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 Direito Penal
 Fato típico
 Apostila 04
 Dia: 25/04/2018

FATO TÍPICO
Resumo feito com base no livro do Cleber Masson de 2018. (Redução a 60% do capítulo
do livro  40 páginas para 15 páginas)
FATO TÍPICO ................................................................................................................................ 1
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2
2. CONDUTA ......................................................................................................................... 2
2.1. TEORIA CLÁSSICA, CAUSAL, NATURALÍSTICA, MECANICISTA ............................................................... 2
2.2. TEORIA FINAL OU FINALISTA ....................................................................................................... 3
2.3. TEORIA CIBERNÉTICA ................................................................................................................ 4
2.4. TEORIA SOCIAL........................................................................................................................ 4
2.5. TEORIA JURÍDICO-PENAL ........................................................................................................... 4
2.6. TEORIA DA AÇÃO SIGNIFICATIVA ................................................................................................. 4
2.7. APONTAMENTOS GERAIS SOBRE A CONDUTA ................................................................................. 5
2.8. FORMAS DE CONDUTA .............................................................................................................. 5
2.9. TEORIAS ACERCA DA OMISSÃO ................................................................................................... 5
2.10. CARACTERES DA CONDUTA .................................................................................................... 5
2.11. EXCLUSÃO DA CONDUTA ....................................................................................................... 6
3. RESULTADO....................................................................................................................... 6
3.1. ESPÉCIES ............................................................................................................................... 7

1 4. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE OU NEXO CAUSAL ................................................................. 7


4.1. ÂMBITO DE APLICAÇÃO............................................................................................................. 8
4.2. TEORIAS ................................................................................................................................ 8
4.2.1. Teorias adotadas pelo Código Penal ......................................................................... 8
4.3. CONCAUSAS ........................................................................................................................... 8
4.3.1. Causas dependentes e independentes ....................................................................... 9
4.3.1.1. Causas absolutamente independentes .............................................................................. 9
4.3.1.1.1. Preexistente ou estado anterior ................................................................................. 9
4.3.1.1.2. Concomitante ............................................................................................................. 9
4.3.1.1.3. Superveniente ............................................................................................................ 9
4.3.1.1.4. Efeitos jurídicos das causas absolutamente independentes ...................................... 9
4.3.1.2. Causas relativamente independentes ................................................................................ 9
4.3.1.2.1. Preexistente ou estado anterior ................................................................................. 9
4.3.1.2.2. Concomitante ........................................................................................................... 10
4.3.1.2.3. Efeitos jurídicos das causas preexistentes e concomitantes relativamente
independentes ............................................................................................................................. 10
4.3.1.2.4. A questão das causas supervenientes relativamente independentes ...................... 10
4.3.1.2.4.1. Causas supervenientes relativamente independentes que não produzem por si
sós o resultado ........................................................................................................................ 10
4.3.1.2.4.2. Causas supervenientes relativamente independentes que por si sós produzem
o resultado .......................................................................................................................... 10
4.4. RELEVÂNCIA DA OMISSÃO ....................................................................................................... 11
4.4.1. Teoria adotada ........................................................................................................ 11
4.4.2. Dever de agir: critérios existentes para sua definição ............................................. 11
4.4.3. Poder de agir ........................................................................................................... 12
4.4.4. Hipóteses do dever de agir ...................................................................................... 12
4.5. A QUESTÃO DA DUPLA CAUSALIDADE ......................................................................................... 12
4.6. TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA ............................................................................................. 13
4.6.1. Conceito e análise dos pressupostos ....................................................................... 13
4.6.2. A imputação objetiva para Jakobs e Roxin .............................................................. 14
4.6.2.1. O pensamento de Klaus Roxin .......................................................................................... 14
4.6.2.2. O pensamento de Günter Jakobs ..................................................................................... 15
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4.6.3. Conclusões ............................................................................................................... 15


5. TIPICIDADE ...................................................................................................................... 15
5.1. TIPICIDADE CONGLOBANTE ...................................................................................................... 16
5.2. ADEQUAÇÃO TÍPICA: CONCEITO E ESPÉCIES ................................................................................. 16

1. Introdução
Agora nós estamos destrinchando a teoria do crime. Lembram do conceito de crime?
Crime = fato típico, antijurídico e culpável. Iremos ver cada um desses elementos ok?
Vamos lá!
Fato típico é fato humano que se enquadra com perfeição aos elementos descritos pelo
tipo penal. Em sentido contrário, fato atípico é a conduta que não encontra correspondência em
nenhum tipo penal.
O fato típico possui quadro elementos: conduta, resultado naturalístico, nexo causal e
tipicidade. Esses elementos estarão presentes, simultaneamente, nos crimes materiais
consumados. Isso porque, se o crime é material, ele deve ter uma conduta e um resultado,
exigindo a produção deste para sua consumação, de modo que os quatro elementos estarão
presentes quando consumado o delito.
No caso de tentativa, suprimem-se o resultado naturalístico e o nexo causal (não houve
resultado para ser ligado por um nexo causal à conduta), limitando-se o fato típico aos
2 elementos conduta e tipicidade.
Nos crimes formais e de mera conduta, os componentes do fato típico também são a
conduta e a tipicidade. Isso porque aqui jamais haverá resultado naturalístico, razão pela qual
não haverá nexo causal, enquanto nos crimes formais pode até ocorrer, mas não é necessário
para sua consumação.
Passemos a cada elemento do fato típico agora.

2. Conduta
Aqui estão as discussões do Direito Penal. Há várias teorias ok? Vamos para cada uma
delas, as mais importantes.
2.1. Teoria clássica, causal, naturalística, mecanicista
Para essa teoria, conduta é o comportamento humano voluntário que produz
modificação no mundo exterior. Teoria idealizada por Liszt, Beling e Radbruch, recepcionada
por diversos penalistas brasileiros.
Submete o direito penal às regras das ciências naturais, orientadas pelas leis da
causalidade. Aqui há duas partes diversas da vontade humana: uma externa, objetiva,
correspondente ao processo causal, ou seja, movimento do corpo humano, e a outra interna,
subjetiva, relacionada ao conteúdo final da ação. Logo, a vontade é a causa da conduta, e a
conduta é a causa do resultado.
A caracterização da conduta criminosa depende somente da circunstância do agente
produzir fisicamente um resultado previsto em lei como infração penal, independentemente de
dolo ou culpa.
“Mas então a responsabilidade penal é objetiva nessa teoria???” NÃO. O dolo e culpa não
se alojam no fato típico, mas no elemento culpabilidade, momento em que se procede à análise
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do querer interno do agente. Para o sistema clássico, o crime, portanto, é: fato típico + ilicitude
+ culpabilidade.
Assim, se uma criança atravessa correndo uma avenida e morre atropelada, sem que o
motorista pudesse prever a situação, pela teoria clássica o autor cometeu crime, pois presentes
a conduta e o resultado naturalístico, bem como o nexo causa. Ainda, há tipicidade na conduta,
pois matar alguém está previsto no art. 121 do CP. O que deve ser feito aqui? O dolo e a culpa
serão analisados na culpabilidade, para verificar se o resultado um querer interno do agente,
sob pena de restar caracterizada a responsabilidade objetiva.
O defeito da teoria é separar a conduta praticada no mundo exterior da relação psíquica
do agente, deixando de analisar sua vontade. Não há distinção entre conduta dolosa e culposa,
não havendo relação psíquica entre a conduta e o resultado. Não explica os crimes omissivos
próprios e os de mera conduta.
2.2. Teoria final ou finalista
Criada por Hans Welzel, teve grande acolhida no Brasil. Para essa teoria, a conduta é
comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a um fim. Daí seu nome finalista,
levando em conta a finalidade do agente.
Uma conduta pode ser contrária ou conforme o Direito, dependendo do elemento
subjetivo do agente. Aqui, o dolo e culpa, que na teoria clássica residiam na culpabilidade,
foram deslocados para o interior da conduta, e, portanto, para o fato típico. A culpabilidade,
aqui, fica vazia, desprovida do dolo e culpa, contendo tão somente a imputabilidade, potencial
consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
3 No exemplo do carro anteriormente dado na teoria clássica, na teoria finalista não haveria
crime por ausência de conduta, pois sem dolo ou culpa sequer há conduta penalmente
relevante. Não haveria fato típico “matar alguém”, pois ele nunca desejou esse resultado.
Portanto, a conduta deve ser realizada com vontade. Se alguém tolhe a vontade de um
sujeito fazendo com que ele realize um crime, não haverá crime por parte deste, pois ele não
teve vontade em fazer. Exemplo clássico é a coação física, onde o agente não age com vontade.
O Código Penal parece ter adotado essa teoria, uma vez que no artigo 20 ele diz que o
erro sobre o elemento constitutivo do tipo penal exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, semprevisto em lei. Veja: se a ausência do dolo acarreta a exclusão do fato típico, é
porque o dolo está na conduta do agente, que deixa de ser dolosa para ser culposa, quando
previsto em lei.
A dificuldade dessa teoria fica nos crimes culposos, pois não se sustenta a finalidade da
ação concernente ao resultado naturalístico involuntário nos crimes culposos. Entretanto, no
crime culposo, também há vontade dirigida a um fim, porém, esse fim será conforme ou não ao
Direito, de maneira que a reprovação nos crimes culposos não incide na finalidade do agente,
mas nos meios por ele escolhidos para atingir a finalidade desejada, indicativos da imprudência,
da negligência ou da imperícia.
Modificações produzidas pelo finalismo:
a) Deslocamento do dolo e da culpa para um tipo penal, que dessa forma passou a ser
dividido em: tipo objetivo e tipo subjetivo;
b) Retirada dos elementos psicológicos da culpabilidade, que passou a ser composta por
elementos de caráter normativo, ou seja, previstos exclusivamente na Lei;

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c) Reconhecimento de que é atributo da conduta humana a sua finalidade (vontade


psíquica);
d) Reconhecimento do potencial conhecimento da ilicitude como elemento autônomo da
culpabilidade, e não mais como elemento integrante de um conceito de dolo;
e) Reconhecimento de elementos subjetivos também no âmbito da antijuridicidade, de
forma que todas as causas de exclusão da ilicitude, a partir de então, passaram a ser
compostas por elementos objetivos e também subjetivos. Por exemplo, para o causalismo,
alguém que matasse outrem que estava tentando matá-lo, sem saber disso, poderia ser
beneficiado pela legítima defesa. Para o finalismo não. Imprescindível é que o que age em
legítima defesa SAIBA que está agindo assim.
2.3. Teoria cibernética
Conhecida também como ação biociberneticamente antecipada, leva em conta o controle
da vontade, presente tanto nos crimes dolosos como nos crimes culposos. Essa teoria busca
compatibilizar o finalismo com os crimes culposos, uma vez que nestes não há vontade de
produzir o resultado naturalístico, que é involuntário.
Essa teoria explicita que o fato é dirigido e orientado pela vontade, ou seja, pela direção
da vontade, seja pelo dolo ou pela culpa. Portanto, aqui não leva em consideração o dolo (desejo
de produzir ou resultado ou assumir o risco) ou a culpa (imperícia, negligência ou imprudência),
mas tão somente a vontade do agente, a direção do agente para realizar o resultado natural.
2.4. Teoria social
4 Para esta teoria, de Johaness Wessels, a conduta é o comportamento humano com
transcendência social. Assim, a conduta seria penalmente relevante se essa conduta fosse
socialmente relevante, capaz de afetar o relacionamento do agente com o meio social em que
se insere.
Aqui não há a exclusão da teoria causal ou final, mas tão somente a inclusão do elemento
relevância social nas referidas teorias. Essa teoria ajuda a definir os crimes em relação ao
desgaste de tempo, pois o que era crime em uma época pode deixar de ser em outra.
Por corolário, para que o agente pratique uma infração penal é necessário que, além de
realizar todos os elementos previstos no tipo penal, tenha também a intenção de produzir um
resultado socialmente relevante.
2.5. Teoria jurídico-penal
Essa teoria busca conciliar as demais. Para essa teoria, ação é o comportamento humano,
dominado ou dominável pela vontade, dirigido para uma lesão ou para a exposição a perigo de
um bem jurídico, ou, ainda, para a causação de uma previsível lesão a um bem jurídico.
Essa teoria coloca em destaque, segundo o autor: o comportamento humano, englobando
a ação e a omissão; a vontade, exclusiva do ser humano; o “poder de outro-modo” (poder agir
de outro modo, que permite ao homem o domínio da vontade; o aspecto causal-teleológico do
comportamento; e a lesão ou perigo a um bem jurídico.
2.6. Teoria da ação significativa
Essa teoria, com substrato normativo, apresenta uma nova definição de conduta
penalmente relevante. Para essa teoria, a ação deve ser visualizada não como o que as pessoas
fazem, mas como o significado do que fazem, uma vez que as ações não são meros
acontecimentos, tendo cada uma um significado, sendo necessário entendê-las e interpretá-las
de acordo com regras ou normas.

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O autor diz ainda que não existe um conceito universal e ontológico de ação, na lei e em
qualquer lugar, mas tantos conceitos de ação como espécies de condutas relevantes para o
Direito Penal, segundo as diversas características com as que são descritas. Ex: matar alguém,
subtrair coisa alheia...
Assim, só há conduta penalmente relevante se for possível associá-la a determinado tipo
penal. Apenas se houver a reunião dos elementos exigidos pela norma teremos o significado
jurídico da ação penalmente relevante.
Logo, a teoria significativa da ação sustenta que os fatos humanos somente podem ser
compreendidos por meio das normas, ou seja, só há conduta penalmente relevante por meio
das normas. Cada tipo incriminador é um tipo de ação, rechaçando a ideia de conceito geral de
ação proposto pelas teorias anteriores.
2.7. Apontamentos gerais sobre a conduta
Indiscutivelmente, a doutrina majoritária adota a teoria finalista, mais aceita em provas
e concursos públicos. Assim, conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária,
dirigida a um fim, consistente em produzir um resultado tipificado em lei como crime ou
contravenção penal.
Não há crime sem conduta, de modo que não se aceita crimes de mera suspeita (desejo
de realizar um crime). Quando há a prática de uma infração penal, o humano viola o preceito
proibitivo (comissivos) ou preceptivo (omissivos) contido na lei penal, a qual pode ser proibitiva
ou preceptiva.

5 Lei proibitiva é a que proíbe determinado comportamento comissivo. Lei preceptiva são
as que impõem a realização de uma ação, reclamando um comportamento positivo do agente,
como quando o tipo penal descreve uma omissão, de modo que seu descumprimento enseja o
cometimento do crime.
2.8. Formas de conduta
A ação consiste em um movimento corporal exterior, um fazer. Lado outro a omissão não
é um mero comportamento estático, é uma conduta de não fazer aquilo que podia e devia ser
feito em termos jurídicos, ou de fazer algo diferente daquilo que a lei determinava, e se refere
às normas preceptivas já mencionadas.
2.9. Teorias acerca da omissão
A teoria naturalística diz que omissão é um fenômeno que pode ser constatada no mundo
fático, como uma espécie de ação, de modo que, quem omite efetivamente faz alguma coisa.
Já a teoria normativa, omissão é um indiferente penal, pois o nada não produz efeito
jurídico, de modo que o omitente não responde pelo resultado, pois não o provocou. Contudo,
a teoria admite a responsabilização do omitente pelo resultado, desde que seja a ele atribuído,
por uma norma, o dever jurídico de agir. Logo: a omissão é não fazer o que a lei determinava
que se fizesse. É a teoria acolhida pelo Código Penal.
Nos crimes omissivos próprios ou puros a norma impõe um dever de agir no próprio tipo
penal (preceito preceptivo). Já nos omissivos impróprios, comissivos por omissão, o tipo penal
descreve uma ação (preceito proibitivo), mas a omissão aqui acarreta a responsabilização pelo
resultado naturalístico (art. 13, §2º).
2.10. Caracteres da conduta
a) Somente o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes. Lembrar da
pessoa jurídica, conforme já estudamos, que podem praticar crimes também.

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b) Somente a conduta voluntária interessa ao direito penal, de modo que só são


relevantes as condutas que poderiam ter sido evitadas pela vontade do agente.
c) Apenas os atos lançados ao mundo exterior ingressam no conceito de conduta. O
querer interno do agente não tem valor no direito penal.
d) A conduta é composta de dois elementos: um ato de vontade dirigido a um fim e a
manifestação da vontade no mundo exterior, por meio de uma ação ou omissão
dominada ou dominável pela vontade.
2.11. Exclusão da conduta
São excludentes da conduta, logo, do fato típico:
a) Caso fortuito e força maior: são os acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis,
que fogem do domínio da vontade do ser humano. Se não há vontade, não há dolo nem culpa.
Logo, não há fato típico. Ex: pessoa que cai de um prédio na rua, ainda viva, mas é atropelada
por um carro.
b) Atos ou movimentos reflexos: reação motora ou secretora em consequência de
uma excitação dos sentidos. Aqui a ação não se deve ao elemento volitivo (vontade), mas sim
ao fisiológico. Ausente a vontade, estará ausente a conduta, não havendo fato típico. Ex: bater
o martelinho no joelho e o reflexo da perna causar lesão ao ortopedista (não há lesão nem vias
de fato).
Não se deve confundir ato reflexo com ações em curto circuito, derivadas de atos
impulsivos fundamentados em emoções ou paixões. Nesse caso há a vontade que estimula a
conduta criminosa. Há conduta penalmente relevante. Ainda, não se deve confundir com atos
6 habituais, mecânicos ou automáticos, que são reiteração de um comportamento, que é o caso
de dirigir apenas com uma mão no volante. Se o agente matar alguém, haverá crime (art. 302
do CTB), pois tal hábito era dominável pela vontade.
c) Coação física irresistível: chamada de vis absoluta, ocorre quando o coagido não
tem liberdade para agir, não lhe resultando outra opção senão praticar o ato em conformidade
com o coator. Aqui não há conduta do agente, excluindo o fato típico. Ex: homem forte obriga
um magrelo, fisicamente, a apertar o gatilho de uma arma e matar alguém. Nesse caso, o
coagido não passa de um mero instrumento do crime do coator. Não se pode falar em concurso
de agente, por falta de conduta e por falta de elemento subjetivo da pessoa coagida.
Mas atenção: na coação MORAL irresistível, ou vis compulsiva, o coagido pode escolher
o caminho a ser seguido: obedecer ou não a ordem do coator. Como a sua vontade existe, porém
de forma viciada, exclui-se a culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa. Isso aqui é
pegadinha de prova!!! Cuidado. A banca tenta enganar, invertendo os fatores, dizendo que
coação moral exclui a conduta, ou que a coação física exclui a culpa. Ambas assertivas são
erradas.
d) Sonambulismo e hipnose: também não há conduta, por falta de vontade nos
comportamentos praticados em completo estado de inconsciência. Atenção: embriaguez,
voluntária ou culposa, embora completa, não exclui a conduta. Subsiste a imputabilidade e,
consequentemente, a culpabilidade (art. 28, II, CP)

3. Resultado
Pessoal. Lá em cima eu disse que fato típico possui como elementos: conduta, resultado
naturalístico, nexo causal e tipicidade. Quando eu comecei a estudar direito penal eu demorei
a entender o que é CRIME em si. Até que meu professor, Ricardo Pereira, lá da Universidade
Católica Dom Bosco, fez um bendito esquema no quadro, e aí eu passei a entender tudo:

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CRIME
Fato típico Antijurídico Culpável
Conduta Excludentes da ilicitude Imputabilidade
Resultado Estado de necessidade Potencial consciência da
ilicitude
Nexo Causal Legítima defesa (In)exigibilidade de
conduta diversa
Tipicidade Estrito cumprimento do dever -
legal
- Exercício regular de um direito -

Pois bem, dentro do crime estamos estudando o fato típico. Dentro do fato típico, vimos
o elemento conduta. Agora, vamos ver o elemento resultado naturalístico, ok? Falei sobre isso
só pra deixar separado esses assuntos de forma didática.
Vamos lá.
Conceito: resultado naturalístico é a consequência provocada pelo agente.
Denominação: pode ser tanto resultado, como “evento”. Isso é irrelevante.

7 3.1. Espécies
O resultado pode ser jurídico ou naturalístico.
Resultado jurídico ou normativo é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico
protegido pela lei penal. É simplesmente a violação da lei penal, mediante agressão do
valor/bem/interesse por ela tutelado, podendo ou não ocorrer no mundo dos fatos (mundo
material, natural).
Resultado naturalístico ou material, é a modificação do mundo exterior provocada pela
conduta do agente.
Existe crime sem resultado? Depende. Não há crime sem resultado jurídico, pois todo
delito agride bens jurídicos penalmente tutelados.
Entretanto, é possível um crime sem resultado naturalístico, uma vez que este está
presente só nos crimes materiais consumados. Se o crime for tentado, ainda que material, não
haverá resultado naturalístico, nem nexo causal, mas tão somente conduta e tipicidade.
Nos crimes formais, ainda que possível sua ocorrência, é dispensável o resultado
naturalístico. Ex: corrupção passiva: basta solicitar a vantagem, sendo desnecessária auferi-la.
Nos crimes de mera conduta jamais se produzirá resultado.
Logo, todo crime tem resultado jurídico, mas nem todo crime tem resultado
naturalístico.

4. Relação de causalidade ou nexo causal


Nexo causal ou relação de causalidade são expressões sinônimas para o sentido que
iremos tratar. Tal tema foi tratado no artigo 13 do Código Penal e pode ser compreendido como
o vínculo formado entre a conduta praticada por seu autor e o resultado por ele produzido.

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4.1. Âmbito de aplicação


Prevalece que “o resultado” previsto no artigo 13 do CP só alcança o resultado
naturalístico. Isto é, a modificação externa provocada pela conduta praticada por alguém.
Destarte, o estudo da relação de causalidade só tem pertinência nos crimes materiais (há a
exigência de produção do resultado, logo, há nexo causal). Nos crimes de atividade, o resultado
naturalístico pode ocorrer (formais) ou não (mera conduta), pois o resultado é dispensável,
consumando-se com a simples prática da conduta descrita no tipo como ilícita.
4.2. Teorias
a) Teoria da equivalência dos antecedentes: também chamada de equivalência das
condições, da condição simples, da condição generalizadora, ou teoria da conditio
sine qua non. Para essa teoria causa é todo fato humano sem o qual o resultado não
teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu.

b) Teoria da causalidade adequada: também chamada de teoria da condição


qualificada, ou teoria individualizadora, causa é o antecedente, não só necessário,
mas adequado à produção do resultado, ou seja, uma conduta idônea e eficaz a
gerar o efeito. É aferida de acordo com o juízo do homem médio, de modo que a
contribuição para o acontecimento do resultado deve ser eficaz.

4.2.1. Teorias adotadas pelo Código Penal


Como regra, o caput do artigo 13 do Código Penal acolheu a teoria da equivalência dos

8 antecedentes: “... Considera-se como causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido. ”
Nesse sentido acima, causa é todo o comportamento humano, comissivo ou omissivo,
que de qualquer modo concorreu para a produção do resultado naturalístico. Basta que tenha
contribuído para o resultado, não importando o grau dessa contribuição.
Para se constatar se um acontecimento é ou não causa, há algumas teorias. Para a
primeira, deve-se fazer um processo hipotético de eliminação. Suprime-se determinado fato
que compõe o histórico do crime: se desaparecer o resultado naturalístico, é porque era
também sua causa; se não suprimir o resultado naturalístico, não se pode falar que o
acontecimento foi a causa. A crítica a essa teoria é o regresso infinito aos fatos anteriores. Aqui,
ex: o padeiro vende um pão para João; João envenena o pão; João dá o pão envenenado ao seu
chefe, que vem a óbito. Por essa teoria, se tirarmos a venda do pão a morte não ocorreria, e o
padeiro também teria colaborado para o nexo causal. Complicado, certo? Então vem a segunda
teoria, que exige a soma da causalidade psíquica.
Para a teoria que exige a causalidade psíquica (imputatio delicti), é necessário a presença
do dolo ou da culpa por parte doa gente em relação ao resultado. Assim, no exemplo a cima, a
venda do pão pelo padeiro, que nada sabia sobre a intenção de João de matar seu chefe, é
desprezada, pois ele não tinha a intenção e nem o conhecimento de que o pãozinho seria
envenenado para matar alguém. Logo, não há nexo causal.
Excepcionalmente, o Código Penal, no art. 13, §1º, adota a teoria da causalidade
adequada, aplicada nas concausas. Vamos ver essas concausas no tópico abaixo.
4.3. Concausas
Concausa significa que mais de uma causa contribuiu para o resultado final desejado
pelo(s) autor(es). Vamos às espécies.

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4.3.1. Causas dependentes e independentes


Causa dependente é que precisa da conduta do agente para provocar o resultado, não
sendo capaz de produzi-lo por si própria, razão pela qual não exclui a relação de causalidade.
Ex: enforcar o agente com uma corda até a morte. A corda, por si só, não produziu a morte, mas
a ação do agente de utilizar a acorda para enforcá-lo.
Causa independente, por sua vez, é aquela capaz de produzir o resultado por si só. Pode
ser de natureza relativa ou absoluta.

4.3.1.1. Causas absolutamente independentes


Não se originam na conduta do agente, sendo absolutamente desvinculadas da sua ação
ou omissão ilícita. Sendo independentes, produzem por si só o resultado. É uma causalidade
antecipadora, pois rompem o nexo causal. Dividem-se em preexistentes, concomitantes e
supervenientes.
4.3.1.1.1. Preexistente ou estado anterior
É uma causa que existe anteriormente à prática da conduta, de modo que o resultado
teria ocorrido da mesma forma, mesmo sem o comportamento ilícito do agente. Ex: A atira
contra B, atingindo-lhe. A perícia médica diz que a causa mortis foi envenenamento praticado
por C. Logo, há uma ruptura do nexo causal, de modo que o agente A responde por tentativa.
4.3.1.1.2. Concomitante
É a causa que incide simultaneamente à prática da conduta do agente. Surge no mesmo
instante em que se realiza o comportamento criminoso. Ex: A atira contra B no momento em
9 que o teto de sua casa desaba sobre sua cabeça. Há a ruptura do nexo causal, e só responde
pela tentativa de homicídio.
4.3.1.1.3. Superveniente
É a que se concretiza posteriormente à conduta praticada pelo agente. Ex: A dá um
veneno legal a B, mas antes que de ele morrer, C atira em B até ele morrer. A causa mortis não
foi o veneno de A, mas sim os disparos de C. Há a ruptura do nexo causal, e A só responde pela
tentativa.
4.3.1.1.4. Efeitos jurídicos das causas absolutamente independentes
Em todas as modalidades acima mencionadas, vimos que o resultado ocorre de forma
autônoma e independente da conduta do agente, não se ligando ao comportamento criminoso
deste. Logo, por si só, não produzem o resultado material. Assim, imputa-se ao agente tão
somente os atos praticados, e não o resultado naturalístico, vez que houve a ruptura do nexo
causal. Ainda que se suprima mentalmente a conduta do agente, o resultado iria ocorrer da
mesma maneira que ocorreu. É a aplicação da teoria da equivalência dos antecedentes ou da
conditio sine qua non, de modo que em todos os exemplos o agente responde só pela tentativa
do crime, e não pela consumação.

4.3.1.2. Causas relativamente independentes


Nestas, a causa origina-se da própria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas,
pois não existiriam sem a atuação criminosa. Por ser independente, essa causa, por si só, é
idônea a produzir o resultado, já que não se situam no trâmite normal do desenvolvimento
causal. Vamos às espécies.
4.3.1.2.1. Preexistente ou estado anterior
Existe previamente à prática da conduta do agente. Antes de seu agir já estava presente.
Ex: A efetua disparos contra B, atingindo de raspão. Os ferimentos são agravados pela diabete

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da vítima, quem vem a falecer. Aqui ele responde pela consumação do resultado, pois, não fosse
o tiro, B não teria morrido.
4.3.1.2.2. Concomitante
É a que ocorre simultaneamente à prática da conduta. Ex: A aponta arma contra B, o qual
assusta e corre em direção à avenida, sendo atropelado por um caminhão. Aqui há o nexo causal
criado pelo agente, vez que, pela teoria da equivalência dos antecedentes, se suprimirmos a
conduta dele, B não teria morrido. Responde pela consumação do resultado.
4.3.1.2.3. Efeitos jurídicos das causas preexistentes e concomitantes relativamente
independentes
Em obediência à teoria da equivalência dos antecedentes adotada pelo artigo 13 do CP,
se suprimirmos a conduta do agente, o resultado não ocorreria, motivo pelo qual o agente
responde pelo resultado naturalístico.
4.3.1.2.4. A questão das causas supervenientes relativamente independentes
Aqui que mora o “tchã” da questão. Em face da regra prevista no artigo 13, §1º do CP, as
causas supervenientes relativamente independentes podem ser divididas em dois grupos: a) as
que produzem por si só o resultado; e b) as que não produzem por si sós o resultado.
4.3.1.2.4.1. Causas supervenientes relativamente independentes que não
produzem por si sós o resultado
Aqui incide a teoria da equivalência dos antecedentes, regra geral do artigo 13. O agente
responde pelo resultado naturalístico, pois, suprimindo-se a sua conduta, o resultado não teria
ocorrido. Ex: A atira contra B, atingindo-o em uma das pernas, não oferecendo risco de vida.
10 Entretanto, o ferimento é agravado no hospital por imperícia médica B vem a morrer. Perceba
que B não teria morrido se A não lhe tivesse atirado. Logo, A responde pelo resultado
naturalístico – homicídio consumado.
Importante mencionar que a imperícia médica, por si só, não é capaz de matar qualquer
pessoa, mas somente aquela que necessita de cuidados médicos. Nesse sentido, o STJ entende
que o fato de a vítima ter falecido no hospital em decorrência das lesões sofridas, ainda que se
alegue eventual omissão no atendimento, encontra-se inserido no desdobramento físico do ato
de atentar contra a vida da vítima, não caracterizando constrangimento ilegal a
responsabilização criminal por homicídio consumado, em respeito à teoria da equivalência dos
antecedentes e a comprovação do animus necandi do agente.
4.3.1.2.4.2. Causas supervenientes relativamente independentes que por si sós
produzem o resultado
É a situação tratada no §1º do artigo 13 do CP. A superveniência de causa relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Aqui reside a teoria da causalidade adequada, para qual a causa é deve ser uma conduta
idônea e eficaz a gerar o efeito. Ex: A atira em B. B é levado em uma ambulância que dirige
velozmente ao hospital. Ao atravessar um cruzamento no sinal vermelho, uma carreta bate na
ambulância, levando B à óbito. A causa mortis foi o acidente de trânsito, e não os tiros; ou A
atira em B, que é internada. O hospital pega fogo e B morre carbonizada. A causa mortis foi o
incêndio, e não os tiros.
Em ambos os casos, a teoria da equivalência dos antecedentes acarretaria a
responsabilização do agente responsável pelos tiros, pois, eliminando-se a sua conduta, o
resultado certamente não teria ocorrido. Todavia, o legislador não quis isso, criando um
rompimento da relação de causalidade pela palavra por si só. Assim, depois do rompimento

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da relação de causalidade, a concausa é verdadeiramente eficaz, produzindo o resultado por


sua própria força.
Portanto, entendam que é só a causa relativamente independente, superveniente, que
por si só (e não qualquer causa superveniente) que produz o resultado, que é capaz de romper
o nexo causal e ensejar a responsabilidade do agente pelos fatos anteriores. Aqui o agente
responde só pela tentativa, pois não foi ele que consumou o resultado.
4.4. Relevância da omissão
No artigo 13, §2º, temos a omissão penalmente relevante. A omissão é penalmente
relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
Esse dispositivo aplica-se somente aos crimes omissivos impróprios, espúrios ou
comissivos por omissão. Ou seja, o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que
podia e devia agir para impedir o resultado naturalístico, conduz à sua produção. São crimes
materiais, cometido em regra por uma ação, mas passíveis de serem praticados por uma inação,
desde que o agente ostente o poder e o dever de agir.
Nestes, o tipo penal acaba sendo uma ação, pois tendo o poder e dever de agir, não o fez,
havendo um resultado naturalístico. Já nos omissivos puros ou próprios, não há resultado
naturalístico descrito no tipo penal, de modo que a simples omissão consuma o crime, não se
cabendo falar em tentativa. Ex: omissão de socorro: ou se omite (crime) ou presta socorro.
Isso é o que significa penalmente relevante: a omissão que não é típica, por não estar
descrita pelo tipo penal, somente se torna penalmente relevante quando presente o dever de
11 agir.
Assim, na omissão imprópria a omissão pode, com o dever de agir, ser penalmente
relevante. Lado outro, nos omissivos próprios, a omissão sempre é penalmente relevante, pois
se encontra descrita pelo tipo penal. Vejam esse quadro
OMISSIVO PRÓPRIO OMISSIVO IMPRÓPRIO
O tipo descreve uma omissão O tipo descreve uma ação
São crimes de mera conduta São crimes materiais
Não admitem tentativa Admitem tentativa
São sempre dolosos Podem ser culposos ou dolosos
A omissão é penalmente relevante A omissão pode ou não ser penalmente
relevante

4.4.1. Teoria adotada


O art. 13, §2º, do CP, acolhei a teoria normativa, pela qual a omissão é um nada, e “do
nada nada surge”. Assim, não fosse esse texto legal que cria um dever de agir, uma ação, um
fazer, não existiria crime, pois a conduta não seria penalmente relevante.
4.4.2. Dever de agir: critérios existentes para sua definição
Há dois critérios que determinam o dever de agir: legal e judicial.
Para o critério legal, é a lei que deve arrolar, taxativamente, as hipóteses do dever de agir.
O legislador optou por este critério, conforme indica nas alíneas “a”, “b” e “c” do §2º do artigo
13 do CP as pessoas a quem incumbe o dever de agir. Além disso, esse ônus precisar ser
especificamente dirigido a pessoa ou pessoas determinadas, e não genericamente a todos os
indivíduos. Nesse sentido, é o STJ: ... A obrigação genérica atribuída a todos os cidadãos de
preservar o meio ambiente para as gerações futuras, consoante o art. 225 da CF, não se amolda
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ao dever imposto por lei de cuidar, proteger ou vigiar, exigido na hipótese de crime omissivo
impróprio.
Lado outro, o critério judicial permite ao magistrado, no caso concreto, decidir ou não
pela presença do dever de agir.
4.4.3. Poder de agir
O art. 13, §2º fala que a omissão é penalmente relevante quando o agente devia e podia
agir para evitar o resultado. Veja-se que só o dever não é suficiente, deve-se poder agir.
Portanto, deve haver a possibilidade real e efetiva de alguém, na situação concreta e em
conformidade com o padrão do homem médio, evitar o resultado penalmente relevante. Ex: o
bombeiro tem o dever de impedir o afogamento da criança em uma praia. Não pode agir,
contudo, se acidentalmente quebra suas duas pernas ao pisar em um buraco cavado por
crianças enquanto corria em direção ao mar.
4.4.4. Hipóteses do dever de agir
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: trata-se de dever legal,
relativo às pessoas que têm a obrigação de impedir o resultado. É o que se dá com os
pais em relação aos filhos. A palavra lei não é em sentido estrito, mas sim o direito
em sentido amplo.
b) De outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: significa
qualquer obrigação de impedir o resultado que não seja decorrente da lei, versada
pela alínea “a”. É o caso do “garante” ou “dever garantidor da não produção do
resultado naturalístico”. Ex: é o caso do professor de natação que vê seu aluno se
12 afogando, e tem o dever de garantir pautado em um negócio jurídico; de enfermeira
que cuida de idoso.
No campo processual, o STJ entende que a omissão penalmente relevante deve ser
expressamente descrita na inicial acusatória, sob pena de inépcia da denúncia ou queixa crime:
É inepta a denúncia que impute prática de homicídio na forma omissiva imprópria quando não
há descrição clara e precisa de como a acusada – médica cirurgiã de sobreaviso – poderia ter
impedido o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção do não comparecimento da
denunciada à unidade hospitalar, quando lhe foi solicitada a presença para prestar imediato
atendimento a paciente que foi a óbito. [...] É necessário que se demonstre o nexo normativo
entre a conduta omissiva e o resultado normativo, porque só se tem por constituída a relação de
causalidade se, baseado em elementos empíricos, for possível concluir, com alto grau de
probabilidade, que o resultado não ocorreria se a ação devida fosse efetivamente realizada.
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: trata-se
da ingerência ou situação precedente. Aquele que, com seu comportamento
anterior, criou uma situação de perigo, tem o dever de agir para impedir o resultado
lesivo ao bem jurídico. Ex: marinheiro que lança ao mar um tripulante do navio tem o
dever de salvá-lo da morte.
4.5. A questão da dupla causalidade
A dupla causalidade é uma questão difícil de ocorrer na prática, o que não impede sua
formulação no plano teórico. Ocorre na situação em que duas ou mais condutas, independentes
e praticadas por pessoas diversas, que não se encontram subjetivamente ligadas, produzem
simultaneamente o mesmo resultado naturalístico por ela desejada. Ex: Tício e Mévio querem
matar o Semprônio, porém, aqueles sequer conhecem um ao outro e não sabem do plano
maquiavélico um do outro. Os dois agem no mesmo instante, cada um atirando de um prédio,
acertando Semprônio, que estava andando na rua.

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Nesse caso torna-se impossível saber quem matou. A doutrina diz que se pune ambos
autores por homicídio consumado. Mas atenção: se possível saber quem causou o resultado
morte primeiro, não há que se falar em dupla causalidade, havendo supressão da conduta
consumada do outro, ocasião em que o que não responderá por crime.
4.6. Teoria da imputação objetiva
Foi desenvolvida por Claus Roxin, em 1970. Para a teoria finalista, o tipo objetivo precisa
de uma relação causalidade, e o tipo subjetivo precisa de dolo e culpa. Para a teoria da
imputação objetiva, o tipo objetivo precisa da relação de causalidade, da criação de um risco
proibido pelo direito, existindo ou criando esse risco proibido, e o tipo subjetivo exige dolo ou
culpa. Essa teoria exige resultado naturalístico, motivo pelo qual somente se aplica aos crimes
materiais.
Esses elementos adicionais é o que chamamos de causalidade normativa ou jurídica, de
modo que para que o resultado seja imputado a alguém, não basta a causalidade material/fática,
devendo haver uma causalidade jurídica ou normativa. Vamos analisar os pressupostos dessa
causalidade:
4.6.1. Conceito e análise dos pressupostos
A imputação objetiva enuncia o conjunto de pressupostos genéricos que fazem da
causação uma causação objetivamente típica, e estes pressupostos são a criação de um risco
juridicamente desaprovado e a realização deste risco no resultado, não bastando a causalidade
para imputação do resultado. Vejamos os pressupostos:
a) Criação ou aumento de um risco: aqui, o risco é a ação perigosa. Será perigosa a ação
13 que, aos olhos de um observador objetivo dotado dos conhecimentos especiais do
autor, situado no momento da prática da ação, gere real possibilidade de dano para
um determinado bem.
a. Não há ação perigosa quando o risco for juridicamente irrelevante, pois a
ação não gera possibilidade real de dano.
b. Não há ação perigosa quando há diminuição do risco, avaliado antes da ação
pelo agente. Ex: João fala para Pedro não roubar mil reais, mas só 100. João
não é partícipe, pois sua conduta não elevou, mas diminuiu o risco de lesão.

b) O risco criado deve ser proibido pelo Direito: nem toda ação perigosa é proibida pelo
direito. Ex: vale tudo há lesões corporais, mas é permitido. Pela teoria finalista haveria
uma exclusão da ilicitude (exercício legal de um direito), enquanto que para teoria da
imputação objetiva o fato é atípico, por se tratar de um risco permitido (princípio da
confiança).
Neste sentido, é importante lermos um trecho bem explicativo do que se trata a
imputação objetiva e a aplicação do princípio da confiança, na visão do STJ:
De acordo com a Teoria Geral da Imputação Objetiva o resultado não pode ser imputado
ao agente quando decorrer da prática de um risco permitido ou de uma ação que visa a diminuir
um risco não permitido; o risco permitido não realize o resultado concreto; e o resultado se
encontre fora da esfera de proteção da norma. O risco permitido deve ser verificado dentro das
regras do ordenamento social, para o qual existe uma carga de tolerância genérica. É o risco do
convívio social e, portanto, tolerável.
Ainda que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta dos acusados
e a morte da vítima, à luz da teoria da imputação objetiva, necessária é a demonstração de
criação pelos agentes de uma situação de risco não permitido, não ocorrente, na hipótese,
porquanto é inviável exigir de uma comissão de formatura um rigor na fiscalização das
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substâncias ingeridas por todos os participantes de uma festa. Associada à teoria da imputação
objetiva, sustenta a doutrina que vigora o Princípio da Confiança, as pessoas se comportarão
em conformidade com o direito, o que não ocorreu in casu, pois a vítima veio afogar-se,
segundo a denúncia, em virtude de ter ingerido substâncias psicotrópicas, comportando-se,
portanto, de forma contrária aos padrões esperados, afastando, assim, a responsabilidade dos
pacientes, diante da inexistência de previsibilidade do resultado, acarretando a atipicidade da
conduta.
Viram???? Interessante não??? Deve ter criação de risco proibido pelo agente, pois, do
contrário, a conduta é atípica!!!
Ainda, a doutrina aponta outras hipóteses como causas de exclusão do risco proibido:
a) Comportamento exclusivo da vítima, que se coloca em perigo;
b) Contribuições socialmente neutras. Ex: padeiro que vende pão e a pessoa envenena;
c) Comportamentos socialmente adequados;
d) A proibição de regresso.
Este último pode causar dúvida. Pela proibição de regresso, não haveria criação de um
risco proibido nos casos em que a ação não dolosa de alguém precedesse a ação dolosa de um
terceiro. Ex: “A” esquece sua arma em algum lugar, encontrada por um terceiro e utilizada para
prática de homicídio por este terceiro. “A” não pode ser responsabilizado.
E o último pressuposto:
c) O risco deve ser realizado no resultado: só haverá realização do risco se a proibição
14 da conduta for justificada para evitar a lesão de determinado bem jurídico por meio
de determinado curso causal, os quais efetivamente vem a ocorrer. É o fim de
proteção da norma. Assim, deve o risco criado ou aumentado deve ser a causa do
resultado, e não outro evento posterior.
Nesse último pressuposto há causas que excluem a imputação:
a) Na lesão ou curso causal sem relação com o risco proibido;
b) Nos danos tardios, relacionados à lesão anterior causada ao bem jurídico (ex: João dá
umas porradas em Pedro; 3 anos depois Pedro perde o equilíbrio em virtude das
lesões dessas porradas, cai e fica tetraplégico. João não pode ser responsabilizado por
este último evento)
c) Nos danos causados a outrem, resultantes de choque causado pelo fato criminoso.
(mãe falece em razão de saber a morte do filho).
d) Nas ações perigosas de salvamento. (João coloca fogo na casa de Pedro. Pedro sai
vivo, mas volta pra pegar algo dentro e acaba morrendo).
e) No comportamento indevido posterior de um terceiro. (vítima de lesões falece em
curso de cirurgia por erro médico grosseiro).

Portanto, lembremos: para a imputação objetiva é necessário a existência do risco, o risco


deve ser proibido e o risco deve ser realizado no resultado para configuração da causalidade
normativa.
4.6.2. A imputação objetiva para Jakobs e Roxin

4.6.2.1. O pensamento de Klaus Roxin


Visa, com o desenvolvimento da teoria, determinar um critério de imputação capaz de
concretizar a finalidade da norma penal. Assim, um resultado só deve ser imputado a alguém e

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preenche o tipo objetivo quando: a) o comportamento do autor cria um risco não permitido
para o objeto da ação; b) o risco se realiza no resultado concreto; c) este resultado se encontra
dentro do alcance do tipo.

4.6.2.2. O pensamento de Günter Jakobs


Ele acrescenta ao conceito de imputação o elemento da imputação objetiva do
comportamento. Para ele, deve ser analisado o papel/comportamento do autor, vítima e
terceiros, de modo que quem, por ter violado seu papel, administrando-o de modo deficiente,
responde jurídico-penalmente – ou, se foi a vítima quem violou seu papel, deve assumir o dano
por si mesma. Se todos se comportam de maneira correta, conforme o seu papel, só fica a
explicação do ocorrido como fatalidade ou acidente.
Ele entende pela ausência da imputação quando: a) cria-se um risco permitido; b)
princípio da confiança; c) proibição do regresso; e d) competência ou capacidade da vítima.
Sustenta a permanência da causalidade natural na aferição da responsabilidade criminal,
funcionando a imputação como critério de restrição do nexo causal.
4.6.3. Conclusões
Há, portanto, uma inclusão de nova elementar no tipo objetivo, criando-se o conceito de
causalidade normativa, em oposição à causalidade natural presente na teoria finalista. Assim,
não basta a mera relação de causa e efeito (causalidade natural/física) entre a conduta e o
resultado naturalístico. Deve haver a presença da causalidade normativa e da tipicidade maerial.
Assim, conclui-se que:

15 a) A imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva;


b) A imputação objetiva pode dizer respeito ao resultado ou ao comportamento do
agente;
c) A expressão mais apropriada seria teoria da não imputação, uma vez que a teoria
busca evitar a imputação objetiva do tipo penal a alguém;
d) A teoria da imputação foi criada para se contrapor aos dogmas da teoria da
equivalência dos antessentes, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou
normativa, ao lado daquela outra de natureza material;
e) Uma vez concluída pela não imputação objetiva, afasta-se o fato típico.

5. Tipicidade
Tipicidade é um elemento do fato típico, e divide-se em formal e material.
Tipicidade formal é o juízo de subsunção entre a conduta praticada pelo agente no
mundo real e o modelo descrito pelo tipo penal. É a adequação ao catálogo. Ex: João mata
Fernando. Matar alguém está descrito no artigo 121, portanto, a conduta é formalmente típica.
Tipicidade material ou substancial é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
penalmente tutelado em razão da prática da conduta penalmente descrita. (Lembram do
princípio da insignificância que vimos na aula 01?????). A conduta deve ser ofensiva/lesiva
sobremaneira, a fim de que o Direito Penal seja o objeto protetor do bem jurídico. Lado outro,
se a lesão for mínima, deve-se verificar se os outros ramos do direito não são capazes de tutelar
esse resultado lesivo.
A presença simultânea da tipicidade formal e material é o que caracteriza a tipicidade
penal.

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5.1. Tipicidade conglobante


Criada por Eugênio Zaffaroni, essa teoria sustenta que todo fato típico se reveste de
antinormatividade, pois, muito embora o agente atue em consonância com o que está descrito
no tipo incriminador, na verdade contraria a norma, entendida como conteúdo do tipo legal.
É necessária que a conduta seja contrária ao ordenamento jurídico em geral, clonglobado,
e não apenas ao direito penal. Assim, se a conduta for tipicamente penal, mas estiver em
consonância com outro ramo do direito, a conduta será atípica.
Logo, para essa teoria, a tipicidade penal resulta da junção da tipicidade legal com a
tipicidade conglobante. Não basta, pois, a mera tipicidade legal, isto é, a contrariedade do fato
à lei penal. É necessário mais. A conduta do agente, além de contrariar al ei penal, deve violar
todo o sistema normativo.
Assim, se o Direito Penal proíbe, mas o direito civil permite, não há tipicidade. O STJ vem
acatando essa tese, tendo considerado atípica a ação de Desembargador que proferiu
expressões tida por difamatórias em seu voto. O STJ entendeu que o Desembargador agiu
conforme o ordenamento determina (Resolução 106/10 do CNJ), não havendo conduta típica.
5.2. Adequação típica: conceito e espécies
Adequação típica é o procedimento pelo qual se enquadra uma conduta individual e
concreta a descrição genérica e abstrata da lei penal. Essa adequação típica pode ser de duas
espécies: subordinação imediata e subordinação mediata.
Na adequação típica de subordinação imediata, a conduta humana se enquadra
16 diretamente na lei penal incriminadora, sem necessidade de interposição de qualquer outro
dispositivo legal.
Já na adequação típica de subordinação mediata, ampliada ou por extensão, a conduta
humana não se enquadra prontamente na lei penal, havendo necessidade da interposição de
um dispositivo contido na parte geral do Código Penal. É o que ocorre com a tentativa, na
participação e nos crimes omissivos impróprios. Há a necessidade daquele texto normativo para
poder utilizar o tipo penal + o texto, e punir o agente. É que se chama de normas integrativas,
de extensão ou complementares da tipicidade.

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