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PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO

Caroline Costa Nunes Lima


O papel da linguagem
no desenvolvimento
e na aprendizagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar o que são a linguagem e os seus diversos modos de


expressão.
„„ Explicar como a linguagem se desenvolve.
„„ Listar as principais influências sobre o desenvolvimento da linguagem.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá a identificar o conceito de linguagem
e suas variadas formas de expressão, como pela linguagem verbal, não
verbal, gestual, por meio de símbolos, sinais e cores. Aprenderá o modo
como a linguagem se desenvolve em diferentes períodos da infância.
Em seguida, identificará os principais fatores que influenciam o desen-
volvimento da linguagem.

A linguagem e seus modos de expressão


Tema de interesse de variadas áreas, a linguagem está presente em nossa
história desde os tempos mais remotos. Sua existência é marcada por registros
de desenhos rupestres (Figura 1), criação do alfabeto, múltiplas formas de
comunicação e sistema utilizado para envio e recebimento de mensagens.
Quanto à definição de linguagem e suas formas de expressão, de acordo com
Santrock (2009, p. 54), encontramos a seguinte conceituação:
2 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

Linguagem é uma forma de comunicação – seja falada, escrita ou gesticulada


– que é baseada em um sistema de símbolos. A linguagem consiste de palavras
utilizadas por uma comunidade (vocabulário) e de regras para as variações e
combinações (gramática e sintaxe).

Figura 1. Imagens rupestres: tipo de linguagem.


Fonte: MattLphotography/Shutterstock.com.

Outro importante pesquisador e linguista de renome, Evanildo Bechara


(2004) entende por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos em-
pregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e
sentimentos, isto é, conteúdos da consciência.
Assim, quando o indivíduo se vale das palavras, expressando-as de modo
oral ou por meio da escrita, está empregando a linguagem verbal. Segundo
Fiorin (2002), a linguagem verbal é, portanto, o produto do pensamento como
meio de comunicação. Ela está intrinsecamente relacionada às sociedades e
comunicações, a linguagem é usada para exprimir emoções, sentimentos, ideias
de cunho subjetivo, formulada por meio da leitura de mundo entremeada pela
realidade contextual, onde o falante está inserido.
O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem 3

Partindo desse pressuposto, podemos facilmente constatar que a linguagem


vai muito mais além de uma comunicação verbal. Até mesmo um silêncio é um
modo de comunicação. Ao transitarmos por uma cidade, teremos outdoors nos
transmitindo algo por meio de imagens, semáforos nos informando por meio
de cores, símbolos em um hospital que nos informam mensagens tais como
“silêncio”, “não fume”, e assim por diante. Para que possamos exemplificar
os diferentes modos de expressão, apresentaremos algumas imagens que
representam um tipo de linguagem (LEITURA..., 2011).
O alfabeto em Braille (Figura 2) é utilizado por deficientes visuais. É
formado por meio de combinações de seis pontos que fazem a composição da
cela Braille, organizada por meio de duas colunas e três linhas de pontos, de
cima para baixo e da esquerda para direita, cuja forma em relevo representa
uma letra ou pontuação (NICOLAIEWSKY; CORREA, 2008).

Figura 2. Alfabeto em Braille.


Fonte: Pyty/Shutterstock.com

Na Figura 3, estão representados códigos linguísticos utilizados em diferen-


tes partes do mundo, encontrados por meio de diferentes textos de circulação
em jornais, revistas, situações comunicativas entre pessoas, por meio de
discursos e formas de expressão de acordo com o contexto em que o falante
está situado (LEITURA..., 2011).
4 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

Figura 3. Variedades de idiomas.


Fonte: CHM3N/Shutterstock.com

A língua de sinais (Figura 4), em nosso país denominada Língua Brasileira


de Sinais — LIBRAS, utiliza um espaço visual e uma linguagem não verbal.
Para ser empregada, necessita de alguns parâmetros relacionadas aos gestos,
ao corpo, às expressões faciais, por exemplo (LEITURA..., 2011).

A B C D E F G

H I J K L M

N O P Q R S T

U V W X Y Z

Figura 4. Linguagem por meio de gestos.


Fonte: Ali Ozgon/Shutterstock.com.
O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem 5

A linguagem não verbal se vale de imagens, figuras, símbolos, assim como


está presente em elementos artísticos, como na música, dança, escultura e em
gestos, valendo-se de um modo de se comunicar. Por meio de símbolos, como
as sinalizações de trânsito com placas e sinais pelas cores, são transmitidas
informações, como podem observar nas Figuras 5 e 6, tanto para os transeuntes
quanto para os condutores de veículos (LEITURA..., 2011).

Figura 5. Símbolos que representam regras no trânsito.


Fonte: Germán Ariel Berra/Shutterstock.com.
6 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

Figura 6. As cores no semáforo transmitem informações para motoristas e transeuntes.


Fonte: Sudowoodo/Shutterstock.com.

Agora que você (re)conheceu os principais modos de expressão comumente


presentes em nosso cotidiano, falaremos a respeito das características lin-
guísticas. Todas as linguagens humanas têm traços em comum (WAXMAN;
LIDZ, 2006), tais como as regras que pautam as organizações e descrevem
seu funcionamento (GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004), e a capacidade
de produtividade infinita, que diz respeito à habilidade de se produzir incon-
táveis sentenças significativas, valendo-se de um grupo finito de palavras e
estruturas (SANTROCK, 2009).
Quanto à organização, a linguagem é pautada por um sistema de regras
que envolve cinco elementos, apresentados no Quadro 1.
A partir desse aporte teórico, constatamos a relevância dos diferentes
meios de expressão da linguagem em nossas relações pessoais, familiares
e profissionais. Acima de tudo, nos espaços educacionais, cada vez mais os
profissionais envolvidos devem planejar ações voltadas para a aquisição e
apropriação de diferentes meios de se comunicar, adequando seu discurso de
acordo com o contexto em que se está inserido, valorizando os conhecimentos
prévios revelados pelos alunos e respeitando-os.
O trabalho com as diversas formas de linguagem favorece a aquisição de
competências essências, tanto para a formação acadêmica quanto para o exer-
cício de cidadania, visto que a língua faz parte da sociedade, da convivência,
da base das relações interpessoais e é fundamental para o entendimento entre
as situações comunicativas que em estamos inseridos.
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Quadro 1. Elementos da linguagem

Fonologia Fonologia é o sistema de sons de uma língua.

Morfologia Refere-se a unidades de significado envolvidas na formação da


palavra. Um morfema é a unidade mínima de significado; é uma
palavra ou parte de uma palavra que não pode ser dividida em
partes menores que ainda tenham significado.

Sintaxe Envolve o modo como as palavras são combinadas para formar


frases e sentenças aceitáveis. Se alguém diz para você que “Bob
esmurrou Tom” ou “Bob foi esmurrado por Tom”, você sabe
quem esmurrou e quem foi esmurrado em cada caso, porque
você tem um conhecimento sintático das estruturas dessas
sentenças. Você também entende que a sentença “Você não
ficou, ficou?” é uma sentença gramatical, mas “Você não ficou,
não ficou?” é inaceitável e ambígua.

Semântica Refere-se ao significado das palavras e sentenças. Cada palavra


tem uma série de características semânticas ou atributos
necessários para dar significado. Garota e mulher, por exemplo,
dividem muitas características semânticas, mas diferem
semanticamente no que diz respeito à idade.

Pragmática Conjunto final de regras de linguagem visando ao uso apropriado


da linguagem em diferentes contextos.

Fonte: Santrock (2009, p. 55-56).

Desenvolvimento da linguagem
As pessoas se comunicam por meio da linguagem, seja oral, escrita ou por
gestos que podem se desdobrar em símbolos. Existem diversas comunidades
falantes que utilizam diferentes códigos para discursar. Nós utilizamos a
Língua Portuguesa que contém vocabulário, regras, variações e combinações
(SANTROCK, 2009).
Engana-se quem pensa que o desenvolvimento da linguagem se inicia
quando a criança pronuncia as primeiras palavras, comumente chamando por
suas figuras materna/paterna e pedindo algo relacionado a suas necessidades
básicas. Antes mesmo de se valer da fala como recurso expressivo, os bebês
emitem sons para se comunicar por meio de choro, balbucio, chamados de
sons pré-linguísticos. Uma única sílaba pode apresentar significados distintos,
8 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

variando de acordo com contexto. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 196),


“Da pode significar ‘eu quero aquilo’, ‘eu quero sair’ ou ‘onde está o papai?’.
Uma palavra como essa, que expressa um pensamento completo, é chamada
de holofrase”.
No decorrer de seu desenvolvimento, também é ampliada a capacidade de
identificar os sons pronunciados no ambiente e se valer de gestos. A partir
de seu primeiro ano de vida, aproximadamente, a criança é capaz de emitir
sons de suas primeiras palavras e sentenças, comumente um ano e oito meses
depois. Veja, no Quadro 2, a seguir, as principais etapas desse desenvolvimento
nos primeiros dois anos de vida da criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013,
p. 196-197).

Quadro 2. Etapas de desenvolvimento nos primeiros anos de vida

Tempo de vida/ Etapa do desenvolvimento da linguagem


aproximadamente nos primeiros dois anos de vida

Oito meses Os bebês começam a aprender as formas das


palavras, discernindo indicações perceptuais, como
sílabas que geralmente ocorrem juntas (como pa e
pai), e armazenam essas formas possíveis de palavras
na memória. Eles também notam a pronúncia, a
ênfase nas sílabas e as mudanças de tom.

Dez meses Bebês associam um nome que ouvem a um objeto


que consideram interessante, seja o nome correto
ou não dele.

Doze meses Começam a prestar atenção a indicações dos adultos,


tais como olhar ou apontar para um objeto enquanto
dizem seu nome.

Entre 18 a 24 meses Seguem indicações sociais na aprendizagem do


significado das palavras, independentemente de sua
relação com o objeto, ainda que não haja a indicação
dos adultos. Outro importante avanço linguístico
comumente realizado nesse período de vida ocorre
quando a criança junta duas palavras para expressar
uma ideia (“Dodô caiu”).

Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 196-197).


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A partir desse período, após os 24 meses, a criança gradativamente vai


conseguindo expressar-se combinando três, quatro e cinco palavras, transitando
de frases simples para complexas, entre dois ou três anos até os anos do ensino
fundamental (BLOOM, 1985).
Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis
na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combi-
nações de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de
desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses,
demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e
cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Regras que compõem o sistema linguístico


Por meio dessas regras em nosso sistema linguístico, encontramos o modo
como a linguagem se organiza, assim como a descrição de seu funcionamento
(GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004). Analisando esse desenvolvimento a
partir das cinco regras que compõem nosso sistema, observamos as seguintes
evoluções, adaptadas de acordo com Papalia e Feldman (2013).

„„ Em termos de fonologia, elas percebem ritmos, gostam de poemas,


inventam nomes bobos para as coisas, substituindo um som por outro
(como bubblegum, bubblebum, bubbleyum), e gesticulam com cada
sílaba em uma frase.
„„ Conforme as crianças deixam esse estágio de falar duas palavras, fica
evidente que elas sabem regras morfológicas. Então, começam a utilizar
as formas de plural e possessivo dos substantivos, preposições, artigos
e a colocar finais apropriados nos verbos.
„„ Quanto à sintaxe, após passar do estágio das duas palavras, a criança
mostra um domínio crescente de regras complexas sobre como as pa-
lavras devem ser ordenadas. Para perguntas feitas com “que” e “onde”,
como “Onde o papai está indo?” ou “O que aquele garoto está fazendo?”,
a criança deve conhecer duas diferenças importantes entre frases in-
terrogativas e afirmativas.
„„ De acordo com a análise de elementos semânticos, o vocabulário verbal
de uma criança de seis anos de idade varia de 8 mil a 14 mil palavras.
Considerando que a aprendizagem das palavras começou quando ela
tinha 12 meses, isso traduz uma proporção de 5 a 8 novos significados
de palavras por dia, entre um e seis anos de idade.
10 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

„„ Mudanças substanciais em pragmática também ocorrem durante a


primeira infância. Uma criança de seis anos é muito mais falante do
que uma de dois anos. Quais são algumas das mudanças na pragmática
que acontecem nos anos pré-escolares? Por volta dos três anos de idade,
as crianças melhoram sua habilidade em conversar sobre coisas que
não estão fisicamente presentes. Isto é, elas melhoram seu domínio
sobre a característica da linguagem conhecida como deslocamento.
As crianças se tornam cada vez mais distantes do “aqui e agora” e são
capazes de conversar sobre coisas que não estão fisicamente presentes,
assim como coisas que aconteceram no passado ou podem acontecer
no futuro. Pré-escolares podem dizer o que querem almoçar amanhã,
algo que não seria possível no estágio das duas palavras na infância.
Crianças pré-escolares também se tornam cada vez mais capazes de
conversar de modos diferentes com pessoas diferentes.

A partir das etapas intermediárias e finais da infância, as bases construídas


das fases anteriores fornecem meios para que a criança seja capaz de adquirir
e consolidar novas habilidades no momento da aprendizagem da leitura e da
escrita. Conhecimentos acerca do alfabeto e os sons relacionados a esses sinais
gráficos, a ampliação vocabular e os modos estruturais de construções de
sentenças tendem a se consolidar, e a compreensão de regras mais complexas
vai sendo internalizada. Durante o ensino fundamental, as crianças já podem,
segundo Papalia e Feldman (2013, p. 60), “[...] produzir discursos conecta-
dos, relacionando sentenças conectadas uma a outra e produzir descrições,
definições e narrativas que se compõem e fazem sentido [...]”.
Agora que você identificou as características das primeiras etapas de
aquisição da linguagem, conhecerá algumas teorias a respeito desses processos
envolvendo as abordagens propostas por B. F. Skinner e Noam Chomsky.

Teorias clássicas de aquisição da linguagem:


o debate genética e ambiente
Questões envolvendo os processos que levam à aquisição da linguagem foram
objetos de estudo de pesquisadores de diferentes áreas em diferentes tempos.
Uma das problematizações a serem investigadas diz respeito ao questionamento
sobre a capacidade lingüística: se ela é aprendida ou inata. Na década de
1950, houve duas correntes teóricas representadas por B. F. Skinner e Noam
Chomsky, apresentadas no Quadro 3, a seguir (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem 11

Quadro 3. As duas correntes teóricas: de Skinner e de Chomsky

Skinner (1957) De acordo com o autor, o aprendizado da linguagem, como


qualquer outro, se baseia na experiência. Segundo a teoria
clássica da aprendizagem, a criança aprende a linguagem
por meio de condicionamento operante. A princípio, o bebê
emite sons aleatórios. Os cuidadores reforçam os sons que se
assemelham à fala adulta com sorrisos, atenção e elogios. O
bebê, então, repete esses sons reforçados. Segundo a teoria
da aprendizagem social, ele imita os sons que ouve dos
adultos e, novamente, é reforçado a fazer isso. O aprendizado
das palavras depende do reforço seletivo; a palavra gatinho
é reforçada somente quando o gato da família aparece. À
medida que esse processo continua, a criança é reforçada
para uma fala cada vez mais semelhante à do adulto.

Chomsky (1957) Formulou a teoria do inatismo. Diferentemente da teoria da


aprendizagem de Skinner, o inatismo enfatiza o papel ativo
daquele que aprende. Como a língua é universal nos seres
humanos, Chomsky (1957, 1972, 1995) propôs que o cérebro
humano tem uma capacidade inata para adquirir linguagem;
bebês aprendem a falar tão naturalmente quanto a andar.
Ele sugeriu que um dispositivo de aquisição da linguagem
(DAL) programa o cérebro da criança para analisar a língua
que ela ouve e inferir suas regras. O fundamento da
concepção inatista vem da capacidade dos recém-nascidos
de diferenciar sons similares, o que sugere que eles nascem
com “sintonizadores” que captam as características da fala.
Os inatistas apontam para o fato de que quase todas as
crianças dominam sua língua natal na mesma sequência
relacionada à idade sem aprendizagem formal.

Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 198).

A partir dessas concepções, no decorrer dos anos subsequentes, novos es-


tudos acerca desses processos foram desenvolvendo-se. Atualmente, a maioria
dos pesquisadores do desenvolvimento sustenta que a aquisição da linguagem,
assim como outros elementos envolvendo a evolução humana, depende de um
entrelaçamento entre a genética e o ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
De acordo com as novas concepções, a criança com a audição funcionando de
acordo com a normalidade, ou seja, ela não estando surda, comumente terá
uma capacidade nata de aquisição da linguagem, que pode ser ativada ou
restringida de acordo com as experiências que vivenciará. Assim, quanto mais
12 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

estímulos na apresentação de diferentes modos de se comunicar na infância,


mais condições a criança terá para novas etapas dessa aprendizagem.

Dois importantes pesquisadores realizaram investigações acerca do desenvolvimento


humano, incluindo o da linguagem. A seguir, você conhecerá um pouco das abordagens
de Vygotsky e Piaget.

Fonte: Santrock (2009, p. 53).

Como podemos observar, enquanto Vygotsky destaca a relevância da linguagem


como atuante no processo da construção do pensamento, Piaget atribui uma impor-
tância menos relevante a ela, direcionando essa habilidade pela cognição.

Principais influências sobre o desenvolvimento


da linguagem
As línguas naturais têm um sistema linguístico represantado por sinais gráficos
e sons que são requisitados nas construções de discursos por meio da fala e
escrita. Gradativamente, os bebês vão sendo influenciados pelas suas interações
com o ambiente que os cerca e que contribuem para o desenvolvimento de seu
progresso linguístico (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem 13

Você já parou para observar o quanto as crianças, de uma maneira geral,


aprendem em tão pouco tempo a se expressar por meio de diferentes linguagens?
E o quanto conseguem relacionar o vocábulo e seu significado, compreender
estruturas e empregar palavras nos momentos adequados? Mas o que determina
o tempo e a capacidade que a criança tem de aprender, compreender e fazer
uso da linguagem?
O renomado pesquisador linguista, Chomsky (1957) considerava que os
humanos estão predestinados a aprenderem da linguagem de certo tempo
e modo. Outros pesquisadores da área identificam similaridades às formas
como as crianças passam pelo processo de aquisição da linguagem, inde-
pendentemente da parte do mundo que habitam, devido à sua base biológica
(SANTROCK, 2009).
Pesquisadores têm investigado as relações que esses processos têm com
as influências neurológicas e ambientais. O desenvolvimento do cérebro, que
ocorre em grande proporção nos primeiros períodos de vida, apresenta estrei-
tas relações com o desenvolvimento da linguagem (Figura 7). Os primeiros
meios de se expressar por meio do choro passam por ações controladas pelo
tronco encefálico e pela ponte, que são as partes mais primitivas cerebrais a
serem desenvolvidas. De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] é
possível que o balbucio repetitivo surja com a maturação de partes do córtex
motor, que controla os movimentos da face e da laringe [...]”. O hemisfério
cerebral, responsável pelas funções linguísticas, inicia seu desenvolvimento
muito cedo (HOLOWKA; PETITTO, 2002).

Figura 7. Relações entre cérebro e desenvolvimento da linguagem.


Fonte: magic pictures/Shutterstock.com.
14 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

Outro aspecto relevante de influência para o desenvolvimento da linguagem


é chamado de interação social, pois a linguagem faz parte de um ato social
de interação (Figura 8). Quando a criança se desenvolve sem um contato
social dentro da normalidade, como é o caso dos autistas, a linguagem não
se desenvolve normalmente. Como afirma Papalia e Feldman (2013, p. 200),
“[...] a ordem de nascimento da criança, a experiência em cuidar de criança
e, mais tarde, a escolaridade, os colegas e a exposição à televisão, tudo isso
afeta o ritmo da aquisição da linguagem [...]”.

Figura 8. Fatores influenciadores da aquisição da linguagem.


Fonte: HelenField/Shutterstock.com.
O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem 15

De acordo com Hoff (2006), a partir do momento em que o bebê inicia


o processo de fala, pais e cuidadores podem estimular o desenvolvimento
do vocabulário por meio da repetição de palavras pronunciadas pelo bebê,
mas com precisão, ao passo que ele observa com atenção e se torna capaz de
aprender de modo mais rápido novos vocábulos.
Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas
iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática in-
ternalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio.
Elas são apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das
habilidades relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e
Lemos (2011, p. 733):

A escola é um dos ambientes que proporcionam o processo do desenvolvimento


infantil. Cabe às instituições criar condições que propiciem ao indivíduo
uma aprendizagem contínua, em que os conhecimentos adquiridos nos os
primeiros anos de vida possam ser explorados, confrontados e aprofundados
na instituição escolar. As crianças estão sendo colocadas cada vez mais cedo
e num período maior de tempo em instituições de educação infantil, portanto
é importante que o ambiente escolar também seja avaliado, de forma que
esse possa oferecer as melhores condições possíveis para o desenvolvimento
infantil. Estes devem ser ambientes ricos em recursos em estimulação ao
desenvolvimento de linguagem, principalmente na fase pré-escolar, fase na
qual a criança começa a desenvolver conhecimentos e capacidade importantes
para o bom desempenho não apenas escolar, mas também social e emocional.
O atraso de linguagem causa prejuízos escolares significantes na vida das
crianças. A detecção precoce desses atrasos, bem como o conhecimento dos
seus fatores de risco e proteção, possibilita ações de promoção de saúde no
campo da atenção primária em saúde com a melhor capacitação dos pro-
fissionais da área e organização de programas de intervenção na infância.

Ao refletirmos sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento da


linguagem, constatamos que há um entrelaçamento de aspectos intrínsecos e ex-
trínsecos, tais como fatores biológicos, ambientais familiares e espaços sociais,
como as instituições de educação infantis. Todos esses elementos que fazem
parte do contexto onde a criança está inserida acarretam em consequências
diretas ao seu desenvolvimento linguístico em todas as suas formas de expres-
são e regras. Desse modo, é de extrema relevância que todos os responsáveis
por ofertar à criança experimentações favoráveis à aquisição desses saberes
tenham dimensão do papel que desempenham em todo esse processo.
16 O papel da linguagem no desenvolvimento e na aprendizagem

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