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Variação Linguística na Libras

A Libras, assim como as outras línguas naturais possui variação


linguística. A variação linguística é um fenômeno natural que ocorre pela
diversificação dos sistemas de uma língua em relação às possibilidades de
mudança de seus elementos (vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe). "Ela
existe porque as línguas possuem a característica de serem dinâmicas e
sensíveis a fatores como a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social
do falante e o grau de formalidade do contexto da comunicação." As mudanças
históricas, regionais e sociais influenciam o desenvolvimento da língua.
Segundo Bagno (2007) existem fatores sociais ou extralinguísticos que podem
proporcionar à identificação do fenômeno variação linguística.
Sobre as variações linguísticas, Strobel & Fernandes (1998) consideram
as variações regionais e sociais e as mudanças históricas como fenômenos
identificáveis na Língua Brasileira de Sinais, o que lhe confirma, mais uma vez,
o caráter natural. Ainda conforme as autoras, as variações linguísticas
diferenciam-se em quatros grupos: sociais (diastráticas), regionais (diatópicas),
históricas (diacrônicas) e estilísticas (diafásicas/ formal/informal). Segundo
Felipe (1990) Como toda língua, as línguas de sinais aumentam seus
vocabulários com novos sinais introduzidos pelas comunidades surdas em
resposta a mudanças culturais e tecnológicas.
As línguas de sinais não são universais, cada língua tem sua própria
estrutura gramatical. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes
falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo,
que estão inseridos em “culturas surdas”, possuem suas próprias línguas.
Em Libras, percebemos deforma mais clara as variações diatópicas, a
fala característica das diferentes regiões brasileiras, dos diferentes estados, de
diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo estado etc. como no caso
dos sinais do significante mãe que na região sul, sinalizado com a configuração
de mão n° 14 e ponto de locação no nariz, enquanto em outras regiões do país
como na região nordeste é composto pelo sinais MULHER + BENÇÃO, além
de outros como os sinais BRANCO usado na região Nordeste CM n° 63; Ponto
de Articulação, antebraço esquerdo; Movimento, passar o dorso dos dedos
direitos sobre o antebraço esquerdo iniciando do cotovelo até a direção ao
pulso, uma vez. E BRANCO igual ao sinal de LEITE em alguns estados da
região sudeste.
Quanto a variação social, que refere-se à variações na configuração das
mãos e/ou no movimento, não modificando o sentido do sinal, ocorrem em
virtude da convivência entre os grupos sociais. Geralmente ocorre quando a
mão passiva assume configurações diferentes como em AJUDAR ou
CONVERSAR. Em AJUDAR a mão de base pode permanecer com a mão
espalmada e orientação da palma para baixo enquanto a mão ativa executa o
movimento ou permanecer apenas com o indicador estendido enquanto os
demais dedos estão fechados e orientação da palma para baixo. No caso do
sinal de conversar a mão passiva pode permanecer espalmada com orientação
da palma para baixo ou fechada cm mesma orientação.
Quanto à variação diacrônica, observamos que o processo histórico tem
que ser visto tanto da perspectiva temporal, quanto da perspectiva espacial, já
que tempo e espaço são variáveis para uma língua. Como exemplo, temos o
sinal da cor AZUL, que se transformou com o passar dos anos. A urbanização,
o espaço rural, os guetos surdos, os espaços de socialização, todos esses
contextos são determinantes para se analisarem as variações em Libras.
Para Xavier (2010) A discussão sobre a variação linguística em LSB não
pode se resumir a apenas utilizar uma comparação dos processos de variação
linguística que promove uma diversidade linguística e o enriquecimento do
vocabulário. A organização de estudos da variação linguística em LSB está
relacionada à percepção do mundo e à construção de significados. Podemos
dizer que, na LSB, encontramos uma condição linguística de grande
complexidade, em decorrência dos processos de aquisição de língua, dos
aspectos culturais e do impacto político e social desses aspectos na vida dos
Surdos. E esses fatores dependem ainda de outras variáveis: usos da língua,
interlocutores proficientes, possibilidade de adquirir uma segunda língua,
métodos formais ou informais de aprendizagem de segunda língua e a relação
de cada sujeito com a LSB e a Língua Portuguesa.
Basso e Schmitt (2007) enfatizam que nem todos os usuários de uma
língua falam do mesmo jeito, por isto, todas as línguas naturais possuem
variações linguísticas. A LIBRAS também apresenta dialetos regionais,
reforçando seu caráter de língua natural. As variações na LIBRAS ocorrem de
várias formas, como alterações na configuração de mãos (forma que a mão
assume na realização do sinal) ou na localização espacial do sinal (local onde
o sinal é realizado), sem que seu sentido e significado sejam perdido ou
modificados. Também há sinais diferentes para representar um mesmo
referente, usando em diferentes regiões do país, às vezes do mesmo estado.
Sendo assim, acrescenta-se que o estudo da variação e mudança
linguística em Libras é fundamental para ter-se um quadro de evolução da
língua e verificar o que ela revela sobre sua estrutura linguística. Da mesma
forma possibilita contrastar o que ocorre com línguas orais e línguas de sinais
em busca de uma teoria de variação e mudança independentemente da
modalidade linguística.

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