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Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ANA MARIA LIMA ZEM

CADERNO PEDAGÓGICO

CURITIBA
2010
ANA MARIA LIMA ZEM

MODELAGEM COM ARGILA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ALUNO COM


DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Material didático apresentado ao Programa de


Desenvolvimento Educacional - PDE da
Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, conveniada com a Universidade
Federal do Paraná.

Orientadora: Profª Ms. Marília Garcia Diaz

CURITIBA
2010
SUMÁRIO

1 UNIDADE I .......................................................................................... 1
1.1 APRESENTAÇÃO ................................................................................ 1
1.2 MODELAGEM ...................................................................................... 2
2 UNIDADE II .......................................................................................... 11
2.1 ORIGEM E PROPRIEDADES DA ARGILA ............................................ 11
2.2 INFORMAÇÕES SOBRE A ARGILA ...................................................... 16
2.2.1 Verificação de sua plasticidade .............................................................. 16
2.2.2 Conservação ......................................................................................... 17
2.2.3 Depuração ............................................................................................. 17
2.2.4 Antes de modelar ................................................................................... 18
2.2.5 Modelagem ............................................................................................ 19
2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO MANUAL COM ARGILA ........ 19
2.3.1 Placas ................................................................................................... 19
2.3.2 Colagem ................................................................................................ 20
2.3.3 Acordelado ............................................................................................. 20
2.3.4 Ocagem ................................................................................................ 21
2.3.5 Propostas alternativas com argila ........................................................... 21
2.4 TÉCNICAS DE DECORAÇÃO ................................................................. 24
2.5 SECAGEM .............................................................................................. 25
2.5.1 Orientações importantes sobre secagem ................................................. 25
2.5.2 Como identificar o processo de secagem da argila ................................... 25
2.5 ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE ............................................................. 26
3 UNIDADE III – PLANO DE AULA ......................................................... 28
3.1 ORIGEM E PREPARO DA ARGILA ........................................................ 28
3.1.1 Conteúdos ............................................................................................... 28
3.1.2 Justificativa ............................................................................................ 28
3.1.3 Objetivos ................................................................................................... 29
3.1.4 Encaminhamentos metodológicos ............................................................. 29
3.1.5 Recursos didáticos ................................................................................... 30
3.1.5.1 Físicos ................................................................................................... 30
3.1.5.2 Humanos .................................................................................................. 30
3.1.6 Recursos materiais ................................................................................ 30
3.1.7 Equipamentos ........................................................................................... 30
3.1.8 Critérios de avaliação ............................................................................ 31
4 UNIDADE IV – PLANO DE AULA ......................................................... 32
4.1 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO: PLACAS E COLAGEM ......... 32
4.1.1 Conteúdos ............................................................................................. 32
4.1.2 Justificativa ........................................................................................... 32
4.1.3 Objetivos ................................................................................................... 33
4.1.4 Encaminhamentos metodológicos ........................................................... 33
4.1.5 Recursos didáticos ............................................................................... 33
4.1.5.1 Físicos .................................................................................................. 33
4.1.5.2 Humanos ................................................................................................ 33
4.1.6 Materiais .................................................................................................. 34
4.1.7 Critérios de avaliação ............................................................................ 34
5 UNIDADE V - PLANO DE AULA ............................................................ 35
5.1 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO: ACORDELADO E OCAGEM. 35
5.1.1 Conteúdos ............................................................................................... 35
5.1.2 Justificativa ............................................................................................ 35
5.1.3 Objetivos ................................................................................................. 35
5.1.4 Encaminhamentos metodológicos ........................................................... 36
5.1.5 Recursos didáticos .................................................................................. 36
5.1.5.1 Físicos .................................................................................................... 36
5.1.5.2 Humanos ................................................................................................ 36
5.1.6 Materiais .................................................................................................. 36
5.1.7 Critérios de avaliação ............................................................................. 37
6 UNIDADE VI - PLANO DE AULA ........................................................... 38
6.1 ACABAMENTO DAS PEÇAS, SECAGEM E TÉCNICAS DE 38
DECORAÇÃO .........................................................................................
6.1.1 Conteúdos ............................................................................................... 38
6.1.2 Justificativa .............................................................................................. 38
6.1.3 Objetivos .................................................................................................. 39
6.1.4 Encaminhamentos metodológicos ........................................................... 39
6.1.5 Recursos didáticos ................................................................................... 39
6.1.5.1 Físicos ...................................................................................................... 39
6.1.5.2 Humanos .................................................................................................. 40
6.1.6 Materiais ................................................................................................... 40
6.1.7 Critérios de avaliação ............................................................................... 40
7 UNIDADE VII - PLANO DE AULA .......................................................... 42
7.1 SUGESTÕES DE PRÁTICAS EXPLORATÓRIAS .................................. 42
7.1.1 Conteúdos ................................................................................................ 42
7.1.2 Justificativa .............................................................................................. 42
7.1.3 Objetivos .................................................................................................. 42
7.1.4 Encaminhamentos metodológicos ........................................................... 43
7.1.5 Recursos didáticos ................................................................................... 43
7.1.5.1 Físicos ...................................................................................................... 43
7.1.5.2 Humanos .................................................................................................. 43
7.1.6 Materiais ................................................................................................... 43
7.1.7 Critérios de avaliação ............................................................................... 44
8 UNIDADE VIII - PLANO DE AULA .......................................................... 45
8.1 EXPOSIÇÃO E AVALIAÇÃO .................................................................. 45
8.1.1 Conteúdos ............................................................................................... 45
8.1.2 Justificativa .............................................................................................. 45
8.1.3 Objetivos .................................................................................................. 45
8.1.4 Encaminhamentos metodológicos ........................................................... 45
8.1.5 Recursos didáticos ................................................................................... 46
8.1.5.1 Físicos ..................................................................................................... 46
8.1.5.2 Humanos ................................................................................................. 46
8.1.6 Materiais .................................................................................................. 46
8.1.7 Critérios de avaliação .............................................................................. 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 47
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 48
1

1 UNIDADE I

1.1 APRESENTAÇÃO

Este trabalho não pretende propor receitas com a finalidade de exercer o


poder de “normalizar” o sujeito, mas, uma proposta de trabalho que venha a
reconhecer o potencial desse sujeito para a aprendizagem, promovendo etapas que
detêm diferentes possibilidades de evolução. Desta forma, pretende encontrar
respostas educativas para aqueles alunos que, por terem um comprometimento
intelectual, estão com dificuldades para avançar.
A autora, talvez, impulsionada pela própria história de vida, quando desde a
infância, a preferência girava em torno de brincadeiras que utilizassem a terra
molhada para construir elementos ilustradores do “faz de conta”; ou, na escola, ao
aprender procedimentos e técnicas necessárias para a modelagem de uma peça em
argila, a arte e seus elementos tenham contribuído para a construção do
conhecimento e do direcionamento de seu olhar. Assim, acredita dispor de
ferramentas que permitam visualizar condições para contribuir com o processo de
desenvolvimento desse aluno.
Mais tarde, já como professora de arte realizou muitas provocações e
experiências utilizando a modelagem com argila em atelier de arte na escola comum
e na escola especial. Essa atividade tátil mostrou a enorme possibilidade de
aplicação, ora lúdica, ora conduzida, ou simplesmente realizada propiciando um
crescente desenvolvimento perceptivo nos alunos. Essas informações eram depois
trazidas, pelos alunos, para situações reais, referenciando nas atitudes experiências
já vivenciadas, favorecendo suas atuações, respeitando as dimensões do corpo e
dos objetos no espaço, bem como impulsionando-os a interagir com o grupo.
A experiência e a realidade educacional vivenciadas levaram-na a pensar
em propostas que pudessem atender ao aluno deficiente intelectual, sensibilizando
uma determinada comunidade escolar para a prática pedagógica da modelagem
com argila. Este projeto intenta, pois, apresentar processos metodológicos e
técnicas de manipulação com a argila, que contribuam para com desenvolvimento
do aluno deficiente intelectual, ou seja, viabilizar fazeres pedagógicos, por meio da
arte, e disponibilizar recursos para aprimorar o conhecimento.
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A educação através da arte deve ser vista como uma forma de promover a
apropriação de conhecimentos e saberes não só na produção da arte, mas, também,
na sua apreciação. Ela vem oportunizar aos alunos experimentar e vivenciar etapas
do perceber, do sentir, do construir conhecimento e do conviver em grupo.
Desenvolve a força criadora das crianças e também aspectos intelectuais, atitudes,
hábitos, tendências, intuição e outros. Como bem expressa Paulo Freire, “é
necessário aprender a reler nossa realidade. A aprendizagem de releitura implica o
aprendizado de uma nova linguagem. Não posso reler se não melhoro os velhos
instrumentos, se não os reinvento.” (1995, p. 60).
Se o mediador pode oferecer este contexto aos alunos “normais”, também
deve estender esse acolhimento aos alunos especiais, encarando como um desafio,
identificando e valorizando as diferenças dos alunos, transformando estas, em
peculiaridades para alavancar a aprendizagem.
Nessa perspectiva, este trabalho foi pensado com vistas a disponibilizar, aos
professores de alunos com deficiência intelectual, informações teóricas importantes
a respeito das propriedades e do comportamento do material argila, bem como
orientações técnicas sobre o uso do mesmo. Organizado sob a forma de um
caderno pedagógico, onde estão inclusas informações sobre a argila, propostas de
atividades, ele pretende contribuir com o profissional da educação a uma reflexão
sobre a experiência da modelagem com argila para a aprendizagem do aluno com
deficiência intelectual. Traz também possibilidades viáveis e algumas sugestões de
como preparar o espaço para o trabalho, de escolha pela matéria prima adequada,
das principais técnicas para a confecção de peças e seus desdobramentos,
acabamento, decoração e exposição, envolvendo toda a comunidade escolar como
co-responsáveis no processo educacional.

1.2 MODELAGEM

A modelagem com argila é uma entre as modalidades das artes visuais que,
ainda hoje, é pouco usada como recurso pedagógico nas escolas. Penaliza-se, pois,
não bastassem suas ricas características de ser elemento natural, de fácil acesso
pelo baixo custo e abundante no solo brasileiro, o material possibilita diferentes
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formas de aplicação pedagógica a serem exploradas, provoca experiências


prazerosas, em diferentes fases da vida.
Presentes no ser humano desde a mais tenra idade, os processos criadores
fazem parte de brincadeiras, de jogos e também das artes. A criança, ao desenhar,
não reproduz a imagem do que vê, de forma reflexa. Ela cria figurações para
representar os objetos que lhe transmitem sentido. Fantasiando a realidade a
criança cria com aquilo que tem sentido para ela, e faz combinações surgindo novas
realidades. Propor essas experiências estéticas é um meio de contribuir para o
entendimento das interações que as crianças têm com o mundo e suas próprias
significações.
De acordo com estudos realizados por Lowenfeld (1977) independentemente
da faixa etária em que a criança se encontre, percebe-se que existe uma sequência
padrão nesse desenvolvimento. Ao observar a produção plástica infantil, notam-se
várias etapas no desenvolvimento do trabalho, desde sua ambientação, quando
explora aleatoriamente o material, até quando a criança começa seu percurso por
meio dos rabiscos. A seguir, ela passa a projetar marcas da exterioridade e depois a
ideação, quando já intencionalmente elabora formas, controlando seus movimentos
sobre a argila ou o papel. Depois mais habilidosa começa a desafiar com ousados
projetos de equilíbrio e sobreposição de formas.
Será que esse envolvimento crescente, o transcorrer do processo, podem
contribuir para o desenvolvimento intelectual e a aprendizagem do sujeito?
Consideram-se as contribuições de grandes mestres da educação neste
estudo, entre eles Vygotsky e Piaget, que demonstram aspectos distintos, porém
coerentes nesta apreciação. Portanto, cabe extrair de ambos, as substâncias que
vão preencher, oportunamente, lacunas para o pleno entendimento do trabalho.
Piaget (1980, p. 8), defende que a origem do desenvolvimento cognitivo dá-
se de dentro para fora, ocorrendo em função da maturidade do sujeito, e acredita
que o ambiente poderá influenciar no desenvolvimento cognitivo, mas sua ênfase
está no aspecto biológico. Vygotsky (1991, p. 27; 63) se contrapõe a Piaget, uma
vez que enfatiza ser o meio ambiente o grande responsável para o desenvolvimento
da criança. Para este autor, o desenvolvimento intelectual é realizado de fora para
dentro, através da internalização. O conhecimento dar-se-ia dentro de um contexto,
afirmando serem as influências sociais mais importantes que os aspectos biológicos.
Em suas pesquisas, verifica que as crianças observam o que os outros dizem,
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porque dizem, o que fazem, porque fazem, internalizando tudo o que é observado e
se apropriando do que viu, ouviu, recriando e conservando o que passa ao seu
redor. Assim, Vygotsky afirma que a aprendizagem da criança se dá pelas
interações com outras crianças de seu ambiente, que determina o que por ela é
internalizado. Na internalização, todos os seus processos intrapsíquicos - as formas
de funcionamento cognitivo dentro do sujeito - se constroem a partir dos processos
interpsíquicos, ocorridos pela vivência entre os sujeitos do mesmo grupo cultural. O
que faz com que, aos poucos, haja um processo de construção de estruturas
linguísticas e cognitivas pelo sujeito e que é mediado pelo grupo, dando um peso
nas influências sócio-culturais.
Pesquisas são desenvolvidas e avançam as descobertas sobre o nível de
inteligência de uma pessoa como resultado da interação entre genes e fatores
ambientais. Nos estudos de Piaget (1980, p. 8), a função dos genes seria a de
estabelecer a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento da inteligência,
como as conexões entre os neurônios, que poderiam ser representadas como
estradas para as informações. A função dos estímulos ambientais, tais como acesso
a boa educação, alimentação adequada e cuidados médicos, seria a de determinar
quais dessas estradas continuarão ativas ou desaparecerão e se outras serão
formadas. Os genes determinam, por exemplo, o limite de nossa capacidade
cognitiva e o alcance desta capacidade vai variar de acordo com os estímulos que o
ambiente oferecer.
É nas afirmações sobre as influências do meio ambiente que foca-se esse
estudo, especificamente o ato de modelar com argila, pois se trata de uma realidade
na qual podemos interferir, alterar para, e quem sabe, contribuir.
Neste sentido, faz-se referência aos estudos realizados por Piaget (1976, p.
104), o qual defende que a inteligência procede da ação e que o desenvolvimento
das funções sensoriomotoras, constituído pela livre manipulação bem como pela
estruturação perceptiva que esta manipulação promove, constitui-se indispensável à
formação intelectual.
Portanto, é essencial que se insira no dia-a-dia de nossos alunos com
deficiência intelectual experiências diversas, lúdicas, que oportunizem atividades
espontâneas, com material adequado, que levam a aquisição de noções espaciais,
numéricas e de formas.
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Neste estudo sugere-se a argila como uma atividade que pode levar a
criança a brincar enquanto modela, ser e fazer qualquer coisa que sua fértil
imaginação queira. Na análise de Vygotsky (1991, p. 12), “o brinquedo predomina de
forma tão absoluta no pensamento infantil, que se torna muito difícil separar a
invenção deliberada da fantasia que a criança acredita ser verdadeira”.
Brincar, seja com o barro ou com um brinquedo, é necessário para o
desenvolvimento infantil, é uma forma de linguagem para a criança expressar sua
visão do mundo que a cerca. Para isso, ela tem que se apropriar de elementos da
realidade e atribuir-lhes novos significados, dessa forma, brincar constitui-se um eixo
de representação de conceitos.
Falar em prazer, em momentos lúdicos, leva à atividade criadora que se
origina já nos primeiros anos da infância, se desenvolvendo lenta e gradativamente.
Quando Vygotsky (1998, p. 107) aborda a brincadeira e a imaginação como uma das
principais características do brincar, refere-se ao fato de a criança criar uma situação
imaginária. Ela desliga-se do real, criando novas formas e combinações, construindo
novas opções a partir de experiências anteriormente acumuladas.
Os significados atribuídos pelo indivíduo que desenha e modela, nem
sempre são imagens figurativas, indicadoras de valor simbólico e cultural. Pode ser
qualquer coisa, pois se trata de um momento lúdico, uma prática que tem a
possibilidade de estimular, além das potencialidades cognitivas e linguísticas do
educando, as afetivas, motoras e sociais, constituindo uma ampla possibilidade de
promover a formação integral do sujeito. (RAU, 2007, p. 96). Ao brincar, a criança
interage com o meio e com o grupo e é função do educador promover um ambiente
que facilite a expressão e comunicação entre os alunos que, comumente, colocam
suas ideias e sentimentos durante o trabalho.
Percebe-se, pois, a grande responsabilidade do educador. Este deve estar
atento para lidar com os sentimentos de amor, ódio, medos, alegrias, inseguranças,
enfim, para apoiar o educando em seu desenvolvimento, sem a intenção de tratar,
até porque não tem formação e não está apto para tal, mas, para conhecer e
acompanhar seu aluno, e, se necessário, encaminhar para atendimento terapêutico
especializado.
Ainda na perspectiva do ambiente propício, há necessidade de o educador,
os pais, ou até os irmãos desenvolverem a noção, nos alunos com deficiência
intelectual, de que cada ação tem relação direta com o ambiente espacial onde ela
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ocorre. Como exemplo, pode-se traçar um paralelo com o espaço da moradia e a


diferenciação interna dos ambientes, atendendo a funções determinadas - escovam-
se os dentes no banheiro, dorme-se no quarto, preparam-se alimentos na cozinha -
sendo que, na escola, também existem espaços específicos para cada atividade,
bem como equipamentos e materiais característicos para que seja efetuada
determinada atividade.
O fato do indivíduo se localizar dentro do ambiente escolar e saber se dirigir
para os espaços determinados já é uma promoção para o alcance de sua
autonomia, que é reforçada quando o sujeito adota adequadamente os materiais e
instrumentos para o trabalho que fora estabelecido. Em seguida, dar-se-á a
condução pedagógica para que haja um envolvimento do aluno através da
contextualização, fundamentando e promovendo a apropriação de símbolos,
conceitos e significados que respaldam o processo de aprendizagem do aluno.
Ainda com relação à adequação do espaço, não se pode esquecer que,
sendo nosso foco um ambiente para a atividade de modelagem, sugere-se um
ambiente com boa iluminação, arejado, dotado de poucos móveis e,
necessariamente, provido de um tanque ou pia próximo, pois isso irá interferir no
tempo de que se dispõe para seu uso e configurar o modo de desenvolvimento dos
processos. Nessa perspectiva, fundamentamo-nos em Pillotto (2007, p. 118) que
aponta para a estrutura espacial escolar e seus espaços ordenados de forma a
orientar o aluno e organizar seu comportamento:

O contexto arquitetônico e funcional do espaço está integrado com o


plano de organização das ações educativas. Objetivos, materiais e
distribuição de mobiliário não são elementos passivos, mas
interferem na estrutura cognitiva e afetiva dos alunos, assim como
refletem valores, idéias e culturas na e da escola.

A autora nos leva a pensar na importância de se criar um ambiente propício,


que parece ser simples, mas fundamental para a fruição do trabalho. Faz-se
necessário que os alunos encontrem esse ambiente acolhedor, limpo e “organizado”
e que sempre colaborem para que assim ele se mantenha. O ambiente facilita o
desenvolvimento do trabalho de habilidades manuais, orienta e disciplina o sujeito a
desenvolver seus sentidos, especialmente visão e tato, a exercitar o intelecto,
fortalecer o discernimento, valorizando e compreendendo as coisas em torno de si.
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O ambiente ordenado ou o espaço específico para uma atividade orienta e disciplina


o sujeito, facilitando o desenvolvimento do trabalho e dos seres humanos que dele
compartilham.
A atividade não deve necessariamente se desenvolver somente no espaço
da sala de aula, pois a variação de local, como trabalhar ao ar livre com a argila, é
sem dúvida uma experiência que não se pode dispensar, pois além do bem estar, a
situação oportuniza uma proximidade com elementos disponíveis na natureza, que
poderão ser mais bem observados, trazendo outras possibilidades para efeitos e
acabamento nos trabalhos. Além do espaço, é interessante que se varie também a
postura de trabalho. A prática de modelar sentados em cadeiras estará
proporcionando o trabalho com os músculos e a força muscular, uma forma bem
diferente da que se estivessem sentados no chão, modelando de pé, ou até mesmo
de costas para o trabalho. Todas estas possibilidades estarão propiciando
sensações diferentes e a percepção da necessidade de adequações a serem
realizadas em cada nova situação o que aos poucos promove o desenvolvimento
cognitivo e motor do aluno.
A modelagem é uma atividade em três dimensões. Esta característica
permite dar volume ao material, tornando-se muito mais rico que trabalhar no plano,
porque pode ser apreendido pelas duas mãos, trabalhando a coordenação bi-
manual, automatizando os reflexos de lateralidade, explorando vários sentidos,
especialmente o tato. As atividades tridimensionais, segundo Pillotto (2007, p. 132),
“permitem à criança a descoberta da forma, do tamanho, do peso, do volume e da
textura; possibilitam-lhe resolver problemas de peso e equilíbrio, de quantidade,
força e gravidade, assim como vivenciar situações de organização espacial”. Deve-
se ainda considerar como uma conquista importante a percepção do espaço que o
desenvolvimento do exercício em três dimensões promove. Antes de qualquer coisa,
as relações espaciais são determinadas por nosso próprio corpo, e é a partir dele
que se determina o horizontal e o vertical, a direita e a esquerda, o que está adiante
e o que está atrás e assim por diante.
Acredita-se ser prova de um bom nível de maturidade quando o aluno toma
seu próprio corpo como referência nas relações espaciais. Experimentar texturas,
sensações de pressão, de prensar, amassar promove diferentes reações e ajuda o
aluno a formular conceitos nelas contidos que serão importantes para e
desenvolvimento mental e perceptivo da criança. “Essas experiências ampliam a sua
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compreensão de ser/estar no espaço físico e cultural, complementando as suas


vivências bidimensionais, que desenvolvem a abstração, a ilusão e a teoria.”
(PILLOTTO, 2007, p. 132).
Com esse posicionamento reafirma-se aqui a necessidade de propiciar
atividade tridimensional, como a modelagem com argila, para desenvolver conceitos
concretos com a realidade prática, possibilitando à criança utilizar como referência
seu corpo e os objetos no espaço, para atuar com a realidade do mundo numa outra
dimensão - o que está longe de si, o que está abaixo ou ao lado de determinado
objeto. Sabe-se que o desenvolvimento intelectual aparece, em geral, com a
conscientização progressiva que a criança tem de si e de seu ambiente,
concretizada através da interação com o meio e com o outro.
Com as atividades tridimensionais a criança vai percebendo sua realidade
física de uma forma lúdica e construtiva, transformando o mundo e se transformando
por meio da imaginação, da fantasia e da criatividade, integrando conteúdos internos
e individuais aos externos e sociais. (PILLOTTO, 2007, p. 133).
Nessas atividades, a percepção táctil vai sendo desenvolvida e ocorrem
transformações importantes, pois quando a criança apalpa, separa, agrega, puxa,
sobrepõe e transforma volumes, trabalhando sua coordenação motora, ela estimula
ao mesmo tempo o sentido do tato e a relação corpo e espaço.
Outra questão a ser explorada em volumes é a de luzes e sombras, pois o
volume pode ser visualmente modificado pela luz que incide sobre a peça,
destacando planos e cavidades o que estará contribuindo para trabalhar a acuidade
visual de uma forma natural.
O desenvolvimento perceptivo revela-se na crescente exploração das
sensações táteis, desde o simples amassar a argila até a pesquisa tátil de texturas.
As reações sensoriais que a modelagem com argila oferece, desde a execução de
peças até a apreciação de diferentes superfícies que pode alcançar, oportunizam
condições para que o aluno com deficiência intelectual possa identificar elementos e
formular conceitos que referenciará com outras situações de sua vida. Entre os
resultados positivos desta exploração, pode-se inferir o incremento da auto-estima,
pois a modelagem é um jogo intuitivo que produz um gesto absolutamente primitivo.
Amassar inspira-se na necessidade de coordenar movimentos e de dominar a
matéria. Satisfazer a essa necessidade é um meio de desenvolver a confiança em
si. (SCHMIDT, 1969, p. 129).
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Portanto, não se podem negar os benefícios do trabalho das funções


motoras, desenvolvido desde os movimentos mais elementares, o bater, apertar,
alisar esburacar, beliscar, que poderão ser enriquecidos com o oferecimento de
simples materiais como: marreta de borracha, garfo, amassador de batatas, ralador,
espátula, roda de um brinquedo e tantos outros objetos disponíveis em nossas
casas.
Como já afirmado anteriormente, a construção do conhecimento acontece a
partir de experiências do indivíduo. “A criança aprende mais pela ação do que pelo
pensamento; um material conveniente, que sirva para alimentar esta ação, conduz
mais rapidamente ao conhecimento do que os melhores livros e do que a própria
linguagem.” (PIAGET, 1976, p. 151). Estas vivências acontecem no agir sobre os
objetos e retirar deles, por abstração simples ou empírica, qualidades que lhe sejam
próprias, e, no caso da argila, é ao manipulá-la que se criam condições para
perceber sua plasticidade, por exemplo.
Neste sentido, Oaklander (1980, p. 85) enfatiza que a argila promove “a
manifestação ativa de um dos processos internos mais primários. Proporciona a
oportunidade de fluidez entre material e manipulador como nenhum outro. É fácil
tornar-se uno com a argila. Ela oferece experiência tanto táctil quanto sinestésica.” O
autor ainda lembra que o que a criança faz provém da realidade do que conhece e,
caso suas formas pareçam abstratas, será somente no aspecto visual, mas
certamente não o será na sua intenção de realizar suas formas.
Neste processo de construção, que implica em expressar as vivências, a
partir da percepção, compreensão e atribuição de significados e de conceitos, a uma
variedade de texturas, volumes, formas, seria imprescindível oferecer ao educando
uma gama considerável de materiais para seu trabalho. A oferta de experiências
diversificadas, para os educandos, colabora para com o enriquecimento de suas
imagens mentais que, na medida em que estão sendo aprimoradas, são capazes de
produzir outros resultados, ou seja, promovem o seu amadurecimento visomotor.
Como demonstra Bueno (1998), oferecer diversidade de materiais aos
alunos permite estruturar situações de vivências manuais e corporais inéditas,
possibilitando explorar a argila pelo manuseio e pela observação do outro com o
mesmo material, o que propicia naturalmente a aquisição de conceitos psicomotores
e sociais em relação ao seu próprio corpo e ao meio. Para o autor, seria interessante
associar, em alguns momentos, outros materiais na aplicação das atividades, pois o
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deficiente intelectual apresenta dificuldade de adaptação a novas situações, o que é


uma das grandes limitações para sua inclusão no meio social.
A arte, enquanto linguagem, interpretação e representação do mundo, é um
meio para o desenvolvimento da consciência, pois propicia a criança um momento
consigo mesma e com o universo. Por isso, a arte de modelar é uma modalidade
que pode ser usada pelo sujeito para entender e expressar o que vê, é uma forma
de relacionar-se com o meio. Conhecer o meio é elementar para a sobrevivência de
qualquer ser, e representá-lo faz parte do próprio processo pelo qual o sujeito amplia
seu saber. Esse processo de conhecimento pressupõe o desenvolvimento de
capacidades de abstração da mente, tais como identificar, classificar, analisar,
sintetizar e generalizar. Tais habilidades são ativadas por uma necessidade
intelectual existente na própria organização humana. A abstração aparece no sujeito
como necessidade elementar e vital.
O ensino inclusivo vem buscando cada vez mais a real participação do aluno
especial, nas atividades do ensino especial, do ensino comum ou em ambientes
sociais. É essencial propor atividades que possibilitem a elevação da auto-estima e
da segurança, em função do oferecimento de “atividade-desafio”, possíveis de
serem realizadas com liberdade e prazer, proporcionando uma execução bem
sucedida.
11

2 UNIDADE II

2.1ORIGEM E PROPRIEDADES DA ARGILA

Oferecer um material adequado para as crianças é oferecer o que vem


atender às suas necessidades e, entre elas, é essencial estar livre para movimentar-
se e controlar seus próprios movimentos. (LOWENFELD, 1977, p. 104). Para esses
momentos, cabe oferecer os creions com grandes cartazes, a pintura a dedo em
painéis na parede, e a argila, que por si já garante todas essas experiências, pela
possibilidade de trabalhar nas diversas consistências. Variar esses materiais, sair do
papel e lápis constituem-se em meios capazes de garantir amplitude e
enriquecimento da sensibilidade tátil do sujeito, condição para desenvolver o
autodomínio do aluno, que, com o tempo, mostrar-se-á capaz de controlar suas
habilidades manuais.
Em relação ao desenvolvimento desta aprendizagem, foram buscados, nos
estudos de Silver, elementos para a discussão. Apoiado em Piaget e Inhelder, Silver
nos dá a perceber que as crianças são capazes de reconhecer um círculo bem antes
de conseguirem desenhá-lo, pois, para esta função, é necessário que elas sejam
“capazes de evocar a imagem mental de um círculo enquanto ele está ausente da
visão. No princípio, a habilidade da criança de representar é imitativa e passiva,
depois é intelectualmente ativa.” (SILVER, 1996, p. 33). Esse processo se inicia de
forma rudimentar, pois reconhecer uma imagem aciona apenas sua memória visual,
já conseguir representar graficamente é uma solicitação mais completa.
Da mesma forma que, no início de sua vida escolar, o aluno necessita viver
experiências diferentes que possibilitem uma compreensão gradativa de si e do meio
em que vive, a criança, por volta dos sete anos, é capaz de realizar operações
mentais de seleção, a nível perceptível, como agrupar objetos por cor ou formas. A
seguir ela passará ao nível funcional, quando ela seleciona para agrupá-los por
função - aquilo que os objetos fazem ou o que pode ser feito com eles. Mais tarde,
na adolescência, chega a operações mentais de nível mais complexo, ou seja, o
nível abstrato, onde há a real habilidade de agrupamento conceitual baseado em
atributos invisíveis. Ainda conforme Silver (1996), passa a selecionar objetos que
sugerem mais do que é visível, indica seus objetos como membros de uma classe.
12

Uma série de atividades podem então ser selecionadas e implementadas


para a avaliação e o exercício destas operações mentais nos alunos, e, nesse
sentido, argumenta-se ser a argila um material rico e adequado ao trabalho
educacional.
No que tange a este material, seria interessante pontuar-se o que se
entende por argila. Ela é definida como um material natural, terroso, de granulação
fina, que geralmente adquire, quando umedecido com água, certa plasticidade;
quimicamente, são as argilas formadas essencialmente por silicatos hidratados de
alumínio, ferro e magnésio. (SANTOS, 1989, p.1)
Neste projeto a argila a ser empregada será a residual, que se encontra em
morros, por acreditar ser esta a melhor argila para se modelar com crianças, uma
vez que sua localização lhe confere um mínimo de impurezas. A matéria prima para
modelagem promove a aproximação da criança com a natureza, local onde está
disponível, além de, em princípio, amoldar-se à vontade de quem a manipula, de
maneira a ir ao encontro das suas necessidades e do seu desejo.
A importância que a argila assume para a criança está relacionada à
influência contida nas suas condições físico-químicas. Pesquisas comprovam que
os princípios vitais da argila são agentes de regeneração física do homem. A
descoberta da radioatividade das lamas, areias e argilas veio acordar o homem para
o seu emprego na medicina, Oaklander (1980, p. 86) reforça as propriedades
curativas da argila. É comum observar argilas especiais, analisadas e
criteriosamente preparadas, serem aplicadas em diversas opções de tratamentos de
saúde por meio de aplicações das máscaras de argila, pomadas, sabonetes,
xampus e emplastros.
A argila, também chamada de barro, é um recurso natural que permite sua
reutilização e por isso atende aos princípios e conceitos de preservação do meio
ambiente. Em consonância com estes, no âmbito educacional existe uma
preocupação grande em desenvolver nos alunos uma crítica com relação aos
problemas ambientais, nas diferentes áreas do conhecimento, procurando assegurar
cada vez mais qualidade de vida às pessoas, por meio da valorização de processos
sustentáveis. Nessa linha de pensamento, talvez seja interessante lembrar que o
material, por ser encontrado em abundância no solo brasileiro, o que vem
representar baixo custo, fator que contribui para intensificar seu uso na educação.
13

Entre os aspectos positivos para oferecermos um elemento natural para a


modelagem com nossos alunos estão aqueles relacionados à saúde. A argila não
tampa os poros do manipulador, como as massas sintéticas o fazem, impedindo que
haja a plena percepção do material e, a manipulação deste material ainda
proporciona a liberação de emoções. Como lembra Oaklander (1980, p. 85),
“quando a criança está agressiva pode usar a argila para bater e socar, assim
descarregar sua raiva e tensões de diferentes maneiras.” Desta forma, a argila pode
absorver o excesso de temperatura da pessoa que a manipula, provocando ainda
calma e bem estar.
Pode-se considerar que a capacidade de aprendizagem do aluno é
consequência do cultivo e desenvolvimento dos sentidos, do uso progressivo de
experiências perceptuais.

O desenvolvimento perceptual revela-se na crescente sensibilidade


às sensações do tato e da pressão, desde o simples amassar do
barro de modelagem e a exploração tátil de contexturas até às
reações sensitivas ao barro, na modelação de uma escultura, e na
fruição das diferentes qualidades da superfície e do contexto
(LOWENFELD, 1977, p. 42).

O aluno pode ser provocado a outros desafios em sua percepção se


estimulado de forma diferente e interessante. Pode-se, por exemplo, empregar a
argila em temperaturas variadas. A manipulação de argila em temperatura fria
poderá ativar os centros nervosos, ao passo que, a mesma manipulação, utilizando
a argila tépida, poderá proporcionar calma e bem estar. Quando o intuito é relaxar,
ou em um dia de temperatura muito baixa, deve-se oferecer a argila morna, para que
o aluno sinta-se bem e atraído pelo material. Já, quando se quer estimular, provocar
reações ativas, pode-se oferecer argila em temperatura bem fria e iniciar a atividade
com música de fundo e exercícios de coordenação, com muitos pulos, palmas,
batidas e beliscões no barro. Para alterar a temperatura da argila é só colocar as
porções individuais em sacos plásticos e estes em banho-maria, numa bacia com
água morna (ou gelada), quinze minutos antes da atividade.
A plasticidade da argila varia de acordo com a qualidade dos elementos que
a compõe. Essa maleabilidade tem a ver, entre outras coisas, com a presença de
materiais orgânicos, isto é, matérias que não cristalizam e têm um efeito aglutinador,
14

bem como a de matérias não plásticas, de grãos de tamanhos diferentes, também


constituem fator condicionante da plasticidade da argila. (FRICKE, 1986 p. 8).
Parece evidente que o manuseio de uma argila bem “gorda”, como é
comumente chamada pelos oleiros quando se referem a uma argila bastante
maleável, cause mais prazer e facilidade na execução das peças modeladas. Por
outro lado quando se fala que a argila é magra, está subentendido que esta argila
tem pouca matéria plástica, diminuindo a coesão da massa, abrindo facilmente
fendas nas peças, por vezes desestruturando-as.
A flexibilidade e maleabilidade da argila adaptam-na às necessidades mais
variadas, considerando como qualidades as características mole, macia, sendo
atraente para qualquer idade. Também promove a manifestação ativa e proporciona
a oportunidade de experiência tátil quanto sinestésica. Muitas crianças com
problemas motores e perceptuais necessitam desse tipo de experiência. Oaklander
(1980, p. 85) ainda completa dizendo que a argila aproxima as pessoas de seus
sentimentos e que, desta forma, há um desbloqueio da sua expressão.
A sujeira que a atividade com a argila promove, às vezes, se sobrepõe aos
valores da própria atividade, o profissional acaba evitando e a criança também pode
apresentar atitudes de rejeição, portanto devemos trabalhar no sentido inverso,
mostrando a transformação daquele momento em uma aula descontraída e
encorajadora. Com essa permissão, a aula torna-se uma “façanha”, tão condenada
em momentos comuns do dia-a-dia do aluno. A “desordem” pode ser aproveitada
também para se trabalhar a “ordem” ou a limpeza do local, de maneira a atender a
critérios higiênicos ou estéticos pré-estabelecidos. Na verdade trata-se de um
material de arte que não é sujo como parece. A argila quando seca transforma-se
numa camada de poeira fina e podem-se limpar facilmente mãos, roupas, tapetes,
pisos, mesas, passando um pano úmido. Dependendo do contexto, pode-se ainda
lavar ou aspirar, com instrumento próprio.
A maioria das crianças aceita prontamente a argila, quando elas não
demonstram simpatia ou até mesmo rejeitam o material, isso pode ser devido às
experiências anteriores nas quais não foi bem sucedida, ou lembranças
desagradáveis de massas úmidas e pegajosas. Lowenfeld (1977, p. 158) afirma que
se for apenas uma lembrança desagradável, não será difícil ajudar a criança a livrar-
se da sua aversão. Pode-se apresentar a argila numa consistência que não fique
pegajosa, em outra coloração, como a argila branca ou amarela ou também pode
15

ser interessante modelarmos junto com a criança. Aos poucos, vamos repetindo
essa atividade e é provável que a criança comece a se interessar por essa
diversidade, se envolvendo e, cautelosamente, vencendo essa resistência ao
material. Entretanto, sugere-se que esta e outras situações semelhantes sejam
abordadas e amplamente discutidas entre os profissionais que atuam com a criança.
(OAKLANDER, 1980, p. 86).
A argila, além da plasticidade, que fascina o sujeito, de suas diferentes cores
e consistências para se trabalhar, de ser um elemento natural e sustentável,
permitindo o reuso e promovendo processo que pode gerar um produto vendável,
apresenta outras características, todas passíveis de contribuir para com o processo
de ensino/aprendizagem.
No que tange à lateralidade, por exemplo, seja esta considerada uma
equipagem inata ou uma dominância espacial adquirida, seus diferentes níveis de
percepção podem ser assimilados pelo manuseio com a argila.
O predomínio manual está relacionado com uma dissimetria funcional dos
hemisférios cerebrais. No destro, o hemisfério dominante é o esquerdo e é neste
que está situado o centro da linguagem. Assim é que parece que as correlações
grafomotoras e de linguagem se estabelecem mais facilmente nas crianças destras.
(ALVES, 1981, p. 50). Segundo a autora, ser capaz de perceber a lateralidade, sentir
que os dois lados do corpo são os mesmos e que um dos lados é mais usado do
que o outro, principalmente no que se refere à mão, é o início da discriminação entre
direita e esquerda e ocorre na maior parte das crianças por volta dos seis ou sete
anos. As crianças que apresentam uma aprendizagem mais lenta ou com deficiência
intelectual apresentam dificuldades neste momento, ficando confusas, por exemplo,
quando têm que iniciar a escrita no canto esquerdo do papel, exigindo mais apoio e
compreensão por parte dos educadores.
É com relação à dominância adquirida ou socializada, na família e na escola,
que se entra com as propostas de modelagem, pois se sabe que a lateralização só
se instalará definitivamente e eficazmente depois que tiver passado por etapas do
seu próprio desenvolvimento, como o ajustamento entre a motricidade e a
percepção visual, pois isso constitui a organização de percepções de diferentes
ordens (táteis e visuais), e a ação de modelar está em permanente uso da
coordenação viso motora. Pode-se ainda levar o aluno a descobrir, com o manuseio
da argila, o que mais pode fazer com a mão direita e com a mão esquerda, usando
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assim, todos os segmentos de seus membros, em movimentos variados e também


criados pelos alunos. (ALVES, 1981, p. 52).
Considera-se que a arte de modelar pode desenvolver as capacidades de
percepção da lateralidade de forma contínua e crescente, que o professor deve
estimular não só as atividades bidimensionais, mas, também, aquelas que
promovem a percepção global das formas, com experiências de tocar, sentir e de
fazer contato com as coisas do seu ambiente, para não limitar a evolução do
desenvolvimento cognitivo e dos sentidos da criança.
Nesse contexto de valorizar e reconhecer os materiais julga-se importante
buscar informações sobre a origem da argila. Como ela se apresenta na natureza?
Ela já está pronta para ser trabalhada? Por qual processo ela passa para que
tenhamos um material que nos garanta segurança e condições de desenvolvermos
um bom trabalho?

2.2 INFORMAÇÕES SOBRE A ARGILA

Conceito de Plasticidade:
A professora Marília Diaz no decorrer da orientação conceituou plasticidade
como: “propriedade que os corpos têm de se amoldar a uma ação de força e manter
esta deformidade”.
Entende-se de modo amplo a propriedade de o material úmido ficar
deformado (sem romper) pela aplicação de uma tensão, sendo que a deformação
permanece quando a tensão aplicada é retirada. (Santos,1989, p.1).

2.2.1 Verificação de sua plasticidade

A argila é considerada plástica quando possui uma maleabilidade que pode


ser testada de uma forma bem simples e própria para sala de aula: pega-se um
pouco de argila e faz-se um rolo com mais ou menos 10 cm de comprimento e
espessura próxima de um dedo mínimo. A seguir unem-se as extremidades e, se
quando a argila curvar não abrir fendas, é sinal de que sua plasticidade está
adequada para o trabalho.
17

Outra maneira de testar sua plasticidade é fazer uma bola de barro com
mais ou menos 4 cm de diâmetro e colocá-la em um copo com água. Se logo após a
bola de argila se desmanchar é sinal de que é uma argila magra, sem plasticidade,
caso contrário a bola pode ficar dias no copo até perder sua forma, então é sinal de
termos uma argila de boa qualidade para modelagem.

2.2.2 Conservação

Se acondicionada em sacos plásticos a argila pode se conservar maleável


por meses. A argila pode ser reaproveitada, basta que após o uso seja envolvida em
um pano umedecido com água e depois em um saco plástico para que absorva a
água. Depois de umas horas bate-se o material e repete-se o procedimento se julgar
necessário para que obtenha a plasticidade original. É importante frisar que o tecido
deve ser trocado de tempos em tempos, pois apodrece e ocasiona cheiro
desagradável.

2.2.3 Depuração

Dependendo do fornecedor, a argila já vem depurada e processada para ser


modelada, porém, é necessário que se verifique se está em condições de
manipulação, pois muitas vezes o material contém raízes, pedras, pedacinhos de
madeira, ou outros que além de prejudicarem o resultado do trabalho podem
oferecer risco durante a manipulação. Portanto, a forma mais simples é cada criança
pegar, da sua pelota de barro, pequenos pedaços e com as duas mãos, utilizando os
dedos indicadores e polegar, apertá-los e formar lâminas. Desta maneira haverá
condições de perceber se há algum obstáculo para ser retirado. Em pouco tempo o
aluno terá sua porção depurada, para o trabalho do dia, sem impurezas como
pedras, folhas e raízes que devem ser descartadas.
Além desse processo manual existe um procedimento também artesanal que
apesar de um pouco mais demorado, permite o preparo de quantias maiores de
argila, de forma segura e didática, que compreende as seguintes etapas:
18

desidratação, moagem, peneiramento, preparo para lavagem, mistura,


amassamento para dar ponto.
Desidratação – os pedaços de barro bruto devem ser espalhados em “bandejões”
de madeira velha, ou em pedaços de lona para perder totalmente a umidade, ação
que deve ser realizada uns dois dias antes da aula se o tempo estiver seco.
Moagem – no dia da aula retirar esse barro e colocar em gamelas ou pilões e com
um soquete, que pode ser de madeira ou um martelo de borracha, iniciar os
batimentos sobre a argila seca para moer.
Peneiramento – com a utilização de máscaras descartáveis, o material moído deve
ser peneirado em peneiras de mais ou menos 30 cm a 40 cm. Separar o pó limpo
em bacias grandes com tampa ou sacos plásticos fechados.
Preparo do material – o resíduo que ficou na peneira, a quirera, deve ser colocada
em baldes com água mais ou menos quatro dedos acima do nível do material.
Posteriormente, é indicado mexer para que dissolva, formando um caldo e depois
peneirar novamente. Deixar o caldo descansar para o barro decantar, retirar a água
que se forma na parte superior, com a utilização de um pedaço de mangueira
plástica, e assim teremos uma argila cremosa e limpa para começar a mistura.
Mistura – em uma bacia colocar umas canecas da argila cremosa e aos poucos
acrescentar argila em pó e misturar até que se tenham pelotas, ainda não
homogêneas, na quantidade desejada.
Dar ponto – em um pedaço de madeira polvilhar a argila em pó e colocar um pouco
da mistura para dar ponto amassando até que se desprenda da madeira e obtenha
uma aparência bem homogênea, similar a massa de pão. Colocar essa massa
pronta em um saco plástico e fechar. Cuidar para retirar todo o ar da embalagem,
que assim pode manter a umidade por meses. Identificar argila bruta, argila plástica,
argila em pó, e outros materiais comuns ao trabalho.

2.2.4 Antes de modelar

Antes de iniciar qualquer trabalho a argila deve estar limpa, sem impurezas,
e ser compactada, jogando-a sobre a mesa repetidamente ou batendo com um
pedaço de madeira por todos os lados, durante mais ou menos uns cinco minutos.
Essa é uma atividade importante, esse procedimento eliminará as bolhas de ar que
19

podem rebentar durante o processo de secagem ou queima das peças, abrindo


rachaduras ou estourando-as.

2.2.5 Modelagem

Atividade com foco artístico, pedagógico ou terapêutico, realizada


normalmente com as mãos, utilizando a argila como matéria prima em suas diversas
cores e consistências. Possível de se desenvolver individual ou coletivamente
utilizando instrumentos específicos ou sucatas disponíveis.

2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO MANUAL COM ARGILA

2.3.1 Placas

Entrega do material. Processo de preparação através de batidas na argila


para tirar todas as bolhas de ar do seu interior.
Sobre um pedaço de pano, o aluno deve iniciar a confecção da placa de
argila, esticando pedaços pequenos de argila com a palma da mão, deslizando uma
lâmina sobre a outra e assim, sucessivamente, até que se atinja o tamanho
desejado. Para distribuir a argila por igual, colocam-se duas madeiras do mesmo
tamanho e espessura, uma de cada lado da placa, como guias. Em seguida deve-se
passar o rolo de madeira nos dois sentidos, vertical e horizontal, garantindo que toda
superfície esteja com a mesma espessura. Posteriormente, coloca-se outro tecido
em cima, outro suporte de madeira sobre o tecido e vira-se a placa com cuidado,
ficando virado para cima o tecido que estava em baixo. Repete-se o processo com o
rolo de madeira. A placa está quase pronta para ser utilizada. Basta recortar com a
ajuda de esteque apropriado ou facas plásticas descartáveis o tamanho desejado.
Pode-se utilizar a placa para modelar superfícies planas ou tridimensionais.
20

2.3.2 Colagem

Utiliza-se esta técnica quando se deseja unir dois pedaços de argila. Para
este processo é necessário preparar a “barbotina adesiva” com argila seguindo a
seguinte receita:
Separa-se um pouco de argila seca, totalmente desidratada, e coloca-se em
uma gamela para socar, até que vire pó. Coloca-se em um recipiente, acrescenta-se
água e mexe-se até ficar um creme.
Pega-se a peça e passa-se um garfo ou uma serrinha, na área que será
unida a outra superfície, deixando-as com ranhuras ou sulcos, estes auxiliarão na
aderência das partes. Em seguida, espalha-se a barbotina adesiva sobre os locais,
sem desmanchar as ranhuras. Unem-se as áreas apertando cuidadosamente para
não ficar ar e, ao mesmo tempo, não deformar a peça. Desta forma pode-se ter
certeza de que não haverá descolamento das partes.

2.3.3 Acordelado

Após a preparação da argila, inicia-se o trabalho construindo o fundo da


peça que é feito com uma placa de argila do tamanho desejado, como já descrito
anteriormente. A seguir, com um pouco de argila confeccionam-se rolos com mais
ou menos 1 cm de diâmetro. Orienta-se que o aluno coloque as mãos suavemente
sobre a argila, com os dedos abertos, e vá rolando para frente e para trás, com
movimentos sucessivos, deslizando as mãos do centro para as extremidades, para
que o rolo vá aumentando no comprimento e fique com a espessura igual em toda a
sua extensão. Esse exercício é muito importante, pois, proporciona o trabalho de
coordenação bi-manual e o controle da força manual. A criança terá que treinar um
pouco até que consiga construir seus rolos. Deixa-se que os alunos façam uns sete
ou oito rolos para começar a uni-los.
Pega-se primeiro um pedaço de madeira cobre-se com pano para a peça
não grudar e coloca-se a placa de base da peça. Com o dedo indicador, afunda-se,
formando uma suave canaleta na margem interna da placa e nessa escarifica-se o
fundo e passa-se a barbotina adesiva.
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Acomoda-se o primeiro rolo unindo-o bem com a ponta dos dedos. Ele será
a base que irá sustentar toda a peça. Assim prossegue-se sucessivamente, fazendo
ranhuras com o garfo e acrescentando a barbotina adesiva entre cada cordel.
Sempre apertando com firmeza para que não se desgrudem, espalhando a argila
com o dedo, por fora e/ou por dentro. Apenas por dentro, caso os alunos queiram
deixar os rolos aparentes. O processo deve continuar até que o aluno esteja
satisfeito com a altura da sua peça. A seguir o aluno poderá retirar com um pincel os
excessos de barbotina para ajudar no acabamento da peça.

2.3.4 Ocagem

Utiliza-se esta técnica quando o aluno deseja realizar uma escultura ou um


objeto pesado e que não possa construí-lo com os cordéis ou rolos. Para este
processo é necessário sovar bem o bloco de argila.
Depois de o aluno elaborar e modelar sua forma, é interessante que se
espere um pouco para iniciar o processo, o suficiente para firmar um pouco a
massa. Deve-se então analisar se, por baixo da peça, existe acesso a toda ela, para
a retirada da argila com uma colher ou um esteque com arame curvado. É
importante respeitar uma margem de mais ou menos dois centímetros, iguais em
toda a peça. Caso a peça não permita acesso por baixo, deve-se cortar com fio de
nylon a peça ao meio e, cuidadosamente, proceder a retirada da massa.
Após a retirada da argila de ambos os lados da peça, deve-se fazer as
ranhuras com garfo, nas margens que serão coladas, e passar a barbotina. Unem-se
as partes, pressionando sem forçar, para não deformar a peça. Depois que secar um
pouco, inicia-se o acabamento da peça.

2.3.5 Propostas alternativas com argila

1 - Utilizar a argila colorida em pó misturada com água, até ficar em ponto de um


caldo grosso. Para cada litro deste caldo chamado de “barbotina” misturar 200 ml de
cola branca, formando uma tinta para pintura a dedo natural. Com esse material
pode-se desenhar individualmente ou em painéis, como atividade de grupo. Em dias
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quentes aplicar a atividade na área externa da escola, propondo para o desenho a


utilização dos pés. Certamente é uma atividade que provoca euforia e prazer e pode
ser contextualizada com a origem do homem das cavernas que pintavam nas
paredes com pigmentos também extraídos da terra.
2 – Entregar para cada aluno um bloco de argila (2 kg) e um pedaço de madeira.
Solicitar que batam livremente por um tempo, lembrando que é uma forma de
preparar o material para o trabalho. Após uns minutos, sugerir que os alunos
observem e descubram com o que se parece aquela forma. E, a partir daquele
momento, as batidas com a madeira no barro não serão mais aleatórias, e sim
intencionais para aprimorar a forma anteriormente identificada, até que o aluno sinta-
se satisfeito com o resultado sem tocar com as mãos na peça. Após considerar
pronta essa etapa, coloca-se para secar e firmar um pouco. No dia seguinte, inicia-
se o processo de ocagem da peça, sendo indispensável o uso de instrumental.
3 - Solicitar que os alunos estiquem uma grande placa de argila, com forma irregular
e mais ou menos 30 cm por 30 cm. Quando a placa estiver uniforme na espessura,
solicita-se que o aluno cuidadosamente lance a placa para o alto deixando-a cair na
mesa naturalmente. Os alunos deverão observar a forma que surgiu como resultado
do movimento que realizaram ao jogar a argila: seu volume, suas entranhas, suas
sombras e locais mais iluminados, a beleza das curvas ou dos ângulos formados,
enfim, será um momento de descobertas, inclusive poderão ver se identificam com
algo que conhecem. Caso o aluno deseje, poderá jogar a forma novamente até que
fique satisfeito com o resultado.
4 - Brincar é bom em qualquer idade, para essa atividade sugere-se dividir a turma
em duas equipes. Cada uma irá retirar na sorte um papel de potes diferentes. Em
um pote terão nomes de bichos (cachorro, leão, gato,...) e, em outro pote, nomes de
objetos diversos (avião, telefone, cadeira,...). Pedir que um membro de cada equipe
se reúna em duplas para trabalhar. Cada dupla receberá dois pedaços de argila
sobre uma madeira e os instrumentos padrão para modelagem. Cada aluno deverá
modelar seu bicho ou seu objeto como quiser. Depois, lança-se a proposta de que a
dupla deverá criar uma forma de unir, utilizando a já conhecida técnica de colagem,
e nomear o resultado daquela união de formas, por exemplo: gato com telefone,
como chamar? Gatofone ou telegato? Esta é uma atividade divertida e possibilita
usar de muita criatividade para proceder a união das peças, sem alterar as formas.
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5 - Formar duas equipes com a turma e entregar, para cada uma, um papel tamanho
A2 e giz de cera colorido. Pedir que as equipes escolham um bicho da floresta para,
em conjunto, desenharem ocupando todo o espaço. Quando pronto, cola-se na
parede externa da escola e distribui-se argila de cores diferentes para cada equipe.
Cada membro da equipe deverá modelar, com as duas mãos, umas dez bolas de
argila, enrolando com movimentos circulares uma mão sobre a outra. Trata-se de um
excelente exercício para coordenação bi manual. Em seguida dá-se início a
brincadeira de tiro ao alvo. Pede-se para que, em fila um a um, atirem as pelotas,
por exemplo, na orelha do bicho, e assim contam-se quantos pontos cada equipe
fez. É uma excelente atividade para se trabalhar a coordenação visomotora e
também para estabelecer regras, tais como ter que respeitar o limite de uma linha
riscada no chão para atirar a bola.
6 - Sugestão retirada do SDT – Teste do Desenvolvimento de Silver – (SILVER,
1996, p. 165):
Distribuir um pedaço com a mesma quantidade de argila para cada aluno e
para si mesmo. Demonstre, enrolando um pequeno pedaço de argila com a palma
das mãos na superfície da mesa até que ela se transforme em uma “bola” ou em
uma “cobra”, depois solicite que as crianças façam bolas por si mesmas.
Para desenvolver a habilidade de sequenciar, solicite a eles para fazerem
bolas grandes e pequenas, cobras longas e curtas, adicionando e tirando argila.
Para desenvolverem habilidade espacial, demonstre a técnica “pedaços em fatias”,
enrolando a argila como uma massa, cortando em retângulos, e depois comprima os
retângulos fazendo caixas, casas, ou outras formas tridimensionais.
Para desenvolver a habilidade de selecionar, associar e representar
demonstre a técnica “tijolo”, formando pequenos blocos de argila e prensando-os
juntos para construir formas humanas e de animais. Pegando um pedacinho de
argila daqui e adicionando lá, isso desenvolverá idéias de conservação. Ou ainda,
solicite para fazer duas bolas idênticas colocando pequenos pedaços de argila de
uma bola e adicionando em outra. Quando as crianças estiverem satisfeitas,
achando que elas são idênticas, peça-lhes que enrolem uma bola transformando-a
em uma cobra, e pergunte-lhes se elas continuam a ter a mesma quantidade ou se
há maior quantidade de argila na bola do que na cobra. Solicite, para aqueles que
continuam a dar respostas de não conservação, para transformarem a cobra de
novo em uma bola, e, com os olhos fechados, coloquem uma bola em cada mão,
24

comparando-as novamente. Após cada alteração, peça-lhes que avaliem as


quantidades de argila e que expliquem suas respostas. A combinação de classificar,
manipular e reverter auxilia na descoberta de que a quantidade de argila não muda
com a mudança de sua forma.

2.4 TÉCNICAS DE DECORAÇÃO

Pintura a frio (peças sem queima):


1- Passar uma camada de guache sobre a peça e, depois de secar, aplicar uma
camada de impermeabilizante feito com cola branca (para cada 150 ml de cola diluir
em 50 ml de água e acrescentar 02 colheres de sopa de álcool). Mexer bem e
aplicar em toda a superfície.
2- Aplicar tinta acrílica para artesanato branca em toda a peça, depois de seca. Em
uma bacia com água pela metade, desenhar sobre a superfície da água com palito
embebido em tinta para vitral. Em seguida, mergulhar a peça na bacia e retirá-la
rapidamente, obtendo um efeito marmorizado.
3- Aplicar apenas o preparado de cola branca para conseguir um leve brilho na
peça.
Pintura para peças queimadas:
1 - Aplicar o guache e, depois de seco e se necessário, colocar verniz para telha
sobre toda a peça, com a finalidade de impermeabilizar e não permitir que o guache
saia quando a peça for umedecida.
2 - Aplicar apenas o preparado de cola branca sobre a peça para se ter um brilho de
acabamento.
A aplicação de verniz ou de outras tintas tóxicas deve ser feita quando é
imprescindível a impermeabilização e, quando necessária, a aplicação deve ser bem
acompanhada pela professora. O ideal é evitar o uso de tintas tóxicas com crianças.
25

2.5 SECAGEM

Durante a secagem, o barro sofre uma leve contração pela perda de água e
deve secar naturalmente em temperatura ambiente. Não é indicado expor as
modelagens ao sol, para acelerar o processo de secagem, pois isso pode provocar
rachaduras nas peças. Isso não acontece em certas regiões do país, onde o tipo de
argila utilizada permite que as peças sejam expostas ao sol para secagem.

2.5.1 Orientações importantes sobre secagem

Após a modelagem de uma peça de argila é aconselhável colocá-la em local


arejado para que seque lentamente, evitando assim rachaduras na peça. Como dito
acima, não podemos, após modelar uma peça, forçar a sua secagem, colocando-a
diretamente no sol ou no forno de cerâmica, pois ela estouraria.
Em caso de a peça que ainda queiramos trabalhar pedir mais algum detalhe
de acabamento, deve-se cobri-la com um saco plástico para proteger da secagem
acelerada.

2.5.2 Como identificar o processo de secagem da argila

Aos poucos, com a prática, observa-se que a tonalidade da argila vai


clareando, na medida em que essa vai secando, e que o material vai adquirindo
resistência. É interessante ter ao menos uma peça de argila dos alunos em cada
ponto de secagem para demonstrar os diferentes estágios desse processo.
Peça com umidade - recém modelada, pode-se facilmente alisar com as
mãos, com esteques, aplicar outros elementos de argila em relevo, como decoração.
Para decorar o trabalho com texturas, podem-se usar diferentes materiais: pente,
garfo, materiais em relevo para carimbar: folhas, moedas, sabugo de milho,
correntes, tecidos texturizados e outros. O ideal para esse procedimento é esperar
um dia para que a peça esteja mais firme e não danifique a forma.
Peça com pouca umidade - a argila está mais clara e firme, conhecida como
uma peça que está em ponto de couro. Ideal para o processo de brunimento que
26

deixa a peça brilhante. Faz-se esse polimento esfregando, cuidadosamente, com as


costas de uma colher, com pedra ágata ou com uma espátula de madeira bem lisa,
tornando a peça mais impermeável.
Peça seca sem umidade – argila ainda mais clara e mais firme, também
conhecida como ponto de osso. Bom para se trabalhar o acabamento com o
processo de esponjamento, passando cuidadosamente uma esponja umedecida que
eliminará as imperfeições deixadas, homogeneizando a superfície.
Depois de pronta, a peça poderá ser levada para queima em local fora da
escola, pois a instituição onde este projeto será implementado não possui forno
próprio para cerâmica. Essas peças, ao menos uma de cada aluno, devem ser
queimadas para que possam observar a aquisição da resistência que a queima
oferece para o trabalho. As demais peças poderão ser decoradas com técnicas
diversificadas de pintura a frio.

2.6 ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE

Para o trabalho de modelagem com argila deve-se organizar um espaço


funcional, com poucos móveis; uma mesa grande e firme, com superfície de fácil
limpeza, que comporte todos os alunos ao redor, com suas cadeiras; um armário
com portas para guardar os instrumentos de trabalho; dois armários somente com
prateleiras, sem portas, para colocação e secagem dos trabalhos; além de uma pia
ou um tanque próximo da sala.
Materiais Importantes:
Equipamentos
Local para armazenar a argila: um tanque, caixas de água ou bacias plásticas que
receberão a argila previamente embalada em sacos plásticos.
Instrumental
Um pedaço de fio de nylon com mais ou menos 35 cm de comprimento para cortar a
argila, é interessante amarrar um pedaço de madeira nas extremidades para apoio
na hora de cortar o material, bem como, para não ferir as mãos.
Quadrados de tecidos de mais ou menos 40 cm por 40 cm para serem usados como
suporte das peças, para que não colem nas mesas.
27

Chapas de madeira de mais ou menos 40 cm por 40 cm para apoiarem no


manuseio das peças.
Pedaços de esponjas para umedecer os trabalhos.
Colheres e garfos velhos para acabamentos e recursos de texturas.
Utensílios plásticos, como bacias, baldes, potes com tampas de diferentes
tamanhos.
Sucatas que ajudem a imprimir texturas, cortar ou desenhar na argila: palitos de
sorvete, pedra de rio, pedaço de brinquedo quebrado, tampas de garrafa, facas
plásticas descartáveis, retalhos de renda e outros.
Rolos feitos com cabo de vassoura com aproximadamente 40 cm de comprimento
ou rolo de macarrão velho.
Esteques comprados em lojas de materiais para desenho, pintura e modelagem ou
confeccionados com os alunos com tubos de caneta e arames curvos.
28

3 UNIDADE III – PLANO DE AULA

3.1 ORIGEM E PREPARO DA ARGILA

3.1.1 Conteúdos

- Informações sobre a origem da argila;


- Demonstração da argila bruta;
- Processo de depuração da argila;
- Preparação da argila para modelagem.

3.1.2 Justificativa

Considerando-se que a modelagem é uma modalidade de arte e que o seu


domínio pressupõe conhecimento e propriedades técnicas, passíveis de serem
construídas a partir do exercício prático contínuo, o plano de curso para um grupo
deve ser formatado a partir de unidades teórico/práticas. Quando se pensa em um
ano de atividades, uma boa alternativa pode ser a subdivisão dos conteúdos em
quatro unidades de trabalho. Após a apresentação do plano de curso aos alunos, a
professora deve levantar a situação das turmas, bem como informar teoricamente
sobre as propriedades do material e o que é modelagem. Pode-se pensar em iniciar
a aula prática nesta mesma unidade. Neste encontro é necessário que os alunos
conheçam e identifiquem elementos que caracterizam a argila para a modelagem,
conseguindo inclusive, identificar o ponto da argila e realizar ações necessárias para
modelar. A intenção é contextualizar informações a respeito da origem e do preparo
da argila para conseguir o desenvolvimento de um trabalho onde o aluno “valorize” o
elemento, reconhecendo o processo pelo qual o material passa.
29

3.1.3 Objetivos

- Apresentar um panorama da matéria prima - argila


- Desenvolver a conscientização e a valorização da argila, identificando, conhecendo
sua origem, processo de depuração, ponto da massa para modelagem e
sensibilização tátil.

3.1.4 Encaminhamentos metodológicos

Apresentar a origem, como o barro se encontra na natureza e caracterizá-lo


mostrando o material bruto para manipulação do mesmo - “in natura” . Ações
possíveis:
- projetar imagens de jazidas com o recurso PowerPoint;
- promover uma visita a uma jazida com os alunos.
Preparar a sequência de atividades que compõem o processo de depuração
da argila, justificando a necessidade de se trabalhar com um material depurado, o
qual garantirá a nossa segurança no manuseio e o sucesso na construção da
modelagem: desidratação, moagem, peneiramento, preparo para lavagem, mistura,
amassamento para dar ponto.
Identificar argila bruta, argila plástica, argila em pó, e outros materiais
comuns ao trabalho.
Realizar uma atividade para promover um momento de sensibilização com o
material que foi preparado, procurando levar o aluno a perceber os benefícios de um
material limpo e seguro. É um momento de recompensa pelo trabalho e cuidado que
tiveram no preparo e agora vão poder se beneficiar utilizando a argila para
realizarem seu trabalho.
No caso da Instituição não ter a argila bruta para realizar todo o preparo do
material, deve-se entregar a argila marombada, que é a forma como as escolas
comumente recebem. Distribui-se blocos individuais para cada aluno, que
cuidadosamente, com as pontas dos dedos, médio, indicador e polegar, irá depurar
manualmente sentindo e retirando as possíveis impurezas (pedras, raízes, pedaços
de madeira...) do material. Essa é uma forma simples de se garantir a segurança do
manuseio.
30

3.1.5 Recursos didáticos

3.1.5.1 Físicos

Sala com mesas e cadeiras para todos os alunos


Água corrente nas proximidades

3.1.5.2 Humanos

Professor e alunos

3.1.6 Recursos materiais

- 500 g de argila por aluno


- 2 bacias por cor de argila
- 2 peneiras de 30 cm de diâmetro, em plástico ou metal, para cada cor de argila
- 4 martelos de madeira ou borracha (pedaços de cabo de vassoura)
- 2 gamelas ou 2 pilões
- 1 pedaço de lona ou brim com aproximadamente 2mx2m ou bandejões de madeira
- máscaras de proteção – tnt
- 2 baldes por cor de argila
- 40 cm de mangueira plástica
- 20 sacolas plásticas
- 1 pedaço de papelão de mais ou menos 30cmx30cm para cada aluno

3.1.7 Equipamentos

- Computador
31

- Multimídia
- Extensão

3.1.8 Critérios de avaliação

- Avaliação processual por meio da participação nas propostas, atendendo aos


comandos solicitados, a identificação do material bruto e preparado, a percepção da
sequência lógica de depuração do material e compreensão quanto ao que seja um
processo com início, meio e fim.
- Levantamento verbal dos conteúdos trabalhados para verificar o entendimento e as
possíveis dúvidas.

REFERÊNCIAS

FUCK, A. T.; ZEM, A. M. L. Cerâmica: arte da terra: o ensino da cerâmica para


crianças. São Paulo: Callis, 1987.

LOWENFELD, V. A criança e sua arte: um guia para os pais. 2. ed. São Paulo:
Mestre Jou; 1977.
32

4 UNIDADE IV – PLANO DE AULA

4.1 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO: PLACAS E COLAGEM

4.1.1 Conteúdos

Compactação da argila
Confecção e utilização de placas de argila
Colagem das partes da argila

4.1.2 Justificativa

Em muitas situações os professores aplicam atividade de modelagem livre e


com ela o aluno vai desenvolvendo seu jeito de modelar com recursos próprios,
como a palma das mãos, o canto dos dedos, as unhas e assim, vai adequando sua
expressão ao contexto apresentado pelo professor. O resultado do trabalho vai
depender da habilidade do aluno, o quanto ele já trabalhou com a argila e
familiarizou-se com o material. Entende-se, porém, que uma criança, após ter
dedicado empenho para traduzir suas idéias em formas com as quais quer transmitir
algo, seria frustrante para ela ter seu processo de criação e de comunicação
interrompido por falta de conhecimento de como proceder corretamente durante a
construção de seu trabalho. Procura-se oferecer nesta aula conhecimentos básicos
para a construção de uma placa de argila, base para muitas construções no
processo de modelar, e de como agregar um pedaço de argila a outro que também é
um processo muito utilizado na modelagem com argila.
33

4.1.3 Objetivos

Identificar e realizar procedimentos básicos necessários para o trabalho com argila


na construção de placas e na colagem do material.

4.1.4 Encaminhamentos metodológicos

1 - Aplicação da técnica de placas


Entrega do material.
Processo de preparação através de batidas na argila para tirar todas as bolhas de ar
do seu interior.
Iniciar as etapas da técnica de placas.
2 - Aplicação da técnica de colagem
Utilizar esta técnica quando desejar unir dois pedaços de argila.
Entregar o material. Processo de preparação através de batidas na argila para tirar
todas as bolhas de ar do seu interior.
Após a modelagem de cada uma das partes iniciar as etapas para realizar a
colagem das mesmas.

4.1.5 Recursos Didáticos

4.1.5.1 Físicos

Sala com mesas e cadeiras para todos os alunos


Água corrente nas proximidades

4.1.5.2 Humanos

Professor e alunos
34

4.1.6 Materiais

1 Kg de argila por aluno


02 retalhos de tecido de 40 cm por 40 cm, aproximadamente, para cada aluno
Um rolo de madeira, ou de PVC ou de macarrão, para cada dois alunos
02 placas de madeira com mais ou menos 3 cm de espessura
Esteque ou facas plásticas para corte
Garfos ou serrinhas de plásticos para texturas
Barbotina adesiva
Um recipiente com tampa

4.1.7 Critérios de avaliação

- Avaliação processual através da identificação do material a ser utilizado e


preparado, da percepção da sequência lógica das técnicas apresentadas e do
respeito às etapas dos processos.
- Levantamento verbal dos conteúdos trabalhados para verificar o entendimento e as
possíveis dúvidas.

REFERÊNCIAS

FUCK, A. T.; ZEM, A. M. L. Cerâmica: arte da terra: o ensino da cerâmica para


crianças. São Paulo: Callis, 1987

JEAN, P. J.; VIDAL, J. Ceramicando. São Paulo: Callis, 1997.

NARCISO, G. P. Trabalhador em turismo rural: artesanato em argila. Curitiba:


SENAR-PR, 2006.
35

5 UNIDADE V – PLANO DE AULA

5.1 TÉCNICAS BÁSICAS DE CONSTRUÇÃO: ACORDELADO E OCAGEM

5.1.1 Conteúdos

Construção de peças com a técnica de acordelado.


Ocagem de peças e sua necessidade.

5.1.2 Justificativa

Em muitas situações os professores aplicam atividade de modelagem livre,


na qual o aluno vai desenvolvendo seu jeito de modelar com recursos próprios,
como a palma das mãos, o canto dos dedos, as unhas e assim, vai adequando seu
estilo ao contexto apresentado pelo professor. O resultado do trabalho vai depender
da habilidade do aluno, o quanto ele já trabalhou com a argila e conhece seu
comportamento. Mas entende-se que uma criança após ter dedicado empenho para
traduzir suas idéias em formas com as quais quer transmitir algo, seria frustrante
para ela ter seu processo de criação e de comunicação interrompido por falta de
conhecimento de como proceder corretamente durante a construção de seu
trabalho. Procura-se então, oferecer nesta aula conhecimentos sobre uma antiga
maneira de construir potes, vasos, panelas utilizando a técnica de acordelado.
Também, será oportunizada a construção de recipientes ou de outras formas
tridimensionais, a partir da técnica de ocagem.

5.1.3 Objetivos

Realizar procedimentos básicos necessários para o trabalho com argila na


construção de potes e outras formas tridimensionais utilizando a técnica de
acordelados ou a técnica de ocagem.
36

5.1.4 Encaminhamentos metodológicos

1 - Aplicação da técnica do acordelado


Entregar o material, orientando ser necessário iniciar o processo de preparação por
meio de batidas no barro, com as mãos ou com uma madeira, e também jogá-lo na
mesa por diversas vezes a fim de tirar todas as bolhas de ar do seu interior. Inicia-se
o trabalho de construção tridimensional aplicando a técnica do acordelado.
2 - Aplicação da técnica de ocagem
Para este processo é necessário preparar, sovando bem, o bloco de argila e aplicar
na sequência as etapas já conhecidas de ocagem.

5.1.5 Recursos Didáticos

5.1.5.1 Físicos

Sala com mesas e cadeiras para todos os alunos


Água corrente nas proximidades

5.1.5.2 Humanos

Professor e alunos

5.1.6 Materiais

1 Kg de argila por aluno


01 pedaço de madeira de 40 cm por 40cm, aproximadamente, um para cada técnica
Um rolo de madeira, de PVC ou de macarrão, para cada dois alunos
Esteque, ou colher para ocagem
37

Fio de nylon
Garfos ou serrinhas de plásticos para texturas
Barbotina adesiva

5.1.7 Critérios de avaliação

- Avaliação processual através da observação quanto a identificação e a realização


da técnica a ser utilizada, o respeito a ordem seqüencial nas execuções das
técnicas.
- Levantamento verbal dos conteúdos trabalhados para verificar o entendimento e as
possíveis dúvidas.

Obs. O conteúdo apresentado nessa Unidade demanda o tempo de duas aulas para
a apreensão das duas técnicas.

REFERÊNCIAS

FUCK, A. T.; ZEM, A. M. L. Cerâmica: arte da terra: o ensino da cerâmica para


crianças. São Paulo: Callis, 1987.

JEAN, P. J.; VIDAL, J. Ceramicando. São Paulo: Callis, 1997.

NARCISO, G. P. Trabalhador em turismo rural: artesanato em argila. Curitiba:


SENAR-PR, 2006.
38

6 UNIDADE VI – PLANO DE AULA

6.1 ACABAMENTO DAS PEÇAS, SECAGEM E TÉCNICAS DE DECORAÇÃO

6.1.1 Conteúdos

Processo de secagem
Tipos de acabamento
Técnicas de decoração

6.1.2 Justificativa

A durabilidade da argila é indiscutível, portanto, justifica-se uma


preocupação com a qualidade das peças, que estão relacionadas à origem e ao
preparo da matéria prima, bem como com o aproveitamento de técnicas de
acabamento possíveis de serem aplicadas, respeitando cada etapa de secagem das
peças. Para que haja essa aprendizagem é necessário conhecimento de
procedimentos técnicos adequados para utilizar os recursos disponíveis pela própria
especificidade do material, pelos elementos da natureza e também recursos
realizados com materiais encontrados com facilidade no meio escolar.
Para Ross (2004, p. 207), a aprendizagem ocorre em função das interações,
das promoções de estratégias de cooperação e de experiências sociais, dos
desafios oferecidos para o alcance da autonomia e independência e de mediações
organizadas, “o aprender tem uma dimensão individual que se processa
coletivamente. A aprendizagem é sempre mediada por instrumentos, signos e
procedimentos que possibilitam relações entre os sujeitos e objetos e entre os
sujeitos.”
Com essa ideia, firma-se uma importante relação com o objeto de estudo
proposto nesse trabalho que apresenta a modelagem com argila a ser utilizada
como instrumento mediador na aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
39

A rotina vivida na prática das atividades de modelagem com argila -, como o


ato de sovar o material, os procedimentos técnicos para garantir uma construção
resistente que não danifique durante a secagem - também contempla o processo de
acabamento e secagem das peças. Na medida em que os alunos absorvem essas
informações, pela repetição e variação de estratégias, estão processando,
internalizando e se apropriando deste conhecimento.

6.1.3 Objetivos

Identificar o que é uma argila plástica, com um pouco de umidade e uma argila seca.
Identificar e realizar processos de acabamento como, texturas, brunimento
esponjamento, carimbo.

6.1.4 Encaminhamentos metodológicos

Observar as orientações importantes com relação a secagem das peças.


Identificar o estágio de secagem em que a peça se encontra para proceder ao
acabamento de forma adequada.
Iniciar os processos de decoração aplicando a técnica de pintura desejada.

6.1.5 Recursos didáticos

6.1.5.1 Físicos

Sala com mesas e cadeiras para todos os alunos;


Água corrente nas proximidades;
40

6.1.5.2 Humanos

Professor e alunos

6.1.6 Materiais

03 peças modeladas preferencialmente pelos alunos, em pontos diferentes de


secagem
01 retalho de tecido de 40cmx40cm, aproximadamente, para cada aluno
02 pedaços de madeira com espessuras de mais ou menos 3 cm
Esteque, facas plásticas, garfos ou serrinhas, retalhos de tecidos com texturas,
sabugo de milho seco, esponja, pedaço de corrente e outros materiais para textura
Materiais em relevo para carimbar (moedas, folhas naturais) na argila
Colher, pedra lisa tipo ágata, espátula de madeira
Potes de guache com cores diferentes
Cola branca
Recipiente com tampa
Álcool
Pincéis
Verniz para telha
Tinta acrílica para artesanato branca
02 cores diferentes de tinta para vitral
01 bacia velha
Potes para água

6.1.7 Critérios de avaliação

- Avaliação processual por meio da observação quanto identificação das fases de


secagem das peças em argila e aplicação de material a ser utilizado em texturas,
brunimento, lixamento e demais processos de acabamento e decoração.
- Levantamento verbal dos conteúdos trabalhados para verificar o entendimento e as
possíveis dúvidas.
41

REFERÊNCIAS

FUCK, A. T.; ZEM, A. M. L. Cerâmica: arte da terra: o ensino da cerâmica para


crianças. São Paulo: Callis, 1987.

JEAN, P. J.; VIDAL,J. Ceramicando. São Paulo: Callis, 1997.

NARCISO, G. P. Trabalhador em turismo rural: artesanato em argila. Curitiba:


SENAR-PR, 2006.

ROSS, P. R. Conhecimento e aprendizado cooperativo na inclusão. Educar em


Revista. Curitiba, UFPR, n. 23, 2004, p. 203-224.
42

7 UNIDADE VII – PLANO DE AULA

7.1 SUGESTÕES DE PRÁTICAS EXPLORATÓRIAS

7.1.1 Conteúdos

Práticas a partir de procedimentos técnicos já conhecidos


Práticas lúdicas com argila

7.1.2 Justificativa

Quem já não brincou com argila, amassou-a, deu-lhe formas variadas, fez de
conta que era isso ou aquilo? Somente o homem foi capaz de transformar a
natureza, criando coisas que lhe serviam para alguma idéia que tinha na mente e
aprimorando essa habilidade. Da mesma forma, pretende-se aproveitar o
conhecimento previamente adquirido, através do manuseio da matéria prima e do
seu preparo, do domínio técnico para construções em argila, do conhecimento dos
processos de acabamento e decoração, transformando-o em meios que facilitem,
para o professor, a sistematização do trabalho com argila. A aplicação de novas
estratégias e, aliando-as àquelas já conhecidas pelo professor, poderá resultar em
processos ainda mais eficazes para envolver o aluno com deficiência intelectual,
num processo contínuo de aprendizagem.

7.1.3 Objetivos

Aproveitar experiências já adquiridas para construção de novas vivências na


modelagem com argila.
Utilizar estratégias lúdicas com a argila como um meio para a introdução de novos
conceitos.
Combinar procedimentos técnicos conhecidos para gerar outros resultados.
43

7.1.4 Encaminhamentos metodológicos

Apresentar as propostas alternativas com argila e promover análise e discussão com


os alunos a respeito da importância da ludicidade e suas contribuições.
Propor a escolha de duas ou mais propostas para vivência.
Iniciar a prática das propostas alternativas com o grupo.

7.1.5 Recursos Didáticos

7.1.5.1 Físicos

Área externa no pátio


Sala com mesas e cadeiras para todos os alunos
Água corrente nas proximidades

7.1.5.2 Humanos

Professor e alunos

7.1.6 Materiais

02 Kg de argila por aluno


02 Kg de argila colorida em pó
Cola branca
Papel kraft em rolo
Bacias de acordo com o número de cores de argila
02 retalhos de tecido de 40 cm por 40 cm, aproximadamente, para cada aluno
Um rolo de madeira ou de macarrão para cada dois alunos
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01 pedaço de madeira (30 cm) para cada aluno


Esteque ou colheres para ocar e facas plásticas para corte
Barbotina adesiva: argila em pó e água.

7.1.7 Critérios de avaliação

- Avaliação processual por meio da identificação do material a ser utilizado e


preparado, a percepção da seqüência lógica das técnicas apresentadas, da
disponibilidade apresentada nas vivências lúdicas.
- Levantamento verbal dos conteúdos trabalhados para verificar o entendimento e as
possíveis dúvidas.

REFERÊNCIAS

SCHMIDT, M. J. Educar pela recreação. 4 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.

MASSOLA, D. Cerâmica: uma história feita à mão. São Paulo: Ática, 1994

SILVER, R. Teste do desenvolvimento de Silver: cognição e emoção. São Paulo:


Casa do Psicólogo Livraria e Editora LTDA, 1996.
45

8 UNIDADE VIII – PLANO DE AULA

8.1 EXPOSIÇÃO E AVALIAÇÃO

8.1.1 Conteúdos

Organização e montagem da exposição dos trabalhos


Avaliação dos resultados

8.1.2 Justificativa

Promover um momento de valorização e reconhecimento dos avanços


dentro dos processos de modelagem com argila, através das formas encontradas,
dos exercícios desenvolvidos, das descobertas, da apropriação de conceitos,
demonstrando a efetivação de conquistas construídas pela ação do aluno sobre o
meio, a argila e a aprendizagem que ela promove.

8.1.3 Objetivos

Expor e avaliar o trabalho desenvolvido.

8.1.4 Encaminhamentos metodológicos

Escolha do local para exposição.


Elaboração do formato e da ambientação da exposição.
Execução da exposição dos trabalhos e nominação dos autores das modelagens.
Visitação de toda a comunidade e auto-avaliação dos alunos.
Levantamento dos comentários dos envolvidos e da comunidade visitante.
Encerramento da exposição e entrega dos trabalhos.
46

8.1.5 Recursos Didáticos

8.1.5.1 Físicos

Sala para a exposição, mesas, suportes e prateleiras


Água corrente nas proximidades

8.1.5.2 Humanos

Professor, alunos e comunidade escolar

8.1.6 Materiais

A ser definido com os alunos em função da ambientação

8.1.7 Critérios de avaliação

- Avaliação processual através da elaboração da apresentação dos trabalhos e da


execução e da construção da exposição, na observação dos comentários dos
envolvidos e da comunidade visitante e na auto-avaliação dos alunos.
47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que este projeto possa vir a somar aspectos positivos ao dia-a-
dia do professor e dos alunos com deficiência intelectual, pois, tendo em conta as
considerações expostas sobre a inteligência, o deficiente intelectual, a
psicomortricidade e a modelagem com argila, percebe-se quão adequada é a
atividade para aplicação nas escolas especiais. Entende-se que esse material
instrumentaliza o professor que usará das suas habilidades, criatividade e bom
senso para contextualizar o momento do aprendizado e os interesses de seus
alunos a sistematização deste trabalho. Portanto, a abrangência deste estudo tende
a nos fazer entender que o resultado obtido com a utilização da modelagem pode
chegar além do pensamento inicial proposto, o que envolve o atendimento às
diversas deficiências, oferecendo atividades que, pelo manuseio da argila e
associado a diferentes materiais, possam facilitar o desenvolvimento da
sensibilidade, dos saberes, da inteligência. Desta maneira poderemos promover a
aprendizagem, favorecendo tanto a inclusão da criança especial como a das outras
crianças.
48

REFERÊNCIAS

ALVES, T. B. Manual prático de psicomotricidade. Porto União, SC: Uniporto,


1981.

ARGILA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Argila>. Acesso em:


02/05/2010.

BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria & prática. São Paulo: Lovise LTDA, 1998.

FRICKE, J. A cerâmica. 3 ed. Lisboa: Presença,1986.

JEAN, P. J.; VIDAL,J. Ceramicando. São Paulo: Callis, 1997.

LOWENFELD, V. A criança e sua arte: um guia para os pais. 2 ed. São Paulo:
Mestre Jou, 1977.

MASSOLA, D. Cerâmica: uma história feita à mão. São Paulo: Ática, 1994.

NARCISO, G. P. Trabalhador em turismo rural: artesanato em argila. Curitiba:


SENAR-PR, 2006.

OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980.

PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária


Ltda, 1976.

PILLOTTO, S. S. D. Linguagem da arte na infância. Joinville, SC: Univille, 2007.

RAU, M. C. T. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica, Curitiba:


Ibpex, 2007.

ROSS, P. R. Conhecimento e aprendizado cooperativo na inclusão. Educar em


Revista. Curitiba, UFPR, n. 23, 2004, p. 203-224.
49

SCHMIDT, M. J. Educar pela recreação. 4 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.

SILVER, R. Teste do desenvolvimento de Silver: cognição e emoção. São Paulo:


Casa do Psicólogo Livraria e Editora LTDA, 1996.

SANTOS, P. S. Ciência e tecnologia de argilas. 2 ed. São Paulo: E. Blücher LTDA,


1989. v.1.

VYGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo:


Martins Fontes, 1998.

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