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CONCEITOS FUNDAMENTAIS: LÍNGUA, LINGUAGEM, TEXTO E DISCURSO

Objetivo: Compreender as particularidades e as inter-relações das definições de língua, linguagem, texto e


discurso na configuração do universo comunicacional.

Segundo Coutinho (apud Mascuschi, 2008), não é interessante distinguir rigidamente entre texto e
discurso, pois se trata de frisar mais as relações entre ambos e considerá-los como aspectos complementares
da atividade enunciativa.
Para Koch (2005, p.26), é lícito concluir que o termo texto pode ser tomado em duas acepções: em
sentido lato, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (um poema, uma
música, uma pintura, um filme, uma escultura etc.), isto é, qualquer tipo de comunicação realizado através de
um sistema de signos. Em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um
falante, numa situação de comunicação dada, englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor
(ou por este e seu interlocutor, no caso do diálogo) e o evento de sua enunciação. O discurso é manifestado
linguisticamente, por meio de textos (em sentido estrito). Neste sentido, o texto consiste em qualquer
passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois,
de uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza por um conjunto de
relações responsáveis pela tessitura do texto – os critérios de textualidade.
Tradução em diagrama da metáfora do iceberg (Dascal)

Signo (Texto original que lemos ou ouvimos)

Elementos constitutivos do texto (ligados aos horizontes de interpretação)

Sentido semântico cristalizado (sentido literal)

Intenção

Estruturas infra-individuais e supra-individuais

Para Dascal (1992: 109-27), a propósito, “a compreensão de uma enunciação ou de um texto envolve
sempre uma pluralidade de habilidades, níveis e sistemas diferentes de conhecimento, tanto linguístico
quanto não-linguístico”. Assim, para o autor, a competência linguística é apenas um dos componentes
utilizados no processo de compreensão. Por isso, é necessário encarar tal processo como um meio de
aproximação gradual do sentido de uma enunciação ou de um texto. Jamais se pode dizer que se alcançou
uma compreensão global e completa do texto.

De sua parte, Koch (2002) chama a atenção para o fato de que, embora os sentidos se constituam
numa construção colaborativa, o produtor do texto, de acordo com os seus propósitos comunicativos e com o
gênero discursivo escolhido, expõe no texto marcas linguísticas que visam a reforçar a sua intenção
comunicativa, almejando evitar um desvio de interpretação em relação às expectativas de compreensão
pretendida.
Língua

Conceito: Conjunto de convenções necessárias adotadas por uma comunidade linguística para se comunicar.
Ela está depositada como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, que não pode nem
criá-la, nem modificá-la. Assim delimitada, ela é de natureza homogênea.

Linguagem

Conceito: Linguagem, no sentido amplo do conceito, é faculdade de expressão e comunicação que faz uso de
um sistema de signos convencionados. Cereja (2005, p.19) esclarece:
Além da linguagem verbal, cuja unidade básica é a palavra (falada ou escrita), existem
também as linguagens não verbais, como a música, a dança, a mímica, a pintura, a
fotografia, a escultura etc., que possuem outros tipos de unidade - o gesto, o movimento, a
imagem, etc.- Há ainda as linguagens mistas, como as histórias em quadrinhos, o cinema, o
teatro e os programas de TV, que podem reunir diferentes linguagens, como o desenho, a
palavra, o figurino, o cenário, etc.
[...] A língua portuguesa é um código verbal, [mas] além da palavra, oral e escrita também
são códigos os sinais de trânsito, os símbolos, o código Morse, as buzinas dos automóveis,
etc.
 Existem três formas de comunicação:
Linguagem verbal: Quando, para transmitir a mensagem, utilizamos a palavra (escrita ou oral).

Linguagem não verbal: Não se utiliza do código língua portuguesa para transmitir a mensagem.

Linguagem mista: Utiliza-se de imagens e palavras para transmitir a mensagem.

Aqui o conceito transcende os limites da linguagem verbal que tem por unidade básica a palavra, seja
ela oral ou escrita, e abrange manifestações não verbais de comunicação.
Contudo, com a inauguração da Linguística, no começo do século XX, o estudo sobre a linguagem
impõe-se como ciência e passa a se ocupar especificamente da descrição ou explicação da linguagem verbal
humana.
Segundo Oliveira (2007, p. 16):
O ser humano se expressa de diversas formas: pelo olhar, gestos, vestimenta...Entretanto,
pela linguagem oral ou escrita é que nos comunicamos predominantemente. À medida que
exercitamos a linguagem, organizamos e articulamos nosso pensamento, que precisa ser
lógico para nós e para terceiros. Para compartilhar nossas ideias, precisamos raciocinar e
nos comunicar de forma clara. Isso será alcançado quando associarmos os nossos
conhecimentos adquiridos nas leituras refletidas aos nossos relacionamentos sociais. Só
sabemos realmente aquilo que somos capazes de aplicar na vida prática. Teoria sem prática
é apenas metade do percurso cognitivo. Essa prática terá de levar em conta a situação
discursiva, dessa forma, é preciso que o indivíduo conheça as variedades linguísticas para
adaptar-se corretamente à situação.

A língua e as variedades linguísticas


Variedades linguísticas são variedades que a língua apresenta, de acordo com as condições sociais,
culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Entre as variedades da língua, existe uma que tem maior prestígio: a variedade padrão. Também
conhecida como língua padrão e norma culta, essa variedade é utilizada na maior parte dos livros, jornais e
revistas, em alguns programas de televisão, nos livros científicos e didáticos, e é ensinada na escola. As
demais variedades lingüísticas - como a regional, a gíria, o jargão de grupos ou profissões (a linguagem dos
policiais, dos jogadores de futebol, dos metaleiros, dos surfistas, etc.)- são chamadas genericamente de
variedades não padrão.
Apesar de haver muitos preconceitos sociais em relação a variedades não padrão, todas elas são
válidas e têm valor nos grupos ou nas comunidades em que são usadas. Contudo, em situações sociais que
exigem maior formalidade – por exemplo, uma entrevista para obter emprego, um requerimento, uma carta
dirigida a um jornal ou uma revista, uma exposição pública, uma redação num concurso público-, a
variedade linguística exigida quase sempre é a padrão. Por isso é importante dominá-la bem.
Há dois tipos de variação linguística: os dialetos e os registros. Os dialetos são variedades originadas
das diferenças de região ou território, de idade, de sexo, de classes ou grupos sociais e da própria evolução
histórica da língua.
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente na situação; com o
modo de expressão, isto é, se se trata de um registro oral ou escrito; com a sintonia entre os interlocutores,
que envolve aspectos como grau de cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário específico
de algum setor científico, por exemplo), etc.

A gíria é uma das variedades que uma língua pode apresentar. Quase sempre é criada por um grupo social,
como o dos fãs de rap, de funk, de heavy metal, o dos surfistas, dos grafiteiros, dos bikers, etc. Quando
restrita a uma profissão, a gíria é chamada de jargão. É o caso do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos
dentistas e outras profissões.
Equívocos conceituais que permeiam variedades linguísticas:

. Noção de erro no uso da língua;


. Falsa ideia de hierarquia entre as variedades.

Referências bibliográficas:
CEREJA, W. R e MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 2005.
DASCAL, M. [s.l; s.n.] Dez maneiras de ser incompreendido e algumas sugestões para evitá-las. Mimeografado.
FREIRE, Angélica. Ler e compreender: criação e cooperação. Disponível em:
http://www.alb.com.br/revistas/revista_03/art2_03.asp Acesso em 9 ago 2010
KOCH, Ingedore G. V., (2005) Referenciação e orientação argumentativa, IN: ______ & MORATO, E. M. Bentes,
Anna Christina, (org.), Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial,
2008.
SOUZA-E-SILVA, Maria Cecília P. de; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português. 18.ed.São Paulo:
Cortez, 2011.

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