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Linguagem, Libras e Formação da Identidade

Linguagem

Do ponto de vista biológico, o apontar antecede a palavra. Esse simples ato é o


resultado do desencadeamento do fenômeno que nos torna únicos entre os demais seres
vivos do planeta, a conversa. Do latin versare, conversa, é uma sofisticação na
comunicação entre humanos que nos permite criar palavras e com elas elaborar de
formas subjetivas de apontar. Nesse sentido, o apontar tem a ver com distinguir
(ANDRADE).

Ao apontar para distinguir, segundo Humberto Maturana, realizamos uma coordenação


de ação, ou melhor dizendo, uma coordenação de coordenação de conduta. Mais
adiante, uma coordenação de coordenação consensual. Esse encadeamento entre o
apontar e, coordenações com o outro, é chamado de linguagem por Maturana
(ANDRADE).

A pratica de coordenar ações uns com os outros, remonta a milhares de anos da história
de todos nós. Numa perspectiva milenar da história, esse tempo foi suficiente para que
nossos gestos, sons e o próprio corpo, se transformassem em palavras. Nesse processo
próprio dos humanos as palavras são entendidas como os nós dessas redes de
coordenação conduta consensual.

No fluir desse processo, os grupos humanos não só criam o que se chamamos de


linguagem, mas também os seus elementos gramaticais e outros padrões que os
linguistas consideram padrões presentes na linguagem (CITAÇÃO). Isso é, a linguagem
é entendida por nós, como sendo, um processo permanente de coordenação de
coordenação consensuais interna a um determinando grupo. Agora se o humano faz
isso de uma forma recorrente e, se estabelece um padrão, isso é a língua. Diferente da
linguagem, a língua é um recorte temporal. Isso quer dizer que, a língua é histórica e
geográfica e culturalmente constituída. Isso explica porque línguas que duraram
milhares de anos, como por exemplo, as línguas faladas nas regiões Crescente Fértil,
Mesopotâmia e Delta do Nilo, não existirem mais. Só sabemos de sua existência apenas
atraves de pesquisas arqueológicas, visto que foram completamente extintas.
Hoje no Brasil e na América do Sul vemos esse processo de extinção das línguas
acontecendo de igual maneia com os índios. No tocante ao extermínio linguístico de
povos originários de nosso continente, gostaríamos de salientar que, assim como Carlos
Walter, entendemos que o processo de colonização pressupõe a inferiorização e a
desqualificação da identidade do outro e. Nesse sentido, a extinção das línguas dos
povos colonizados é fundamental para a garantia da destruição da identidade desses
povos por seus colonizadores. Ao constatarmos que a extinção de línguas de populações
originarias das américas é algo que ocorre ainda hoje, vemos que o perverso fenômeno
da colonização ainda esta em curso no tempo presente.

O devir histórico e a institucionalização das diversas línguas de sinais existentes no


mundo, sofreram e ainda sofrem um fenômeno semelhante ao da colonização. Para os
surdos, que foram historicamente excluídos. O grupo hegemônico de ouvintes na
sociedade tentou por diversas vezes inferioriza-los e, em alguns casos domestica-los e
tratá-los como doentes. Até que na busca pela autonomia, esses grupos e seus
colaboradores, a partir do seculo XVII (CITAÇÃO), buscaram criar estratégias de
sobrevivência e por consequência, estratégias de resistência, que os levaram a criar sua
própria língua. A língua de sinais é um resultado desse esforço de libertação atraves da
autonomia. A língua brasileira é uma das diversas línguas e um resultado desse processo
histórico e civilizatório de afirmação de uma identidade de um grupo.

.... Escrever um parágrafo sobre os colaboradores que fundaram as primeiras escolas de


surdos....

Assim como nas línguas faladas, é possivel a um observador, a partir de um recorte


temporal e geográfico definir que tal língua é francesa ou inglesa, inclusive observar
filiações ou afinidades de uma língua com a outra, nas línguas de sinais esse fenômeno é
igualmente diverso e instável, visto que nenhuma língua é estática ou imutável, estando
sempre em constate mudança, em função das constantes coordenações de coordenação
consensual com o meio e com os indivíduos desse grupo.

Formação da Identidade Surda

Após a oficialização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em abril de 2002 (Lei n.


10.436, de 24 de abril de 2002), ampliou-se nos últimos anos no Brasil, discussões a
respeito da formação e afirmação da identidade surda (FERREIRA, 2009). Nesse
sentido, ao passo que, no passado, o desenvolvimento das primeiras línguas de sinais,
surgem como um mecanismo de autonomia individual do sujeito surdo. A oficialização
da Libras e sua consequente institucionalização pelo Estado Brasileiro é, uma
importante vitória da afirmação identitária das populações surdas no contexto coletivo.
Esse fenômeno coletivo é entendido por nós, enquanto, a afirmação da identidade surda.
Metaforicamente, a oficialização da LIBRAS é a ponta de um iceberg, que tem em sua
base, naturalmente submersa, um processo histórico que demonstra a capacidade de
resiliência e luta política da comunidade surda frete ao silenciamento de muitos anos.

Os surdos, por não dominarem a oralidade, eram e são excluídos dos processos
educacionais e, por consequência, do mercado de trabalho. Essas restrições a direitos
fundamentais da cidadania, são um obstáculo constante na vida de uma pessoa surda.
Portanto, reconhecer o estatuto de língua para a LIBRAS, não tem apenas repercussões
linguísticas e cognitivas, mas também, repercussões políticas e sociais na vida da pessoa
surda pelo reconhecimento de sua humanidade (SANTANA, 2005).

Ser humano implica ter língua, e se a desumanidade é a ausência de língua e de tudo o


que ela representa (comunicação, pensamento, aprendizagem, arte e etc.), a partir do
momento em que se oficializa a LIBRAS como a língua de sinais utilizada pelos surdos
no Brasil, o Estado brasileiro, atenta, mesmo que tardiamente, que os surdos são
humanos, que por questões biológicas, não adquirem a capacidade natural da fala, mas
que possuem sua própria língua. Ou seja, a língua de sinais acaba por oferecer uma
possibilidade de legitimação do surdo como "sujeito de linguagem". A língua de sinais
empodera esse sujeito, o capacitando em comunicação, transformando o "anormal” em
diferença e, reafirmando o caráter diverso de nossa sociedade.

O exercício de síntese a respeito da identidade surda foi, peça fundamental para essa
curta analise em texto, porém, mesmo em poucas linhas, acreditamos ser possivel
esboçar uma hipótese como ponto de partida, para a elaboração de um trabalho mais
detalhado sobre o complexo processo de formação da identidade surda. Nesse sentido,
nossa hipótese é que, tanto a formação e a constante manutenção da identidade surda,
está relacionada a questão do uso da língua de sinais pelo surdo. Pois, acreditamos que
seja atraves do constante contato entre os surdos com a língua de sinais, que novas
possibilidades interativas, de coordenação, de coordenação consensual sejam
estabelecidas. No âmbito dessa hipótese, a identidade surda seria o resultado da síntese
dialética entre a linguagem e a língua de sinais.

Assim com Santana e Bergamo, entendemos que a formação e a constante manutenção


da identidade surda está relacionada a uma questão de uso da língua. Portanto, o uso ou
não da língua de sinais seria aquilo que definiria basicamente a identidade do sujeito,
identidade que só seria adquirida em contato com outro surdo. O que ocorre, na
verdade, é que, em contato com outro surdo que também use a língua de sinais surgem
novas possibilidades interativas, de compreensão, de diálogo, de aprendizagem, que não
são possíveis apenas por meio da linguagem oral. A aquisição de uma língua, e de todos
os mecanismos afeitos a ela, faz com que se credite à língua de sinais a capacidade de
ser a única capaz de oferecer uma identidade ao surdo.

O que ocorre, na verdade, é que, em contato com outro surdo que também use a língua
de sinais surgem novas possibilidades interativas, de compreensão, de diálogo, de
aprendizagem, que não são possíveis apenas por meio da linguagem oral. A aquisição
de uma língua, e de todos os mecanismos afeitos a ela, faz com que se credite à língua
de sinais a capacidade de ser a única capaz de oferecer uma identidade ao surdo.

Ficamos por aqui, alimentados por essa vontade.

O exercício de síntese sobre o tema da identidade surda foi, peça fundamental para essa
curta analise em texto, porém, mesmo em poucas linhas, acreditamos ser possivel
esboçar uma hipótese como ponto de partida, para a elaboração de um trabalho mais
detalhado sobre o complexo processo de formação da identidade surda. Ficamos por
aqui, alimentados por essa vontade.

desta dupla no futuro e, explorar melhor o

Os defensores da língua de sinais para os surdos afirmam que é só de posse desta,


considerada "natural", adquirida em qualquer idade, que o surdo constituirá uma
identidade surda, já que ele não é ouvinte (Perlin, 1998; Moura, 2000).
com que se credite à língua de sinais a capacidade de ser a única capaz de oferecer uma
identidade ao surdo.

Por n�o dominarem a oralidade, eram exclu�dos dos processos educacionais e


considerados inaptos para o desempenho de qualquer atividade, al�m de n�o poderem
ser respons�veis pela pr�pria vida.

A discuss�o sobre surdez, educa��o e l�ngua de sinais vem sendo ampliada nos
�ltimos anos por profissionais envolvidos com a educa��o de surdos, como
tamb�m pela pr�pria comunidade surda. A oficializa��o da L�ngua Brasileira de
Sinais (LIBRAS), em abril de 2002 (Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002), come�ou a
abrir novos caminhos, sem, no entanto, deixar de gerar pol�micas por profissionais que
trabalham com surdos e por surdos oralizados, que n�o se sentem parte de uma
comunidade surda e n�o v�em m�rito nessa vit�ria para a comunidade surda.

Muitos profissionais que trabalham com surdos t�m uma vis�o sobre a l�ngua de
sinais como uma forma de comunica��o, n�o atribuindo a ela o status de l�ngua e
considerando-a apenas uma alternativa para os surdos que n�o conseguiram
desenvolver a l�ngua oral. Segundo Skliar (1997), o oralismo � considerado pelos
estudiosos uma imposi��o social de uma maioria ling��stica sobre uma minoria
ling��stica. Como conseq��ncia do predom�nio dessa vis�o oralista sobre a
l�ngua de sinais e sobre surdez, o surdo acaba n�o participando do processo de
integra��o social. Embora a premissa mais forte que sustenta o oralismo seja a
integra��o do surdo na comunidade ouvinte, ela n�o consegue ser alcan�ada na
pr�tica, pelo menos pela grande maioria de surdos. Isso acaba refletindo,
principalmente, no desenvolvimento de sua linguagem, sendo ent�o o surdo silenciado
pelo ouvinte, por muitas vezes n�o ser compreendido.
A Libras surge, como um mecanismo de afirma��o da identidade surda, identidade
silenciada durante muitos anos, atrav�s da pr�tica da oraliza��o for�ada (o surdo
era ensinado a �falar� atrav�s do m�todo da repeti��o e aponta��o). Por n�o
dominarem a oralidade, eram exclu�dos dos processos educacionais e considerados
inaptos para o desempenho de qualquer atividade, al�m de n�o poderem ser
respons�veis pela pr�pria vida.

A descaracteriza��o do surdo por n�o dominar a LIBRAS, traz s�rias


conseq��ncias no fortalecimento da comunidade surda. Quando um surdo n�o a
domina, ele � exclu�do, n�o fortalece sua identidade de surdo e dos demais grupos
que ele representa - de g�nero e ra�a. Hoje, os movimentos para a difus�o e pr�tica
da LIBRAS no campo escolar est�o bem amplos � v�rias institui��es que
defendem os direitos dos surdos, organizam encontros para tra�ar estrat�gias que
visem a propaga��o da L�ngua de Sinais, principalmente na televis�o e escola.

O reconhecimento da LIBRAS como l�ngua e assim, como uma representa��o de


um grupo, trouxe ganhos a comunidade surda. No entanto, se faz necess�rio o surdo
acompanhar estes ganhos; � importante que ele estabele�a o contato com a
comunidade surda, para que realize sua identifica��o com a cultura, os costumes, a
l�ngua e, principalmente, a diferen�a de sua condi��o. Por interm�dio das
rela��es sociais, o sujeito tem possibilidade de acep��o e representa��o de si
pr�prio e do mundo, definindo suas caracter�sticas e seu comportamento diante
dessas viv�ncias sociais.

Cultura e identidade surdas: encruzilhada


de lutas sociais e teóricas

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