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Aula 12 (11/11/2021)

SUPRIMENTOS
Não só estamos falando de um financiamento do sócio à sociedade. É uma
prática muito corrente, e é muito antiga.

Art.243º - empresta dinheiro ou coisa fungível.


 Financiamento com origem no sócio, não há contratos de suprimento que não
sejam entre estas partes.
 Nem todos os financiamentos dos sócios à sociedade, são considerados
financiamentos.
 Este financiamento pode revestir a forma de um empréstimo, mas o sócio
também pode convencionar o diferimento do vencimento de um crédito.
 Carácter de permanência – tem uma cláusula geral e depois não tem um dito
índice de permanência, estes índices são equivalentes a presunções ilidíveis.
Basicamente, há uma característica principal é o caráter de permanência, tem a
ver com a própria função do suprimento, visa suprir capitais sa sociedade com
algum grau de estabilidade, há aqui uma espécie de prestação substitutiva de
capital. Um suprimento é um empréstimo em que a sociedade pode contar em
termos estruturais.

O contrato de suprimento é um contrato que é algo de bom para a sociedade,


mas algo mau para o sócio, porque não anda muito longe da função das entradas, daí ser
benéfico para as sociedades. Para o sócio é mau, porque a razão pela qual ele faz o
suprimento é pelo seu interesse na sociedade, porque isso valoriza a sociedade e
valoriza o valor da sua participação social, logo é justo porque o sócio acaba por
valorizar. O carácter desfavorável prende-se pela aproximação das entradas.

Esta presunção de permanência não é algo meramente formal.

Quando temos uma presunção de permanência ela é ilidível, sendo o interesse de


ilidir o do sócio. A própria lei fala 243º/nº4/2ª parte que os sócios interessados podem
ilidir a presunção de permanência – vale para todas as situações.

Mesmo que não haja a presunção, é possível a prova de que é um suprimento.


Basicamente, é possível autonomamente provar que existe uma prestação substitutiva
das entradas.

Quem está interessado em demonstrar o caráter de suprimento – sociedade e credores


Fonte do suprimento
 Art.244º
 Pode estar no contrato de sociedade – se estiver estamos a falar de uma
prestação acessória e aplica-se o art.209º
 Não é obrigatório estar no contrato de sociedade
 Pode resultar de um contrato ad hoc celebrado naquele momento – art.244º/nº2,
não precisa de haver deliberação dos sócios
 Pode resultar de deliberação social, mas tem de ser votada por quem está a
assumir a obrigação de financiar a sociedade

Não há regras especiais de forma – vale o art.219º

O suprimento tem uma função próxima das entradas, o que não acontece no
contrato de mútuo, porque nestes últimos não há interesse e nos primeiros há.

Presunção de onerosidade – art.1145º/nº1


 A doutrina tem entendido que não se aplica, MAS NÃO QUER DIZER QUE
NÃO SE POSSA CONVENCIONAR JUROS, OU SEJA, PODE HAVER
JUROS.
 Se as partes nada disserem não há presunção de onerosidade.

Art.245º/nº2/1ªparte – os sócios não têm legitimidade para requerer a insolvência.

São créditos subordinados – logo só são pagos no fim (art.48º/nº1/g) do Código


de Insolvência). Vão para o fim porque é suposto beneficiarem do dinheiro que
emprestaram. Há uma lógica de interesse próprio de relação especial.

São nulas as garantias.

Se não houver prazo para o reembolso, vai haver fixação judicial – 777/2 do CC;
1456º e 1457º do CPC. Se não houver prazo para o reembolso, vai-se a tribunal e este
vai atender às circunstâncias da sociedade e do impacto deste para a sociedade. Há um
condicionamento do reembolso em função da sociedade.

É um contrato típico e nomeado e que não se confunde com o contrato de mútuo.


Se a entrega do dinheiro não foi feita a sociedade fica ali com a possibilidade de
fazer o dinheiro entrar porque lhe pode lançar a mão.
É mais fácil sustentar que a sociedade vê o contrato constituído mesmo sem
receber o dinheiro e pode lançar a mão para haver o cumprimento.

- PROBLEMA DOS SUPRIMENTOS –


 Pode haver nas sociedades anónimas? Se sim, em que condições?
 Hoje em dia, não há ninguém que não pode haver suprimento nas
sociedades anónimas. O suprimento é caracterizado por ser um
financiamento que o sócio faz para beneficiar a sua sociedade, logo
pressupõe-se uma relação com a sociedade, que não existe
necessariamente nas sociedades anónimas. A ligação do sócio na
sociedade por quotas não é a mesma na sociedade anónima.

RESPOSTAS DA DOUTRINA:
 COUTINHO DE ABREU – vai aplicar o regime do suprimento nas SA
independente da posição do sócio na sociedade. O que faz é dizer que o art.243º
e ss. são aplicados por analogia às SA até porque podem ser prestações
acessórias e se estiverem previstas no contrato, estas são possíveis.
 Distingue em função da posição do sócio na sociedade.
 RAUL VENTURA – Temos de distinguir consoante o tipo de acionista:
empresário (está envolvido com a vida societária) ou investidor (alguém que tem
participação nas sociedades como forma de participação financeira, não está
propriamente interessado com nada, apenas com o dinheiro).
 O professor diz que para distinguir é em função das percentagens:
investidor = -10% do capital; empresário = +10%. É uma percentagem
puramente arbitrária, a ideia é boa porque provavelmente não faz sentido
aplicar a presunção a alguém que não se comporta como acionista.
 O critério seria, segundo o MENEZES CORDEIRO: haverá um
suprimento quando corresponda ao financiamento de uma sociedade em
que um acionista ordenado faria à sociedade. Não se aplica a presunção
de suprimento, mas pode haver e quem tem de provar é que está
interessado nisso.

Mesmo que no contrato esteja referido suprimento temos de confirmar sempre.

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