Você está na página 1de 2

Nº 6 Gelson Adriano Sungulês

Os Princípios Jurídicos Fundamentais

da Organização e da Actividade Administrativa

Princípios relativos à Organização Administrativa A Administração Pública


encontra-se vinculada ao princípio geral da prossecução do interesse público, com respeito
pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares. Aliás, é consequência da
função do Direito Administrativo a legitimação da intervenção da autoridade pública e
proteger a esfera jurídica dos particulares; permitir a realização do interesse coletivo por
um lado e impedir, por outro lado, o esmagamento dos interesses individuais; ou seja,
organizar a autoridade do poder e defender a liberdade dos cidadãos.

Posição, igualmente, acolhida pelo legislador constituinte no art. 198º/2 da CRA.


Entretanto, na prossecução do interesse público, a Administração Pública encontra-se
sujeita a um conjunto de princípios operativos elencados no nº 1 do art. 198º da CRA, tais
como: princípio da igualdade, da legalidade, justiça, proporcionalidade,
imparcialidade, responsabilização, probidade administrativa e o respeito pelo
património público.

Acrescem a estes princípios aos princípios da boa fé, da colegialidade, da direção


individual e da responsabilidade pessoal da descentralização, da desconcentração, da
autonomia local, da continuidade dos serviços públicos, da desburocratização, do dever da
boa administração, da decisão, da justiça, da confiança, do equilíbrio financeiro, etc.

Dos princípios acima referidos, uns dizem respeito a organização administrativa


(sentido orgânico) e outros a actividade administrativa (sentido material). Alguns estão
previstos na Constituição e outros emanam de normas ordinárias, outros aferidos a partir de
critérios jurídicos.

Princípio da Supremacia do Interesse Público

A actividade da Administração e a sua estruturação subordinam-se ao previsto na


lei, através do poder político, de maneira que a Administração Pública procura satisfazer
sempre os interesses públicos da coletividade. É o interesse público que se deve ter em
conta, na justa composição dos conflitos, mediante a repartição, segundo critérios variáveis,
dos bens materiais e imateriais da sociedade, ou seja, a Administração tem como único fim
a prossecução do interesse público.

Em sentido mais restrito, pode caracterizar-se o interesse público como sendo o que
representa a esfera das necessidades a que a iniciativa privada não pode responder e que são

19
Nº 6 Gelson Adriano Sungulês

vitais para a comunidade na sua totalidade e para cada um dos seus membros.

Segundo Rogério Soares, citado por Freitas do Amaral, pode distinguir-se o


interesse público primário dos interesses públicos secundários: o interesse público primário
é aquele cuja definição e satisfação compete aos órgãos governativos do Estado, no
desempenho das funções política e legislativas: é o bem nacional e, os interesses públicos
secundários são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja satisfação cabe à
Administração pública no desempenho da função administrativa a exemplo da segurança
pública, a educação, a saúde, a cultura, os transportes coletivos etc.

Porém, a noção de interesse público é uma, de conteúdo variável, pois o que ontem
foi considerado conforme ao interesse público pode hoje ser-lhe considerado contrário e
que, hoje é tido por inconveniente, pode amanhã ser considerado vantajoso. Logo, não é
possível definir o interesse público, de uma forma rígida e inflexível.

O princípio da prossecução do interesse público, significa que a Administração só


pode prosseguir o interesse público, estando consequentemente proibida de prosseguir,
ainda que acessoriamente, interesses privados.

Ocorre, que uma decisão administrativa pode representar vantagens para interesses
particulares, mas elas não podem ser a mera atuação administrativa: uma licença de
construção representa uma vantagem para o seu destinatário, mas quando a emite o órgão
competente não visa atingir esse objetivo e sim prosseguir o fim de interesse público
traduzido na conformidade do projeto de construção com as normas jurídicas aplicáveis,
bem como, a oportunidade e conveniência.

O Princípio da prossecução do interesse público não permite definir qual é, em cada


caso concreto, a melhor forma de prosseguir o interesse público. O conceito de interesse
público reveste-se de um determinado grau de indeterminação, pelo que, a administração
goza de uma ampla margem de livre decisão quanto ao modus faciendi da sua prossecução.

20

Você também pode gostar