- Filologia: história, épocas, línguas e texto; Gramática é baseada na lógica e está desprovida de qualquer visão científica e desinteressada da própria língua. Visa unicamente a formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas. É uma disciplina normativa. A língua não é o único objeto da Filologia, que quer antes de tudo, fixar, interpretar, comentar os textos. História literária, dos costumes, das instituições. Comparar textos de diferentes épocas, determinar a língua peculiar de cada autor, decifrar e explicar inscrições redigidas numa língua arcaica ou obscura. A linguística propriamente dita, nasceu do estudo das línguas românicas e das línguas germânicas. Os neogramáticos colocaram em perspectiva histórica todos os resultados da comparação, e por ela encadear os fatos em sua ordem natural. Não se viu mais na língua um organismo que se desenvolve por si, mas um produto do espírito coletivo dos grupos linguísticos. A matéria da linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a bela linguagem, mas todas as formas de expressão. Qual é enfim a utilidade da linguística? As questões linguísticas interessam a todos – historiadores, filólogos – que tenham de manejar textos. Além de sua importância para a cultura geral: na vida dos indivíduos e das sociedades, a língua constitui fator mais importante que qualquer outro. - A linguística permite que sejam feitas diversas analogias de um mesmo objeto de estudo. Uma coisa não está conectada à outra. Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto. Não se pode reduzir a língua ao som, nem separar o som da articulação vocal. O som não passa de instrumento do pensamento e não existe por si mesmo. A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro. A cada instante a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante ela é uma instituição atual e um produto do passado. O que é a língua? Ela não se confunde com a linguagem. É um produto social de faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. A linguagem é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio individual e ao domínio social. A linguagem repousa numa faculdade que nos é dada pela natureza. A língua constitui algo adquirido e convencional. Não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de constituir uma língua, vale dizer: um sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas. A língua não está completa em nenhum indivíduo, e só na massa ela existe de modo completo. Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo o que é social do que é individual, o que é essencial do que é acessório e mais ou menos acidental. A língua é parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só, não pode nem cria-la nem modifica-la, ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade. A língua, distinta da fala, é um objeto que se pode estudar separadamente. Enquanto a linguagem é heterogênea, a língua assim delimitada é de natureza homogênea: constitui-se num sistema de signos em que, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e em que as duas partes do signo são igualmente psíquicas. A língua não menos que a fala, é um objeto de natureza concreta. Os signos linguísticos não são abstrações. A língua é um sistema de signos que exprimem ideias. A semiologia é uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social. Já a semântica estuda as alterações de significado. - Língua e nação se influenciam. Automaticamente, língua e política também se relacionam. Os costumes de uma nação têm repercussão na língua, e por outro lado, é em grande parte a língua que constitui a nação. A língua e a história política. A colonização transporta um idioma para meios diferentes, o que acarreta transformações nesse idioma. - Criticam a importância dada para a escrita. Nas escolas, priorizam o código escrito, livros assim como a literatura. Aprendemos a falar e depois a escrever. Porque invertemos as importâncias? Prestígio da escrita: a língua literária aumenta ainda mais a importância imerecida da escrita. Possui seus dicionários, suas gramáticas. É conforme o livro e pelo livro que se ensina na escola. O código é ele próprio uma regra escrita, submetida a ortografia. Acabamos por esquecer que aprendemos a falar antes de aprender a escrever, e inverte-se a relação natural. Existem dois sistemas de língua. O sistema ideográfico em que a palavra é representada por um signo único e estranho aos sons de que ela se compõe (escrita chinês) e o sistema dito comumente fonético, que visa a reproduzir a série de sons que se sucedem na palavra. A língua evolui sem cessar, ao passo que a escrita tende a permanecer imóvel. - Signo: conceito + imagem acústica (mental) - Significado: conceito - Significante: imagem acústica O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica, tal imagem é sensorial. Signo é a combinação do conceito e da imagem acústica. Signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante. - Imagem acústica: diferente - Conceito: igual - Convenção reconhecida pelos falantes O signo linguístico é arbitrário. Não está ao alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez que esteja ele estabelecido num grupo linguístico. - Os elementos se apresentam um após o outro, formando uma cadeia. O significante é linear. Representa uma extensão. Essa extensão é mensurável numa só dimensão: é uma linha. - Significante não muda. O significante é imposto. Nunca se consulta a massa social nem o significante escolhido pela língua poderia ser substituído por outro. Um indivíduo não somente seria incapaz, se quisesse, de modificar em qualquer ponto a escolha feita, como também a própria massa não pode exercer sua soberania sobre uma única palavra: está atada à língua tal qual é. Um dado estado de língua é sempre o produto de fatores históricos, e são esses fatores que explicam por que o signo é imutável, vale dizer, por que resiste a toda substituição. Justamente porque o signo é arbitrário, não conhece outra lei senão a da tradição, e é por basear-se na tradição que pode ser arbitrário. A língua se transforma sem que os indivíduos possam transformá-la. Pode-se dizer também que ela é intangível, mas não inalterável. A continuidade implica necessariamente a alteração, o deslocamento mais ou menos considerável das relações. Tempo, língua, massa falante. Linguística sincrônica e linguística diacrônica. É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Uma partida de xadrez é como uma realização artificial daquilo que a língua nos apresenta sob forma natural. O valor é respectivo das peças depende de sua posição no tabuleiro, do mesmo modo que na língua cada termo tem seu valor pela oposição aos outros termos. O sistema nunca é mais que momentâneo, varia de uma posição a outra. Os valores dependem também, e sobretudo, de uma convenção imutável: a regra do jogo, que existe antes do início da partida e persiste após cada lance. Cada lance do jogo de xadrez movimenta apenas uma peça. As mudanças não se aplicam senão a elementos isolados; o lance repercute sobre todo o sistema. As mudanças de valores que disso resultam serão nulas, muito graves ou de importante média. Existe apenas um ponto em que a comparação falha: o jogador de xadrez tem a intenção de executar o deslocamento e de exercer uma ação sobre o sistema, enquanto a língua não premedita nada. O aspecto sincrônico prevalece sobre o outro, pois, para a massa falante, ele constitui a verdadeira e única realidade. Também constitui para o linguista: se este se coloca na perspectiva diacrônica, não é mais a língua o que percebe, mas uma série de acontecimentos que a modificam. - Língua > fala + língua > sincronia + diacronia A linguística sincrônica se ocupará das relações logicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistemas, percebidos na consciência coletiva. A linguística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si. O objeto da linguística sincrônica geral é estabelecer os princípios fundamentais de todo sistema idiossincrônico. À sincronia pertence tudo o que se chama gramática geral. - Entidades linguísticas: conceitos + ideia/imagem acústica. Exemplo: água = hidrogênio + oxigênio. Obs. Não existem separadas. Só se tornam entidades linguísticas pela associação com imagens acústicas. A agua por exemplo, é uma combinação de hidrogênio e de oxigênio. Tomadas separadamente, nenhum desses elementos tem as propriedades da água. A cadeia fônica é considerada em si própria, na qual o ouvido não percebe nenhuma divisão suficiente. Quando ouvimos uma língua desconhecida, somos incapazes de dizer como a sequência de sons deve ser analisada. É que essa analise se torna impossível se se levar em conta sempre o aspecto fônico do fenômeno linguístico. A questão de valores no jogo de xadrez. Tomemos um cavalo. Fora de sua cada e das outras condições do jogo, não representa nada para o jogador e não se torna elemento real e concreto senão quando revestido de seu valor. É possível substituir por outra peça equivalente? Sim, uma figura desprovida de qualquer aparência com ele será declarada idêntica, contanto que se lhe atribua o mesmo valor. Significado: julgar; Significante: julgar. A imagem acústica pode simbolizar o conceito. O que importa na palavra não é o som em si, mas as diferenças fônicas que permitem distinguir essa palavra de todas as outras, pois são elas que levam a significação. A linguística estática ou descrição de um estado de língua pode ser chamada de Gramática. Quem diz gramatical, diz sincrônico e significativo. - Etimologia popular: não lembramos da palavra e criamos outra. - Aglutinação: junção de duas ou mais palavras criando outras. Nada entra na língua sem ter sido antes experimentado na fala. A ideia de que a língua seja um hábito nasceu nos primitivos. O termo idioma designa com muita precisão a língua como algo que reflete os traços próprios de uma comunidade. Um dialeto tem o nome de uma língua porque produziu uma literatura, como é o caso do português. Sincrônica só admite uma única perspectiva – a dos falantes – e por conseguinte, um único método. A linguística diacrônica supõe uma perspectiva prospectiva, que acompanha o curso do tempo. A primeiro corresponde ao curso verdadeiro dos acontecimentos, desenvolver qualquer ponto da história. O método consiste em criticar os documentos. Reconstituir línguas falas por certos povos é possível, mas não é possível reconstituir a respeito desses mesmos povos, sua raça, filiação, relações sociais, costumes e instituições. A linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma.