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Nome do aluno :_____________________________________________________________________

I
Derivada do termo grego «cronos», que significa «tempo», a palavra «crónica» reporta-se a acontecimentos por uma ordem
temporal.
Em Portugal, as mais antigas crónicas são anónimas, mas no séc. XV e XVI surge uma diversidade de cronistas, como
Fernão Lopes, Gomes Eanes Azurara, Rui de Pina, Garcia de Resende e Damião de Góis que escreveram as crónicas dos reis da
primeira e da segunda dinastia, dos nossos descobrimentos e conquistas. E daí que, nessa época, o termo «crónica» se empregava
em referência a qualquer narração sistemática de acontecimentos, com pouco ou nenhum empenho na sua análise e interpretação.
Fernão Lopes, no entanto, alargou o âmbito da crónica, pela posição política que tomou dos acontecimentos, empenhando-
se inclusivamente na beleza da escrita, no estilo e no dinamismo que imprimiu às descrições.
Nesta aceção, o âmbito da crónica foi evoluindo e ganhando novos significados.
Passa a ser «um termo vago que tanto serve para classificar pequenos contos de entrecho mal definido ou comentários
ligeiros de episódios reais ou imaginários, como o trecho de apreciação literária ou crítica de costumes», afirma Jacinto do Prado
Coelho no seu Dicionário da Literatura, 1.º vol., p.236. E adianta: «Apenas se lhe pede que seja oportuna, aguda sem ser profunda,
pessoal sem excesso de subjetivismo e sobretudo inteligível.»
E Prado Coelho aponta como um dos primeiros modernos cronistas Cavaleiro de Oliveira.
Mas é no séc. XIX que a crónica teve um maior número de cultores. É o caso de Ramalho Ortigão e Eça de Queirós n’As
Farpas, de Fialho de Almeida in Os Gatos.
Ao longo do séc. XIX e princípios do séc. XX, muitos outros se evidenciaram como Gervásio Lobato na sua Comédia de
Lisboa, Xavier de Carvalho, Guilherme de Azevedo, Pinheiro de Chagas, João Chagas, Carlos Malheiro Dias, Augusto Castro,
Câmara Reys, Ramada Curto, por exemplo. Mais modernamente, destacaram-se as célebres crónicas de Vitorino Nemésio lidas ao
microfone da Emissora Nacional ou da RTP.
José Gomes Ferreira reuniu em O Mundo dos Outros a sua visão pessoal do mundo que o rodeava. O mesmo aconteceu
com Rodrigues Miguéis e Manuel Mendes ou Artur Portela Filho, por exemplo. São crónicas de carácter social e de grande qualidade
literária.
A Sociedade da Língua Portuguesa atribuiu já o Prémio da Crónica João Carreira Bom/ SLP, homenageando o titular deste
prémio pelo seu estilo inconfundível de cronista, a três nomes notáveis da cultura portuguesa que se têm dedicado à crónica, quer
política, quer literária, Eduardo Prado Coelho, Vasco Pulido Valente e Armando Baptista Bastos. Mas muitos outros nomes se podem
referir, como Miguel Sousa Tavares, João Bernard da Costa, Inês Pedrosa, Clara Ferreira Alves, Ana Sá Lopes, Clara Pinto Correia,
Eduardo Dâmaso, José António Teixeira, Joaquim Letria.

In http://www.slp.pt/Variavel/A_Cronica_QL.html (consultado em 17 de setembro de 2013; adaptado).

Lê atentamente o texto acima transcrito e seleciona a opção correta nos itens 1 e 2


1.
A. A palavra crónica remete para acontecimentos sobre o tempo.
B. A palavra crónica deriva do termo latino “cronos”.
C. A palavra crónica remete para uma tipologia textual cujos primeiros autores em Portugal se desconhecem.
D. A palavra crónica reporta-se a acontecimentos meteorológicos.
2.
A. A crónica, enquanto tipologia textual, manteve sempre as mesmas características.
B. Os cronistas da atualidade, como Miguel Sousa Tavares, imitam o estilo e dinamismo de Fernão Lopes .
C. O significado do termo crónica sofreu alterações ao longo dos tempos.
D. A Sociedade da Língua Portuguesa atribuiu o Prémio da Crónica a João Carreira Bom.
3. A que se refere o pronome demonstrativo sublinhado em “O mesmo aconteceu…” (penúltimo parágrafo)?
O pronome refere-se a “a sua visão pessoal do mundo que o rodeava”

II
A criança estava perplexa. Tinha os olhos maiores e mais brilhantes do que nos outros dias, e um risquinho novo, vertical,
entre as sobrancelhas breves. «Não percebo», disse.
Em frente da televisão, os pais. Olhar para o pequeno ecrã era a maneira de olharem um para o outro. Mas nessa noite,
nem isso. Ela fazia tricô, ele tinha o jornal aberto. Mas tricô e jornal eram álibis. Nessa noite recusavam mesmo o ecrã onde os seus
olhares se confundiam. A menina, porém, ainda não tinha idade para fingimentos tão adultos e subtis, e, sentada no chão, olhava de
frente, com toda a sua alma. E então o olhar grande, a rugazinha e aquilo de não perceber. «Não percebo», repetiu.
«O que é que não percebes?» disse a mãe por dizer, no fim da carreira, aproveitando a deixa para rasgar o silêncio ruidoso
em que alguém espancava alguém com requintes de malvadez.
«Isto, por exemplo.»
«Isto o quê»
«Sei lá. A vida», disse a criança com seriedade.
O pai dobrou o jornal, quis saber qual era o problema que preocupava tanto a filha de oito anos, tão subitamente.
Como de costume preparava-se para lhe explicar todos os problemas, os de aritmética e os outros.
«Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira.»
«Não percebo.»
«Ora, tanta coisa. Tudo. Tenho pensado muito e...Dizem-nos para não matar, para não bater. Até não beber álcool, porque
faz mal. E depois a televisão...Nos filmes, nos anúncios...Como é a vida, afinal? »
A mão largou o tricô e engoliu em seco. O pai respirou fundo como quem se prepara para uma corrida difícil.
«Ora vejamos,» disse ele olhando para o teto em busca de inspiração. «A vida...»
Mas não era tão fácil como isso falar do desrespeito, do desamor, do absurdo que ele aceitara como normal e que a filha,
aos oito anos, recusava.
«A vida...», repetiu.
As agulhas do tricô tinham recomeçado a esvoaçar como pássaros de asas cortadas.

Maria Judite de Carvalho in «O Jornal», 2-10-81 In http://cvc.instituto-camoes.pt/contomes/09/compreender.html (consultado em 17.setembro.2013).

Nota: “álibi”- defesa que o réu apresenta para quando pretende provar que não cometeu o crime; justificação.

Depois de teres lido atentamente o texto, responde às questões selecionando a opção correta ou completando as frases.
1. A localização espacial da ação junto à televisão parece reforçar uma imagem de solidão pois…
a) …os adultos presentes, os pais, estavam alheados desse momento em família, a mãe fazia tricô e o pai lia.
b) …os adultos presentes, os pais, discutiam sobre o que se passava na televisão e não conversavam sobre o dia a dia.
c) …a menina estava a ver televisão sozinha, já que os pais estavam ali, mas ocupados com outras tarefas.
2. Em momentos passados, a televisão…
a) …era um motivo de convívio entre o casal e interação crítica entre os dois, a propósito do que observavam.
b) …substituía a relação afetiva do casal, pois “olhar para o pequeno ecrã era a maneira de olharem um para o outro”.
c) …aproximava-os, já que era a única atividade que gostavam de fazer em conjunto.
3. No primeiro parágrafo, a perplexidade da criança é reforçada pela afirmação «Não percebo», mas também pela sua expressão
facial, como se pode comprovar pela expressão textual __ “um risquinho novo, vertical, entre as sobrancelhas breves”
__________________________________________
4. Identifica o recurso expressivo presente em “tricô e jornal eram álibis.” a) comparação b) antítese c) metáfora
5. Destaca o valor expressivo desse recurso, caracterizando o relacionamento dos adultos referidos no texto.
a)…este recurso realça a ideia de que os pais terão cometido um crime.
b)…este recurso salienta o facto dos pais terem uma motivo aceitável para fazerem da televisão a sua ocupação favorita.
c)…este recurso realça que as ocupações escolhidas pelos pais eram pretextos para evitarem dialogar e enfrentar os problemas do
seu relacionamento.
6. Há um contraste entre a atitude da criança e a dos pais que consiste no facto de a criança estar concentrada________ e
realmente interessada no que está a ver, enquanto os pais estão __distraidos___.
7. A afirmação da menina: «Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira.» realça a imaginação / hipocrisia / dureza do mundo
dos adultos, pois ela constata que eles não cumprem o que defendem ser correto / não cumprem o prometido / nunca dizem a
verdade às crianças. (rodear a resposta correta)
8. Recorda a crónica de Maria Judite de Carvalho estudada em aula, “História Sem Palavras”. Escreve um texto expositivo, com um
mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras, no qual compares o conteúdo dessa crónica com o texto do grupo II , seguindo os itens
abaixo apresentados. O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e uma parte de conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente, tratando os tópicos apresentados a seguir.
• Identificação do problema.
• Indicação de manifestações comportamentais que exemplifiquem o problema (uma de cada texto).
• Explicação dos motivos que contribuem para esses comportamentos.
• Referência às relações sociais / familiares.

Os dois textos partilham o tema da falta de comunicação e de interacção entre as pessoas. Em ”História sem palavras”, tal
nota-se, por exemplo, no silêncio da vendedora de bilhetes que cumpre a sua tarefa sem sequer dizer “bom dia”, enquanto que neste
texto fica muito clara a ausência de diálogo entre os pais.
Se pensarmos nas razões para tal, poderemos apontar o ritmo excessivamente rápido dos dias que correm e que se reflete
na falta de interação e no desgaste das próprias relações com óbvias consequências negativas na forma como nos
(não)relacionamos com os outros. O tempo excessivo que cada um de nós passa nas redes sociais é, igualmente, responsável por
essa incapacidade de interagir socialmente com o outro no mundo real.
Para concluir, gostava de referir que é necessário repensar estas nossas atitudes , sob pena de nos tornarmos inábeis e
inaptos socialmente.

III
1. Atenta na expressão “porém, ainda não tinha idade para fingimentos tão adultos”.
1.1 Identifica a classe e subclasse das palavras a negrito
Porém- advérbio conectivo
Ainda – advérbio de tempo
Não – advérbio de negação
Tinha – verbo ter no pretérito imperfeito do Indicativo
Tão – advérbio de grau

2. Atenta nas frases que se seguem.


2.1 Substitui as expressões sublinhadas por pronomes.
a) A menina rasgaria o silêncio ruidoso se tivesse coragem. A menina rasgá-lo-ia se tivesse coragem
b) Os pais observavam insistentemente a televisão. Os pais observavam-na insistentemente
c) “Rasgou o silêncio ruidoso, quando alguém espancava alguém com requintes de malvadez.” Rasgou o silêncio ruidoso, quando
alguém o espancava com requintes de malvadez
3. Identifica o processo de formação das palavras assinaladas a negrito, no texto.
Risquinho – derivação por suficação
Esvoaçar - parassíntese
4. Reescreve em discurso indireto a fala da menina. « Tenho pensado muito. (…) Dizem-nos para não matar, para não bater. Até não
beber álcool, porque faz mal. (…) Como é a vida, afinal?»
A menina disse que tinha pensado muito e que nos dizem para não matar, para não bater e até para não beber álcool, porque fazia
mal. Questionou como era a vida, afinal.
5. Classifica a forma verbal sublinhada na frase da questão 4., indicando pessoa, número, tempo e modo.
1ª pessoa do singular do pretérito perfeito composto do indicativo

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