Você está na página 1de 19

Alegações finais (Estelionato)

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA


...ª VARA CRIMINAL DA CIDADE E COMARCA DE ............... DO ESTADO
DE ............... .

Protocolo n. ...............
CÓD. TJ ..... - ..... – ALEGAÇÕES FINAIS

..............., já qualificados, nos autos da ação penal que lhes move a justiça
pública desta comarca, via de seu advogado in fine assinado, permissa máxima
vênia, vem perante a conspícua e preclara presença de Vossa Excelência, nos
termos do artigo 403 do Código de Processo Penal, com a redação que lhe
emprestou a Lei n. 11.719/2008, tempestivamente, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL

Face aos fatos, razões fundamentos a seguir perfilados:

SÍNTESE DOS FATOS

1. O Ministério Público, ofertou a denúncia de fls. ....., em desfavor do


Acusado ..............., imputando-lhe a prática dos seguintes fatos:

“No dia e hora indeterminados, NO MÊS DE ..............., consoante


REPRESENTAÇÃO de fls. ....., na sede da ..............., Avenida ...............,
n. ....., bairro ..............., nesta o DENUNCIADO, utilizando-se de sua
condição de vendedor ESTELIONATOU a vítima, a própria ...............,
ao obter para si ou para outrem, vantagem ilícita, mediante meio
fraudulento, conforme autos de Inquérito Policial.
Consta dos mencionados autos que, no dia e hora acima referidos,
sendo o DENUNCIADO vendedor da ..............., VENDEU VÁRIOS
VEÍCULOS PERTENCENTES A ............... (CERCA DE .....
VEÍCULOS) para diferentes pessoas e empresas, entre as quais,
..............., de ..............., recebendo as respectivas quantias, em sua
própria conta corrente, OU EM CONTA DE TERCEIROS, DE
QUEM TOMAVA DINHEIRO EMPRESTADO, sem REPASSAR OS
DEVIDOS VALORES PARA A FIRMA ..............., ONDE
TRABALHAVA, ESTELIONATANDO-A E LHE PROVOCANDO
SÉRIOS PREJUÍZOS FINANCEIROS, na faixa de ............... REAIS.”
(Grifo nosso).
2. Inicialmente, percebe-se que a conduta estampada na exordial
acusatória contra a pessoa do Acusado ..............., pela sua forma de execução
denota ser daquelas que deixam vestígios na contabilidade da suposta vítima
............... bem como na escrita contábil de outras empresas que se dizem
estelionatadas, razão pela qual é imperioso que se tivesse determinado a
realização de exame de corpo de delito, através de laudo pericial, para
comprovar a materialidade do fato, como fórmula essencial para validade do
ato, inquinando assim todo o processo de nulidade absoluta e insanável, nos
termos do artigo 564, III, “b” do Código de Processo Penal.

3. Recebida a denúncia em ..............., de forma atípica, vez que não consta


dos autos qualquer requerimento ou manifestação do Parquet para sua atuação
como assistente de acusação, a suposta vítima, através da petição de fls. ....., em
..............., (fls. .....) protestou pelo não recebimento da denúncia, com a remessa
dos autos a procuradoria de justiça, para os fins do artigo 28 do Código de
Processo Penal.

4. O órgão Oficial de Acusação, aditou a denúncia às fls. ....., assumindo o


onus probandi in judicio dos seguintes fatos:

“I - No mês de ............... em dias e horários; diversos os


DENUNCIADOS conscientes e voluntariamente, pretendendo
obter, em proveito dos mesmos. vantagem ilícita em prejuízo à
............... e seus clientes, armaram meio fraudulento de negociação
nos termos abaixo discriminados;
II - O 1º DENUNCIADO era simples vendedor da ..............., empresa
concessionária e revendedora de veículos automotores da marca
............... e não tinha qualquer autorização para receber importâncias
de clientes, dar quitação ou entregar veículos adquiridos, pois suas
atividades deveria limitar-se a “somente emitir o pedido de venda,
anexar o pagamento ou a proposta de compra e pagamento enviar a
tesouraria” tais documentos;
III - Nada obstante a falta dos aludidos poderes o 1º DENUNCIADO
contratou em nome da ............... e sem a autorização desta, a venda de
diversos veículos da marca ............... (...) entre outros com vários
clientes (...), através dos representantes legais e empregados destes
clientes, com a finalidade deliberada de receber e desviar o preço da
venda para si e os demais denunciados e lesar as pessoas jurídicas
acima discriminadas;
IV - O 1º DENUNCIADO manteve os referidos clientes em erro,
fazendo-os acreditar que contratavam regularmente com a ............... e
mediante válido contrato de compra e venda, e determinou a estes
que os preços da venda dos veículos supostamente adquiridos fossem
depositadas nas contas bancárias suas e dos demais denunciados ou
das empresas em que estes denunciados eram sócios proprietários
(contas n. ............... do 1º DENUNCIADO, ............... dos 2º e 3º
DENUNCIADOS, ............... da 4ª DENUNCIADA e ............... da 5ª
DENUNCIADA todas mantidas na Agência n. ............... do BANCO
...............);
V - Os citados clientes foram induzidos, pelo 1º DENUNCIADO, a
acreditar que estavam pagando, regularmente, à ............... os preços
de aquisição dos veículos supostamente adquiridos e aguardaram a
entrega do objeto contratado que, reiteradamente, era adiada por
falsos motivos apresentados pelo 1º DENUNCIADO;
VI - Os 2º, 3º, 4º e 5º DENUNCIADOS, cientes do artifício narrado,
concorreram para a consumação das infrações acima noticiada ao
permitirem que o 1º DENUNCIADO utilizasse das contas
bancárias daqueles (ou das empresas em que os mesmos eram
sócios-proprietários para receber o depósito dos preços pagos pelos
clientes acima discriminados, relativamente às mercadorias
adquiridas, assim como levantaram para si os depósitos ali
efetivados, tudo com a finalidade de dificultar a descoberta da fraude
e a reparação dos prejuízos dos depositantes (clientes e da ...............)
que resultou acionada por seus clientes para a entrega dos veículos
contratados. (Grifo nosso)

5. Os Acusados, ora defendentes, foram interrogados em juízo e


apresentaram versões em perfeita harmonia com o conjunto probatório
produzido durante a instrução criminal, em relação aos depósitos realizados em
suas contas bancárias, por ordem do Acusado ..............., como pagamento de
numerário havidos por empréstimo do acusado ..............., bem como da
inexistência de qualquer vínculo associativos nas negociações supostamente
fraudulentas entre o 1º e o 2º denunciados. Assim se pronunciaram:

2º DENUNCIADO

“Que o interrogando era amigo do ..............., e emprestou-lhe certa


quantia em dinheiro, isto por várias vezes; Que, uma das quantias, foi
paga ao interrogando, via depósito na conta de sua esposa, e segundo
ficou sabendo, este depósito foi feito pela ...............; Que, a outra
quantidade foi depositada na conta de sua esposa, não sabendo se da
conta particular ou da firma ..............., não sabendo também se foi ou
não depositada pela ...............; (...) Que não teve nenhuma
participação em qualquer transação comercial de compra e venda de
veículos com a ............... ou com qualquer outra empresa; Que, acha
que foi citado nos autos apenas porque havia emprestado o dinheiro
para o ............... e o mesmo o pagou com aqueles depósitos.” (Fls. .....).

...............

“Que, foi feito alguns depósitos em nome da firma, da qual o


interrogando é Diretor, tendo como sócio: ...............; Que, todos os
depósitos foram feitos pelo ...............; Que, teve conhecimento deste
fato, porque o seu filho ..............., usando o crédito da firma
conseguiu alguma importância em dinheiro para emprestar para o
..............., pois eram amigos, e os depósitos acima eram para cobrir
estes empréstimos; Que, além dos empréstimos o ..............., não tinha
outros tipos de negócios com o ..............., da mesma foram ...............;”
(Fls. .....).

...............
“Que o esposo da interrogada, ..............., pediu a mesma que
levantasse no banco algumas importâncias em dinheiro, em nome de
sua firma e também de sua conta particular; Que a referidas
importâncias eram para emprestar ao ..............., que era seu amigo,
somente de pois do fato foi que ficou sabendo que era para emprestar
para o ..............., mas não chegou a saber por que motivo ou para que
seria aquele dinheiro; Que tem conhecimento que todas as quantias
foram pagas a interroganda e a sua firma, via depósito em conta
corrente; (...) Que, seu marido nunca teve qualquer tipo de transação
comercial com o ...............;” (Fls. .....).

...............

“Que, o irmão da interroganda ..............., pediu a esta e a esposa do


mesmo, que eram proprietárias da firma ...............; Que levantasse um
empréstimo para o mesmo em nome da Firma, o que foi feito por
mais ou menos duas vezes; Que, vencido o prazo normal, as quantias
foram depositadas em nome da Firma referida, mas não sabendo por
quem fora feito; Que, não tinha conhecimento com o ..............., nem
mesmo teve qualquer tipo de negócio com aquele, desconhecendo
também qualquer negócio do mesmo com seu irmão ...............; Que,
............... não chegou a falar para a interroganda para que queria
levantar aqueles empréstimos, e a mesma não o perguntou porque o
seu irmão sempre foi pessoa correta em seus negócios.” (Fls. .....).

6. Os diretores da suposta vítima ..............., assim como as demais


testemunhas, arroladas no aditamento da denúncia, ouvidas em juízo, foram
unânimes em confirmar as versões apresentadas pelos Acusados, ora
defendentes, quando assim se expressam:

...............

“Que não houve nenhuma declaração falando sobre o ...............,


proprietário da empresa, bem como a ............... e da mesma forma a
...............; (...) Que conhece todos os acusados da família ...............;
Que não tem conhecimento de nenhum ato ilícito praticado pelos
mesmos; Que os carros adquiridos pelos ............... foram pagos
rigorosamente em dia à ...............; Que, os mesmos foram faturados
em nomes dos compradores; Que, tem conhecimento que o ...............
emprestava dinheiro para o ...............; Que, não tem conhecimento a
pedido de quem eram feitos os depósitos em nome dos ...............; (...)
Que, acha que o suposto envolvimento dos ............... está preso
apenas no depoimento do ............... e nos depósitos;” (Fls. .....) (Grifei).

............... (Diretor da ...............)

“Que, o ..............., na empresa atuava sozinho, mas ficou sabendo


que usava dinheiro dos ..............., não sabendo a que título; (...) Que,
não tem conhecimento de nenhuma sociedade entre ............... e
...............; (...) Que ficou sabendo também que os ...............
emprestavam dinheiro para o ..............., ou seja comentários
diversos;” (Fls. .....).
...............

“Afirma que as tratativas eram mantidas tanto com o ora acusado


quanto com “...............” e os respectivos pagamentos efetuados,
mediante depósitos bancários em diversas contas correntes, por
indicação deles, tanto em favor da “...............”, quanto de ............... e
do próprio “...............”. Havia também depósitos em contas de
terceiras pessoas.” (Fls. .....)

...............

“Diz que a maioria dos pagamentos era feita mediante depósito em


conta corrente indicada pelo réu, em seu próprio nome, ou no da
“...............”. Muito raramente tal depósito era feita noutra conta.” (Fls.
.....).

...............

“A ................ sempre quitou os veículos que adquiriu, de acordo com


as determinações do réu, o qual umas vezes mandava que o depósito
fosse feito em conta bancária sob a titularidade dele, outras vezes o
depósito era feito em conta bancária de terceiros e ainda em outras
oportunidades o depósito era feito em conta bancária da própria
concessionária “...............”.” (Fls. .....).

7. O Acusado ..............., nestes autos, ao ser interrogado na Delegacia


Estadual de Furtos e Roubos em ..............., às fls. ....., esclarece:

“Que, com referência as ordens de pagamento feitas a ............... e


..............., ..............., ............... e ..............., bem como no próprio nome
do declarante, o mesmo respondeu: na conta da família ............... era
débito que o declarante tinha com os próprios (...); Que, perguntado
ao declarante a respeito de sua relação com as pessoas de ............... e
..............., respondeu: Que, tomava dinheiro emprestado com juros
bem acima do mercado, sendo que tratava de negócios
exclusivamente com a pessoa de ..............., o qual é filho do Sr.
............... .” (Fls. .....).

Naquela ocasião ainda afirmou:

“QUE, o declarante não tinha nenhum tipo de sociedade com o


..............., mas que em declarações prestadas na Delegacia de
Estelionato afirmou tal fato, sendo que uma declarante impensada;
QUE, a parceria ou sociedade afirmada pelo declarante referia-se a
dinheiro tomado emprestado com juros acima do mercado do Sr.
..............., QUE, os depósitos feitos pelo declarante em outras contas
da família ............... ou da firma pertencente a família eram
determinações do ...............;”
Já nos autos em apenso (n. .....), o Acusado ..............., prestou vários
depoimentos na fase policial, instigado e coagido para afirmar qualquer
envolvimento de ..............., em eventuais falcatruas porém, sempre confirmou a
mesma versão, como pode ser visto a seguir:

“Que o declarante disse que apenas pedia dinheiro emprestado a


............... e pagava com juros, mas não disse para o ............... o que
fazia com o dinheiro emprestado por ele, e quando pagava o ...............
ele que determinava a conta que o declarante tinha que fazer o
depósito e não tomava conhecimento quem era a pessoa;” (fls. .....).

“Que passou a sua conta corrente n. ..............., do Banco ...............,


(conta particular), para o comprador ............... para o mesmo pagar os
veículos e depositar em sua conta particular assina citada
esclarecendo ainda que deu o n.º da conta corrente do ...............,
particular do ............... para depositar “...............” esclarecendo que
pediu o ............... para fazer o depósito na conta do ..............., pois o
declarante estava devendo o ............... .” (fls. .....).

“QUE, quanto aos depósitos feitos em nome da ..............., ...............,


..............., ............... e ..............., o declarante tem a esclarecer que
realmente foram feitos estes depósitos, sendo que os depósitos feitos
em nome do declarante, ............... foram repassados para a ............... e
os depósitos em nome de ..............., e ............... destinava-se a dinheiro
emprestado para a compra de veículos na ...............;” (Fls. .....).

“QUE, o dinheiro depositado pela ............... na conta corrente


............... e ..............., também no mês de ............... próximo passado s
explica da seguinte maneira: o declarante pegava dinheiro
emprestado com o ..............., comprava os veículos da própria
..............., depois os vendia, no caso para a ..............., pedindo o cliente
que depositasse o dinheiro nas contas referidas passadas pelo
..............., como forma de pagamento do dinheiro que tinha pego
emprestado para comprar os mesmos veículos que estava então
vendendo;” (Fls. .....)

“Que a partir de ..............., propôs ao amigo ..............., seu amigo


desde os ..............., trabalharem em conjunto, nas seguintes condições:
............... entraria com o dinheiro para a compra de veículos, sendo
que ao efetuar a venda, devolveria a ele o principal, acrescido de
juros cobrados pelos bancos, mais a metade do lucro que tivessem;
Que trabalharam em conjunto de ..............., período em que
realizaram inúmeras negociações; Que os diretores da ............... não
tinham conhecimento deste negócio entre o declarante e ..............., até
porque o que interessava a ... era vender e receber;” (Fls. .....)

“Que informa que ............... não tinha conhecimento de qual o tipo de


negociação que era realizada, ele sabia sim, o numerário que saia e
que entrava.” (Fls. .....)

8. Paralelamente, ao presente feito foram instaurados outros


procedimentos policiais e judiciais, em desfavor do acusado ..............., e até
mesmo contra os diretores da empresa ..............., versando sobre fatos análogos,
sem contudo figurar no polo passivo as pessoas dos Defendentes,
descaracterizando-se, assim, qualquer relação associativa, ou adesão de vontade
dirigidas para a obtenção de vantagem ilícita em prejuízo alheio, que por força
de decisório judicial reconhecendo a incidência da litispendência encontram-se,
apensados aos presentes autos a saber:

PROCESSO N. ...............
 .....ª Vara Criminal
 Denúncia recebida: ...............
 Denunciado: ...............
 Incursão: artigo 171, § 2º, IV CPB
 Vítima: ...............
 Parecer ministerial de fls. ....., requerendo a remessa à .....ª Vara
para serem apensados aos autos ............... (...)
 Decisão de fls. ..... – determinando a remessa dos autos para
a .....ª Vara Criminal.

PROCESSO N. ...............
 .....ª Vara Criminal
 Inquérito Policial de n. ...............
 Indiciado: ...............
 Ilícito: art. 171 do CPB
 Vítima: ...............
 Parecer ministerial de fls. ....., requerendo a remessa à .....ª Vara
para serem apensados aos autos ............... (...)
 Decisão de fls. ............... – determinando a remessa dos autos para
a .....ª Vara Criminal.

PROCESSO N. ...............
 .....ª Vara Criminal
 Inquérito Policial de n. ...............
 Indiciados: ...............
 Ilícito: art. 171, caput e 171 c/c 29 do CPB
 Vítima: ...............
 Parecer ministerial de fls. ..... – requerendo a remessa à .....ª Vara
para serem apensados aos autos ............... (...)
 Decisão de fls. ..... – determinando a remessa dos autos para
a .....ª Vara Criminal.

EM APENSO: ..... volumes


 Assunto: ...............
 Requerente: ...............
 Ofício n. ...............

PROCESSO N. ...............
 .....ª Vara Criminal
 Denúncia recebida em ...............
 Denunciado: ...............
 Incursão: artigo 168, § 1º, III c/c art. 71 do CPB
 Vítima: ...............
 Parecer ministerial de fls. ....., requerendo a remessa à .....ª Vara
para serem apensados aos autos ............... (...)
 Decisão de fls. ..... – determinando a remessa dos autos para
a .....ª Vara Criminal.

PROCESSO N. ...............
 .....ª Vara Criminal
 Denúncia recebida em ...............
 Denunciado: ...............
 Incursão: artigo 171, caput do CPB
 Vítima: ...............
 Parecer ministerial de fls. ....., requerendo a remessa à .....ª Vara
para serem apensados aos autos ............... (...)
 Decisão de fls. ..... – determinando a remessa dos autos para
a .....ª Vara Criminal.

9. Como bem frisou o diretor da suposta vítima (...), ..............., o


envolvimento dos Defendentes prende-se única e exclusivamente, em uma
declaração isolada do Acusado ..............., na fase investigatória, e nos
comprovantes de depósitos existentes em seus nomes, que foram
exaustivamente comprovados serem oriundos de pagamentos de empréstimos
de dinheiro de ............... sem qualquer demonstração nos autos de envolvimento
nos possíveis ilícitos penais perpetrados pelo Primeiro Denunciado.

10. O Órgão Ministerial, às fls. ....., embora tenha protestado pela


absolvição dos Acusados, ..............., ............... e ..............., assume uma posição de
indisfarçável mandatária da empresa ..............., ao pugnar pela condenação do
Acusado ..............., quando sequer ficou provado nos autos a responsabilidade
penal do Acusado ..............., diante da barafunda que se tornou o processo pela
atuação desorientada da suposta vítima ............... . Ao pedir a condenação de
..............., ao arrepio da prova jurisdicionalizada nos autos, a Acusação Oficial,
data vênia abandonou seu munus constitucional de zelator do ordenamento
jurídico para defender interesses particulares buscando uma condenação
temerária e injusta.

11. Os Acusados, ora defendentes, são pessoas com amplo conhecimento


na sociedade ..............., pertencentes a família de notório respeito no meio
empresarial face a direção séria e honesta de suas diversas empresas, conforme
documentação acostadas às fls. ..... dos Autos n. ....., em apenso.

DO DIREITO
PRELIMINARMENTE
1. O Código de Processo Penal, no Livro que trata das nulidades
processuais impõe o seguinte comando normativo:

“Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


(...) Omissis.
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
(...) Omissis.
b) O Exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios,
ressalvado o disposto no artigo 167.”

Nosso Estatuto de Ritos Processuais Penais, no artigo ut retro citado,


dispõe que ocorrerá nulidade no caso de falta de termos ou fórmulas, dentre os
quais a realização de exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios,
como no caso em pauta, por corporificar e instrumentalizar a materialidade dos
fatos objeto da persecução judicial. Isso, porque a Justiça Criminal,
principalmente, deve exteriorizar-se através de formas, absolutamente cogentes
e inalteráveis ao arbítrio das partes. Assim, sua falta já traduz nulidade por si
mesmo, independentemente da ocorrência ou não de prejuízo.

Oportuna a lição do eminente jurisconsulto pátrio JÚLIO FABBRINI


MIRABETE, em sua obra “Código de Processo Penal Interpretado”, 1994, p. 634:

“Causa nulidade absoluta a ausência do exame de corpo de delito nos


crimes que deixam vestígios. Na hipótese de delicta lactis permanentis é
por ele que se comprova a existência do crime quando este deixa
vestígios, sob pena de nulidade, para evitar-se acusações infundadas.
Ressalva o artigo 167, porém, que não sendo possível o exame de
corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal pode suprir-lhe a falta.”

Diz a jurisprudência

“A não realização de exame de corpo de delito direto, que dá maior


credibilidade e confiança ao julgador, por incúria da autoridade
policial, que, por comodismo, realiza o exame indireto, sem
especificação de sua fonte, implica comprometimento da prova da
materialidade do delito, impondo-se a absolvição.” (RT 637/267). No
mesmo sentido, (TJSP: RT 553/339; TACRSP: RT 548/339; TJMG: RT
534/416.)

Correta a advertência de que quando o ilícito penal deixa vestígios torna-


se necessária e imprescindível a realização do exame de corpo de delito. Desta
ótica, destina-se a comprovação por perícia da existência dos elementos
objetivos do tipo, os quais são aferidos, principalmente, ao resultado produzido
pelo atuar reprovável, de que houve o evento, do qual depende a existência
objetiva do crime, ex vi do artigo 13 do Código Penal. Incensurável é o
posicionamento de que se configura nulidade absoluta a ausência do exame de
corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, e no caso sub examine, trata-se
de delicta factis permanentes, sendo por ele que se comprova a existência típica
só quando há vestígios positivados, sempre sob o crivo da nulidade absoluta.
Neste sentido é pacífica a orientação pretoriana já apontada: (RTJ 99/101; RT
534/416, 548/339, 554/335, 556/348, 580/316 e 637/267).

É preciso insistir, no entanto, que se trata de nulidade absoluta e não


relativa que por força do que dispõe normativamente o artigo 573 do CPP, e
pela ausência de dispositivo que lhe outorgue qualquer sanatória (v. por falta
do exame de corpo de delito, direto ou indireto, nos crimes que deixam
vestígios, ex vi do artigo 564, III, letra “b” do CPP, se essa falta não foi suprida
pelo depoimento das testemunhas, ex vi do artigo 167 do CPP).

No caso em tela, a documentação acostada aos autos, pela suposta vítima


..............., constitui talvez ou simplesmente, mero indício da ocorrência de
possível ilícito penal, não podendo ser elevado a categoria de prova da
materialidade de um delito, que por sua natureza e sede deixa vestígios
constatáveis através de perícias contábeis ou fiscais, pois conforme versão, diga-
se inverossímil da dita empresa, o Acusado ............... teria agido
fraudulentamente ao emitir irregularmente Proposta de Compras e Vendas de
Veículos, Contratos de Compras e Vendas de Veículos, Ordens de
Faturamentos, etc.. Quirógrafos que se submetidos ao crivo dos senhores
peritos poderiam comprovar a existência ou não da alegada fraude ou artifício.

A evidência do aspecto ora suscitada encontra eco nas próprias palavras


da então patrona da suposta vítima da empresa ..............., em suas alegações
finais às fls. ....., protesta pela realização Laudo Pericial de exame do corpo de
delito, in verbis:

“(...) requer a assistente seja determinada, perícia contábil na


movimentação das contas correntes dos cinco acusados durante todo
período em que se sabe Ter existido o “esquema paralelo” de vendas
de veículos.”

Excelência é flagrante e incontestável a incidência da nulidade do processo


por falta de prova da materialidade dos fatos descritos na denúncia de fls., por
infringência do disposto no artigo 564, III, “b” do Código de Processo Penal,
impondo-se o reconhecimento da preliminar suscitada com o julgamento do
feito sem apreciação do mérito, determinando-se o arquivamento da presente
ação penal para todos os fins de direito.

DO MÉRITO

A pretensão da Acusação Oficial, deduzida nos presente feito com relação


a responsabilidade penal do Acusado ..............., ora defendente, baseia-se única
e exclusivamente no fato de ter o corréu ..............., supostamente confessado
extrajudicialmente na fase inquisitorial de outro feito (...............) estar agindo em
conjunto com aquele, haja vista que o mesmo lhe emprestava dinheiro, com o
qual realizava transações comerciais de compra e venda de veículos, porém, o
acusado ..............., ao ser acareado naqueles autos (fls. .....) é taxativo ao retratar
as declarações anteriores afirmando que nunca houve sociedade de qualquer
espécie entre sua pessoa e ............... .

Edita o Código Penal:

“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em


prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.”

É corrente o entendimento, de que o crime, como entidade jurídico-penal,


só se aperfeiçoa ou se consuma quando o agente realiza todos os elementos que
compõem a descrição do tipo legal.

Examinando o crime sob um ângulo estritamente técnico e formal, em sua


aparência mais evidente de oposição a uma norma jurídica, várias definições
podem ser lembradas: toda conduta que a lei proíbe sob a ameaça de uma pena
(Carmingnani); fato a que a lei relaciona a pena, como conseqüência de Direito (Von
Liszt); toda ação legalmente punida (Maggiore); fato jurídico com que se infringe um
preceito jurídico de sanção específica, que é a pena (Manzini).

Estas definições, porém, são insuficientes para a dogmática penal


moderna, que necessita colocar mais à mostra os aspectos essenciais ou
elementos estruturais do conceito de crime. Daí, dentre as definições analíticas
que têm propostas por importantes penalistas a mais aceitável, atualmente, é a
que considera o fato-crime: uma ação (conduta) típica (tipicidade), ilícita ou
antijurídica (ilicitude) e culpável (culpabilidade). (Esta definição é adotada por
Aníbal Bruno, Magalhães Noronha, Heleno Fragoso, Wessels, Baumann, etc.).

Inicialmente, no caso em apreço, há que ressaltar sendo a tipicidade, a


justaposição ou adequação da conduta atribuída ao Acusado a um tipo legal de
crime, ou seja, a conformidade do fato com a descrição precisa da definição
legal da infração penal objeto do persecutio criminis in judicio. Nesta linha de
raciocínio, a ação do Acusado não pode ser considerada típica ou ilícita, vez que
descaracterizada de qualquer feição criminosa, por ausência dos requisitos
elementares típicos, indispensáveis para o aperfeiçoamento da conduta punível
(crime), que são a tipicidade, a ilicitude ou antijuridicidade, entendida “como a
relação de contrariedade entre a conduta da vida real e o ordenamento jurídico”
(Welzel, Das Deutsche Strafrecht, p. 50; Jescheck, Lehrbuch, p. 175; Petrocelli
L’antigiuridicitá,pag. 13 - Apud. - Francisco de Assis Toledo, “Princípios” p. 85,
1991).

Em conclusão tem-se que sequer na forma de participação ou colaboração


se adequa a conduta do Acusado ..............., ao delito definido no artigo 171 do
Código Penal, por outro lado, a Acusação não se desincumbiu do ônus de
provar se em algum momento referido Acusado, tenha agido com dolo, que é o
elemento subjetivo do crime de estelionato.
Pode-se, de acordo com o sucinto conceito de “fraus” do Direito Canônico
definir-se em poucas palavras o “estelionato” como sendo: “a obtenção de
injusto lucro patrimonial com o uso de dolo”. Nós sabemos que sem que sujeito
ativo tenha agido com dolo (entendido como a vontade e a inteligência do
agente voltadas e determinadas à produção do ato incriminado) ou com culpa,
não podemos aferir a tipicidade do seu ato para considerá-lo criminoso.

Do escólio do insuperável mestre Nélson Hungria, o estelionato


conceitualmente, só é punível a título de dolo. Seu elemento específico – a
fraude – exclui, necessariamente, outra forma de culpabilidade. Extrai daí que
não existe o crime sem a vontade conscientemente dirigida à astucia mala que
provoca e mantém o erro alheio e à correlativa locupletação ilícita em
detrimento de outrem. Logo sem a consciência de ilicitude inexiste o dolo
consequentemente não se configura o estelionato.

No presente caso não se vislumbra o dolo (direto ou indireto) por parte do


acusado ............... nem sequer uma possível coautoria entre este e ..............., uma
vez que não há prova nos autos da preexistência de uma adesão de vontades
dirigida a consumação do fato típico a ele imputado, haja vista, pela prova
coligida, sua intenção era simplesmente de auferir eventual lucro com
empréstimo de dinheiro sem almejar a obtenção de vantagem ilícita em
detrimento de bem patrimonial alheio através de ardil, artifício ou qualquer
outro meio fraudulento.

Diz a jurisprudência:

“PREFEITO MUNICIPAL. Contribuição previdenciária. Omissão.


Não recolhimento.
O fato crime reclama conduta e resultado. Analisados do ponto de
vista normativo. A responsabilidade penal (Constituição da
República e Código Penal) é subjetiva. Não há espaço para a
responsabilidade objetiva. Muito menos para a responsabilidade
por fato de terceiro. A conclusão aplica-se a qualquer infração
penal. “Não recolhimento de contribuição previdenciária” caracteriza
crime omissivo próprio. A omissão não é simples não fazer, ou fazer
coisa diversa. É não fazer o que a norma jurídica determina. O
Prefeito Municipal, como regra não tem a obrigação (sentido
normativo) de efetuar os pagamentos do Município; por isso, no arco
de suas atribuições legais, não lhe cumpre praticar atos burocráticos,
dentre os quais, elaborar a folha e efetuar pagamentos. Logo, recolher
as contribuições previdenciárias. O pormenor é importante,
necessário por ser indicado na denúncia. Diz respeito a elemento
essencial da infração penal. A ausência acarreta nulidade da
denúncia. Não há notícia ainda de hipótese do concurso de pessoas
(CP, artigo 29).” (STJ - Ag. Reg. no AI n. 134.427 - PR - 6ª T - Rel. Min.
Luiz Vicente Cernicchiaro - J. 01.07.97 - DJU 03.08.98 - v.u). (Grifei)

“RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. Pronúncia. Artigo 121


parágrafo segundo, itens II e IV, c/c o artigo 29, do CPB. Pretendida
absolvição alegada inexistência de provas. Recurso provido.
Unânime.
Ante a inexistência de qualquer prova de haver o réu concorrido para
a prática do ato infracional, deve-se desproporcionar o recorrente,
absolvendo-se da imputação que lhe foi feita.” (TJDF - RSE n. 1.721/97
- DF - 1ª T - Rel. Des. Lécio Resende da Silva - J. 12.06.97 - DJ 20.08.97 -
v.u).

“PENAL E PROCESSO PENAL. Apelação. Estelionato contra a


previdência social.
Artigo 171, c/c o artigo 29 do Código Penal. Ausência de dolo. Delito
não caracterizado. Livre convencimento do julgador na apreciação
das provas, valoradas com explicitação convincente. Absolvição.
Manutenção da sentença. Recurso improvido.” (TRF5ªR - Ap. Crim n.
501.757-5 - 2ª T - RN - Rel. Juiz Lazaro Guimarães - J. 29.09.98 - DJ
20.11.98 - v.u).

A Acusação Oficial, lastreou seu pedido de condenação em provas


existentes exclusivamente na esfera administrativa do inquérito policial. Porém,
quando existe a participação imediata e direta da própria autoridade policial,
na produção da prova, o caráter inquisitivo, que tem a persecução
administrativa, torna imprescindível a judicialização ulterior do ato probatório
para que a instrução ali contida se apresente com o valor de prova, e seja
utilizado como elemento na formação da convicção judicial, no momento de
decidir a causa penal.

Verifica-se, assim, que a prova penal é objeto de duas operações distintas:


a investigação (inquérito policial) e a instrução. Aquela, por ser extrajudicial,
não pode servir de base ao julgamento final da pretensão punitiva, pelo que só
a instrução, como elemento integrante do processo, fornece ao julgador os
dados necessários sobre a quaestio facti da acusação a ser julgada.

“É evidente que o conjunto probante do inquérito, por não obedecer


aos preceitos constitucionais da amplitude da defesa e de instrução
contraditória, há de ser encarado como qualquer outra prova
extrajudicial e, portanto, não leva a coisa alguma útil se não é
confirmado, ao menos quantum satis, pela prova colhida no ambiente
judicial, este saudavelmente arejado pelo oxigênio do Direito.” (ac.
un. de 27.11.70, da 4ª Câm. do TACrimSP, na Ap. 22.830, de Itanhaém, rel.
Juiz Azevedo Júnior, in RT 426/395).

“O inquérito policial está, por definição, arredio aos preceitos


constitucionais de amplitude de defesa e de instrução contraditória.
Bem por isso é elementar na jurisprudência que a prova do inquérito,
como a generalidade das provas extrajudiciais ou
extrajudicialiformes, só produz efeito no pretório quando neste fica
atestada a veracidade do seu teor ou, ao menos, a conformidade deste
remanescente do conjunto probante útil.” (ac. un. de 02.10.69, da 4ª
Câm. do TACrimSP, no HC 15.296, da Capital, rel. Juiz Azevedo Júnior, in
RT 411/250-252).
Outrossim, nem cabe acertar que posicionamento diverso seria possível
por força do livre convencimento ou íntima convicção do Juiz, que não sofre
limitações, importando pois, preponderantemente, a realidade dos fatos que
entreveja nas provas, e não o lugar onde estas foram colhidas. Concessa vênia
daqueles que assim sustentam sufragar-se tal escólio implicaria postergar-se, de
maneira flagrante, o princípio basilar do contraditório, fazendo-se dele tabula
rasa e simples quimera, com sua colocação no esquecimento.

Outra não é a lição de Frederico Marques: “embora o princípio do Livre


convencimento não permita que se formulem regras apriorísticas sobre a apuração e
descoberta da verdade, certo é que traz algumas limitações a que o Juiz não pode fugir; e
uma delas é a de que, em face da Constituição, não há prova (ou como tal não se
considera), quando não produzida contraditoriamente”.

Se a Constituição solenemente assegura aos acusados ampla defesa,


importa violar essa garantia valer-se o Juiz de provas colhidas em
procedimento em que o réu não podia usar do direito de defender-se com os
meios e recursos inerentes a esse direito.

Justamente porque carece o inquérito do contraditório penal, nenhuma


validade tem, para amparar um decreto condenatório, por colocar em ângulo
sombrio o princípio do contraditório e por transportar, para a fase judicial, a
feição inquisitiva do caderno administrativo, onde o depoimento foi carreado
sem o descortino da defesa do acusado.

“INQUÉRITO POLICIAL. CARACTERÍSTICAS MERAMENTE


INVESTIGATÓRIAS ADMINISTRATIVAS E NÃO INSTRUTÓRIAS
PENAIS, INSUFICIÊNCIA, PORTANTO DE SEUS ELEMENTOS,
PARA LASTREAR DECISÃO CONDENATÓRIA JURISDICIONAL,
INCLUSIVE NA CASO DE CONFISSÃO POLICIAL, NA PRESENÇA
DE CURADOR.
O inquérito policial se desenvolve em fase de pura atividade
administrativa. Nele há investigação fática e não instrução
jurisdicionalmente garantida. Assim, os elementos em os mesmo
coligidos não passam de dados informativos para eventual denúncia;
e seus elementos jamais poderão dispensar a produção de provas
perante o órgão julgador, em ônus que, em nosso sistema processual
penal, recai todo sobre o Ministério Público.
Confissão policial, seja ou não tomada na presença de testemunhas
idôneas ou de Curadores, não pode servir como elemento de
convicção para a sentença condenatória, por não passar de ato
integrante da atividade investigatória administrativa, estranha à
instrução penal, com a garantia da contraditoriedade e supervisão
jurisdicional.” (Ac. un. de 19.09.78, da 1; Câm., na Ap. n. 186.785, de
Jundiaí, rel. WEISS DE ANDRADE, que no excelente acórdão após
transcorrer os escólios de FREDERICO MARQUES, MASSARI e
ANGIONI, (já indicados na ementa de n. 5998-A, do mesmo relator)
Continuou:
Esses ensinamentos se ajustam integralmente ao caso em tela uma
vez que o ilustre portaló da sentença assentou sua convicção
unicamente na confissão policial do recorrido, confissão retratada em
Juízo.
Na verdade, condenar-se com base no inquérito implica em proferir
decisão condenatória com fundamento em simples investigação e
não em instrução, onde se assegura ampla defesa ao acusado. O
inquérito policial, em nossa sistemática processual, necessário se
repita a exaustão é peça meramente informativa da denúncia e nisso
se esgota sua função. Em termos outros. A polícia investiga como
disse FREDERICO MARQUES, para que possa o Ministério Público
acusar. A acusação, portanto, não dispensa a produção de provas
perante o órgão julgador. Aliás, a jurisprudência ainda que de
maneira indireta, consagra este entendimento. Quando, constante e
reiteradamente, proclama que as nulidades ou vícios do inquérito não
contaminam a ação penal.
O ônus da prova acusatória é do Ministério Público, a quem cabe
demonstrar a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu.
Estes princípios, que não podem ser olvidados porque informam o
sistema processual brasileiro, impedem que se dê à confissão policial
o valor que lhe atribuiu à sentença. Pouco importa que tenha sido
prestado na presença de Curador ou de testemunhas credenciadas. Se
aceita a tese. Chegaríamos à conclusão de que obtida a confissão
policial desnecessário que o acusador demonstrasse no juízo
instrutório e contraditório as alegações inseridas na denúncia. Em
outros termos, se no inquérito policial há apenas investigação,
inexistindo relação processual, sendo fase puramente administrativa.
Como dará prova ali produzida caráter absoluto a ponto de justificar
e amparar decreto condenatório? O encargo probatório, ônus do
Ministério Público na ação penal, estaria transferindo a uma fase
investigatória onde “o indiciado é simples objeto de um
procedimento administrativo”.
A confissão policial, portanto, seja ou não tomada na presença de
testemunhas idôneas e mesmo curadores, não pode servir como
elemento de convicção para sentença condenatória”.” (Apud rolo n.
147, flash n. 699 do serviço de microfilmagem do TACRIM-SP). (Grifei)

“INSUFICIÊNCIA DOS ELEMENTOS DO INQUÉRITO PARA


LASTREAR CONDENAÇÃO. POR VEEMENTES QUE SEJAM.
Por mais veementes que sejam os elementos constantes do inquérito,
tão só nos mesmos não pode basear-se sentença condenatória e, pois
fugiria ao contraditório, assegurado por princípio constitucional.”
(Ac. un. de 06.07.78 da 4º Câm., na Ap. n 178.595, de Guarulhos, Rel.
SILVA LEME, que no aresto remarcou: remançosa nesse passo a
jurisprudência) (RT 369/70; 479/359; 448/334; 436/378; 426/395; 397/278;
393/343; 386/249; 360/241; 356/93; 350/342; 305/ 463; RF 175/336;
135/438, etc. (Apud rolo n 146. flash n. 318, do serviço de microfilmagem do
TACRIM-SP).

A inexistência de qualquer vínculo associativo entre os Acusados ...............


e ..............., é reconhecida pelos próprios diretores da empresa ...............,
............... e ..............., em seus depoimentos às fls. ..... .
Consoante o entendimento esposado pela melhor doutrina processual
penal, sentença de conteúdo condenatório exige, para sua prolação, a certeza de
ter sido cometido um crime e de ser o acusado o seu autor. A menor dúvida a
respeito acena para a possibilidade de inocência do réu, de sorte que a Justiça
não faria jus a essa denominação se aceitasse, nessas circunstâncias, um édito
condenatório, operando com uma margem de risco – mínima que seja – de
condenar quem nada deva.

Quando se tem presente, salientou Malatesta, que a condenação não pode


basear-se senão na certeza da culpabilidade, logo se vê que a credibilidade
razoável – também mínima – da inocência, sendo destrutiva da certeza da
culpabilidade, deve, necessariamente, conduzir à absolvição. É o ensinamento
do mestre peninsular:

“O direito da sociedade só se afirma racionalmente como direito de


punir o verdadeiro réu; e para o espírito humano só é verdadeiro o
que é certo; por isso, absolvendo em caso de dúvida razoável, presta-
se homenagem ao direito do acusado, e não se oprime o da sociedade.
A pena que atingisse um inocente perturbaria a tranqüilidade social,
mais do que teria abalado o crime particular que se pretendesse
punir; porquanto todos se sentiriam na possibilidade de serem, por
sua vez, vítimas de um erro judiciário. Lançai na consciência social a
dúvida, por pequena que seja, da aberração da pena, e esta não será
mais a segurança dos honestos, mas a grande perturbadora daquela
mesma tranqüilidade para cujo restabelecimento foi constituída; não
será mais a defensora do direito, e sim a força imane que pode, por
sua vez, esmagar o direito indébil.” (Lógica das Provas em Matéria
Criminal, São Paulo: Saraiva, pp. 14 e 15).

Referindo-se à legislação processual americana o saudoso Heleno Fragoso,


em sua Jurisprudência Criminal, v. I, p. 485, nota 389, que esse é o princípio que
vigora no Direito norte-americano, incluído entre as regras do devido processo
legal, due process of law. Não se pode aplicar a pena sem que a prova exclua
qualquer dúvida razoável, any reasonable doubt. Aqui não basta estabelecer
sequer uma probabilidade, it is not suficient to establish a probability even a strong
one: é necessário que o fato fique demonstrado de modo a conduzir à certeza
moral, que convença ao entendimento, satisfaça a razão e dirija o raciocínio,
sem qualquer possibilidade de dúvida (cf. Kennys, Outlines of Criminal Law,
1958, p. 480). A sociedade se sente legitimamente perturbada na sua
tranquilidade com a certeza do delito, e de seu autor, é lógico, asseverando
Gorphe: “S'il subsiste une doute, s'est que la preuve n'est pas fait e arrematando o
insigne Carrara: "no processo criminal, máxime para condenar, tudo deve ser
claro como a luz, certo como a evidência, positivo como qualquer expressão
algébrica”.

“Condenação exige certeza E certeza absoluta, quer do crime quer da


autoria. Não basta a alta probabilidade desta ou daquele.”
“A certeza é, aqui, a consciência dubitandi secura de que falava Vico e
que não admite graus. Tem de fundar-se em dados objetivos
indiscutíveis, de caráter geral, que evidenciem o delito e autoria
(Sauer, Grundlagen des Prozessrechts, 1929, p. 75), sob pena de conduzir
tão-somente à íntima convicção insuficiente.” (Heleno Fragoso,
RDPenal, v. V, p. 148, Borsói).

A íntima convicção, sem apoio em dados ou elementos indiscutíveis, leva


à simples crença e não àquela certeza necessária e indispensável à condenação.
Essa certeza não pode ser igualmente, a certeza subjetiva, formada na
consciência do julgador.

Com fulcro no escólio de Carrara, escorreitamente já se aduziu que:

“O processo criminal é o que há de mais sério neste mundo. Tudo


nele deve ser claro como a luz, certo como a evidência, positivo como
qualquer grandeza algébrica. Nada de ampliável, de pressuposto, de
anfibológico. Assente o processo na precisão morfológica legal e nesta
outra precisão mais salutar ainda: A verdade sempre desativada de
dúvidas.”

É do escólio do eminente Professor Fernando de Almeida Pedroso, que a


sentença de conteúdo condenatório exige, para sua prolação, a certeza de ter
sido cometido um crime e de ser o acusado o seu autor. A menor dúvida a
respeito acena para a possibilidade de inocência do réu, de sorte que a Justiça
não faria jus a essa denominação se aceitasse, nessas circunstâncias, um édito
condenatório operando com uma margem de risco – mínima que seja – de
condenar quem nada deva.

Como ressaltou o Juiz Lúcio Urbano, do TAMG, ao relata a Ap. Crim.


5.520, de Belo Horizonte, “tudo aquilo que oferece duas conclusões lógicas não
permite ao Juiz criminal admitir a contrária ao réu, porque a condenação é fruto
de prova induvidosa, já que o Estado não tem maior interesse na verificação da
culpabilidade do que na verificação da inocência, como procedentemente
afirmou Carrara” in (RT 524/449). Por isso, “em matéria criminal a prova deve
ser límpida; qualquer dúvida deve vir a favor do imputado, porque temerária a
condenação alicerçada em elementos eivados de incertezas” (RT 523/375).
“Uma condenação não pode estar alicerçada no solo movediço do possível ou
do provável, mas apenas no terreno firme da certeza” (RT 529/367). Portanto,
“a dúvida in poenalibus deve ser decidida pro libertate” (RT 525/348), pois “um
culpado punido é exemplo para os delinquentes”, ao passo que um inocente
condenado – como corretamente ponderou La Bruyére – constitui “preocupação
para todos os homens de bem”.

A Constituição Federal assegura o princípio da presunção de inocência,


figurando, agora, verdadeiro direito público subjetivo constitucional do
acusado. O ônus da prova da ocorrência do crime cabe ao órgão da acusação.
Não logrando obter êxito, a absolvição torna-se imperativo de ordem pública.

É no mesmo diapasão que a jurisprudência hodierna tem se posicionado:


“PROCESSO PENAL. Prova. Inexistência de certeza absoluta para
um juízo condenatório. Exegese do artigo 386, VI, do CPP. 1. É correta
a sentença absolutória que se baseou no fato de que a única
testemunha que prestou depoimento mediante o contraditório legal
não logrou delinear em que contexto positivo se desenrolou a ação, e
que a prova trazida pela parte autora consistia em meras declarações
do agente da autoridade no inquérito policial, despedido ainda as
formalidades ilegais, para julgar improcedente o pedido articulado na
peça exordial do Ministério Público. 2. A prova no processo penal
democrático exige a prova ser madura, robusta, isenta de incertezas, e
não tão-somente indicativa diante do artigo 386, VI, do CPP. Recurso
improvido para manter a sentença absolutória.” (TACRIM-RJ - AP.
CRIM. 44.163, 2ª Câmara Julgadora, em 16.06.1992)

“PROVA. Dúvidas. In dúbio pro reo. Absolvição. Se diante do fato há


duas versões, uma fornecida pela declarada vítima e outra pelo
acusado, não se trata de questionar o velho adágio testius unus, testius
nullus, mas de constatar dentro do conjunto probatório na variante de
possibilidades a versão cabal, firme e inconteste da dinâmica do
acontecer, caso contrário, diante da intranqüilidade da dúvida, o
único caminho que resta ao julgador sereno e imparcial é a aplicação
do consagrado princípio in dúbio pro reo ínsito no artigo 386,VI, do
CPP. Recurso do órgão do Ministério Público improvido.” (TACRIM-
RJ, Ap. 46.108,28 câmara julgadora, em 24.09.1992).

Trilhando neste mesmo sentido, ou seja, mesma linha de raciocínio justo e


na defesa do moderno Estado de Direito, está o nosso Egrégio Tribunal de
Justiça, conforme ementa que segue:

“Apelação, Insuficiência de provas. Não existindo provas suficientes


para embasar um juízo condenatório impõe-se, de pronto, a
manutenção da sentença que absolveu o réu (art. 386, inc. VI, do
CPP). Apelo Provido.” (Ap. Crim. 15046-9/213, TJ-GO, 2ª Cam. Crim.
Rel Des. Pedro Soares Correia, DJ n. 12099 de 06.07.95, p. 12).

Conforme recente julgado proferido no HC n. 18 084-1/213, Byron Seabra


Guimarães, em iluminado voto reverberou a seguinte lição:

“No direito penal da culpa, não há espaço jurídico para a presunção


de culpabilidade. O ônus processual de prova pertence à acusação e
não ao sujeito defesa, que de forma alguma precisa demonstrar a
veracidade de suas desculpas, vez que o que impera é a tutela do
silêncio. Vale dizer, o acusado não está obrigado a provar que é
inocente.” (Grifo nosso)

Arremata o Ilustre Desembargador:

“Ninguém duvida que o NULLUM CRIMEN SINE ACTIO seja


princípio reitor do direito penal do fato. E o agente ativo da conduta
fática só pode ser punido pelo fato existente na realidade. Jamais pela
presunção. E diga-se: regra incompatível com o princípio da não
culpabilidade. (Vide ensinamento de Bobio).”(Grifo nosso)

Deste modo, a Acusação Oficial, com a edição do aditamento da denúncia,


com relação aos Acusados, ora defendentes, assumiu o ônus da prova da
autoria, dos fatos e suas circunstâncias, durante a instrução, encargo do qual no
se desvencilhou até o presente momento, com provas robustas e idôneas
capazes de fundamentar um juízo condenatório, o que vale dizer ALLEGARE
NIHIL ET ALLEGATUM NON PROBARE PARIA SUNT, ainda mais porque na
fase do judicium causae impera o princípio do in dúbio pro reo.

Ressalte-se, finalmente, que tanto o Acusado ..............., quanto os demais


são pessoas de notório respeito entre seus concidadãos, não existindo qualquer
mácula em suas condutas, tanto familiar e social quanto no aspecto empresarial,
que possa desabona-los.

EX POSITIS,

Esperam os Acusados ..............., ..............., ............... e ..............., sejam as


presentes alegações finais recebidas, vez que próprias e tempestivas, julgando-
se improcedente o aditamento da denúncia de fls. ....., consequentemente
decretando-se suas ABSOLVIÇÕES pelas razões e fundamentos ut retro
perfilados, pois desta forma Vossa Excelência, como de costume, estará
editando decisório compatível com os mais elevados princípios da Lei, do
Direito e da excelsa JUSTIÇA.

Nestes termos
Pede deferimento.

..............., ..... de ............... de .......... .

.............................................
Advogado(a)
OAB/..... - n. ...............

Você também pode gostar