Você está na página 1de 20

EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS

LINGUÍSTICOS
ANTES DE F. DE SAUSSURE
O desenvolvimento do método
comparativo
• Weedwood (2002, p. 103) afirma que: “a mais
extraordinária façanha dos estudos linguísticos do
século XIX foi o desenvolvimento do método
comparativo”.
• O método comparativo é um conjunto de princípios
pelos quais as línguas poderiam ser sistematicamente
comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos,
estrutura gramatical e vocabulário, de modo a
demonstrar que eram “genealogicamente”
aparentadas.
A descoberta do Sânscrito

• A descoberta do sânscrito, no final do século XVII, foi o principal


mote para que se chegasse a esses estudos comparados, pois foi
percebida uma semelhança bastante significativa do sânscrito com
o grego e com o latim.
• A partir daí, vários estudos foram surgindo nesse viés comparatista
das línguas. Jakob Grimm, por exemplo, “demonstrou na segunda
edição de sua gramática comparativa do germânico, que havia
diversas correspondências sistemáticas entre os sons do germânico
e os sons do grego, do latim e do sânscrito em palavras de sentido
semelhante” (WEEDWOOD, 2002, p. 104)
Os Estudos Linguísticos e a
Revolução Científica
• As bases da ciência da linguagem vêm sendo
construídas, desde a Antiguidade Clássica até o século
XX.
• Foi apenas no final do século XIX que se operou uma
verdadeira revolução científica nos estudos
linguísticos.
Os Estudos Linguísticos e a
Revolução Científica
• Na ciência extraordinária dá-se a chamada revolução
científica, quando novos paradigmas são convocados e postos
em experimentação, até que sua eficácia seja confirmada e se
atinja novamente o estágio da ciência normal.
• Até então, formulações foram sendo propostas, umas aceitas,
outras contestadas, outras ainda reformuladas, de modo que o
saber acumulado sobre a faculdade humana da linguagem foi
se tornando, cada vez mais, complexo.
Principais contribuições para os estudos da linguagem de
cada linguista.

• Principais contribuições para os estudos da


linguagem
William Jones

- Tese: sânscrito, grego e latim = explicação


das semelhanças pela origem em comum
entre as línguas.
- Também acrescentou o Céltico, o Gótico
e o Persa.
- Marco simbólico da Linguística como
ciência.
- Seu interesse pelo Sânscrito provocou
uma verdadeira revolução na linguística
ocidental.
Jakob Grimm
- Tese: por comparação estabelece sucessão
histórica por correspondência.
- Interpretou a existência de
correspondências fonéticas sistemáticas entre
as línguas como resultado de mutações
regulares no tempo.
- Leis de Grimm – Processos de mudanças
fonológicas e correspondências fonéticas;
estudo histórico: correspondências fonéticas
entre línguas resultadas de mutações
regulares no tempo.
Wilhelm Von Humboldt
- Sua Tese: linguagem e pensamento constituem uma
unidade - a linguagem torna possível o pensamento.
- A Língua é um processo, uma atividade do Espírito
(energia)/mental e não um produto.
- Em seu pensamento já estava a concepção de
sistema (língua como organização), pois afirmava que
nenhum elemento poderia ser estudado fora da forma
da língua.
- Concepção de língua como uma totalidade
organizada, em que o elemento só faz sentido no
conjunto.
- Ele não pensava a forma da língua não como uma
forma gramatical, mas como um sistema de signos.
Franz Bopp
- Publicou “Sobre o sistema de conjugação da língua
sânscrita em comparação com o da língua grega,
latina, persa e germânica”.
- Estendeu seu trabalho para incluir o Lituano, o
Celta, o Eslavo, o Armênio e o Albanês.
- Cria o método comparativo com correspondências
sistemáticas e evidências – parentesco entre línguas
- Gramática Comparativa – Língua tratada como
objeto de estudo e não meio de conhecimento.
- Foi na linguística comparativa e histórica que
desenvolveu um método de manipulação dos dados
linguísticos enquanto dados de pesquisa linguística.
Friedrich Schelegel

- Reforça a tese de W. Jones: sobre o


parentesco do Gótico, o Persa e o Grego,
por meio de elementos gramaticais
(fonema /morfema);
- Publicou sobre a língua e a sabedoria
dos hindus, dando início aos estudos
comparativos Germânicos.
Augusto Schleicher
- Emprega nos estudos históricos comparatistas uma
orientação naturalista.
- Como botânico/evolucionista - toma a língua como
organismo vivo, com leis da natureza (independe do
indivíduo).
- Propôs uma tipologia e uma “arvore genealógica” das
línguas indo-europeias o (PIE – Proto Indo-europeu).
- Desenvolveu os primeiros estudos de uma língua Indo-
europeia a partir da fala e não do texto.
– Propôs uma tipologia que permite classificar as línguas
como isolantes, aglutinantes e flexivas.
- Sob o enfoque evolucionista, correlacionou os estágios
das línguas com os estágios de desenvolvimento cultural e
tecnológico das civilizações que as falam.
Ramus Rask
• O dinamarquês Ramus Rask, “[...] o primeiro
estudioso a fazer progressos na técnica da
comparação histórica entre línguas” (CÂMARA
JR., 1975, p. 31).
• Esse entusiasta estudioso do islandês investigou
as relações entre essa antiga língua escandinava
e o dinamarquês e estabeleceu as bases do
método comparativo entre línguas, insistindo na
importância das comparações gramaticais,
muito mais significativas do que a simples
comparação de palavras.
• Sua obra pouco divulgada e seus princípios
foram retomados por Franz Bopp, coube a este
último o título de fundador da Ciência
Histórico-Comparativa da Linguagem.
Karl Verner

• Jacob Grimm aprofunda as investigações de


Bopp e deduz “[...] as correspondências
fonéticas sistemáticas entre as línguas como
resultado de mutações regulares no tempo”
(p. 32), formulando as conhecidas leis de
Grimm, mais tarde aperfeiçoadas por Karl
Verner.
• Na Linguística Histórica dar-se o nome
de Lei de Verner, a análise comparativa entre
as língua Indo-europeias e as Germânicas, no
que diz respeito às consoantes /p/, /t/ e
/k/.
Herman Paul
- A obra Priznipien der Sprachgeschichte, de H. Paul, publicada em
1880 serviu como fonte para o pensamento dos Neogramáticos.
- Negava a possibilidade de uma linguística que não fosse
histórica.
- Os princípios fundamentais da mudança linguística deveriam
ser buscados nos fatores físicos e psíquicos tomados como
determinantes dos objetos culturais como a língua.
- Sua Tese: a fonte de toda mudança linguística era o indivíduo
falante e que a fonte de propagação da mudança se dava por
meio da ação recíproca dos indivíduos.
- Tinha o Psicologismo como (base p/ biologismo).
- Outra tese: acreditava que a mudança linguística é originada
principalmente no processo de aquisição da língua.
Friedrich Diez
- Publica Gramática Histórico-comparativa das
línguas Românicas.
- Publicou um dicionário etimológico dessas
línguas.
- Seu trabalho é resultante da confiabilidade dos
procedimentos metodológicos históricos
comparativos.
- Início dos Estudos Filológicos – criaram-se
estudos especializados em cada subgrupo de
línguas indo-europeias.
- A Filologia Românica teve papel fundamental
no desenvolvimento dos estudos históricos
comparativos.
Wilhelm Meyer Lübke
• De grande significação para os estudos
comparativos das línguas foi a investigação
sobre a origem comum das línguas românicas
empreendida pelos neogramáticos.
• Isso porque puderam testar suas teorias, a partir
do exame dos documentos do latim,
considerada a protolíngua da família românica.
• Nessa investigação, dois nomes se destacaram:
Friedrich Diez, considerado o fundador da
Linguística Românica, e Wilhelm Meyer Lübke,
que salientou a importância do latim vulgar e
dos dialetos populares, muito mais que o latim
clássico para a formação das línguas desse ramo.
Joaquim Mattoso Câmara Jr
• Demonstrou que os estudos linguísticos remontam à Antiguidade
Clássica e têm sido, através de toda a História, alvo de interesse
dos estudiosos.
• organiza a abordagem desses estudos entre os paralinguísticos,
interesses filosóficos (estudo lógico da linguagem) e os que
reconhecem a natureza biológica humana (estudo biológico da
linguagem) e os pré-linguísticos, centrados na separação entre o
certo e errado, deu origem aos chamados estudos de gramática.
• Também a necessidade de se compreender os textos antigos
levou à comparação entre a linguagem neles utilizada e a dos
textos então contemporâneos, dando origem aos estudos filológicos.
• Do contato entre as sociedades de línguas diferentes, nasceu o
interesse pelo estudo das línguas estrangeiras, outro dos estudos pré-
linguísticos.
• considera como “âmago da ciência da linguagem ou linguística”
(p.12) apenas o estudo histórico e o descritivo. Reconhece, no
entanto, que esses estudos não podem ainda ser considerados
científicos.
Eugenio Coseriu
• Coseriu demonstraque os estudos linguísticos remontam à Antiguidade Clássica e têm sido,
através de toda a História, alvo de interesse dos estudiosos
• Coseriu constrói um quadro representativo dos interesses dos estudos de linguagem desde
a Antiguidade até o século XIX.
• A abordagem teórico-descritiva predomina no período relativo às origens dos estudos de
linguagem reaparecendo no século XVIII e no século XX; como uma reação a esse tipo de
abordagem, surge, em cada um dos períodos subsequentes (Renascimento e século XIX), o
interesse pela abordagem histórico-comparativa.
• Coseriu, a advertência quanto ao equívoco comum de se considerar a linguística moderna
como inovadora em sentido absoluto. Na verdade, o que vem acontecendo nos estudos
linguísticos, desde a Antiguidade, é que a retomada dos enfoques, que ele tão bem
esquematizou, determinou a redescoberta de questões que já vinham sendo discutidas ao
longo da História.
• Demonstra isso levantando alguns temas comumente atribuídos à inventiva de Saussure e
a outros linguistas, mas que, ao contrário disso, já vinham sendo discutidos desde a
Antiguidade.
• Coseriu (op.cit., 1980, p.8) demonstra que “[...] também a organização atual das disciplinas
linguísticas retoma de certo modo a tradicional, criada pelos gregos” e reconhece, na
divisão dos estudos antigos e medievais entre gramática, retórica e dialética, os modernos
estudos de semântica, pragmática e sintaxe lógica da linguagem.
Carlos Alberto Faraco
• Faraco (2004), em suas considerações sobre os estudos
pré-saussureanos, chama a atenção para o fato de que a
Saussure só foi possível estabelecer o corte
epistemológico nos estudos linguísticos porque o
terreno já havia sido preparado por uma longa tradição
de buscas e investigações sobre a língua e sua natureza.
Nesse sentido, o autor afirma: “Embora à primeira vista
haja no gesto de Saussure uma ruptura com o modo de
fazer linguística do século XIX, podemos também
pensá-lo como um gesto de continuidade.” (p. 28). A
par de toda a tradição de estudos que se construiu desde
a Antiguidade até o final do século XVIII, foi somente a
partir desse último período, com os estudos histórico-
comparatistas, que a linguagem passará a ser tratada
com um fim em si mesma, sendo estabelecido o
princípio da imanência.

Você também pode gostar