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INTERIOR X CAPITAL:
AS VARIAÇÕES NAS FALAS ENTRE REGIÕES RURAIS E
URBANAS DOS ESTADOS PARANÁ E SÃO PAULO
Londrina
2023
1. Objetivos
1.1 Objetivo geral:
Analisar as variações presentes nas falas de moradores da região pioneira e
da capital do Paraná, comparando-as com as de moradores da capital e do interior
de São Paulo.
2. Justificativa
Este trabalho se propõe a investigar as variações na fala humana em
diferentes regiões, compreendendo a língua como um fenômeno social inerente à
cultura e à identidade. Busca-se por meio deste trabalho observar se realmente é
perceptível as diferenças na fala de moradores de regiões interioranas, sobretudo
áreas rurais, em comparação aos habitantes de capitais; grandes centros urbanos.
3. Metodologia
A partir de questionário elaborado, será feita uma entrevista com, pelo
menos, 2 moradores de cada região - rural e urbana -, do estado do Paraná e de
São Paulo, entrevistando as duas capitais, São Paulo e Curitiba, totalizando 10
entrevistas. Em uma mesma localidade, cada um dos participantes possui idades e,
consequentemente, identidades individuais distintas. Dessa forma, a análise
consistirá na possibilidade de variações linguísticas e o motivo delas ocorrerem.
4. Pressupostos teóricos:
A variação diatópica ou regional, fenômeno linguístico influenciado por
aspectos históricos, culturais, sociais específicos de cada localidade, é responsável
por moldar as singularidades geográficas da Língua Portuguesa. Ademais, ela está
associada - em alguns casos - ao povo colonizador da região, como explicado no
trecho: “Isso ocorre porque a língua do povo colonizador acaba influenciando a
língua da região colonizada. No Brasil, apesar de termos sido originalmente
colonizados por portugueses, tivemos um grande fluxo imigratório de diversos povos
- alemães, italianos, espanhóis, açorianos, japoneses e eslavos, entre outros - sem
contar os povos africanos que foram trazidos como mão-de-obra escrava e povos
indígenas que já habitavam o território brasileiro, o que faz do nosso país um
espaço pluridialetal, um "prato cheio" para a pesquisa sociolinguística.” (COELHO;
GÖRSKI; MAY; NUNES, 2012)
Além disso, entende-se que a língua é o nosso veículo de interação social,
demonstrando que, na análise dentro de situações naturais e espontâneas, é
possível definir a origem das pessoas, a intimidade, a identidade, entre outros
fatores. Com isso, a obra de Fernando Tarallo é fundamental para que a pesquisa
sobre variação linguística seja realizada, uma vez que abrange conceitos teóricos e
metodológicos e auxilia o pesquisador a traçar um objetivo de maneira prática, visto
que “É a língua que usamos em nossos lares ao interagir com os demais membros
de nossas famílias. É a língua usada nos botequins, clubes, parques, rodas de
amigos; nos corredores e pátios das escolas, longe da tutela dos professores. É a
língua falada entre amigos, inimigos, amantes e apaixonados. Em suma, a língua
falada é o vernáculo (...) trata-se dos momentos em que o mínimo de atenção é
prestado à língua.” (TARALLO, 1990, p. 19 - A pesquisa sociolinguística).
Da mesma forma, Roberto Camacho traz a importância dos elementos
regionais, históricos e sociais para o estudo e análise da língua falada, pois tais
aspectos também influenciam a variação presente no ato da comunicação em
situações naturais. Em “Norma culta e variedade linguística” (2011) nos deparamos
com a variação fonética, morfológica e sintática, conceitos que auxiliam na pesquisa
sociolinguística. “Com efeito, um dos princípios mais evidentes desenvolvidos pela
linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática
linguística, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade; pelo
contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais.”
(CAMACHO, 2003.)
Castilho e Elias (2012) evidenciam como a língua é variável e diversa, e essa
diversidade relaciona-se, também, aos contextos geográficos. “[…] Brasileiros do
Norte, do Nordeste, do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul não falam exatamente do
mesmo jeito. Uma língua natural conterá, portanto, diferentes dialetos, relacionados
aos espaços geográficos que ela ocupa.” (CASTILHO; ELIAS, 2012). Ao entender
como essa variação reflete no vocabulário e nas estruturas gramaticais, é possível
compreender, igualmente, a relação entre a língua e a identidade.
Ademais, “ [...] compreender o uso da língua como elemento desencadeador
de ambientes particulares de interação, governados pela necessidade de
comunicação e pela constituição de identidades [...] É como pensar que, em cada
elocução, submergem elementos que constituem o sujeito falante e que remetem a
um mundo particular, o qual se faz não apenas pela história de cada um, mas pela
sua cultura e pela sua tradição.” (AGUILERA; BUSSE, 2008). A partir do trecho
retirado do texto de Vanderci Aguilera e Sanimar Busse, podemos analisar e
“contextualizar” o fenômeno da variação regional, é perceptível que em diferentes
regiões do Brasil existem elementos próprios na fala dos falantes daquele lugar.
Aguilera e Busse vão apontar que tais elementos e variações vão constituir o sujeito
falante e o remeter a um “mundo particular”; é possível destacar na fala deste
sujeito a cultura e a tradição de sua região.
Focando um pouco na região Sul, Valter Romano e Vanderci Aguilera
apontam como uma mesma região pode apresentar diferentes variações; se
tratando da região Sul é possível observar “padrões” distintos nas falas dos falantes
de cada estado (Paraná; Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Entretanto, vale
ressaltar que mesmo se tratando de um único estado, é possível encontrar
variações dentro dele. Podemos observar a variação regional ao analisar essas
variações nas falas de sujeitos de diferentes regiões de um mesmo estado, como
por exemplo, as diferenças nas falas de moradores da região Sul do estado, mais
próxima de Santa Catarina, e na dos moradores da região lateral do norte do
Paraná, caracterizada pela sua identificação linguística com o Estado de São Paulo.
“a região Sul do Brasil apresenta mais diferenças do que semelhanças, não
podendo, portanto, ser classificada como uma área linguística homogênea. Há
diferentes padrões de variação lexical nessa região considerando-se a história
social de cada um dos estados que a compõe, o que se reflete, sobretudo, no
léxico.” (ROMANO; AGUILERA, 2014).
5. Questionário
Entrevistador: Durante o final de semana você e sua família costumam comer algo
“diferente” daquilo que comem normalmente durante a semana?
Entrevistado(a) Não
Entrevistador: Você e sua família costumam sair juntos? Aonde gostam de
ir?
Entrevistado(a) Eu atualmente não estou fazendo nada devido ao trabalho,
to trabalhando até sábado e as campanha que agente realizando agora no trabalho,
e geralmente não, domingo vou na casa da minha mãe, almoço e lá fica., to dessas
agora.
Entrevistador: Você poderia, de forma breve, descrever o local em que vive? Como
é em torno da sua casa? O que é possível visualizar e o que não é?
Entrevistado(a)olha o bairro aqui é considerado assim, tem tres , o bairro é
dividido em três etapas dividido em periferia, dividido em condomínio onde tem uma
classe média e o bairro onde eu moro , que são pessoas nem periferia e classe
média. e tranquilo, só barulheira de carro, trânsito qui a qui e bairro afastado da
cidade. para chegar ate o centro de onibus demora uns 40 minutos, então bem
movimentado de carro de trânsito. na parte de violencia nao acredito que seja tao
violento o bairro., vizinho não fica ninguém na rua.
Entrevistador: Você acompanha algum esporte? Tem algum time em específico que
você torce? Poderia falar um pouco sobre como é torcer pra ele?
Entrevistado(a) entao, a 4 meses atras entrei na academia com meu esposo
ai como ele não pode ir mais devido problema no joelho dele o médico proibiu ele
acabou não indo e eu parando também, pretendo recomeçar fazer em casa os
exercícios que eu preciso que a perna cobra. curinthians, estou só no movimento ,
Entrevistador: Pensando no seu dia a dia, quais as principais diferenças que
você observa ao conversar com as pessoas que moram na sua região e com as que
moram em outros locais? Quais diferenças você consegue observar na fala de sua
região que a diferencia de outros lugares?
Entrevistado(a) e bem interessante isso , até hoje as pessoas perguntam o
que você está falando Angélica? e em umas fala que eu falo, a pessoa fala “da onde
veio isso, são paulo fala mais corretamente, gente que veio do interior da umas
gafiadas na vocabulário né, i mais achei bastenti, parte cultural , aqui em são paulo
muito diferente na área de lazer é diversão, mais que tenha as brincadeiras da
diferente. cuscuz pra mim cuscuz é sardinha aquilo que minha vo fazia, para eles
aqui em são paulo e aquilo amarelo que coloque até sal no meio. olha robson as
pessoas falam aquela que falam meio caipira não é regra.
8. Considerações finais
Constatou-se que ocorrem certas diferenciações entre a fala dos falantes da
capital em comparação aos falantes do interior e também entre os Estados. Nota-se
que os residentes de regiões interioranas falam mais com mais “pressa” e buscam
não se prolongar enquanto falam. Porém é importante destacar que tal ocorrência
pode ocorrer devido ao modo em que as entrevistas ocorreram, de maneira remota,
via internet, ainda cabe ressaltar que tal hipótese tem embasamento nos textos
apresentados, tendo em vista que, assim como afirmam Vanderci Aguilera e
Sanimar Busse, as tradições; costumes e cultura dos sujeitos submergem em sua
fala, e remetem a um mundo particular, feito não somente pela história de cada
sujeito, mas também levando ela em consideração. Ou seja, o fato dos moradores
do interior não estarem tão familiarizados quanto os de São Paulo com a tecnologia
pode ter influenciado em suas entrevistas. Além disso, nota-se que ocorrem
diferentes variações fonológicas, enquanto os moradores de São Paulo demonstram
trocar os fonemas “o” por “u” e “e” por “i”, os do Paraná apresentam em menor
quantidade tal variação; apresentando com mais recorrência a exclusão do fonema
“d” em palavras no gerúndio.
Podemos observar também que o espaço socio-geográfico, cultural e
histórico é um aspecto importante ao analisarmos as diferenças e semelhanças das
regiões. Ao buscarmos possíveis explicações para determinados costumes na
linguagem falada e comportamentos relacionados à comunicação, é possível
concluir que as variações linguísticas são frutos de natureza social e correspondem
à fala do espaço geográfico em que os indivíduos estão inseridos.
Por fim, ao analisar os dados conseguimos observar a existência do dialeto
caipira em certas regiões interioranas, sendo possível identificar a nível fonético a
variantes "r caipira"; o rotacismo da lateral alveolar- em grupo consonantal e em
posição pós-vocálica; a apócope do Ir!, muito frequentes no dialeto caipira,
conforme Amaral (1920).
9. Referências
FARACO, C. A.; ZILLES, A. M. Para conhecer norma linguística. 1. ed. [S. l.]:
Editora Contexto, 2016. 222 p. v. 1.