Você está na página 1de 2

A LINGUÍSTICA

Ciência da língua e da linguagem, a linguística é uma disciplina antiga, ligada, explicitamente ou não,
às teorias filológicas ou científicas que caracterizam o desenvolvimento do ‘pensamento europeu’.
Assim, no século XIX, a reflexão linguística depende, primeiramente, das concepções gerais relativas
aos problemas biológicos postos pelas ciências naturais. Integra-se, portanto, no conjunto na
corrente histórica e evolucionista do final do século XIX. No início do século XX, o desenvolvimento
de novas teorias psicológicas e o nascimento da sociologia influenciam diretamente as pesquisas
linguística

A GRAMÁTICA (LINGUÍSTICA) COMPARADA – O COMPARATIVISMO LINGUÍSTICO

É o problema do parentesco entre as línguas, com a descoberta do sânscrito (a língua sagrada dos
hindus – Índia), pelo inglês Sir. William Jones (1746-1794), que representa o papel determinante na
orientação da linguística do século XIX. Essa descoberta permite ao alemão Franz Bopp (1791-1867),
em sua obra sobre o sistema de conjugações do indo-europeu (em 1816), colocar em evidência, a
partir de certas formas de palavras, as relações genéticas que definem uma origem comum entre o
sânscrito, o grego, o latim e as línguas modernas europeias como o inglês, o alemão, o espanhol, o
português, o francês, o russo e outras. Essa obra marca os inícios das pesquisas minuciosas feitas a
partir da comparação de textos antigos muito diversos, que têm por objeto estabelecer
correspondências entre as línguas, isto é, as relações regulares fonéticas ou morfológicas, que não
seriam aleatórias, mas que relevam (ou dizem respeito) de uma filiação genética. Constata-se, assim,
o pertencimento de certas línguas ao interior de grupos (famílias) lingüísticos como o eslavo, o celta,
o germânico, o românico e se formula a hipótese de que essas línguas provêm de uma língua-mãe
hipotética denominada de ‘indo-europeu’, o sânscrito sendo um testemunho mais antigo. No
entanto, se a massa de documentos analisados é importante, as comparações não se efetuaram,
frequentemente, senão sobre fragmentos da língua ( o léxico, a sintaxe, a forma das palavras):
apenas os pontos comuns foram considerados, as divergências não foram avaliadas, e as
comparações foram feitas a partir de textos provenientes de ligares e épocas muito diversas, sem
que se manifestasse uma real preocupação em definir uma cronologia. A gramática (linguística)
comparada permitiu, entretanto, a elaboração de um método comparado que fez da linguística uma
ciência da evolução das línguas ( = primeiro período científico dos estudos lingüísticos ).

A LINGUÍSTICA HISTÓRICA

É na Dinamarca, com Ramus Rask (1787-1832) e na Alemanha, com Jacob Grimm (1785-1863) que se
precisa a exigência de uma análise metódica e histórica dos fatos de línguas. O estudo de um grande
número de textos em línguas germânicas, considerados em um longo período, permitiu a Jacob
Grimm definir a lei da mutação consonântica (dita ‘lei de Grimm’), que estabelece relações
sistemáticas entre as evoluções de consoantes indo-europeias em latim, em grego e em sânscrito. À
evolução de um único elemento do sistema, segue-se a evolução estrutural do sistema inteiro. Os
trabalhos da mesma natureza são empreendidos sobre as línguas românicas por Friedrick Diez (1794-
1876). Ao mesmo tempo em que se desenvolve, na França, a linguística comparativa histórica,
introduzida por Michel Bréal (1832-1915), em 1870, a escola dos neogramáticos se constitui na
Alemanha.
August Leskien (1840-1916) e Hermann Paul (1846-1921) formulam os princípios teóricos da
linguística histórica. Suas teses sobre a natureza geral das línguas repousam sobre as concepções
positivistas e mecanicistas de sua época. A língua é para eles um organismo vivo que se desenvolve,
cresce e morte, independente dos homens que as falam. Deve-se estudar as transformações que são
devidas a um processo histórico. O conhecimento que se pode ter delas depende da descrição das
mudanças que se efetuam no curso dos séculos. Apenas essas últimas são essenciais, e suas leis são
imperativas e cegas. Essas teorias, com alguma variante, provocam uma reação que, em se apoiando
igualmente sobre os resultados fornecidos pelo método comparado, interpreta as mudanças
manifestadas nas línguas como dependentes do contexto, muito mais vasto, que constitui a história
das civilizações humanas.

Essa interpretação, sustentada por Ferdinand de Saussure (1857-1913) e por Antoine Meillet (1866-
1936), na França, liga a evolução da língua à evolução das sociedades que a utilizam. É, então, ao
mesmo tempo, reflexo e manifestação de uma cultura e de sua história. Otto Jespersen (1860-1943),
retomando as teses evolucionistas próprias das ciências naturais, interpreta os fenômenos de
mudança linguística no sentido de um progresso geral das línguas, de onde deriva o conceito de
economia na linguagem , aliando à simplificação dos meios utilizados o máximo de eficácia na
comunicação. Numa certa medida, no final do século XIX, o desenvolvimento da reflexão teórica do
método comparativo e seus resultados é questionado, tendo em vista o próprio objeto de
investigação: o estudo da língua e das línguas.

Os comparatistas, em razão mesmo da extensão de seus trabalhos, que se estende, no início do


século XX, a outros domínios que não apenas ao do indo-europeu e diante da multiplicação de fatos
que podem ser submetidos à classificação, são conduzidos a se colocar o problema da natureza
mesma da língua. O conceito vaga de língua nacional não é suficiente para dar conta dos fenômenos
complexos e às vezes contraditórios que relevam de pesquisas sobre os dialetos que problematizam
os resultados mais estabelecidos.

Com o desenvolvimento da fonética experimental, põem-se em dúvida as mudanças fonéticas e as


descobertas técnicas que fazem aparecer numerosos problemas irredutíveis à análise linguística
histórica. A concepção geral da língua como produto da história, analisável segundo apenas na
perspectiva histórica, apoiada sobre um método positivista, termina por atomizar os estudos
lingüísticos. O método histórico tem, portanto, permitido à linguística constituir-se ciência, em
rejeitando a interpretação subjetiva ou a imaginação etimológica e marcando apenas um trabalho,
rigorosamente, sobre fatos de língua.

Mas, quando se torna evidente que a dimensão histórica era impotente para dar conta do que é uma
língua e seu funcionamento nas sociedades humanas, uma renovação teórica tornou-se possível.

Você também pode gostar