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PORTUGUÊS
10.º ano
Luís de Camões, Os
Lusíadas
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I - A Epopeia
Um poema épico, ou epopeia, é um poema heroico narrativo extenso, que se propõe exaltar feitos
grandiosos ou factos históricos, individuais ou coletivos, reais, lendários ou mitológicos, de interesse universal. Este
género tem as suas origens na Antiguidade Greco-Romana e nos poetas Homero e Virgílio, que o consagraram com
as obras Ilíada, Odisseia e Eneida, respetivamente.
II - A estrutura d’ Os Lusíadas
Estrutura externa
❖ Os Lusíadas é uma epopeia composta por dez Cantos, constituídos por 1102 estrofes de oito versos (oitavas)
decassilábicos, com predomínio dos versos heroicos (acentos na 6.ª e 10.ª sílabas) e excecionalmente sáficos
(acentos na 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas).
❖ O esquema rimático é invariavelmente ababababcc (rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada
nos dois últimos).
❖ Os dez Cantos podem ser divididos em dois ciclos épicos: no 1.° ciclo, do Canto I ao V, narra-se a viagem de
Vasco da Gama até Melinde e a História de Portugal; no 2.° ciclo, a viagem até à Índia, o regresso, a
passagem pela Ilha dos Amores e Camões faz o apelo final ao rei D. Sebastião. Assim, o Canto V pode ser
considerado o Canto charneira entre o tempo anterior à chegada à Índia e o futuro dos Portugueses.
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Estrutura Interna
O poema tem, à semelhança das epopeias da Antiguidade, Proposição, Invocação e Narração in media res. No
entanto, Luís de Camões ousou inovar, introduzindo, também uma Dedicatória (a D. Sebastião).
❖ Na Proposição (Canto I, estrofes 1, 2 e 3), o poeta apresenta, sumariamente, a matéria do poema, isto é,
Camões anuncia o que se propõe cantar. Deste modo, o poeta indica que irá enaltecer os guerreiros, os
navegadores, os homens ilustres que contribuíram para a construção do «Novo Reino», ultrapassando os
limites da «força humana»; os reis que ajudaram a expandir a «Fé e o Império»; todos os que se vão libertar
da «lei da Morte», ou seja, aqueles que pela sua ação, pelo seu contributo para a dignificação de Portugal,
nunca serão esquecidos, pois atingiram a imortalidade. Na verdade, Camões afirma que cantará «o peito
ilustre Lusitano», os Portugueses, superiores a todos os heróis reais ou lendários da Antiguidade e a quem os
próprios deuses obedeceram.
❖ Na Invocação (Canto I, estrofes 4 e 5), Camões pede às ninfas do Tejo, as Tágides, que lhe deem inspiração
para escrever Os Lusíadas. Às Tágides, que tantas vezes o poeta celebrou em versos seus, implora ele agora
«um som alto e sublimado», «um estilo grandíloco e corrente», adequado ao assunto que Camões se propõe
cantar. Os feitos dos Portugueses eram tão importantes que, para os cantar com dignidade, era necessária
«uma fúria grande e sonorosa», ou seja, uma inspiração elevada, um tom solene persuasivo, mas emotivo.
Ao longo do poema, há mais três invocações:
❖ Na Dedicatória (Canto I, estrofes 6 a 18), Camões oferece o seu vasto poema ao rei D. Sebastião. Para o
poeta, o jovem monarca, eleito por Deus, é o garante da liberdade e da independência de Portugal, do
aumento do Império e do espalhar do Cristianismo. Nestas estrofes, Camões manifesta o seu amor à pátria e
mostra que a escrita de Os Lusíadas reflete esse patriotismo desinteressado de bens materiais e apenas
desejoso de reconhecimento. O poeta sublinha, ainda, o valor dos portugueses — «E julgareis qual é mais
excelente,/Se ser do mundo Rei, se de tal gente.» (I, 10). Camões acrescenta que a obra apenas se centrará
em factos históricos — «Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,/Fantásticas, fingidas, mentirosas,/Louvar os
vossos, como nas estranhas/Musas, de engrandecer-se desejosas.//As verdadeiras vossas são
tamanhas,/Que excedem as sonhadas, fabulosas,/Que excedem Rodamonte, e o vão Rogeiro,/E Orlando,
inda que fora verdadeiro» (I, 11). Os heróis portugueses são valorizados ao serem confrontados com os das
outras epopeias. Antes de terminar o seu discurso, o poeta dirige-se a D. Sebastião, pedindo-lhe que governe
com rigor, que estimule os feitos gloriosos dos Portugueses, que combata os mouros.
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No Canto X, estrofes 146 a 156, Camões dirige-se novamente ao rei, fechando circularmente o poema, e,
numa atitude conselheira, depois de ter vincado que D. Sebastião é rei «só de vassalos excelentes», capazes
de todos os sacrifícios para servir a pátria e para servir o rei, pede-lhe que seja benevolente, justo e que
reconheça o valor da experiência. Camões aproveita, ainda, para traçar o seu retrato de homem do
Renascimento, aquele que preza as letras e as armas e que serve a pátria das duas formas «Para servir-vos,
braço às armas feito; / Para cantar-vos, mente às Musas dada;».
❖ A Narração (a partir da estrofe 19, Canto I) é o núcleo fundamental da obra, pois narra a viagem de Vasco da
Gama até à Índia. O facto de esta narração se iniciar in media res obriga a que o relato da viagem desde
Lisboa até Melinde seja feito através de uma analepse. Como observa Jorge de Sena, o narrador «inicia a
narração colocando as naus navegando no Oceano Índico (1.ª estância) e, logo após, no mesmo período
gramatical,
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IV - As reflexões do poeta (tom antiépico)
Tema Desenvolvimento
Desprezo pelas artes e pelas letras Crítica à falta de cultura dos portugueses, que leva
(Canto V, est. 92-100) à desvalorização da arte.
Constatação de que a ausência de quem divulgue
literariamente os feitos heroicos levará ao
desaparecimento dos heróis.
Censura ao facto de os portugueses serem
dominados pela austeridade, pela rudeza e pela
falta
de «engenho».
Queixas do poeta/Critérios de seleção dos merecedores Expressão dos infortúnios pessoais (vida de perigos
do canto diversos, de guerras, de viagens atribuladas por mar
(Canto VII, est. 78-87) e por terra, errância, pobreza, desterro,
incompreensão por parte dos contemporâneos).
Apresentação de critérios de seleção dos que
merecem e dos que não merecem ser cantados.
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V - O imaginário épico
Sublimidade • Narração dos feitos dos portugueses através de um «som alto e sublimado» / «estilo
do canto grandíloco e corrente», adequado à matéria épica
(Canto I, est. 4), com recurso a:
· estilo culto, erudito
· latinismos (ex.: «grandíloco», «salso argento»)
· evocações mitológicas (Canto X, est. 88)
· alusões à história antiga (Canto V, est. 93, 95-96)
· recursos expressivos (ex.: anáfora, anástrofe, apóstrofe, comparação, enumeração, hipérbole,
interrogação retórica, metáfora, metonímia, personificação)
Canto épico como condição para a existência de heróis (manutenção dos feitos heroicos na
memória dos vindouros).
Mitificação • Exaltação das características do povo português que lhe conferem o estatuto de herói:
do herói coragem, ousadia, patriotismo, espírito de sacrifício, fé em Deus.
• Comparação dos portugueses com os heróis e deuses da Antiguidade Clássica (e sua
superação).
• Ilha dos Amores: recompensa dos portugueses (comunhão com o divino; acesso ao
conhecimento). Os Portugueses alcançam a divinização, a imortalidade, como prémio do
Externato Ribadouro, 2019
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Os Lusíadas em EXAME
Parte C
A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a sua construção
possa depender de diversos fatores.
Escreva uma breve exposição sobre o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.
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2017 | 639 | 2.ª FASE
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2008 | 639 | 1.ª FASE
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EXERCÍCIOS
Os Lusíadas
Proposta 1
Leia o texto constituído pelas estâncias 105 e 106 do canto I de Os Lusíadas. Se necessário, consulte as
notas.
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1. Relacione a utilização das interjeições, na estrofe 105, com o estado de espírito do sujeito poético.
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Proposta 2
92 Mas a Fama, trombeta de obras tais, 94 Ou dai na paz as leis iguais, constantes,
Lhe deu no mundo nomes tão estranhos Que aos grandes não deem o dos pequenos;
De Deuses, Semideuses, Imortais, Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Indígetes, Heroicos e de Magnos. 20 Contra a lei dos inimigos Sarracenos:
5 Por isso, ó vós que as famas estimais, Fareis os Reinos grandes e possantes,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos, E todos tereis mais e nenhum menos:
Despertai já do sono do ócio ignavo, Possuireis riquezas merecidas,
Que o ânimo, de livre, faz escravo. Com as honras que ilustram tanto as vidas.
93 E ponde na cobiça um freio duro, 95 25 E fareis claro o Rei que tanto amais,
10 E na ambição também, que indignamente Agora cos conselhos bem cuidados,
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Agora co as espadas, que imortais
Vício da tirania infame e urgente; Vos farão, como os vossos já passados.
Porque essas honras vãs, esse ouro puro Impossibilidades não façais,
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Verdadeiro valor não dão à gente: Que quem quis sempre pôde; e numerados
15 Melhor é, merecê-los sem os ter, Sereis entre os Heróis esclarecidos
Que possuí-los sem os merecer. E nesta Ilha de Vénus recebidos.
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1. Explicite o valor expressivo da apóstrofe, presente no verso 5, relacionando-o com o sentido dos
versos 6 a 8.
2. Explique dois dos conselhos que o poeta dá àqueles que desejam alcançar a «Fama», tendo em conta o
conteúdo dos versos 9 a 19.
4. Transcreva
b) a expressão que, na estrofe 95, realça o passado como estímulo para os portugueses.
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