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1. A comunicação humana
A comunicação é inerente de todo ser humano. Comunicar é colocar em comum
(communicare, do latim). Na comunicação há uma partilha entre o emissor e o receptor,
portanto, implica bilateralidade. Mesmo na autocomunicação, há uma comunicação do
“eu” com o outro “eu”, o apreço.
Tipos de linguagem
• Mímica: facial, corporal.
• Sensitiva: tátil, auditiva, visual, olfativa, gustativa.
• Icônica: fotos, filmes, figuras, etc.
• Verbal: - falada: culta (formal, padrão) e coloquial (familiar e vulgar);
- escrita: literária, jornalística, científica, etc.
• Ritual: hora do almoço, final da aula, etc.
• Simbólica: sinais de trânsito, etc.
• Cibernética: fax, computador, televisão, etc.
• Índices: fumaça <=> fogo (tem relação convencional com o objeto).
Exemplo:
Emissor: eu lírico
Receptora: Teresa
Mensagem: é um conselho escrito como poema: os cuidados que Teresa deve ter ao
ouvir juras de amor
Código: língua portuguesa (um texto visual, linguagem escrita)
Canal: papel, tinta
1. 2. Funções da linguagem
As funções da linguagem dizem respeito à sua finalidade, para que serve, em que
situação é usa determinada linguagem. O linguista JACOBSON (1969) relacionou as
funções da linguagem com os elementos da comunicação. Cada elemento dá origem a
uma função, de acordo com a predominância no discurso. As principais funções são:
referencial, metalinguística, poética, fática, emotiva e conativa.
Veja:
“O homem, ser aberto à comunidade dos outros homens, é essencialmente um ser social. E sua
tarefa primeira e fundamental será a construção de uma sociedade humana, alicerçada, moralmente, na
Justiça e no Amor. Sociedade onde todos tenham, de fato, a oportunidade de uma vida humana, digna e
fraterna. Sociedade donde sejam banidas a violência e a injustiça, e onde estruturas sociais desumanas e
peremptórias cedam lugar a novas formas de organização e de convivência, baseadas na igualdade
democrática.(...)
A Educação Cívica visa, desta forma, basicamente, à formação da criança, do adolescente e do jovem
para a Democracia. Entendendo-se a Democracia, à luz da Constituição do Brasil, como aquela forma de
convivência social “cuja essência é evangélica” (no dizer de Bergson), pois tem como fundamento a
igualdade de homens livres e como espírito o amor fraterno.”
(ROSA, 1978, p. 253)
“Desarmonia (desharmonia), s. f. Falta de harmonia; (fig.) discordância ou não disposição das partes para
um todo”
(FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.Pequeno dicionário da língua portuguesa)
“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras
ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção de um
duplo contato: de um lado, toda uma atividade do discurso vem, discretamente, indiretamente, colocar em
evidência um significado único que é “eu te desejo”, e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir
(...) por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, prolongo este roçar, me
esforço em fazer durar o comentário ao qual submeto a relação.”
(BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso)
que emocione pela sonoridade, ritmo e outras potencialidades linguísticas. Não aparece
apenas no poema, mas também na propaganda, letras de música, diálogos, etc.
Exemplos:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(PESSOA, Fernando)
Exemplos:
Exemplos:
“Você foi
o melhor de meus sonhos
de todos os abraços
o que eu nunca esqueci.
Você foi
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Exemplos:
“A hóspede
Não precisa bater quando chegares
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo,
o cão amigo.”
(ALMEIDA, Guilherme de)
“A arte
Ouça um bom conselho
Eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu gogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou para a rua e bebo a tempestade.”
(BUARQUE DE HOLANDA, Chico Buarque)
“Declaração de amor
Esta é uma declaração de amor; amo a língua portuguesa.Ela não é fácil. Não é
ma1eável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter
sutilezas e a de reagir às vezes com um pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa
linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para
quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa do
superficialismo.
Às vezes ela reage diante da um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com
o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-
lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo
todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastam para nos dar uma herança de língua já
feita.Todos nós que escrevemos, estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê
vida.
Essas dificuldades, nós a temos. Mas não falarei do encantamento de lidar com uma
língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer,
eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente
claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras
línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.”
(LISPECTOR, Clarice)
A escrita, através dos tempos, adquiriu status de mais prestígio, contudo, não há
nenhum conhecimento de sociedade humana que não tenha usado a linguagem oral
como forma de comunicação, por outro lado, ainda em nossos dias há línguas ágrafas.
A linguagem oral, além de ter aplicação muito mais ampla que a escrita, a esta
serve de suporte. A escrita depende das distinções de forma e sons da linguagem falada.
Em muitas línguas, na escrita, as letras correspondem a sons da oral. Contudo, nem
todas as combinações são aceitáveis, haja vista o fato de uma mesma letra corresponder
a vários sons (fixo, próximo, xarope); o uso dos dígrafos (passarinho, carro, queijo,
telha, chamada, guerra) e a não marca de nasalidade de som (muito = mui(n)to).
O meio natural que o homem utiliza para a comunicação são os sons. A criança,
portanto, adquire esse meio de comunicação de forma natural. A linguagem escrita, por
sua vez, depende de instrução e de conhecimento prévio da linguagem oral, embora raro
e possível aprender um linguagem escrita sem o conhecimento da oral.
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- espontânea;
- apresenta entonação timbre, altura, ênfase, etc.; - estas características são
precariamente reproduzidas pela
acentuação e pontuação gráficas;
- emprego de gírias, onomatopéias e repetição - emprego de termos técnicos;
de palavras
- vocabulário mais restrito; -vocabulário mais amplo e erudito;
- não emprego de alguns tempos verbais ( por ex: - emprego irrestrito de tempos
verbais; pretérito mais que perfeito do indicativo);
- colocação pronominal livre; - colocação pronominal de acordo
com ditames da norma culta;
- uso de frases interrompidas, inacabadas; - uso de frases mais elaboradas;
- uso de formas contraídas e elisão de termos na - uso de frases bem construídas;
frase;
- emprego de chavões; - não emprego de chavões;
- predominância da coordenação. - emprego da coordenação e da
subordinação.
Os primeiros a usar a escrita, pelo que se tem notícia, foram os sumerianos, por
volta de 3000 a. C.
“A poesia, ela traz consigo esse caráter assim meio de, como é que eu vou dizer? uma coisa meio
masoquista. Você se dedicar dez anos a vender banana, montar uma banca para vender banana ou
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repolho, você vai ganhar muito mais do que fazendo poesia. A poesia não te dá nada em troca. Chego, às
vezes, a suspeitar que os poetas, os verdadeiros poetas, são uma espécie de erro na programação genética.
Aquele produto que saiu com falha, assim, entre dez mil sapatos um sapato saiu meio torto. É aquele
sapato que tem consciência da linguagem, porque só o torto é que sabe o que é o direito. Então, o poeta
seria, mais ou menos, um ser dotado de erro, e daí essa tradição de marginalidade, essa tradição moderna,
romântica, do século XIX pra cá, do poeta como marginal, do poeta como bandido, do poeta como
banido, perseguido, enfim, em condições, digamos, socialmente adversas, negativas.’ (LEMLNSKI, P.
Poesia: a paixão da linguagem. in: Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. pp.
284-285, apud ANDRADE; HENRIQUES, 1996)
1. 4. Níveis de linguagem
Observe:
1. Nóis veio cá pidi um ajutório.
2. A gente veio discolá uma mãozinha.
3. Nós viemos solicitar-lhe uma colaboração.
Era dia de sexta-feira de tardinha. E Valdelício Bispo dos Santos, o Val, tava desnilingüido ali na janela
de sua casa no Bairro Machado, agoniado, seco pra comer água com a galera, mas enfusado dentro de
casa.
É que Floripes, a dona Encrenca, tratava ele na corda curta e às vezes na base do trompaço. A cada vacilo
ele caía na taca. E Flor pra ficar virada na porra era daqui prali, a bicha era carne-de-pescoço.
E tava Vai nessa consumição quando Flor, que bulia nuns caqueiros no quintal, gritou lá de dentro:
“Beinho, dê um salto ali na Feira de São Joaquim e compra uma corda de caranguejo pra eu fazer um
escaldado pra você mais eu!”.
“Oxente, beinho, só se for agora”, respondeu Val. E Flor de lá: “Mas ói sua, hem, não demorar não senão
lhe passo a porra, viu?” E Val saiu picado, pongou no primeiro humilhante e saltou na Feira de São
Joaquim.
Malmente ele chegou encontrou a raça: “Êta zorra, agora fudeu maria-preá”, pensou Vai.” E aí, corrente,
qual é a de mesmo?, saudou.
E tome a comer rama, dizer dixote um pro outro e olhar os balaios das meninas feito abelha de padaria.
De vez em quando uma passarinha ou um caldo de sururu pra dar sustança. (“Nada de tira-gosto. Tira-
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Testamento (1193)
(Segundo Leite de Vasconcetlos in TA.. p. 14.)
In Christi nominee. Amen. Eu Eluira Sanchiz offeyro o meu corpo áás virtudes de Sam Salvador do
rnõnsteyro de Vayrarn, e offeyro con o meu corpo todo o herdamento que eu ey en Centegãus e as tres
quartas do padroadigo dessa eygleyga e todo hu herdamento de Crexemil, assi us das sestas como todo u
outro herdamento: que u aia u moensteyro de Vayram por en secula seculorum. Amen.
Fecta karta mense Septembri era MCCXXXI. Menendus Sanchiz testes. Stephanus Suariz testes.
Vermúú Ordoniz testes. Sancho Diaz testes. Gonsalvus Diaz testes. 10
Ego Gonsalvus Petri presbyter notavi.
(HUBER, 1986, p. 321)
Antigamente
Antigamente as moças se chamavam mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas.
Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões,
faziam-lhe pés-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam
tábua, o remédio era tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para
colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa, O que não impedia que, nesse entrementes,
esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava,
dando às de Vila-Diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo a tomar a fresca; e
também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde
ao cinematógrafo, chupando balas de algéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano. Estes, de pouco siso,
se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
Havia os que tomaram chá em criança e, ao visitarem uma família, da maior consideração,
sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes:
“Farei presente”. Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo”; ao que o cumprimentado respondia: “Para sempre seja louvado.”E os
eruditos, se alguém espirrava — sinal de defluxo — eram obrigados a exortar: “Dominus tecum”. Embora
sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar o padre-nosso ao vigário, e com isso
punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de
melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho
era artioso. É verdade que às vezes os meninos eram encapetados, e chegavam a pitar escondido atrás da
igreja. As meninas não: verdadeiros cromos, umas tetéias.
Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a
boca na botija, contavam tudo tintim-por-tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas
perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não
sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam
qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre “um cabrito”,
não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia
novidades “de baixo”, ou seja, do Rio de Janeiro. Ele vinha dar uma prosa e deixar de presente ao dono da
casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho
faceiro. Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
Acontecia o individuo apanhar uma constipação; ficando perrengue, mandava um próprio
chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença
nefasta era a phtysica e feia era o gálico. Antigamente os sobrados tinham assombrações, os meninos
lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa de goma, a casimira tinha de ser
superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam:
descansavam.
Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.
Entre Palavras
Entre coisas e palavras — principalmente entre palavras — circulamos. A maioria delas não
figura nos dicionários de há trinta anos, ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se tomar
conhecimento de novas palavras e combinações de (...)
Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhuma palavra ou locução atual, pelo seu
ouvido, sem registrá-la. Amanhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu avô; talvez ele não
entenda o que você diz.
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, a chacrete, o linóleo, o
nylon, o nycron, o ditafone, a informática, a dublagem, o sinteco, o telex... existiam em 1940?
Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a motoneta, o Velo-Solex, o biquíni, o
módulo lunar, o antibiótico, o enfarte, a acupuntura, a biônica, o acrílico, o tá legal, o apartheid, o som
pop, a arte pop, as estruturas e a infra-estrutura.
Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo, a descapitalização, o
desenvolvimento, o unissex, o bandeirinha, o mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem.
Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o servomecanismo, as algias, a coca-cola, o
superego, a Futurologia, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o lncra, a Unesco, o Isop,
a OEA e a ONU.
Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglomerado,, a diagramação, o ideologema,
o idioleto, o 1CM, a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom e a guitarra elétrica.
(...) Olhe aí na fila — quem? Embreagem, defasagem, barra tensora, vela de ignição,
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“(...) E lá o levei e deixei. A ausência temporária não atalhou o mal, e toda a arte fina de Capitu
para fazê-lo atenuar, ao menos, foi como se não fosse; eu sentia-me cada vez pior. A mesma situação
nova agravou a minha paixão. Ezequiel vivia agora mais fora da minha vista; mas a volta dele, ao fim das
semanas, ou pelo descostume em que eu ficava, ou porque o tempo fosse andando e completando a
semelhança, era a volta de Escobar mais vivo e ruidoso. Até a voz, dentro de pouco, já me parecia a
mesma. Aos sábados, buscava não jantar em casa e só entrar quando ele estivesse dormindo; mas não
escapava ao domingo, no gabinete, quando eu me achava entre jornais e autos. Ezequiel entrava
turbulento, expansivo, cheio de riso e de amor, porque o demo do pequeno cada vez morria mais por
mim. Eu, a falar verdade, sentia agora uma aversão que mal podia disfarçar, tanto a ela como aos outros.
Não podendo encobrir inteiramente esta disposição moral, cuidava de me não fazer encontradiço com ele,
ou só o menos que pudesse; ora tinha trabalho que me obrigava a fechar o gabinete, ora saía ao domingo
para ir passear pela cidade e arrabaldes o meu mal secreto.”
(MACHADO DE ASSIS, [sd], p. 149)
Exemplo:
A linguagem coloquial vulgar (sermo plebeus) é usada por caboclos, por pessoas
de nível sócio-econômico menos privilegiado, que têm pouco ou nenhum acesso à
escola, que lêem pouco ou nada lêem.
Exemplo:
“As veis, a gente topava com uma aldeia ou maloca e depois de matar tudo os home, sobrava as
muié e as criança. Tinha arguma delas que eram mãe e, então, no desespero do apuro, apertavam os
filhinhos contra os peito... argum deles as veis tava mamando e, então, as mãe procurava sempre proteger
com o própro corpo delas as crianças que mamava.., a gente ia enchendo elas de bala, no meio daquela
gritaria delas e das criança e morriam tudo elas com cara de grande tristeza, chorando... como se fosse
gente... contando o senhor não acredita, mas quando os bugre iam morrê, pegavam um jeito triste de
gente... há de vê que até lágrima corria, tudo como se não fosse bicho, como se fosse gente mesmo...”
(Folhetim 116 — Folha de S. Paulo)
Observe:
“ – Há-de-o! Agora abusar e arrastar mala, não faço. Não faço porque não paga a pena... De
primeiro, quando eu era moço, isso sim! ... Já fui gente! Gente. Pra ganhar aposta, já fui, de noite, foras
d’hora, em cemitério... (...) Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se aparecer. Hoje não:
estou percurando é sossego...”
(GUIMARÃES ROSA. São Marcos)
Versos, carta, a Revista... Vamos a ver se dou conta de tudo nesta manhã. Você também está
tentando por seu lado uma solução de língua brasileira que corresponda ao nosso caráter... Faz mais que
bem. Dou-lhe meus parabéns pela coragem de entrar na luta. Queria ter a idade de você. Principiei muito
tarde luto enormemente mas não desacorçôo. Se lembre sempre que é um trabalho dificílimo e que não
pode ser leviano sinão é contraproducente. Do abrasileiramento de linguagem de você tenho duas
observações: Você está acentuando todos os pras. Isso traz confusão Nava. Acentue só quando tiver
contração com artigo. Vou prá escola. Me dê pra mim. Não acha essa diferenciação razoável? A outra
observação é sobre estar que você escreve star. Realmente entre nós quase sempre pronunciamos assim
mesmo: tar. Não posso ir tou pronto, por estou pronto, sem dinheiro. Porém a gente não deve se esquecer
que não estamos fazendo uma fotografia do falar oral e sim uma organização literária. (Em todas as
línguas sempre teve um falar oral diferenciado da linguagem erudita) baseada apenas no falar comum que
inconscientemente condiciona a língua as precisões de raça clima época etc. D’aí o valor desse falar
popular. Mas fotografá-lo não é dar uma solução que tenha viabilidade literária nem siquer prática. Star
não é da índole tradicional da nossa língua doce e sensual um pouco lenta toda florida de vogais
abundandíssimas. Apesar disso eu ainda não me resolvi a escrever adimirar etc. porque em outros casos
idênticos porém de palavras que só a burguesia emprega como adjetivo eu não poderia botar o sem fugir à
realidade. Botar num e não botar noutro seria idiota. A generalização seria forçada. E não se trata de uma
organização apenasmente popular inculta regional porém duma geral que inclua todos os meios
brasileiros burgueses e populares. Acho que o nosso trabalho tem de ser principalmente por enquanto
empregar desassombradamente todos os brasileirismos tanto sintáticos como vocabulares e de todo o
Brasil e não da região a que pertencemos.
À linguagem coloquial agrega-se a gíria que, quase sempre, é criada por grupos
sociais como: banhistas, funkeiros, adolescentes, etc.
Interlocutor 2: É... a rapaziada nova agora não são mais como era quando nós ia, não
senhora. Quando nós saía com o Congo, nós levava aquele respeito com o mestre que
saía com nós, né? Então nós ficava ali, se fosse tomar arguma bebida só tomava na hora
que nós vinhesse embora.
"Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que é
o Mário de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas
modernistas. (...) Hoje em dia, felizmente, já existem vários trabalhos, há muita gente
reavaliando a poética do Mário, que ela é muito mais importante e profunda do que
aparentemente pareceu nestes últimos anos. Estudando o Mário, eu descobri que o
Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo seu povo, pelo
seu país, pela sua cultura. (...) Um outro cara que eu também fiz um filme é o Câmara
Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo morre, os jornais dão uma notinha desse
tamaninho, escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça pública, devia ser
lido, recitado.”
(Os sentidos da paixão, São Paulo, Funarte/Companhia das Letras,
1987.)
“Os nomes das frutas realmente não guardei porque são nomes muito, que tem assim
uma
influência muito indígena, né? O Norte, principalmente no Amazonas e no Pará a
influência indígena sobre a alimentação é muito grande.
O Amazonas é impressionante o número de frutas, e frutas assim tudo duro, tipo assim
cajá-manga.’
A gente cheguemos’ não será uma construção errada na gestão do Partido dos
Trabalhadores em São Paulo.”
Os trechos da entrevista nos quais a “Folha de 5. Paulo” se baseou para fazer tal
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“A criança terá uma escola na qual a sua linguagem seja respeitada (...) Uma escola em
que a criança aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo pela sua (...)
Esses oito milhões de meninos vêm da periferia do Brasil (...) Precisamos respeitar a
(sua) sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita
que a minha. E, mostrando tudo isso, dizer a ele:
‘Mas para a tua própria vida tu precisas dizer a gente chegou’ em vez de ‘a gente
cheguemos’. Isso é diferente, ‘a abordagem’ é diferente. É assim que queremos
trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade.”
a) Qual a posição defendida pelo professor Paulo Freire com relação à correção dos
erros gramaticais na escola?
5. Leia o texto abaixo e diga em que nível ou variante de linguagem foi produzindo:
“É Drummond o poeta modernista mais popular. Inspira-se, principalmente,
no quotidiano, no dia-a-dia, na província, manifestando tudo isso com angústia.”
6. Observe o texto abaixo e diga em que nível ou variante linguística foi produzido:
“Assim está Guma que olha o bojo de prata das águas e ouve a música do negro que
convida para a morte. Ele diz que é doce morrer no mar, porque irão encontrar a mãe-
d’água, que é a mulher mais bonita do mundo.” (Jorge Amado)
7. Leia o texto abaixo e diga em que nível ou variante linguística foi escrito:
“Quando um home do sertão,
passando, vê uma frô,
não apanha a fulô com a mão!...
Apara e, despois, siguindo,
Leva a frô no pensamento
E o oroma no coração!”
(Catulo da Paixão Cearense)
7. “- ‘Quadrada’ é uma gíria! Quer dizer que você é desatualizada! Uma ‘por fora’,
sabe?”
Então tenho que ficar por dentro? Por dentro do quê, hein?
9. No dia 12 de junho, dê uma flor á sua namorada. Ela vai “vibrar” de emoção.