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Setembro 2013 | N.º 69| Mensal Tiragem 500 exemplares | Distribuição
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Áreas de Intervenção
Bancário e Cambial ComercialContencioso Direito AdministrativoLaboral Migração
Recursos Naturais SocietárioTributário
Nota do Editor
Índice dorismo Nacional” e ain-
Caro Leitor:
Constituição de Segundo Penhor. Uma 2 da a questão da
Possibilidade? Neste número vamos “Constituição de Segundo
Sociedade de Capital e Indústria como uma 3 abordar o tema “O Novo Penhor. Uma Possibilida-
Alternativa para o Empreendedorismo
Nacional
Regime Jurídico da Insol- de?”.
O Novo Regime Jurídico da Insolvência e 4 vência e Recuperação de
Recuperação de Agentes Económicos
Agentes Económicos”, Pode ainda como habitual-
Novas Taxas a Pagar em Diversos Secto- outras formas de registo mente, consultar o nosso
res e Serviços 5
de sociedades no artigo Calendário Fiscal e a nova
Nova Legislação Publicada 6
“Sociedade de Capital e legislação publicada.
Obrigações Declarativas e Contributivas -
Calendário Fiscal 2013 - (Outubro)
6 Indústria como uma Alter-
nativa para o Empreende- Tenha uma boa leitura!
Ficha Técnica
Direcção: Jorge Soeiro
Edição, Grafismo e Montagem: Sónia Sultuane
Dispensa de Registo: Nº 125/GABINFO-DE/2005
Colaboradores: Miguel-Ângelo Almeida, Marla Mandlate, Olívia Ribeiro, Rute Nhata-
ve, Sérgio Arnaldo, Sheila da Silva.
Parceiros - Distinções
Proteja o ambiente: Por favor não imprima esta Newsletter se não for necessário
As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados, não veiculam necessariamente o posicionamento da Sal & Caldeira.
Constituição de Segundo Penhor. Uma Possibilidade?
O desenvolvimento de activida-
des comerciais está a depen-
der em grande medida do acesso
tuições bancárias e privadas e, por vezes, os bens existentes
não são suficientes para garantir tais créditos, vendo-se os
mesmos na contingência de prestar garantia sobre os mesmos
ao crédito no mercado financeiro. bens dados em penhor a outra instituição.
Este por sua vez está interligado à Esta situação de onerar o mesmo bem diversas vezes é pacífi-
capacidade de prestar garantias ao ca se tratando de hipoteca, sendo que o próprio Código Civil já
credor que garantam a satisfação prevê a possibilidade de constituir hipotecas de primeiro grau e
do crédito. de segundo grau. Entretanto o mesmo não se verifica no insti-
O ordenamento jurídico moçambi- tuto do penhor. O código Civil não prevê esta situação, de
cano prevê diversas formas de constituição de segundo penhor. As razões para a não regula-
garantias, que se dividem em: (i) ção desta possibilidade parecem-nos bastantes plausíveis e
garantias pessoais, quando para prendem-se com a eficácia do próprio penhor.
Marla Genoveva Mandlate
além do devedor, uma ou mais Ora, conforme aludido acima, a eficácia do penhor depende da
Advogada pessoas vinculam-se ao cumpri- entrega da coisa dada em penhor a favor do credor pignoratí-
mento da obrigação, respondendo cio, sendo portanto o devedor pignoratício desapossado da
mgmandlate@salcaldeira.com com os respectivos patrimónios; e mesma e, como tal, privado da livre disposição do mesmo.
(ii) garantias reais que são as que Nesses moldes, revela-se impossível conferir um segundo
constituem o credor no direito de fazer-se pagar, com preferên- penhor sobre o mesmo bem, se o mesmo já foi entregue ao
cia sobre os demais credores, pelo valor ou pelo rendimento primeiro credor como condicionalismo do penhor. Este segun-
de certos bens móveis ou imóveis. São exemplos de garantias do penhor não seria eficaz e portanto não produziria efeitos, o
reais, o penhor, a hipoteca, privilégios creditórios, a consigna- que significa que em caso de impossibilidade de reembolso do
ção de rendimentos, entre outros. A fiança e o aval são exem- crédito, o suposto credor pignoratício não poderia fazer-se
plos de garantias pessoais. pagar com os resultados da venda do bem dado em penhor.
O presente artigo irá debruçar-se sobre o penhor, mais especi- Outro argumento em desfavor da existência de um segundo
ficamente sobre a possibilidade de se constituir um segundo penhor é o facto de o próprio Código Civil, na parte referente
penhor sobre o mesmo bem, à semelhança do que acontece ao penhor, remeter para as disposições do instituto de hipote-
com a hipoteca. ca, claro que com os devidos ajustes. Ora, essa remissão não
O penhor encontra-se regulado no nosso ordenamento jurídico abrange os artigos referentes à constituição de segunda hipo-
pelo Código Civil e por outra legislação avulsa. teca. Denota-se aqui que nunca foi a intenção do legislador a
O Código Civil define o penhor como uma garantia real que possibilidade de constituição de um segundo penhor.
recai sobre bens móveis, conferindo ao credor o direito à satis- A única excepção à possibilidade de constituição de um
fação do seu crédito com preferência sobre os demais credo- segundo penhor resulta apenas no penhor bancário, onde a
res, pelo valor de certa coisa móvel. sua eficácia não está dependente da entrega da coisa empe-
Para que o penhor se torne eficaz, é necessário que se verifi- nhada. Sendo que o primeiro argumento apresentado acima
que a entrega da coisa empenhada ou de documentos que não se aplica a este tipo de penhor. Assim, nos casos de
confiram a exclusiva disponibilidade dela, ao credor ou a ter- penhor bancário, pode-se constituir um segundo penhor a
ceiro, podendo esta entrega consistir na atribuição da compos- favor de um segundo credor, seja este uma instituição bancá-
se, caso essa atribuição prive o devedor pignoratício da possi- ria autorizada ou não. Sendo que, se o segundo penhor for
bilidade de dispor materialmente da coisa. constituído a favor de uma entidade que não seja bancária, ter-
Significa isto que sem a privação da posse nos moldes acima se-á que verificar o desapossamento, pois trata-se de um
mencionados, o penhor não produz qualquer efeito. Este regi- penhor civil, cuja eficácia está dependente da entrega da coisa
me poderá resultar da inexistência de um registo para bens empenhada ao credor.
móveis no qual se possa inscrever o registo do penhor sobre O próprio Decreto-lei 29.833 prevê essa possibilidade no seu
esses bens móveis e garantir assim a publicidade do acto, de artigo 1, 1.º ao dispor que as penas de furto serão aplicadas
modo a que seja oponível a terceiros. Assim, por forma a asse- ao devedor pignoratício que volte a empenhar o bem dado em
gurar a existência do bem empenhado, a entrega do mesmo é penhor sem que o novo contrato de hipoteca mencione, de
a solução mais viável. modo expresso, a existência de penhores anteriores.
A única excepção a esta regra da privação da posse resulta do Assim, o único condicionalismo legal que se impõe à constitui-
penhor bancário, isto é, o penhor constituído a favor de uma ção de um segundo penhor, nos casos dos penhores bancá-
instituição bancária autorizada. rios, é a menção expressa da existência de penhor anterior.
Essa excepção foi introduzida pelo Decreto-lei 29.833, de 17 Entretanto, podem verificar-se condicionalismos contratuais,
de Agosto de 1939 que foi estendido a Moçambique através da sendo necessário verificar as disposições específicas no con-
Portaria n.º 9.811. Este Decreto-lei prevê a eficácia do penhor trato de financiamento bancário, que muitas vezes contém
constituído em garantia de créditos de estabelecimentos ban- uma cláusula de autorização prévia pelo credor em caso de
cários autorizados, sem necessidade de entrega da coisa disposição ou oneração dos bens dado em penhor.
empenhada ao credor. É necessário ter-se em atenção que a excepção acima previs-
Esta excepção foi uma forma de dinamizar as relações comer- ta apenas se poderá verificar nos casos em que o primeiro
ciais. O regime civil significava para o devedor, que de modo a penhor seja bancário, pois o bem continua na posse do deve-
financiar a sua actividade tinha de prestar garantia e se tratan- dor pignoratício. Na situação contrária, isto é, em que o primei-
do de coisa móvel, o penhor, tendo portanto que ser desapos- ro penhor é civil, o segundo penhor, ainda que seja a favor de
sado do bem dado em penhor, que, muitas vezes, é o bem uma instituição bancária autorizada, não é possível, pois o
necessário ao desenvolvimento da actividade, significando isto devedor pignoratício já não poderá onerar o bem dado em
uma impossibilidade na viabilização da actividade económica. penhor, visto não possuir a posse do mesmo.
Com este instrumento legal, o devedor continua na posse do Nesses moldes, podemos concluir que o penhor civil é único e
bem dado em penhor e, portanto, pode continuar a exercer a singular, não podendo o bem dado em penhor ser empenhado
sua actividade comercial, beneficiando do crédito necessário uma segunda vez, à excepção do penhor bancário, com os
para tal. condicionalismos acima mencionados.
Entretanto, o devedor pignoratício é tido nesta relação como A discussão aqui levantada realça uma vez mais a necessida-
um possuidor em nome alheio, sendo que se encontra sujeito de de existência de um registo de bens móveis para que o
às penas de furto em caso de alienar, modificar, destruir ou instituto do penhor se possa coadunar com a conjuntura eco-
desencaminhar o objecto sem autorização escrita do credor e nómica e social actual e dinamizar o acesso ao crédito pelo
ainda no caso de voltar a empenhar o bem sem que o novo reforço da segurança permitida pelo registo devido à publicida-
contrato de penhor mencione expressamente a existência de de que a mesma confere e a oponibilidade a terceiros, ao mes-
penhores anteriores. mo tempo que permite ao devedor a possibilidade de manuten-
Ora, tendo em conta a dinâmica do mercado financeiro e o ção na sua esfera das ferramentas necessárias ao desenvolvi-
volume de negócios, o comerciante/empresário vê-se diversas mento do seu negócio.
vezes na necessidade de obter financiamento em várias insti-
Introdução
O Regime Jurídico da Insolvên-
cia e da Recuperação de Empre-
mónio, injustiça para alguns credores e vendas abaixo do
valor comercial de certos bens.
Por causa da morosidade e incerteza no processo de recu-
sários Comerciais, aprovado pelo peração de créditos em casos de insolvência, os bancos
Decreto-Lei n.º 1/2013 de 4 de comerciais, que são os pilares do sistema financeiro, ten-
Julho (DL 1/2013), que entrará dem a elevar os critérios de avaliação de risco de crédito e,
em vigor em Outubro de 2013, consequentemente, tornam acesso ao financiamento mais
vem revogar o regime de falên- difícil. Isto é, os bancos comerciais exigem seguro e docu-
cias e insolvências previsto no mentos que provem estabilidade financeira do mutuário,
Código de Processo Civil (CPC) e mesmo que este tenha bens que podem ser usados como
em outra legislação avulsa, o qual garantia em caso de cumprimento. Em sistemas financeiros
Miguel-Ângelo Almeida se mostrava antiquado, moroso e com regimes de insolvência mais estáveis e certos, o foco
Advogado não se coadunava com a realida- na avaliação de crédito é a existência ou não de garantia e
de económica do país. Moçambi- não necessariamente a estabilidade financeira da empresa,
malmeida@salcaldeira.com
que é um dos 29 países a efec- porque os bancos comerciais estão assegurados que, em
tuar reformas significativas ao seu regime de insolvência caso de insolvência, o processo é célere, transparente e os
nos últimos 4 anos, o que é sinónimo da importância global seus direitos estão relativamente protegidos na recupera-
deste instrumento legal relativamente pouco conhecido em ção do crédito.
Moçambique. Pela primeira vez temos um instrumento A gestão de insolvências pode tornar-se numa profissão
dedicado à insolvência e recuperação judicial, sendo impor- independente e interessante para advogados e outros pro-
tante um melhor conhecimento dos conceitos de insolvên- fissionais especializados na área, que desempenhem o
cia e recuperação judicial. papel de administradores de insolvências. Contudo, a cria-
O presente artigo, que será apenas introdutório, é o primei- ção desta área de especialização não pode ter sucesso
ro de uma série de artigos dedicados à insolvência, suas perante o actual quadro legal. Assim sendo, a criação de
implicações e impacto na nossa economia e sistema jurídi- uma profissão independente em volta da administração de
co. insolvência depende de um sistema legal e judicial que
O que é insolvência? garanta rapidez e eficácia na marcha dos processos de
Em termos gerais, a insolvência é a incapacidade do deve- insolvência.
dor em cumprir com as suas obrigações perante os credo- O DL 1/2013 pode ser a solução que esperávamos, desde
res. Portanto, um insolvente não consegue cumprir com as que se criem os mecanismos para a implementação ade-
suas obrigações. quada do mesmo, o qual surge da necessidade de adequar
Os termos falência e insolvência são muitas vezes confun- o instituto da insolvência à dinâmica do desenvolvimento
didos e usados de maneira similar, quando na verdade económico, à premência do melhoramento de negócios no
trata-se de termos com significados jurídicos distintos. país, bem como ao imperativo de segurança jurídica e cele-
No regime actual, o comerciante impossibilitado de cumprir ridade processual.
com as suas obrigações considera-se em estado de falên- O que é Recuperação Judicial?
cia. O devedor não comerciante pode ser declarado em A recuperação judicial tem por objectivo viabilizar a supera-
estado de insolvência quando o activo do seu património ção da situação de impossibilidade de cumprimento das
seja inferior ao passivo. A distinção está na qualidade do obrigações. Basicamente os devedores que satisfizerem os
devedor. requisitos exigidos por lei poderão adoptar um dos meios
O novo regime elimina a distinção da qualidade do deve- de recuperação estabelecidos no DL 1/2013 e tentar recu-
dor, considerando comerciantes e não comerciantes inca- perar a empresa e satisfazer os créditos reajustados ao
pacitados de cumprir com os seus compromissos perante plano de recuperação. Uma vez aprovado o plano de recu-
os seus credores como insolventes. O principal objectivo do peração pelo tribunal, os credores não poderão exigir os
abandono do termo falência foi de obviar à conotação seus créditos de forma contrária ao plano de recuperação.
negativa que o mesmo tinha. O termo usado no novo regi- A recuperação judicial aumenta as probabilidades de num
me é somente “insolvência”. futuro mais ou menos próximo os credores recuperarem os
Quando uma empresa ou individuo requer a insolvência, o créditos devidos na totalidade, ao invés de imediatamente
tribunal nomeia um Administrador de Insolvência, que será verem satisfeita apenas uma fracção do seu crédito, desde
responsável gerir a massa insolvente e, quando aplicável, que a empresa mostre potencial de recuperação, uma vez
tentar recuperar a empresa num determinado período de adoptados os meios de recuperação.
tempo. Este é o aspecto mais avançado e inovador do DL 1/2013,
Qual é a importância do regime jurídico da insolvência? talvez até avançado demais para os nossos conceitos tradi-
O regime jurídico da insolvência tem consequências cionais de sucesso empresarial. Diferente de, por exemplo,
socioeconómicas e legais para um país. os Norte-Americanos, que dão segundas oportunidades a
A celeridade, flexibilidade e a eficácia do regime de insol- negócios falhados se a falha não for por negligência ou
vência tem um impacto sobre o sistema financeiro e judi- fraude, em Moçambique a insolvência é um tabu e há um
cial. Actualmente, um processo de insolvência leva cerca estigma associado à falha de cumprimento das obrigações
de 5 anos para ser concluído, com enormes gastos finan- financeiras. A primeira reacção é de colocar a sociedade
ceiros para os credores e próprio devedor, sem falar do em lista negra e recuperar o que se pode o mais rápido
desgaste psicológico em ter que esperar 5 anos para liqui- possível, ao invés de se investigarem as razões por detrás
dar a massa insolvente e satisfazer as dívidas. Durante do incumprimento e sobre a viabilidade do negócio, de
este período, o património pode ser diminuído, com a agra- modo a permitir a continuidade deste e a salvaguarda do
vante de em Moçambique a taxa de recuperação da divida emprego dos colaboradores da mesma. Só o futuro dirá.
ser muito baixa para os credores. Para evitar este processo Uma vez introduzido o tópico, as próximas edições irão
oneroso e incerto, muitos credores, com ou sem garantias, focalizar-se em aspectos mais técnicos do DL 1/2013 e as
tendem a optar pela cobrança dos seus créditos o mais consequências, algumas inesperadas, de algumas das
rápido possível antes da declaração da insolvência, resul- suas disposições.
tando isso normalmente em confusão na gestão do patri-
Lei n.º 15.2013 - Lei que estabelece o Estatuto dos Juízes Eleitos.
Sérgio Ussene Arnaldo IRPC 20 Entrega do imposto retido durante o mês de Setembro de 2013.
Consultor Fiscal e Financeiro
sussene@salcaldeira.com
Imposto 20 Entregar as importâncias devidas pela emissão de letras e livranças, pela utilização de
de Selo créditos em operações financeiras referentes ao mês de Setembro de 2013.
ICE 31 Entrega da Declaração, pelas entidades sujeitas a ICE, relativa a bens produzidos no
País fora de armazém de regime aduaneiro, conjuntamente com a entrega do imposto
liquidado (nº 2 do artigo 4 do Regulamento do ICE).