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2022/20223 1ºsemestre
Aula 22/09
Aula 29/09/2022
(5 fontes das obrigações)
Contratos: principal elemento gerador de riqueza
Responsabilidade civil
...
O dto comercial vem muito na linha contratual, é um ramo muito abrangente. Ramo do
dto privado com várias subdivisões.
Distingue-se do dto civil porque se pauta com valores como a celeridade, segurança nos
negócios, nas transações, livre circulação, etc. O nosso CC esta mais aproximado do
individualismo (ainda que muito longe do mesmo) mas o dto comercial está ainda mais próximo
desses valores.
A cadeia comercial tem 3 grandes atos: produção, distribuição, consumo. Portugal é dos
países da UE onde mais demorado é o pagamento em média, paga em 90 dias; os países
nórdicos pagam normalmente em 20 dias. O incumprimento é uma coisa muito comum.
O dto comercial vai ter no seu centro os ATOS DE COMERCIO art.2º código
comercial.
“Todos os que estão neste código” – hipótese objetiva
“Os praticados por comerciantes” – hipótese subjetiva
Quando for o comerciante a praticar o ato, presume-se que é um ato de comercio – há
uma presunção que é ilidível a não ser que o próprio diga que é inilidível – 350º/2 CC
Art.º 101 Código comercial o fiador comercial não tem direito à prévia excursão do património do
comercial
¨ subsidiariedade (o credor tem de interpelar um e só se não vir satisfeito o seu crédito é que pode
interpelar o seguinte) vs. solidariedade (o credor pode escolher interpelar qualquer um)
¨ subsidiariedade com prévia excursão (o credor pode interpelar qualquer um deles, mas ele tem a
faculdade de poder dizer que não) vs. solidariedade
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100º CCom 513º CC no regime civil a solidariedade não é a regra, ao contrário do
regime comercial
Caso Prático 1
Artur, Bernardo e Carlota, retalhistas de víveres, compraram para revender, a Dagoberto,
armazenista, uma grande quantidade de bacalhau, no valor de 15.000 euros. O pagamento do
preço correspondente verificar-se-ia três meses depois. Decorrido o período em questão e não
tendo sido paga a quantia em causa, Dagoberto intentou uma ação contra Artur, pedindo a
condenação deste no pagamento da totalidade do montante referido.
Os atos de comercio podem ser considerados quanto a sua objetividade ou quanto a sua
subjetividade – 101º + 2º CCom. No sentido objetivo o ato que eles celebraram é um ato de
comercio em sentido objetivo (463ºCCom), no sentido subjetivo ...
A sua resposta seria a mesma se Artur, Bernardo e Carlota tivessem adquirido a mercadoria
para seu próprio consumo?
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Aula 06/10
2 requisitos:
A primeira parte do art.100º CCom. dispõe o seguinte: “nas obrigações comerciais os
coobrigados são solidários … “. São, portanto, 2 os pressupostos para que se aplique tal
disciplina:
que a obrigação seja mercantil;
que haja mais do que um devedor.
Obrigação mercantil
O conceito de obrigação mercantil não se encontra definido no CCom. Quanto à noção
de obrigação, ela resulta, subsidiariamente, da lei civil aqui aplicável. No tocante à natureza
mercantil da obrigação, interessa-nos o conceito de ato de comércio emergente do art.2º CCom,
pois é por via de regra deste que tal natureza é aferida.
A existência de coobrigados
Devemos estar perante um caso de pluralidade de devedores. Assim, numa dada relação
jurídico-mercantil, há que averiguar- de cada um dos lados da relação constituída- se existem 2
ou mais coobrigados.
Efeitos
A consequência do preenchimento dos 2 requisitos assinalados é a de se considerem os
coobrigados solidários entre si no que toca ao cumprimento do respetivo dever (art.100º, 1ªparte
CCom). Neste ponto, deve buscar-se, em razão do carácter subsidiário da lei civil, aos art.512ºss
CC, especialmente nas regras que estabelecem a solidariedade passiva.
¨ Solidariedade passiva. Qualquer um dos devedores encontra-se vinculado à realização
integral da prestação perante o credor ou, sendo mais do que um, em face de qualquer
dos credores (art.512º/nº1, 1ªparte, 1ªfrase CC).
¨ Efeitos em relação ao credor do pagamento de 1 dos devedores . Caso um dos devedores
realize a prestação na integra, a consequência é a da liberação de todos os devedores
(art.512º/nº1, 1ªparte, 2ªexpressão CC).
¨ Aquisição de um direito de regresso contra cada um dos condevedores, pelo devedor
que cumpriu a obrigação. Este adquire um direito de regresso sobre todos os outros.
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Todavia, tal direito restringe-se à parte que cabe a cada um deles, o que significa que
não se estabelece a este nível qualquer solidariedade entre os condevedores. O direito de
regresso é exercido na exata medida que couber ao respetivo devedor. Em princípio,
vale a regra da proporcionalidade. Noutras hipóteses, o direito de regresso exerce-se de
modo diverso, podendo chegar à responsabilidade pela totalidade da dívida (ex. seguro-
caução).
Finalidade
Reforço dos interesses dos credores e a tutela do cumprimento das obrigações (favor
creditorii).
Esta regra é supletiva e não imperativa, pelo que é possível estabelecer no contrato
coisa diferente – 100º.
Alguns casos
Contratos-promessa em que o contrato é havido como mercantil. Atento o carácter
comercial do contrato-promessa, também aqui se aplica o a regra da solidariedade, por
força do princípio da equiparação (art.410º/nº1, 1ªparte CC). Exemplos: contrato-
promessa de trespasse ou contrato-promessa de cessão de quotas).
Seguro-caução. É usual nos seguros caução (que cobrem “direta ou indiretamente o
risco de incumprimento ou atraso no cumprimento das obrigações que, por lei ou
convenção, sejam suscetíveis de caução, fiança ou aval”) a aposição de uma cláusula,
ou seja, “a seguradora pagará, à 1ª interpelação do beneficiário, o montante
indemnizatório”. Estando subjacente ao seguro-caução um ato comercial (ex. contrato
de locação financeira, contrato de aluguer de longa duração), o devedor e a entidade
seguradora são solidariamente responsáveis perante o credor em razão do contrato-base
ser mercantil, aplicando-se o regime do art.100º CCom. No entanto, a regra da
solidariedade nas obrigações comerciais tem natureza supletiva e não imperativa,
permitindo-se a sua derrogação por convenção das partes (“salva estipulação
contrária”). Pode, portanto, estabelecer-se no contrato que os coobrigados são
devedores conjuntos. Sendo que não é usual a derrogação do regime da solidariedade,
através de convenção em sentido contrário.
Casos de não extensão do regime da solidariedade. §único do art.100º CCom.
consagra um regime de exceção. “Esta disposição não é extensiva aos não
comerciantes quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituírem atos
comerciais”. A consequência é a aplicação do regime da conjunção, já que se afasta a
solidariedade.
Existem aqui 2 requisitos cumulativos a ter em conta: (1) os devedores são sujeitos “não
comerciantes” - o art.13º CCom. estabelece quem são comerciantes, por isso, à contrario sensu
retira-se que todos os sujeitos que não integram o leque do normativo não têm essa qualidade;
(2) os contratos que “não constituem atos comerciais” em relação aos comerciantes . Assim, é
necessário ainda que os contratos em causa não constituam, em relação aos comerciantes, atos
mercantis. Ou seja, a norma refere-se aqui aos atos de comércio unilaterais, aqueles que são
mercantis apenas em relação a uma das partes (art.99º/1ªparte CCom.).
EXEMPLOS:
1. Imaginemos que C e B são devedores (não comerciantes) de 1000€ e A é credor
(comerciante), podendo este exigir de um deles a totalidade do pagamento. A lei diz que
a disposição que consagra o regime da solidariedade não é extensível aos não
comerciantes quanto aos contratos que não constituírem atos comerciais em relação a
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obrigação principal extingue-se a fiança. A regra da subsidiariedade é uma regra supletiva pelo
que pode ser afastada pelas partes por convenção em sentido contrário.
No Direito comercial – fiança comercial, temos também presente a caraterística da
acessoriedade, mas já não temos presente a da subsidiariedade. Dispõe o art.101º CCom. que
“a todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante, será solidário com o
respetivo afiançado”. Daqui retira-se 2 pressupostos: (1) a necessidade de constituição de uma
fiança; (2) que o afiançado seja um obrigado mercantil. O garante não necessita sequer de ser
comerciante, podendo mesmo não o ser. O que revela é a natureza da obrigação e não a
circunstância de o fiador ser comerciante. A consequência que emerge do preenchimento destes
requisitos é a da solidariedade do fiador com o afiançado. No entanto, a posição do fiador
solidário não se identifica com a do condevedor solidário, já que a obrigação daquele continua a
ser acessória em relação à do devedor afiançado, com as respetivas consequências. Assim, ao
fiador que cumpre o dever perante o respetivo credor assiste do direito de regresso, na
totalidade, junto do devedor principal, sendo que a norma visa essencialmente afastar o
benefício da excussão prévia (art.638º CC). O regime da solidariedade do fiador é imperativo.
Por um lado, pela utilização da locução “será (sempre) solidário”, por outro lado, a utilização da
palavra “todo fiador”. Assim, daqui decorre a não derrogabilidade por vontade das partes,
sob pena de nulidade da estipulação, por força do art.294º CC e a desnecessidade de
existência de convenção no sentido da sua consagração.
Esta solidariedade da fiança é uma solidariedade imperfeita. Se olharmos para o
exemplo anterior, temos A que podia exigir de B ou C a totalidade da prestação, provocando a
extinção da obrigação perante o outro e tendo direito de regresso no valor da proporcionalidade.
No exemplo anterior, A podia exigir de B ou C a totalidade da prestação, se imaginarmos que B
pagou a prestação de 1000€ a A, a obrigação extingue-se perante A, mas B terá direito de
regresso sobre C de 500€ No caso da fiança, se pagasse os 1000€ a A, teria depois o direito
de regresso sobre a totalidade em relação a B (exigiria os 1000€). Ou seja, aqui, se o fiador
pagasse a totalidade a A, extinguindo a obrigação de B, depois ia ter direito de regresso pela
totalidade do valor.
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Juros convencionais
Relativamente à taxa de juros convencionais, a sua fixação é possível, ou seja, é
possível estipular-se uma taxa de juro convencional superior aos 7%. Todavia, exige-se para
o efeito a forma escrita (art.102º/§1 CCom), por razões de segurança e prova. Na ausência de
forma, a taxa convencional verbalmente acordada é nula (art.294º CC), pelo que se emprega a
taxa legal de juros moratórios.
Limites à fixação convencional de juros moratórios. O §2 do art.102º CCom remete para o
art.1146º CC, relativo à usura no contrato de mútuo. Ora, o art.1146º CC estabelece que “É
havido como usuário o contrato de mútuo em que sejam estipulados juros anuais que excedem
os juros legais, acrescidos de 3% ou 5%, conforme exista ou não garantia real”. Ou seja, pode
ter como limites:
Se EXISTIR garantia real a taxa pode ir até 10% (taxa legal de 7% + 3%);
Se NÃO EXISTIR garantia real a taxa pode ir até 12% (taxa legal 7% + 5%).
A lei permite ainda a possibilidade de se fixar uma clausula penal (art.1146º/nº2 CC)
correspondente de 7% ou 9% acima dos juros legais, caso exista uma garantia real. Ou seja,
existindo uma cláusula penal, pode ter como limites:
Se EXISTIR garantia real a taxa pode ir até 14% (taxa legal de 7% + 7%);
Se NÃO EXISTIR garantia real a taxa pode ir até 16 % (taxa legal de 7% + 9%).
No caso de, por convenção, se ultrapassarem os limites que a lei permite, a consequência é
relativamente débil para o incumpridor- “considera-se reduzida a esses máximos, ainda que seja
outra a vontade dos contraentes”. Todavia não se descure a possibilidade de aplicação do regime
do art.282º e 284º CC, relativos à anulabilidade do negócio, atento o facto de ser usurário.
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Art.2º/nº2 DL tem matérias excluídas do âmbito aplicação deste diploma. Alínea (a) –
contratos celebrados com consumidores (pessoas físicas que atuam com objetivos alheios à sua
atividade profissional ou comercial, se usasse o computador para uso profissional já não era
consumidor).
A comprou para vender a B um computador, B destina a coisa para seu consumo.
Este é um ato de comércio? É um ato de comércio objetivo, unilateral. Qual o regime aplicável
aos atos de comércio unilaterais? Art.99º CCom em princípio aplica-se o regime mercantil –
aplicamos a lei comercial. Assim, 2º/2/a DL – estão excluídos os contratos celebrados com os
consumidores, assim não se aplica o regime de 8%, aplica-se o de 7%.
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O ESTABELECIMENTO COMERCIAL
Está instalado, em regra, num imóvel (prédio). Temos de distinguir ambos, uma vez que
incidem sobre eles direitos comuns.
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Clientela
A clientela não é necessária ao estabelecimento comercial apto a funcionar, mas que
ainda não entrou em atividade. A organização já existe enquanto tal mesmo sem clientela. Esta
não é um elemento essencial. Trata-se sim de um elemento natural, uma vez que em sede de
organização de um estabelecimento já a funcionar, a clientela acompanha a organização.
Exemplo: foi constituído um campo de golf (estabelecimento comercial) que ainda não foi
aberto ao público, pelo que ainda não tinha clientela e foi trespassado sem a clientela. A
clientela é um elemento natural do EC, não é necessário existir clientela para se poder trespassar
um estabelecimento comercial.
Aviamento
O aviamento trata-se da capacidade que o estabelecimento comercial organizado tem
para gerar lucros. Esta aptidão lucrativa advém de um conjunto vasto de circunstâncias,
designadamente das relações de facto estabelecidas com vários grupos de pessoas
(trabalhadores, fornecedores, financiadores) e dos outros elementos que integram o
estabelecimento. O aviamento é algo que está para além do estabelecimento comercial,
resultando da combinação otimizada dos vários elementos da organização. Trata-se de uma
qualidade do estabelecimento comercial.
Aula 13/10
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Não existe qualquer noção legal de arrendamento comercial. O conceito tem na sua base
a definição de locação (art.1022º CC), sendo que no caso, o gozo do imóvel deve servir uma
atividade comercial. É um ato de comércio objetivo, regulado no CC e não no CCom – 2º
CCom.
CARATERÍSTICAS:
¨ Consensualidade, pelo que o contrato se celebra sem dependência da entrega da coisa
(não é necessária a entrega da coisa);
¨ Bilateralidade, porquanto dele derivam obrigações recíprocas para ambos os
contraentes;
¨ Sinalagmaticidade, pois os deveres principais emergentes do contrato (a prestação típica
do locador de proporcionar o gozo temporário do imóvel- de execução continuada- e a
prestação fundamental do locatário de pagamento da renda- de execução periódica);
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denunciar a todo o tempo- mas também, por outro, que se não fizessem cessar, permanecia em
vigor por um novo período.
Com o NRAU, no art.26º/nº3, 2º trecho consagra- semelhantemente- que “Quando não
sejam denunciados por qualquer das partes, os contratos de duração limitada se renovam
automaticamente no fim do prazo pelo qual foram celebrados, pelo período de 3 anos, se
outro prazo superior não tiver sido previsto (por convenção) “.
Assim, só o arrendatário pode denunciar (imotivadamente e, à partida, em qualquer
momento) o contrato; o senhorio apenas se pode opor à sua continuidade para o final do prazo
(tal como de resto se permite ao arrendatário).
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CELEBRAÇAO DO CONTRATO
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2. Registo do contrato
Os contratos de arrendamento comercial com prazo superior a 6 anos estão sujeitos
a um requisito de publicidade. Inscrição no registo de arrendamento comercial.
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com os meses do calendário gregoriano, caso contrário aplica-se o art.1039º/nº1, 1ªparte CC.
Assim, o momento do vencimento das restantes e subsequentes rendas mensais é antecipado em
relação ao gozo da coisa.
¨ Legitimidade para receber e para pagar a renda
Legitimidade para receber a renda: senhorio. No entanto, o senhorio pode nomear um
representante voluntário, com poderes para receber a renda, sendo que o pagamento produz
efeitos imediatos na esfera do senhorio (art.258º CC). Também pode ter legitimidade o cônjuge
do locador. No caso de transmissão da posição do senhorio, por efeito da venda do imóvel, tal
deve ser comunicado devida e adequadamente (através do envio do próprio contrato de compra
e venda, que comprova a alienação do prédio) ao arrendatário, sob pena de este poder
recusar o pagamento ao novo sujeito, sendo-lhe legítimo o pagamento ao antigo locador. Só
após a comunicação efetuada nos termos próprios, cabe ao arrendatário pagar ao novo locador.
Legitimidade para pagar a renda: arrendatário. Se existirem vários inquilinos, qualquer
deles pode realizar o pagamento, liberando todos. O art.767º/nº1 CC estabelece que “a
prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro, interessado ou não no
cumprimento da obrigação”. O conceito de terceiro é muito amplo, podendo ser todo o terceiro
que não seja o devedor- regime da fungibilidade. No caso de transmissão da posição do
arrendatário, por morte ou por efeito de trespasse do estabelecimento comercial, o novo
arrendatário tem agora legitimidade para proceder ao pagamento da renda.
¨ Lugar do pagamento
Art.774º + 1039º/nº1 CC. O pagamento da renda deve ser feito no domicílio do locatário à
data do vencimento, se as partes ou os usos não fixarem outro regime. As partes podem
estipular outro lugar para o pagamento, tanto verbal como escrito.
¨ O prazo prescricional
A obrigação de pagamento das rendas está sujeita a prescrição (art.310º CC). Vale aqui o
regime do art.310º (b) CC. As rendas prescrevem no prazo de 5 anos. O prazo em causa é
contado isoladamente em relação a cada uma das prestações da renda. Tal prazo começa a
contar quando o direito puder ser exercido (art.306º/nº1 CC), pelo que assim sucederá “a partir
do momento em que o arrendatário deixar de cumprir a respetiva obrigação do pagamento”. A
prescrição necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por aquele
a quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo MP, não podendo o
tribunal conhecê-la oficiosamente (art.303º CC).
DURAÇÃO DO CONTRATO
¨ Princípio da liberdade contratual quanto à duração do contrato
Art.1110º/nº1 CC. As partes podem, no âmbito dos contratos tipificados existentes,
prever a celebração de qualquer deles, seja com prazo certo, seja com duração
determinada, nos termos do art.1094º CC.
¨ Silêncio das partes
Art.1110º/nº2 CC. O negócio considera-se celebrado com prazo certo pelo período de 5
anos, não podendo o arrendatário denunciá-lo com antecedência inferior a 1 ano.
¨ Renovação do contrato
Art.1110º/nº3 CC. Salvo disposição em contrário, o contrato celebrado a prazo certo
renova-se automaticamente no seu termo e por períodos sucessivos de igual duração
ou de 5 anos se essa for inferior.
¨ Oposição do senhorio à renovação
Art.1110º/nº4 CC. Nos 5 primeiros anos após o início do contrato, independentemente
do prazo estipulado, o senhorio não pode opor-se à renovação. O período inicial mínimo
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de 5 anos (o legislador estipula isso), e não pode opor-se à renovação durante esses 5
anos.
Aula 20/10
EXTINÇÃO DO CONTRATO
2. RESOLUÇÃO
Pressupõe, em termos gerais, uma situação de incumprimento grave do contrato e a
resolução é por natureza motivada. Em princípio tem efeitos retroativos, em termos gerais.
Art.1083ºss CC resolução do contrato de arrendamento
Nº1. Qualquer das partes pode resolver o contrato, com base em incumprimento da
outra parte.
Nº2. É fundamento de resolução o incumprimento que, pela sua gravidade ou
consequências, torne inexigível à outra parte a manutenção do arrendamento.
Temos de jogar aqui com 2 elementos: o incumprimento tem de ser grave e tem
de ser inexigível por lapso do senhorio a manutenção do contrato de arrendamento
(2 vertentes do dto de resolução pelo senhorio).
RESOLUÇÃO PELO SENHORIO
Falta de pagamento de renda
Não sendo paga a renda no momento do vencimento (em regra, nos termos do art.1075º/nº2
CC) o arrendatário comercial constitui-se em mora (art.1041º CC). O arrendatário pode
fazer cessar a mora, procedendo ao pagamento no prazo de 8 dias a contar do seu começo, sem
quaisquer efeitos negativos (art.1041º/nº2 CC). Na realidade, nos termos do art.279º (c) CC, o
prazo é de 7 dias e não 8. Dentro desse prazo, a mora é juridicamente irrelevante.
Caso o arrendatário não efetue o pagamento da renda no prazo de “8 dias, o locador dispõe
e 2 possibilidades, não cumulativas, ou seja, são alternativas:
1. Exigir a renda/s em atraso + 20% desse valor a título de indemnização
(art.1041º/nº1, 1ªparte CC)
OU
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Não sendo aplicado o disposto no art.1084º/nº3 e 4 CC, ou seja, possibilidade de pôr fim à mora
no prazo de 1 mês a partir da comunicação.
Neste período de 12 meses consideramos a data de celebração do contrato? Ou é contado
desde o momento do incumprimento? O legislador não fixou esta questão. No entanto, a data da
celebração do contrato é uma data relevante para muitos efeitos, como por exemplo, para efeitos
do art.1077º/nº2 CC. Assim, neste caso, devemos considerar a data de celebração do contrato.
Nos termos do art.1083º/nº6 CC o senhorio apenas pode resolver o contrato se tiver
informado o arrendatário, por carta registada com aviso de receção, após o terceiro atraso no
pagamento da renda, de que é sua a intenção de pôr fim ao arrendamento.
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3. DENÚNCIA
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Outro problema no quadro da denúncia dos contratos celebrados por tempo indeterminado,
prende-se com o princípio da liberdade contratual, visto que as partes não podem acordar que o
prazo de pré-aviso seja diferente do estipulado por lei. O período de pré-aviso é de 5 anos no
que toca ao senhorio (no que toca ao arrendatário é de 120 ou 60 dias). Será que o senhorio
pode, numa clausula do contrato, dizer que o prazo de pré-aviso é de 6 meses? Pode dizer se que
ao arrendatário é de 5 anos? Não! “as partes podem, dentro dos limites da lei”.
Possibilidade de denúncia pelo senhorio, nos contratos a prazo certo, não é possível!!
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5. CADUCIDADE
Trata-se de outro instituto que leva à extinção do contrato de arrendamento, por
circunstâncias supervenientes, que se opera por via da lei e que se produz com efeitos para o
futuro. O art.1051ºCC – estabelece alguns casos de caducidade:
Alínea d morte do arrendatário.
Nos termos do Art.1113º CC o arrendamento comercial não caduca por morte
do inquilino, pessoa física (nº1), não se modificando a regra da continuidade do
negócio. O direito ao arrendamento comunica-se aos sucessores do falecido
(nº1- 2ªparte). Pretendo o sucessor renunciar à transferência da posição
contratual, cabe-lhe comunicar ao senhorio no prazo de 3 meses após a morte
do arrendatário comercial (nº1-2ªparte). Se, ao invés, pretende a continuidade
do contrato, o art.1113º/nº2 remete para o art.1107º, cabendo o dever de
comunicação ao senhorio, com cópia dos documentos comprovativos e no prazo
de 3 meses a contar da ocorrência. No caso da extinção da pessoa coletiva, dá-
se a caducidade do contrato de arrendamento comercial (art.1051º/nº1 (d)), não
se aplicando o art.1113º CC.
Nos termos do art.1053ºCC, no caso de caducidade do contrato de arrendamento
comercial, a restituição do prédio só pode ser exigida passados 6 meses da determinação do
facto que determina a caducidade. Ou seja, o despejo do prédio só pode ser exigido passados 6
meses.
Nos termos do art.1045º CC, existe indemnização pelo atraso na restituição do
locado. Muitas vezes, o contrato extingue-se e o arrendatário permanece com o locado, sendo
um problema para o pôr fora. Assim, há indemnização pelo atraso ou restituição. Assim, o
arrendatário é obrigado a pagar uma indemnização até ao momento da restituição a renda que as
partes tinham estipulado. Se o arrendatário continuar em mora, a indemnização é elevada ao
dobro (nº2). Imaginemos que o senhorio denuncia o contrato e depois da denuncia o
arrendatário não desocupa o local, a regra é da imediata desocupação, se isto acontecer, a partir
do momento em que devia desocupar, vai pagar o correspondente a renda a título de
indemnização, mas se este depois não sair em determinado tempo novamente, pode ter de pagar
o dobro da renda. Como aqui já não temos contrato, se houver fiador, este já não responde por
qualquer destes valores, pois ele só responde em sede contratual.
Resumo:
Extinto o contrato, o locado deve, logo, desocupar o locado Art.1045º CC
Se tal não o fizer, deve indemnizar pelo atraso ou restituir a coisa art. 1045º/nº1
CC, a indemnização tem de ser igual ao valor da renda.
Art.º 1045/2 CC se o locatário se constituir em mora, o valor é igual ao dobro da
renda.
Imaginemos que o contrato é denunciado, e após a denuncia, o arrendatário não
desocupa o locado, a partir desse momento, o arrendatário vai pagar o valor da
renda a título de indemnização. Se o senhorio for esperto vai pressionar a mora
do locatário vai comunicar que ele devia ter saído no x, que ficou até y, e
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que tem w tempo para sair a partir daqui o arrendatário terá de pagar o dobro
da renda a título de indemnização.
Ora aqui, já não temos contrato, portanto se houver fiador ele não responde,
porque só responde perante as obrigações contratuais e aqui já não há contrato
porque ele se extinguiu.
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proprietário do estabelecimento comercial e não ser proprietário de qualquer dos bens que o
integram (exemplo: a arca frigorífica foi adquirida sob reserva de propriedade).
A propriedade do estabelecimento comercial comporta o direito de sequela, que permite,
designadamente, ao titular a sua reivindicação (art.1311º/nº1 CC). Desta forma, em ação
declarativa de condenação, o proprietário não possuidor do estabelecimento deve pedir o
reconhecimento do seu direito e a consequente restituição do mesmo (sem prejuízo do pedido de
indemnização). Nessa ação está em causa a reivindicação unitária do estabelecimento comercial
com todos os bens que o integram, sendo que o proprietário reivindicante deve demonstrar essa
titularidade e de que tal bem se encontra na posse ou na detenção de outrem, cabendo, ao
possuidor ou detentor, a prova de que a sua utilização é legítima.
2. Posse do estabelecimento comercial
A posse é um efeito natural da unidade jurídica que o estabelecimento representa, sendo
legítimo sustentar-se que a imaterialidade que caracteriza o estabelecimento o permite defender,
quando se estabelece o confronto com os direitos incorpóreos puros, pois estes são passíveis de
posse.
A faculdade de utilização dos meios de defesa da posse e do instituto da usucapião
permitem igualmente justificar a posse do estabelecimento comercial.
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preciso entrar para a mesma com bens. Imaginemos que A entrou com 10 mil euros, B
com 5 mil euros e que C entrou com o seu restaurante avaliado no valor de 35 mil
euros. O que acontece? Ao C entrar com EC para a sociedade, está a transmitir a
propriedade do EC da sua esfera jurídica, sendo agora a sociedade a proprietária do
mesmo, C deixa de ser o proprietário.
¨ Liquidação de uma sociedade. Dissolvida a sociedade, esta entra imediatamente em
liquidação, finda a qual a sociedade deixa de existir.
Nota: Situações que não configuram trespasse: na sucessão por morte não há trespasse e, por
isso, não há transmissão do estabelecimento comercial; partilha de estabelecimento comercial
por efeito do divórcio; mudança de firma da sociedade; transformação simples da
sociedade; transmissão das participações sociais; transmissão do estabelecimento no
âmbito da fusão ou cisão de sociedades.
Aula 03/11
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podendo ser derrogada por vontade das partes, devendo considerar-se nulas as cláusulas apostas
no contrato de arrendamento, no caso de trespasse, que submetam a transmissão da posição de
arrendatário à prévia autorização do senhorio. A finalidade desta norma é promover a
negociação e a circulação do estabelecimento comercial. Trata-se de um desvio à regra geral
presente no art.424º CC.
4. Validade do ato
Para que se transmita a posição de arrendatário mercantil para o trespassário é imperioso
que o negócio de trespasse observe forma legal, no entanto basta para o efeito escrito
particular, uma vez que o art.1112º/nº3 CC apenas menciona que “a transmissão deve ser
celebrada por escrito”.
A inobservância de forma legalmente prescrita importa a nulidade do contrato de
trespasse, seguindo esta o regime comum, ou seja, invocável a todo o tempo, por qualquer
interessado, podendo ser conhecida oficiosamente pelo tribunal. Sendo o trespasse nulo, a
regra do art.1112º/nº1 (a) CC é inaplicável, pelo que o senhorio (invocando a nulidade do
trespasse, sendo interessado- art.286º CC) dispõe da possibilidade de resolver o contrato de
arrendamento comercial (art.1083º/nº2 (e) CC).
5. Existência de trespasse
O art.1112º/nº2 CC enuncia meros sinais para averiguar o que se pretendeu transmitir com
o negócio realizado. Assim, pretendeu-se transmitir o estabelecimento comercial e apenas o
gozo do imóvel arrendado (sem a necessária autorização do senhorio).
Nos termos do art.1112º/nº2 CC não há trespasse:
a. “Quando a transmissão não seja acompanhada da transferência, em conjunto, das
instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o
estabelecimento”. Ora, apenas casuisticamente se pode aferir qual o nº mínimo de
elementos que devem necessariamente integrar-se no trespasse para que se possa falar
da transferência definitiva do estabelecimento.
b. “Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou
indústria ou, de um modo geral, a sua afetação a outro destino”.
Em relação às consequências, não há trespasse nos termos do artigo anterior. O trespasse
sendo simulado é nulo nos termos do art.240º/nº2 CC. Logo, não se aplica o art.1112º/nº1 (a)
CC, podendo o senhorio resolver o contrato.
Comunicação do trespasse
O art.1112º/nº3 CC não dispensa (tendo já havido o trespasse oneroso ou gratuito) a
sua comunicação ao senhorio. O que se justifica tendo em conta os interesses relevantes de o
senhorio tomar conhecimento de quem é o novo arrendatário do estabelecimento comercial, o
que lhe permite também fiscalizar o ato realizado.
A legitimidade para realizar a comunicação cabe ao primitivo arrendatário
(trespassante) ou ao beneficiário da cedência (trespassário).
Quanto ao arrendatário (trespassante), o dever de comunicação resulta da lei. No
entanto, o art.1112º/nº3 CC apenas determina que “a transmissão deve ser comunicada ao
senhorio”. Não diz a quem cabe essa obrigação. De todo o modo, tal como incumbe a cada
arrendatário, isso resulta para o inquilino do art.1038º (g) CC, que funciona como
complemento do art.1112º/nº3 CC.
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Quanto à cláusula de obras, o senhorio deve consentir com as obras a realizar no imóvel
(não falamos em pintar uma parede/obras de conservação), mas o senhorio também pode
restringir estas obras a apenas ao arrendatário.
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¨ A deixou de pagar as rendas; faz obras sem o consentimento; utiliza o imóvel com fim
diverso da cláusula. A trespasse o imóvel, e após o trespasse, o senhorio intenta uma
ação fundada na utilização do imóvel para fim diverso, incumprimento das rendas, as
obras sem consentimento.
¨ Terá o senhorio o direito a despejar o arrendatário apesar de este ter sub-
ingressado no contrato ou devemos proteger o novo arrendatário? há
divergências doutrinas e jurisprudenciais
o Art.º 435 CC se esta construção fosse acolhida, os arrendatários podiam não
cumprir os contratos e trespasse infinitamente, sendo que, o senhorio nunca
conseguiria obter as rendas, nem resolver o contrato
o Esta norma deve ser tida em conta em conjugação com o art.º 1112/1/a CC
este artigo deve prevalecer sobre o art.º 435 porque já se permite que haja
transmissão da posição do arrendatário sem consentimento do senhorio, já
intromissão na esfera do senhorio que chegue.
o Por isso, B deve acautelar previamente se há incumprimento por parte de A
junto do senhorio
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10.11.2022
AS DÍVIDAS E OS CRÉDITOS
Os créditos e as dívidas são elementos incorpóreos do estabelecimento comercial.
Os créditos
REGRA: não transmissibilidade dos créditos por mero efeito do trespasse
No regime mercantil, não temos nenhuma regra que determine a transmissibilidade dos
créditos ligados ao estabelecimento comercial quando ocorre o trespasse. Desta forma, temos de
aplicar a regra civilista da intransferibilidade dos créditos. Assim, por efeito do trespasse, o
ativo não se transmite.
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As dívidas
REGRA: não transmissibilidade dos débitos por mero efeito do trespasse.
EXCEÇÃO:
1. Transmissibilidade das dívidas por acordo entre as partes
A figura mais utilizada no quadro da transmissão convencional das dívidas é a da
assunção de dívidas (art.595ºss CC), pelo que a dívida continua a ser a mesma, apenas
ocorrendo uma mudança na pessoa do devedor. A modalidade mais utilizada é a
celebrada por contrato entre o antigo e o novo devedor, ratificada pelo credor (nº1 a).
Este negócio não carece de obedecer a forma legal do trespasse, sendo aplicável a regra
da liberdade de forma. No entanto, esse contrato carece da ratificação, expressa ou
tácita, pelo credor (art.596ºCC). O antigo devedor só fica exonerado da dívida
havendo declaração expressa do credor, caso contrário, há aqui uma situação de
responsabilidade solidária dos devedores em face do credor (assunção cumulativa da
dívida) - art.595º/nº2 CC.
2. Transmissibilidade das dívidas ex lege
Dívidas relativas aos trabalhadores. Art.285º/nº2 CT. O trespassante continua
responsável pelas dívidas vencidas perante os trabalhadores, no entanto, esta
responsabilidade está limitada ao ano subsequente ao trespasse. Para além
disso, um dos efeitos do trespasse é o de tornar responsável ex lege o
transmissário pelas dívidas aos trabalhadores anteriores ao trespasse (dívidas
que não contraiu). Mas esta transmissibilidade está sujeita à observância dos
requisitos do art.285º/nº2 CC. Trata-se de um regime de solidariedade passiva
entre o transmitente e o transmissário relativamente aos valores devidos aos
trabalhadores.
Dívidas pela prática de contraordenação laboral. A solidariedade estende-se,
ainda no domínio laboral, às dívidas decorrentes de coimas aplicadas no âmbito
das contraordenações laborais (art.285/nº1 e 2 CT).
Dívidas à Segurança Social. Responsabilidade pelas prestações a entregar pela
entidade patronal à SS. Ora, os trabalhadores por conta de outrem são
obrigatoriamente inscritos pela entidade patronal como beneficiários do regime
da SS. Os trabalhadores e a entidade patronal estão vinculados a contribuir para
os regimes da SS a partir do momento em que exercem a atividade profissional.
Sendo que os trabalhadores descontam 11% do seu ordenado para a SS e a
entidade patronal desconta 23%. As respetivas entidades empregadoras são
responsáveis pelas contribuições dos seus trabalhadores, devendo descontar, nas
remunerações destes, esse valor. Ora, em caso de trespasse o cessionário
responde solidariamente com o cedente pelas dívidas à SS à data da
celebração do negócio, sendo nula qualquer cláusula em sentido contrário”. No
entanto, o interessado na aquisição do estabelecimento pode assegurar-se
previamente do montante relativo às contribuições em dívida à SS, requerendo
a esta entidade uma certidão comprovativa dos débitos do trespassante.
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área. Este dever de não concorrência decorre da obrigação do trespassante garantir a entrega
do estabelecimento, em globo, de todos os elementos transmitidos, sendo que não deve
perturbar o gozo do estabelecimento por parte do trespassário. O que ocorreria se se
aproveitasse da clientela.
Esta obrigação de não concorrência tem vários âmbitos:
Âmbito negocial
A trespassou o restaurante, mas dias após, adquiriu por trespasse outro restaurante ali ao
lado. Ou seja, está a tentar roubar a clientela. Isto não é possível. Qualquer negócio que permita
roubar a clientela ao estabelecimento trespassado não deve ser possível.
Âmbito objetivo
Foi trespassado um restaurante. À partida o A não pode adquirir um restaurante ali ao
lado. Mas esta realidade não é sempre clara. O que A fez foi abrir um restaurante de luxo, onde
a clientela não é a mesma, sendo que aqui não está a roubar a clientela do estabelecimento
trespassado. A pedra de toque é o tipo de clientela que se transmite, sendo que só em concreto é
que podemos ver isto.
Âmbito subjetivo
Princípio da eficácia relativa dos contratos, ou seja, os efeitos do contrato só se
produzem em relação às partes. Desta forma, se for a mulher de A abrir um restaurante ali ao
lado, ou os seus filhos, estes não estão vinculados ao contrato de trespasse. Há uma posição
doutrinária muito forte que obriga o cônjuge e os seus filhos de não fazer concorrência. No
entanto, temos sempre de ter em conta a eficácia relativa dos contratos, princípio do direito das
obrigações.
Âmbito espacial
Só casuisticamente é que é possível aferir. Exemplo: imaginemos que temos um
restaurante a 100m da UM, e a certa altura A trespassou a B o restaurante. Posteriormente, A
abre um restaurante no centro de Braga. Será que aqui vai afetar a clientela? Parece que não. No
entanto, se os estabelecimentos comercializarem produtos mais especializados, parece importar.
Âmbito temporal
A lei não regula esta matéria de todo. Em Itália temos e no Brasil também temos. A
doutrina e a jurisprudência têm entendido que se deve estabelecer um limite máximo de 5 anos
de não concorrência, no entanto, por convenção, as partes podem estabelecer um período da
obrigação da não concorrência menor.
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