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Figura 1: Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3RlPGRa.

Surdos e ouvintes: quem é quem no universo da Libras?


Angela Lemos de Oliveira1

A Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras, é a língua materna do povo
surdo, com suas propriedades linguísticas confirmadas pela ciência da linguagem e pela
legislação brasileira. O reconhecimento legal desse idioma em nosso país ocorreu por ocasião
da aprovação da Lei Federal n. º 10.436 de 24 de abril de 2002. Segundo essa Lei, a Libras é:
“a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora,
com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e
fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil” (BRASIL, 2002, parágrafo único).
Como a Lei nos esclarece a Libras é a língua pertencente a pessoas surdas. Embora o
termo Surdo possa soar pejorativo para as pessoas que estão iniciando seus estudos em Libras,
essa é a forma mais aceitável entre os usuários nativos desse idioma. Segundo Choi (et al.,
2011) a pessoa surda é aquela que, por ter perda auditiva, compreende o mundo a sua volta,
interage com ele e se expressa a partir de experiências visuais adquiridas ao longo do tempo
com seus pares.
Para a comunidade surda, o uso do termo Surdo para se referir aos usuários nativos da
Libras é uma forma de reconhecer que o povo surdo tem uma cultura e língua própria, diferente
da maioria ouvinte. Os surdos não se veem como possuidores de algum defeito que necessitam
de reparação, para eles antes da surdez existe uma pessoa com qualidades e defeitos como
qualquer outra pessoa, seja ela com deficiência ou não.

1
Mestra em Estado e Sociedade pela Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB. Atua como Professora e
Tradutora e Intérprete de Libras. Tem experiência no ensino Superior, Ensino Médio regular e EJA e Fundamental
II nas áreas de Artes, Educação de Surdos, Letras, Libras e Literatura. E-mail: angelaleoli@hotmail.com.
A nomeação por meio da palavra Surdo traz à discussão de toda a dimensão histórica e
política de luta das pessoas com surdez por meio de movimentos surdos, em busca de
reconhecimento enquanto cidadãos de direitos ao longo do tempo, se firmando enquanto povo
ligados por “um código ético de formação visual, independentemente do grau de evolução
linguística, tais como a língua de sinais, a cultura surda e quaisquer outros laços”, em diferentes
territórios geográficos no país (STROBEL, 2018, p. 38).
Não ser nomeado de deficiente auditivo engrandece todas as conquistas adquiridas pelo
povo surdo até aqui. Para o povo surdo, a deficiência não é um empecilho que o restringe de
inúmeras situações no mundo, antes, é a diferença que lhe permite ter acesso ao mundo por
meios diferentes da maioria ouvinte, sobretudo pela visão, não pela audição (CHOI, et al.,
2011).
Por outro lado, o termo Ouvinte, é um
termo usualmente aceito e usado nas
comunidades surdas para se referir aos
sujeitos não-surdos, ou seja, pessoas que têm
sua comunicação e cultura a partir da
experiência oral-auditiva (SKLIAR, 2013).
Contudo, quando os ouvintes passam a
utilizar a língua de sinais e interagir com as
pessoas com surdez de modo a participar e
compartilhar de interesses em comum em
uma determinada localidade geográfica,
esses sujeitos passam a fazer parte da
comunidade surda, composta por surdos e
Figura 2: Fonte: https://bit.ly/3AuFoY8.
ouvintes (STROBEL, 2018).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal nº 10.432, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de
Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 10 de outubro de
2019.
CHOI, Daniel et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2011.
SKLIAR, Carlos (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. 7. ed. Porto Alegre: Mediação,
2013.
STROBEL, Karin Lilian. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. ed. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2018.

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