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PRODUÇÃO TEXTUAL

AULA 3

Prof. Jeferson Ferro


CONVERSA INICIAL

Olá, alunos e alunas de jornalismo!


Nesta aula, vamos conversar sobre as relações entre o texto jornalístico
e o seu contexto de produção (sim, de certa forma retomamos a discussão sobre
a pragmática, que fizemos na aula anterior). Especificamente, vamos tratar das
relações do texto com outros textos e também com as imagens.
Além disso, falaremos sobre aspectos estilísticos do texto jornalístico. Por
exemplo, a questão dos níveis de formalidade e as características dos textos no
universo digital. Por fim, abordaremos o texto de opinião, um gênero que se
tornou bastante presente na internet.

CONTEXTUALIZANDO

Todo texto faz parte de uma grande rede textual, ou seja, ele se
desenvolve a partir de outros que vieram antes dele e, se tudo der certo, será
referência para outros que virão. Isso é o que chamamos de intertextualidade.
No mundo digital, então, essa relação se torna ainda mais evidente do que o era
na época analógica – os hiperlinks não nos deixam esquecer.
Outro aspecto que ganha relevância nesse contexto de publicação é a
relação entre texto e imagem: quantos textos você lê na internet, hoje em dia,
que não estão acompanhados de imagens (fotos, desenhos, gráficos etc.)?
Pouquíssimos, não é verdade?
Do ponto de vista estilístico, uma questão que se coloca para o jornalismo
digital tem a ver com os níveis de formalidade. Se está na internet, tem de ser
informal? Como equilibrar o coloquialismo com a linguagem formal no texto
jornalístico?
Por fim, abordaremos um gênero clássico da escrita: o texto
argumentativo. Mais uma vez, o mundo digital nos coloca novos desafios: somos
constantemente chamados a opinar sobre os mais diversos assuntos. Mas como
escrever um texto de opinião com consistência? Como você pode ver, nesta
unidade analisaremos a produção textual sob vários aspectos que sofrem a forte
influência da comunicação digital. Venha comigo nessa breve jornada de
reflexão sobre a escrita para que, ao final, você tenha se tornado um escritor
mais eficiente e um leitor mais perspicaz.
Os temas abordados nesta aula são:
1. A intertextualidade: o texto dentro do texto;
2. O texto e a imagem no jornalismo;
3. Formalidade e informalidade no texto jornalístico;
4. O texto digital;
5. O texto de opinião.

Confira a matéria que sugerimos a seguir e reflita sobre a relação entre


texto e imagem.

Saiba mais
País de privilegiados, de Luigi Mazza e Renata Buono, na Revista Piauí.
Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/vida-nos-extremos/>. Acesso em:
15 jan. 2020.

TEMA 1 – A INTERTEXTUALIDADE: O TEXTO DENTRO DO TEXTO

A intertextualidade é um conceito fundamental para a leitura e produção


de textos. A ideia básica é a de que os textos frequentemente fazem referência
a outros que foram publicados antes deles. Isso significa que os textos
“conversam” entre si. Essa conversa também pode ser entendida como uma
influência causada por um texto-fonte sobre textos que virão depois dele.
Não se trata de um fenômeno contemporâneo, pois essa rede de
comunicação existe desde sempre. Porém, a ascensão dos meios eletrônicos de
comunicação intensificou bastante essa característica da comunicação escrita.
O leitor, diante de um texto na internet, pode facilmente identificar a qual “rede”
de textos ele está ligado.
Ela pode se manifestar de formas diversas. Considere o caso de um fato
noticiado pela imprensa ao longo de vários dias, como a revelação de um
esquema de corrupção ou a notícia de um atentado terrorista, por exemplo. O
primeiro texto a dar a notícia, que pode ser um furo de reportagem, inicia uma
corrente textual que vai se estender ao longo de todo o processo de cobertura
jornalística daquele fato. Este texto inicial será retomado por outros jornalistas
que escreverão sobre o assunto nos próximos dias, citando dados ali
apresentados, declarações de envolvidos etc.
Podemos dizer que a intertextualidade pode ser explícita, quando se
deixa claro qual é o texto mencionado, ou implícita, quando essa referência não
é dada na superfície do texto. Um caso típico de intertextualidade explícita no

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jornalismo acontece quando um texto cita outro como fonte de informação. Por
exemplo: “Em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo, edição de
10/04/2015, o presidente da empresa afirmou desconhecer quaisquer fatos
que...”. Em situações como essa, é comum incluir um link para o texto
mencionado. Outro aspecto importante desse caso de intertextualidade é que
ele se realiza por meio da paráfrase, ou seja, pela reescrita de parte do texto
original: o autor reproduz as informações daquele texto, mas usando suas
próprias palavras. A cópia de um trecho do texto original também é possível.
Neste caso, trata-se de uma citação direta, e o trecho copiado deve estar
devidamente identificado.
A paráfrase e a citação direta são duas estratégias típicas dos textos
científicos e acadêmicos. Nesse ambiente de escrita, o autor deve respeitar de
maneira muito cuidadosa a noção de autoria, sob o risco de cometer o plágio
(crime imperdoável). Todo texto acadêmico é essencialmente intertextual, pois é
construído a partir de outros que abordam o seu tema. Isso não significa, todavia,
que fazer referência a um texto implica concordar com ele. Ao se apropriar de
um texto anterior, o autor poderá utilizá-lo seja porque reforça seu ponto de vista,
seja porque discorda dele, e é de seu interesse debater essa visão contrária.
Outra forma de fazer intertextualidade é resgatar um texto famoso, de
conhecimento público, e utilizá-lo em um novo contexto de enunciação, que pode
não ter qualquer relação com o texto original. Ou seja, um autor se apropria da
força de um texto clássico, bem conhecido por todos, para dizer algo novo, sem
qualquer ligação com o conteúdo do texto original. “Ser ou não ser intertextual,
eis a questão”, percebe? Nesse exemplo, retomamos o questionamento clássico
de Hamlet, personagem de Shakespeare.
Vejamos um exemplo. O poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, é
um texto que certamente pertence ao conjunto canônico da literatura brasileira.
Escrito em 1843, enquanto o poeta estudava em Portugal, o poema é uma
manifestação da saudade pela terra natal, neste caso, o Brasil. Sua última
estrofe é composta dos seguintes versos:

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,

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Onde canta o Sabiá.

Já nos anos 1920, o poeta modernista Oswald de Andrade se apropriou


do poema de Gonçalves Dias e construiu versos que falavam do seu momento
de vida e da sua cidade, no poema Canto de regresso à pátria. Seus últimos
versos são:

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

Mais recentemente, o escritor curitibano Dalton Trevisan parodiou o


poema clássico, escrevendo um texto em que expressa o desejo não de retornar
à terra natal, mas de fugir dela. Em sua Canção do Exílio, de 1984, Trevisan
inicia o texto com os seguintes versos:

Não permita Deus que eu morra


Sem que daqui me vá
Sem que diga adeus ao pinheiro
Onde já não canta o sabiá

Nesses casos, o leitor só percebe que existe intertextualidade se já


conhece o texto-fonte, o poema de Gonçalves Dias. A paródia, como o exemplo
de Dalton Trevisan nos mostra, só existe como intertextualidade, pois ela irá
obrigatoriamente se referir a outro texto. Luis Fernando Veríssimo é
provavelmente o cronista contemporâneo mais famoso do Brasil. A paródia é um
gênero que ele emprega com muita frequência em suas publicações cotidianas
na imprensa.

Saiba mais
Leia a seguir a crônica Psiu, disponível em:
<http://maisocitocina.blogspot.com.br/2013/03/o-principe-encantado-e-as-
mulheres-luis.html>. Acesso em: 15 jan. 2020.

Difícil imaginar um leitor que não seja capaz de entender essa crônica
como uma paródia do clássico conto de fadas, não é mesmo? O autor emprega
a estrutura princesa-beija-sapo-que-vira-príncipe, mas não está interessado em
discutir seu enredo. Ele quer, na verdade, usar a força desse texto para promover
um novo olhar sobre a sociedade atual.

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TEMA 2 – O TEXTO E A IMAGEM NO JORNALISMO

A combinação entre texto e imagem no jornalismo é algo bastante


tradicional, que remonta às suas origens. Pode parecer que essa seja uma
conjunção natural, mas é importante lembrar que a tecnologia de imprensa é
anterior à fotografia. E mesmo charges e ilustrações, já presentes nos primeiros
jornais diários, envolviam um alto custo de produção. É com as transformações
tecnológicas que a mídia começa a se tornar mais e mais imagética, ou seja,
mais centrada no poder comunicativo das imagens.
É própria da linguagem jornalística contemporânea a articulação intensa
entre texto e imagem. Em seu livro Jornalismo de revista, Marília Scalzo comenta
que uma pesquisa feita pelos leitores da revista Veja mostrou que uma matéria
de uma coluna sem foto ou ilustração é lida por 9% dos leitores, enquanto o
mesmo texto com uma foto sobe para 15%. Isso vale para a internet, em que
uma boa imagem destaca uma notícia no meio do frenesi das redes sociais.
A primeira “imagem” que deve preocupar um veículo é a sua própria. Cada
publicação possui uma identidade visual particular prevista pelo planejamento
gráfico. Boa parte dela é motivada por herança histórica e convenções de
gênero. No fundo, é essa a diferença central entre jornais e revistas, por
exemplo. Um jornal, antes de tudo, tem “cara de jornal”. Isso vale para a revista.
Espaços entre colunas (se houver), letras e linhas, fonte, tamanho de título, cores
e, claro, onde e como colocar uma imagem. Tudo isso é parte da identidade
visual de um veículo.
Por isso, todo veículo de comunicação deve ter um planejamento gráfico
que se articula com o planejamento editorial (você estudará mais sobre isso em
Diagramação e layout). É, em essência, a maneira como o jornal, revista ou site
vai usar os textos e as imagens para construir seu conteúdo, criando uma forma
única e própria de expressão. Envolve desde os seus posicionamentos
sociopolíticos, refletidos nas matérias, até o tamanho e o posicionamento de
suas fotos em relação aos textos.
Por melhor que seja uma foto, por mais evidente que seja o fato que se
busca destacar, é sempre necessário articulá-la com o texto. Por isso toda foto
em qualquer veículo virá, pelo menos, acompanhada de uma legenda, que tem
a função de contextualizar ou chamar atenção para algum detalhe que seja
importante para a história que está sendo contada. Uma fotolegenda, inclusive,

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é a prática de publicar apenas a foto e sua legenda, sem acompanhar uma
reportagem, recurso usado atualmente em diversos sites.
Imagens ajudam a legitimar o discurso da verdade do jornalismo,
reforçando que o texto é baseado em fatos verificáveis. Mesmo em uma
reportagem construída com depoimentos, em que as informações não são
atestadas por uma imagem, é importante dar um rosto às falas que aparecem no
texto, humanizando e personalizando as informações.
Muitas vezes a indicação de quantas e quais imagens irão acompanhar o
texto pode vir já na pauta. Mas, como em todo o processo jornalístico, o repórter
precisa de flexibilidade e astúcia para compreender quando a reportagem leva
para outros caminhos, exigindo ou possibilitando a presença de outro tipo de
fotos, mapas, ilustrações, gráficos ou infográficos.

2.1 O impacto da imagem

A última semana de novembro de 2015 trouxe um fato inédito para a


política brasileira: um senador da República foi preso durante o exercício de seu
mandato. O senador Delcídio do Amaral (PT), segundo a Justiça, estaria
atrapalhando as investigações da operação Lava-Jato. Delcídio era o líder do PT
no Senado, e sua prisão foi mais um golpe duríssimo contra o partido.

Saiba mais
O jornalista Mário Magalhães interpretou o fato a partir de uma foto do
líder maior do partido, o ex-presidente Lula: Uma foto para a história, disponível
em: <http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2015/11/27/uma-foto-
para-a-historia/>. Disponível em: 15 jan. 2020.

O texto de Mário Magalhães é exemplar sobre o poder de uma foto para


o discurso jornalístico. A imagem do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva,
abatido por conta de uma gripe, na mesma semana em que uma liderança do
seu partido (PT) foi presa, mostra essa relação. A legenda, O ex-presidente Lula,
que fez críticas ao senador Delcídio do Amaral, é o que faz a relação de sentido
entre a imagem e o texto que a segue.
As olheiras e a expressão da boca, que mostra certa amargura, em
substituição ao sorriso habitual, combinadas com o texto sobre Delcídio do
Amaral, constroem o discurso de que Lula sofreu uma grande derrota. A foto é
mais do que uma mera ilustração: é parte das informações que a matéria busca

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passar para o leitor, pois comunica o descontentamento do líder de maneira
impactante.

Saiba mais
O abutre, filme de Dan Gilroy estrelado por Jake Gyllenhaal e Rene Russo
é inspirado na história de Arthur “Weegee” Fellig, fotógrafo de Nova York que
nos anos 1930 instalou um rádio policial em seu carro e passava as madrugadas
registrando crimes com sua câmera, fazendo fotos sensacionalistas que vendia
para quem pagasse melhor. Assim como o Louis Bloom, o protagonista do filme,
Weegee chegou muitas vezes antes da polícia na cena de crime.

2.2 O infográfico

As tecnologias de edição de imagem facilitaram a integração entre


imagem e texto, permitindo ao planejamento gráfico se tornar menos engessado.
Com isso surgiu o infográfico, que é uma maneira de fornecer informação ao
leitor utilizando um conjunto de gráficos, tabelas, desenhos, fotos, legendas,
ilustrações, mapas, maquetes etc.
Os infográficos são mais bem utilizados na hora de descrever processos,
fazer analogias e conferir dimensão de tamanho. Sempre devem complementar
o texto da reportagem, evitando a redundância. É possível fazer o leitor
mergulhar nas informações de forma didática, otimizando a apreensão do
conteúdo.

Saiba mais
Confira alguns exemplos de infográficos premiados da revista
Superinteressante: <https://super.abril.com.br/ideias/infograficos-da-super-
faturam-premios-internacionais-no-malofiej/>. Acesso em: 15 jan. 2020.
Onde vive e onde não vive ninguém no Brasil:
<https://www.nexojornal.com.br/grafico/2019/04/16/Onde-vive-e-onde-
n%C3%A3o-vive-ningu%C3%A9m-no-Brasil>. Acesso em: 15 jan. 2020.
Biomimetismo (revista Galileu):
<http://visualoop.com/media/sites/3/2012/08/5-Biomimetismo.jpg>. Acesso em:
15 jan. 2020.
Futurismo – tab que dispõe o conteúdo de texto e a imagem de maneira
fluida, explorando as possibilidades do html: <http://tab.uol.com.br/futurismo/>.
Acesso em: 15 jan. 2020.

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TEMA 3 – FORMALIDADE E INFORMALIDADE NO TEXTO JORNALÍSTICO

Nossa discussão agora é sobre o estilo do texto jornalístico – mais


especificamente, sobre níveis de formalidade na linguagem. Como saber quando
e onde se pode ser mais informal na construção do texto? Como articular esses
dois polos aparentemente opostos, deixando sempre a informação, o norte de
todo texto jornalístico, em primeiro lugar?
Os estudiosos da língua costumam comparar os diferentes registros
linguísticos que usamos em nossas interações sociais com a maneira como nos
vestimos. Eles dizem: “É possível ir à praia de terno e gravata, mas não é uma
boa ideia”. Isso quer dizer que a linguagem que usamos deve ser apropriada à
ocasião do uso. A escolha entre o uso da norma culta em seu registro mais formal
e o uso coloquial da língua portuguesa seria, então, uma questão de entender o
contexto. Os poetas, que em geral captam muito bem a dinâmica da língua,
costumam brincar com essas questões. Um dos mais conhecidos poemas de
Oswald de Andrade faz justamente isso:

Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

© Oswald de Andrade.

Pronominais é um poema que explora, justamente, essa tensão que há


entre a norma culta e a escrita coloquial. O uso de textos informais e formais
dentro do jornalismo opera da mesma forma. É preciso observar o espaço em
que se escreve, como o poeta deixa claro. Em ambientes acadêmicos, observar
o rigor da norma culta do português é a regra. Nas ruas, onde de fato se
compraria um cigarro, melhor optar pelo coloquial.

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Assim como muitas outras questões envolvendo o jeito como se escreve
no jornalismo, é a linha editorial do veículo que irá determinar o grau de
liberdade conferido aos jornalistas para serem mais ou menos informais
em seus textos. Tabloides sensacionalistas, como o Extra, do Rio de Janeiro,
ou o Super Notícias, de Belo Horizonte, primam pela linguagem popular,
enquanto jornais voltados à economia, como o Valor Econômico ou o Jornal do
Comércio, que trazem textos mais sisudos, raramente permitem coloquialismo
em suas matérias. O estilo é, inclusive, parte de sua estratégia de
convencimento.
Observe a capa de jornal Extra <https://extra.globo.com/capas-jornal-
extra/2019-03-30-23545175.html?mesSelecionado=Mar&ano=2019>. Publicada
em 23 de março de 2019, ela é um exemplo da linguagem informal que
caracteriza o discurso desse tipo de jornal. A foto que ocupa a maior parte da
página vem acompanhada do texto Sandy, é você?, fazendo uma provocação
ao leitor, chamando-o para uma matéria do caderno de entretenimento. Ao lado,
outra foto com uma “celebridade” apresenta o texto Justiça manda DJ parar na
‘gaiola’. Nenhum desses títulos seria empregado em um jornal “sério”, como
Folha de S.Paulo, O Globo, Gazeta do Povo etc.
Em geral, os jornais, mesmo os mais sérios, permitem que seus nomes
de destaque se manifestem livremente em colunas de opinião. No Brasil, hoje, é
difícil pensar em um colunista mais informal do que Xico Sá, atualmente no El
País.

Saiba mais
Leia o trecho que reproduzimos a seguir:
A mulher busca um homem que não existe
Bora começar com um grande título de livro: “Um bom homem é difícil de
encontrar”, assim a que é teu gênia Flannery O’Connor, nega fodona norte-
americana da Georgia (1925-1964). Esta coletânea de contos você pode
encontrar no Brasil nas melhores casas do ramo e nos melhores atchins dos
sebos, vilge, vale muito a pena.
O homem bom, de tudo bom, não existe. Além, muito além da exigência
feminina, nossa fraqueza mesmo já mostramos de cara. Mesmo o fofo, aquele
que você, amiga, julga como quase uma versão personificada de uma música
fofíssima de Los Hermanos, nem sempre foforiza por mais de três encontros. Até
acho que o fofo, o cara que promete-promete-promete e não entrega, é o novo

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canalha! Este engana muito mais do que o cara de quem você não espera nada
mesmo.
SÁ, X. A mulher busca um homem que não existe. El País, 09 out. 2015. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/09/opinion/1444392564_573803.html>. Acesso em: 19
dez. 2019.

O tom do texto é o da conversa informal, como se estivéssemos sentados


à mesa de um bar, batendo papo. A primeira palavra é nada menos do que bora,
um coloquialismo que parte da redução da expressão vamos embora para
significar vamos fazer isso. E segue nesse ritmo com expressões do mesmo
gênero: nega fodona, atchins, vilge. Esse grau de informalidade apela para uma
intimidade com o leitor, fazendo-o sentir-se muito próximo do escritor, e essa
proximidade, no entanto, servirá para o bem e para o mal. Se por um lado pode
aproximar o leitor, por outro pode afastá-lo com a mesma intensidade quando
ele não se sentir em sintonia com o autor. Portanto, é uma escolha que envolve
um risco.

TEMA 4 – O TEXTO DIGITAL

Falar sobre o texto digital implica tratar da intertextualidade, da relação


entre texto e imagens e da questão da informalidade, cada vez mais presente
quando se escreve para a internet, já que não há como negar que o ambiente
digital representou um forte impulso de informalidade para a escrita de forma
geral.

Leituras complementares
Uma rápida referência sobre o desenvolvimento da internet:
<https://www.olivetreefilmes.com.br/blog/entenda-evolucao-da-web-1-0-2-0-e-3-
0/>. Acesso em: 15 jan. 2020.
A linguagem jornalística na web: uma análise teórica, artigo de Paulo
Negri Filho e Lousanne Barbosa Paiva:
<http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/21359>.
Acesso em: 15 jan. 2020.

Quando a internet comercial surgiu, no início dos anos 1990, o paradigma


vigente era o que se convencionou chamar de web 1.0. Algumas pessoas, com
conhecimento avançado de linguagem de programação, detinham as “chaves do
reino”, disponibilizando o conteúdo para terceiros. Era uma via de mão única,

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mas já bastante revolucionária, como o próprio nome sugeria. A internet era uma
teia de informação que nascia com a lógica intertextual já presente em sua
gênese. Mas as coisas mudariam, de fato, na revolução seguinte.
A web 2.0, surgida no começo dos anos 2000, mudou tudo por ser
colaborativa. Não há mais separação entre quem produz e quem compartilha. É
a internet dos blogs, das redes sociais e dos comentários. É a internet do texto
de opinião, da polifonia e da polissemia. Todos podem ser produtores de
conteúdo, com direito a um pitaco definitivo sobre qualquer assunto. É a internet
da leviandade, mas também da construção coletiva do conhecimento. A
Wikipédia, as ferramentas de produção coletiva de textos e as redes sociais são
a sua cara. Além disso, a web 2.0 não se restringe ao texto escrito. Novas
tecnologias permitem ao texto se integrar com o espaço virtual onde se lê,
mesclando vídeos e imagens, aumentando o potencial informativo da leitura.
A descentralização dos grandes conglomerados de mídia, permitindo que
qualquer pessoa se tornasse um “repórter”, junto ao potencial multimidiático das
plataformas online, fez com que veículos nascidos para a internet ganhassem
mais e mais notoriedade. Todos já entenderam que as mídias digitais são tão
importantes quanto as mídias tradicionais, por isso merecedoras de sua atenção.
Para o jornalismo, os dois conceitos próprios da web 2.0 que mais
importam são os blogs e as redes sociais, o que gera complicações específicas
dentro do que vínhamos discutindo. Afinal, eles (blogs e redes sociais) podem
ser pensados como veículos próprios e independentes, como parte de um
contexto maior de produção de conteúdo – caso em que se constituem em uma
maneira particular de escrita –, ou ainda como elementos dentro de uma linha
editorial mais ampla, como os blogs dentro do site de um jornal, por exemplo.

Saiba mais
Para conhecer dois exemplos de blogs culturais, acesse:
1. Chico Barney no UOL: <https://chicobarney.blogosfera.uol.com.br>. Acesso
em: 15 jan. 2020.
2. Cinema com Rapadura: <http://cinemacomrapadura.com.br/>. Acesso em: 15
jan. 2020.

No caso de Chico Barney, seu blog funciona com a mesma lógica de uma
coluna em um jornal impresso. Seus textos refletem diretamente sua opinião e
são publicados sem precisar passar pelo crivo de um editor, desde que respeitem
a linha editorial do UOL. Ou seja, seu espaço possui uma lógica própria em
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diálogo com a do veículo que o suporta. Já o blog Cinema com Rapadura, por
outro lado, é um veículo próprio, que segue regras de funcionamento com a sua
própria linha editorial. Mesmo sendo parceiro do Diário do Nordeste (como o
header indica), o conteúdo do jornal não tem vinculação direta com o conteúdo
produzido no blog.
Como os blogs são próprios da cultura pop, é fácil pensá-los como sempre
voltados ao entretenimento ou mesmo à lógica confessional, de onde surgiu seu
nome (weblog, ou seja: acesso pessoal de rede, o que o levou a ser usado
originalmente como um “diário virtual”). Mas há muitos blogs de linha bem séria,
dedicados a assuntos “duros”, como a política.
Os blogs não têm uma linguagem específica, por isso podem ser
facilmente adaptáveis para qualquer tipo de projeto editorial, seja ele particular
ou integrado em um contexto maior de mídia. Também a natureza do conteúdo
pode ser de grande diversidade: é possível ter um blog para uma organização
científica, para uma empresa, uma escola, um hospital, um cachorro – sim, há
cachorros que têm blog – etc. Já nas redes sociais, a formatação e a linguagem
tendem a ser bastante específicas, e, em alguns casos, até os conteúdos são
bastante direcionados. Cada uma delas exige um tom específico, o que torna um
desafio trabalhar um conteúdo central em diversos veículos distintos. A
brevidade do Twitter, cuja informação completa precisa caber em 280
caracteres, traz um desafio de ordem completamente diferente da informalidade
do Facebook, que exige imagens de destaque e um texto pendendo para o
sensacionalismo, atraindo comentários, curtidas e compartilhamentos, os quais
deverão resultar em acessos ao site principal. O Instagram, por sua vez, tem um
apelo visual bastante pronunciado e tornou-se o hábitat por excelência dos
slideshows e vídeos curtos.

TEMA 5 – O TEXTO DE OPINIÃO

Dar uma opinião sobre qualquer assunto sempre será uma questão
bastante pessoal, pois o caráter dessa opinião estará intimamente ligado à
vivência de seu proponente, o que ele ou ela sabe sobre o assunto e quais são
seus interesses em defender uma determinada ideia. Por isso, o texto opinativo
é necessariamente autoral, diferentemente do texto informativo, que muitas
vezes não traz a assinatura de seu autor.

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Assim, para efeitos didáticos, podemos opor estes dois tipos de texto: o
opinativo, em que se argumenta em favor de uma ideia, por isso expressa a
opinião de alguém, e o informativo, em que o objetivo principal é transmitir
informações de forma imparcial, o que em muitos casos torna sua autoria pouco
ou nada relevante. Na prática, porém, não é tão fácil separar esses dois tipos de
texto. Por um lado, o texto opinativo deverá fornecer informações confiáveis para
embasar seus argumentos se realmente quiser convencer seu leitor. Por outro,
o autor de um texto informativo seleciona e apresenta as informações de uma
determinada maneira, o que pode revelar intenções que vão além da mera
reprodução de dados concretos sobre o mundo.

Saiba mais
Que tal fazermos um teste? Leia as cinco frases dispostas a seguir. Julgue
se o que é dominante nelas é uma informação concreta ou uma opinião de
alguém, e classifique-as a partir desse julgamento como informativas (I) ou
opinativas (O).
1. O aborto é uma questão de saúde pública. (__)
2. O Brasil não é um país racista. (__)
3. A “teoria da evolução das espécies”, de Charles Darwin, explica como
o homo sapiens surgiu na terra. (__)
4. Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais provável é que ela seja
feliz. (__)
5. Maltratar animais é tão errado quanto maltratar seres humanos. (__)

Pode ser bem complicado separar fatos de opiniões, não é mesmo? Se


olharmos para o passado, veremos que muitas “verdades científicas”,
afirmações que já foram aceitas como absolutamente inquestionáveis, são hoje
risíveis – “o sol gira em torno da Terra”, por exemplo. Há uma piada entre os
cientistas que explicita essa descrença no poder revelador dos fatos que, na
ciência, costumam ser traduzidos em números: “Estatística é a arte de torturar
os números até que eles digam o que você quer ouvir”.
Sabemos que é muito difícil produzir um texto completamente isento de
opinião. Todavia, isso não significa que a busca pela imparcialidade deixe de ser
um princípio válido na redação jornalística, assim como na ciência. Ainda que a
identidade de um autor esteja sempre presente na sua escrita, “contaminando”
sua imparcialidade, ele ou ela deverá escolher entre tentar escrever de forma

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imparcial ou não, e sua escolha terá efeitos bastante concretos no resultado do
texto.
Hoje em dia, somos bombardeados por informações ininterruptamente, já
que vivemos conectados a “fontes de informação” inesgotáveis – o Facebook, e-
mail, WhatsApp, portais de informação etc. Também somos frequentemente
pressionados a nos posicionar nas redes sociais sobre as polêmicas do
momento, sejam elas oriundas do último caso de corrupção no Governo Federal,
ou sobre a nova gatinha de uma celebridade qualquer. Uma certa descrença no
poder último da ciência em determinar o que é verdade, associada às pressões
midiáticas pela nossa opinião a todo instante, produz um cenário de confusão
em que se poderia facilmente cair na falácia de que tudo é opinião e de que todas
as opiniões são igualmente válidas. Nada mais falso. Há dois aspectos centrais
que podem nos iluminar nesse “caos opinativo”: a argumentação e a análise de
pontos de vista distintos. Um bom texto opinativo é aquele que consegue
construir uma argumentação sólida, o que não é possível quando não se
conhecem pontos de vista diferentes dos que você defende. Qualquer redator
que deseje escrever bons textos opinativos, portanto, deverá saber como
manusear esses dois elementos no texto. Vejamos agora, a partir de alguns
textos da imprensa, como eles se manifestam.

5.1 Elementos da argumentação

É possível escrever dois textos completamente diferentes a partir dos


mesmos dados. A forma como se realiza a organização lógica dos fatos
apresentados, bem como o valor conferido a eles dentro da argumentação, é o
que dá sentido a um texto opinativo e revela as intenções de quem escreve. Num
texto opinativo, portanto, não basta “mostrar” as coisas; é preciso dizer
quais são as relações lógicas entre elas, suas causas e consequências,
pois o que se busca é convencer o leitor de um determinado ponto de vista, ou
ao menos provocá-lo a pensar sobre o tema.
Jornais e revistas cedem seu espaço para que intelectuais de destaque,
jornalistas ou não, escrevam textos de opinião. Os que publicam com
periodicidade determinada são os chamados colunistas. Em geral, possuem
liberdade para expressar suas opiniões, que não são necessariamente as
mesmas opiniões do veículo em que escrevem. Os veículos de comunicação,

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por sua vez, expressam sua opinião nos editoriais, que podem ser assinados
por uma única pessoa, o editor, ou representar um grupo de editores.

Saiba mais
Vejamos um exemplo desse tipo de texto, do qual extraímos alguns
excertos.
Resposta necessária
Em boa hora a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) ajuizou ação no
Supremo Tribunal Federal na qual pede a declaração de inconstitucionalidade
da recém-aprovada Lei do Direito de Resposta. (...)
Imagine-se que um juiz deu razão a uma pessoa que tenha se declarado
ofendida por determinada reportagem; a sentença obriga o órgão a publicar a
resposta; deve fazê-lo em 24 horas, sob pena de precisar pagar multa elevada.
Caso queira se defender dessa decisão, o órgão poderá, naturalmente, contar
com o reexame da situação por um tribunal. Precisará esperar, entretanto, que
um colegiado de desembargadores se reúna; caso isso não aconteça a tempo –
o que decerto constituirá a regra–, terá de arcar com os termos da sentença.
Não espanta que esse estapafúrdio juízo colegiado não figure em nenhuma outra
parte do ordenamento jurídico brasileiro. Sua existência contraria os princípios
do contraditório e da ampla defesa, duas garantias banidas somente por
governos ditatoriais. (...) Esta Folha, não custa repetir, tem defendido a criação
de uma lei específica para regular o direito de resposta. Isso é necessário tanto
para assegurar prazos razoáveis a ambas as partes como para definir os
parâmetros de sua utilização. Obviamente, nada disso pode ser feito em
desrespeito à Constituição. Dessa lição básica, contudo, o legislador se
esqueceu – e só o Supremo Tribunal Federal, agora, pode aplicar o devido
corretivo.

RESPOSTA necessária. Folha de S.Paulo, 27 nov. 2015. Disponível em:


<http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/11/1711733-resposta-necessaria.shtml>. Acesso
em: 19 dez. 2019.

Nesse editorial, a leitura do título e do primeiro parágrafo já deixam claro


ao leitor qual é o assunto do texto e qual é a posição tomada por quem escreve:
opor-se à nova Lei do Direito de Resposta. Essa interpretação torna-se
inequívoca a partir do emprego de dois adjetivos: “necessária”, no título, e “boa”,
na primeira frase. Uma vez estabelecidos o assunto e a posição que o autor toma
em relação a ele, o restante do texto será dedicado à argumentação em defesa

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desse ponto de vista. Nesse sentido, o texto expõe, hipoteticamente, as
consequências da lei e as qualifica como resultado de um “estapafúrdio juízo
colegiado”.
Por fim, o texto mostra-se favorável à inspiração da lei, reconhecendo que
ela é necessária, ainda que sua forma atual seja equivocada. Aqui temos,
portanto, muito mais do que a mera exposição de um fato seguida de um
julgamento de valor sobre ele: temos a formulação de hipóteses que reforçam
esse julgamento e o reconhecimento parcial do ponto de vista contrário, qual
seja, a necessidade da criação de uma lei que verse sobre o assunto.
Vejamos agora um exemplo de outra natureza, no caso de um texto de
colunista. Maria Rita Kehl era colunista do jornal O Estado de São Paulo, em que
publicou o texto Dois Pesos..., durante a corrida presidencial de 2010, quando
José Serra e Lula se enfrentaram no segundo turno. O texto causou muita
polêmica e resultou na sua demissão. Mais tarde, ela alegaria que fora demitida
por “um delito de opinião”. Abaixo reproduzimos trechos do texto.

Leitura complementar
Dois pesos...
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores
que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a
discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às
urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com
o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas,
transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar
disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos
luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos
últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o
jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões
perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse
contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O
argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das
políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto
quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam
sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

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KEHL, M. R. Dois pesos... O Estado de São Paulo, 02 out. 2010. Disponível em:
<http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,dois-pesos-imp-,618576>. Acesso em: 19 dez.
2019.

Ao mencionar, no início do texto, que o veículo de imprensa em que


escreve assumiu uma posição quanto à disputa eleitoral, a autora não chega a
afirmar a que os “dois pesos” mencionados no título se referem, mas já nos dá
uma pista: trata-se de discutir o posicionamento político no conturbado ambiente
de véspera de eleição, que é descrito no restante do parágrafo. No segundo
parágrafo, ela declara seu argumento principal: a desqualificação do voto dos
mais humildes por parte dos mais ricos e suas verdadeiras motivações, que ela
pretende revelar.
A partir daí a autora constrói sua argumentação por meio da contestação,
muitas vezes irônica, do ponto de vista oposto ao seu. Esse tipo de
argumentação é muito contundente, pois se apropria das palavras do outro e
confere a elas uma determinada interpretação, apenas para refutá-la. Observe
este trecho: “Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de
chinelo como antigamente.” Aqui, a argumentação da autora conclui que quem
defende o ponto de vista da desqualificação do voto dos humildes são as
mesmas pessoas que pensam dessa forma, ou seja, que diriam frases ofensivas
como aquelas. Essa estratégia de argumentação é bastante agressiva e não
deixa espaço para o consenso, pois separa claramente dois lados opostos numa
luta em que o objetivo é derrubar o adversário. Ainda assim, seria justificável
demitir a colunista por isso? O fato é que a demissão dela teve forte repercussão
negativa para o jornal e foi debatida pelo Observatório da Imprensa” (link abaixo).

Saiba mais
Entrevista com Maria Rita Kehl, a respeito de seu polêmico texto de
opinião, seguida por uma entrevista com um diretor do jornal:
<http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/fui-demitida-por-
um-delito-de-opiniao/>. Acesso em: 15 jan. 2020.

TROCANDO IDEIAS

Divergência de opiniões – escolha um tema polêmico e construa um painel


de discussão, por meio de um wiki, sobre o assunto. Trabalhe em equipes. Os
membros da equipe deverão se revezar expondo seus pontos de vista, que
devem sempre discordar, ainda que em parte, do texto anterior. O que importa é
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o exercício de argumentação, a construção de hipóteses a partir de fatos e
dados, com consequências lógicas, e o respeito às opiniões diferentes. No
entanto, esse respeito não significa que se deva concordar com o outro ou
aceitar argumentações frágeis. A discussão deve levar à melhor conclusão
possível, diante dos fatos. Cada texto deverá ter entre 120 e 150 palavras.

NA PRÁTICA

A associação de moradores do seu bairro anda meio abandonada.


Poucas pessoas estão participando das discussões e ajudando a resolver os
problemas. A presidente da associação entendeu que se trata de um problema
de comunicação, já que a associação não dispõe de nenhum canal virtual.
Assim, você foi convidado(a) a elaborar um blog para a associação, uma conta
de Twitter e uma página no Facebook.
Seu primeiro objetivo é trazer as pessoas para a próxima reunião da
associação, que planeja discutir o problema da segurança no bairro. Nessa
pauta, há uma questão polêmica: muitos moradores têm adquirido cachorros
ferozes para proteger suas residências, mas essa medida implica riscos para
toda a comunidade, pois os animais podem fugir e atacar pessoas na rua. Já
houve um caso em que um cachorro fugiu de seu dono e atacou outro animal,
menor, de um vizinho, causando-lhe graves ferimentos.
Escreva um texto expondo o problema no blog e conclamando os
moradores a participarem da reunião. Em seguida, elabore três posts para o
Facebook e três tuítes para a divulgação do fato.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos diversos aspectos referentes à produção textual.


Iniciamos falando sobre a intertextualidade, conceito fundamental que aponta
para o caráter dialógico da linguagem: os textos que produzimos fazem parte de
uma grande rede de trocas linguísticas.
Em seguida, falamos das relações entre o texto e a imagem e da forma
como na contemporaneidade a imagem tem se tornado a protagonista dos
processos comunicativos, especialmente nas mídias digitais.

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Depois discutimos a questão da formalidade do texto, o que nos remete
às discussões em torno do estilo da escrita. Vimos como a linha editorial tem um
papel definidor nesse aspecto.
Nosso quarto tema tratou do texto digital. Discutimos as características e
tendências relacionadas à escrita no ambiente virtual.
Por fim, abordamos um gênero textual clássico, o texto de opinião. Em um
universo midiático tão afoito por polêmicas, nos tornamos comentaristas de tudo.
Mas, para escrever um bom texto opinativo, é preciso saber argumentar. Foi o
que vimos por meio de alguns exemplos.

LEITURA OBRIGATÓRIA DA DISCIPLINA

Acesse na biblioteca virtual Ler e compreender: os sentidos do texto, de


Ingedore V. Koch e Vanda Elias, e leia o capítulo 4, Texto e intertextualidade; e
o capítulo 3, A argumentação e sua aplicação em sala de aula (p. 33), do livro-
base de nossa disciplina: CORREA, V. L. et al. Teorias do texto [livro eletrônico].
Curitiba: InterSaberes, 2013.

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REFERÊNCIAS

ANDRADE. O. Canto de regresso à pátria. In: Releituras. Disponível em:


<http://www.releituras.com/oandrade_canto.asp>. Acesso em: 26 nov. 2015.

ANDRADE, O. Pronominais. In: Jornal de Poesia. Disponível em:


<http://www.jornaldepoesia.jor.br/oswal.html#pronominais>. Acesso em: 19 abr.
2019.

CORREA, V. L. et al. Teorias do texto. Curitiba: InterSaberes, 2013.

DIAS, G. Canção do Exílio. In: Vida em Poesia. Disponível em:


<http://www.vidaempoesia.com.br/goncalvesdias.htm>. Acesso em: 26 nov.
2015.

ELIAS, V.; KOCH, I. V. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2010.

FERRARI, P. (Org.). Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da


comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007.

HARTMANN, S. H. de G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de escrita para o


letramento no ensino superior. Curitiba: Ibpex, 2011.

SALVADOR, A.; SQUARISI, D. A arte de escrever bem: um guia para


jornalistas e profissionais do texto. São Paulo: Contexto, 2009.

SÁ, X. A mulher busca um homem que não existe. El País, 09 out. 2015.
Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/09/opinion/1444392564_573803.html>.
Acesso em: 19 dez. 2019.

SCALZO, M. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2011.

TREVISAN, D. Em busca de Curitiba perdida. Rio de Janeiro: Record, 1992.

WACHOWICZ, T. Análise linguística nos gêneros textuais. Curitiba: Ibpex,


2010.

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