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FILOSOFIA E LINGUAGEM

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Sumário
APOSTILA – FILOSOFIA E LINGUAGEM Erro! Indicador não definido.
INTRODUÇÃO 4

O que é Filosofia 5

Linguagem 7

Filosofia da linguagem 23

Filosofia da linguagem comum 34

História da Linguagem: fundamentos filosóficos 39

Linguística Histórica: percurso e ideologia 42

Filosofia da Linguagem: principais autores 45

CONCLUSÃO 56

REFERENCIAS 57

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FACUMINAS

A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo


de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

A linguagem é o instrumento de comunicação que o homem usa para se


expressar. Tal premissa levou inúmeros pensadores a debater qual seria a origem da
linguagem e, durante muito tempo, houve amplas discussões, mas sem nenhum
consenso ideológico.

Embora a linguagem seja o instrumento de um filósofo, não havia uma área do


conhecimento destinada a estudá-la em sua plenitude ontológica e histórica. A partir
do século XIX, após a publicação das teorias de Saussure, a Linguística Histórica
começou a ganhar notoriedade como a área do conhecimento responsável pela
investigação dos pressupostos evolutivos da língua, sendo muitas vezes confundida
com a História da Linguagem , área do conhecimento que analisa a linguagem
humana sob termos filosóficos e históricos.

Em suma, o presente material de estudo tem como principal objetivo fazer um


estudo destinado à compreensão a História da Linguagem Linguística Histórica e a
filosofia da linguagem pois ambas as áreas contribuem ao entendimento da dimensão
filosófica, social e cultural da existência do homem como ser comunicativo.

4
O que é Filosofia

Filosofia é uma palavra grega que significa "amor à sabedoria" e consiste


no estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à
verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem.

Filósofo é um indivíduo que busca o conhecimento de si mesmo, sem uma


visão pragmática, movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da realidade.

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Além do desenvolvimento da filosofia como uma disciplina, a filosofia é
intrínseca à condição humana, não é um conhecimento, mas uma atitude natural do
homem em relação ao universo e seu próprio ser.

A filosofia foca questões da existência humana, mas diferentemente da


religião, não é baseada na revelação divina ou na fé, e sim na razão.

Desta forma, a filosofia pode ser definida como a análise racional do significado
da existência humana, individual e coletivamente, com base na compreensão do ser.

Apesar de ter algumas semelhanças com a ciência, muitas das perguntas da


filosofia não podem ser respondidas pelo empirismo experimental.

A filosofia pode ser dividida em vários ramos. A “filosofia do ser”, por exemplo,
inclui a metafísica, ontologia e cosmologia, entre outras disciplinas.

A filosofia do conhecimento inclui a lógica e a epistemologia, enquanto filosofia


do trabalho está relacionada a questões da ética.

Diversos filósofos deixaram seu nome gravado na história mundial, com suas
teorias que são debatidas, aceitas e condenadas até os dias de hoje.

Alguns desses filósofos são Aristóteles, Pitágoras, Platão, Sócrates,


Descartes, Locke, Kant, Freud, Habermas e muitos outros.

Cada um desses filósofos fez suas teorias baseadas nas diversas disciplinas
da filosofia, lógica, metafísica, ética, filosofia política, estética e outras.

De acordo com Platão, um filósofo tenta chegar ao conhecimento das Ideias,


do verdadeiro conhecimento caracterizado como episteme, que se opõe à doxa, que
é baseado somente na aparência.

Segundo Aristóteles, o conhecimento pode ser divido em três categorias, de


acordo com a conduta do ser humano: conhecimento teórico (matemática, metafísica,
psicologia), conhecimento prático (política e ética) e conhecimento poético (poética e
economia).

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Nos dias de hoje a palavra "filosofia" é muitas vezes usada para descrever um
conjunto de ideias ou atitudes, como por exemplo: "filosofia de vida", "filosofia
política", "filosofia da educação", "filosofia do reggae" e etc.

 Origem da Filosofia

A Filosofia surgiu na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C. Naquela época,
a Grécia era um centro cultural importante e recebia influências de várias partes do
mundo.

Assim, o pensamento crítico começou a florescer e muitos indivíduos


começaram a procurar respostas fora da mitologia grega. Essa atitude de reflexão
que busca o conhecimento significou o nascimento da Filosofia.

Antes de surgir o termo filosofia, Heródoto já usava o verbo filosofar e Heráclito


usava o substantivo filósofo. No entanto, vários autores indicam que Tales de Mileto
foi o primeiro filósofo (sem se descrever como tal) e Pitágoras foi o primeiro que se
classificou como filósofo ou amante da sabedoria.

Linguagem

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Arnold Lakhovsky, A conversação (1935)

A escrita cuneiforme é o primeiro documento escrito de que se tem registro. No


entanto, acredita-se que a língua falada preceda a escrita em pelo menos dezenas
de milhares de anos.[2]

Linguagem pode se referir tanto à capacidade especificamente humana para


aquisição e utilização de sistemas complexos de comunicação, quanto a uma
instância específica de um sistema de comunicação complexo. O estudo científico da
linguagem, em qualquer um de seus sentidos, é chamado linguística.

Atualmente, entre 3000 e 6000 línguas são usadas pela espécie humana, e um
número muito maior era usado no passado. As línguas naturais são os exemplos mais
marcantes que temos de linguagem. Outros tipos de linguagem se baseiam na
observação visual e auditiva, como as línguas de sinais e a escrita. Os códigos e
outros sistemas de comunicação construídos artificialmente, como aqueles usados
para programação de computadores, também podem ser chamados de linguagens –
a linguagem, nesse sentido, é um sistema de sinais para codificação e decodificação
de informações. A palavra portuguesa deriva do francês antigo langage.[nota 1] Quando
usada como um conceito geral, a palavra "linguagem" refere-se a uma faculdade

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cognitiva que permite aos seres humanos aprender e usar sistemas de comunicação
complexos.

A linguagem humana enquanto sistema de comunicação é fundamentalmente


diferente e muito mais complexa do que as formas de comunicação das outras
espécies. Ela se baseia em um diversificado sistema de regras relativas a símbolos
para os seus significados, resultando em um número indefinido de possíveis
expressões inovadoras a partir de um finito número de elementos. De acordo com os
especialistas, a linguagem pode ter se originado quando os
primeiros hominídeos começaram a cooperar, adaptando sistemas anteriores de
comunicação baseados em sinais expressivos a fim de incluir a teoria da mente,
compartilhando assim intencionalidade. Nessa linha, o desenvolvimento da
linguagem pode ter coincidido com o aumento do volume do cérebro, e muitos
linguistas acreditam que as estruturas da linguagem evoluíram a fim de servir a
funções comunicativas específicas. A linguagem é processada em vários locais
diferentes do cérebro humano, mas especialmente na área de Broca e na Área de
Wernicke.[5] Os seres humanos adquirem a linguagem através da interação social na
primeira infância. As crianças geralmente já falam fluentemente quando estão em
torno dos três anos de idade.[6]

O uso da linguagem tornou-se profundamente enraizado na cultura


humana para comunicar e compartilhar informações, mas também como expressão
de identidade e de estratificação social, para manutenção da unidade em uma
comunidade e para o entretenimento. A palavra "linguagem" também pode ser usada
para descrever o conjunto de regras que torna isso possível, ou o conjunto de
enunciados que pode produzir essas regras.

Todas as línguas contam com o processo de semiose, que relaciona


um sinal com um determinado significado. Línguas faladas e línguas de sinais contêm
um sistema fonológico que rege a forma como os sons ou os símbolos visuais são
articulados a fim de formar as sequências conhecidas como palavras ou morfemas;
além de um sistema sintático para reger a forma como as palavras e os morfemas
são utilizados a fim de formar frases e enunciados. Línguas escritas usam símbolos

9
visuais para representar os sons das línguas faladas, mas elas ainda necessitam de
regras sintáticas que governem a produção de sentido a partir da sequências das
palavras. As línguas evoluem e se diversificam ao longo do tempo. Por isso, sendo a
língua uma realidade essencialmente variável, não há formas de falar intrinsecamente
erradas. A noção de certo e errado tem origem na sociedade, não na estrutura da
língua.[7][8][9]

A história de sua evolução pode ser reconstruída a partir de comparações com


as línguas modernas, determinando assim quais características as línguas ancestrais
devem ter tido para as etapas posteriores terem ocorrido. Um grupo de idiomas que
descende de um ancestral comum é conhecido como família linguística. As línguas
mais faladas no mundo atualmente são as pertencentes à família indo-europeia, que
inclui o inglês, o espanhol, o português, o russo e o hindi; as sino-tibetanas, que
incluem o chinês, mandarim, cantonês e outras; as semíticas, que incluem o árabe,
o maltês, o amárico e o hebraico; e as bantu, que incluem o suaíli, o zulu, o shona e
centenas de outras línguas faladas em toda a África.

 Definições

A palavra linguagem tem pelo menos dois significados fundamentais: a


linguagem como um conceito geral e a linguagem como um sistema linguístico
específico (língua portuguesa, por exemplo). Em português, utiliza-se a
palavra linguagem como um conceito geral e a palavra língua como um caso
específico de linguagem. Em francês, o idioma utilizado pelo linguista Ferdinand de
Saussure (o primeiro que explicitamente fez essa distinção), existe a mesma distinção
entre as palavras langage e langue.[10]

Quando se fala de linguagem como um conceito geral, várias definições podem


ser utilizadas para salientar diferentes aspectos do fenômeno.[10] Essas definições
implicam também diferentes abordagens e entendimentos de linguagem, distinguindo
as diversas escolas de teoria linguística.

10
 Faculdades mentais, órgãos do corpo ou instintos[

Uma das definições entende a linguagem, primordialmente, como a faculdade


mental que permite aos seres humanos realizarem qualquer tipo de comportamento
linguístico: aprender línguas, produzir e compreender enunciados. Tal definição
destaca as bases biológicas para a linguagem como um desenvolvimento exclusivo
do cérebro humano.[11][12] A linguagem é tida como uma propensão inata do ser
humano. Exemplos dessa abordagem são a gramática universal de Noam
Chomsky e a teoria inatista de Jerry Fodor. Essa definição é muitas vezes aplicada
nos estudos da linguagem no quadro das ciências cognitivas e da neurolinguística.
A língua também pode ser entendida como o órgão muscular relacionado ao sentido
do paladar que fica localizado na parte ventral da boca da maior parte dos animais
vertebrados e que serve para "processar" os alimentos.

 Sistema simbólico formal

Outra definição vê a linguagem como um sistema formal de signos, regidos por


regras gramaticais que, quando combinadas, geram significados. Essa definição
enfatiza o fato de que as línguas humanas podem ser descritas como sistemas
estruturais fechados, constituídos de regras que relacionam sinais específicos com
significados específicos. A visão estruturalista foi introduzida por Ferdinand de
Saussure, e tornou-se fundamental para a maioria das abordagens

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da linguística atual. Alguns adeptos dessa teoria têm defendido uma abordagem
formal para estudar as estruturas da linguagem, privilegiando assim a formulação de
regras abstratas subjacentes que podem ser entendidas para gerar estruturas
linguísticas observáveis. Seu principal proponente é Noam Chomsky, que define a
linguagem como um conjunto particular de frases que podem ser geradas a partir de
um determinado conjunto de regras.[13] O ponto de vista estruturalista é comumente
usado na lógica formal, na semiótica, e em teorias da gramática formal – mais
comumente nos quadros teóricos da gramática descritiva. Na filosofia da linguagem,
esse ponto de vista está associado a filósofos como Bertrand Russell, às primeiras
obras de Ludwig Wittgenstein, Alfred Tarski e Gottlob Frege.

 Ferramenta para comunicação

Um sistema de comunicação que permite aos seres humanos o


compartilhamento de sentidos é outra definição para linguagem. Essa abordagem
realça a função social da linguagem e o fato de que o homem a utiliza para se
expressar e para manipular objetos em seu ambiente. As teorias da gramática
funcional explicam as estruturas gramaticais por suas funções comunicativas, e as
compreendem como o resultado de um processo adaptativo para atender às
necessidades comunicativas de seus usuários. Essa visão está associada ao estudo
da linguagem na pragmática, na linguística cognitiva e interacional, bem como
na sociolinguística e na linguística antropológica. Ao entender a gramática como um
fenômeno dinâmico, com estruturas que estão sempre em processo de mudança, as
teorias funcionais levam ainda ao estudo da tipologia linguística. Na filosofia da
linguagem esses pontos de vista são frequentemente associados com as obras

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posteriores de Ludwig Wittgenstein e com os filósofos da linguagem ordinária,
como GE Moore, Paul Grice, John Searle e John Austin.

 O que torna a linguagem humana única

A linguagem humana é única quando comparada com outras formas


de comunicação, como aquelas usadas por animais. Ela permite aos seres
humanos produzir um conjunto infinito de enunciados, a partir de um conjunto finito
de elementos. Os símbolos e as regras gramaticais de qualquer tipo de linguagem
são, em grande parte, arbitrários. Por isso, o sistema só pode ser adquirido por meio
da interação social. Os sistemas conhecidos de comunicação utilizados por animais,
por outro lado, só podem expressar um número finito de enunciados, que são, na sua
maioria, transmitidos geneticamente. A linguagem humana é também a única que tem
uma estrutura complexa, projetada para atender a uma grande quantidade de funções
– bem mais do que qualquer outro tipo de sistema de comunicação.

Exemplos de pinturas encontradas no Parque Nacional Serra da Capivara.


Uma das singularidades da linguagem humana baseia-se no seu referencial
simbólico, desde o tempo pré-histórico

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As teorias sobre a origem da linguagem podem ser divididas segundo algumas
premissas básicas. Algumas sustentam a ideia de que a linguagem evoluiu a partir de
um sistema pré-linguístico existente entre os nossos ancestrais pré-humanos. São
as teorias baseadas na continuidade. O ponto de vista oposto afirma que a linguagem
é um traço humano único, incomparável a qualquer outro encontrado entre os não
humanos, e que deve, portanto, ter surgido repentinamente na transição entre os pré-
hominídeos e o homem primitivo. É a teoria da descontinuidade. Outras teorias, ainda,
veem a linguagem como uma faculdade inata, geneticamente codificada, ou como um
sistema cultural, que se aprende por meio da interação social. Atualmente, o único
defensor proeminente da teoria da descontinuidade é Noam Chomsky. De acordo
com ele, "alguma mutação aleatória ocorreu, talvez depois de algum chuveiro de raios
cósmicos estranhos. O cérebro foi reorganizado, implantando assim um órgão da
linguagem num cérebro primata". Acautelando-se para que sua história não seja
tomada literalmente, Chomsky insiste que ela "pode estar mais próxima da realidade
do que muitos outros contos de fadas que são contados sobre processos evolutivos,
incluindo a linguagem".A maioria dos estudiosos, atualmente, toma como referências
as teorias baseadas na continuidade, embora variem na forma como encaram o
desenvolvimento da linguagem. Aqueles que entendem a linguagem como faculdade
inata, como Steven Pinker, por exemplo, mantêm como precedente a cognição
animal. Já os que veem a linguagem como uma ferramenta de comunicação
socialmente aprendida, como Michael Tomasello, a consideram desenvolvida a partir
da comunicação animal, gestual ou vocal. Existem, ainda, outros modelos de
continuidade, que acreditam que a linguagem se desenvolveu a partir da música.

Uma vez que o surgimento da linguagem está localizado no início da pré-


história do homem, os desenvolvimentos relevantes na língua não deixaram vestígios
históricos diretos, e não existe a possibilidade de processos similares serem
observados hoje. Teorias que dão ênfase à continuidade muitas vezes olham para os
animais a fim de identificar, por exemplo, se os primatas mostram qualquer traço
análogo a algum tipo de linguagem utilizada pelos pré-humanos. Alternativamente, os
primeiros fósseis humanos são inspecionados à procura de vestígios de adaptação
física para a linguagem. Atualmente, é indiscutível que, em sua maioria, os pré-

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humanos Australopithecus não tinham sistemas de comunicação significativamente
diferentes daqueles encontrados nos símios em geral. As opiniões na academia
variam, entretanto, quanto à evolução desses sistemas desde o aparecimento
do Homo, cerca de 2,5 milhões de anos atrás. Alguns estudiosos assumem o
desenvolvimento de sistemas primitivos de linguagem (proto-língua) tão cedo quanto
o Homo habilis, enquanto outros associam o desenvolvimento da comunicação
simbólica primitiva apenas com o Homo erectus (1,8 milhões de anos atrás) ou
o Homo heidelbergensis (0,6 milhões de anos atrás). Há ainda linhas de
conhecimento segundo a qual o desenvolvimento da linguagem como a conhecemos
estaria ligado com o Homo sapiens sapiens, há menos de cem mil anos,
na África.] Análises linguísticas usadas por Johanna Nichol, linguista da Universidade
da Califórnia, Berkeley, baseadas no tempo necessário para atingir a atual difusão e
diversidade nas línguas modernas, apontam que a linguagem vocal surgiu, pelo
menos, cem mil anos atrás.

 Aquisição da linguagem

Desde o nascimento, os recém-nascidos respondem mais prontamente à fala


humana do que a outros sons

Todo ser humano saudável já nasce programado para falar, com uma
propensão inata para a linguagem. As crianças adquirem a língua ou as línguas que

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são empregadas pelas pessoas que convivem perto delas. Esse processo de
aprendizagem é algo complexo. Por isso, acredita-se que a aquisição da primeira
língua é a maior façanha que podemos realizar durante toda a vida. Ao contrário de
muitos outros tipos de aprendizagem, a aquisição da primeira língua não requer
ensino direto ou estudo especializado. Em A Descendência do Homem e Seleção em
Relação ao Sexo, o naturalista Charles Darwin chamou esse processo de "tendência
instintiva para adquirir uma arte".[11]

Desde o nascimento, os recém-nascidos respondem mais prontamente à fala


humana do que a outros sons. Com cerca de um mês de idade, os bebês parecem
ser capazes de distinguir entre diferentes sons da fala. Aos seis meses de idade, as
crianças começam a balbuciar, produzindo ou os sons da fala ou as formas com as
mãos das línguas utilizadas em torno delas. Desde muito cedo, qualquer criança sabe
e fala muito além das frases que ela escutou dos adultos. Não repete simplesmente
o que lhe dizem: com as regras que ela apreendeu das frases ouvidas, forma
inúmeras outras. Ou seja, desde a primeira infância, a pessoa "cria" as suas frases.
Essa criatividade é o traço característico da chamada gramática universal,
internalizada pelas crianças. Proposta por Noam Chomsky, ela parte do princípio de
que há uma gramática inerente a todos os falantes, de qualquer língua, que faria com
que ninguém optasse por uma estrutura altamente errada, entre as infinitas
combinações possíveis de palavras As palavras aparecem entre 12 e 18 meses de
idade. Uma criança de 18 meses emprega, em média, cerca de 50 palavras.

As primeiras declarações das crianças são holofrases, ou seja, expressões que


utilizam apenas uma palavra para comunicar alguma ideia. Vários meses depois que
uma criança começa a produzir palavras, ela produzirá discursos telegráficos e frases
curtas que são menos complexas gramaticalmente do que a fala dos adultos, mas
que mostram a estrutura sintática regular. Com dois anos a criança já domina o
arcabouço fundamental de sua língua. Com aproximadamente três anos, a
capacidade da criança de falar ou de fazer sinais é tão refinada que se assemelha à
linguagem adulta.

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 Linguagem humana

Pintura rupestre nas cavernas de Lascaux, França. A capacidade que os seres


humanos têm de transferir conceitos e ideias através da fala e da escrita é
incomparável com qualquer outra espécie conhecida

As línguas humanas são geralmente referidas como línguas naturais, tendo


a linguística como a ciência responsável por estudá-las. Nas línguas naturais, a
progressão comum é que as pessoas, primeiro, falem, depois inventem um sistema
de escrita e, em seguida, gramaticalizem a língua, numa tentativa de entendê-la e
explicá-la.

Línguas vivem, morrem, misturam-se, mudam de lugar , se alteram com o


passar do tempo. Qualquer língua que deixa de mudar ou de se desenvolver é
categorizada como uma língua morta. Por outro lado, qualquer língua que está em
estado contínuo de mudança é conhecida como uma língua viva ou linguagem
moderna. Por essas razões, o maior desafio para o falante de uma língua estrangeira
é permanecer imerso nela, a fim de acompanhar as mudanças que se processam.

Às vezes, a distinção entre um idioma e outro é quase impossível. Por


exemplo, há dialetos do alemão que são semelhantes a dialetos holandeses. A
transição entre as línguas dentro de uma mesma família linguística é muitas vezes
gradual (veja continuum dialetal). Alguns gostam de fazer paralelos com a biologia,
na qual não é possível estabelecer uma distinção bem definida entre uma espécie e

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outra. Em ambos os casos, a dificuldade se dá em identificar os troncos a partir
da interação entre as linguagens e as populações. (Veja dialeto ou August
Schleicher para uma discussão mais longa). Os conceitos de Ausbausprache,
Abstandsprache e Dachsprachesão são usados para fazer distinções mais refinadas
sobre os graus de diferença entre línguas e/ou dialetos.

A língua de sinais é uma linguagem que, em vez de padrões sonoros


acusticamente transmissíveis, utiliza padrões de sinal visuais (comunicação manual
e/ou linguagem corporal) para transmitir um significado, combinando gestos manuais,
orientação e movimentação das mãos, braços ou expressões corporais e faciais para
expressar seus pensamentos com fluidez. Centenas de línguas de sinais estão em
uso em todo o mundo, no interior das culturas locais de surdos.

 Linguagem artificial

O primeiro livro publicado sobre o esperanto, a língua construída artificialmente


mais falada do mundo.

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A língua artificial é um tipo de linguagem onde
a fonologia, gramática e/ou vocabulário foram conscientemente concebidos ou
modificados por um indivíduo ou grupo, em vez de evoluído naturalmente. Existem
várias razões possíveis para a construção de uma língua: facilidade humana para a
comunicação (veja língua auxiliar), adição de profundidade a uma obra de ficção ou
a lugares imaginários, experimentação linguística, criação artística ou, ainda,
realização de jogos de linguagem.

A expressão "língua planejada" é por vezes utilizada para conceituar línguas


auxiliares internacionais e outras linguagens projetadas para uso real
na comunicação humana. Fora da comunidade esperantista, o termo "língua
planejada" designa as prescrições dadas a uma linguagem natural para padronizá-la.
Nesse sentido, mesmo as línguas naturais podem ser artificiais em alguns aspectos.
As gramáticas normativas, que são tão antigas quanto as línguas clássicas – como
o latim, o sânscrito e o chinês –, são baseadas em regras codificadas das línguas
naturais. Essas codificações são um meio termo entre a seleção natural da língua e
o desenvolvimento da linguagem, sua construção e prescrição explícita.

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O ASCII Table, um esquema para cadeias de caracteres de codificação

A matemática, a lógica e a ciência da computação utilizam entidades artificiais


chamadas linguagens formais (incluindo a linguagem de programação e a linguagem
de marcação). Muitas vezes, essas linguagens tomam a forma de cadeias de
caracteres, produzidas por uma combinação de gramática formal e semântica de
complexidades arbitrárias.

A linguagem de programação é uma linguagem formal dotada


de semântica, que pode ser utilizada para controlar o comportamento de uma
máquina, particularmente um computador, a fim de executar tarefas específicas. As
linguagens de programação são definidas usando regras sintáticas e semânticas para
determinar a sua estrutura e o seu significado, respectivamente. As linguagens de
programação são empregadas para facilitar a comunicação sobre a tarefa de
organizar e manipular informações e para expressar algoritmos com precisão. Há
ainda a linguística computacional, que pode ser entendida como a área de

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conhecimento que explora as relações entre linguística e informática, tornando
possível a construção de sistemas com capacidade de reconhecer e produzir
informações apresentadas em linguagem natural.

 Linguagem de animais

A Dança das abelhas promovida pelas Abelhas-europeias, indicando uma


fonte de alimento à direita da direção do sol, fora da colmeia. O abdômen do dançarino
aparece turvo por causa do rápido movimento lado a lado

O termo "linguagem animal" é frequentemente utilizado para os sistemas de


comunicação não humanos. Linguistas e semióticos não a consideram uma
linguagem verdadeira, descrevendo-a como sistemas de comunicação
animal baseados em sinais não simbólicos, já que a interação entre animais nesse
tipo de comunicação é fundamentalmente diferente dos princípios da linguagem
humana. Segundo essa abordagem, uma vez que os animais não nascem com a
capacidade de raciocinar em termos de cultura, a comunicação animal se refere a
algo qualitativamente diferente do que é encontrado em comunidades
humanas.[36] Comunicação, língua e cultura são mais complexas entre os seres

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humanos; um cão pode comunicar com sucesso um estado emocional agressivo com
um rosnado, que pode ou não fazer com que um outro cão se afaste ou recue. Os
cachorros também podem marcar seu território com o cheiro de sua urina ou de seu
corpo. Da mesma forma, um grito humano de medo pode ou não alertar outros seres
humanos do perigo iminente. Nesses exemplos há comunicação, mas não o que,
geralmente, seria chamado de linguagem.

Em vários casos divulgados, os animais vêm sendo ensinados a entender


certas características da linguagem humana. Karl von Frisch recebeu o Prêmio
Nobel em 1973 por sua pesquisa sobre a comunicação sígnica entre as abelhas. Elas
são capazes de, volteando, transmitir vibrações para as outras, dando direção de
locais em que há abundância de pólen. Foram ensinados
aos chimpanzés, gorilas e orangotangos, com cartões, cores e gestos, a língua de
sinais baseada na linguagem de sinais americana, o que resultou em um número
notável de frases. O papagaio-cinzento africano, Alex, possuía a capacidade de imitar
a fala humana com um alto grau de precisão. Suspeita-se que ele tinha inteligência
suficiente para compreender alguns dos discursos que imitou, além de entender
o número zero, um conceito abstrato que as crianças só começam a compreender a
partir dos 3 anos. Embora os animais possam ser ensinados a entender partes da
linguagem humana, eles são incapazes de desenvolver essa linguagem.

E apesar dos debates, entre os defensores dos sistemas de comunicação


animal, acerca dos níveis de semântica dessa linguagem, nada ainda foi encontrado
que possa se aproximar da sintaxe da linguagem humana.

22
Filosofia da linguagem

Filosofia da linguagem é o ramo da filosofia que estuda a essência e natureza


dos fenômenos linguísticos. Uma das principais características da filosofia da
linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros seres que existem no
mundo. Ela trata, de um ponto de vista filosófico, da natureza
do significado linguístico, da referência, do uso da linguagem, do aprendizado da
linguagem, da criatividade dos falantes, da compreensão da linguagem,
da interpretação, da tradução, de aspectos linguísticos do pensamento e
da experiência. Trata também do estudo da sintaxe, da semântica, da pragmática e
da referência. As principais questões investigadas pela disciplina são:

 Como as frases compõem um todo significativo? O que é o significado das


"partes" (palavras) das frases?

 Qual a natureza do significado? O que é o significado?

 O que fazemos com a linguagem? Como a usamos socialmente? Qual sua


finalidade?

 Como a linguagem se relaciona com a mente do falante e do intérprete?

23
 Como a linguagem se relaciona com o mundo?

Os filósofos da linguagem não se ocupam muito do que significam palavras ou


frases individuais. Qualquer dicionário ou enciclopédia pode resolver o problema do
significado das palavras quase sempre ou talvez. O mais interessante é o que
significa para uma palavra ou frase significar alguma coisa. Por que as expressões
têm os significados que têm? Como uma expressão pode ter o mesmo significado de
outra? E, principalmente: qual o significado de "significado"?

A pergunta "qual o significado do 'significado'?" não tem uma resposta óbvia.


A tradição empirista tratou o significado do "significado" como uma ideia provocada
por um signo. Teorias da condição de verdade tratam os significados como condições
sob as quais uma frase envolvendo uma expressão pode ser verdadeira ou falsa.
Teorias do significado como uso entendem o significado como algo relacionado a atos
de fala e frases particulares. Teorias pragmatistas tratam o significado como
consequência. Teorias referenciais do significado tratam o significado como algo
equivalente às coisas no mundo conectadas às palavras que as designam.

A filosofia da linguagem investiga a relação entre o significado e a verdade.


Frases sem significado podem ser verdadeiras ou falsas? E as frases sobre coisas
que não existem, como o Papai Noel (Pai Natal)? Quando dizemos que algo é
verdade, o que é verdadeiro? A frase?

A questão do aprendizado da linguagem levanta algumas questões


interessantes. É possível haver pensamento sem linguagem? O quanto a linguagem
influencia o conhecimento do mundo. É possível raciocinar sem linguagem??

 História

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Ferdinand de Saussure foi um filósofo da linguagem

A investigação filosófica da linguagem pode ser encontrada já nos textos


de Platão, Aristóteles e autores estoicos.[1]

No Crátilo, Platão trata de questões concernentes à relação entre os nomes e


as coisas que os mesmos designam. Tal relação é natural ou convencional? No final
do diálogo, ele admite que convenções sociais estão envolvidas na fixação dos nomes
às coisas e que há problemas na ideia de que palavras e fonemas têm significados
naturais.

Platão também é responsável pela explicação da possibilidade


do discurso sobre a falsidade e o não-ser. É fácil explicar como falamos sobre o que
é, existe ou acontece. Se o céu está azul, e dizemos "o céu está azul", o que dizemos
é verdadeiro, pois se relaciona de maneira adequada com a cor do céu, o estado de
coisas. Mas se o céu está azul e dizemos "o céu não está azul", o que dizemos é falso
e aqui temos um problema, pois o que dizemos não se relacionada a nada. Se não
se relaciona a nada, então não se relaciona, pois o nada não é nada (coisa alguma,
ou, mais adequadamente em Filosofia, ente físico ou ideia alguma), e não pode ser o
elemento de uma relação. E, no entanto, falamos muitas coisas que não são, ou são
falsas. Isso é possível, segundo Platão, porque as frases são complexas, ao contrário
dos nomes, que são simples. Um nome designa a coisa que designa se a coisa existe,
ou não designa nada se a coisa não existe. A frase não nomeia coisa alguma. Nela
se atribui um predicado a um sujeito gramatical e é nessa atribuição que há espaço
para que se diga, de uma coisa, algo que não cabe a ela. Eis onde nasce a
possibilidade do discurso sobre a falsidade e o não-ser.

25
Aristóteles ocupou-se de questões de lógica, das categorias e do significado.
Ele separou todas as coisas nas noções de gênero e espécie. Ele defendeu que o
significado de um predicado é estabelecido através da abstração das similaridades
entre várias coisas individuais. Tal teoria deu origem ao nominalismo, na Idade Média,
mas há influência aristotélica também na posição oposta, o realismo, sobre
os universais. Dentre os medievais, Pedro Abelardo é notável pela antecipação de
muitas ideias modernas sobre a linguagem.

O debate sobre o significado dos universais interessou a vários filósofos. Qual


o significado de "pedra", por exemplo? Para os realistas a palavra refere-se a uma
entidade abstrata (a teoria das formas ou ideias de Platão é um exemplo de realismo).
Para os nominalistas a palavra é um som comum que utilizamos para designar
cada pedra.

A filosofia da linguagem foi considerada importante por vários filósofos


modernos, incluindo John Austin, Ferdinand de Saussure, Schopenhauer, Umberto
Eco, Hegel, Herder, Wilhelm von Humboldt, Kant, Leibniz, Locke, Nietzsche, Charles
Sanders Peirce, John Searle, Vico, Foucault e Wittgenstein.

Embora os filósofos sempre tenham discutido a linguagem, ela começou a


desempenhar um papel central na Filosofia no final do século XIX. No século XX, a
Filosofia da Linguagem tornou-se tão importante que, em alguns círculos de filosofia
analítica, os problemas da Filosofia em geral foram tratados como problemas de
Filosofia da Linguagem.

Linguagem e mundo[editar | editar código-fonte]

As teorias da referência investigam como a linguagem interage com o


mundo. Frege defendeu uma teoria da referência na qual uma expressão tem
sua referência determinada pelo sentido ou modo de apresentação, isto é, pela
maneira como o referente é apresentado ao falante. Em contraste, e em resposta
ao idealismo de Bradley, Bertrand Russell criou uma teoria da referência direta.

A teoria da referência mediada de Frege difere da teoria da referência direta


de Russell no tratamento dos nomes logicamente próprios. Na explicação de Russell,

26
o único significado dos mesmos são seus respectivos referentes. Na explicação de
Frege, qualquer expressão referencial tem um sentido e uma referência. Nomes
correferenciais, como "Samuel Clemens" e Mark Twain", causam problemas para a
visão diretamente referencial em geral (embora não causem problemas
especificamente para a teoria da referência direta de Russell, pois na mesma nem
todos os nomes próprios gramaticais são nomes logicamente próprios). A teoria de
Frege, por sua vez, encontra dificuldades na articulação e especificação das
características dos sentidos.

 Interação social e linguagem

27
Os campos que examinam as condições sociais nas quais os significados e as
linguagens emergem são chamados de metassemântica. A etimologia e
a estilística são exemplos de áreas de investigação metassemânticas.

Na sociologia, o interacionismo simbólico é baseado na intuição que a


organização social humana é baseada quase inteiramente sobre o uso de
significados. Em consequência, qualquer explicação de uma estrutura social, como
uma instituição, precisaria explicar os significados partilhados que criam e sustentam
a estrutura.

Outra questão importante sobre mente e linguagem é em que medida a


linguagem influencia o pensamento, e vice versa. Há várias perspectivas e sugestões.
Por exemplo, a hipótese de Sapir-Whorf limita a extensão na qual os membros de
uma comunidade linguística podem pensar sobre os temas. (Há um paralelo dessa
hipótese Língua natural

idiomática, ou somente língua ou idioma) é qualquer linguagem desenvolvida


naturalmente pelo ser humano, de forma não premeditada, como resultado da
facilidade inata para a linguagem possuída pelo intelecto humano. Vários exemplos
podem ser dados como as línguas faladas e as línguas de sinais. A linguagem natural
é normalmente utilizada para a comunicação. As línguas naturais são diferentes
das línguas construídas e das línguas formais, tais como a linguística computacional,
a língua escrita, a linguagem animal[1] e as linguagens usadas no estudo formal
da lógica, especialmente da lógica matemática.

As línguas de sinais ou línguas gestuais são também línguas naturais, visto


possuírem as mesmas propriedades características: gramática e sintaxe com
dependências não locais, infinidade discreta, generatividade e criatividade. Línguas
de sinais ou gestuais como a estadunidense, a francesa, a brasileira ou
a portuguesa estão devidamente documentadas na literatura científica.

28
 Definição

Línguas naturais são, grosso modo, o contrário de línguas artificiais ou


construídas, como linguagens de programação de computador, assim como de
sistemas de comunicação existentes na natureza, como a dança das abelhas.
Embora exista uma grande variedade de línguas naturais, qualquer criança humana
normal é capaz de aprender qualquer língua natural. O estudo das línguas nos
permite identificar muito sobre seu funcionamento (sintaxe, semântica, fonética,
fonologia, etc.), mas também sobre como a mente e o cérebro humanos processam
a linguagem. Em termos linguísticos, a língua natural é uma expressão que apenas
se aplica a uma linguagem que evoluiu naturalmente, como a fala nativa (primeira
língua) de um indivíduo. A fala, assim como outros tipos de língua natural, é formada
por unidades menores (palavras) que possuem significados, e essas unidades, por
sua vez, são formadas por unidades ainda menores (como vogais e consoantes).

É comumente alegado que o francês, o inglês e o português falados são


"línguas". No entanto, sabemos que o inglês americano não é exatamente igual ao
inglês antilhano ou britânico e, ainda, que dentro dessas regiões (como nos limites da
Inglaterra) existem variedades ainda numerosas de inglês, normalmente chamadas
de "dialetos". Do ponto de vista estritamente científico, contudo, não existe um limite
objetivo entre o que seriam línguas e o que seriam dialetos; como escreveu o cientista
Hermann Paul, "com efeito, podemos distinguir tantas línguas quanto indivíduos".
Portanto, quando falamos do inglês, do francês e do alemão estamos tratando de
abstrações que não correspondem exatamente à realidade.

Atualmente é aceito pela academia que línguas são sistemas. Todos os


elementos de uma língua estão ligados entre si a partir de uma variedade de relações.
Essa compreensão das línguas foi, inicialmente, instituída por Ferdinand de
Saussure. Saussure falou das línguas como sistemas de signos onde, para cada
signo linguístico, haveria um significante e uma referência (significado): seu
equivalente na língua (a palavra menina) e um conceito que a língua pretende
expressar (o conceito de menina). A teorização de Noam Chomsky, segundo a qual
"língua é um conjunto de sentenças (finitas ou infinitas), cada uma finita em extensão

29
e construídas a partir de um conjunto finito de elementos", é uma das mais aceitas
hoje. Chomsky postulou a existência de uma Gramática Universal, comum a todas as
línguas, que seria herdada geneticamente.

 Origens

Não existe consenso entre os antropólogos acerca de quando e como teria


surgido a linguagem nos seres humanos (ou em seus ancestrais). As estimativas
variam consideravelmente, sendo que alguns cientistas apontam para a existência de
linguagem há 2 milhões de anos entre os Homo habilis, enquanto outros preferem
localizá-la há quarenta mil anos apenas, no tempo do homem de Cro-magnon. No
entanto, evidências recentes indicam que a linguagem humana foi inventada (ou
evoluiu) na África antes da dispersão dos humanos pelo globo a partir dessa região
há cerca de 50 mil anos. Além disso, é lógico supor que, como todos os grupos
humanos conhecidos possuem línguas, a língua natural deve ter figurado entre os
ancestrais de todos esses grupos.

 A linguagem e o cérebro

30
A área de Wernicke, em verde, e a área de Broca, em azul claro. Alguns
cientistas argumentam que essas áreas possuem forte relação com a linguagem
humana

Muito pouco se sabe, na realidade, sobre a relação entre a linguagem (como a


percebemos) e o cérebro humano. Embora uma grande maioria de estudiosos
da neurolinguística afirme que o crescimento do cérebro (sobretudo do córtex) está
relacionado ao surgimento da linguagem, as informações que temos sobre o assunto
ainda são muito limitadas. Sabemos, por exemplo, que o hemisfério esquerdo do
cérebro “envolve” a compreensão e produção da fala. O estudo das lesões cerebrais
em pacientes que perderam a fala (ou sofreram alterações visíveis na forma de
articular a fala, ou de pronunciar sentenças) indica que duas áreas do cérebro, a área
de Broca e a área de Wernicke, são responsáveis respectivamente pelo planejamento
e pela compreensão da fala. No entanto, pesquisas recentes têm questionado a
validade dessa suposição, sobretudo a partir do questionamento da metodologia
empregada pelos cientistas ao registrarem e analisarem estes casos. De acordo com
Loraine K. Obler e Kris Bjerlow, “Duas escolas do estudo de neurolinguística são
tradicionalmente descritas: os ‘localizacionistas’ e os holistas”. Os primeiros, como o
cientista Broca, postularam a existência de um vínculo direto entre certas áreas
do cérebro e produção da fala, enquanto na perspectiva dos holistas não existem
centros de linguagem e, na realidade, todo o cérebro contribui para a produção de um
determinado fenômeno, como a fala.

 O funcionamento das linguagens naturais

A fala

31
Sabemos que a fala funciona na base da repetição de unidades chamadas
palavras, cujo sentido se repete, sendo que estas, por sua vez, são formadas por
outras unidades menores (vogais e consoantes) que também se repetem. Na
realidade, determinar o que são palavras e os limites entre as unidades fonéticas da
fala é, ainda, um desafio. Espectrogramas de sentenças faladas não permitem ver
com clareza onde começa uma vogal e onde ela termina. Pesquisas mostram que,
não importa quão rápido ou lentamente os idiomas sejam falados, eles tendem a
transmitir informações aproximadamente na mesma taxa: 39 bits por segundo,
aproximadamente o dobro da velocidade do código Morse.

As línguas faladas variam no tempo e no espaço. O inglês falado por um


londrino na época do rei Henrique VIII certamente não é o mesmo que o inglês falado
por um londrino hoje, assim como o inglês falado por um britânico contemporâneo
dificilmente pode ser considerado semelhante ao inglês falado em várias das ex-
colônias britânicas hoje. A forma como as línguas faladas mudam é assunto de
particular interesse na academia. Por exemplo, comparando dialetos do inglês, os
cientistas perceberam que em alguns países e regiões o “r” [r] das sílabas finais de
palavras como “sport” (esporte) não eram pronunciados. O caso contrário ocorria
em Nova Iorque no século XX, onde o uso do [r] no final de sílaba era muito mais
comum. Segundo estudo realizado por William Labov, essa diferença surgiu porque
o uso do [r] foi, em determinada época, vinculado a uma maneira de falar prestigiosa.
Em outras palavras, usar o [r] no final de sílabas se tornou uma questão de status e,
assim, passou a ser empregada por segmentos específicos da sociedade nova-
iorquina, tendo posteriormente se difundido entre outros segmentos sociais também.

O método comparativo também permite que os linguistas entendam o


funcionamento da língua falada. A partir deste método, pode-se traçar relações entre
as línguas atuais, e possíveis origens comuns que elas teriam partilhado em um
passado distante. É o caso do indo-europeu, uma matriz imaginária que
supostamente teria sido precursora de línguas atuais como o russo, o alemão, o
inglês, o francês, o português, etc.

32
 A língua de sinais

A língua de sinais é uma outra variedade conhecida de língua natural. De


acordo com o neurologista Oliver Sacks, “os surdos geram línguas de sinais em
qualquer lugar onde existam comunidades de surdos; é para eles a forma mais fácil
e natural de comunicação”. Além disso, a língua de sinais é altamente expressiva,
tanto quanto a língua falada. No entanto, em sua obra “Vendo Vozes”, Oliver Sacks
apresenta vários casos de pacientes que, devido a ambientes desfavoráveis (o que
envolve o preconceito da sociedade em relação aos surdos, mas também outros
fatores), desenvolvem suas capacidades linguísticas com mais tardar ou com maior
dificuldade.

A língua de sinais, assim como as línguas faladas, possui estruturas


gramaticais complexas.

33
Filosofia da linguagem comum

Filosofia da linguagem comum ou filosofia da linguagem ordinária ou,


ainda, filosofia da linguagem cotidiana (em inglês, ordinary language philosophy)
são denominações de um movimento filosófico que tem como pressuposto
metodológico a ideia de que os problemas filosóficos tradicionais resultam de
confusões conceptuais. Segundo seus adeptos, os filósofos frequentemente incorrem
nessas confusões por distorcer ou desconsiderar o que as palavras realmente
significam na linguagem cotidiana.

Essa abordagem requer tipicamente uma atenção a detalhes no emprego de


palavras e expressões da língua natural. Também chamada de “Filosofia de Oxford”,
essa orientação é associada às obras de vários filósofos que trabalhavam e
ensinavam em Oxford em meados do século XX. Entre eles, destacam-se J. L.
Austin, Gilbert Ryle e Peter Strawson. Fora do círculo de Oxford, o trabalho tardio
de Wittgenstein é o exemplo mais destacado de filosofia da linguagem comum.

A referência à linguagem comum marca o contraste com concepções


anteriores sobre o papel da linguagem na resolução de problemas filosóficos. Se para
os filósofos do período clássico da análise filosófica (Frege, Russell, os positivistas

34
lógicos) os problemas teriam de ser resolvidos por linguagens artificiais – mais
precisas e exatas que a linguagem natural –, a ênfase do segundo Wittgenstein e dos
filósofos de Oxford concentra-se nos conceitos tal como forjados pelos falantes da
língua em situações concretas de uso das palavras.

 História

De início, a filosofia analítica adotou uma visão negativa em relação à


linguagem comum. Bertrand Russell via a linguagem natural como demasiadamente
imprecisa, ambígua e confusa; e, portanto, como um instrumento inadequado para a
resolução de problemas metafísicos e epistemológicos. A proposta de Russell – bem
como de Frege, do Círculo de Viena (especialmente Rudolf Carnap) e do jovem
Wittgenstein – era o de adotar linguagens artificiais, precisas e exatas, exemplificadas
pelos novos sistemas lógicos, como ferramenta para a solução de problemas que,
desde a sua primeira formulação, foram inadequadamente discutidos e tratados em
termos da linguagem comum.

 Gilbert Ryle

35
Um dos expoentes da filosofia de Oxford foi Gilbert Ryle (1900-1976). A seu
respeito, conta-nos um de seus contemporâneos:

"Eu penso que Ryle foi o líder, brilhante e benevolente, da filosofia de Oxford
no período do pós-guerra. O desenvolvimento e o florescimento do assunto deveram-
se numa enorme proporção à sua visão e iniciativa."

— Peter Strawson.

Os primeiros trabalhos de Ryle adotavam ainda os pressupostos da primeira


fase da filosofia analítica – desenvolvida nas três primeiras décadas do século XX.
Em “Systematically Misleading Expressions” [Expressões sistematicamente
enganadoras], de 1932, Ryle afirmou que as expressões sistematicamente
enganadoras são aquelas que apresentam uma forma gramatical incompatível com a
“estrutura lógica dos fatos”. Uma característica típica dessas expressões seria a de
produzir contradições e antinomias quando nos dedicássemos a extrair as suas
consequências lógicas.

Em 1937, no texto “Categories” [Categorias], Ryle dá passos significativos em


direção ao novo estilo de filosofia que iria caracterizar a sua obra e a de vários outros
filósofos de Oxford. Nesse trabalho, ele sustenta que o trabalho do filósofo deve ser
o de descobrir “erros categoriais”. Esses erros categoriais resultam da atribuição
errônea de um conceito a uma determinada categoria simplesmente em razão de
semelhanças superficiais. Tais erros são tipicamente recorrentes no tratamento de
conceitos relacionados à categoria do mental. Ao falar de percepções, sensações,
desejos, vontades, pensamentos e outros conceitos mentais,
usamos proposições similares às que usamos para descrever objetos físicos. Assim
como dizemos, por exemplo, "Eu tenho dicionários", também falamos coisas como
"Eu tenho comichões" ou "Eu tenho vontade de viajar". Em razão dessa similaridade
entre as formas gramaticais, somos levados a pensar que comichões e vontades são
objetos, assim como dicionários. No entanto, o conceito de objeto pertence à
categoria do físico, não do mental. Ao contrário dos objetos em geral, não temos
posse de sensações e vontades. Usar o conceito de objeto em associação com
termos psicológicos é cometer, portanto, um erro categorial.

36
Em 1945, Ryle assume a cátedra Waynflete de Filosofia Metafísica em
Oxford,[3] e na conferência inaugural, chamada de “Argumentos filosóficos”, ele
aprofunda as ideias anteriores e apresenta uma verdadeira declaração de princípios
filosóficos: para ele, o filósofo deve “mapear os poderes lógicos das ideias”:

"As pessoas frequentemente sabem se situar numa localidade, embora sejam


incapazes de descrever as distâncias ou direções entre as partes diferentes dessa
localidade ou entre ela e outras localidades familiares (...) Nosso conhecimento
cotidiano da geografia de nossas ideias é um caso semelhante."

— Ryle, "Argumentos Filosóficos".

Embora as pessoas saibam usar as expressões de sua língua em situações


comuns, a falta de uma cartografia conceptual que mostre claramente as separações
e distâncias entre os tipos a que pertencem os conceitos pode ensejar formas de
pensamento absurdas. O filósofo, ao fazer o mapeamento de nossas ideias, pode
identificar os pontos em que surgem as confusões de tipos (ou erros categoriais).
Como a atribuição errônea de um conceito a um tipo que não lhe seja adequado leva
inevitavelmente ao absurdo e ao paradoxo, Ryle considera que o principal instrumento
à disposição do filósofo na tarefa de identificar as confusões de tipos ou erros
categoriais é o argumento de reductio ad absurdum.

Em 1949, Ryle publica a sua obra-prima – The concept of mind [O conceito de


mente] –, em que ataca veementemente o que chamou de “mito cartesiano” do
“fantasma na máquina”. Esse mito cartesiano consiste na ideia tradicional de que o
ser humano é um composto, em que se combinam e interagem uma substância física
(o corpo) e uma substância imaterial (a mente). Para atacar isso que chamou de
“doutrina oficial” sobre a mente humana,] Ryle lança mão das ideias programáticas já
apresentadas em seus trabalhos anteriores. Na base do mito cartesiano está uma
variedade de erros categoriais. Ao falar sobre a mente, os filósofos presumem que os
conceitos mentais funcionam exatamente como os conceitos que empregamos para
falar de objetos físicos. Daí surgem vários equívocos como, por exemplo, imaginar
que assim como podemos inspecionar os objetos físicos à nossa volta, podemos
também introspectar objetos e eventos que se apresentam no interior da

37
mente. Consequentemente, os filósofos tendem a imaginar que a mente é um “teatro
privado” a que só o seu possuidor tem acesso privilegiado. Mas, segundo Ryle, essa
concepção é incompatível com o uso comum que fazemos do vocabulário psicológico,
pois o mito cartesiano pressupõe que apenas o próprio sujeito saiba quando crê em
alguma coisa, tenciona ou deseja fazer alguma coisa ou se admira com alguma coisa,
ao passo que em nosso discurso cotidiano afirmamos com segurança que alguém
(outra pessoa) tem tais e tais desejos e acredita em tais e tais coisas. Para desfazer
essas confusões e conclusões equivocadas, Ryle examina uma grande variedade de
conceitos psicológicos a fim de mostrar que as suas regras de aplicação são
diferentes das regras que regulam o vocabulário sobre os objetos físicos.

 John Langshaw Austin

Outra grande influência na filosofia de Oxford na década de 1950 foi John


Langshaw Austin (1911-1960). Suas famosas "reuniões das manhãs de sábado"
foram responsáveis pela difusão da atitude e das técnicas geralmente associadas à
filosofia da linguagem comum. Nessas reuniões, Austin conduzia discussões e
atividades completamente diferentes dos tradicionais debates filosóficos. Os textos
analisados eram variados: a Ética de Aristóteles, os Fundamentos da

38
Aritmética de Frege, as Estruturas Sintáticas de Chomsky ou as Investigações
Filosóficas de Wittgenstein. Igualmente variados eram os temas tratados. A ideia de
que os usos das palavras obedecem regras levou ao exame minucioso de livros e
manuais sobre regras de jogos. Na tentativa de entender os conceitos estéticos,
Austin recomendava que se estudasse um livro de design para que se pudesse
examinar como os termos estéticos são empregados em situações concretas.
A metáfora proposta de Wittgenstein de que as palavras são
como ferramentas sugeriu ao grupo um levantamento exaustivo de todas as palavras
que poderiam estar associadas à noção de ferramenta. Em todas essas atividades, o
objetivo era afastar o foco das grandes e eloquentes questões filosóficas - que
poderiam deturpar e enviesar a investigação - e buscar o esclarecimento dos
conceitos mediante um trabalho árduo e meticuloso sobre os conceitos que a língua
natural colocava à disposição dos falantes.

História da Linguagem: fundamentos filosóficos

O ser humano, através da linguagem, expressa pensamentos e sentimentos


por intermédio da palavra. A palavra, em seu sentido mais abrangente, representa
muito mais do que um conjunto fônico organizado a fim de estabelecer comunicação.
Chauí (2002, p. 141) define a linguagem como:

39
[...] um sistema de signos ou sinais usados para a comunicação entre pessoas
e para a expressão de ideias, valores e sentimentos [...] essa definição [...] esconde
problemas complicados com os quais os filósofos têm-se preocupado desde há muito
tempo.

Desde a mais remota antiguidade, a origem da linguagem vem sendo discutida


por sábios e pensadores, sem que até hoje tenham chegado a um consenso sobre a
problemática. Por causa de sua importância, a gênese da linguagem por vezes é
atribuída a questões divinas.

Na cultura cristã, a Bíblia relata no livro de Gênesis que Deus dotou o homem
de linguagem para que este nomeasse tudo o que havia na Terra, dando-as apenas
um único nome. Além disso, este mesma epístola bíblica apresenta a diferença das
línguas através do relato sobre a Torre de Babel. Entretanto, esta versão pode ser
contestada, visto que o retrato religioso parte de princípios míticos e não-
comprováveis.

Partindo do pressuposto que o homem tem a necessidade de racionalizar o


seu pensamento, levantou-se a seguinte questão filosófica: como explicar a origem e
a utilidade da linguagem na vida do homem? Diante dos questionamentos filosóficos
sobre este assunto, Martin (2003, p. 119) discorre que:

[...] a linguagem apresenta a existência dos objetos gerais – dos conceitos


abstratos – como uma existência fora da linguagem. Por natureza, a linguagem impõe
a crença numa realidade [...] as palavras pressupõe uma existência.

Neste panorama, os aspectos filosóficos sobre a origem da linguagem


atrelavam a existência de seus enunciados à lógica, pois estes eram “sistemas
prescritivos de raciocínio, ou seja, sistemas que definem como se deveria pensar para
não errar, usando a razão, dedutivamente e indutivamente” (CHAUÍ, 2002, p. 180).

A respeito da busca pela origem da linguagem, Chauí (2002) salienta que as


visões expressas pelos filósofos gregos, por partir de pressupostos lógicos,
contribuíram significativamente ao entendimento do tema em questão. Para a autora,
Heráclito de Éfeso frisa que o devir, como, por exemplo, dia – noite, inverno –

40
primavera, frio – calor, trevas – luz, era a expressão real da linguagem; já Parmênides
de Eleia concebia o mundo como um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico,
uma vez que tudo se torna oposto de si mesma.

Acerca da linguagem e sua relação como o homem e a natureza, Platão


coaduna com Heráclito no que se refere à transformação natural das coisas, pois
concebia o ser humano como sujeito-autor de constantes modificações. Não obstante,
a visão platônica da linguagem elucida que:

[...] esse mundo é uma aparência (é o mundo dos prisioneiros da caverna), é


uma cópia ou sombra do verdadeiro e real e, nesse caso, Parmênides é quem tem
razão. O mundo verdadeiro é o das essências imutáveis (que Platão chama de mundo
inteligível), sem contradições nem oposições, sem transformações, onde nenhum ser
passa para ser o seu contraditório. Mas como conhecer as essências e abandonar as
aparências? Como sair da caverna? Através de um método do pensamento e da
linguagem chamado dialética (CHAUÍ, 2002, p. 181).

A partir da dialética platônica, que consiste num diálogo no qual os


interlocutores possuem opiniões opostas sobre alguma coisa, é que a lógica bifurcará
o pensamento humano, sobretudo nas proposições expostas em enunciados
linguísticos considerados “verdadeiros” ou “falsos”. No entanto, Aristóteles foi o
precursor da lógica propriamente dita, pois seus pressupostos analisavam o
pensamento, enquanto Platão analisava os discursos.

Levando em conta as ideias antevistas, é a partir do pensamento filosófico que


a linguagem passou a ser concebida como um mecanismo de concretização do
pensamento, uma vez que é por intermédio deste que o ser humano embasará suas
atitudes, modificando assim a sua realidade.

41
Linguística Histórica: percurso e ideologia

A comunicação é um dom inato ao ser humano, pelo qual conhece o que há


ao seu redor, expressando seus pensamentos, e sem o qual não consegue sobreviver
em meio às dificuldades (LUFT, 2002). Para Fischer (2009, p. 12):

Em sua definição mais simples, linguagem significa 'meio de troca de


informações'. Essa definição permite que o conceito de linguagem englobe
expressões faciais, gestos, posturas, assobios, sinais de mão, escrita, linguagem
matemática, linguagem de programação (ou de computadores), e assim por diante.

Por se tratar de um universo amplo de concretização, há um tipo de linguagem


que torna o ser humano inerentemente criativo: trata-se da comunicação verbal, que
se utiliza da língua como meio de existência. A língua é, de acordo com Martin (2003),
o código concretizador da linguagem humana, uma vez que possibilita a interação
entre falantes e contexto social. Por ser complexa e dinâmica, toda língua é objeto de

42
estudo de uma área do conhecimento responsável pela análise do ato de comunicar
inerente ao homem: a Linguística.

É impossível conceber a linguagem humana sem contextualizá-la com a


história, uma vez que “a linguagem e a vida em sociedade devem ter surgido
praticamente ao mesmo tempo” (SILVA, 2010). Neste sentido, a linguagem humana
é reflexo do pensamento coletivo da sociedade na história, modificando-se ao
decorrer da evolução social. Por isso, há um ramo do conhecimento responsável pelo
estudo da evolução linguística ao longo dos séculos: a Linguística Histórica.

Para compreender a Linguística Histórica, é necessário levar em consideração


que todas as línguas evoluem continuamente, e só permanecem estáticas aquelas
que porventura já são consideradas “mortas”. Segundo Martin (2003, p. 135):

Enquanto uma língua permanecer viva, ela não deixará de se transformar, de


se adaptar às necessidades de uma comunidade que também evolui, e de refletir uma
visão das coisas que se renova continuamente. As línguas têm uma história – como
os grupos que as manejam: são objetos contingentes e não objetos imutáveis.

Os argumentos expostos servem de alicerce ao entendimento que uma


sociedade somente possui memória e consciência através de sua língua identitária.
Além disso, a história de uma sociedade e suas manifestações culturais não podem
ser dissociadas de sua língua.

Ferdinand de Saussure, o pai da Linguística Moderna, ao elaborar o Curso de


Linguística Geral, faz um estudo aprofundado estudo acerca do signo linguístico e as
dicotomias existentes entre as manifestações das línguas. A Linguística
fundamentada elaborados nos pressupostos saussurianos vê a língua como um
sistema de signos pelos quais é possível manter comunicação.

Evidenciando esta questão, Martins (2007, p. 21) frisa que:

Saussure define a língua como um sistema de signos. Os sons valem como


linguagem apenas quando servem para expressar ou comunicar ideias: de outra
maneira, são apenas ruídos. E para comunicar ideias, devem fazer parte de um

43
sistema de convenções. O signo é a união de uma forma que significa, à qual
Saussure chama significante, e de uma ideia significada, ou significado.

Diante do exposto, o significante e o significado, embora sejam didaticamente


vistos separadamente, formam o todo necessário à concretização do signo linguístico.
Signo este que somente poderá ser compreendido historicamente a partir de uma
outra relação saussuriana: sincronia e diacronia – sendo estas fundamentais ao
entendimento das premissas da Linguística Histórica.

Para Saussure, a relação sincrônica analisa a evolução de uma língua em um


determinado período histórico, enquanto que a diacronia analisa as mudanças da
língua ao decorrer de sua existência. A fins de esclarecimentos, a Linguística Histórica
somente será entendida a partir da noção saussuriana de diacronia linguística (visto
que esta área é conhecida como Linguística Histórica).

Face aos argumentos supracitados, é válido ressaltar que os estudos históricos


da Linguística somente podem ser possíveis por causa da existência de um aparato
gráfico de extrema importância à manutenção das línguas como mecanismos de

Para Martin (2003), as contribuições da Linguística Histórica são de exímio


valor aos estudos morfossintáticos e semânticos das línguas, visto que estas são
manifestadas através de um todo lexical composto e organizado por estas estruturas.
Sendo assim, “toda língua é feita de camadas diversas: é necessário um mínimo de
cultura histórica para discerni-las” (p. 141). Além disso, os estudos históricos da
Linguística somente são possibilitados através da escrita. Para Ong (1998, p. 100):

A escrita, em seu sentido comum, foi e é a invenção mais importante de todas


as invenções humanas. Não é um mero apêndice da fala. Em virtude de mover a fala
do mundo oral-auricular para um novo mundo sensorial, o da visão, ela transforma
tanto a fala quanto o pensamento.

A escrita, em outras palavras, é de extrema importância ao compartilhamento


e à perpetuação de saberes, tendo em vista a sua utilidade como instrumento

44
possibilitador de comunicação, produção de conhecimento e compreensão das
estruturas de uma língua

Filosofia da Linguagem: principais autores

 Linguagem, lógica e mundo

A ideia de que os problemas da Filosofia carregam problemas de linguagem


não é algo novo. Os filósofos Leibniz e Espinosa já percebiam a confusão no uso das
palavras. E antes deles, Platão, Aristóteles e os filósofos medievais (através
do Problema dos Universais) também investigaram este problema.

A chamada “virada linguística” da Filosofia, que ocorreu somente a partir o


século XX, é justamente a tentativa dos filósofos em criar uma linguagem filosófica
apropriada. Contudo, para muitos desses pensadores contemporâneos, a própria
Filosofia é o resultado de uma compreensão incorreta da linguagem.

Desta forma, antes de nos perguntarmos o que é a alma, Deus, a ética ou a


natureza humana, devemos nos perguntar o que é a linguagem e qual a forma mais
adequada de comunicar nossas percepções filosóficas. Ou se isso é realmente
possível.

45
Uma das principais características da linguagem — segundo o filósofo
Wittgenstein em sua primeira fase — é que, de um lado, temos o mundo com sua
multiplicidade de fatos, e de outro, uma linguagem que tenta falar sobre esse
mundo. Assim, necessariamente existe algo em comum entre o mundo e a linguagem:
a forma lógica.

Por conseguinte, só podemos então considerar válidas as proposições que


estão de acordo com os fatos do mundo, como por exemplo, dizer que “o vaso está
sobre a mesa” enquanto se aponta para um vaso que todos podem ver.

Posso também dizer algo sem mostrar nada, porém, o que eu digo deverá ser
posteriormente mostrado para que minha afirmação seja válida. Somente
proposições desse tipo estão de acordo com a forma lógica do mundo e, por isso
mesmo, também são válidas.

Qualquer coisa diferente deste modelo lógico significa dizer coisas sem
sentido, tanto na Filosofia quanto na vida cotidiana. Sobre isso, Wittgenstein afirmou
que “representar na linguagem algo que contradiga as leis lógicas é tão pouco
possível quanto representar uma figura que contradiga as leis do espaço”.

Porém, esta delimitação aparentemente sufocante dos limites da linguagem


não significa que a Filosofia deva se restringir a um tipo de linguagem científica, e sim
que o filósofo deve passar a investigar novas formas de comunicação.

Sobre isso, o próprio Wittgenstein afirmou que “os filósofos são tentados a
responder perguntas à maneira da ciência”, o que é um erro, pois Ciência e Filosofia
possuem diferenças fundamentais.

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 Jogos de linguagem, contexto e pensamento

Pela experiência cotidiana, sabemos que a maioria das pessoas pouco se


importa com detalhes linguísticos, vivendo de acordo com suas crenças locais e
falando sobre elas de forma espontânea.

Contudo, quando os indivíduos levam seus discursos para outro cenário —


seja social, técnico, cultural, filosófico ou religioso — eles não conseguem mais se
comunicar de forma coerente.

Este fato tem consequências muito mais complexas do que o mero problema
de comunicação, pois trata-se também, como foi dito mais acima, da limitação do
próprio pensamento.

O conceito de Jogos de Linguagem, desenvolvido por Wittgenstein em sua


segunda fase, tornou-se uma das ilustrações mais conhecidas desse problema. Dizer
que nos comunicamos tal como ocorre com os jogos significa dizer que a linguagem
é governada por regras limitadas.

Assim, se eu convido alguém para jogar xadrez, estamos de acordo com as


regras desse jogo. Se um dos jogadores quiser discordar das regras, precisa ser
convencido a aceitá-las para que o jogo ocorra, caso contrário, não há jogo de xadrez.
Pode-se até criar um novo jogo com novas regras utilizando as mesmas peças e
tabuleiro. Mas definitivamente não será xadrez.

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Assim, a própria Filosofia — bem como qualquer discurso com pretensão de
verdade — estaria aprisionada no seu próprio Jogo de Linguagem; não consegue ir
além das próprias regras. Não apenas a Filosofia, mas também todas as crenças são
Jogos de Linguagem que fazem sentido apenas dentro de suas regras.

Da mesma forma, as pessoas estariam fazendo a mesma coisa: jogando Jogos


de Linguagem que não fazem sentido fora das regras estabelecidas por elas
mesmas. Não há uma verdade ou universalidade sobre a qual estão falando; estão
apenas presas em seus Jogos de Linguagem sem ter consciência disso.

 Bertrand Russell

Durante o século XX, o filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970) foi


considerado um dos intelectuais mais importantes de seu tempo. Sua influência não
se faz presente apenas na Filosofia da Linguagem, da qual ele é considerado um dos
pioneiros, mas também na matemática, na lógica, na literatura e na epistemologia.

Além disso, Russel militou politicamente em causas pacifistas e humanitárias.


Pelo conjunto de sua obra, que inclui a publicação da História da Filosofia Ocidental ,
recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1950.

Inicialmente, Russel estava voltado para alguns paradoxos da matemática e


da lógica. Seu interesse pela linguagem, principalmente dos problemas de linguagem

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na Filosofia, ocorreu depois que o filósofo (devido às suas pesquisas em lógica) se
voltou para a epistemologia.

Russel era um empirista, e para ele toda informação que não viesse
diretamente dos sentidos era passível de confusão. Da mesma forma, a linguagem
deveria referir-se a realidade empírica. Na Filosofia, Russel acreditava que não
poderíamos mais ser tão descuidados com a linguagem.

Sua abordagem foi chamada de atomismo lógico, uma vez que acredita que o
mundo é composto de fatos lógicos que se refletem na linguagem e que podem ser
separados e divididos até que se constate valores de verdade ou falsidade em um
proposição.

Assim, uma proposição, para ser verdadeira, deve conter apenas argumentos
válidos em suas “parte atômicas” constituintes. Um valor de falsidade na proposição
significa que toda a proposição é falsa.

Por exemplo: a proposição “O atual Rei da França é careca”. Ao analisarmos


a primeira parte da proposição, “O atual Rei da França”, percebemos que ela é falsa,
pois não existe um atual Rei da França. Logo, não importa mais avaliar se o rei é
careca ou não, pois toda a proposição já é falsa, uma vez que uma de suas partes
constituintes é inválida.

Aplicada a uma pequena proposição, parece simples. Mas uma determinada


filosofia é formada por várias proposições, que são seus argumentos encadeados à
uma conclusão.

Então, se acreditarmos na lógica e sua relação com a linguagem e o mundo,


conforme afirma Russel, todo um sistema filosófico deverá ser considerado duvidoso
se apenas uma de suas proposições estiver falsa.

Sendo o Bertrand Russel um empirista, ele aconselha ainda que ao considerar


qualquer filosofia devemos nos remeter tão somente aos fatos, evitando
considerações distanciadas da realidade.

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 Ludwig Wittgenstein

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) recebeu suas primeiras


experiências em Filosofia de Bertrand Russel, o único que tinha um temperamento
tranquilo o suficiente para aturar a personalidade insuportável e arrogante do jovem
Wittgenstein, que atualmente é reconhecido como um dos grandes gênios criativos
do século XX.

Russel não apenas suportou Wittgenstein e lhe ensinou pacientemente tudo o


que sabia, mas também lhe apoiou de todas as formas na sua produção filosófica
antevendo que o jovem gênio seria o prosseguimento de suas ideias. Este grande
movimento filosófico iniciado por Russel, Wittgenstein e outros ficou conhecido
como Filosofia Analítica, que tem entre as suas bases a Filosofia da Linguagem.

A Filosofia de Wittgenstein se divide em duas fases. A primeira onde ele expõe


parte das ideias que desenvolveu com Bertrand Russel, ainda que existam
discordâncias entre eles, representada pela sua obra Tractatus Lógico Philosophicus,
e a segunda, onde o filósofo irá discordar dele mesmo e instaurar o seu conceito de
“Jogos de Linguagem” na sua obra Investigações filosóficas.

A primeira fase de Wittgenstein é marcada pela investigação da relação entre


mundo, linguagem e pensamento. Sua filosofia parte do pressuposto de que existe

50
um paralelo entre a forma lógica da linguagem (sua sintaxe) e o mundo, uma vez que
a linguagem precisa necessariamente refletir a totalidade dos fatos lógicos do mundo.

Essas ideias iniciais são semelhantes às de Bertrand Russel, utilizando


também a análise lógica das proposições com o objetivo de estabelecer seus valores
de verdade e falsidade. Porém, os dois filósofos têm sérias divergências, pois Russel
dá primazia à experiência empírica enquanto Wittgenstein valoriza a lógica acima de
tudo (pelo menos em sua primeira fase).

Para Wittgenstein a tarefa fundamental da filosofia seria “uma batalha contra o


enfeitiçamento de nossa inteligência por meio da linguagem”, pois os problemas da
Filosofia — assim como de boa parte de nossa vida cotidiana — são
fundamentalmente problemas de linguagem e lógica.

Sem Filosofia “os pensamentos são vagos e indistintos” e sua tarefa seria
justamente “esclarecê-los dar-lhes limites nítidos”. E como a linguagem está restrita
aos limites impostos pelo mundo, não podemos dizer nada além desses limites — a
não ser coisas sem sentido.

Uma das grandes questões para o filósofo austríaco é que, sobre assuntos que
não podem ser “mostrados”, como Deus e a alma, nada pode ser dito. Isso não
significa que essas coisas não existam, mas apenas que a linguagem, devido aos
seus limites, não pode dizer nada acerca delas. Sobre isso Wittgenstein declara de
forma enigmática: “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.”

Em sua segunda fase, Wittgenstein passa a tratar a linguagem como um jogo


contextual com regras fixas, colocando em xeque as pretensões de verdade ou
universalidade dos discursos.

O “Segundo Wittgenstein”, conforme ficou conhecida sua segunda fase, é uma


surpreendente demonstração da honestidade intelectual do filósofo, pois ele irá
discordar de vários pontos fundamentais de sua primeira obra.

Em sua segunda obra, Investigações Filosóficas, o filósofo apresenta seu


conceito de Jogos de Linguagem, que procura demonstrar como a linguagem opera

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tal como os jogos, sendo restrita a regras altamente delimitadas de conceitos,
sentidos e significados.

Contudo, a forma como as pessoas se comunicam, de maneira espontânea e


inconsciente, as impedem de perceber que estão jogando jogos linguísticos. Isso não
chega a ser um problema, pois esta delimitação e contextualização é uma
característica da comunicação humana, mas representa também uma prisão (da
linguagem e do pensamento) na qual os discursos filosóficos também estão
aprisionados.

Este conceito já foi apresentado mais acima na sessão introdutória “Jogos de


linguagem, contexto e pensamento”.

Wittgenstein elevou a Filosofia da Linguagem para um nível que lhe rendeu a


fama de “o filósofo que matou a Filosofia”. O que se diz sobre suas duas fases é que,
se o filósofo estava tentando matar a Filosofia em sua primeira tentativa, ele falhou,
porém, na segunda vez teve sucesso.

 Gottlob Frege

As ideias do filósofo alemão Gottlob Frege (1848-1925) são fundamentais para


o desenvolvimento da Filosofia do século XX, podendo até mesmo serem

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consideradas o marco inicial da Filosofia Analítica, influenciando definitivamente a
Filosofia da Linguagem.

Além disso, foi responsável por inovações conceituais no campo da lógica, da


matemática e da epistemologia. Talvez por isso tenha declarado que “todo bom
matemático tem um pouco de filósofo e todo bom filósofo tem um pouco de
matemático”.

Sobre o Sentido e a Referência é seu mais conhecido trabalho, onde o filósofo


questiona a relação de igualdade, sendo considerado praticamente um clássico da
Filosofia da Linguagem. O artigo faz parte de seu livro Lógica e Filosofia da
Linguagem.

 Lógica e Filosofia da Linguagem, de Frege

Frege busca apontar questões sobre as mudanças de sentido que ocorrem


quando falamos sobre a mesma referência, como por exemplo, referir-se a Aristóteles
ora como discípulo de Platão e ora como Professor de Alexandre, o Grande.

Apesar da referência ser a mesma, que é o filósofo grego Aristóteles, o sentido


(pensamento ou diferença cognitiva) é diferente. Esta ambiguidade, que pode parecer
trivial, carrega um problema na relação de igualdade, principalmente no que tange à
linguagem e à lógica.

No início de seu artigo Frege diz: “A igualdade desafia a reflexão, dando origem
a questões que não são fáceis de responder. É ela uma relação? Uma relação entre
objetos? Ou entre nomes e sinais de objetos?”

De fato, a partir da noção de sentido e referência, todo tipo de questionamento


surge na linguagem comum. Como exemplo Frege diz em seu artigo: “As palavras ‘o
corpo celeste mais distante da Terra’ têm um sentido, mas é muito duvidoso que
também tenha uma referência”.

Nesse caso, temos um sentido sem um objeto de referência, o que pode


produzir proposições inválidas (ou duvidosas, como afirma Frege). No exemplo de

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Russel que vimos anteriormente sobre a proposição “o atual rei da França é
careca” acontece algo semelhante.

Da mesma forma, e ainda utilizando outro exemplo de Frege, “A referência de


‘estrela da tarde’ e ‘estrela da manhã’ é a mesma, mas não o sentido”. Nesse caso, a
referência é o planeta Vênus, que observado pela manhã tem um sentido e no cair da
tarde tem outro. Então, temos um mesmo objeto e dois sentidos, e cada sentido
produz uma imagem diferente na mente; um pensamento ou ideia diferente.

O objetivo de Frege era criar uma linguagem artificial que eliminasse as


ambiguidades e problemas da linguagem comum, aspirando assim à criação de uma
linguagem rigorosa (que ele chamou de conceitografia) para as questões
matemáticas, lógicas, filosóficas e científicas.

Independente dos desdobramentos das ideias de Frege — que exigiria um


texto que extrapola a proposta introdutória deste post — foi sua abordagem analítica
uma de suas principais influências.

Sua perspectiva matemática pode parecer com a filosofia de Descartes, que


buscou trazer o rigor da matemática para a reflexão filosófica, contudo, trata-se de
algo mais específico: da aplicação da exatidão matemática à linguagem.

 John Searle

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John Searle (1932 -) é um filósofo americano da tradição analítica que se
destacou por enfatizar as relações entre Filosofia da Linguagem e Filosofia da Mente,
apontando esta integração como indissociável.

Um dos pontos levantados por Searle é que a Filosofia da Linguagem, da forma


feita por alguns filósofos, considera que os problemas filosóficos poderiam ser
resolvidos apenas pelo esclarecimento da lógica e do significado das palavras.

Discordando abertamente desta perspectiva, Searle acredita que esse ponto


de vista por demais lógico desconsidera que a linguagem é também resultado de
características biológicas da mente, portanto, qualquer estudo acerca linguagem deve
considerar a forma como a mente processa a realidade.

Isso não significa que o estilo analítico deva ser abandonado, mas sim que
deva passar a considerar novos elementos, afinal, o rigor na clareza e na elucidação
lógica de questões filosóficas é um dos maiores legados da Filosofia Analítica.

John Searle recebeu forte influência de Frege, graças ao estilo objetivo e claro,
contudo, não pretende com isso apenas confirmar a concepção de Frege, mas sim
acrescentar problemas que estavam sendo ignorados desde então.

De acordo com o filósofo americano, entre os problemas que a Filosofia da


Linguagem deve considerar estão os problemas da relação mente-corpo,
da consciência, da intencionalidade e da forma como nos expressamos naquilo que
Searle denominou de “atos de fala”.

Searle também se destacou ao apontar erros em concepções científicas, em


especial de cientistas da Inteligência Artificial, mostrando através de um experimento
mental porque as máquinas nunca serão capazes de pensar tal como os
humanos. Este argumento elaborado por Searle ficou conhecido como “Sala
Chinesa”.

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CONCLUSÃO

A Filosofia da Linguagem é o ramo da Filosofia que investiga as relações entre


mundo, pensamento e linguagem. O sentido das palavras, desde os primeiros
pensadores, sempre ocupou um papel importante nas reflexões filosóficas. Contudo,
foi somente a partir do século XX que a Filosofia passou a considerar a linguagem
como uma investigação filosófica fundamental. Se antes ela era secundária, servindo
como base para as reflexões, a partir da Era Contemporânea ela tornou-se o tema
principal.

Não se trata apenas de compreender contextos históricos, sociais e culturais


para, a partir disso, investigar o significado e sentido das palavras. Se trata também
de compreender os limites da linguagem; das tentativas de exprimir pensamentos e,
finalmente, se é o sujeito que determina a linguagem e não o contrário.

O que intriga os pensadores, muito além do mero “problema de comunicação”


como os conflitos pessoais, políticos e religiosos causados pelas diferenças de
sentido das mesmas palavras, é se a linguagem pode mesmo dizer algo acerca do
mundo e ser compreendida conforme a intenção daquele que tenta se comunicar.

Dizer que nossa linguagem não funciona fora da realidade linguística na qual
vivemos não é meramente afirmar o óbvio, mas sim dizer que os limites de nossa
linguagem são também os limites de nosso pensamento.

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