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Introdução

"Todos os países modernos", escreve MAURICE HAURIOU, "assumem funções


administrativas, mas nem todos possuem o regime administrativo".
"Assumir funções administrativas" significa simplesmente providenciar às necessidades de
ordem pública e assegurar o funcionamento de alguns serviços públicos para satisfação do
interesse geral e a gestão dos assuntos de interesse público.
De modo geral, um Estado pode desempenhar essas funções sem confiá-las a umpoder
jurídico especial, elas se desempenham, então, sob o controlo do poder jurídico ordinário que
é do judicial.
Nesta perspectiva, o direito é "um", no sentido de que, em princípio são as mesmas
regras que regem todas as relações jurídicas dentro de um mesmo Estado, qualquer que seja a
natureza dessas relações jurídicas. Para ser mais rigoroso, isto não quer dizer que não existe
um "Direito Administrativo" nos países anglo-saxónicos. Em bom rigor, em todos os Estados,
quaisquer que sejam, existe necessariamente, do ponto de vista material, um conjunto de
regras que se chama "DireitoAdministrativo", que rege a organização e as competências das
autoridades administrativas e define os direitos e as garantias dos administrados quando eles
sofrem um prejuízo em relaçãoàs essas autoridades. O que não existe nesses países é um
“modelo europeu” e, sobretudo, um“modelo francês” de Direito Administrativo. Mediante a esses
factos, o presente trabalho, aborda com relação a análise hipotética de um poder administrativo na
construção de uma auto-estrada que liga a cidade de Maputo à Vila da Ponta D’Ouro, em que
requer-se que as populações se retirem das residências atingidas pelo traçado da rodovia.

Objectivos
Geral:
 Analisar o poder administrativo aplicado pelo Administrador de Matutuine.
Específicos:
 Identificar os aspectos que levaram a essa tomada de decisão;
 Descrever o papel desempenhado pelo Administrador de Matutuíne;
 Diferenciar à Administração Pública da Administração Privada
Hipótese Analisada

No quadro da construção da auto-estrada, ligando a cidade de Maputo à vila da Ponta


D’Ouro, levada a cabo pelo Governo de Moçambique, o Administrador do Distrito de
Matutuíne mandou retirar, compulsivamente, as populações que tinham residências atingidas
pelo traçado da rodovia em referência. Face às reclamações apresentadas pelos cidadãos
afectados pela sua decisão, o Administrador do Distrito de Matutuíne decidiu manter a sua
decisão, com o fundamento de que, no fim de contas, a construção daquela auto-estrada vinha
satisfazer um interesse geral, que beneficiaria até os próprios atingidos pela medida, interesse
geral esse que não podia ser posto em causa por seja qual fosse o interesse particular.
Identificação dos aspectos na retirada da população

A Administração pública, traduz-se num conjunto de órgãos e de actos destinados à


salvaguarda dos interesses públicos, bem-estar social, garantia dos direitos individuais e
preenchimento das finalidades do governo em relação ao Estado.

De acordo com a hipótese levantada, identifica-se os seguintes aspectos:

 Construção da auto-estrada,ligando a cidade de Maputo à vila da Ponta D’Ouro, sob


conhecimento do Governo de Moçambique,
 A decisão do Administrador em manter a sua palavra sob fundamento do interesse
publico com a construção da estrada.

O papel desempenhado pelo Administrador de Matutuíne


Assumir funções administrativas" significa simplesmente providenciar às necessidades
de ordem pública e assegurar o funcionamento de alguns serviços públicos para satisfação do
interesse geral e a gestão dos assuntos de interesse público.

No que diz respeito às referidas funções, pode-se distinguir entre as funções que são
exercidas directamente a favor da comunidade (polícia, justiça, acção social. etc.); e as que
são direccionadas e originadas pelo uso interno da própria Administração (gestão do pessoal,
compras, contabilidade, etc.). As primeiras dizem-se funções administrativas principais e as
segundas auxiliares (Gournay B & Bénoit. P, 1986.P.7).

A Administração Pública Moçambicana tem poderes de decisão e de execução.


Poroutras palavras, o que caracteriza o Direito Administrativo Moçambicano na ordem das
prerrogativas, como, regra geral, em qualquer outro sistema de administração executiva, é a
faculdade que lhe é conferida de tomar decisões juridicamente executórias e de garantir a sua
execução material; como fundamentou PROSPER WEIL: “... Para satisfazer às necessidades
do serviço, a administração deve dispor dos meios de acção necessários. Daí a noção de
prerrogativas de direito público ou de meios exorbitantes do direito comum.

No regime administrativo, a Administração Pública dispõe de privilégios quando


aprova decisões. Ela pode-se dispensar, ao mesmo tempo, do consentimento de terceiros e do
juiz. Nesta perspectiva, a Administração Moçambicana dispõe de duas técnicas: o poder de
decisão unilateral (1) e o privilégio da execução prévia (2).
1. O poder de decisão unilateral
O poder de decisão unilateral pode-se definir como sendo o poder de
modificarunilateralmente o ordenamento jurídico por exclusiva autoridade, e sem necessidade
de obter o acordo do interessado. (Freitas do Amaral D. 2002, p. 21).

Em todos casos, a decisão da Administração Pública não está subordinada ao acordo


prévio dos interessados mesmo se esses devem ser informados ou consultados.
Este poder de decisão unilateral existe, também, em matéria contratual. No âmbito dos
contratos administrativos, a Administração dispõe, na fase da sua execução, de alguns poderes
de acção unilateral em relação ao contraente que não têm equiparação nos contratos sujeitos
ao direito privado (por exemplo, o poder de modificação unilateral do conteúdo das
prestações do seu co-contratante ou o poder de rescindir o contrato por conveniência do
interesse público).
2. O privilégio de execução prévia
O privilégio de execução prévia é definido pela alínea g) do Artigo 1 do Decreto n.º
30/2001, de 15 de Outubro como “poder ou capacidade legal de executar
actosadministrativos definitivos e executórios, antes da decisão jurisdicional sobre o
recursointerpostos pelos interessados”. Este privilégio constitui, de acordo com a alínea a) do
Artigo 16 do referido Decreto uma garantia da Administração Pública; como estabeleceu a
Primeira Secção no Acórdão WACKENHUT MOÇAMBIQUE, LIMITADA, de 30 de
Outubro de 2007, os principais atributos que caracterizam o acto administrativo são: “...
Aimperatividade, que consiste na prerrogativa que tem a Administração Pública de fazer
valer a sua autoridade, tornando obrigatório o conteúdo do seu acto para todos aqueles a
quem mesmo se dirige, os que têm de o acatar, no caso dos particulares; e a
exigibilidade/autoexecutoriedade, em virtude dos quais, em face do não acatamento ou
incumprimento da decisão, pelos particulares, a Administração Pública, em consequência do
privilégio de execução prévia de que goza, pode impor e mandar cumprir, coactivamente e
por meios próprios, as obrigações criadas pelo acto por si expedido, sem necessidade de
recorrer a outros poderes, nomeadamente, ao judiciário”.
Mediante as informações acima mencionadas, conclui-se que o papel desempenhado
pelo Administrador de Matutuine é positivo, pois ele sustenta-se Decreto nº. 53/2008 de 30 de
Dezembro no artigo 1 alínea (a) e no artigo 2 alínea (d). Isto porque, a culminação da
construção da auto-estrada é do interesse publico.
Relacionamento do interesse público e os interesses particulares
O interesse público é o único fim que as entidades públicas e os serviços públicos
podem legalmente prosseguir.
Administração pública, porque se traduz na satisfação de necessidades colectivas que a
colectividade decidiu chamar a si, e porque tem de realizar em todas as circunstâncias o interesse
público definido pela lei geral, não pode normalmente utilizar, face aos particulares, os mesmos
meios que estes empregam uma para com os outros.
A administração pública tem de poder desenvolver-se segundo as exigências próprias do
bem comum. Por isso, a lei permite a utilização de determinados meios de autoridade, que
possibilitam às entidades dos serviços públicos impor-se aos particulares sem ter de aguardar o
seu consentimento ou, mesmo, fazê-lo contra a sua vontade
É o caso, em particular, em matéria de Licenciamento de Obras Particulares. Pode-
seimaginar facilmente a situação na qual a autoridade licenciadora ou outras entidades com
atribuições legais para o efeito ordenam a demolição de uma obra fixando para o efeito o
respectivo prazo porque a obra, por exemplo, não respeita os requisitos previstos em matéria
de salubridade, solidez ou segurança contra o risco de incêndio. Pode acontecer que o dono da
obra opõe resistência activa ou passiva à ordem de demolição. Neste caso, a regulamentação
vigente prevê um procedimento, ao mesmo tempo, equilibrado e cauteloso em relação aos
direitos dos particulares e da própria Administração.
Segundo, o interessado deve ser ouvido no processo para conhecer e avaliar o seu ponto de
visto e argumentos. Com efeito, de acordo com a regulamentação vigente79, “Aordem de
demolição (...) é antecedida de audição do interessado, que dispõe de 15 de dias a contar da
data da sua notificação para se pronunciar sobre o seu conteúdo”.
Terceiro, a entidade ordenante procede à demolição da obra por conta do infractor.

Diferença entre administração Pública e Administração Privada.


Contextualizando administração pública e privada encontramos as diferenças nos seus
funcionamentos em que uma parte visa o interesse público com os meios próprios para esse
fim enquanto o privado visa o interesse particular e assim distinguem-se pelo objecto sobre
que incidem, pelo fim que visam prosseguir, e pelos meios que utilizam.
Assim, Quanto ao objecto, a administração pública versa sobre as necessidades
colectivas assumidas como tarefa e responsabilidade própria da colectividade, ao passo que a
administração privada incide sobre necessidades individuais – a gestão dos bens desta ou
daquela pessoa -, ou sobre necessidades que, sendo de grupo, não atingem contudo a
generalidade de uma colectividade inteira – a administração do dote de uma família, do
património de uma associação, do estabelecimento de uma empresa.
O interesse público é o único fim que as entidades públicas e os serviços públicos
podem legalmente prosseguir, ao passo que a administração privada tem em vista,
naturalmente, fins pessoais ou particulares.
Acrescente-se, ainda, que assim como a administração pública envolve, pelas razões
apontadas, o exercício de poderes de autoridade face aos particulares, que estes não são
autorizados a utilizar uns para com os outros, assim também, inversamente, a Administração
Pública se encontra limitada nas suas possibilidades de actuação por restrições, encargos e
deveres especiais, de natureza jurídica, moral e financeira que a lei estabelece para acautelar e
defender o interesse público, e a que não estão sujeitos os particulares na prossecução normal
das suas actividades de administração pública e privada, que habitualmente não é posta em
relevo, mas reveste a maior importância. (Amaral, D. F, 2006. P. 42-43)
Administração privada confunde-se com administração pública pelo facto dos
resultados das actividades privadas serem socialmente útil a colectividade o que mostra uma
iniciativa no regime democrático, não significa que o fim dessa administração privada seja a
prossecução directa do interesse geral mas o principal fim é a prossecução de um interesse
particular, ainda que tendencialmente coincidente com o interesse público.
Antes do interesse pessoal, esta o interesse publico, portanto, a administração nacional
de estradas se quiser recorrer a medidas coercivas para retirar os particulares que habitam as
margens da Estrada Nacional nº4 em defesa do interesse publico.

Em que consiste o poder de execução forçada e o privilégio de execução prévia.


De acordo com a alínea f) do Artigo 1 do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro,
entende-se por “Poder de execução forçada” consiste na “capacidade legal de executar
actosAdministrativos definitivos e executórios, mesmo perante a contestação ou resistência
física dos destinatários”. Este poder constitui uma garantia da Administração Pública.
A execução forçada é necessária e possível. É necessária para garantir o cumprimentodas
decisões da Administração.
É possível porque a Administração, que toma a decisão, dispõe, ao mesmo tempo, da
força pública e consequentemente, da força material necessária para fazer cumpri-la. Mas a
Administração não pode proceder ao cumprimento forçado das suas decisões sem respeitar os
trâmites processuais legalmente previstos que constituem garantias administrativas para os
particulares.
Privilégio da execução prévia resulta da execução prévia significa que o acto é
revestido de uma presunção de legalidade que obriga o seu destinatário a executá-lo antes de
qualquer contestação.
Conclusão

Em suma, DIREITO é o conjunto de normas de conduta coactiva impostas pelo


Estado, se traduz em princípios de conduta social tendentes a realizar Justiça, assegurando a
sua existência e a coexistência pacífica dos indivíduos em sociedade. O Direito para fins
didácticos é dividido inicialmente em ramos. Consoante a sua destinação, pode ser interno,
internacional, público ou privado.
O Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público Interno.
Conceito Direito Administrativo: sintetiza-se no conjunto harmónico de princípios
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as actividades públicas tendentes a realizar
concreta, directa e imediatamente os fins desejados pelo Estado.
O direito administrativo só subsiste, de resto, por um prodígio cada dia renovado.
Nenhuma força pode constranger de facto o executivo a submeter-se à norma de direito e à
sentença do juiz, mas o Estado pode, pelo menos em teoria, pôr termo, quando o desejar, à
auto-limitação que consentiu.
Referencias Bibliográficas

Amaral, D. F., (2006). Curso de Direito Administrativo. Almedina, 3a ed. Vol. I. p. 42-43.
Freitas do Amaral D. (2002).Curso de Direito Administrativo, Vol. II, Livraria Almedina –
Coimbra, p. 21 e seguintes.
Gournay B (1986, p. 7)., L’Administration, Paris, PUF, p. 7 e seguintes; BÉNOIT F.P., Le
droit administratif français, Paris, Dalloz 1968, n.º 29 e seguintesWEIL P., O
DireitoAdministrativo, op. cit., pp. 22-23.

Legislação
Decreto n.º 54/2005: Aprova o Regulamento de Contratação de Empreitadas de Obras
Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado, B.R., 13 de
Dezembro de 2005, 3.° Suplemento, I Série – N.º 49.
Decreto nº. 53/2008 de 30 de Dezembro que aprova o Regulamento de Construção e
Manutenção dosDispositivos Técnicos de Acessibilidade, Circulação e Utilização dos
Sistemas dos Serviços Públicos
TA-S: WACKENHUT MOÇAMBIQUE, LIMITADA, 30 de Outubro de 2007, Proc.
06/2007-1ª. Alínea d) do Artigo 16 do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro.

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