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Intertextualidade

“A nossa memória textual atua no tecido de nossos


discursos, ligando os contextos históricos e
impregnando de sentido os textos que
produzimos.” (José C. Azeredo)
A intertextualidade pode ser compreendida como a produção de um discurso
com base em outro texto previamente estruturado. Em cada caso este conceito
assumirá papeis distintos, em decorrência dos enunciados e das circunstâncias
nos quais ele será embutido. Este elemento está vinculado certamente ao
domínio de um saber geral sobre o mundo, o qual deve ser dividido, melhor
dizendo, precisa estar presente tanto na experiência de vida do criador da
mensagem quanto de seu decodificador. É possível haver ou não uma
interação entre várias esferas do conhecimento, não necessariamente se
limitando à obra literária.
 Para entender melhor a palavra, pense em sua estrutura. O
sufixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação
(entre). Logo, intertextualidade é a propriedade que os textos
têm de se relacionarem.
 Para que a intertextualidade ocorra, é necessário a existência de
um texto que influencie a produção deste, denominado de
“texto-fonte”, ou seja, aquele em que o autor se inspirou para
fazer referência. Em resumo, a intertextualidade é a criação de
um texto a partir de outro já existente.
Há pelo menos sete tipos de intertextualidade:

Epígrafe: consiste em um texto inicial, que tem como objetivo abrir uma narrativa.
É, portanto, um registro escrito introdutório utilizado como diretriz do discurso
central por ser capaz de sintetizar de maneira modelar a filosofia do escritor.
A palavra ‘epígrafe’ tem origem do idioma grego e pode ser traduzida
aproximadamente como ‘escrita na posição superior’. Essa modalidade de
intertextualidade é utilizada quando um escritor se vale da passagem de uma obra
prévia para dar início ao seu próprio enredo.
Citação: é a referência a uma passagem do discurso de outra
pessoa no meio de um texto, entre aspas e normalmente
acompanhada da identidade de seu criador.

Exemplo: “Viver é sofrer e sobreviver é encontrar um


significado no sofrimento.” (Nietzsche, 1987, p.58)
Paráfrase: ocorre quando o escritor reinventa, com instrumentos
apropriados, um texto pré-existente, resgatando para o leitor sua
filosofia originária. O termo provém do grego “para-phrasis”,
que tem o sentido de reproduzir uma frase. Essa espécie de
interação intertextual equivale a repetir um conteúdo ou um
fragmento dele claramente, porém em outros termos, preservando
sempre a concepção inicial.
Exemplo: “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá,/As aves
que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá.”(Gonçalves Dias, “Canção
do Exílio”)

Texto Parafraseado:
“Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!”
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”)
Paródia: O termo “paródia” vem do grego (parodès) e significa “um canto
(poesia) semelhante a outro”. Trata-se de uma imitação burlesca muito
utilizada nos textos humorísticos, em que o sentido é levemente alterado,
geralmente pelo tom crítico e o uso da ironia.
Exemplo:
-Oh deputado, que mãos grandes o senhor tem -disse, então o eleitor
- É para te ajudar melhor
- Oh deputado, que mala grande o senhor tem!
- É para guardar melhor o seu dinheiro.
-Oh deputado, que conta bancária alta o senhor tem!
- É para administrar melhor o seu dinheiro.
-Oh deputado, quantos funcionários fantasmas o senhor tem!
-É para te roubar mais- e dizendo isto o deputado foi reeleito pelo eleitor, e o
Pastiche: diferente da paródia, o pastiche artístico e literário
trata-se da imitação de um estilo ou gênero e, normalmente,
não apresenta um teor crítico ou satírico. O termo “pastiche”
é derivado do latim (pasticium), que significa “feito de
massa ou amálgama de elementos compostos”, uma vez que
produz um texto novo, oriundo de vários outros. Atualmente,
o Pastiche pode ser visto como uma espécie de colagem ou
montagem, tornando-se recortes de vários textos.
 O Pastiche nem sempre é grosseiro, como demonstra o romance Em
Liberdade, de Silviano Santiago, que é pastiche do estilo de
Graciliano Ramos. Ou os livros Amor de Capitu, de Fernando
Sabino, e Capitu – Memórias Póstumas, de Domício Proença Filho,
que reescreveram Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Tradução: esta intertextualidade é o ajustamento de um texto
composto em outro idioma à língua falada no país onde a obra é
traduzida.

Exemplo:
“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.” (Che
Guevara)

Tradução para o português: “É preciso ser duro, mas nunca sem


perder a ternura.”
Referência e Alusão: aqui o escritor não indica abertamente o
evento em foco; ele simplesmente o insinua por meio de
qualidades menos importantes ou alegóricas. O termo “alusão” é
derivado do latim (alludere) e significa “para brincar”.

Exemplo:
Ele me deu um “presente de grego”. (A expressão faz alusão à
Guerra de Troia, indicando um presente mal, o qual pode trazer
prejuízo)
A noção de intertextualidade nos permite incluir
referências práticas e discursivas da cultura, como
elementos que permitem a uma obra produzir efeitos de
sentido cuja comprovação será textual e não histórica. O
maior conjunto de informações que temos e o maior
acervo de leituras que carregamos é o principal
causador da intertextualidade. Com o
desenvolvimento intelectual, podemos ter esse conceito
nato em nossas vidas e assim produzir e aferir sentidos a
tudo que vemos e lemos.
A literatura é universal e podemos sempre encontrar diversas
referências e alusões nos mais diferentes textos em épocas
variadas. Na atualidade observa-se a abundante utilização da
intertextualidade na composição de diversos textos que surgem
da mídia. O aparecimento desse recurso na propaganda ou em
gêneros de cunho jornalístico faz com que esse fenômeno seja,
além de uma característica própria dos textos literários, um
recurso a que o enunciador lança mão para produzir textos
criativos e mais voltados para chamar a atenção do seu público
alvo.
Pode-se afirmar que o recurso da intertextualidade estaria mais
ligado à função poética da linguagem. A intertextualidade será, antes de
tudo, uma característica da produção verbal humana, de uma forma
generalizada. Os conceitos da intertextualidade e o da interação verbal
entre o enunciador e o enunciatário dos textos, gera um conceito de
polifonia textual, que ocorre quando “o autor pode fazer falar várias
vozes ao longo de seu texto”.
Vida e Obra
– Francisco Buarque de Hollanda

 Vida: Chico Buarque de Holanda (1944) é músico, dramaturgo e escritor


brasileiro. Revelou-se ao público quando ganhou com a música "A Banda",
interpretada por Nara Leão, o primeiro Festival de Música Popular
Brasileira.
Durante o regime militar teve várias músicas censuradas e foi ameaçado, se exilou na
Itália em 1969. Suas canções denunciavam aspectos sociais e culturais da época. Sua
volta ao Brasil em 1970, foi comemorada com manifestações de amigos e admiradores.
Francisco Buarque de Holanda mais conhecido como Chico Buarque de Holanda,
nasceu no Rio de janeiro, é filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da
pianista Maria Amélia Cesário Alvim.
.
Muitas músicas de Chico começaram a ser barradas pela censura.
Como forma de burlá-la, o compositor decidiu criar um
personagem heterônimo chamado Julinho de Adelaide, fazendo
com que suas canções passassem com maior facilidade pelos
censores. A estratégia surtiu efeito e músicas como 'Acorda,
amor' e 'Milagre brasileiro' passaram sem maiores problemas.
Entretanto, uma reportagem publicada em 1975 pelo Jornal do
Brasil desmascarou o verdadeiro Julinho de Adelaide.
Curiosidades:
Chico é apaixonado por futebol e torce freneticamente para o
Fluminense.
Quando jovem, Chico gostava de ler os clássicos da literatura
francesa, alemã e russa e só se interessou pela literatura nacional quando um
colega de escola o criticou por ler apenas livros estrangeiros.
Chico foi casado com a atriz Marieta Severo com quem teve
três filhas: Sílvia, Helena e Luiza. Em 1997, após trina anos de união e boatos
de casos extraconjugais de Chico, o casal se separou.
O Intertexto (das músicas)

 Quadrilha (Drummond)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história

 Flor da idade (trecho) (Chico Buarque)


Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que
amava. Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que
amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha.
Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Sabiá (Chico Buarque e Tom Jobim)

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Poema de sete faces (Drummond)

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
________________________________________
Até o fim (Chico Buarque)

Quando nasci veio um anjo safado


O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Romance sonâmbulo (F. Garcia Lorca)

Verde que te quero verde.


Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ilmo. Sr. Ciro Monteiro (Chico Buarque)

Amigo velho
Amei o teu conselho
Amei o teu vermelho
Que é de tanto ardor
Mas quis o verde
Que te quero verde
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor
No meio do caminho (Drummond)

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
________________________________
Cara a cara (Chico Buarque)

Tira a pedra do caminho


Serve mais um vinho
Bota vento no moinho
Bota pra correr

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