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Decifra-me ou Devoro-te: Língua, Ortografia e

Redação Oficial nas Instituições

COLED/CGRH/SPOA
 Para que pudesse expressar aos demais seres de
sua espécie, de seu grupo, seus conhecimentos,
suas experiências, seus desejos, enfim, sua visão
de mundo, o homem – também graças à sua
inteligência – inventou a LINGUAGEM, conjunto
de signos que representam o mundo real quando
o homem o codifica para si (o que é uma forma
de conhecer esse mundo), para o outro (na
expressão do que deseja transmitir ao outro) e
quando decodifica a visão de mundo do outro
para si. A transmissão de informações de uma
geração para outra através da linguagem, a
Antropologia chama de CULTURA. A transmissão
(expressão) de informações de um ser para outro
através da linguagem chama-se COMUNICAÇÃO:
 “Comunicação é o modo através do qual as
pessoas compartilham experiências, ideias e
sentimentos. Ao se relacionarem, como seres
interdependentes, influenciam-se mutuamente e,
juntas, modificam a realidade onde estão
inseridas” (“O que é comunicação”, Bordenave)
 O homem, assim, se expressa (se COMUNICA)
por meio da linguagem. A ciência que estuda
TODOS os sistemas de signos, ou seja, todas as
linguagens que existem e quaisquer que sejam
suas esferas de utilização, chama-se SEMIÓTICA
OU SEMIOLOGIA. Em suma: a Semiótica estuda a
“realidade cultural” de uma comunidade, todas as
espécies de sistemas sígnicos que o homem
criou ao longo da sua História no planeta.
 A Linguística, que é um ramo da Semiótica, delimita
seus estudos à LINGUAGEM VERBAL OU LÍNGUA, que,
sabemos, pode ser oral e/ou escrita. A Língua é um
código que consiste num conjunto de signos
linguísticos (SLs) formados por duas faces coesas e
indissociáveis: significante e significado. O
significante é um conjunto de letras e/ou de sons
que, combinados, são dotados de significação. No
Português, por exemplo, a sequência CSAA não é
significante, porque não tem significado. O
significado, por sua vez, é um conceito, é aquilo do
mundo real que o signo está REPRESENTANDO
linguisticamente. A sequência CASA é significante
porque significa, vale, representa, a “casa” que existe
na realidade. Assim, só é significante o que tem
significado, e um significado só pode ser
materializado por um significante.
Os elementos básicos que compõem uma situação
de comunicação, segundo Jakobson, são:
 A própria situação ou realidade de comunicação
em que ela se realiza: o lugar, a época, o tipo de
cultura a que pertencem as pessoas que se
comunicam, o seu grau de escolaridade, sua
faixa etária e tudo aquilo que pode modificar o
sentido da mensagem que está sendo
transmitida. São as CIRCUNSTÂNCIAS todas em
que uma comunicação se efetiva (enunciação);
 Os interlocutores que dela participam.
Os interlocutores que participam do processo
de comunicação são:

 EMISSOR: é quem transmite uma mensagem


durante a comunicação ( é a pessoa que fala
no discurso – a 1ª pessoa – equivalente a EU
ou NÓS);

 RECEPTOR: é para quem se transmite uma


mensagem durante a comunicação (é a
pessoa para quem se fala no discurso – a 2ª
pessoa – equivalente a TU e VÓS);
Como outros elementos do processo temos:
 MENSAGEM: é cada conteúdo que os interlocutores
compartilham. A mensagem normalmente tem um tema central,
um assunto predominante. Ela pode ser sobre alguém, algo (real
ou não, concreto ou abstrato), algum lugar, etc. Em
comunicação, o objeto ou tema central da mensagem chama-se
REFERENTE. Assim, o referente é sobre que ou sobre quem se
fala na mensagem: corresponde à 3a pessoa do discurso – ele,
ela, eles, elas;
 CÓDIGO: é a linguagem ou conjunto de signos usados na
elaboração e/ou na transmissão da mensagem na comunicação.

 CANAL: é cada um dos meios de comunicação utilizados na


transmissão de mensagens na comunicação. São os meios de
comunicação. Ex.: revista, jornal, rádio, televisão, telefone, fax,
telégrafo, computador (Internet), rádio, carta, etc.
 Em suma, segundo JAKOBSON, os elementos da comunicação são os
seguintes:

(REFERENTE)

EMISSOR --------- MENSAGEM ------- RECEPTOR

CÓDIGO
CANAL

 RUÍDO é todo e qualquer problema que possa ocorrer na


transmissão/elaboração ou na recepção/entendimento de uma
mensagem. As diferenças culturais, as condições acústicas e/ou visuais
da situação de comunicação, a predisposição dos interlocutores e suas
diferenças e tantos outros fatores podem impedir que uma mensagem
seja recebida da mesma maneira que foi enviada.
 Em uma mensagem, quando a linguagem é usada para
dizer a respeito:

 do próprio EMISSOR: a linguagem está exercendo a sua


FUNÇÃO EMOTIVA ou EXPRESSIVA. São mensagens em que
um “eu” expressa seus desejos, suas emoções, seus
conhecimentos, suas experiências, enfim, sua VISÃO DE
MUNDO. Os elementos da mensagem que indicam que a
linguagem nela usada é a emotiva são: presença de
palavras – verbos e pronomes – em 1a pessoa (do singular
e/ou do plural), presença de interjeições, de pontos de
exclamação e de interrogação. É a mensagem SUBJETIVA;
 de um REFERENTE qualquer, que não seja
nem o emissor nem a própria linguagem: a
linguagem está exercendo a sua FUNÇÃO
REFERENCIAL. O que indica que a linguagem
de uma mensagem é predominantemente
referencial são os VERBOS EM 3a pessoa. É a
mensagem objetiva, muito comum nos textos
científicos (no discurso científico),
dissertativos;
 da própria LINGUAGEM OU CÓDIGO: quando, numa
mensagem, a linguagem é usada para falar dela
mesma (o referente é a própria linguagem, seja ela
verbal ou não verbal), ou quando uma mensagem
lembra ou faz alusão a uma outra (intertextualidade),
a linguagem está exercendo a sua FUNÇÃO
METALINGUÍSTICA. Um texto que fala sobre Língua
Portuguesa, sobre poesia, sobre cinema, sobre
qualquer meio de comunicação de massa, é
predominantemente metalinguístico. Uma gramática,
um dicionário, são obras metalinguísticas. Uma obra
literária em prosa ou em versos que lembra, que faz
alusão ou que é uma adaptação de outra obra
literária famosa ou anterior (uma paródia, por
exemplo) também é metalinguagem.
 Da própria MENSAGEM, quando, em uma
mensagem a linguagem usada é incomum, é
conotativa, é ambígua, é polivalente, é musical,
quando seu autor rompe com as normas de uso
dos signos (Linguística/Saussure) e com as
normas gramaticais, ou seja, quando chama a
atenção para a seleção e a combinação especial
dos signos que a compõem (demonstrando que o
autor fez um trabalho artesanal, artístico com
eles), a linguagem é predominantemente
POÉTICA. A POESIA ou LINGUAGEM POÉTICA
(função poética da linguagem) pode estar tanto
num texto em versos como na prosa literária. É a
mensagem literária, poética, artística.
 de algo que influencie, leve o RECEPTOR a
pensar e a agir de modo diferente depois de
receber tal mensagem, ou seja, a linguagem é
usada para persuadir, para convencer
(ARGUMENTAR) o receptor da mensagem a
respeito de algo ou de uma ideia, ela está
exercendo a sua FUNÇÃO APELATIVA OU
CONATIVA. O índice máximo da função
apelativa da linguagem predominando numa
mensagem é o uso dos verbos no modo
IMPERATIVO;
 apenas para testar se o CANAL está funcionando, ou
seja, a mensagem não tem conteúdo informativo,
emotivo, poético, metalinguístico ou apelativo, ela
apenas é usada para que a comunicação se mantenha
estabelecida, sem interrupções ou ruídos, a
linguagem está exercendo sua função FÁTICA.
Quando dizemos “alô”, num telefone, para começar
um diálogo ou para saber se nosso receptor está nos
ouvindo, a palavra dita serve apenas para isso.
Quando o comunicador Chacrinha queria saber se seu
público estava atento ao que ele dizia, gritava:
“_Terezinha”. Se o público gritasse bem forte “_U,U!”,
era sinal de que estavam atentos. Se não, ele insistia
em gritar aquele nome que era apenas um teste de
canal, de comunicação. “Vocês querem bacalhau”?
(REFERENTE)
Função REFERENCIAL

EMISSOR ------------- MENSAGEM ------------ RECEPTOR


Função EMOTIVA Função POÉTICA Função APELATIVA

CÓDIGO OU LINGUAGEM
Função METALINGUÍSTICA

CANAL
Função FÁTICA
 Segundo o Manual de Redação da Presidência da
República:
 “Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira
pela qual o Poder Público redige atos normativos e
comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do
Poder Executivo.
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade,
uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão,
formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses
atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37:
“A administração pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência (...)”. Sendo a publicidade e a impessoalidade
princípios fundamentais de toda administração pública, claro
está que devem igualmente nortear a elaboração dos atos e
comunicações oficiais.” (BRASIL, 2002, p. 12)
 Impessoalidade:

◦ A redação oficial é elaborada sempre em nome do serviço


público e sempre em atendimento ao interesse geral dos
cidadãos.
◦ As comunicações oficiais restringem-se a questões que
dizem respeito ao interesse público; é natural que não
tenham qualquer tom pessoal.
◦ Sendo assim, é inconcebível que os assuntos, objetos dos
expedientes oficiais, sejam tratados de outra forma que
não a estritamente impessoal.
◦ Observando os elementos e funções propostas por
Jakobson, a maneira pela qual se evidencia o referente é
por meio na função referencial, estabelecida pelo uso de
terceira pessoa, portanto, quando, em uma redação oficial,
objetiva-se evidenciar tal elemento da comunicação, deve-
se primar pelo uso da 3ª pessoa.
 Clareza:

◦ Uso de expressões simples e objetivas, de fácil


entendimento, e utilização de frases bem
construídas que evitem interpretação dúbia.
◦ Claro é aquele texto que possibilita imediata
compreensão pelo leitor.
 Concisão:

◦ A concisão consiste em expressar com um mínimo


de palavras um máximo de informações, desde que
não se abuse da síntese a tal ponto que a ideia se
torne incompreensível. Afinal, o tempo é precioso,
e quanto menos se rechear a frase com adjetivos,
imagens, pormenores desnecessários ou perífrases
(rodeios de palavras), mais o leitor se sentirá
respeitado.
 Formalidade:

◦ As comunicações oficiais devem obedecer a certas


regras de forma, unindo à impessoalidade e ao
padrão culto de linguagem um tratamento marcado
pela formalidade, a qual consiste não apenas no
emprego de pronomes de tratamento adequados,
mas também na polidez, civilidade e uniformidade
dos textos.
 Padronização:

◦ A estética e clareza da apresentação do


documento, o uso de papéis uniformes para o texto
definitivo e a sua correta diagramação são
indispensáveis para a padronização.
 BRASIL. Presidência da República. Manual de Redação da
Presidência da República. Gilmar Ferreira Mendes e Nestor
José Forster Júnior. 2 ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da
República, 2002.

 BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é comunicação. 1 ed. São


Paulo: Brasiliense, 1996.

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