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A D V O G A D O S, L D A.

Newsletter
Setembro 2013 | N.º 69| Mensal Tiragem 500 exemplares | Distribuição

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Áreas de Intervenção
Bancário e Cambial ComercialContencioso Direito AdministrativoLaboral Migração
Recursos Naturais SocietárioTributário

Nota do Editor
Índice dorismo Nacional” e ain-
Caro Leitor:
Constituição de Segundo Penhor. Uma 2 da a questão da
Possibilidade? Neste número vamos “Constituição de Segundo
Sociedade de Capital e Indústria como uma 3 abordar o tema “O Novo Penhor. Uma Possibilida-
Alternativa para o Empreendedorismo
Nacional
Regime Jurídico da Insol- de?”.
O Novo Regime Jurídico da Insolvência e 4 vência e Recuperação de
Recuperação de Agentes Económicos
Agentes Económicos”, Pode ainda como habitual-
Novas Taxas a Pagar em Diversos Secto- outras formas de registo mente, consultar o nosso
res e Serviços 5
de sociedades no artigo Calendário Fiscal e a nova
Nova Legislação Publicada 6
“Sociedade de Capital e legislação publicada.
Obrigações Declarativas e Contributivas -
Calendário Fiscal 2013 - (Outubro)
6 Indústria como uma Alter-
nativa para o Empreende- Tenha uma boa leitura!

Ficha Técnica
Direcção: Jorge Soeiro
Edição, Grafismo e Montagem: Sónia Sultuane
Dispensa de Registo: Nº 125/GABINFO-DE/2005
Colaboradores: Miguel-Ângelo Almeida, Marla Mandlate, Olívia Ribeiro, Rute Nhata-
ve, Sérgio Arnaldo, Sheila da Silva.

Parceiros - Distinções

Proteja o ambiente: Por favor não imprima esta Newsletter se não for necessário

As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados, não veiculam necessariamente o posicionamento da Sal & Caldeira.
Constituição de Segundo Penhor. Uma Possibilidade?

O desenvolvimento de activida-
des comerciais está a depen-
der em grande medida do acesso
tuições bancárias e privadas e, por vezes, os bens existentes
não são suficientes para garantir tais créditos, vendo-se os
mesmos na contingência de prestar garantia sobre os mesmos
ao crédito no mercado financeiro. bens dados em penhor a outra instituição.
Este por sua vez está interligado à Esta situação de onerar o mesmo bem diversas vezes é pacífi-
capacidade de prestar garantias ao ca se tratando de hipoteca, sendo que o próprio Código Civil já
credor que garantam a satisfação prevê a possibilidade de constituir hipotecas de primeiro grau e
do crédito. de segundo grau. Entretanto o mesmo não se verifica no insti-
O ordenamento jurídico moçambi- tuto do penhor. O código Civil não prevê esta situação, de
cano prevê diversas formas de constituição de segundo penhor. As razões para a não regula-
garantias, que se dividem em: (i) ção desta possibilidade parecem-nos bastantes plausíveis e
garantias pessoais, quando para prendem-se com a eficácia do próprio penhor.
Marla Genoveva Mandlate
além do devedor, uma ou mais Ora, conforme aludido acima, a eficácia do penhor depende da
Advogada pessoas vinculam-se ao cumpri- entrega da coisa dada em penhor a favor do credor pignoratí-
mento da obrigação, respondendo cio, sendo portanto o devedor pignoratício desapossado da
mgmandlate@salcaldeira.com com os respectivos patrimónios; e mesma e, como tal, privado da livre disposição do mesmo.
(ii) garantias reais que são as que Nesses moldes, revela-se impossível conferir um segundo
constituem o credor no direito de fazer-se pagar, com preferên- penhor sobre o mesmo bem, se o mesmo já foi entregue ao
cia sobre os demais credores, pelo valor ou pelo rendimento primeiro credor como condicionalismo do penhor. Este segun-
de certos bens móveis ou imóveis. São exemplos de garantias do penhor não seria eficaz e portanto não produziria efeitos, o
reais, o penhor, a hipoteca, privilégios creditórios, a consigna- que significa que em caso de impossibilidade de reembolso do
ção de rendimentos, entre outros. A fiança e o aval são exem- crédito, o suposto credor pignoratício não poderia fazer-se
plos de garantias pessoais. pagar com os resultados da venda do bem dado em penhor.
O presente artigo irá debruçar-se sobre o penhor, mais especi- Outro argumento em desfavor da existência de um segundo
ficamente sobre a possibilidade de se constituir um segundo penhor é o facto de o próprio Código Civil, na parte referente
penhor sobre o mesmo bem, à semelhança do que acontece ao penhor, remeter para as disposições do instituto de hipote-
com a hipoteca. ca, claro que com os devidos ajustes. Ora, essa remissão não
O penhor encontra-se regulado no nosso ordenamento jurídico abrange os artigos referentes à constituição de segunda hipo-
pelo Código Civil e por outra legislação avulsa. teca. Denota-se aqui que nunca foi a intenção do legislador a
O Código Civil define o penhor como uma garantia real que possibilidade de constituição de um segundo penhor.
recai sobre bens móveis, conferindo ao credor o direito à satis- A única excepção à possibilidade de constituição de um
fação do seu crédito com preferência sobre os demais credo- segundo penhor resulta apenas no penhor bancário, onde a
res, pelo valor de certa coisa móvel. sua eficácia não está dependente da entrega da coisa empe-
Para que o penhor se torne eficaz, é necessário que se verifi- nhada. Sendo que o primeiro argumento apresentado acima
que a entrega da coisa empenhada ou de documentos que não se aplica a este tipo de penhor. Assim, nos casos de
confiram a exclusiva disponibilidade dela, ao credor ou a ter- penhor bancário, pode-se constituir um segundo penhor a
ceiro, podendo esta entrega consistir na atribuição da compos- favor de um segundo credor, seja este uma instituição bancá-
se, caso essa atribuição prive o devedor pignoratício da possi- ria autorizada ou não. Sendo que, se o segundo penhor for
bilidade de dispor materialmente da coisa. constituído a favor de uma entidade que não seja bancária, ter-
Significa isto que sem a privação da posse nos moldes acima se-á que verificar o desapossamento, pois trata-se de um
mencionados, o penhor não produz qualquer efeito. Este regi- penhor civil, cuja eficácia está dependente da entrega da coisa
me poderá resultar da inexistência de um registo para bens empenhada ao credor.
móveis no qual se possa inscrever o registo do penhor sobre O próprio Decreto-lei 29.833 prevê essa possibilidade no seu
esses bens móveis e garantir assim a publicidade do acto, de artigo 1, 1.º ao dispor que as penas de furto serão aplicadas
modo a que seja oponível a terceiros. Assim, por forma a asse- ao devedor pignoratício que volte a empenhar o bem dado em
gurar a existência do bem empenhado, a entrega do mesmo é penhor sem que o novo contrato de hipoteca mencione, de
a solução mais viável. modo expresso, a existência de penhores anteriores.
A única excepção a esta regra da privação da posse resulta do Assim, o único condicionalismo legal que se impõe à constitui-
penhor bancário, isto é, o penhor constituído a favor de uma ção de um segundo penhor, nos casos dos penhores bancá-
instituição bancária autorizada. rios, é a menção expressa da existência de penhor anterior.
Essa excepção foi introduzida pelo Decreto-lei 29.833, de 17 Entretanto, podem verificar-se condicionalismos contratuais,
de Agosto de 1939 que foi estendido a Moçambique através da sendo necessário verificar as disposições específicas no con-
Portaria n.º 9.811. Este Decreto-lei prevê a eficácia do penhor trato de financiamento bancário, que muitas vezes contém
constituído em garantia de créditos de estabelecimentos ban- uma cláusula de autorização prévia pelo credor em caso de
cários autorizados, sem necessidade de entrega da coisa disposição ou oneração dos bens dado em penhor.
empenhada ao credor. É necessário ter-se em atenção que a excepção acima previs-
Esta excepção foi uma forma de dinamizar as relações comer- ta apenas se poderá verificar nos casos em que o primeiro
ciais. O regime civil significava para o devedor, que de modo a penhor seja bancário, pois o bem continua na posse do deve-
financiar a sua actividade tinha de prestar garantia e se tratan- dor pignoratício. Na situação contrária, isto é, em que o primei-
do de coisa móvel, o penhor, tendo portanto que ser desapos- ro penhor é civil, o segundo penhor, ainda que seja a favor de
sado do bem dado em penhor, que, muitas vezes, é o bem uma instituição bancária autorizada, não é possível, pois o
necessário ao desenvolvimento da actividade, significando isto devedor pignoratício já não poderá onerar o bem dado em
uma impossibilidade na viabilização da actividade económica. penhor, visto não possuir a posse do mesmo.
Com este instrumento legal, o devedor continua na posse do Nesses moldes, podemos concluir que o penhor civil é único e
bem dado em penhor e, portanto, pode continuar a exercer a singular, não podendo o bem dado em penhor ser empenhado
sua actividade comercial, beneficiando do crédito necessário uma segunda vez, à excepção do penhor bancário, com os
para tal. condicionalismos acima mencionados.
Entretanto, o devedor pignoratício é tido nesta relação como A discussão aqui levantada realça uma vez mais a necessida-
um possuidor em nome alheio, sendo que se encontra sujeito de de existência de um registo de bens móveis para que o
às penas de furto em caso de alienar, modificar, destruir ou instituto do penhor se possa coadunar com a conjuntura eco-
desencaminhar o objecto sem autorização escrita do credor e nómica e social actual e dinamizar o acesso ao crédito pelo
ainda no caso de voltar a empenhar o bem sem que o novo reforço da segurança permitida pelo registo devido à publicida-
contrato de penhor mencione expressamente a existência de de que a mesma confere e a oponibilidade a terceiros, ao mes-
penhores anteriores. mo tempo que permite ao devedor a possibilidade de manuten-
Ora, tendo em conta a dinâmica do mercado financeiro e o ção na sua esfera das ferramentas necessárias ao desenvolvi-
volume de negócios, o comerciante/empresário vê-se diversas mento do seu negócio.
vezes na necessidade de obter financiamento em várias insti-

SAL & Caldeira Newsletter Página 2/6 Setembro/2013


Sociedade de Capital e Indústria como uma Alternativa para o Empreendedorismo Nacional

A ntes de entrarmos no tema a


que nos propusemos debruçar,
importa antes de mais aflorar que
deve pertencer a um ou mais sócios capitalistas ou a quem
estes delegarem poderes, podendo, no entanto, o sócio de
indústria exercer o cargo de administrador mediante prestação
existem 5 (cinco) tipos societários de caução, cujo valor deve estar fixado no contrato de socieda-
estabelecidos na legislação de e, caso a mesma não se encontre fixada, a mesma deverá
moçambicana, conforme se ser igual ao valor do capital subscrito pelos sócios capitalistas
depreende do artigo 82º do Código e será destinada, exclusivamente, a responder pelos actos de
Comercial, aprovado pelo Decreto- má administração eventualmente praticados.
Lei n.º 2/2005 de 27 de Dezembro Uma vez que o sócio de indústria participa no capital social
com as alterações introduzidas através do trabalho que irá prestar à sociedade, prevê-se que,
pelo Decreto-Lei 2/2009, de 24 de salvo quando o contrato de sociedade o permita, o mesmo está
Olívia Picardo Ribeiro Abril, (doravante designado por proibido de empregar-se em qualquer operação comercial
Advogada
“Cco”), designadamente: estranha ao objecto da sociedade, sob pena de ser privado dos
oribeiro@salcaldeira.com a) Sociedades em nome colecti- lucros e excluídos da sociedade por esse facto.
vo; Finalmente, o artigo 282 do Cco estipula que, em caso de liqui-
b) Sociedades de capital e indústria, dação, cabe ao sócio de indústria o direito a uma parte do
c) Sociedades em comandita; acervo da sociedade. Este direito do sócio só se realiza depois
d) Sociedades por quotas; e de liquidada a sociedade e após a devolução aos sócios capi-
e) Sociedades anónimas. talistas das suas respectivas quotas de capital. Se houver
Nos últimos anos está a verificar-se uma avalanche de solicita- algum lucro remanescente, o mesmo é repartido entre todos os
ções de constituição de sociedades por investidores estrangei- sócios na proporção estipulada no contrato de sociedade.
ros nas mais diversas áreas e, em alguns casos, com recurso Pese embora as restrições impostas ao sócio de indústria,
a parcerias com pessoas singulares ou colectivas moçambica- como por exemplo a não administração, excepto mediante
nas. Dos tipos societários acima listados, apenas dois são prestação de caução, que parece resultar em vantagens apa-
usados frequentemente (as sociedades por quotas e as socie- rentes ao sócio capitalista, este tipo societário poderá constituir
dades anónimas). uma grande vantagem para ambos sócios, na medida em que
Por desconhecimento por parte dos investidores do mercado, permite ao investidor capitalista, que pode não ter o “know-
da legislação Moçambicana ou das vantagens que a parceria how” para desenvolver certo tipo de actividades mas possui
local pode oferecer, os restantes tipos de sociedades estão a capital para tal, unir-se a quem não tenha meios económicos
cair em desuso, talvez devido às suas características que por para exercer uma actividade comercial, mas detém conheci-
alguns consideradas como não ajustadas ao dinamismo da mentos e capacidades técnicas de grande valor.
vida económica actual. Sabemos ainda que um dos empecilhos ao desenvolvimento
No entanto, dessas sociedades em desuso, cremos que a do empreendedorismo nacional é a falta de capital para a apli-
sociedade de capital e indústria, à qual se cingirá o nosso arti- cação nos investimentos ou projectos de investimento, sendo
go, pode perfeitamente adequar-se à actual conjuntura sócio que o recurso à banca ainda constitui um entrave, na medida
económica do país e ao espírito empreendedor que tem carac- em que são solicitadas garantias para o financiamento que
terizado a nossa sociedade. muitos empreendedores nacionais ainda não têm condições de
Assim, faremos uma análise deste tipo societário que, apesar disponibilizar.
de ter sido uma inovação introduzida pela revisão do Cco de Nestes pressupostos, parece que a figura da sociedade de
2005, tem havido pouco ou quase nenhum recurso a esta figu- capital e indústria veio trazer uma alternativa viável para a con-
ra, talvez até pela sua fraca divulgação. cretização das iniciativas empreendedoras, por permitir que
As sociedades de capital e indústria são regidas pelo Código quem estando apenas munido de conhecimento técnico possa
Comercial, nos artigos 278 à 282, e caracterizam-se por pos- juntar-se com quem tenha capacidade financeira, seja investi-
suir 2 (dois) tipos de sócios: (i) os sócios que contribuem para dor nacional ou estrangeiro e criar uma sociedade comercial
a formação do capital com dinheiro, créditos ou outros bens sem ter que assumir os encargos que daí advêm, bem como
materiais, os quais são designados sócios capitalistas e que estar sujeito aos condicionalismos e exigências da banca
limitam a sua responsabilidade ao valor da contribuição que nacional.
subscrevem para o capital social e (ii) os sócios que não contri- Este tipo societário é também uma saída adequada para os
buem para o capital social, mas ingressam na sociedade com o jovens recém-formados que, estando dotados de conhecimen-
seu trabalho, designados sócios de indústria, os quais estão tos adquiridos nas universidades ou outras instituições de for-
isentos de qualquer responsabilidade pelas dívidas sociais. mação, vêm-se limitados a implementar as suas iniciativas por
O sócio capitalista deverá subscrever a totalidade do capital falta de capacidade financeira e de garantias para o obter
social em valores fixos e sem a consequente divisão em quo- financiamento junto das instituições financeiras.
tas, significando isto que pese embora o sócio de indústria Aliás, este tipo de sociedade apresenta-se ainda como um
constar nos documentos da empresa como sócio, não precisa veículo inicial para o desenvolvimento de actividades entre o
de realizar o capital correspondente à sua participação social, tipo de sócios aqui caracterizados, podendo as restrições que
mas beneficia, mesmo assim, dos direitos inerentes à sua qua- se colocam a cada tipo de sócio serem posteriormente removi-
lidade. das através da transformação numa sociedade por quotas em
Devido ao facto de o sócio de indústria não contribuir para o que os direitos de cada sócio são mais paritários.
capital social da sociedade, os estatutos da sociedade, para É pois pertinente que se divulgue mais a sociedade de capital
além das cláusulas gerais previstas no artigo 92 do Cco, e indústria, de modo a que não se tenha apenas em mente a
devem especialmente dispor sobre as obrigações do sócio ou contribuição monetária ou em espécie como requisitos para a
sócios de indústria e a percentagem que cabe a estes nos constituição de sociedades comerciais, como tem sido a práti-
lucros sociais. Em caso de omissão do contrato de sociedade, ca, mas também se tenha em conta este tipo societário como
presume-se que a participação do sócio nos lucros será igual à um impulsionador rumo à concretização de iniciativas
do sócio capitalista de menor participação no capital. empreendedoras.
Relativamente à administração, o CCo dispõe que a mesma

SAL & Caldeira Newsletter Página 3/6 Setembro/2013


O Novo Regime Jurídico da Insolvência e Recuperação de Agentes Económicos

Introdução
O Regime Jurídico da Insolvên-
cia e da Recuperação de Empre-
mónio, injustiça para alguns credores e vendas abaixo do
valor comercial de certos bens.
Por causa da morosidade e incerteza no processo de recu-
sários Comerciais, aprovado pelo peração de créditos em casos de insolvência, os bancos
Decreto-Lei n.º 1/2013 de 4 de comerciais, que são os pilares do sistema financeiro, ten-
Julho (DL 1/2013), que entrará dem a elevar os critérios de avaliação de risco de crédito e,
em vigor em Outubro de 2013, consequentemente, tornam acesso ao financiamento mais
vem revogar o regime de falên- difícil. Isto é, os bancos comerciais exigem seguro e docu-
cias e insolvências previsto no mentos que provem estabilidade financeira do mutuário,
Código de Processo Civil (CPC) e mesmo que este tenha bens que podem ser usados como
em outra legislação avulsa, o qual garantia em caso de cumprimento. Em sistemas financeiros
Miguel-Ângelo Almeida se mostrava antiquado, moroso e com regimes de insolvência mais estáveis e certos, o foco
Advogado não se coadunava com a realida- na avaliação de crédito é a existência ou não de garantia e
de económica do país. Moçambi- não necessariamente a estabilidade financeira da empresa,
malmeida@salcaldeira.com
que é um dos 29 países a efec- porque os bancos comerciais estão assegurados que, em
tuar reformas significativas ao seu regime de insolvência caso de insolvência, o processo é célere, transparente e os
nos últimos 4 anos, o que é sinónimo da importância global seus direitos estão relativamente protegidos na recupera-
deste instrumento legal relativamente pouco conhecido em ção do crédito.
Moçambique. Pela primeira vez temos um instrumento A gestão de insolvências pode tornar-se numa profissão
dedicado à insolvência e recuperação judicial, sendo impor- independente e interessante para advogados e outros pro-
tante um melhor conhecimento dos conceitos de insolvên- fissionais especializados na área, que desempenhem o
cia e recuperação judicial. papel de administradores de insolvências. Contudo, a cria-
O presente artigo, que será apenas introdutório, é o primei- ção desta área de especialização não pode ter sucesso
ro de uma série de artigos dedicados à insolvência, suas perante o actual quadro legal. Assim sendo, a criação de
implicações e impacto na nossa economia e sistema jurídi- uma profissão independente em volta da administração de
co. insolvência depende de um sistema legal e judicial que
O que é insolvência? garanta rapidez e eficácia na marcha dos processos de
Em termos gerais, a insolvência é a incapacidade do deve- insolvência.
dor em cumprir com as suas obrigações perante os credo- O DL 1/2013 pode ser a solução que esperávamos, desde
res. Portanto, um insolvente não consegue cumprir com as que se criem os mecanismos para a implementação ade-
suas obrigações. quada do mesmo, o qual surge da necessidade de adequar
Os termos falência e insolvência são muitas vezes confun- o instituto da insolvência à dinâmica do desenvolvimento
didos e usados de maneira similar, quando na verdade económico, à premência do melhoramento de negócios no
trata-se de termos com significados jurídicos distintos. país, bem como ao imperativo de segurança jurídica e cele-
No regime actual, o comerciante impossibilitado de cumprir ridade processual.
com as suas obrigações considera-se em estado de falên- O que é Recuperação Judicial?
cia. O devedor não comerciante pode ser declarado em A recuperação judicial tem por objectivo viabilizar a supera-
estado de insolvência quando o activo do seu património ção da situação de impossibilidade de cumprimento das
seja inferior ao passivo. A distinção está na qualidade do obrigações. Basicamente os devedores que satisfizerem os
devedor. requisitos exigidos por lei poderão adoptar um dos meios
O novo regime elimina a distinção da qualidade do deve- de recuperação estabelecidos no DL 1/2013 e tentar recu-
dor, considerando comerciantes e não comerciantes inca- perar a empresa e satisfazer os créditos reajustados ao
pacitados de cumprir com os seus compromissos perante plano de recuperação. Uma vez aprovado o plano de recu-
os seus credores como insolventes. O principal objectivo do peração pelo tribunal, os credores não poderão exigir os
abandono do termo falência foi de obviar à conotação seus créditos de forma contrária ao plano de recuperação.
negativa que o mesmo tinha. O termo usado no novo regi- A recuperação judicial aumenta as probabilidades de num
me é somente “insolvência”. futuro mais ou menos próximo os credores recuperarem os
Quando uma empresa ou individuo requer a insolvência, o créditos devidos na totalidade, ao invés de imediatamente
tribunal nomeia um Administrador de Insolvência, que será verem satisfeita apenas uma fracção do seu crédito, desde
responsável gerir a massa insolvente e, quando aplicável, que a empresa mostre potencial de recuperação, uma vez
tentar recuperar a empresa num determinado período de adoptados os meios de recuperação.
tempo. Este é o aspecto mais avançado e inovador do DL 1/2013,
Qual é a importância do regime jurídico da insolvência? talvez até avançado demais para os nossos conceitos tradi-
O regime jurídico da insolvência tem consequências cionais de sucesso empresarial. Diferente de, por exemplo,
socioeconómicas e legais para um país. os Norte-Americanos, que dão segundas oportunidades a
A celeridade, flexibilidade e a eficácia do regime de insol- negócios falhados se a falha não for por negligência ou
vência tem um impacto sobre o sistema financeiro e judi- fraude, em Moçambique a insolvência é um tabu e há um
cial. Actualmente, um processo de insolvência leva cerca estigma associado à falha de cumprimento das obrigações
de 5 anos para ser concluído, com enormes gastos finan- financeiras. A primeira reacção é de colocar a sociedade
ceiros para os credores e próprio devedor, sem falar do em lista negra e recuperar o que se pode o mais rápido
desgaste psicológico em ter que esperar 5 anos para liqui- possível, ao invés de se investigarem as razões por detrás
dar a massa insolvente e satisfazer as dívidas. Durante do incumprimento e sobre a viabilidade do negócio, de
este período, o património pode ser diminuído, com a agra- modo a permitir a continuidade deste e a salvaguarda do
vante de em Moçambique a taxa de recuperação da divida emprego dos colaboradores da mesma. Só o futuro dirá.
ser muito baixa para os credores. Para evitar este processo Uma vez introduzido o tópico, as próximas edições irão
oneroso e incerto, muitos credores, com ou sem garantias, focalizar-se em aspectos mais técnicos do DL 1/2013 e as
tendem a optar pela cobrança dos seus créditos o mais consequências, algumas inesperadas, de algumas das
rápido possível antes da declaração da insolvência, resul- suas disposições.
tando isso normalmente em confusão na gestão do patri-

SAL & Caldeira Newsletter Página 4/6 Setembro/2013


Novas Taxas a Pagar em Diversos Sectores e Serviços
Informação sobre as Taxas a cobrar pelo fabrico de substâncias Explosivas e material Conexo

Decreto nº 40/2013 de 21 de Agosto


Regulamento da Lei sobre Substâncias Explosivas
O presente regulamento estabelece os procedimentos a serem observados para o licenciamento, fabrico, armazena-
mento, comércio, porte, detenção, uso, importação, exportação, reexportação, trânsito, abate e transporte, assim como
as medidas de segurança a serem adoptadas pelos utilizadores de substâncias explosivas.
De acordo com o Anexo II, as taxas a cobrar pelo fabrico de substâncias explosivas e material conexo são as seguintes:
Tabela A (Artigo 89)
Fabrico de Substâncias Explosivas

N/O Por cada quilograma ou fracção de 1 a 1000 gramas Em meticais


1 Dinamite ou análogos de dinamite 35,00
2 Pólvoras físicas ou químicas 35,00
3 Detonadores de qualquer espécie 35,00
4 Artifícios pirotécnicos 35,00
5 Por cada meada de 10 m de rastilho ou cordão detonante 35,00

Tabela B (Artigo 52)


Exportação, reexportação, trânsito e abate de substâncias explosivas

N/O Por cada quilograma ou fracção de 1 a 1000 gramas Em meticais


1 Dinamite ou análogos de dinamite 5,00
2 Pólvoras físicas ou químicas 5,00
3 Detonadores de qualquer espécie 5,00
4 Artifícios pirotécnicos 5,00
5 Por cada meada de 10 m de rastilho ou cordão detonante 5,00

Tabela C (Artigo 89 e alínea b) do artigo 92)


Compra local e importação de substâncias explosivas

N/O Por cada quilograma ou fracção de 1 a 1000 gramas Em meticais


Nacional Estrangeiro
1 Dinamite ou análogos de dinamite 10,00 35,00
2 Cloratos ou outras substâncias empregadas na indústria de explosivos 10,00 35,00
que ofereçam perigo de explosão
3 Pólvoras físicas ou químicas 10,00 35,00
4 Detonadores de qualquer espécie 10,00 35,00
5 Artifícios pirotécnicos 10,00 35,00
6 Por cada meada de 10 m de rastilho ou cordão detonante 10,00 35,00
7 Nitrato de amónio 10,00 35,00

Tabela D (nº 3 do artigo 89)


Emissão de licença

N/O Taxas diversas Em meticais


1ª Via 1ª Via
1 Licenças de importação de substâncias explosivas e artifícios piro- 20 000,00 25 000,00
técnicos
2 Licença de compra de Substâncias explosivas ou de outras não 20 000,00 25 000,00
designadas especialmente nesta tabela

Tabela E (Artigo 12 e alíneas a) e c) do artigo 92)


Valor da importância a depositar para a organização e andamento do processo de licenciamento e pagamento de vistoria
N/O Unidade de Produção e Armazenamento Meticais
1 Fábricas 50.000,00
2 Oficinas 50.000,00
3 Paióis 50.000,00
4 Paiolins 40.000,00
5 Depósitos 40.000,00

SAL & Caldeira Newsletter Página 5/6 Setembro/2013


Nova Legislação Publicada
Lei n.º 13.2013 - prova a Orgânica da Assembleia da República e revoga a Lei n.º
31.2009.

Lei n.º 15.2013 - Lei que estabelece o Estatuto dos Juízes Eleitos.

Lei n.º 17.2013 - Aprova o Regimento da Assembleia da República e revoga a Lei


n.º 17.2007.
Rute Nhatave
Bibliotecária
Decreto n.º 48/2013 de 13 de Setembro de 2013 - Altera o artigo 12 do Regula-
rnhatave@salcaldeira.com mento da Lei de Investimentos, Aprovado pelo Decreto n.º 43/2009, de 21 de
Agosto.

Diploma Ministerial n.º 130/2013 de 4 de Setembro de 2013 - Aprova as nor-


mas operacionais da Central de Valores Mobiliários.

Obrigações Declarativas e Contributivas - Calendário Fiscal 2013


Outubro
INSS 10 Entrega das contribuições para segurança social referente ao mês de Setembro de
2013.

IRPS 20 Entrega do Imposto retido na fonte de rendimentos de 1ª, 2 ª , 3 ª, 4 ª e 5 ª categoria


durante o Mês de Setembro 2013.

Sérgio Ussene Arnaldo IRPC 20 Entrega do imposto retido durante o mês de Setembro de 2013.
Consultor Fiscal e Financeiro

sussene@salcaldeira.com

Imposto 20 Entregar as importâncias devidas pela emissão de letras e livranças, pela utilização de
de Selo créditos em operações financeiras referentes ao mês de Setembro de 2013.

31 Entrega do imposto referente a produção de petróleo referente ao mês de Setembro


de 2013.

31 Entrega do imposto pela extracção mineira referente ao mês de Setembro de 2013.

ICE 31 Entrega da Declaração, pelas entidades sujeitas a ICE, relativa a bens produzidos no
País fora de armazém de regime aduaneiro, conjuntamente com a entrega do imposto
liquidado (nº 2 do artigo 4 do Regulamento do ICE).

IVA 31 Entrega da Declaração periódica referente ao mês de Setembro acompanhada do


respectivo meio de pagamento (caso aplicável).

SAL & Caldeira Newsletter Página 6/6 Setembro/2013

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