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Domício Proença Filho

Doutor em Letras e livre-docente em Literatura Brasileira


pela Universidade Federal de Santa Catarina
Professor titular e emérito da Universidade Federal fluminense

A linguagem literária

Edição revista e atualizada

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Fatores do processo linguístico da comunicação e funções da linguagem

O processo da comunicação implica fatores e funções que têm sido objeto


de preocupação de vários estudiosos, entre eles Roman Jakobson, para
ficarmos apenas numa perspectiva linguística. Para esse especialista, cada ato
de comunicação verbal envolve, na linguagem comum, um remetente que
envia uma mensagem por meio de um código a um destinatário, estabelecido
entre os interlocutores um contato que envolve um canal físico e a necessária
conexão psicológica. A mensagem enviada é compreendida por-

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que se refere a um contexto extra verbal e a uma situação efetivamente
existente anteriores e exteriores ao ato da fala.

Remetente ou emissor, mensagem, código, destinatário ou receptor,


contato e contexto são, portanto, os seis fatores do processo linguístico da
comunicação.

A partir deles, o citado linguista aponta as conhecidas seis funções da


linguagem:

a) função referencial ou denotativa — pela linguagem nós nos referimos


às coisas do mundo que nos cerca e às do nosso mundo interior; a linguagem
denota, representa o mundo;

b) função expressiva ou emotiva — a linguagem é um meio de


exteriorização psíquica; as interjeições são um exemplo marcante dessa
função;

c) função conativa (de conação, que significa tendência consciente para


atuar) ou apelativa — quando falamos ou escrevemos, exercemos maior ou
menor influência sobre o nosso interlocutor. A linguagem funciona como
atuação social ou como apelo. Os verbos no imperativo acentuam bem a
presença dessa função, e, sob esse aspecto, é significativa a sua utilização tão
frequente nas mensagens da propaganda e da publicidade;

d) função fática — caracteriza-se quando a mensagem busca estabelecer


ou interromper o que se está comunicando. São exemplos frases como "Alô!",
"Estão me entendendo?", "Certo?", "Está tudo claro?";
e) função metalinguística — ocorre quando o emissor e o destinatário
verificam se estão usando o mesmo código, quando explicitamos termos da
própria linguagem usada: Literatura é a arte da palavra;

f) função poética ou fantástica — evidencia-se quando, através dos


signos, se "cria" intencionalmente uma realidade, configurada sobretudo numa
obra de arte literária.18

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As três primeiras funções apontadas por Jakobson — a representativa, a
emotiva e a conativa — foram anteriormente caracterizadas por Karl Buhler, à
luz da psicologia. Para esse estudioso alemão, a linguagem é um meio
precípuo de exteriorização de estados de alma (manifestação psíquica), exerce
uma atuação sobre o próximo na vida comum (atuação social ou apelo) e
estrutura a nossa experiência mentada (função representativa).

Nos atos de linguagem, várias dessas funções se apresentam


concomitantemente e estabelece-se entre elas uma certa hierarquia.

Linguagem, língua e discurso

Linguagem nos faz voltar ao conceito de língua, tal a relação que as


vincula.

A língua é um sistema de signos, ou seja, é um conjunto organizado de


elementos representativos. Como tal, é regida por princípios organizatórios
específicos e marcados por alto índice de complexidade: envolve dimensões
fônicas, morfológicas, sintáticas e semânticas que, além das relações
intrínsecas peculiares a cada uma, são também caracterizadas por um
significativo inter-relacionamento. A rigor, mais do que um sistema, a língua é
um conjunto de subsistemas que se integram.

Tomemos, por exemplo, a palavra rua: o seu significado tem a ver com o
jogo de oposições que marca o sistema fônico da língua portuguesa, o que se
aclara quando a comparamos com termos como lua, nua ou sua e lembramos
que o fonema se caracteriza por marcar a distinção de significado entre as

18
Cf. JAKOBSON, Roman. Essais de linguistique générale. Paris: Minuit, 1966. V. também______.
Linguística e comunicação. 2. ed. rev. São Paulo: Cultrix, 1979.

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