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Tarefa difícil a de conceituar todo um campo científico e delinear suas

características mais peculiares quando sua aproximação com outro é tão estreita e
paralela. Tanto a Linguística histórica, como a Filologia e a Gramática histórica têm
como objeto de estudo a Linguagem, porém a abordagem de cada uma, ou seja, a
maneira pela qual se aproximam desse fundo comum, seja diferente.
Seguindo a doutrina de Cláudio Cezar Henriques, a Gramática é o suporte para a
Linguística e também o suporte para a Filologia. A primeira está presente nessas duas
outras disciplinas1
Ao acrescentarmos o epíteto histórico à gramática, temos a ciência, conceituada
por Ismael Lima Coutinho, “que estuda os fatos de uma língua, desde a origem até a
época atual.” Sendo, portanto, seu objetivo muito mais amplo do que o das gramáticas
expositiva, descritiva ou prática.2
Para este Autor, a gramática histórica divide-se em Lexiologia e Sintaxe. Aquela
estuda a palavra de forma isolada, seja pelo seu aspecto fonológico, considerando a
sonoridade da língua, seja em seu matiz morfológico, atinente as formas que as palavras
assumem na língua; enquanto esta se ocupa das palavras relacionadas na frase.
Segundo Hermann Paul, a gramática histórica provém da gramática descritiva e
conserva a sua forma. Limitando-se, porém, a alinhar, para fins comparativos, algumas
gramáticas descritivas de diferentes períodos, escorando-se em um ponto de partida que
lhe seja transmitido pela tradição.
Ferdinand de Saussure entendia, por sua vez, que “a gramática estuda a língua
como um sistema de meios de expressão; quem diz gramatical diz sincrônico e
significativo, e como nenhum sistema está a cavaleiro de várias épocas ao mesmo
tempo, não existe, para nós, “Gramática histórica”; aquilo a que se dá tal nome não é, na
realidade, mais que a Linguística diacrônica.”3
Contudo, a gramática histórica já tem sedimentado seu estatuto científico no
meio acadêmico como uma disciplina autônoma, de modo que não se confunde com
outras disciplinas acadêmicas, como a Filologia e a Linguística, como veremos adiante.
A definição da gramática histórica-comparativa conforme Mário Eduardo
Martelotta é a de uma proposta a fim de “comparar elementos gramaticais de línguas de
origem comum a fim de detectar a estrutura da língua original da qual elas se
desenvolveram.”4
Essa nova linha de pesquisa sobre a linguagem teve origem quando se viu que o
sânscrito, o latim, o grego e outras línguas da Europa possuíam inúmeras semelhanças
entre si. Outros fatores que impulsionaram seu desenvolvimento foi o Romantismo
alemão, que estimulou os comparatistas a buscarem uma língua original, vendo a
mudança como a perda de sua pureza, em estado primevo e também a aparição das
ideias de Darwin sobre a origem das espécies, o que levou a alguns linguistas a procura
de meios de explicar como as línguas mudavam e sumiam.5
No tocante à Filologia, Lima Coutinho apresenta a seguinte definição: “a ciência
que estuda a literatura de um povo ou de uma época e a língua que lhe serviu de
instrumento.” Esta ciência surgiu de uma necessidade hermenêutica, de interpretar
textos antigos. Logo, é uma ciência da linguagem voltada ao texto. Conforme August
1
Henriques, Cláudio Cezar. Filólogos, gramáticos e linguistas. Idioma – 18. Conferência proferida no dia
23/10/1996, na abertura do I fórum de Estudos Linguísticos, promovido pela Coordenação de Pós-
Graduação do Instituto de Letras da UERJ
2
Coutinho, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 6º ed. Rio de Janeiro. Livraria Acadêmica.
1974. p.13
3
Saussure, Ferdinand de. Curso de Linguística geral, editora cultrix: são Paulo, p.156
4
Martelotta, Mario Eduardo (org.). Manual de linguística. 2 ed., São Paulo: Contexto, 2021. p.47
5
Idem, p.49
Schleicher, não se encontra a filologia onde não se tem a presença de uma literatura, de
uma história documentada, uma vez que ela tem por objeto documentos históricos.6

6
Coutinho, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 6º ed. Rio de Janeiro. Livraria Acadêmica.
1974, p.18

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