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Língua brasileira de sinais – Libras: a língua dos surdos brasileiros

Por Angela Lemos de Oliveira1

No Brasil, após incansáveis lutas, o povo


surdo passou exigir que sua língua de sinais fosse
validada e obtivesse o reconhecimento e, inserida
como importante instrumento utilizado na educação
dos surdos (PEREIRA, 2011). Os avanços dos estudos
linguísticos no Brasil e no mundo, foram importantes
para corroborar o status de língua natural à Libras e
em 24 de abril de 2002, foi aprovado a Lei Federal de
Nº 10.436, que reconhece a Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS2, como língua oficial das
Figura 1: Fonte: https://bit.ly/3AVCxsl.
comunidades surdas brasileiras. Neste documento, a
Libras é definida como “a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico
de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema
linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas
do Brasil” (BRASIL, 2002).
Além das características já apresentadas pela linguística, as línguas de sinais e,
por sua vez, a Libras possui “um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais,
e uma gramática, isto é, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos”
(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 48). Assim como há diferentes línguas orais, cada
uma com suas particularidades distintas, o mesmo acontece com as línguas de sinais.
Diferente do que muitos ouvintes pensam, os gestos usados nas articulações em Libras
por seus usuários, são distintos e não possuem relação direta com a gesticulação usada
durante a fala de um usuário do Português.
Os sinais desenvolvidos pelos surdos não dependem das línguas orais usadas em
seu espaço geográfico; a exemplo, é possível afirmar que a Libras teve influência das

1
Mestra em Estado e Sociedade pela Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB. Atua como Professora
e Tradutora e Intérprete de Libras. Tem experiência no ensino Superior, Ensino Médio regular e EJA e
Fundamental II nas áreas de Artes, Educação de Surdos, Letras, Libras e Literatura. E-mail:
angelaleoli@hotmail.com.
2
A língua brasileira de sinais na modalidade padrão recebeu o termo de LIBRAS em 1993 por ocasião de
uma assembleia realizada pelos membros da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos –
FENEIS – e tem sido usada para se referir a língua de sinais usada pelos surdos brasileiros (GESSER, 2009,
p. 36).
Línguas de Sinais Francesa por ocasião da chegada do
francês Ernest Huet ao Brasil em 1855 e não da Língua
Portuguesa ou da Língua Gestual Portuguesa como talvez
concluiríamos (GESSER, 2009, p. 37).
Como as demais línguas humanas, a língua de
sinais possui classes distintas de palavras e criação de
novos termos de acordo com o dinamismo social e
histórico, tendo como diferença que as línguas de sinais se Figura 2: Fonte: https://bit.ly/3pRLQmW.
desenvolvem por meio espaço-visual, cuja transmissão se
dá por meio de produções manuais percebidas pelos olhos,
fundamental o espaço das sinalizações para o
estabelecimento das relações sintáticas e linguísticas.
Na Libras, como em todas as línguas naturais, é
IMPOSSÍVEL pensar em uma unidade a ponto de fazer
com que todos os surdos brasileiros sinalizem da mesma
Figura 3: Fonte: https://bit.ly/3pUUTDS.
forma. As variações podem ter diversos fatores
Variações de sinais para representar a
determinantes, como idade, gênero, classe social, raça, palavra PAI em Libras.
educação e situação geográfica. Segundo Gesser (2009, p. 40)
“a língua de sinais, ao passar literalmente de ‘mão em mão’, adquire novos ‘sotaques’,
empresta e incorpora novos sinais, mescla-se com outras línguas em contato, adquire
novas roupagens”. O que significa dizer que não há sinais mais certos que outros, antigos
ou novos, antes, são variantes lexicais, próprios de uma língua viva e amplamente usada
por usuários nativos e não-nativos.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10436.htm. Acesso em 02 de fevereiro de
2018.

GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais.
São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

PEREIRA, Maria Cristina da Cunha (org.). Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2011.

QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira:
estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SILVA, Simone Gonçalves de Lima da. Variação sociolinguística: estudo de caso na língua
brasileira de sinais. Revista Línguas & Letras: Unioeste, 2014. Vol. 15. N. 31.

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