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CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL

Ferdinand de Saussure

- Gramática: lógica, regras;


- Filologia: história, épocas, línguas e texto;
Gramática é baseada na lógica e está desprovida de qualquer visão científica e
desinteressada da própria língua. Visa unicamente a formular regras para distinguir as
formas corretas das incorretas. É uma disciplina normativa. A língua não é o único
objeto da Filologia, que quer antes de tudo, fixar, interpretar, comentar os textos.
História literária, dos costumes, das instituições. Comparar textos de diferentes épocas,
determinar a língua peculiar de cada autor, decifrar e explicar inscrições redigidas numa
língua arcaica ou obscura.
A linguística propriamente dita, nasceu do estudo das línguas românicas e das
línguas germânicas. Os neogramáticos colocaram em perspectiva histórica todos os
resultados da comparação, e por ela encadear os fatos em sua ordem natural. Não se viu
mais na língua um organismo que se desenvolve por si, mas um produto do espírito
coletivo dos grupos linguísticos.
A matéria da linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da
linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas
arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada período não só a
linguagem correta e a bela linguagem, mas todas as formas de expressão.
Qual é enfim a utilidade da linguística? As questões linguísticas interessam a
todos – historiadores, filólogos – que tenham de manejar textos. Além de sua
importância para a cultura geral: na vida dos indivíduos e das sociedades, a língua
constitui fator mais importante que qualquer outro.
- A linguística permite que sejam feitas diversas analogias de um mesmo objeto
de estudo. Uma coisa não está conectada à outra.
Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o
ponto de vista que cria o objeto. Não se pode reduzir a língua ao som, nem separar o
som da articulação vocal. O som não passa de instrumento do pensamento e não existe
por si mesmo. A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível
conceber um sem o outro. A cada instante a linguagem implica ao mesmo tempo um
sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante ela é uma instituição atual e um
produto do passado.
O que é a língua? Ela não se confunde com a linguagem. É um produto social de
faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo
social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. A linguagem é ao
mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio
individual e ao domínio social.
A linguagem repousa numa faculdade que nos é dada pela natureza. A língua
constitui algo adquirido e convencional. Não é a linguagem que é natural ao homem,
mas a faculdade de constituir uma língua, vale dizer: um sistema de signos distintos
correspondentes a ideias distintas.
A língua não está completa em nenhum indivíduo, e só na massa ela existe de
modo completo. Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo o que é
social do que é individual, o que é essencial do que é acessório e mais ou menos
acidental. A língua é parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só, não
pode nem cria-la nem modifica-la, ela não existe senão em virtude de uma espécie de
contrato estabelecido entre os membros da comunidade. A língua, distinta da fala, é um
objeto que se pode estudar separadamente. Enquanto a linguagem é heterogênea, a
língua assim delimitada é de natureza homogênea: constitui-se num sistema de signos
em que, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e em que as
duas partes do signo são igualmente psíquicas. A língua não menos que a fala, é um
objeto de natureza concreta. Os signos linguísticos não são abstrações. A língua é um
sistema de signos que exprimem ideias. A semiologia é uma ciência que estude a vida
dos signos no seio da vida social. Já a semântica estuda as alterações de significado.
- Língua e nação se influenciam. Automaticamente, língua e política também se
relacionam.
Os costumes de uma nação têm repercussão na língua, e por outro lado, é em
grande parte a língua que constitui a nação. A língua e a história política. A colonização
transporta um idioma para meios diferentes, o que acarreta transformações nesse
idioma.
- Criticam a importância dada para a escrita. Nas escolas, priorizam o código
escrito, livros assim como a literatura. Aprendemos a falar e depois a escrever. Porque
invertemos as importâncias?
Prestígio da escrita: a língua literária aumenta ainda mais a importância
imerecida da escrita. Possui seus dicionários, suas gramáticas. É conforme o livro e pelo
livro que se ensina na escola. O código é ele próprio uma regra escrita, submetida a
ortografia. Acabamos por esquecer que aprendemos a falar antes de aprender a escrever,
e inverte-se a relação natural.
Existem dois sistemas de língua. O sistema ideográfico em que a palavra é
representada por um signo único e estranho aos sons de que ela se compõe (escrita
chinês) e o sistema dito comumente fonético, que visa a reproduzir a série de sons que
se sucedem na palavra. A língua evolui sem cessar, ao passo que a escrita tende a
permanecer imóvel.
- Signo: conceito + imagem acústica (mental)
- Significado: conceito
- Significante: imagem acústica
O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma
imagem acústica, tal imagem é sensorial. Signo é a combinação do conceito e da
imagem acústica. Signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica
respectivamente por significado e significante.
- Imagem acústica: diferente
- Conceito: igual
- Convenção reconhecida pelos falantes
O signo linguístico é arbitrário. Não está ao alcance do indivíduo trocar coisa
alguma num signo, uma vez que esteja ele estabelecido num grupo linguístico.
- Os elementos se apresentam um após o outro, formando uma cadeia.
O significante é linear. Representa uma extensão. Essa extensão é mensurável
numa só dimensão: é uma linha.
- Significante não muda.
O significante é imposto. Nunca se consulta a massa social nem o significante
escolhido pela língua poderia ser substituído por outro. Um indivíduo não somente seria
incapaz, se quisesse, de modificar em qualquer ponto a escolha feita, como também a
própria massa não pode exercer sua soberania sobre uma única palavra: está atada à
língua tal qual é.
Um dado estado de língua é sempre o produto de fatores históricos, e são esses
fatores que explicam por que o signo é imutável, vale dizer, por que resiste a toda
substituição. Justamente porque o signo é arbitrário, não conhece outra lei senão a da
tradição, e é por basear-se na tradição que pode ser arbitrário. A língua se transforma
sem que os indivíduos possam transformá-la. Pode-se dizer também que ela é
intangível, mas não inalterável. A continuidade implica necessariamente a alteração, o
deslocamento mais ou menos considerável das relações. Tempo, língua, massa falante.
Linguística sincrônica e linguística diacrônica. É sincrônico tudo quanto se
relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às
evoluções.
Uma partida de xadrez é como uma realização artificial daquilo que a língua nos
apresenta sob forma natural. O valor é respectivo das peças depende de sua posição no
tabuleiro, do mesmo modo que na língua cada termo tem seu valor pela oposição aos
outros termos. O sistema nunca é mais que momentâneo, varia de uma posição a outra.
Os valores dependem também, e sobretudo, de uma convenção imutável: a regra do
jogo, que existe antes do início da partida e persiste após cada lance.
Cada lance do jogo de xadrez movimenta apenas uma peça. As mudanças não se
aplicam senão a elementos isolados; o lance repercute sobre todo o sistema. As
mudanças de valores que disso resultam serão nulas, muito graves ou de importante
média.
Existe apenas um ponto em que a comparação falha: o jogador de xadrez tem a
intenção de executar o deslocamento e de exercer uma ação sobre o sistema, enquanto a
língua não premedita nada.
O aspecto sincrônico prevalece sobre o outro, pois, para a massa falante, ele
constitui a verdadeira e única realidade. Também constitui para o linguista: se este se
coloca na perspectiva diacrônica, não é mais a língua o que percebe, mas uma série de
acontecimentos que a modificam.
- Língua > fala + língua > sincronia + diacronia
A linguística sincrônica se ocupará das relações logicas e psicológicas que unem
os termos coexistentes e que formam sistemas, percebidos na consciência coletiva. A
linguística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem termos sucessivos
não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros
sem formar sistema entre si.
O objeto da linguística sincrônica geral é estabelecer os princípios fundamentais
de todo sistema idiossincrônico. À sincronia pertence tudo o que se chama gramática
geral.
- Entidades linguísticas: conceitos + ideia/imagem acústica. Exemplo: água =
hidrogênio + oxigênio. Obs. Não existem separadas.
Só se tornam entidades linguísticas pela associação com imagens acústicas. A
agua por exemplo, é uma combinação de hidrogênio e de oxigênio. Tomadas
separadamente, nenhum desses elementos tem as propriedades da água. A cadeia fônica
é considerada em si própria, na qual o ouvido não percebe nenhuma divisão suficiente.
Quando ouvimos uma língua desconhecida, somos incapazes de dizer como a sequência
de sons deve ser analisada. É que essa analise se torna impossível se se levar em conta
sempre o aspecto fônico do fenômeno linguístico.
A questão de valores no jogo de xadrez. Tomemos um cavalo. Fora de sua cada
e das outras condições do jogo, não representa nada para o jogador e não se torna
elemento real e concreto senão quando revestido de seu valor. É possível substituir por
outra peça equivalente? Sim, uma figura desprovida de qualquer aparência com ele será
declarada idêntica, contanto que se lhe atribua o mesmo valor.
Significado: julgar; Significante: julgar. A imagem acústica pode simbolizar o
conceito. O que importa na palavra não é o som em si, mas as diferenças fônicas que
permitem distinguir essa palavra de todas as outras, pois são elas que levam a
significação.
A linguística estática ou descrição de um estado de língua pode ser chamada de
Gramática. Quem diz gramatical, diz sincrônico e significativo.
- Etimologia popular: não lembramos da palavra e criamos outra.
- Aglutinação: junção de duas ou mais palavras criando outras.
Nada entra na língua sem ter sido antes experimentado na fala. A ideia de que a
língua seja um hábito nasceu nos primitivos. O termo idioma designa com muita
precisão a língua como algo que reflete os traços próprios de uma comunidade. Um
dialeto tem o nome de uma língua porque produziu uma literatura, como é o caso do
português.
Sincrônica só admite uma única perspectiva – a dos falantes – e por conseguinte,
um único método. A linguística diacrônica supõe uma perspectiva prospectiva, que
acompanha o curso do tempo. A primeiro corresponde ao curso verdadeiro dos
acontecimentos, desenvolver qualquer ponto da história. O método consiste em criticar
os documentos.
Reconstituir línguas falas por certos povos é possível, mas não é possível
reconstituir a respeito desses mesmos povos, sua raça, filiação, relações sociais,
costumes e instituições.
A linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si
mesma e por si mesma.

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