar compras de itens de qualidade e marca
reputáveis e para tanto preparou-se financeiramente.

Entretanto, por culpa exclusiva da empresa ré, suas férias transformaram-se em total
frustração, abalo, desconforto, desgosto e revolta que exorbitam à esfera de simples e meros
aborrecimentos. Não apenas tudo quanto adquirido foi perdido, ao retornar à João Pessoa, o
requerente foi obrigado a adquirir tudo quanto extraviado pela empresa ...... incluindo-se:
calças jeans, calças sociais, camisas sociais, pullovers, ternos, blazers, gravatas, sapatos, tênis,
cintos, perfumes e todos os itens pessoais, além de malas de viagens.

Ademais, além de toda a frustração pela perda de tudo quanto adquirido e levado
consigo na viagem, a companhia ré ..... impôs ao requerente uma verdadeira peregrinação
para tentar localizar e reaver seus pertences. Chegando ao Brasil, o requerente foi obrigado a
contatar a empresa tanto em território nacional, como em seu escritório internacional, sem
nunca obter qualquer sucesso.
A desídia da companhia .... configura inconteste ato ilícito, gerador de danos materiais
e morais in re ipsa, devendo receber o tratamento que impõe a lei ao determinar o seu
integral ressarcimento.

Assim, frustradas as reiteradas tentativas de composição amigável, não resta outra


alternativa aos requerentes senão socorrer-se ao Poder Judiciário para fazer cessar a lesão
sobre seus direitos e patrimônio, bem como para verem-se ressarcidos pelos prejuízos
materiais e morais decorrentes da conduta negligente e ilícita da ré.

Destarte, requer-se que seja a companhia ré condenada

(i) ao pagamento dos danos materiais suportados com o extravio definitivo das
compras adquiridas na viagem;
(ii) ao pagamento dos danos materiais suportados com a perda de finitiva de duas
malas e todo seu conteúdo, no qual se incluem calças, camisas, camisas sociais, ternos, blazers,
gravata, cintos, pullovers, sobretudo, sapatos, tênis, chinelos, perfumes e objetos de uso
pessoal, em montante a ser determinado por arbitramento por este MM. Juízo;
(iii) em ressarcimento pelos patentes danos morais in re ipsa suportados pelo ora
requerente, nos termos e com fulcro nos fundamentos jurídicos que passa a expor.

2. DIREITO:

Da Responsabilidade Objetiva da Empresa Aérea

O Professor Fernando Noronha conceitua responsabilidade objetiva como “a obrigação


de reparar determinados danos causados a outrem, independentemente de qualquer atuação
dolosa ou culposa do responsável, mas que tenham acontecido durante atividades realizadas
no interesse ou sob o controle da pessoa responsável”.

Do conceito apresentado inferem-se três requisitos básicos para que se configure a


responsabilidade objetiva: 1) o fato; 2) o dano; 3) o nexo de causalidade. O fato na hipótese
levantada é a devolução do valor pago ou o crédito para outra viagem e o dano configura-se
desconforto em ter que esperar, sem obter qualquer assistência e/ou informação por parte da
requerida. Quanto ao nexo de causalidade, diz a teoria da causalidade adequada que, um fato
é causa de um dano quando este seja consequência normalmente previsível daquele.
“E para sabermos se ele (o dano) deve ser considerado consequência normalmente
previsível, devemo-nos colocar no momento anterior àquele em que o fato aconteceu e tentar
prognosticar, de acordo com as regras da experiência comum, se era possível antever que o
dano viesse a ocorrer. Quando a resposta for afirmativa, teremos um dano indenizável”.

Ora, é sabido da desordem que muitas vezes povoa nossos aeroportos, tanto que os
jornais têm noticiado diariamente o caos nos aeroportos brasileiros. Assim sendo, no
momento anterior ao fato era possível prever-se a ocorrência do dano, não tendo sido tomada
nenhuma providência para que tal não ocorresse.

Conclui-se, portanto que, presentes os requisitos configuradores da CULPA OBJETIVA,


quais sejam o fato, o dano e o nexo de causalidade, estamos diante de um dano indenizável.
A atividade descrita, evidentemente, caracteriza-se por uma prestação de serviço
prevista no Código de Defesa do Consumidor. De um lado, temos o fornecedor ...... LINHAS
AÉREAS S/A – (empresa aérea prestadora do serviço de transporte) e, do outro lado, o
consumidor (passageiro lesado).

A atividade exercida pela empresa aérea é fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração (art. 3º, do CDC), caracterizando-se, assim, como prestação de serviço.

Assinale-se, por oportuno, que os danos suportados pela requerente, mormente, os


decorrentes do não reembolso de passagem aérea são de responsabilidade da empresa
promovida.
A responsabilidade civil deriva da transgressão de uma norma jurídica pré-existente
com a consequente imposição ao causador do dano ou de alguém que ele dependa, o dever de
indenizar a vítima. Dessa forma, se toda responsabilidade pressupõe a violação de uma norma
jurídica pré-existente, a depender da norma violada, a responsabilidade poderá ser: penal,
administrativo, tributário, civil etc.

Com efeito, em virtude da má prestação de serviços por parte da empresa ré, que não
garantiu efetiva prestação pactuada a seus passageiros, já que o promovente, conforme
documentos em anexos, mesmos sem utilizar a passagem teve que suportar as despesas extras
advindas da irresponsabilidade da promovida.
O art. 14 do CDC e o art. 927 do Código Civil são enfáticos em estabelecer a
responsabilidade do fornecedor de serviços pela má prestação dos serviços, senão vejamos:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Aquele contratou a prestação de um serviço desta; ela se beneficiou, através de


remuneração, da contratação; é dela que o ressarcimento deve ser exigido.

Aplicação do Código de Defesa do Consumidor

Visto o problema da antinomia das normas, parte-se agora para a responsabilidade


civil no âmbito do Código de Defesa do Consumidor. Citando mais uma vez os mestres Eduardo
Arruda Alvim e Flávio Cheim:

“O Código de Proteção e Defesa do Consumidor regulamenta a responsabilidade por serviços


fundamentalmente em dois dispositivos: no art.14, trata da responsabilidade civil pelo fato do
serviço; no art. 20, trata da responsabilidade civil pelo vício do serviço”.

“É mister, pois, que tenha havido evento danoso, decorrente de defeito no serviço prestado,
para que se possa falar em responsabilização nos moldes do art. 14. Ou, então, que o evento
danoso tenha decorrido de informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos, o que se pode chamar de defeito de informação” (Op. Cit. Pág. 138).

Deve-se agora tratar, haja vista que a lei aplicável ao caso é o Código de Defesa do
Consumidor, da espécie de responsabilidade civil do transportador, qual seja, a
responsabilidade objetiva.
DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR EXTRAVIO DEFINITIVO DE BAGAGEM

Do Dano Material

Inicialmente, deve-se ressaltar que a relação travada entre as partes se trata de típica
relação de consumo, enquadrando-se a empresa aérea no conceito de fornecedora, na
modalidade de prestadora de serviço, e os requerentes no de consumidores. Tem-se que o
contrato firmado entre as partes se traduz em uma relação de consumo.

Neste caso, de acordo com o atual entendimento do STF, aplica-se a convenção de


Montreal, impondo-se a empresa ré a condenação no montante de ......, que atualmente
equivale-se à R$ ...... (por extenso), tendo em vista que os valores na bagagem ultrapassam
esse valor.

Do Dano Moral

Ab initio, cumpre enfatizar que os danos morais suportados pelo requerente


decorreram não apenas do extravio definitivo de bagagem, impedindo os requerentes de fruir
dos bens adquiridos, além de tudo quanto contido em duas malas para uma viagem no inverno
europeu, mas também pelo descaso da companhia aérea Ré – ....... que até a presente data
não manifestou qualquer tentativa de localização da bagagem e mercadoria, bem como não
prestou qualquer assistência aos requerentes.

Os danos morais caracterizam-se pelo desgaste físico e psíquico anormal enfrentado


pelo consumidor e devem ser reparados, conforme garantia constitucional, na exata
proporção em que sofridos, vedada qualquer limitação contratual ou legal (art. 25 do CDC).

O dano moral é aquele que afeta a personalidade e, de alguma forma, ofende a moral
e a dignidade da pessoa. Doutrinadores têm defendido que o prejuízo moral que alguém diz
ter sofrido é provado in re ipsa (pela força dos próprios fatos). Pela dimensão do fato, é
impossível deixar de imaginar em determinados casos que o prejuízo aconteceu.

No vertente caso, Excelência, a companhia aérea promovida, não cumpriu com sua
prestação de serviços, por livre arbítrio, descumprindo a avença pactuada de forma unilateral,
infringindo a Lei 8.078/90 e os art. 186 e 927 do Código Civil.
No que tange ao dano moral, o novo texto constitucional (art. 5º, X) tornou induvidosa
sua reparação pelo mal subjetivo causado à vítima, independentemente dos reflexos
patrimoniais por ele carreados.

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, e a imagem das pessoas, assegurando o
direito à indenização pelo dano material ou moral, decorrente de sua violação”.

Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor também explicita em seu art. 6º:

Art. 6º – São direitos básicos do consumidor:


[…] VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados;

Para Savatier, “dano moral é todo sofrimento humano que não é causado por uma
perda material”.

Neste mesmo diapasão, segundo Pontes de Miranda, “nos danos morais a esfera ética
da pessoa é que é ofendida: o dano não-patrimonial é o que, só atingindo o devedor como ser
humano, não lhe atinge o patrimônio” (apud Rui Stoco, Responsabilidade Civil e sua
Interpretação Jurisprudencial, RT, p. 395).

A propósito, preleciona Carlos Alberto Bittar (Reparação Civil por Danos Morais, Ed. RT,
2a edição, p. 130): “Com efeito, o dano moral repercute internamente, ou seja, na esfera
íntima, ou no recôndito do espírito, dispensando a experiência humana qualquer
exteriorização a título de prova, diante das próprias evidências fáticas”.

Registre-se, ainda, e apenas a título de argumentação, que não há que se falar em


demonstração do prejuízo moral.

Neste sentido, o STF tem proclamado: “Cabimento de indenização, a título de dano


moral, não sendo exigível a comprovação do prejuízo” (RT, 614/236)
A única conclusão a que se pode chegar é a de que a reparabilidade do dano moral
puro não mais se questiona no direito brasileiro, porquanto uma série de dispositivos
constitucionais e infraconstitucionais garante sua tutela legal. A esse respeito, o doutrinador
Yussef Said Cahali aduz: “O dano moral é presumido e, desde que verificado ou pressuposto da
culpabilidade, impõe-se a reparação em favor do ofendido”. (Yussef Said Cahali, in Dano e sua
indenização, p. 90).

Ante o exposto, tem-se como caracterizados os requisitos necessários configuradores


do dano moral indenizável, quais sejam: o ato ilícito da ré que consiste na retenção do valor
pago por uma prestação do serviço não prestada; os contratempos advindos de tal situação
vexatória que consiste no dano efetivo; e por fim, o nexo de causalidade, posto que tais
constrangimentos decorrem diretamente da não devolução dos valores pagos ou mesmo
crédito para utilização em outro voo.

3. DOS PEDIDOS:

Com base no exposto, requer:

1 – A citação da empresa ré para responder a presente demanda.


2 – A inversão do ônus da prova;
3 – Que seja a empresa ré condenada à título de danos morais, ao pagamento da
quantia de R$ ...... (por extenso), devidamente corrigido com juros e correção monetária desde
a data do evento danoso.
4. – Que seja a empresa ré condenada à título de danos materiais ao pagamento da
quantia de R$ ...... (por extenso).

Requer a produção de provas por todos os meios de provas admitidos no direito.

Atribui-se à causa o valor de R$ ..... (por extenso).

Nesses termos,
Pede deferimento.

Local, data.
ADVOGADO
OAB/UF nº .......

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