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Capítulo 33

Teoria da Comunicação

Definição
Para entender o que é comunicação, é preciso entender primeiro o que é linguagem e seus
objetivos.
– O que é linguagem?
Linguagem é um fenômeno ligado a várias áreas na vida do homem.
Biologicamente falando, linguagem é como um software superdesenvolvido normalmente
localizado no cérebro humano, ou seja, nascemos com a capacidade de linguagem.
Psicológica e afetivamente falando, sem ela não há como entender a vida interna e externa
do homem, pois somente ela permite a exposição objetiva/criativa de pensamentos, emoções,
ideias, sentimentos, volições, experiências etc.
Cultural e socialmente falando, esse dom inato permite que o homem crie, recrie, manipule,
reproduza, absorva o maior conjunto de conhecimentos, informações, valores, costumes e
afins (individuais e coletivos). Para onde o homem for, sua cultura expressa em forma de
linguagem irá com ele.
Formalmente falando, a linguagem, manifestada por meio de sinais verbais ou não verbais,
permite ao homem uma adaptação incrível em diferentes situações comunicativas; para isso,
ele precisa adquirir competência comunicativa.
– Qual são os objetivos da linguagem?
A expressão do pensamento e a interação entre as pessoas são os principais objetivos da
linguagem. Quando falamos, escrevemos, gesticulamos ou usamos quaisquer outros signos
(sinais), o propósito é fazer-se entender. Muitas vezes falamos com nós mesmos em voz alta
ou em pensamento para organizar nossas ideias; de qualquer maneira, estamos nos
comunicando. Assim, precisamos dela para viver, reviver e conviver.
É sempre importante dizer que usamos a linguagem para representar o mundo real e o
mundo das ideias, portanto a linguagem não é o espelho da realidade externa, apenas. Por
meio dela construímos e organizamos nossa realidade com toda nossa herança cultural e
subjetividade.
É a linguagem verbal que nos deve interessar para os concursos públicos. Em vestibulares,
há muitas questões de linguagem não verbal. Vamos entender.

Elementos da Comunicação
– O que é linguagem verbal?
Linguagem verbal é a maneira que o homem tem de se fazer entender por meio de palavras.
Estas se manifestam por sons (fala) ou formas (escrita) atreladas a um conceito a fim de
representar algo do universo externo ou interno do homem. Usamos a linguagem verbal por
meio de signos para a construção de sentido do universo humano na fala e na escrita.
– O que é o signo linguístico?
Signo linguístico é qualquer unidade de uma língua que conjuga som (na fala) ou forma
(escrita) + ideia/conceito a fim de representar algo do universo externo ou interno do
homem. Os signos de uma língua substituem os objetos e os representam. Todo signo, então,
apresenta dois “lados” básicos: o significante e o significado.
1) Significante: é “a imagem acústica”, a imagem mental gerada pelo som (em pensamento
ou em voz alta – fala), ou pela forma (escrita) de uma palavra; é a parte audível ou visível
da palavra que o nosso cérebro identifica e converte em imagem ou mera abstração.
2) Significado: é a ideia, o conceito, o conteúdo semântico da palavra que representa algo do
mundo do homem.
O signo linguístico (= a palavra) pode ter seu significante mudado e seu significado
permanecer o mesmo; muito dependerá da cultura de uma pessoa ou de um grupo. Pense
em tangerina, bergamota, mexerica, mandarina, por exemplo; formas diferentes, significados
iguais. O contrário também é verdadeiro, ou seja, uma forma pode ter mais de um sentido:
precisar (carecer, necessitar, ajustar...).
Podemos acrescentar ao conceito de signo linguístico (significante + significado) o conceito
d e referente, que é um elemento extralinguístico, ao qual o signo linguístico se remete,
circunscrito ao nosso mundo biossocial. Dessa maneira, a compreensão que temos de
tangerina está associada ao que apreendemos do som [tangerina] + a ideia que temos dela
(fruta) + “o objeto”, a fruta em si. Logo, o signo linguístico é uma tríade: significante +
significado + referente.
– Enfim, o que é a comunicação?
A grande função da linguagem é o estabelecimento da comunicação, conceito que trata da
transmissão/recepção de mensagem em um código compreendido. Vamos nos apegar à
comunicação verbal (oral ou escrita).
O processo de comunicação envolve seis elementos básicos, os quais constituem o conceito
atual dela. Sem esses elementos, não há comunicação. Vejamos:
1) Emissor (remetente, transmissor, 1a pessoa do discurso, locutor, falante etc.): aquele que
envia uma mensagem.
2 ) Receptor (destinatário, recebedor, 2a pessoa do discurso, interlocutor, ouvinte etc.):
aquele que recebe uma mensagem.
3) Mensagem: aquilo que é transmitido pelo emissor.
4) Código: signos compartilhados pelo emissor e pelo receptor.
5) Referente (contexto): é o assunto da mensagem, o elemento extralinguístico dela.
6) Canal (contato): é o meio, o veículo transportador da mensagem.
Para ilustrar: João (carioca) envia um e-mail falando sobre as suas férias, na língua nativa
deles, para Maria (paulista). Assim:
1) João: emissor;
2) Maria: receptor;
3) o conteúdo do e-mail: mensagem;
4) em língua portuguesa: código;
5) as férias do João: referente;
6) o e-mail: canal.
Mensagem / Referente
Emissor =========================== Receptor
Código / Canal

É bom dizer que o receptor pode virar emissor no processo de comunicação.

Funções da Linguagem
A linguagem vai muito além do que imaginamos, pois apresenta determinadas funções
dentro do processo comunicativo, consoante o propósito, a intenção do usuário da língua. A
título de curiosidade, quem discriminou tais objetivos da linguagem foi um homem chamado
Roman Jakobson. Devemos muito a ele.
Pois bem... as funções da linguagem tratam do relevo dado a um dos seis elementos da
comunicação, que acabamos de ver, a depender da proposta ou intento do texto. É certo
também que um texto pode apresentar mais de uma função da linguagem que concorre com
a função predominante. Organizamos a linguagem de tal modo a atender nossa finalidade.
Uma dica: para cada elemento da comunicação, há uma função da linguagem! Vejamos as seis:
1) Função Emotiva (Expressiva)
• o “eu” do texto é o centro da mensagem, na qual ele destaca seus próprios sentimentos,
expressa suas emoções, impressões, atitudes, expectativas etc.;
• é um texto pessoal, cercado de subjetividade;
• algumas marcas gramaticais indicam que tal função é a predominante no texto: verbos e
pronomes de 1a pessoa, frases exclamativas, certas interjeições, vocativos, reticências,
termos e expressões modalizadoras etc.;
• é a linguagem das músicas românticas, dos poemas líricos e afins.
Exemplo:
– “Eu não tinha este rosto de hoje / assim calmo, assim triste, assim magro (...)” (Cecília Meireles)
– Estou bem feliz!
2) Função Conativa (Apelativa)
• o receptor é o centro da mensagem, na qual ele é estimulado, provocado, seduzido,
amparado etc.;
• normalmente o interlocutor é conduzido a adotar uma determinada postura;
• é um texto normalmente claro e objetivo que visa à persuasão;
• algumas marcas gramaticais: verbos e pronomes de 2a pessoa (ou 3a pessoa – você),
vocativos, imperativos, perguntas ao interlocutor etc.;
• é a linguagem das músicas e dos poemas românticos, das propagandas e afins.
Exemplos:
– “Mel, tua boca tem o mel / E melhor sabor não há / Que loucura te beijar (...)” (Belo)
– Não deixe de ver aquele filme amanhã, ouviu?
3) Função Poética
• a mensagem por si é posta em relevo; mais do que seu conteúdo, o destaque dela se
encontra na forma como ela é construída, criativa e inusitadamente;
• essa função usa vários recursos gramaticais: figuras de linguagem, conotação,
neologismos, construções estruturais não convencionais, polissemia etc.;
• é a linguagem dos poemas e prosas poéticas (literária), da publicidade criativa e afins.
Exemplo:
– “Antes de dormir, não se esqueça de apagar os insetos.” (Propaganda de inseticida)
– Amar: / Fechei os olhos para não te ver / e a minha boca para não dizer... / E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei, / e da minha boca fechada nasceram sussurros / e palavras
mudas que te dediquei... / O amor é quando a gente mora um no outro. (Mário Quintana)
4) Função Metalinguística
• o código usado para estabelecer comunicação é o centro da mensagem, no sentido de
que ele é instrumento de explicação de si mesmo; usa-se um signo para explicar a si
próprio;
• essa função busca esclarecer, refletir, discutir o processo discursivo, em um ato de
comunicação em que se usa a linguagem para falar sobre ela própria;
• encontramos em poemas que falam sobre o fazer poético (metapoema), sambas que
abordam esse gênero musical, filmes que discutem o cinema, palavras usadas para
explicar outras em dicionários, narradores que refletem sobre a arte de narrar
(metanarração) etc.
Exemplo:
– “Samba, / Eterno delírio do compositor / Que nasce da alma, sem pele, sem cor (...)” (Fundo de
Quintal)
– “Ódio: aversão intensa geralmente motivada por medo, raiva ou injúria sofrida; odiosidade”
(Dicionário Houaiss)
* O programa Vídeo Show é um exemplo forte de metalinguagem, pois se usa o “código”
da televisão (programa de TV) para falar sobre a própria televisão (outros programas de
TV).
5) Função Referencial (Informativa/Denotativa)
• o referente é o centro da mensagem;
• destaca-se o objeto, o assunto da mensagem de forma clara e objetiva;
• algumas marcas gramaticais e discursivas: uso da 3a pessoa, denotação, impessoalidade,
precisão, frases declarativas etc.;
• encontramos tal função predominantemente em textos jornalísticos, científicos,
didáticos e afins (não literária).
Exemplo:
– “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou o governo com avaliação recorde de 87% para seu
desempenho pessoal, conforme pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Instituto
Sensus divulgada nesta quarta-feira. Em setembro deste ano, essa percepção era de 80,7%.” (Site de
notícias)
6) Função Fática
• o canal (contato) é o centro da mensagem;
• essa linguagem se manifesta quando a finalidade é testar, estabelecer ou encerrar o
contato entre o emissor e o receptor (como em ligações telefônicas, saudações,
cumprimentos etc.);
• tal função cria as condições básicas para que ocorra a interação verbal;
• algumas marcas linguísticas: “Bom dia/tarde/noite”, “Oi”, “Olá”, “Fala...”, “E aí”, “Estou
entendendo”, “Vamos lá?”, “Pronto”, “Atenção”, “Sei...”, “Fui”, “Valeu”, “Tchau” etc.
Exemplo:
– “Fala, galera! Beleza? Boa noite a todos. Bem... vamos lá...” (um professor, antes de iniciar a
aula)
– “Alô? Entendeu?”

Noções de Semiótica (ou Semiologia) e Linguística


Este assunto pode parecer-lhe estranho, e é, em 99,99% dos concursos públicos! Mas... a
FCC já tratou dele. Veja o conteúdo programático do edital (beeeeem diferente do usual!):

Analista Judiciário – ÁREA APOIO ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE TAQUIGRAFIA –


2010
PORTUGUÊS:
Comunicação e expressão em língua portuguesa: Gramática (fonética, morfologia e sintaxe:
construção frasal, concordância, regência, crase, colocação e emprego). Semântica.
Estilística. Interpretação de textos. Redação (confronto e reconhecimento de frases
corretas e incorretas). Figuras e vícios de linguagem. Pontuação: pontuação e estrutura
sintática, pontuação ênfase; particularidades em textos normativos articulados, em
enumerações, em citações e em transcrições. Terminologia jurídica, expressões usuais na
linguagem jurídica, latinismos jurídicos, vícios e impropriedades da linguagem judiciário-
forense.
NOÇÕES BÁSICAS DE SEMIOLOGIA E LINGUÍSTICA:
Conceituação, campo de atuação dos fenômenos e questões linguísticas e semiológicas,
aplicação. A linguagem e seus planos, estrutura, modalidades, evolução; a linguagem e a
comunicação. Teoria do Discurso: estruturas narrativas, organização discursiva, enunciações
e relações intertextuais; a tipologia, análise e metodologia do discurso. A questão sígnica:
sistemas, estrutura e dinâmica de signos.

Vamos entender agora!


Semiótica é a ciência geral dos signos, ou a arte dos sinais. É uma ciência que trata de todas
as linguagens, a saber, quaisquer sinais usados pelo homem (ou não!) para representar algo
interno ou externo, estabelecendo normalmente a comunicação. Assim, um cheiro, uma
imagem, uma percepção, um movimento, um som, um sabor, ou todos esses elementos
juntos – que dizem respeito aos sentidos humanos (ou não!) – colaboram para patentear a
comunicação.
Já a Linguística é mais específica, pois trata da linguagem humana, ou melhor, da língua. O
dicionário Houaiss define bem esta ciência: “ciência que tem por objeto: (1) a linguagem
humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico; (2)
as línguas consideradas como estrutura; (3) origem, desenvolvimento e evolução das línguas;
(4) as divisões das línguas em grupos, por tipo de estrutura ou em famílias, consoante o
critério seja tipológico ou genético”.
Veja uma questão sobre isso:
52. (FCC – T RF (4a R) – Analista Judiciário (T aquigrafia) – 2010) Analise:
A Semiologia (ou Semiótica) é a teoria geral ...J.... Ela difere da Linguística por sua maior abrangência: enquanto a
Linguística é o estudo científico ...K..., a Semiologia preocupa-se com todo e qualquer sistema ...L..., seja ele natural
ou convencional. Por esse ângulo, a Linguística insere-se como uma parte da Semiologia. Semiologia e Semiótica são
termos permutáveis.
(Adaptado de Castelar de Carvalho (UFRJ, ABF). Saussure e a Língua Portuguesa,
http://www.filologia.org.br/viisenefil/09.htm. Acesso em 02 de fevereiro de 2010.)
As lacunas J, K e L são, correta e respectivamente, preenchidas por:
a) dos significados – das linguagens – de significantes;
b) da significação – da fala – linguístico;
c) dos símbolos – dos signos – de fala;
d) da comunicação – da morfossintaxe – de troca;
e) dos sinais – da linguagem humana – de comunicação.
Comentário: E. Note que a questão trata da definição da semiótica e da linguística de
maneira bem didática. Bastaria saber a definição de ambas e a diferença entre elas para
acertá-la.

Uma vez que a semiótica trata de signos (ou sinais) verbais ou não verbais, diz-se que eles
(co)ocorrem em forma de ícone, índice ou símbolo. Vejamos:
1) O ícone é uma retratação de algo do mundo real ou imaginário. A sua foto 3X4, uma
pintura de um vaso de flores, uma escultura de um homem famoso, um desenho de uma
sereia etc. são signos icônicos, pois buscam representar de modo bem similar os elementos
do externo universo humano. Sabemos, por exemplo, que determinada conversa que
ouvimos ou lemos pertence a um casal de namorados, pois nela muitas palavras (e a
entonação delas) aparentam a maneira comum de os casais se tratarem; daí, podemos
afirmar que ocorre iconicidade neste trecho: – Oi, amorzinho. – Fala, nem. Como foi o seu
dia? – Ai, paixão, senti tanto a sua falta! – Ah, calma, Ju, só faltam dois dias pra gente se ver.
– Sabe, Nando, eu sou louquinha por você! – Você só é assim, porque... eu sou lindo! –
Convenciiiido!
2) O índice (ou indício) é um signo que sugere, por inferência, um acontecimento, uma
intenção etc. Ocorre a ideia de contiguidade nesse tipo de signo, pois ele é uma parte de
um todo absorvido, anteriormente, pelo conhecimento de mundo. Um céu estrelado
sugere sol no dia seguinte, uma buzinada sugere pedido de passagem, um lugar saindo
fumaça sugere presença de fogo, uma fala irônica sugere desprezo por alguém, um simples
clique (pela boca) sugere insatisfação, um sotaque sulista sugere a origem da pessoa etc.
3) O símbolo é, em geral, uma imagem que, por herança cultural ou não, serve para
representar o abstrato pelo concreto. Uma caveira simboliza a morte ou o perigo, o preto
simboliza o luto, nossa bandeira simboliza nossa nação, a pomba branca simboliza a paz, as
letras dos alfabetos simbolizam sons ou ideias inteiras, uma aliança no dedo anelar
esquerdo simboliza o casamento, a cruz simboliza o cristianismo etc.
Os signos são incontáveis e seus referentes idem. Vale dizer ainda que um mesmo signo
pode, ao mesmo tempo, ser tomado como ícone, índice e símbolo; por exemplo, a imagem de
um sapatinho na janela. É ícone, porque retrata um sapato na janela; é índice, porque sugere
que o Papai Noel vai deixar um presente; é símbolo, porque representa (também) o Natal.

O Que Cai Mais na Prova?

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