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LITERATURA

Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo

O que é Literatura?
Literatura é, evidentemente, representada por obras literárias tais como poemas,
sonetos, odes, éclogas, epopeias, canções de gesta, romances, novelas, contos,
crônicas, fábulas, peças de teatro (tragédias, comédias, farsas, autos, dramas)
pertencentes ao cânone ou tradição literária.
A Literatura é a expressão do nosso livre-arbítrio, é o verbo e, portanto a arte de
Deus. Ela não julga, nem condena, não é conivente com nossos erros, mas solidária.
Tudo que ela nos permite ver, pensar, sentir, ouvir, falar, sonhar, refletir, contemplar é
ensinamento. Ela não tem compromisso com o bem, nem com o mal, nem com o terceiro
excluído. Ela tem compromisso é com a verdade profunda da condição humana, da
natureza humana, da própria natureza; compromisso com o entendimento sobre o
sentido da vida, a beleza do belo e a beleza do feio, a beleza da paz e a beleza da
guerra, a beleza do amor e a beleza do horror, a beleza da vida e a beleza da morte. As
suas formas e seus conteúdos são um espelho das mãos do Criador, uma centelha do
Fogo Divino na mente, na alma dos humanos. Imperfeitos somos, a Literatura é Deus
nos lapidando. Nós, diamantes brutos.
A arte que tem como matéria-prima as palavras organizadas em estruturas que
criam, recriam e transformam a realidade da linguagem, possibilitando a conservação e
ao mesmo tempo a evolução do idioma em que ela se expressa. A Literatura transcende
o esquema da comunicação objetiva de viés denotativo e literal para apresentar um
universo de possibilidades por via da linguagem conotativa (figurada) que aguça, forma
e enriquece o imaginário dos leitores, apresentando a eles uma coleção diversa de
símbolos que só sua expressão pode proporcionar.
Como arte é provocadora dos sentimentos, das emoções e das sensações que
as pessoas têm quando contemplam o belo. Adentra o intelecto e a alma e investiga as
questões profundas da existência, da condição humana e de tudo o que diz respeito a
nossa evolução intelectual e espiritual. Como ciência diz através da teoria da literatura
e da crítica literária o que a ciência da linguagem precisa para preencher suas lacunas.
Vai além do estudo da norma culta e das variedades linguísticas para explicar questões
relativas a forma e ao conteúdo da obra literária, ao gosto e a recepção, bem como
questões relacionadas com outras teorias de outros ramos das ciências tais como
psicologia, psiquiatria, filosofia e antropologia. Deve, portanto, ser apreciada como arte
e estudada como uma ciência.
Ler um livro cuja linguagem é a reprodução da fala diária do seu meio e os
conflitos são a crua reprodução do que há de mais frívolo, trivial e leviano no seu
cotidiano pode ser uma faca de dois gumes: se o autor quer apenas ser popular e vender
livros, você estará diante daquela senhora que vive na janela vigiando a vida dos outros
para narrar suas fofocas; se o autor quer ser mais que apenas popular e vender livros,
mas dar forma, conteúdo e vida à linguagem coloquial e reproduzir o cotidiano de
maneira a levar os leitores às reflexões profundas sobre a condição humana ou a
natureza humana, o sentido da vida e os conflitos universais da nossa existência, você
estará diante de uma obra literária e terá verdadeiro contato com a Literatura.
Tentar construir um sujeito crítico sem ensiná-lo a buscar na leitura, na Literatura
e no estudo das ciências e das artes o que ele precisa para começar a ir a diante é como
executar a construção do barco de Robinson Crusoé: maravilhoso barco muito bem
construído no meio da mata, no interior da ilha e longe do mar – é um barco, mas não
funciona na terra distante da água.
O náufrago só pensou no resultado do trabalho, dispensando a razão e a
funcionalidade do que ele estava construindo. O caminho para o conhecimento é longo,
difícil, árduo, leva tempo e investimento e exige sacrifícios. Não se forma um sujeito
crítico por atalhos, caso contrário o resultado não navega e nem vai adiante. Salvo se
fizer parte de um grupo fechado de aduladores ou ideólogos.
Os ideólogos não fazem Literatura. A ideologia é o contrário da inteligência, pois
engessa a real capacidade de discernimento do indivíduo e o faz perder a conexão
consigo mesmo e com a realidade. A lacuna deixada por essa conduta representa tudo
o que não podemos perder: o nosso próprio EU. A ideologia é oposta a inteligência, a
autonomia de pensamento e a verdade e, por esse motivo, oposta a liberdade. Literatura
é liberdade. Literatura é vida.

O que devemos buscar na leitura e na Literatura?

O encadeamento da própria vida.


Nessa forma de ler, o que importa não é a deliciosa ilusão em que o leitor comum
submerge, mas o diálogo que estabelecemos com o escritor. Ele se torna, página a
página, aquele professor ou amigo que um dia nos ensinou algo fundamental para a
vida. Passo a passo, descortinamos suas intenções, seu vocabulário, suas construções
frasais, sua forma de demorar sobre um tema ou de acelerar a narrativa, seu
entendimento do que é humano. Mais que uma forma de aprendizagem, ler se torna,
assim, uma comunhão com a Literatura.

As funções da Literatura:
Função estética
Busca o equilíbrio e a harmonia entre forma e conteúdo, visando a beleza e
buscando a perfeição. Trabalha com o conceito Aristotélico de Mimese em que o artista
deve imitar a natureza em tudo que produz como arte, seja representação do bem ou
do mal, do belo ou do feio. A beleza aqui não deve ser vista como algo sempre pacífico,
passivo ou leve ao espírito, mas como algo que convida à contemplação.
Leia o poema de Emily Dickinson:
Eu morri pela beleza

Eu morri pela beleza,


e mal havia sido sepultada,
alguém que morrera pela verdade
era deixado no jazigo ao meu lado.

Perguntou-me com carinho por que eu havia fracassado.


“Pela beleza”, respondi.
“E eu, pela verdade, o que é a mesma coisa;
somos como irmãos”, ele disse.

E assim, como parentes que uma noite se encontram,


ficamos conversando entre os jazigos
até que o musgo alcançou os nossos lábios
e cobriu os nossos nomes.
Os temas universais da condição humana e da arte:
- O amor;
- O ódio;
- O medo;
- A solidão;
- A busca;
- A coragem;
- A amizade;
- A lealdade e a honra;
- A fé;
- Passagem do tempo, mudança, brevidade da vida, dos seres e das coisas;
- O desconserto do mundo;
- A luta entre o bem e o mal;
- O desejo de domar a natureza;
- O desejo de superar os deuses ou de pelo menos se igualar a eles;
- O sentido da vida e o ser e o estar no mundo: quem somos? de onde viemos? para
onde vamos? qual é o sentido da existência?
Intertextualidade
A intertextualidade ocorre quando um texto faz referência a outro ou a outros textos.
Veja o esquema abaixo:
TX1ATX2B
Se texto 1A é “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias e texto 2B é “Canção do
regresso à pátria” de Oswald de Andrade teremos uma paródia.
Observe os versos:
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá”
Gonçalves Dias
“Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar”
Oswald de Andrade
As palavras em destaque representam como se deu o processo de
intertextualidade. “Palmeiras” representa a natureza tropical e a liberdade, haja vista
que as palmas das palmeiras evocam asas ao vento e, portanto, liberdade. Já a palavra
“palmares” evoca prisão, escravidão, falta de liberdade, haja vista que o fundador e
chefe do Quilombo dos Palmares, Zumbi, escravizava e matava quem tentasse fugir de
seu domínio. O que reforça a ideia contraditória, pois todos ali estavam fugindo
exatamente do que Zumbi os condicionava. A essa forma de intertextualidade dá-se o
nome de Paródia.
As formas intertextuais mais comuns são paródia, paráfrase, alusão, citação,
pastiche, tradução e bricolagem.
Paródia – irreverência, inversão e desconstrução lúdica da proposta temática original;
Paráfrase – continuidade, reverência e reescrita da proposta temática original;
Alusão – referência a um título, autor, personagem ou aos três ao mesmo tempo pelo
uso de uma expressão que os simboliza.
Citação – cópia de um trecho com referência à obra, ao autor ou aos personagens da
obra.
Pastiche - imitação de um estilo ou gênero e, normalmente, não apresenta um teor
crítico ou satírico.
Tradução - transforma um texto de uma língua em outra, fazendo uma espécie de
recriação do texto-fonte.
Bricolagem – consiste em reunir vários textos em um só, recortando partes de textos
originais e dando novo significado as partes recortadas.
Epígrafe – frase que resume o conteúdo que será desenvolvido no texto.
Há ainda a intratextualidade em que um autor, através de seus textos dialoga com
ele mesmo.
Funções da Linguagem
Funções da linguagem são recursos de interação que atuam segundo a
intenção do produtor da mensagem, cada qual abordando um diferente elemento
da comunicação. O linguista Roman Jakobson divide as funções da linguagem
em seis componentes:
Código
Mensagem
Emissor-------------------------------------------Receptor
Canal
Referente (contexto)

Função emotiva ou expressiva:

Função conativa ou apelativa:


Função Referencial:
De acordo com os dados facultados pela Polícia Militar, sobe para 12 o número
de vítimas em estado grave após o confronto entre as equipes de futebol nesta quarta-
feira, entre as quais 3 mulheres.
A característica da oralidade radiofônica, então, seria aquela que propõe o
diálogo com o ouvinte: a simplicidade, no sentido da escolha lexical; a concisão e
coerência, que se traduzem em um texto curto, em linguagem coloquial e com
organização direta; e o ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o mais natural (do
diálogo).
Função fática:

Função poética:
Função metalinguística:

1- Função emotiva ou expressiva – ocorre quando o emissor é posto em


destaque.
2- Função conativa ou apelativa - ocorre quando o receptor é posto em
destaque.
3- Função fática - ocorre quando o canal é posto em destaque.
4- Função referencial - ocorre quando o referente ou contexto é posto em
destaque.
5- Função poética - ocorre quando a mensagem é posta em destaque.
6- Função metalinguística - ocorre quando o código é posto em destaque.
Denotação e conotação

Níveis de significação das palavras


Há dois níveis de significação das palavras: o nível denotativo e o nível conotativo.
Denotação
No nível denotativo, as palavras apresentam significado literal, objetivo, prático e de
acordo com a definição dada no dicionário.
Ex: Sônia é minha gata. (animal de estimação)
Conotação
No nível conotativo, as palavras apresentam sentido figurado, subjetivo e estão
carregadas de expressão de afeto, intimidade ou apenas necessidade de se expressar
mais intensamente.
Ex: Sônia é minha gata! (namorada)

Signo linguístico
Linguagem denotativa:
Significante – FLOR

Significado –
- A tulipa é uma flor.

Linguagem conotativa (figurada):


Significante – FLOR

Significado –
- Carolina é uma flor.
Figuras de linguagem
Comparação ou símile
José nada como um peixe.
Esta casa parece uma prisão.
A tristeza é igual a uma nuvem escura.
Ele é semelhante a um orangotango.

Tropo de similaridade
Metáfora
José é um peixe na piscina.
Esta casa é uma prisão.
Preciso sair dessa prisão que meus pais fizeram para mim.
A tristeza é uma nuvem escura.
Não sei que nuvem escura habita no teu peito que só te faz chorar.
Ele é um orangotango.
Esse orangotango não me deixa passar!

A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio da imaginação
criadora do homem, as palavras podem ter seu significado ampliado, deixando de
representar apenas a ideia original (básica e objetiva).

Assim, frequentemente remetem-nos a novos conceitos por meio de


associações, dependendo de sua colocação numa determinada frase. Observe os
seguintes exemplos:

A menina está com a cara toda pintada.

Aquele cara parece suspeito.

No primeiro exemplo, a palavra cara significa "rosto", a parte que antecede a


cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no segundo exemplo, a mesma palavra
cara teve seu significado ampliado e, por uma série de associações, entendemos que
nesse caso significa "pessoa", "sujeito", "indivíduo".

O que são Figuras de linguagem?

São recursos que tornam as mensagens que emitimos mais expressivas.


Subdividem-se em figuras de som, figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras
de construção.
Figura de palavra

A figura de palavra consiste na substituição de uma palavra por outra, isto é, no


emprego figurado, simbólico, seja por uma relação muito próxima (contiguidade),
seja por uma associação, uma comparação, uma similaridade. Esses dois conceitos
básicos - contiguidade e similaridade - permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras
de palavras: a metonímia e a metáfora.

Metáfora
A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de
outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso
espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças.
É importante notar que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo; se
a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese (é o que
ocorre, por exemplo, com "pé de alface", "perna da mesa", "braço da cadeira").

Obs.: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento


comparativo não aparece.

Observe a gradação no processo metafórico abaixo:

Seus olhos são como luzes brilhantes.

O exemplo acima mostra uma comparação evidente, através do emprego da


palavra como.

Observe agora:

Seus olhos são luzes brilhantes.

Nesse exemplo não há mais uma comparação (note a ausência da partícula


comparativa), e sim um símile, ou seja, qualidade do que é semelhante.

Por fim, no exemplo:

Aquelas luzes brilhantes fitavam-me.

Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Essa é a verdadeira


metáfora.

Observe outros exemplos:


1) "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)
Nesse caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece
relações de semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (pode estar
relacionando a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar algum.


Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase acima, uma metáfora.
Por trás do uso dessa expressão que indica uma alma rústica e abandonada (e
angustiadamente inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é tão rústica,
abandonada (e inútil) quanto uma estrada de terra que leva a lugar algum.
- A tristeza é uma nuvem cinza.
- Não sei que nuvem levo no peito que só consigo lamentar.
Metonímia – Tropo de contiguidade:

A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre


ambos estreita afinidade ou relação de sentido. Observe os exemplos abaixo:

1 - Autor pela obra:


Gosto de ler Machado de Assis. (= Gosto de ler a obra literária de Machado de
Assis.)

2 - Inventor pelo invento:


Édson ilumina o mundo. (= As lâmpadas iluminam o mundo.)

3 - Símbolo pelo objeto simbolizado:


Não te afastes da cruz. (= Não te afastes da religião.)

4 - Lugar pelo produto do lugar:


Adoro um Canastra com café. (= Queijo da região da Serra da Canastra.)

5 - Efeito pela causa:


Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates tomou veneno.)

6 - Causa pelo efeito:


Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que
produzo.)

7 - Continente pelo conteúdo:


Bebeu o cálice todo. (= Bebeu todo o líquido que estava no cálice.)

8 - Instrumento pela pessoa que utiliza:


Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás dos
jogadores.)

9 - Parte pelo todo:


Várias pernas passavam apressadamente. (= Várias pessoas passavam
apressadamente.)

10 - Gênero pela espécie:


Os mortais pensam e sofrem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse
mundo.)

11 - Singular pelo plural:


A mulher foi chamada para ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram
chamadas, não apenas uma mulher.)

12 - Marca pelo produto:


Minha filha adora danone. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca danone.)

13 - Espécie pelo indivíduo:


O homem foi à Lua. (= Alguns astronautas foram à Lua.)

14 - Símbolo pela coisa simbolizada:


A balança penderá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado.)
Observação:

Atualmente, não se faz mais a distinção entre metonímia e sinédoque (emprego


de um termo em lugar de outro), havendo entre ambos relação de extensão. Por ser
mais abrangente, o conceito de metonímia prevalece sobre o de sinédoque.

Catacrese
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A
catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um
conceito, toma-se outro "emprestado".
Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Exemplos:

"asa da xícara"
"maçã do rosto"
"braço da cadeira"
"batata da perna"
"pé da mesa"
"coroa do abacaxi"

Perífrase

Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas


características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo:

A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.

Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de antonomásia.

Exemplos de Antonomásias:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.

Sinestesia
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por
diferentes órgãos do sentido.
Exemplos:
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo;
negro = visual)
Ó, sonora audição colorida do aroma (audição, visão e olfato)

Figuras de pensamento

Dentre as figuras de pensamento, as mais comuns são:

Antítese

Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando
há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos
conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos.
Observe os exemplos:

"O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)

O corpo é grande e a alma é pequena.

"Quando um muro separa, uma ponte une."

"Desceu aos pântanos com os tapires;


subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)

Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.

Paradoxo

Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de


ideias contraditórias. Veja o exemplo:

Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha menos recebe
e tem mais dificuldades econômicas.

“Amor é um fogo que arde sem se ver” (Camões)

Oximoro

Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante do uso de duas


palavras opostas uma ao lado da outra dando idéia de contradição. Veja o exemplo:

Aquela banda canta uma feliz melancolia em suas letras.

(Amor) “é um contentamento descontente” (Camões)

Uma feliz tristeza tomara conta de sua alma.

Eufemismo

Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos


agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante. Exemplos:

Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (= morreu)

O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)

Carlos faltou com a verdade. (= mentiu)


Ironia

Consiste em dizer o contrário do que se pretende ou em satirizar, questionar


certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá-lo, ou ainda em ressaltar algum
aspecto passível de crítica. É dizer algo na aparência que nega o que se quer dizer na
essência.

A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor. Veja
os exemplos abaixo:

Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima!

Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.

Hipérbole

É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia.


Exemplos:

Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.

"Rios te correrão dos olhos, se chorares." (Olavo Bilac)

Prosopopeia ou personificação
Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres
inanimados, ou características humanas a seres não humanos.

Observe os exemplos:

As pedras andam vagarosamente.


O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
Chora, violão.

Apóstrofe

Consiste na "invocação" de alguém ou de alguma coisa personificada, de


acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano.

Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginário


ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso,
destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em
evidência com tal invocação.

Realiza-se por meio do vocativo. Exemplos:

Moça, que fazes aí parada?


"Pai Nosso, que estais no céu..."

"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)

Gradação

Consiste em dispor as ideias por meio de palavras, sinônimas ou não, em


ordem crescente ou decrescente.

Quando a progressão é ascendente, temos o clímax; quando é descendente, o


anticlímax. Observe este exemplo:

Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana com seus olhos claros e
brincalhões...

O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos olhos de Joana. Para


chegar a esse detalhe, ele se refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana
e seus olhos.

Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decrescente de intensidade.


Outros exemplos:

"Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac)

"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)

Figuras de construção ou sintáticas

As figuras de construção ocorrem quando desejamos atribuir maior


expressividade ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela maior
expressividade que se dá ao sentido.

Elipse

Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser


facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração,
quanto pelo contexto. Exemplos:

1) A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)

2) Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira. (Nesse exemplo, as
desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse
"eu".)

3) Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir
direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem
em agosto.)

Zeugma

Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo


já mencionado anteriormente. Exemplos:

Ele gosta de geografia; eu, de português.


Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Ela gosta de natação; eu, de vôlei.
No céu há estrelas; na terra, você.

Silepse

A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no
texto, mas sim com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal,
psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente
subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de gênero

Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a


concordância se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:

1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que
gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
cidade de Porto Velho).

2) Vossa excelência está preocupado.

Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que


nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.

Silepse de número

Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo


da oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que
nele está contida. Exemplos:

A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade de Salvador.


Como vai a turma? Estão bem?
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.

Note que nos exemplos acima, os verbos andaram, estão e gritavam não
concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no
singular, procissão, turma e povo, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade
que neles está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso
que os verbos estão no plural.
Silepse de pessoa

Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse


de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não
concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no
sujeito. Exemplos:

O que não compreendo é como os brasileiros persistamos em aceitar essa situação.


Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
"Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de
Assis)

Observe que os verbos persistamos, temos e somos não concordam


gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros, agricultores e cariocas que estão
na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os
agricultores e os cariocas).

Polissíndeto / Assíndeto

Para estudarmos essas duas figuras de construção, é necessário recordar um


conceito estudado em sintaxe sobre período composto.

No período composto por coordenação, podemos ter orações sindéticas ou


assindéticas.

A oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo) é sindética; a


oração que não apresenta conectivo é assindética.

Recordado esse conceito, podemos definir as duas figuras de construção:

Polissíndeto

É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe os


exemplos:

"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e
tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe
da natureza."

Assíndeto

É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções


coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos:

Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.

"Vim, vi, venci." (Júlio César)


Pleonasmo

Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as mesmas palavras ou não.


A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la mais expressiva. Veja este
exemplo:

O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.

Nesta oração, os termos "o problema da violência" e "lo" exercem a mesma


função sintática: objeto direto. Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o
pronome "lo" classsificado como objeto direto pleonástico. Outro exemplo:

Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.

Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto

Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome "lhes" exerce a


função de objeto indireto pleonástico.

Outros exemplos de pleonasmo:

"Vi, claramente visto, o lumo vivo." (Luís de Camões)

"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)

"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)

"O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)

Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quando confere mais vigor à


frase; caso contrário, torna-se um pleonasmo vicioso. Exemplos:

Vi aquela cena com meus próprios olhos.

Vamos subir para cima.

Anáfora

É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim,


um efeito de reforço e de coerência.

Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque,


permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual.

Os termos anafóricos podem muitas vezes ser substituídos por pronomes


relativos. Assim, observe o exemplo abaixo:

Encontrei um amigo ontem. Ele disse-me que te conhecia.


O termo ele é um termo anafórico, já que se refere a um amigo anteriormente
referido. Observe outro exemplo:

"Se você gritasse


Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)

Anacoluto

Consiste na mudança da construção sintática no meio da frase, ficando alguns


termos desligados do resto do período. Veja o exemplo:

Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.

A expressão "esses alunos da escola" deveria exercer a função de sujeito. No


entanto, há uma interrupção da frase e essa expressão fica à parte, não exercendo
nenhuma função sintática. O anacoluto também é chamado de "frase quebrada", pois
corresponde a uma interrupção na sequência lógica do pensamento. Exemplos:

O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem.


A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco)

Obs.: o anacoluto deve ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais.
Em geral, deve-se evitá-lo.

Hipérbato / Inversão

É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da ordem direta dos termos


da oração. Exemplos:

São como cristais as palavras. (Na ordem direta seria: As palavras são como cristais.)

Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)

Figuras de som
Aliteração

Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou


como efeito sonoro significativo. Exemplos:

Três pratos de trigo para três tigres tristes.


O rato roeu a roupa do rei de Roma. (Aliterações em "t" e “r”)

"Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." Cruz e Souza (Aliterações em "v", “s” e “z”)

Assonância

Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplos:

"Sou um mulato nato no sentido lato


mulato democrático do litoral." (Assonância em “o” e “a”)

Onomatopeia

Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade.

Exemplos:
Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.
Linguagem, estrutura e elementos do texto poético em versos
Verso – verso é uma linha do poema, uma sequência de sílabas poéticas.
Sílaba poética – é um fragmento de som átono ou tônico. Ex:
Cor/dei/ri/nha/lin [da]
1 2 3 4 5
Tipos de Versos de acordo com o número de sílabas poéticas:
O verso, do latim versus, que significa “linha de escrita”, é o nome dado às linhas
que compõem uma composição poética em versos.

De tal modo, a poesia é formada por uma quantidade de versos, que apresentam
ou não rimas, os quais são agrupados em estrofes.

Os versos livres recebem esse nome por não seguir nenhuma regra poética de
metrificação. Já os chamados versos brancos são aqueles que não possuem rima,
entretanto, podem apresentar uma métrica.

Assim, quanto à métrica dos versos, há duas classificações:

Versos isométricos são aqueles que possuem métrica igual. Ex:

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

Versos polimétricos ou heterométricos são os que apresentam versos de diferentes


medidas (métrica alternada). Ex:

Não quero o Zeus Capitolino


Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

De acordo com a separação de sílabas poéticas ou métrica (escansão), o verso é


classificado em:

Monossílabo: uma sílaba poética


Dissílabo: duas sílabas poéticas
Trissílabo: três sílabas poéticas
Tetrassílabo: quatro sílabas poéticas
Pentassílabo ou Redondilha Menor: cinco sílabas poéticas
Hexassílabo: seis sílabas poéticas
Heptassílabo ou Redondilha Maior: sete sílabas poéticas
Octossílabo: oito sílabas poéticas
Eneassílabo: nove sílabas poéticas
Decassílabo: dez sílabas poéticas
Hendecassílabo: onze sílabas poéticas
Dodecassílabo ou Alexandrino: doze sílabas poéticas
Verso Bárbaro: verso com mais de doze sílabas poéticas

Revendo o exemplo:
Cor/dei/ri/nha/lin [da]
1 2 3 4 5
Nesse verso, cada sílaba numerada é uma sílaba poética, exceto a sílaba
átona pós-tônica [da] que se encontra entre colchetes.
Estrofe ou estância é um agrupamento de versos.
Tipos de Estrofes

De acordo com a medida do verso, a estrofe pode ser:


Simples: composição poética composta de versos que possuem a mesma medida.
Compostas: composição poética que agrupa versos de medidas diferentes.
Livres: quando há agrupamento de versos sem nenhum rigor métrico.

Classificação das Estrofes


De acordo com a quantidade de versos agrupados num poema, a estrofe recebe
as seguintes denominações:

Monóstico: estrofe formada por um verso.


Dístico ou Parelha: estrofe formada por dois versos.
Terceto: estrofe formada por três versos.
Quarteto ou Quadra: estrofe formada por quatro versos.
Quintilha ou Quinteto: estrofe formada por cinco versos.
Sextilha ou Sexteto: estrofe formada por seis versos.
Septilha ou Sétima: estrofe formada por sete versos.
Oitava: estrofe formada por oito versos.
Nona: estrofe formada por nove versos.
Décima: estrofe formada por dez versos.
Irregulares: estrofe com mais de 10 versos.

Escansão – é a divisão e contagem das sílabas poéticas do verso. Ex:


Ca / te / ri / na é / mais / fer / mo [sa]

1 2 3 4 5 6 7

Regras da escansão:

1- a contagem das sílabas poéticas é feita até a última sílaba tônica do verso.
2- a(s) sílaba(s) átona(s) pós-tônica(s) não entra(m) na contagem e é(são)
isolada(s) das demais entre colchetes.
3- a divisão das sílabas poéticas é feita com barras (/) e elas devem ser numeradas.
4- as sinalefas (elisões e crases) devem ser marcadas com ( ) ligando uma átona
a outra.
5- as sinalefas ocorrem quando há o encontro de sílabas átonas de palavras
diferentes, átonas com tônicas ou outros casos passíveis de avaliação.

Ex:
A/mor/é um/fo/go/que ar/de/sem/se/ver

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sinalefas
Do grego syn (=juntar), as sinalefas juntam vogais de palavras diferentes
quando átonas, átonas com tônicas e outros casos passíveis de análise. Há vários
tipos de sinalefas, as mais comuns são: elisão, crase e sinérese.
Elisão: uni vogais diferentes.
Ca / ro / li / na es / ta / va / pá [lida]

1 2 3 4 5 6 7

De/tu/do ao/meu/a/mor/se/rei/a/ten [to]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É/ fe/ ri/ da/ que/ dói/ e/ não/ se/ sen [te]


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Obs: não há sinalefa entre as sílabas 6 e 7, pois a pronúncia do “i” e do “e” são
notadas apesar de serem, respectivamente, uma semivogal de um ditongo
decrescente e uma vogal átona.

Crase: quando uni vogais iguais.

Mui/ ta/ saú/ de e/ paz!

1 2 3 4 5

Nes/te/mun/do e/mais/ri/co o/que/mais/ra [PA]


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sinérese: ocorre quando há por necessidade a união de hiatos.

Mui/ ta/ saú/ de e/ paz!

1 2 3 4 5

Diérese
A diérese separa ditongos quando necessário.
Ex:
“Derramando chumbo na saüdade”

De/rra/man/do/chum/bo/na/sa/ü/da [de]
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Obs:
1- Na escansão ou divisão silábica poética os dígrafos SS ou RR sempre ficam
juntos da vogal seguinte como acontece no exemplo acima (De/rra/man/do/...)
1 2 3 4
diferente da divisão silábica gramatical.
2- O trema aqui é usado no “ü” apenas para marcar a presença da diérese no
verso.
O verso quanto à posição da sílaba tônica:
Verso agudo: termina com palavra oxítona ou monossílabo tônico acentuado ou
não.

Ex: On/de/can/ta o/sa/bi/á

1 2 3 4 5 6 7

Verso grave: termina com palavra paroxítona acentuada ou não.

Ex: Ca/te/ri/na é/mais/ fer/mo [sa]

1 2 3 4 5 6 7

Verso esdrúxulo: termina com palavra proparoxítona.

Ex: Ca/ro/li/na es/ta/va/pá [lida]

1 2 3 4 5 6 7

Atividade:
Leia o poema e faça a escansão dos versos abaixo:
AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

Exercício resolvido:
O/po/e/ta é um/ fin/gi /dor

1 2 3 4 5 6 7
Fin/ge/ tão/ com/ple/ta/men [te]
1 2 3 4 5 6 7

Que /che/ga a/ fin/gir/ que é/ dor

1 2 3 4 5 6 7
A /dor/ que/ de/ve/ras/ sen[te].
1 2 3 4 5 6 7
E os/ que/ le/em /o/ que es/cre [ve],

1 2 3 4 5 6 7

Na /dor/ li/da /sem/tem /bem,


1 2 3 4 5 6 7

Não /as/ du/as /que e/le/ te[ve],

1 2 3 4 5 6 7

Mas /só/ a/ que e/les/ não/ têm.

1 2 3 4 5 6 7
Rimas

As rimas são estudadas quanto ao esquema ou posição na estrofe, quanto a


tonicidade/terminação ou acentuação e quanto ao valor.
Classificação quanto à posição no verso
Rima externa: Que ocorre no fim do verso.

“E em louvor hei de espalhar meu canto


E rir meu riso e derramar meu pranto”
(Vinícius de Moraes)

Rima interna ou coroada: Que ocorre no interior do verso.


“A bela bola do Raul
Bola amarela”
(Cecília Meireles)

Classificação quanto à posição na estrofe as rimas são alternadas ou cruzadas,


emparelhadas e interpoladas.

Rimas alternadas (ou cruzadas): Combinam-se alternadamente, seguindo o esquema


ABAB.

“O meu amor não tem


importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!”
(Cecília Meireles)

Rimas emparelhadas (ou paralelas): Combinam-se de duas em duas, seguindo o


esquema AABB.

“Vagueio campos noturnos


Muros soturnos
Paredes de solidão
Sufocam minha canção.”
(Ferreira Gullar)

Rimas interpoladas (ou intercaladas): Combinam-se numa ordem oposta, seguindo


o esquema ABBA.

“De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.”

(Vinícius de Moraes)

Rimas encadeadas: Quando as palavras que rimam se situam no fim de um verso e no


início ou meio do outro.
“Salve Bandeira do Brasil querida
Toda tecida de esperança e luz
Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz”

(Francisco de Aquino Correia)


Rimas mistas (ou misturadas): Quando apresentam outras combinações e posições
na estrofe, sem esquemas fixos.

“Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive.”
(Manuel Bandeira)

Quanto à tonicidade/terminação as rimas podem ser consoantes e toantes.

Rimas consoantes – são as que iniciam na sílaba tônica e vão até ao final da palavra.
Ex:
Amante
Instante

Rimas toantes – são as que ocorrem apenas na vogal tônica e na átona pós-tônica da
palavra. Ex:

Circo Boca Pálida


Preciso Moça Lágrima

Rimas quanto ao valor


Quanto ao valor as rimas podem ser pobres e ricas.

Rimas pobres – ocorrem entre palavras de mesma classe gramatical. Ex:


Peixe – substantivo /Gostoso – adjetivo
Feixe – substantivo /Saboroso – adjetivo

Outros exemplos:
gato/pato;
correr/fazer;
amarelo/singelo.

Rimas ricas
a) ocorrem entre palavras de classe gramatical diferentes;
Ex:
Terra – substantivo
Berra – verbo “berrar”

Outros exemplos:
noz/veloz;
altar/desenhar;
pente/surpreendente.

b) Quando a rima começa antes da vogal tônica. Ex:


pensamento
contentamento
Rima rara ou preciosa: Quando as palavras que rimam possuem terminações
incomuns, pouco utilizadas, como combinações entre verbos e pronomes.
estrelas/vê-las;
mandala/dá-la;
parabéns/vinténs;
profícuo/conspícuo.

Figuras de harmonia

Aliteração – repetição de consoantes em um verso, frase ou estrofe.


Assonância – repetição de vogais em um verso, frase ou estrofe.

Ambas têm o objetivo de apresentar uma harmonia imitativa que representa com sons
aquilo que o poeta expressa com o sentido das palavras escolhidas para a mensagem.
Exs: Leia estes versos do poema “Violões que choram”, de Cruz e Sousa:

“Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
(Cruz e Sousa)

Aliteração em V/Z para imitar o som do violão e S para imitar o som de uma voz que
sussurra uma canção.

Versos isométricos – são aqueles que possuem o mesmo número de sílabas poéticas
em todos os versos da composição. Exemplo: sonetos.

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Versos polimétricos – são aqueles que possuem um esquema alternado de versos em


uma forma fixa com métrica variada, porém padronizada e igual em todas as estrofes
da composição. Exemplo:

(...)

Ver esta língua, que cultivo, (8)


Sem ouropeis, (4)
Mirrada ao hálito nocivo (8)
Dos infiéis!... (4)

Não! Morra tudo que me é caro,


Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigo


Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!

Vive! que eu viverei servindo


Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.

Celebrarei o teu oficio


No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,


Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!

(Olavo Bilac)
Gênero lírico (poesia) – Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo

Características:

- O termo “lírico” vem de “lira”, um instrumento musical usado pelos primeiros poetas na
Grécia Antiga para compor seus poemas;
- A poesia ocidental surgiu na Arcádia, uma região agropastoril da Grécia: era oral, em
versos e cantada;
- Na poesia, as emoções provocam ações;
- Predominam as funções emotiva, poética e metalinguística da linguagem;
- Predomina a linguagem conotativa ou figurada (metáforas, comparações, ironias,
hipérboles, alegorias, antíteses, paradoxos, hipérbatos, quiasmos, eufemismos,
prosopopeias, gradações, metonímias, aliterações e assonâncias etc.);
- Apresenta-se comumente em versos, estrofes, rimas, ritmo e musicalidade, com
versos ora rimados, ora brancos (sem rima), versos ora metrificados, ora livres (sem
métrica); pode se apresentar também em prosa (com períodos e parágrafos) ou na
forma verbivocovisual (poesia visual);
- Manifesta sentimentos, emoções, sensações, sentidos; descreve cenas e quadros;
- Presença de um “eu” que fala no poema, é denominado “eu lírico” ou “eu poético” e
fala pelo poeta e nem sempre representa o que o autor está sentindo;

Espécies do Gênero Lírico:

- Poema
- Soneto
- Ode
- Elegia
- Canção e cantiga
- Haicai

Poema

Composição lírica multiforme que pode ser:


Tradicional – versos metrificados e rimados, agrupados em estrofes.
Moderno/contemporâneo – versos brancos e livres, uma ou mais estrofes, curto ou
longo e com expressões coloquiais e orais.
Em prosa – composto de períodos e parágrafos.
Verbivocovisual – poema visual, sem versos, estrofes ou forma em prosa, mas
diagramado ou desenhado na página de maneira a valorizar, como parte significativa
para o entendimento da mensagem, os espaços em branco.
O conteúdo do poema pode abordar tanto sentimentos, emoções e sensações
quanto pode narrar uma estória ou um acontecimento, descrever uma paisagem ou uma
pessoa ou representar uma cena.

Exemplo:

POEMA DE SETE FACES

Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:


pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração,
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode


é serio, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste


se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,


se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer


mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Soneto

O soneto é uma composição lírica de forma fixa, criada no século XIII, na


Renascença medieval italiana, por Giacomo da Lentini e, mais tarde, no século XIV,
aperfeiçoada por Francesco Petrarca.
Trata-se de uma composição de quatorze versos, agrupados em quatro estrofes,
sendo as duas primeiras sempre quartetos ou quadras (estrofes de 4 versos) e as duas
últimas sempre tercetos (estrofes de três versos).
Em relação à métrica, o soneto é uma composição isométrica que pode ser de
versos decassílabos (de dez sílabas poéticas) ou versos dodecassílabos (Alexandrinos,
de doze sílabas poéticas) rimados. Unidas, a métrica e a rima compõe o ritmo e a
musicalidade do soneto.
O conteúdo do soneto versa sobre os temas universais da arte e da condição
humana em dimensão universal ou individual, dependendo da época em que foi
composto. Pode falar de sentimentos, emoções ou sensações como no poema; pode
também descrever um quadro, paisagem ou cena.
Os maiores sonetistas são Francesco Petrarca, Dante, Luís Vaz de Camões,
William Shakespeare, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Victor Hugo, Antero de
Quental, Olavo Bilac, Florbela Espanca e Vinícius de Morais.
Exemplo:
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
o lindo ser de vossos olhos belos,
se não perder a vista só em vê-los,
já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
mas eu, por de vantagem merecê-los,
dei mais a vida e alma por querê-los,
donde já me não fica a mais de resto.
Assim que a vida e alma e esperança
e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
e o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.
Ode
- A palavra “Ode” vem do grego e significa “canto”;
- Trata-se de uma composição lírica de estilo elevado e solene, elaboradamente
estruturada;
- As odes são compostas para louvar ou glorificar, reverenciar uma pessoa importante,
um objeto, uma ideia ou um lugar;
- As odes podem também serem compostas para persuadir as pessoas a realizar uma
ação;
- Descreve intelectual e emocionalmente a natureza;
- Pindaro foi o poeta grego que criou essa modalidade de composição na Grécia antiga
e louvou com suas odes as virtudes dos atletas, heróis e deuses;
- Anacreonte cantou os prazeres do amor e do vinho;
- Alceu dedicou-se a compor odes sobre banquetes, temas políticos e amorosos;
- Safo escreveu odes aos deuses e versos de forte carga sentimental que
reverenciavam as emoções e os sentimentos;
- A exceção de Pindaro, Anacreonte, Safo e Alceu, que foram os poetas gregos que
inspiraram o poeta romano Horácio, preferiram a ode homostrófica, em que todas as
estrofes possuem a mesma estrutura.
Exemplo:

Carpe diem (Colha o dia)

Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.


Não perguntes, é proibido saber o fim
que os deuses darão a mim ou a você,
Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia não brinque.
É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho.
Se muitos invernos Júpiter te dará ou se este é o último,
que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar.
Tirreno: seja sábio, beba seu vinho
e para o curto prazo reescale suas esperanças.
Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós.
Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.
Podemos sempre ser melhores. Basta pensarmos melhor.

Horácio
Elegia
Composição lírica criada originalmente para homenagear pessoas queridas que
faleceram ou para lamentar alguma perda. A dor, o remorso, a melancolia, a tristeza e
os infortúnios são assuntos comuns numa elegia. Hoje, trata-se de um poema
melancólico que também fala de solidão e abandono ou o resultado final de um conflito
ou separação.

Exemplo:

Elegia para minha mãe

Nesta quebrada de montanha, donde o mar


Parece manso como em recôncavo de angra,
Tudo o que há de infantil dentro em minh'alma sangra
Na dor de ter visto, ó Mãe, agonizar!

Entregue à sugestão evocadora do ermo,


Em pranto rememoroso o teu lento martírio
Até quando exalaste, à ardente luz de um círio,
A alma que se trazia atada ao corpo enfermo.

Relembro o rosto magro, onde a morte deixou


Uma expressão como que atônita de espanto
(Que imagem de tão grave e prestigioso encanto
Em teus olhos já meio inânimes passou?)

Revejo os teus pequenos pés... A mão franzina...


Tão musical... A fronte baixa... A boca exangue...
A duas gerações passara já teu sangue,
- Eras avó -, e morta eras uma menina.

No silêncio daquela noite funeral


Ouço a voz de meu pai chamando por teu nome.
Mas não posso pensar em ti sem que me tome
Todo a recordação medonha do teu mal!

Tu, cujo coração era cheio de medos


- Temias os trovões, o telegrama, o escuro -
Ah, pobrezinha! um fim terrível o mais duro,
É que te sufocou com implacáveis dedos.

Agora que me despedaça o coração


A cada pormenor, e o revivo cem vezes,
E choro neste instante o pranto de três meses
(Durante os quais sorri para tua ilusão!),
Enquanto que a buscar as solitárias ânsias,
As mágoas sem consolo, as vontades quebradas,
Voa, diluindo-se no longe das distâncias,
A prece vesperal em fundas badaladas!
Manuel Bandeira
Canção e cantiga
Ambas são composições líricas muito antigas que se tornaram muito populares
na Alta Idade Média. Na Baixa Idade Média passaram a ser compostas em versos
metrificados de maneira mais cuidadosa. Esses versos alternavam-se entre o
redondilho menor (5 sílabas poética) e o redondilho maior (7 sílabas poéticas).
No aspecto formal é comum ter refrões e paralelismos nas cantigas, o que não
é muito frequente nas canções.
Os temas mais comuns em ambas é o amor, a festa, a sátira/crítica social, a
amizade, viagens e guerras.

Exemplos:

Canção
Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar


No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.
Luís Vaz de Camões
Cantiga de Amor

Como morreu quem nunca amar


Se fez pela coisa que mais amou,
E quanto dela receou
Sofreu, morrendo de pesar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem foi amar


Quem nunca bem lhe quis fazer,
E de quem Deus lhe fez saber
Que a morte havia de alcançar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Igual ao homem que endoideceu


Com a grande mágoa que sentiu,
Senhora, e nunca mais dormiu,
Perdeu a paz, depois morreu,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem amou tal


Mulher que nunca lhe quis bem
E a viu levada por alguém
Que não a valia nem a vale,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Paio Soares de Taveirós


Haicai
O haicai é uma composição lírica simples de origem japonesa que foi
incorporada à literatura brasileira no início do século XX.
Os temas mais comuns nesse tipo de composição vinculam-se a natureza: as
quatro estações, os fenômenos naturais, o tempo das frutas, as plantas, os animais.
O termo “haicai” significa “ver uma pequena cena do mundo natural pela primeira
vez na perspectiva de uma criança”.
No aspecto formal o haicai é um poema de uma estrofe de três versos
metrificados com a métrica redondilha menor no primeiro e terceiro verso e redondilha
maior no segundo verso. Exemplo:

Haicai

A neve branquinha
Que derreteu suavemente
Acordou as flores.
Fernando A. B. Araújo
Gênero épico (narrativo) – Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo

Características
- Manifesta-se em verso e em prosa;
- As ações provocam emoções;
- Presença de um narrador que intercambia suas experiências, participando direta
ou indiretamente dos fatos narrados, ou apenas é conhecedor de toda a história
e narra a trama como narrador onisciente;
- Foco narrativo: 1ª pessoa do discurso quando o narrador é personagem
protagonista ou testemunha; 3ª pessoa do discurso quando o narrador é
onisciente, ou seja, tem domínio total da trama e sabe tudo sobre as personagens;
- Pode haver mais de um narrador contando a mesma história, a isso chamamos
“polifonia”;
- Predominam as funções emotiva, poética, metalinguística da linguagem, mas
ocorrem também a referencial e a fática (essa última nos diálogos);
- Dramaticidade: presença de diálogos em discurso direto e indireto;
- Descrições detalhadas ou parciais de cenários (espaço), ação e personagens;
- Presença de personagens que interagem entre si e com o meio;
- Presença de elementos estruturais que organizam a narrativa: espaço (onde),
tempo (quando), personagens (quem), ação/conflito (o quê?) e enredo (como);
- Presença de um enredo que organiza toda ação.

Elementos estruturais do enredo:

- apresentação;
- ação/conflito;
- clímax;
- desfecho.

Foco narrativo

- 1ª pessoa
- 3ª pessoa

Personagens:

- protagonista
- antagonista
- coadjuvante

Classificação quanto ao dinamismo das características dos personagens

- planas
- típicas
- esféricas ou redondas
- simultâneas
- anáforas
- históricas
- míticas/ficcionais
Os cinco graus de personagens conforme seu nível de poder:
- O personagem é um deus, um ser divino e pode tudo por ser onipotente.
- O personagem é assistido por um Deus e tem qualidades sobre-humanas que se
manifestam não o tempo todo, mas de vez em quando.
- O personagem não é assistido por um Deus, mas tem qualidades notáveis (um gênio,
um herói, um sábio).
- O personagem é uma pessoa comum do meio social burguês e suas ações são
reproduções estéreis do cotidiano.
- O personagem é uma pessoa abaixo de sua própria condição humana e não consegue
compreender nem suas próprias vivências ou experiências.

Espécies do gênero épico em versos:


- Epopeia;
- Canção de gesta;
- Cordel;

Espécies do gênero épico em prosa:


- Romance; Novela; Conto; Crônica; Fábula.

Epopeia
Características:

- Poema narrativo de longo fôlego que narra a história de um herói representante


de um povo em lutas, batalhas, guerras, invasões, conquistas e viagens
fantásticas;
- Presença de mitologia pagã Greco-romana;
- Esse herói luta contra homens, feras, seres e monstros mitológicos, contra os
deuses que não o favorecem e buscam sabotar suas realizações;
- A linguagem das epopeias é elevada, bem elaborada (grandiloquente), erudita e
de rico vocabulário;
- Trata os temas universais da arte e da condição humana em dimensão universal;
- Há a valorização do heroísmo, da aventura, da coragem, das armas e do saber
usá-las em combate; valorização do combate desigual e da morte em glória;
- O poema é dividido em cantos, partes, episódios e estrofes com versos
rigorosamente metrificados e rimados e tende a apresentar um aspecto formal
impecável;
- O poema é de caráter nacionalista, patriótico e tende a exaltar a nação, a pátria
do autor e os heróis que ele cria;

Exemplos de epopeias:
- Ilíada, de Homero;
- Odisséia, de Homero;
- Teogonia, de Hesíodo;
- Argonáutica, de Apolônio de Rodes;
- Heracleia, de Panyassis;
- Eneida, de Virgílio;
- A divina comédia, de Dante;
- Orlando furioso, de Ludovico Ariosto;
- Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões;
- O paraíso perdido, de John Milton;
A canção de gesta
Características:

- Poema narrativo longo, porém menor que uma epopéia, que narra a estória
fabulosa de um herói e suas proezas bélicas ou lutas contra seres mitológicos,
homens e feras;
- Presença de mitologia celta, germana ou nórdica viking (escandinava);
- Presença de Paganismo e Cristianismo com predominância do primeiro;
- Uso frequente e obsessivo de metáforas e linguagem eloquente;
- Visão simplória da geografia do mundo ou invenção de espaços geográficos
reduzidos ou feéricos, fabulosos e sobrenaturais;
- Valorização do herói, das armas e do saber usá-las em combate, do combate
desigual e da morte em glória;
- Gestas mais famosas:

A canção de El Cid;
A canção de Rolando;
A canção de Beowulf;
A canção dos Nibelungos.

Cordel
Características:

- Poema narrativo de porte médio com vocabulário simplório e versos redondilhos


maiores ou menores;
- Narra de um modo geral os feitos de um herói popular que pode ser um vaqueiro,
um lavrador, um jagunço, um cangaceiro ou religioso/beato que luta contra os
opressores das famílias pobres do nordeste, norte de Minas e norte do Brasil;
- Cenário e personagens medievalizados. Exemplo: o vaqueiro com seus trajes de
couro cru e seu aguilhão lembra o cavaleiro andante medieval com sua armadura
e sua lança;
- O cordel de hoje em dia aborda temas diversos e populistas, o que, em alguns
casos, compromete o nível da linguagem e da opção temática adotada pelo autor;
- Coloquialismo e oralidade: linguagem popular próxima dos modos de dizer
regionalistas, com a reprodução de todos os desvios e “erros” próprios de
narradores sem muita instrução.
Autor recomendado: Patativa do Assaré (o Catulo da Paixão Cearense).
Gênero épico em prosa
Romance
Características:

- Narrativa em prosa, de longo fôlego, dividida em capítulos e/ou partes;


- Apresenta pluralidade de ação, com um núcleo de ação que representa os
conflitos do protagonista e outros núcleos os quais representam os conflitos das
demais personagens e giram na órbita do núcleo principal e a ele se ligam;
- Não há limite de ação;
- Não há limite na quantidade de personagens;
- Não há limite no tempo da narrativa, que pode narrar um dia na vida das
personagens como pode narrar a estória de três gerações de uma mesma família;
- Não há unidade ou limite de espaço: as personagens podem viver seus conflitos
em um só cenário ou transitar em vários cenários diferentes;
- Mescla elementos poéticos oriundos do gênero lírico e dramáticos advindos do
gênero dramático – diálogos, p. ex.;
- O tema comum a todos os romances escritos é o do “sentido da vida”: quem
somos? de onde viemos? aonde vamos? Qual é o sentido da vida?
- Formas romanescas: romance satírico, romance histórico, romance negro ou
gótico de horror sobrenatural, romance passional, romance urbano de costumes,
romance psicológico, romance indianista, romance sertanejo, romance fantástico,
romance experimental ou de tese, romance regionalista, romance universalista,
romance de cavalaria, romance ensaio, romance de mistério e suspense policial,
romance reportagem;
- O romance foi criado por Miguel de Cervantes, em 1605, quando escreveu “Dom
Quixote de La Mancha”.
Exemplos de romances:

Robinson Crusoé, Daniel Defoe


Moby Dick, Herman Melville
O conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas (pai)
Ulisses, James Joyce
Razão e sensibilidade, Jane Austen
Guerra e Paz, Liev Tolstói
Dom Casmurro, Machado de Assis
Anna Karenina, Liev Tolstói
Crime e castigo, Fiódor Dostoiévski
A Montanha Mágica, Thomas Mann
O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
Drácula, Bram Stoker
Os irmãos Karamazov, Fiódor Dostoiévski
Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa
O vermelho e o negro, Stendhal
Madame Bovary, Gustave Flaubert
Dom Quixote de La Mancha, Cervantes
São Bernardo, Graciliano Ramos
Lições de Abismo, Gustavo Corção
O velho e o mar, Ernest Hemingway
Novela
Características:

- Narrativa em prosa de porte médio de estrutura predominantemente linear e


núcleo dramático mais denso que o do conto, porém mais simples que o do
romance;
- Em termos quantitativos a novela é menor que o romance e maior que o conto;
- Não há limite de tempo, espaço e personagens, porém a trama fica amarrada a
um núcleo dramático denso, mas sem pluralidade de conflitos como no romance;
- Presença de diálogos e descrições como no romance, mas predomina a
narração;
- As novelas adensam-se e complicam-se quando são criadas sequências para
elas em “círculos novelísticos”;
- Exemplos de novelas: Campo geral, de Guimarães Rosa; Ana Terra, de Érico
Veríssimo; O recado do morro, de Guimarães Rosa;

O conto
Características:
- Narrativa curta em prosa, com núcleo dramático concentrado em que predomina
a concisão;
- Pode ou não ter elementos poéticos que podem amplificar sua carga dramática
e intensidade do núcleo e do clímax;
- Há limite de tempo, espaço, ação e personagens, mas nem sempre há unidade
de tempo e espaço;
- A concisão do conto pode ser de tal modo que o narrador o inicia “no meio do
caminho” e chega ao desfecho no clímax, provocando o anticlímax;
- Os contos mais tradicionais possuem enredo completo com apresentação,
ação/conflito, clímax e desfecho, já o conto moderno e contemporâneo tem uma
tendência a enredos concisos com apenas ação/conflito e clímax;
- Descrições detalhadas e parciais, predominando a parcial;
- Dramaticidade: presença de diálogos que dinamizam a ação;
- O conto aborda temas diversos, os mais comuns são: conto de humor, conto de
terror, conto de suspense policial, conto anedótico e conto fantástico;

O conto maravilhoso
O conto maravilhoso é um texto narrativo que geralmente se inicia situando
o herói ou a heroína em seu ambiente familiar, no tempo e no espaço, e apresenta
suas características. Apresenta um ou mais protagonistas, um vilão e um
problema a ser resolvido. Suas personagens são reis, príncipes, bruxas, anões,
princesas etc, e os lugares onde transcorre a ação são bosques, florestas,
castelos etc. Apresenta geralmente fatos mágicos e um final feliz. Inicia-se por
uma expressão que indica tempo impreciso e os fatos ocorrem no passado. O
narrador, em geral, é observador. Apresenta diálogo e a linguagem empregada é
predominantemente a norma padrão.
A crônica
A crônica é uma narrativa curta em prosa com estrutura geralmente
cronológica, limite de tempo, espaço, ação e personagens.
O cronista capta instantes do cotidiano e apresenta-os poeticamente com
humor, sensibilidade, ora também com ironia e tom crítico anedótico.
Há crônicas que valorizam o diálogo e estruturam-se dessa forma, quase
sem passagens narrativas. Nesse caso, há a predominância do discurso direto.
Outras valorizam a narrativa e outras a reflexão de caráter dissertativo.
A linguagem da crônica tem uma tendência ao coloquialismo e em alguns
casos a oralidade, quando busca ser uma reprodução estilizada dos “causos”
típicos da literatura popular do interior do país.
Valendo-se também da linguagem poética, a crônica valoriza a descrição e
o detalhe que não escapa aos olhos do cronista.
Os principais cronistas da literatura brasileira são: Rubem Braga, Fernando
Sabino, Otto Lara Rezende e Carlos Drummond de Andrade.

A fábula

A fábula foi criada pelo fabulista grego Esopo na Antiguidade e era


originalmente composta em versos, permanecendo assim até o Romantismo na
segunda metade do século XVIII. Do século XIX para cá, essa forma do gênero
épico em versos passou a ser escrita e traduzida em prosa.
A fábula caracteriza-se por conter animais como personagens principais.
Esses animais falam, agem e têm sentimentos e costumes que imitam os dos
seres humanos. Esses animais relacionam-se entre si e têm conflitos semelhantes
aos conflitos humanos. Há também nas fábulas homens que se relacionam
socialmente com esses animais ou com personagens alegóricos (nesse último
caso, p. ex. há o lenhador e a morte, na fábula “A morte e o lenhador”, de La
Fontaine).
Toda fábula é uma pequena narrativa alegórica, portanto, há sempre uma
reflexão moral no final da estória.
Quando os personagens de uma fábula são coisas / seres inanimados
personificados e animados pela imaginação do autor, ela é chamada de Apólogo.
Gênero dramático (Teatro) - Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo
Características:

- Não há eu lírico nem narrador, mas atores que representam um espetáculo


teatral;
- O dramaturgo é o autor que escreve a peça para os atores decorarem o texto (as
falas) e representar em um palco com um cenário e uma iluminação adequada;
- O enredo da peça toma corpo à medida que os atores representam o texto e se
movimentam no palco para dar dramaticidade, dinamismo e vida à representação
teatral;
- A produção cuida da estruturação física do espetáculo teatral: define o local do
espetáculo, o cenário, a iluminação, a sonoplastia, o figurino, a divulgação do
espetáculo etc.;
- O diretor é o autor do espetáculo (não o autor da peça). É ele quem escolhe os
atores e define os papéis desempenhados por cada ator. Ele pode ou não querer
ser fiel ao texto original da peça e pode propor algumas mudanças na conduta do
espetáculo;
- No texto da peça escrita pelo dramaturgo, há em itálico e também em itálico entre
parênteses algumas passagens denominadas rubricas. As rubricas são textos
que instruem os atores, o diretor da peça e a produção sobre detalhes da
representação tais como o posicionamento dos atores no palco, o tom de voz (a
entonação) deles em algumas passagens do texto, a composição do cenário, da
iluminação, do figurino e dos sons da peça (sonoplastia), a conduta dramática dos
atores. As rubricas também colaboram para um melhor entendimento da peça
para os leitores do texto quando está publicado em livro e disponível para quem
aprecia ler peças teatrais;
- O texto da peça teatral é composto em discurso direto, exceto no caso das
rubricas;
- O teatro surgiu na Grécia Antiga em versos, cantado e oral, para depois ser
escrito na forma de peça teatral e publicado em livro;
- As espécies do gênero dramático são: tragédia, comédia, farsa, auto, drama e a
ópera.
Tragédia

Características:

- Surgiu na Grécia Antiga. Advém de uma festa pagã grega chamada “Canto do
bode”;
- As personagens são superiores: pertencem a nobreza;
- O protagonista passa por uma catarse ou expiação: sofre constantemente e,
muitas vezes, morre no final;
- O expectador tende a sofrer com o protagonista e viver o terror experimentado
por ele ao longo da peça;
- A angústia e o terror experimentado pelo protagonista são inevitáveis e a morte
figura, quase sempre, como o menor dos males.
- Tragédias famosas e seus autores: Édipo-rei, de Sófocles; Medeia, de Eurípedes;
Prometeu acorrentado, de Ésquilo; Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

Comédia

Características:

- Peça teatral cômica que promove o riso através da sátira fomentada pela crítica
social ácida de costumes, comportamentos e valores;
- A comédia surgiu na Grécia Antiga advinda de uma festa tradicional chamada
“Festa do Canto da Aldeia”;
- As personagens da comédia são mistas, podendo ser superiores (representantes
da nobreza) ou inferiores (representantes da plebe – o povo), predominando as
inferiores; podem ser também típicas ou caricaturais, apresentadas de maneira a
expor o ridículo de suas ações, pensamentos, costumes e valores;
- A comédia propõe uma crítica à sociedade através dos vícios de seus
representantes;
- Erotismo picaresco;
- Aborda temas familiares, conjugais, sexuais, políticos e sociais com a finalidade
de promover uma análise crítica dos valores, visando um riso que representa, na
verdade, a nossa consciência do quão podemos ser equivocados e patéticos;
- A linguagem da comédia é dinâmica, cheia de diálogos “no limiar”, ironia,
sarcasmo, malícia; é também de caráter sexista e cheia de ambiguidades;
- Os comediógrafos e suas peças: “Lisístrata – a greve do sexo”, “As nuvens” e
“As aves”, de Aristófanes; “Sonho de uma noite de verão” e “A megera domada”,
de William Shakespeare; “O noviço” e “Juiz de paz na roça”, de Martins Pena; “O
demônio familiar”, de José de Alencar.
Farsa

Características:

- Peça teatral cômica criada na Roma Antiga baseada num provérbio latino que
diz “castigat ridendo mores” (rindo castiga-se maus hábitos);
- Pratica o riso fácil, a comédia pastelão, estilo “bolo na cara”;
- Valoriza a caricatura, os personagens planos e típicos e também uma linguagem
dinâmica, cheia de diálogos “no limiar”, ironia, sarcasmo, malícia, sexismo e
ambiguidades;
- Critica a sujeira moral e as deficiências físicas, bem como aspectos estéticos
das personagens;
- Um exemplo de farsa é “A farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente – fundador e
principal representante do teatro português; e a “Farsa da boa preguiça”, de
Ariano Suassuna.

Auto
Características:

- Peça teatral originalmente composta em versos redondilhos, de tema religioso,


moralizante que, após Gil Vicente, passou também a ser satírica e cômica, por
promover uma crítica social às pessoas corruptas que corrompem as instituições;
o auto hoje é composto em prosa;
- O auto apresenta um tema religioso e sempre foi usado didaticamente para
catequizar ou conscientizar os cristãos ou não cristão dos valores morais da
igreja de Roma;
- A tradição criada por Gil Vicente não foi seguida por Padre José de Anchieta (no
“Auto de São Lourenço”) e João Cabral de Melo Neto (no “Auto do Frade”), mas
por Ariano Suassuna, autor do “Auto da Compadecida” – auto que dialoga
intertextualmente com o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.

Drama
Características:

- Peça teatral advinda da tragicomédia que passou a ser muito cultuada na


segunda metade do século XVIII, com o Romantismo;
- Foi praticada em versos até o final do século XVIII, de lá para cá, passou a ser
composta em prosa;
- As personagens pertencem de um modo geral a burguesia;
- Focaliza os costumes, comportamentos e valores burgueses; foi criada para
satisfazer o gosto burguês por dramas;
- O protagonista sofre, enfrenta muitos conflitos, mas pode solucionar seus
problemas e terminar bem;
- Dramas conhecidos: “Fausto”, de Goethe; “Frei Luís de Souza”, de Almeida
Garrett; “Gonzaga ou a rebelião de Minas”, de Castro Alves; “Leonor de
Mendonça”, de Gonçalves Dias.
Tradições artísticas – características:
Tradição Clássica ou Apolínea: Apolo = sol, luz, dia / Literatura diurna = Literatura
iluminada pela luz da razão – culto à razão; valoriza a lógica de pensamento racional;
busca a contenção dos sentimentos e emoções; objetividade, universalismo, mitologia
pagã greco-romana; rigor formal: correção gramatical, clareza, concisão na exposição
das ideias, preferência por composições de forma fixa (epopeia, soneto etc.), disciplina
e rigor na composição métrica do verso na poesia e epopeia, predomínio de versos
isométricos, rimas ricas, estrofes padronizadas segundo os modelos clássicos da
Antiguidade e do Renascimento, imitação dos modelos da arte clássica da Grécia e da
Roma antiga, vocabulário culto / erudito e selecionado, simetria: busca pelo equilíbrio
e a harmonia da forma com o conteúdo, visando à beleza e a perfeição, mimese:
arte/artista como imitação da natureza (como a natureza, o artista tem que ser perfeito
em tudo que produz), culto à natureza como referência máxima de beleza e perfeição,
valorização do ritmo, da melodia e da musicalidade; visão clara do real (visão focada na
realidade); Hedonismo = culto ao prazer físico, Epicurismo = culto ao prazer metafísico,
erotismo sensual contido de sentimentalismos, simplicidade na forma de se expressar.

Tradição Romântica ou Dionisíaca: Dionísio / Baco = lua, trevas, noite / Literatura


noturna = Literatura não iluminada pela luz da razão / Loucura, sentimentalismo emotivo,
subjetividade, expressão exagerada e extravagante de sentimentos e emoções,
individualismo, mitologia e folclore, misticismo e religiosidade; liberdade formal:
relativização das normas gramaticais, obscurantismo, experimentalismos na escrita,
coloquialismo e oralidade, valorização da liberdade de expressão, preferência pelo
poema (gênero lírico), pelo romance (gênero épico), o drama (gênero dramático) e a
confluência de gêneros literários, verso algumas vezes branco (sem rimas) e livre (sem
metrificação); discurso sinuoso, complexo (por ser subjetivo) e, em alguns casos,
prolixo; assimetria: valorização da descrição de formas alongadas e curvilíneas que
evocam a instabilidade emocional ou de opinião, cromatismo, desequilíbrio entre a
forma e o conteúdo; culto à natureza como espaço ideal e espaço de idealização e
sonho, culto à natureza como referência de beleza; valorização da imaginação, da
fantasia, do sonho e do pesadelo; culto ao vício (bebida, jogo, mulheres, aventura,
alucinógenos); amor e morte: amor que leva à morte, amor que transcende a morte,
amor e tragédia: visão dramática do destino dos amantes, desencontro amoroso; visão
distorcida do real; idealização da beleza da mulher e do amor; idealização da aventura
e do brilhantismo do herói; sensualidade e erotismo; valorização do drama e dos
conflitos existenciais / morais.
Literatura da Antiguidade greco-romana (clássica) – séculos VIII a.C. aos I a.C.:
Características:
- Culto à razão;
- Valorização da lógica de pensamento racional;
- Busca o equilíbrio entre a razão e os sentimentos e emoções;
- Culto à natureza como referência de beleza e perfeição;
- Objetividade;
- Universalismo;
- Mitologia pagã greco-romana;
- Aspectos formais: correção gramatical, clareza, concisão na exposição das ideias,
preferência por composições de forma fixa (epopeia), disciplina e rigor na composição
métrica do verso na poesia, predomínio de versos isométricos, estrofes padronizadas,
vocabulário culto / erudito e selecionado;
- Simetria: busca pelo equilíbrio e a harmonia da forma com o conteúdo, visando à
beleza e a perfeição;
- Mimese (imitação): arte/artista como imitação da natureza (como a natureza, o
artista tem que ser perfeito em tudo que produz), culto à natureza como referência
máxima de beleza e perfeição;
- Valorização do ritmo, da melodia e da musicalidade;
- Visão clara do real (visão focada na realidade mesmo quando mascarada por mitos);
- Hedonismo = culto ao prazer físico;
- Epicurismo = culto ao prazer metafísico;
- Erotismo sensual contido de sentimentalismos;
- Simplicidade na forma de se expressar.
Grécia (século VIII a.C. a século II a.C)
Século VIII a.C.
Homero
- Ilíada (epopeia) – a guerra de Tróia
- Odisseia (epopeia) – as aventuras de Odisseu / Ulisses
- Hinos homéricos
Hesíodo
- Teogonia (epopeia)
- Os trabalhos e os dias

Século VII a.C.


Álcman
- Lírica
Arqíloco de Paros
- Elegias

Século VI a.C.
Hipônax
- Lirícas e Satíricas
Alceu
- Líricas
Safo de Lesbos
- Líricas
Esopo
- Fábulas
Tales de Mileto (filosofia)
Anaximandro (filosofia)
Demócrito (filosofia)
Heráclito (filosofia)
- Dialética (o caminho entre as ideias)
Século V a.C.
Anacreonte de Teos
- Líricas
Eurípedes
- Medeia (tragédia)
Sófocles
- Édipo-Rei (tragédia)
Ésquilo
- Prometeu acorrentado (tragédia)
Píndaro
- Líricas

Século IV a.C.
Aristófanes
- Lisístrata (comédia)
- As nuvens (comédia)
Sócrates (filosofia)
Platão (filosofia)
- O banquete (o amor)
- Íon (poesia, inspiração divina ou produto do conhecimento?)
- Teeteto (natureza do conhecimento escrito)
- Protágoras (virtude se aprende?)
- República (definição de justiça)
- Cármides (ética)
- Menexeno (a morte no campo de batalha)
Láques, ou da coragem (esse livro apresenta um novo conceito de coragem ao
cidadão grego, acostumado antes à concepção de heroísmo relacionada a Aquiles e
Odisseu, mas que agora passa a ganhar uma conotação de ação moralmente
equilibrada e justa.)
Aristóteles (filosofia)
- Arte poética (os gêneros literários e o conceito de Mimese)
- Da alma (a imaginação e o pensamento e as relações entre sensação e intelecto)
- Retórica (Persuasão – dialética e retórica criam uma parceria para um sistema de
persuasão baseado no conhecimento, e não na manipulação e omissão.)
Século III a.C.
Apolônio de Rodes
- As Argonáuticas (epopeia)
Menipo de Gadara
- Sátiras

Século II a.C.
Mosco
- Líricas bucólicas
- Gramática
Eratóstenes
- Hermes
Aristófanes de Bizâncio
- Crítica literária
Antípatro de Sídon
- Líricas
- As sete maravilhas do mundo antigo
Aristarco de Samotrácia
- Escreveu críticas severas a Homero, alegando o caráter ilegítimo dos versos do
poeta.

Roma (século III a.C. a século II d.C)


Século III a.C.:
Titus Maccius Plautus – Plauto
(comédias e farsas)
- O anfitrião
- O truculento
Século II a.C.
Publius Terentius Afer – Terêncio
(comédias)
- A sogra
- O eunuco
Século I a.C.
Gaius Valerius Catullus - Catulo
- Elegias
Quintus Horatius Flaccus - Horácio
- Odes
- Sátiras
- Arte poética
Titus Lucretius Carus – Lucrécio
- Poema epicurista: “Sobre a natureza das coisas”.
Publius Ovidius Naso – Ovídio
- As metamorfoses
- Arte de amar
Publius Vergilius Maro - Virgílio
- Bucólicas
- Eneida (epopeia)

Século I d.C.
Titus Petronius Arbiter - Petrônio
- Satíricon (narrativa pré-romanesca)

Século II d.C.
Lucius Apuleius - Apuleio
- Metamorfoses ou o Asno de ouro (narrativa pré-romanesca)
Literatura da Idade Média

Idade Média (476 d.C. a 1453)


Alta Idade Média (476 d.C. a 1000)
- Poemas heroicos, líricos e satíricos
- Eddas e Sagas
- Epopeias
- Cantigas
- Canções de Gesta
- Cronicões
- Farsas e Autos

Baixa Idade Média (1000 a 1453)

Trovadorismo

Origens: Provença no sul da França, ano 1100.

Em Portugal
- 1189: “Cantiga da Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós; 1418: surgimento o
Humanismo em Portugal.

Contexto Histórico:
- Baixa Idade Média
- Feudalismo
- Teocentrismo
- Estrutura social: Clero/Rei, Nobres/Plebe
- Guerras de reconquista do solo Ibérico (Português e Espanhol)
- Cruzadas
- Peste Negra

Características gerais da literatura medieval

- Tradição Dionisíaca (Romântica)


- Poesia cantada: composição no estilo letra e música;
- Poesia (cantigas) e prosa (novelas de cavalaria);
- Idealização do amor, da beleza feminina e da aventura;
- Mulher = anjo/diabo;
- Valoriza a lealdade, a honra, a coragem, a nobreza e a fé (cristã).

Poesia Medieval

Cantigas Lírico-Amorosas
Cantiga de Amor
- Eu lírico masculino;
- Mulher superior ao homem;
- Vassalagem amorosa;
- Coita amorosa: dor, sofrimento;
- Amor cortês: de cavalheiro;
- Amor platônico, espiritualizado;
- Origem Provençal (sul da França);
- Linguagem poética elaborada;
- Ambiente palaciano.
Exemplo:

Cantiga de Amor

Como morreu quem nunca amar


Se fez pela coisa que mais amou,
E quanto dela receou
Sofreu, morrendo de pesar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem foi amar


Quem nunca bem lhe quis fazer,
E de quem Deus lhe fez saber
Que a morte havia de alcançar,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Igual ao homem que endoideceu


Com a grande mágoa que sentiu,
Senhora, e nunca mais dormiu,
Perdeu a paz, depois morreu,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem amou tal


Mulher que nunca lhe quis bem
E a viu levada por alguém
Que não a valia nem a vale,
Ai, minha senhora, assim morro eu.

Paio Soares de Taveirós

Cantiga de Amigo

- Eu lírico feminino;
- Mulher inferior ao homem;
- Coita amorosa: saudade do amigo (namorado);
- Amor carnal, erótico;
- Metáforas eróticas extraídas da natureza;
- Origem popular Lusitana;
- Ambiente rural, familiar ou natural;
- As cantigas de amigo podem ser campesinas (ambiente rural), marinas (ambiente
litorâneo), serranas (ambiente serrano ou montanhês) e silvícolas (ambiente: bosques
e florestas), domésticas (ambiente doméstico);
- Linguagem simples;
- Presença de paralelismo e refrão.

Exemplo:

Cantiga de Amigo

Ai flores, ai flores do verde pinho,


Se sabeis novas do meu amigo?
Ai, Deus, onde ele está?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
Se sabeis novas do meu amado?
Ai, Deus, onde ele está?
Se sabeis novas do meu amigo,
Aquele que mentiu o que combinou comigo?
Ai, Deus, onde ele está?
Se sabeis novas do meu amado,
Aquele que mentiu o que me havia jurado?
Ai, Deus, onde ele está?

– Vós perguntais pelo vosso amigo?


E eu bem vos digo que ele está são e vivo:
Ai, Deus, onde ele está?
Vós perguntais pelo vosso amado?
E eu bem vos digo que ele está vivo e são:
Ai, Deus, onde ele está?
E eu bem vos digo que ele está são e vivo
E que estará convosco antes do prazo terminado:
Ai, Deus, onde ele está?
E eu bem vos digo que ele está vivo e são
E que estará convosco antes qu’o prazo s’esgote:
Ai, Deus, onde ele está?

D. Dinis

Cantigas Satírica
Cantiga de Escárnio
- Crítica indireta;
- Não cita o nome da pessoa criticada;
- Linguagem maliciosa e cheia de ambiguidades.

Cantiga de Escárnio

Ai, dona feia, foste-vos queixar


De que vos nunca louvo em meu trovar;
E umas trovas vos quero dedicar
Em que louvada de toda a maneira
Sereis; tal é o meu louvar:
Dona feia, velha e gaiteira.

Ai, dona feia, se com tanto ardor


Quereis que vos louve, como trovador,
Trovas farei e de tal teor
Em que louvada de toda a maneira
Sereis, tal o meu louvor:
Dona feia, velha e gaiteira.

Ai, dona feia, nunca vos louvei


Em meu trovar eu que tanto trovei
E eis que umas trovas vos dedicarei
Em que louvada de toda maneira
Sereis e assim vos louvarei:
Dona feia, velha e gaiteira.

D. Juan Garcia de Guilhade


Cantiga de Maldizer
- Crítica direta;
- Cita o nome da pessoa criticada;
- Linguagem vulgar.

Cantiga de Maldizer

Foi Rui Queimado morrer de amor


Em seus cantares, ao que dizia,
Por uma dama e porque queria
Mostrar engenho de trovador.
Como ela lhe não quis valer,
Fez-se ele em seus cantares morrer,
Mas ressurgiu ao terceiro dia.

Pêro Garcia Burgalês

Prosa Medieval

Novelas de Cavalaria

Características

- Longas narrativas em prosa de fundo heroico, guerreiro e religioso;


- Origem: Cantigas de Gesta;
- Valoriza o cavalo e o cavaleiro como armas de guerra;
- Valoriza as armas e o saber usá-las em combate;
- Valoriza o combate desigual e a morte em glória;
- Valorização dos costumes e da diversidade dos costumes;
- Linguagem poética elaborada;
- Idealiza a mulher, o amor, a aventura;
- Apresenta uma visão da mulher como um ser duplo: anjo/diabo;
- Contexto histórico: as Cruzadas;
- Valoriza a lealdade, a força, a coragem/valentia, a amizade, a honra, a nobreza, a
realeza, a fé (cristã);
- Valoriza o inimigo como um forte oponente;
- Presença de paganismo e cristianismo;
- Círculos novelísticos: Artuniano, rei Arthur (inglês); Carolíngeo, Carlos Magno
(francês), DeGaula (português).

Cronicões – textos históricos escritos sem averiguação/investigação científica das


fontes.
Hagiografias – biografias de santos da igreja.
Nobiliários – livros de linhagem compostos para resolver assuntos de caráter jurídico.
O Humanismo

Origens:
Itália, século XIV:

- Dante: “A Divina Comédia”, “Sonetos”;


- Petrarca: “Sonetos”, “África”;
- Boccaccio: “Decamerão”.

Portugal, século XV:


Limites:

- 1418: Fernão Lopes é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo; 1434: Fernão Lopes
é nomeado cronista-mor do reino de Portugal.

- 1527: Sá de Miranda volta da Itália e apresenta o “doce estilo novo” e a “medida


nova”.

Contexto Histórico:

- Período de transição do Medievalismo para o Renascimento;


- Antropocentrismo;
- Crise do feudalismo;
- Crise da Escolástica;
- Absolutismo;
- Início do Mercantilismo e surgimento da burguesia mercantil.
- Humanismo = movimento intelectual de preparação (estudo) para o Renascimento da
cultura greco-romana da Antiguidade Clássica.

Características gerais:

- Transição do pensamento teocêntrico para o Antropocêntrico;


- Antropocentrismo: interesse pelo homem, abrandamento da religiosidade, razão;
- Estudo e pesquisa sobre a cultura da Antiguidade Clássica greco-romana (latina);
- Crítica às falhas morais da sociedade;
- Tentativa de imitar os modelos e valores da arte e do pensamento clássico da
Antiguidade greco-romana;
- Poesia falada, lida, declamada, NÃO mais cantada;
- Poesia palaciana;
- Prosa historiográfica;
- Teatro religioso, moralizante e satírico.

Poesia Palaciana
- Versos redondilhos maiores (7 sílabas poéticas) e redondilhos menores (5 sílabas
poéticas);
- Poesia composta pelos fidalgos da corte e da burguesia mercantil, daí o
termo “palaciana”: poesia feita pelos filhos da nobreza e da burguesia mercantil que
viviam em palácios e tinham acesso às escolas e universidades;
- Tentativa de imitar os modelos e valores da poesia clássica da Antiguidade greco-
romana;
- Temas: Amor platônico (exaltação da figura feminina, idealização da beleza da
mulher, coita amorosa de dor, sofrimento e saudade) e Amor carnal (erotismo,
encontro físico dos amantes); Sátira social (críticas ao clero e aos cavaleiros); Poesia
religiosa (moralizante e alegórica); Poesia de louvor épico (louvor aos feitos heroicos e
guerreiros dos portugueses).

Obra importante: “O cancioneiro geral de Garcia Rezende” com poemas de Garcia


Rezende (organizador), Jorge d’ Aguiar, Duarte de Brito, João Roiz de Castel-Branco,
Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e Sá de Miranda.

Cantiga, partindo-se

Senhora, partem tam tristes


meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhum por ninguém.

João Roiz de Castel-Branco

Prosa Historiográfica
- Realismo: preocupação com os detalhes, narrações e descrições detalhadas,
diálogos;
- Averiguação, investigação das fontes históricas, pesquisa e leitura crítica de
documentos e artefatos históricos;
- Inclusão das classes populares na história oficial: referência a ação popular na
construção da história oficial de Portugal;
- Obras: Crônicas de Fernão Lopes.

Teatro Humanista
Gil Vicente

- Fundador e principal representante do teatro português;


- Escreveu peças em português e espanhol;
- Escreveu suas peças em versos redondilhos;
- Escreveu Autos e Farsas;
- Valoriza o texto escrito e também o improviso (esse último é característico de suas
apresentações);
- Não segue a estrutura das três unidades descrita por Aristóteles na “Arte
Poética”(espaço, tempo e ação);
- Crítica não às instituições, mas os corruptos;
- Criação de personagens típicos: caricaturas dos representantes de cada grupo social
e suas respectivas funções (ofícios) na sociedade;
- Criação de personagens alegóricos: metaforizam ações, comportamentos ou
atitudes.

Obras importantes:
- Auto da barca do Inferno, Auto da Lusitânia, Farsa de Inês Pereira, O Velho da Horta.
Renascimento: Classicismo

1527: Sá de Miranda introduz a “medida nova”


1580: Início do Barroco.

Contexto Histórico

- Idade Moderna
- Imprensa de Gutenberg e Heliocentrismo de Copérnico
- Renascimento
- Antropocentrismo
- Absolutismo
- Mercantilismo
- Grandes Navegações
- “Descobrimento” da América
- Reforma e Contrarreforma

Características

- Tradição Apolínea (Clássica)


- Retorno e imitação dos modelos e valores da Antiguidade Clássica greco-romana
- Racionalismo
- Objetividade
- Universalismo
- Mimese = imitação da natureza (realidade)
- Mitologia Pagã greco-romana
- Hedonismo: culto ao prazer
- Rigor formal: preferência por composições de forma fixa (sonetos, epopéias etc.),
metrificação rigorosa, estrofe padrão, vocabulário erudito, rimas e ritmo, musicalidade e
melodia, correção gramatical, clareza e concisão.
- Simetria: equilíbrio e harmonia de forma e conteúdo, visando o belo absoluto, a
perfeição (belo = bom, justo, verdadeiro)
- Maneirismo: tentativa de unir razão com emoção, formas alongadas, curvilíneas e
sinuosas às formas simétricas do padrão clássico de beleza; uso de figuras de
linguagem de pensamento (antítese, paradoxo, oxímoro, hipérbole), figuras de
construção (hipérbato) etc..

Luis Vaz de Camões

- Poesia lírica

A lírica camoniana quanto à forma se divide em:

Medida velha
- Versos redondilhos menores (5) e maiores (7);
- Cantigas e canções;

Medida nova
- Versos decassílabos (10);
- Sonetos, Odes, Elegias e Éclogas;

Quanto ao conteúdo, a lírica de Camões focaliza os temas universais:

- Amor platônico e Amor carnal;


- Passagem do tempo, mudança e brevidade;
- Desacerto do mundo;
- Ideal de beleza e perfeição.

- Poesia épica

Epopéia: “Os Lusíadas”

Quanto à forma “Os Lusíadas” apresenta:

- 8816 versos decassílabos heroicos (E.R. 6-10) e sádicos (E.R. 4-8-10);


- 1102 estrofes em oitava rima (ABABABABCC);

- 10 cantos e 5 partes: 1ª) Proposição, 2ª) Invocação, 3ª) Dedicatória, 4ª) Narração, 5ª)
Epílogo.

4ª) Narração: quanto ao conteúdo, “Os Lusíadas” narra:

- A viagem de Vasco da Gama de Portugal à Índia, contornando o continente africano


no oceano Atlântico, passando pelo Cabo da Boa Esperança (Tormentas) e entrando
no oceano Índico rumo a Calecut;

- A História guerreira e gloriosa de Portugal;

- A interferência dos deuses do panteão mitológico romano no destino dos navegadores


portugueses durante a viagem de Vasco da Gama à Índia.
Trecho: as 20 primeiras estrofes do poema.

Os Lusíadas - Canto I

Proposição:
1
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

Invocação:
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.
5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.

Dedicatória:
6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antígua liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Para do mundo a Deus dar parte grande;

7
Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou)

8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco oriental, e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo rio;

9
Inclinai por um pouco a majestade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno:
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de til gente.

11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas,
Que excedem as sonhadas, fabulosas;
Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro,
E Orlando, inda que fora verdadeiro,

12
Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei o ao Reino tal serviço,
Um Egas, e um D. Fuas, que de Homero
A cítara para eles só cobiço.
Pois pelos doze Pares dar-vos quero
Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço;
Dou-vos também aquele ilustre Gama,
Que para si de Eneias toma a fama.

13
Pois se a troco de Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele que a seu Reino a segurança
Deixou com a grande e próspera vitória;
Outro Joane, invicto cavaleiro,
O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.

14
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Fizeram, só por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo, e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora;
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a morte.
15
E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que pelo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras, e do Oriente os marços,

16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu exício afigurado;
Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tethys todo o cerúleo senhorio
Tem para vós por dote aparelhado;
Que afeiçoada ao gesto belo e tenro,
Deseja de comprar-vos para genro.

17
Em vós se vêm da olímpica morada
Dos dois avós as almas cá famosas,
Uma na paz angélica dourada,
Outra pelas batalhas sanguinosas;
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos tem lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.

18
Mas enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Para que estes meus versos vossos sejam;
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.
Narração:
19
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteo são cortadas

20
Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via-Láctea juntamente,
Convocados da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
(...)
Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões – Editora Martin Claret.
O Quinhentismo no Brasil

Limites
- 1500: “Carta ao rei Dom Manuel”, de Pero Vaz de Caminha.
- 1601: “Prosopopeia”, de Bento Teixeira (início do Barroco no Brasil).

Contexto Histórico
- Idade Moderna
- Imprensa de Gutenberg e Heliocentrismo de Copérnico
- Renascimento
- Absolutismo
- Mercantilismo
- Grandes navegações
- “Descobrimento” da América
- Reforma e Contrarreforma

Características
- Divide-se em duas manifestações:

Literatura Informativa de Viagem

- Crônicas e cartas dos cronistas e aventureiros do “descobrimento” e das expedições


exploradoras;
- Relatos sobre os primeiros contatos dos europeus brancos com os índios
americanos;
- Narrações e descrições detalhadas da descoberta, da terra, do índio (seus costumes,
cotidiano, valores, crenças / superstições, comportamento etc.) e da biodiversidade
(fauna e flora);
- Valorização da descoberta, da terra, do índio;
- Relatos sobre a conversão do gentio (os índios).
- Principais representantes: Pero Vaz de Caminha, Hans Staden, Manuel da Nóbrega,
Pero de Magalhães Gândavo e dos franceses Thevet e Léry.

Literatura Formativa Religiosa / Catequética

- Textos de catequese escritos para os trabalhos de conversão do gentio (índios);


- Autos (teatro religioso e moralizante), cartas (relatos sobre os trabalhos da
Companhia de Jesus), poemas em versos redondilhos (maiores, 7; e menores, 5) de
louvor à Virgem e as outras santas da Igreja Católica.
- Principal representante: Pe. José de Anchieta.
O Barroco

Limites
- 1601: “Prosopopeia”, de Bento Teixeira.
- 1768: “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa (início do Arcadismo)

Contexto Histórico
- Contrarreforma
- Invasões holandesas no Brasil
- Ciclo da cana-de-açúcar
- Início da mineração e exploração do ouro em Minas Gerais

Características
- Tradição Dionisíaca (romântica);
- Retorno aos valores medievais sem abandonar os valores do Renascimento e do
Maneirismo;
- Barroco = pérola deformada, porosa, áspera e de tons claros e escuros;
- Arte do homem em conflito e angústia existencial e moral;
- Tentativa de unir valores opostos: razão X fé, Medievalismo X Renascimento,
Teocentrismo X Antropocentrismo, Cristianismo Católico X Mitologia Pagã greco-
romana, êxtase místico religioso X êxtase carnal erótico etc..
- Técnicas de composição: Espelhismo – consiste em atribuir a um substantivo vários
adjetivos ou palavras e expressões de mesmo valor; Disseminação e recolha de
palavras: dissemina palavras nos vários versos de uma estrofe depois as recolhe na
estrofe seguinte apenas no último verso; Disseminação e recolha de ideias: Dissemina
argumentos num texto para depois aproximá-los do argumento principal que deu
origem ao tema desenvolvido;
- Propõe um trabalho de linguagem envolvente e ao mesmo tempo complexo com o
uso de figuras de linguagem e tropos;
- Linguagem rebuscada e complexa, que mescla o erudito com o coloquial/oral;
- Expressão exagerada e extravagante de sentimentos e emoções;
- “Memento Mori”: obsessão pelo tema da morte;
- Presença de duas correntes estilísticas:

Cultismo ou Gongorismo (referência a Luís de Gongora):

- Barroco das imagens, formas, contornos / cores, cenas e quadros;


- Uso obsessivo de figuras de linguagem de pensamento (antítese, paradoxo /
oximoro, hipérbole), de harmonia (aliterações e assonâncias) e de construção
(hipérbato, quiasmo);
- Linguagem envolvente e sensual que privilegia a imagem, a cena ou o quadro
(paisagem, retrato de mulher, visão erótica da beleza feminina e idealização);
- Espelhismo e Disseminação e recolha de palavras;
- Valoriza o cromatismo (cores) e o estrato sonoro (sons);
- Principal representante: Gregório de Matos Guerra (o Boca do Inferno).

Gregório de Matos Guerra (o Boca do Inferno)

Sua poesia se divide em:


- Poesia lírica de amor: platônico e carnal
- Poesia reflexiva: filosófica (carpe diem: aproveita o dia - preocupação com a
brevidade da vida) e religiosa (preocupação com a salvação da alma)
- Poesia graciosa: fala de festas e eventos tradicionais da Bahia
- Poesia encomiástica: feita sob encomenda ou para bajular
- Poesia satírica: sátira social e política e sátira fescenina.
Conceptismo ou Quevedismo (referência a Francisco de Quevedo):

- Barroco das ideias e argumentos;


- Valoriza o jogo de ideias e o raciocínio sinuoso;
- Vale-se da parenética (eloquência: arte de elaborar discursos bem sucedidos e
capazes de formar opinião ou converter);
- Traduz os interesses da Contrarreforma;
- Trabalha a linguagem de forma a privilegiar a boa argumentação baseada nos
ensinamentos bíblicos mesclados à filosofia dos gregos Platão e Aristóteles;
- Principal representante: Pe. Antônio Vieira.

Pe. Antônio Vieira

- Escreveu cartas e sermões


- Mestre da parenética (eloquência: arte de elaborar discursos bem sucedidos e
capazes de formar opinião ou converter)
- Defensor de causas perdidas: sebastianismo, defesa dos índios e dos africanos
contra a escravidão
- Profundo conhecedor da bíblia, da filosofia, da história e da literatura
- Tinha domínio de latim e outros idiomas
- Resgatou o pensamento de Platão e Aristóteles.
O Arcadismo

O Arcadismo ou Neoclassicismo é uma escola literária do século XVIII. No Brasil


ocorreu de 1768 a 1836.
O termo Arcadismo vem de Arcádia, região na Grécia que na Idade Antiga era
predominantemente agropastoril. Ali, dizem, nasceu a poesia ocidental. A Grécia desse
tempo era ágrafa (não havia adotado de todo a escrita) e os aedos (poetas) eram
homens do campo (agricultores, pastores, vaqueiros etc.) ou pescadores do litoral ou
guerreiros. Ali, dizem, a poesia floresceu em versos, era cantada e acompanhada com
instrumentos musicais primitivos de percussão, sopro e corda (nesse último caso, o
instrumento é a lira – origem dos termos “lírico” e “lirismo”). Essa poesia floresceu,
portanto, lírica, épica e dramática e em todas as formas era composta em versos,
cantada e acompanhada com instrumentos musicais, sendo a lira o principal deles.
Os temas mais comuns dessa poesia giravam em torno da vida cotidiana desses
homens e seus valores: a natureza, a vida no campo, o trabalho, a reflexão filosófica, a
passagem do tempo, a mudança, a brevidade da vida, dos seres e das coisas, as
crenças e mitos, o mar, o amor e a guerra.
Séculos depois, na Grécia clássica do século V a.C. alguns poetas elevaram o
nível desses cantos e foram imitados na Roma do século I a.C. por artistas como Horácio
e Virgílio. Esse último escreveu, além da epopeia Eneida, dois livros de poemas que
muito influenciaram a poesia bucólica pastoril e didática do Arcadismo no século XVIII:
“Bucólicas” e “Geórgicas”.
O poeta português Luiz Vaz de Camões, no Classicismo Renascentista também
aborda o bucolismo/pastoralismo no século XVI, mas é no Arcadismo e no século XVIII
que os poetas árcades desenvolvem o estilo característico da Nova Arcádia.

Limites do Arcadismo no Brasil:

- 1768: “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa.


- 1836: “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Domingos Gonçalves de Magalhães – início
do Romantismo.

Contexto Histórico:

- Revolução Industrial (Inglaterra), êxodo rural, fome, Revolução Francesa, período


Napoleônico (1799-1815), Iluminismo, Enciclopedismo, contestação do poder absoluto
dos monarcas e crise do Absolutismo.
- No Brasil: Descoberta do ouro em Minas Gerais e início da mineração no Brasil,
deslocamento do centro econômico e cultural do Nordeste (Recife, Olinda, Salvador)
para o Sudeste (Vila Rica, São João Del Rei, Rio de Janeiro), Inconfidência Mineira,
período Pombalino (Marquês de Pombal) e antijesuitísmo.

Características gerais:

- Tradição Apolínea (Clássica);


- Retorno e imitação de modelos e valores dos Classicismos grego e romano antigos e
do Classicismo Renascentista;
- Racionalismo: culto à razão; Objetividade: vê a realidade tal como ela é.;
- Universalismo: temas de sentido universal;
- Rigor formal: preferência por composições de forma fixa (sonetos, éclogas, idílios,
epopéias etc.), correção gramatical, clareza e concisão na exposição das ideias, versos
rigorosamente metrificados, estrofes bem organizadas e vocabulário erudito;
- Mitologia pagã greco-romana;
- Simetria: busca pelo equilíbrio e a harmonia da forma com o conteúdo, culto a beleza
e ao ideal de que o belo = ao bom, ao justo e ao verdadeiro;
- Bucolismo e pastoralismo: poesia de vaqueiros, pastores e agricultores;
- Culto à natureza como refúgio, lugar ideal para o amor, a poesia, a reflexão filosófica
e o trabalho;
- Os poetas usam pseudônimos latinos aportuguesados no lugar de seus nomes
próprios e chamam isso de pseudônimos árcades;
- Poesia lírica (ex: “Marília de Dirceu”, de Tomas Antônio Gonzaga), poesia satírica (ex:
“Cartas Chilenas”, de Tomas Antônio Gonzaga), poesia épica (ex: “O Uraguay”, de
Basílio da Gama), poesia didática (em geral os poetas árcades brasileiros ensinam em
seus poemas: a valorização do trabalho, a valorização da natureza, a filosofia e a própria
poesia de escola neoclássica);
- Erotismo sensual lírico (ex: 1ª parte de “Marília de Dirceu”, de Tomas Antônio Gonzaga
e “Glaura – poemas eróticos”, de Manuel Inácio da Silva Alvarenga): vale-se de
metáforas eróticas retiradas de elementos e imagens da natureza;
- Mimesis: Imitação da natureza e dos modelos de beleza considerados clássicos da
Antiguidade;
- Epicurismo: valoriza o prazer em dimensão metafísica, cultua o carpe diem: um dia é
verdadeiramente aproveitado quando nele aprendemos, ensinamos, produzimos
conhecimento e evoluímos espiritualmente;
- Hedonismo: culto ao prazer físico/carnal, cultua o carpe diem: um dia é
verdadeiramente aproveitado quando nele curtimos o prazer da boa comida, da boa
bebida, do amor, do sexo, da amizade, do sono, da leitura ou da prática de esportes
etc..;
- Estoicismo: aceitação do destino, crença no destino;
- Influências das “Bucólicas” e das “Geórgicas” do poeta romano Virgílio (séc. I a.C.);
- Inutilia truncat (cortar o inútil): reação contra os excessos do Barroco com suas
extravagâncias e exageros no uso da linguagem, sua verborragia e rebuscamento de
linguagem;
- Fugere urbem (fugir da cidade): fugir da cidade para o campo, valorização da vida rural
e da natureza;
- Locus amoenus (lugar ameno, tranquilo): o campo, a natureza, a vida selvagem, o
mundo rural e as belezas que compõe esse cenário;
- Aurea mediocritas (mediocridade de ouro): culto à vida simples, a simplicidade no
modo de ser, no modo de viver e expressar-se por meio da arte;
- Locus horrendus (lugar horrível, feio, sombrio e que provoca horror): ocorre no
Arcadismo em transição com o Romantismo na obra de Tomas Antônio Gonzaga e
Bocage; é representado por lugares tétricos (tristes) e lúgubres (fúnebres) que evocam
o tema da morte e do horror sobrenatural: cemitérios, catacumbas, mausoléus, túmulos,
casarões/mansões/castelos/solares assombrados, abandonados ou em ruínas,
florestas escuras, cavernas, grutas, prisões, masmorras, câmaras de tortura, porões,
pântanos etc.; é representado também pela presença de uma fauna característica com
animais asquerosos (baratas, vermes, ratos, lagartixas, lagartos etc), animais
peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas, lacraias etc.) e animais considerados de
mau-agouro (corujas, mochos, corvos, anus, mães-da-lua, bacurais, urutais, urubus,
gatos-pretos, morcegos etc.).

Principais autores e obras:

- Cláudio Manuel da Costa: Obras Poéticas (lírica) e Vila Rica (épica);


- Tomas Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu (lírica) e Cartas Chilenas (satírica);
- Basílio da Gama: O Uraguay (épica);
- Manuel Inácio da Silva Alvarenga: Glaura (lírica) e O Desertor (satírica);
- Frei Santa Rita Durão: Caramuru (épica)

- Manuel Barbosa Maria Du Bocage (Portugal): Sonetos (lírica).


O Romantismo

Origens:
Alemanha (2ª metade do século XVIII): Surgimento do romance passional – “O
sofrimento do jovem Werther”, de Goethe.

Movimento: “Tempestade e Ímpeto”

Poetas e/ou prosadores: Lenau, Heine, Schiller, Goethe, irmãos Schlegel e Novalis.

Escócia/Inglaterra (2ª metade do século XVIII): Surgimento do romance negro/gótico de


horror sobrenatural – “Castelo de Otranto”, de Horace Walpole; e do romance épico de
cavalaria – “Ivanhoé”, de Sir Walter Scott.

Movimento: “Ossianismo” / “Sentimentalismo”

Poetas e/ou prosadores: Sir Walter Scott, William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge,
Walter Savage Landor, John Keats, Lord Byron, Percy Bysshe Shelley.

França (2ª metade do século XVIII)


“Romantismo”: Romantismo = expressar-se a moda dos romanos (latinos)

Poetas/prosadores: Chateaubriand, Lamartine, Alfred Musset, George Sand, Madame


de Stael, Victor Hugo, Alexandre Dumas (pai), Alexandre Dumas (filho), Honoré de
Balzac etc..

Portugal (1ª metade do século XIX)


1825: “Camões”, poema de Almeida Garrett.

E.U.A. (1ª metade do século XIX)


Ralph Waldo Emerson, Elizabeth Barrett Browning, Henry Wadsworth Longfellow, Edgar
Allan Poe.

Brasil (1ª metade do século XIX)


1836: “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Domyngos Gonçalves de Magalhães.
Contexto Histórico
Revolução Industrial, Revolução Francesa, Liberalismo burguês, Idealismo, Socialismo
Utópico, Período Napoleônico (1799-1815), Independência política das colônias
americanas (dentre elas o Brasil em 1822); Período Joanino (1808-1821): imprensa,
abertura dos portos, Independência política (1822), Abdicação de Dom Pedro I (1831),
Período regencial, Segundo Reinado: crise do escravismo, guerra do Paraguai, abolição
(1888); República (1889).

Características gerais

 Tradição Dionisíaca (romântica);


 Retorno aos valores do Barroco e do medievalismo trovadoresco/cavaleiresco sem
abandonar de todo os valores neoclássicos;
 Rebeldia, espírito aventureiro intrépido/impulsivo;
Valorização do sonho, do pesadelo, da fantasia e da imaginação;
 Valorização da ação, da aventura, do drama/tragédia e do heroísmo épico e
cavaleiresco;
 Contestação das instituições: família, casamento, igreja/clero, governo, sistema
educacional, sistema político, regime escravista etc..
 Nacionalismo/patriotismo sonhador, idealizador;
 Culto à natureza como refúgio, lugar ideal para o amor, a poesia, a reflexão filosófica
e o trabalho, como lugar de idealizações e reflexo dos estados de alma do “eu”
romântico;
 Liberdade formal: poesia de versos livres e brancos, versos metrificados de acordo
com os valores e modelos medievais (redondilhos) e clássicos (decassílabos), versos
livre rimados etc.;
 Difusão e popularização da forma em prosa (romance) e da teatral (drama);
 Subjetividade, individualismo, egocentrismo e narcisismo;
 Misticismo, espiritualismo e religiosidade;
 Morbidez: obsessão pelo tema da morte, tristeza, pesar (atmosfera lúgubre),
depressão, pessimismo, tédio, gosto pelo locus horrendus (lugar horrível, feio, sombrio
e que provoca horror): cemitérios, catacumbas, mausoléus, túmulos,
casarões/mansões/castelos/solares assombrados, abandonados ou em ruínas,
florestas escuras, cavernas, grutas, prisões, masmorras, câmaras de tortura, porões,
pântanos etc.; é representado também pela presença de uma fauna característica com
animais asquerosos (sapos, baratas, vermes, ratos, lagartixas, lagartos etc.), animais
peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas, lacraias etc.) e animais considerados de
mau-agouro (corujas, mochos, corvos, anus, mães-da-lua, bacurais, urutais, urubus,
gatos-pretos, morcegos, sapos etc.)
 Fantasmagoria: visões espectrais, fantasmas, espíritos, alucinações, imagens
satânicas ou que evocam o horror sobrenatural;
 Valorização do herói aventureiro e domjuanesco num mundo de piratas, valentões,
bandidos, seres sobrenaturais, tiranos/ditadores, cavaleiros e espadachins;
 Erotismo sensual lírico: idealização do amor, do sexo e da beleza feminina, visão
distorcida da mulher (anjo/diabo) – mulher vista ora como donzela guerreira ora como
donzela passiva ora como amante sedutora;
 Temperamento irascível e sentimental emotivo, extravagante, exagerado e
contraditório;
 Resgata e mescla mitos pagãos e cristãos, folclore, mitologias diversas, lendas e
superstições;
 Escapismo: fuga da realidade prática (no tempo: o passado, a infância e Idade Média
/ no espaço: natureza, terras exóticas, locus horrendus)
 Liberalismo burguês, idealismo, socialismo utópico;
 Lirismo amoroso;
 Amor e morte: visão do amor como uma doença inevitável que nos leva a felicidade
suprema ou a ruína total e que, em todo caso, mata (rápido ou aos poucos);
 Valoriza a liberdade, a liberdade de expressão;
 Resgata valores medievais e os conflitos morais e existenciais da expressão barroca;
 O Romance: romance passional, romance épico cavaleiresco, romance negro/gótico
de horror sobrenatural, romance urbano de costumes, romance de ficção-científica,
romance histórico, romance sertanejo, romance indianista etc..
Vale-se de muitos adjetivos e rico jogo de metáforas.

O Romantismo no Brasil (1836 a 1881)

Poesia
A poesia romântica brasileira se divide em 3 fases:

1ª fase – o sabiá
Principal representante: Gonçalves Dias (poesia e teatro)

- Influências neoclássicas mescladas a medievais;


- Religiosidade e misticismo;
- Nacionalismo/patriotismo sonhador;
- Ufanismo e saudosismo;
- Lirismo amoroso;
- Amor e morte;
- Indianismo.

2ª fase – o corvo
Principal representante: Álvares de Azevedo (poesia, prosa e teatro)

- Ultrarromantismo;
- Influências do romance negro/gótico de horror sobrenatural;
- Byronismo (influências do poeta inglês Lord Byron);
- Mal do século;
- Domjuanismo;
- Espírito livre, rebelde e aventureiro;
- Pessimismo;
- Morbidez, fantasmagoria, locus horrendus e imagens satânicas;
- Amor e morte;
- Erotismo sensual imaturo;
- Misticismo e valorização de crenças e superstições;
- Narcisismo e egocentrismo;
- Subjetividade;
- Poesia dramática e exclamativa;
- Solidão e melancolia;

3ª fase – o condor
Principal representante: Castro Alves (poesia e teatro)

- Poesia social engajada;


- Abolicionismo;
- Condoreirismo;
- Hugoanismo (Influências do poeta francês Victor Hugo);
- Erotismo sensual maduro e domjuanesco;
- Amor e morte / amor e medo;
- Poesia exclamativa de retórica inflamada;
- Metáforas grandiosas e alegorias.
Prosa

Principais representantes: José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Joaquim


Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Álvares de Azevedo.
- Principal prosador romântico de língua portuguesa: Camilo Castelo Branco;
- Manifestou-se principalmente no romance, mas também ocorreu no conto e na
novela;
- Romance de folhetim: nessa época, no Brasil, os romances eram publicados em
jornais nos suplementos chamados folhetins. Os capítulos eram divididos e os leitores
liam um capítulo por edição do jornal;
- Focaliza a memória: o passado, a família, a terra natal, a cultura local;
- Valoriza a ação dramática, a ação aventureira épica e o suspense;
- Retrata os costumes da sociedade, o comportamento, o cotidiano e as crenças e
superstições;
- Valoriza a descrição detalhada do cenário na criação da atmosfera/clima da narrativa;
- Apresenta-se como uma leve antecipação do Realismo;
- Rica presença de diálogos;
- Vocabulário rico e variado que valoriza o erudito e o coloquial/oral espontâneo e
popular;
- Valoriza o enredo das narrativas com muitas cenas de ação ou passagens em que o
diálogo se mostra tenso ou malicioso;
- Vale-se de muitos adjetivos e rico jogo de metáforas.

1- Formas romanescas:
- Romance urbano de costumes burgueses: “Senhora”, “Lucíola” e “Diva”, de José de
Alencar.
- Romance sertanejo (algumas vezes épico e histórico): “Til”, “O Tronco do Ipê”, “O
Gaúcho” e “O Sertanejo”, de José de Alencar; “Inocência”, de Visconde de Taunay.
- Romance histórico (algumas vezes épico): “Alfarrábios”, “As Minas de Prata” e “A
Guerra dos Mascates”, de José de Alencar.
- Romance indianista (algumas vezes épico e histórico): “Iracema”, “Ubirajara” e “O
Guarani”, de José de Alencar.
- Romance abolicionista/passional: “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.
- Romance pícaro (malandro): “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel
Antônio de Almeida.
- Romance fantástico (sobrenatural): “A Luneta Mágica”, de Joaquim Manuel de
Macedo.

2- Contos:
“Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo (contos de terror, mistério, morte e ações
impulsivas passionais (movidas por exagerada paixão).

Teatro

Comédia de costumes: Martins Pena (O noviço, Quem casa quer casa, Juiz de paz na
roça) e José de Alencar (O demônio familiar, Rio de Janeiro em prosa e versos);
Dramas: Gonçalves Dias (Leonor de Mendonça), Álvares de Azevedo (Macário) e
Castro Alves (Gonzaga ou A revolução de Minas).
O Realismo

Origens:

França

- 1855: exposição de quadros do pintor Gustave Courbet: “O Realismo”.

“Os Quebradores de Pedras” de Gustave Courbet (1819-1877).

“O Estúdio do Pintor” de Gustave Courbet (1819-1877).


- 1857: Publicação do romance “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert e do livro de
poemas “As Flores do Mal”, de Charles Baudelaire.

Realismo - Gustave Flaubert: Madame Bovary (1857), Salambô (1862), A Educação


Sentimental (1869), A Tentação de Santo Antão (1874).

Naturalismo - Émile Zola: Inspirado na filosofia positivista e na medicina da época,


Zola partia da convicção de que a conduta humana é determinada pela herança
genética, pela fisiologia das paixões e pelo ambiente. Conforme afirmou no ensaio O
romance experimental (1880), o desenvolvimento dos personagens e das situações
deve ser determinado de acordo com critérios científicos similares aos empregados nas
experiências de laboratório. A realidade deve ser descrita de maneira objetiva, por mais
sórdidos que possam parecer alguns aspectos. Obras de Zola: Contos para Ninon
(1864), A Confissão de Claude (1865), Thérèse Raquin (1867)1, Os Rougon-Macquart
(1873); O Ventre de Paris (1873); Germinal, narrando uma greve de mineiros, foi
lançado em 1881 e é tido como sua obra-prima; A Terra (1887).

Portugal:

- 1865: Publicação do livro de poemas “Odes Modernas”, de Antero de Quental; Questão


Coimbrã.
- 1871: Conferências do Cassino Lisbonense.
- 1875: Publicação do romance Realista/Naturalista “O Crime do Padre Amaro”, de Eça
de Queirós.

Brasil:

- 1881: Publicação dos romances “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado


de Assis e “O Mulato”, de Aluízio Azevedo.

Contexto Histórico:

- Mundo: 2ª metade do século XIX; consolidação da burguesia no poder; 2ª Revolução


Industrial; Imperialismo e Neocolonialismo inglês e francês; crescimento da classe
operária; surgimento de organizações sindicais; surgimento de partidos políticos
revolucionários socialistas; movimento anarquista; luta de classes; surgimento de várias
correntes científicas ou pseudo-científicas (Cientificismo); Surgimento das Vanguardas
Européias; Primeira Guerra Mundial; Gripe espanhola.

- No Brasil: Segundo Reinado; Crise do escravismo; Abolição da escravidão (1888);


República (1889); Transição do século XIX para o XX; Primeira Guerra Mundial; Gripe
espanhola.

Características gerais:

- Tradição Apolínea (Clássica);


- Retorno e imitação dos modelos e valores do Neoclassicismo principalmente aos que
se referem à prosa do início do século XVIII (conto e romance2), à poesia do Classicismo
(Renascimento) e aos moldes clássicos da Antiguidade greco-romana;

1 Thérèse Raquin (1867), de Émile Zola é seu primeiro romance Naturalista de grande repercussão.
2 O romance no século XVIII: As mudanças políticas, tanto na França como na Grã-Bretanha,
prosseguiram no âmbito literário e, mais concretamente, na narrativa. O surgimento de um novo leitor, que
buscava no romance realismo, humor crítico, emoções intensas e novas idéias, ajudou esse gênero a
chegar ao auge nos dois países. A partir da França, os círculos iluministas expandiram uma nova prosa,
- Análise crítica do conflito da essência com a aparência;
- Oposição ao sentimentalismo emotivo, à adjetivação extravagante, ao idealismo, ao
devaneio (sonho) e a valorização da ação heroica exagerada do Romantismo (oposição
ao Romantismo);
- Valorização da verdade, preocupação com a verdade, o real e a visão racional;
- Racionalismo: culto à razão;
- Objetividade: visão da realidade tal como ela é (sem artifícios ou máscaras);
- Temáticas de sentido universal;
- Observação, análise e representação verdadeira do real;
- Espírito crítico, analítico e questionador;
- Desacerto do mundo – temáticas sociais: o cotidiano árduo da classe trabalhadora, a
vida medíocre da pequena burguesia (classe média), a vida luxuosa e cheia de
ostentações da elite burguesa e a hipocrisia da igreja e do clero;
- Análise de comportamentos e costumes;
- Preocupação formal: correção gramatical, clareza e concisão na exposição das ideias,
vocabulário rico e erudição, prosa narrativa bem estruturada;
- Muitas descrições: gosto pelo detalhe, atenção a pormenores significativos na
representação de cenários, comportamentos e cotidiano;
- Presença de quatro correntes de estilo que podem dialogar entre si: Realismo,
Impressionismo, Naturalismo e Expressionismo;
- O Impressionismo vincula-se mais comumente ao Realismo e o Expressionismo
vincula-se mais comumente ao Naturalismo.

Diferenças entre Realismo e Naturalismo:

Realismo

- Impressionismo: esteticismo; sensorialismo; cromatismo; imagens em movimento;


descrições sem contornos definidos;
- Crítica ao Cientificismo;
- Valorização da imaginação e da fantasia sem cair no idealismo;
- Ironia e humor (algumas vezes humor negro);
- Niilismo: pessimismo e ceticismo;
- Relativização de valores morais;
- Análise psicológica;
- Predomínio de personagens esféricas e simultâneas;
- Predomínio da descrição interior de personagem (descrição psicológica);
- Homem = ser biológico normal com necessidades consideradas normais;
- Grande preocupação com a correção e aperfeiçoamento do estilo.

repleta de idéias políticas e sociais. Na Grã-Bretanha, a principal novidade estaria nos temas e em seu
tratamento. Considera-se que o romance inglês do século XVIII tem três grandes linhas, que muitas vezes
aparecem entrelaçadas: A crítica ideológica, que rompe as bases religiosas, morais e filosóficas do antigo
regime, utilizando o humor e a sátira; A descrição dos costumes da época, com um fundo crítico e
moralizador; A exaltação sentimental, que caracteriza um relato melodramático ao qual poderíamos chamar
romântico. Principais autores e obras:
Daniel Defoe (1660-1731) – obras: As Aventuras de Robinson Crusoé (1719); Moll Flanders (1722) e O
Coronel Jacque (1722).
Samuel Richardson (1689-1761) – obras: Pamela ou A Virtude Recompensada (1740), Clarissa (1742 a
1748); História de Sir Carlos Grandisson (1754).
Jonathan Swift (1667-1745) – obras: A História do Tonel (1704); A Batalha dos Livros; As Viagens de
Gulliver (1726); A Confissão dos Animais.
Henry Fielding (1707-1754) – obras: A História das Aventuras de Joseph Andrews (1742); Miscelânea:
Viagem deste Mundo ao Outro e A História de Jonathan Wild, o Grande (1743); A História de Tom Jones,
um Enjeitado (1749); Amélia (1751).
Lawrence Sterne (1713-1768) – obras: Vida e Opiniões do Cavalheiro Tristam Shandy (1760); Uma Viagem
Sentimental pela França e a Itália (1768).
Naturalismo

- Expressionismo: visão sofrida e pessimista; infortúnio, desgraça, solidão, dor, angústia


e depressão; feio igual belo; valoriza imagens chocantes e grotescas; caricatura e
zoomorfismo; cenários fantasmagóricos e sombrios (locus horrendus); juízos de valor
negativos; feiúra psicológica e sujeira moral;
- Adoção das teorias do Cientificismo (Materialismo histórico, Positivismo,
Determinismo, Evolucionismo, Niilismo, Experimentalismo);
- Fisiologia como explicação de comportamentos;
- Zoomorfismo (animalização) e comportamentos instintivos;
- Frequência de casos considerados patológicos (doenças): homossexualismo, incesto
etc.; e casos patológicos tais como tuberculose, gripe, câncer, doença venérea,
desequilíbrios psíquicos (ninfomania, psicose, esquizofrenia, psicopatia etc) e várias
outras doenças;
- Marginalização social, criminalidade, miséria;
- Predomínio de personagens planas e típicas;
- Referência a espaços degradados;
- Luta de classes;
- Orfandade materna de personagens femininas criadas somente pelo pai;
- Linguagem vulgar, de calão (grosseira) usada com seriedade;
- Renúncia do agradável, sugestão sensível do feio, do brutal, do agressivo e do
repulsivo;
- Fatalismo, drama e tragédia;
- Descrição predominando sobre a narração;
- Análise de comportamento baseada nas relações sócio-culturais e na sexualidade;
- Predomínio da descrição exterior de personagem (descrição física), descrição interior
baseada em aspectos fisiológicos;
- Homem = ser biológico patológico animalizado;
- Vocabulário científico e/ou patológico;
- Síntese do romance naturalista: narrador = cientista, espaço/cenário = laboratório,
personagens = cobaias, conflitos = experimentos, desfecho = tese defendida.
Autores:

Machado de Assis

- Realismo verista e Realismo cômico-fantástico;


- Impressionismo;
- Sátira Menipéia (referência a Menipo, século III a.C., - filósofo grego. De origem fenícia,
foi escravo em Sinope. Obteve mais tarde a liberdade e a cidadania tebana. Dedicou-
se à filosofia e criou o estilo conhecido como sátira menipéia) ou Sátira Luciânica
(referência a Luciano de Samósata, poeta satírico que escreveu Uma história verdadeira
(ou Uma história verídica), O amigo da mentira, Diálogo dos mortos, Leilão de vidas, O
burro Lúcio, Hermotimo e A passagem de Peregrino);
- Ironia, humor e humor negro;
- Crítica social mordaz a comportamentos, costumes, valores e crenças;
- Análise psicológica;
- Metalinguagem: constantes reflexões sobre o fazer poético;
- Intertextualidade: diálogos com autores diversos da literatura (paráfrases, paródias,
alusões, citações); Intratextualidade: diálogos com suas próprias obras;
- Niilismo: pessimismo e ceticismo;
- Retrospectiva: flashback – retornos no tempo para narrar eventos anteriores ao da
narrativa em curso;
- Diálogo com o leitor;
- Digressões: conduta do narrador que consiste em promover pausas, no meio da
narrativa, que fogem do assunto principal e distraem a atenção do leitor, que, muitas
vezes, acaba perdendo o fio da meada;
- Mais descrições interiores (descrição psicológica) do que descrições exteriores;
- Temáticas: loucura, solidão, adultério, conflito da essência com a aparência e crítica
ao Cientificismo.

Aluísio Azevedo

- Naturalismo;
- Expressionismo;
- Romance de tese;
- Adota as teorias do Cientificismo (Materialismo, Determinismo, Positivismo,
Evolucionismo);
- Fisiologia como explicação de comportamentos;
- Preferência por retratos de habitações coletivas e espaços degradados: pensões,
cortiços etc.;
- Força do sexo (Determinismo e Fisiologismo);
- Devoração do homem pelo próprio homem (exploração no trabalho);
- Caricatura e zoomorfismo;
- Fatalismo e tragédia;
- Patologias e desvios de comportamento;
- Ênfase na marginalidade e na sujeira moral das personagens.

Raul Pompéia

“O Ateneu, crônica de saudades”

- Realismo-Naturalismo;
- Impressionismo;
- Expressionismo;
- Romance de formação de estrutura episódica e tom memorialístico;
- Narrativa de aspecto ensaístico;
- Retrato crítico da sociedade do Segundo Reinado;
- Caricatura e zoomorfismo;
- Ironia e humor amargos;
- Ateneu = microcosmo da sociedade brasileira do Segundo Reinado;
- Homossexualismo na adolescência;
- Memorialismo ressentido e irônico.

Realismo em Portugal

Antero de Quental (poesia)

Eça de Queiroz (prosa)

- Fase ultrarromântica
- Fase Realista-Naturalista
- Fase Realista fantasista
O Parnasianismo

Limites
- 1882: “Fanfarras”, de Teófilo Dias.
- 1922: Semana de Arte Moderna.

Contexto Histórico
- O mesmo do Realismo.

Características
- Tradição Apolínea (Clássica)
- Retorno, estudo e imitação dos modelos e valores do Neoclassicismo, do
Classicismo Renascentista e do Classicismo Antigo greco-romano;
- Racionalismo, Objetividade, Universalismo;
- Mitologia Pagã greco-romana;
- Simetria: busca pelo equilíbrio e a harmonia da forma com o conteúdo, visando à
beleza, a pureza, a simplicidade e a perfeição;
- Arte como mimese: imitação da natureza (realidade);
- Obsessão pela forma: rigor formal (preferência por composições de forma fixa
(sonetos, p. ex.), métrica rigorosa, rimas ricas, vocabulário culto e escolha criteriosa de
palavras, correção gramatical, clareza e concisão na exposição das ideias;
- Arte pela arte
- Metalinguagem: escrita sobre a escrita, reflexão apaixonada sobre o fazer poético;
- Impassibilidade (relativa);
- Arte que busca o efeito, o impacto (chave de ouro);
- Descritivismo plástico: gosto pelo detalhe;
- Descrição erótica do nu artístico feminino, idealização neorromântica da mulher;
- Descrição de obras de arte e objetos de relicário fino de gosto aristocrático;
- Exaltação do bom gosto e do chique;
- Temperamento neorromântico: erotismo sensual lírico, lirismo reflexivo filosófico,
memorialismo emotivo, nacionalismo, indianismo tardio;
- Uso de arcaísmos e neologismos.
A um poeta (Olavo Bilac)

Longe do estéril turbilhão da rua,


Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego


Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio


Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade


Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Língua portuguesa (Olavo Bilac)

Última flor do Lácio, inculta e bela,


És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,


Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma


De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"


E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
"Nel mezzo del camin... (Olavo Bilac)

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada


E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada


Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida


Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,


Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo."

Via láctea (Olavo Bilac)


Soneto XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac
Vaso Chinês (Alberto de Oliveira)

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura -


Quem o sabe? - de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura:

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a


Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

A Cavalgada (Raimundo Correia)

A lua banha a solitária estrada.


Silêncio! ... Mais além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;


Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,
E as tropas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...


Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha.

E o silêncio outra vez soturno desce...


E límpida, sem mácula, alvacenta,
A lua a estrada solitária banha...
As Pombas... (Raimundo Correia)

Vai-se a primeira pomba despertada ...


Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ...

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

Raimundo Correia
O Simbolismo

Origens:
E.U.A.
Edgar Allan Poe (1809 a 1849):
Poeta, contista, novelista, ensaísta e crítico literário estadunidense cuja obra,
apesar de apresentar-se dentro do contexto do Romantismo, engloba traços de
Ultrarromantismo, Realismo, Simbolismo e Modernismo. Poe criou o conto e a novela
de suspense/mistério policial e reformulou o conto de terror, mistério e morte,
influenciado pelo horror sobrenatural dos romances negros/góticos do século XVIII.

Poemas de Edgar Allan Poe:


Não fui, na infância, como os outros


e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.
A Cidade do Mar
Olhai! a Morte edificou seu trono
numa estranha cidade solitária
por entre as sombras do longínquo oeste.
Lá, os bons, os maus, os piores e os melhores,
foram todos buscar repouso eterno.
Seus monumentos, catedrais e torres
(torres que o tempo rói e não vacilam!)
em nada se parecem com os humanos.
E em volta, pelos ventos olvidadas,
olhando o firmamento, silenciosas
e calmas, dormem águas melancólicas.

Ah! luz nenhuma cai do céu sagrado


sobre a cidade, em sua imensa noite.
Mas um clarão que vem do oceano lívido
invade dos torreões, silentemente,
e sobe, iluminando capitéis,
pórticos régios, cúpulas e cimos,
templos e babilônicas muralhas;
sobe aos arcos templos magníficos, sem conta,
onde os frios se enroscam e entretecem
de vinhedos, violetas, sempre-vivas.

Olhando o firmamento, silenciosas,


calmas, dormem as águias melancólicas.
Torreões e sombras tanto se confundem
que é tudo como solto nos espaços.
E a Morte, do alto de soberba torre,
contempla, gigantesca, o panorama.
Lá, os sepulcros e os templos se escancaram
mesmo ao nível das águas luminosas;
mas não pode a riqueza portenhosa
dos ídolos com olhos de diamante,
nem das jóias que riem sobre os mortos,
tirar as vagas de seu leito imóvel;
pois, ai! nem leve movimento ondula
esse imenso deserto cristalino!
Nem ondas falam de possíveis ventos
sobre mares distantes, mais felizes;
ondas não contam que existiram ventos
em mar de menos espantosa calma.

Mas, vede! Um frêmito percorre os ares.


Uma onda... Fez-se ali um movimento!
e dir-se-ia que as torres vacilaram
e afundaram de leve na água turva,
abrindo com seus cumes, debilmente,
um vazio nos céus enevoados.
As ondas têm, agora, luz mais rubra,
as horas fluem, lânguidas e fracas.
E quando, entre gemidos sobre-humanos,
a cidade submersa for fixar-se no fundo,
o Inferno, erguido de mil tronos,
curvar-se-á, reverente.
Um Sonho num Sonho

Este beijo em tua fronte deponho!


Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia


de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?
Lenora

Ah! foi partida a taça de ouro! o espírito fugiu!


Que dobre o sino! Uma alma santa já cruza o Estígio rio!
E tu não choras, Guy de Vere? Venha teu pranto agora,
ou nunca mais! No rude esquife jaz teu amor, Lenora!
Leiam-se os ritos funerários e o último canto se ouça,
um hino à rainha dentre as mortas, a que morreu mais moça.
E duplamente ela morreu, por que morreu tão moça!

"Pela riqueza a amastes, míseros, o seu orgulho odiando,


e, doente, a bendissestes, quando a morte ia chegando.
E como, então, lereis o rito? Os cantos de repouso
entoareis vós, olhar do mal? Vós, o verbo aleivoso,
que o fim trouxestes à existência tão jovem da inocência?"

Peccavimus; mas não se irrites! O réquiem tão solene


e embalador ascenda aos céus, que a morta já não pene!
Para aguardar-te ela se foi, tendo ao lado a Esperança
e tu ficaste, louco e só, chorando a noiva criança,
meiga e formosa, que ali jaz, magnífica, sem par,
com a vida em seus cabelos de ouro, mas não em seu olhar,
com a vida em seus cabelos, sim, e a morte em seu olhar.

"Ide! Meu coração não pesa! Sem canto funeral,


quero seguir o anjo em seu vôo com um velho hino triunfal.
Não dobre mais o sino! que a alma em seu prazer sagrado
não o ouça, triste, ao ir deixando o mundo amaldiçoado.
Ela se arranca aos vis demônios da terra e sobe aos céus.
Do inferno, à altura se conduz e lá, na luz dos céus,
livre do mal, da dor, se assenta num trono, aos pés de Deus!"

França:
Charles Baudelaire

Obsessão

Bosques, encheis de susto como as catedrais,


Como os órgãos rugis; e em corações malditos,
Quartos de terno luto e choros ancestrais,
Todos sentem ecoar vossos fúnebres gritos.

Eu te odeio, oceano! e com os teus tumultos,


Já que és igual a mim! Pois este riso amargo
Do homem a soluçar, todo sombras e insultos,
Eu o escuto no riso enorme do mar largo.

Como serias bela, ó noite sem estrelas,


Que os astros falam sempre claro em sua luz!
Busco o infinito negro e os precipícios nus!

Porém as trevas são elas próprias as telas,


Em que surgem, a vir de meu olho, aos milhares,
Seres vindos do além de rostos familiares.
E outro poetas tais como Stéphane Mallarmé (o patriarca da Escola), Arthur
Rimbaud (considerado o seu iniciador ao lado de Baudelaire), Jean Moréas (o seu
"portae-standarte"), Villiers de L'Isle, Paul Verlaine, Albert Samain, Jules Laforgue,
Edouard Dujardin, Gustave Kahn, René Ghil, Stuart Merril, Henri de Régnier, Paul
Claudel, Francis Jammes, Paul Valéry, Remy de Gourmand, Paul Fort.

Arte Poética
Paul-Marie Verlaine (Tradução de Augusto de Campos)

Antes de tudo, a música preza


portanto, o ímpar. Só cabe usar
o que é mais vago e solúvel no ar
sem nada em si que pousa ou que pesa.

Escolher palavras é preciso,


mas com certo desdém pela pinça;
nada melhor do que a canção cinza
onde o indeciso se une ao preciso.

uns belos olhos atrás do véu,


o lusco-fusco no meio-dia
a turba azul de estrelas que estria
o outono agônico pelo céu!

pois a nuance é que leva a palma,


nada de cor, somente a nuance!
nuance, só, que nos afiance
o sonho ao sonho e a flauta na alma!

foge do chiste, a farpa mesquinha,


frase de espírito, riso alvar,
que olhe do azul faz lacrimejar,
alho plebeu de baixa cozinha!

a eloquência? torce-lhe o pescoço!


e convém empregar de uma vez
a rima com certa sensatez
ou vamos todos parar no fosso!
quem nos dirá dos males da rima!
que surdo absurdo ou que negro louco
forjou em jóia este toco oco
que soa falso e vil sob a lima?

música ainda e eternamente!


que teu verso seja o vôo alto
que se desprende da alma no salto
para outros céus e para outra mente.

que teu verso seja a aventura


esparsa ao árdego ar da manhã
que enche de aroma ótimo e a hortelã...
e todo o resto é literatura.
Brasil:
No Brasil, os principais Simbolistas foram: Cruz e Sousa, Alphonsus de
Guimarães, Pedro Kilkerry, Virgílio Várzea, Dário Veloso e Álvaro Moreira.

Limites
- 1893: “Missal” (poemas em prosa) e “Broqueis”, de Cruz e Sousa.
- 1922: Semana de Arte Moderna.

Contexto Histórico
- O mesmo do Realismo e Parnasianismo, mais: Decadentismo, Belicismo (paz
armada), difusão do Espiritismo, Psicanálise de Freud e Jung, 1ª Guerra Mundial, Gripe
Espanhola.

Características
- Tradição Dionisíaca (Romântica);
- Retorno aos valores do Ultrarromantismo, do Barroco e da Literatura Medieval
(Trovadorismo), sem abandonar de todo o formalismo típico do Parnasianismo;
- Subjetividade: enxerga a realidade não como ela é, mas como o indivíduo a idealiza;
- Onirismo / devaneio: valorização do sonho, do pesadelo, da fantasia, do fantástico,
do maravilhoso e da imaginação;
- Misticismo, espiritualismo, transcendentalismo, religiosidade e existencialismo:
poesia metafísica;
- Melodia e musicalidade: Obsessão pela música, instrumentos musicais, sons e
referências à musica;
- Memento mori: “lembre-se de morrer”, obsessão pelo tema da morte, morbidez,
atmosfera triste, melancólica, sombria e lúgubre que evoca as imagens sinistras da
morte, do horror sobrenatural, do gótico medieval, do neogótico barroco e imagens
satânicas;
- Conflito existencial: dor de existir, medo, horror, pessimismo e angústia diante da
morte;
- Conflito entre corpo e espírito;
- Sensorialismo: sinestesias – cruzamento de dois ou mais sentidos num verso, estrofe
ou frase (visão, audição, tato, olfato, paladar);
- Uso de figuras sonoras: aliterações (repetição de consoantes), assonâncias (repetição
de vogais), ecos, paronomásias (jogos com sílabas ou vocábulos, reprodução de sons
semelhantes em palavras de significados diferentes):
Exemplo de paronomásia:

"Berro pelo aterro pelo desterro


berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."

- Frase musical ou nominal: são frases ou estrofes sem verbo;


- Fantasmagoria: visões espectrais, fantasmas, espíritos, alucinações, imagens
satânicas ou que evocam o horror sobrenatural;
- Locus horrendus (lugar horrível, feio, sombrio e que provoca horror): cemitérios,
catacumbas, mausoléus, túmulos, casarões/mansões/castelos/solares assombrados,
abandonados ou em ruínas, florestas escuras, cavernas, grutas, prisões, masmorras,
câmaras de tortura, porões, pântanos;
- Individualismo, solidão;
- Formalismo parnasiano: preferência por composições de forma fixa (sonetos
Decassílabos e Alexandrinos);
- Quietismo contemplativo: inércia, meditação, abstração, sensorialismo e visão da vida
como um desassossego passageiro;
- Erotismo sensual lírico: visão da mulher como anjo/diabo, visão da mulher como um
ser de beleza quase sempre superior a da natureza, amor e morte, amor e desejo /
paixão, amor = sofrimento, o pecado como salvação (mulher  serpente)
- Cromatismo: obsessão por cores, o jogo das cores;
- Palavras = símbolos e movimentos criadores no ar;
- Uso de maiúsculas alegorizantes: palavras grafadas com inicial maiúscula que
amplificam o significado simbólico contextualizado no tema do texto;
- Busca pelo Absoluto, o contato com as esferas mais altas do conhecimento e da
evolução espiritual;
- Medievalismo e Ultrarromantismo: resgate de valores medievais e românticos “mal-
do-século”;
- Valorização do vago e do indefinido (sugestão);
- Fusão entre o sujeito e o objeto: fusão do eu com o todo, com o cosmo;
- Predominância dos elementos AR e ÁGUA e de palavras que evocam tais elementos
alegoricamente;
- Memorialismo emotivo, sentimental;

Cruz e Sousa

- Obsessão pela cor branca;


- Visão da vida como um emparedamento (uma prisão);
- Erotismo e misticismo;
- Frases nominais: estrofes harmônicas;
- Dor de existir (a questão do preconceito).

Alphonsus de Guimarães

- Obsessão pelo tema da morte de jovens mulheres no auge da beleza;


- Imagens de tons cinzas, brancos e pretos;
- Referência obsessiva à morte da prima (Constança – morta na flor da mocidade);
- Misticismo e religiosidade (considerado o poeta mais místico da literatura brasileira).

Poemas simbolistas:
MÚMIA (Cruz e Sousa)

Múmia de sangue e lama e terra e treva,


Podridão feita deusa de granito,
Que surges dos mistérios do Infinito
Amamentada na lascívia de Eva.

Tua boca voraz se farta e ceva


Na carne e espalhas o terror maldito,
O grito humano, o doloroso grito
Que um vento estranho para os limbos leva.

Báratros, criptas, dédalos atrozes


Escancaram-se aos tétricos, ferozes
Uivos tremendos com luxúria e cio...

Ris a punhais de frígidos sarcasmos


E deve dar congélidos espasmos
O teu beijo de pedra horrendo e frio!...
BRAÇOS (Cruz e Sousa)

Braços nervosos, brancas opulências,


Brumais brancuras, fúlgidas brancuras,
Alvuras castas, virginais alvuras,
Lactescências das raras lactescências.

As fascinantes, mórbidas dormências


Dos teus abraços de letais flexuras,
Produzem sensações de agres torturas,
Dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpes


Que prendem, tetanizam como os herpes,
Dos delírios na trêmula coorte...

Pompa de carnes tépidas e flóreas,


Braços de estranhas correções marmóreas,
Abertos para o Amor e para a Morte!

NOIVA DA AGONIA (Cruz e Sousa)

Trêmula e só, de um túmulo surgindo,


Aparição dos ermos desolados,
Trazes na face os frios tons magoados
De quem anda por túmulos dormindo...

A alta cabeça no esplendor, cingindo


Cabelos de reflexos irisados,
Por entre auréolas de clarões prateados,
Lembras o aspecto de um luar diluindo...

Não és, no entanto, a torva Morte horrenda,


Atra, sinistra, gélida, tremenda,
Que as avalanches da Ilusão governa...

Mas ah! és da Agonia a Noiva triste


Que os longos braços lívidos abriste
Para abraçar-me para a Vida eterna!

BELEZA MORTA (Cruz e Sousa)

De leve, louro e enlanguescido helianto


Tens a flórea dolência contristada...
Há no teu riso amargo um certo encanto
De antiga formosura destronada.

No corpo, de um letárgico quebranto,


Corpo de essência fina, delicada,
Sente-se ainda o harmonioso canto
Da carne virginal, clara e rosada.

Sente-se o canto errante, as harmonias


Quase apagadas, vagas, fugidias
E uns restos de clarão de Estrela acesa...
Como que ainda os derradeiros haustos
De opulências, de pompas e de faustos,
As relíquias saudosas da beleza.

VISÃO DA MORTE (Cruz e Sousa)

Olhos voltados para mim e abertos


Os braços brancos, os nervosos braços,
Vens d'espaços estranhos, dos espaços
Infinitos, intérminos, desertos...

Do teu perfil os tímidos, incertos


Traços indefinidos, vagos traços
Deixam, da luz nos ouros e nos aços,
Outra luz de que os céus ficam cobertos.

Deixam nos céus uma outra luz mortuária,


Uma outra luz de lívidos martírios,
De agonias, de mágoa funerária...

E causas febre e horror, frio, delírios,


Ó Noiva do Sepulcro, solitária,
Branca e sinistra no clarão dos círios!

SERPENTE DE CABELOS (Cruz e Sousa)

A tua trança negra e desmanchada


Por sobre o corpo nu, torso inteiriço,
Claro, radiante de esplendor e viço,
Ah! lembra a noite de astros apagada.

Luxúria deslumbrante e aveludada


Através desse mármore maciço
Da carne, o meu olhar nela espreguiço
Felinamente, nessa trança ondeada.

E fico absorto, num torpor de coma,


Na sensação narcótica do aroma,
Dentre a vertigem túrbida dos zelos.

És a origem do Mal, és a nervosa


Serpente tentadora e tenebrosa,
Tenebrosa serpente de cabelos!...
OSSA MEA (Alphonsus de Guimarães)
II

Mãos de finada, aquelas mãos de neve,


De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve,
Que parece ordenar, mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve


Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas,


Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,


Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...

X (Alphonsus de Guimarães)

Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeça


Numa almofada de cetim bordada em lírios.
Ei-la morta afinal como quem adormeça
Aqui para sofrer Além novos martírios.

De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa


Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios:
Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa
Da Idade Média, morta em sagrados delírios.

Os poentes sepulcrais do extremo desengano


Vão enchendo de luto as paredes vazias,
E velam para sempre o seu olhar humano.

Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente,


Alveja, embalsamando as brancas agonias
Na sonolenta paz desta Câmara-ardente...
VIII (Alphonsus de Guimarães)

Quando chegaste, os violoncelos


Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo.


Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas


Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto


Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.

XXXIII
ISMÁLIA (Alphonsus de Guimarães)

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
O Pré-Modernismo

Limites
- 1902: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha e “Canaã”, de Graça Aranha.
- 1922: Semana de Arte Moderna.
Contexto Histórico

- Surgimento das Vanguardas Européias (Futurismo, Cubismo, Expressionismo,


Dadaísmo e Surrealismo)
- República Velha
- Revolta de Canudos (1893 a 1897)
- Guerra do Contestado (1912 a 1916)
- Jaguncismo e Cangaço (1870 a 1940)
- Revolta da Vacina (1904)
- Revolta da Chibata (1910)
- Revolta do Forte de Copacabana (1922)
- Centenário da Independência Política do Brasil (1922)

Características

- Não se trata de um Estilo de Época (Escola Literária), mas um período de transição


entre o Passadismo e o Modernismo;
- O prefixo “Pré” significa que os artistas desse período ainda se vinculavam às
tendências da segunda metade do século XIX (Realismo, Parnasianismo e Simbolismo),
bem como às Escolas Literárias do passado;
- O termo “Modernismo” indica que os artistas desse período iniciaram experimentos de
linguagem e círculos temáticos que só mais tarde serão aprofundados pelas três fases
do Modernismo Brasileiro entre 1922 e 1970;
- Havia por parte desses artistas uma grande preocupação com a realidade brasileira
contemporânea: as revoltas populares, os problemas de saúde pública, os eventos
políticos, as diferenças sociais e injustiças, as diferenças entre o sertão e a cidade (ou
litoral);
- Mescla de linguagem jornalística e literária;
- Coloquialismo e oralidade.

Autores e obras
Euclides da Cunha

- Estilo neobarroco;
- Visão determinista;
- Arcaísmos e neologismos;
- Estilo ensaístico: mescla de discurso jornalístico (reportagem), histórico (crônica
histórica), tese científica (dissertação), didático e literário;
- Vale-se do coloquial / oral;
- Análise crítica, em tom de denúncia, do abandono social e isolamento cultural legado
aos sertanejos;
- Análise crítica das diferenças sociais e culturais entre sertão e cidade (ou litoral);
- Denúncia da desastrosa campanha do Exército Brasileiro em Canudos (o massacre
de Canudos);

- “Os Sertões” – obra dividida em 3 partes:


1ª) a terra: descrição sobre o sertão do Brasil, principalmente no Nordeste;
2ª) o homem: dissertação sobre o habitante do sertão: o sertanejo;
3ª) a luta: narração que retrata a revolta de Canudos e as ações dos coronéis e do
exército contra os jagunços, matutos e religiosos;
Lima Barreto

- Crítica ao ufanismo;
- Crítica à cultura de fachada;
- Análise crítica do preconceito racial;
- Análise crítica do desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro;
- Estrangeirismos;
- Aproximação da linguagem jornalística com a linguagem literária;
- Coloquialismo e oralidade;
- Análise crítica das diferenças sociais entre centro e periferia;
- Análise crítica da recepção burguesa em relação à cultura popular.
- Obras: Triste Fim de Policarpo Quaresma, Clara dos Anjos, Recordações do
Escrivão Isaías Caminha.

Monteiro Lobato

- Experimentalismos ortográficos;
- Coloquialismo e oralidade;
- Mescla linguagem culta com expressões oriundas da oralidade;
- O tema do preconceito racial;
- Análise crítica do subdesenvolvimento da região do vale do Paraíba no estado de
São Paulo;
- Criador da personagem Jeca Tatu – símbolo caricato do caboclo brasileiro;
- Análise crítica dos problemas sociais, culturais e econômicos e dos problemas de
saúde pública;
- Escreveu contos humorísticos, de mistério, horror e morte, em ritmo de narrativa de
suspense policial, mesclado ao típico “causo” do meio rural;
- Obras: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha, O Presidente Negro.

Augusto dos Anjos

- Escreveu poesia;
- Obra: Eu;
- Influências realistas, naturalistas, expressionistas, impressionistas, simbolistas;
- Existencialismo e obsessão pelo tema da morte e da putrefação da carne;
- Coloquialismo e oralidade;
- Vocabulário patológico e científico oriundo da química e da biologia;
- Pessimismo e morbidez;
- O tema da degradação da matéria viva e da pós-morte;
- Ênfase no grotesco e no chocante;
- Locus horrendus e fantasmagoria;
- Preferência pela forma fixa de composição, principalmente, pelo soneto.
O MORCEGO (Augusto dos Anjos)

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.


Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."


— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego


A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!


Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO (Augusto dos Anjos)

Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —


Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,


E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

O DEUS-VERME (Augusto dos Anjos)

Fator universal do transformismo.


Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo


Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,


Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...
Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

BUDISMO MODERNO (Augusto dos Anjos)

Tome, Dr., esta tesoura e... corte


Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!


Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contrato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida


Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades


Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
Correntes de Vanguarda Europeias e o Modernismo

Cubismo (1907)

- Uso e valorização de formas geométricas;


- Sobreposição de imagens geométricas;
- Fragmentação: frases ou versos curtos, muitas vezes nominais;
- Poesia de estrutura vertical;
- Discurso não linear: fragmentação de ideias;
- Descrição de paisagem privilegiando formas geométricas.

Futurismo (1909)

- Valorização da tecnologia, da urbanização, da modernidade, da máquina, do


combustível, da eletricidade;
- Valorização da velocidade, do avião, do motor, do automóvel, da metralhadora, da
guerra, do cinematógrafo, do telefone;
- Ansiedade e pressa;
- Uso de figuras de harmonia (harmonia imitativa);
- Negação dos clichês da arte;
- Exaltação da civilização e da indústria;
- Valorização das ciências exatas e, em alguns casos, uso de símbolos matemáticos no
lugar da pontuação convencional;
- Fragmentação: frases curtas & “falação”: períodos extensos e cheios de ansiedade.

Expressionismo (1910)

- Deformação das imagens: caricatura;


- Valorização da expressão de dor, angústia, tristeza e patética alegria;
- Fragmentação: ênfase nas partes grotescas ou chamativas dos objetos apresentados;
- Valorização de cenários de destruição ou em ruínas (campos de batalha, cidades
bombardeadas) e locus horrendus (lugares sinistro e sombrios).

Dadaísmo (1916)

- Negação de todas as instituições e de todas as formas de arte;


- Aproximação com o Anarquismo;
- Arte não é coisa séria;
- Ready-made: técnica de composição que consiste em criar uma obra de arte, partindo
de algo que já se encontra pronto ou partindo de uma bricolagem ou sample;
- Expressão radical e violenta de ruptura com todos os valores estéticos convencionais
e padrões.

Surrealismo (1924)

- Aprofundamento das propostas do Simbolismo;


- Valorização do sonho / pesadelo, da fantasia e da imaginação;
- Sobreposição de imagens oníricas (sonhos dentro de sonhos);
- Valorização do subconsciente e do inconsciente;
- Influências da psicanálise;
- Escrita automática
- Cromatismo: jogos de cores;
- Ruptura com a realidade cotidiana.
Modernismo em Portugal

Início
- 1915: revista Orpheu.

Orphismo:

- Diálogo com o Simbolismo e a vanguarda do Surrealismo;


- Onirismo: valoriza o sonho, o pesadelo, a letargia, o inconsciente e o subconsciente;
- Subjetividade: visão particular da realidade;
- Adota métricas medievais e clássicas numa linguagem fluente, quase coloquial.

Presencismo

- Valoriza a memória, a história, o passado, a infância;


- De caráter intimista, o Presencismo busca abolir a imagem do eu-lírico e substituir
essa imagem pela "presença" do próprio autor no texto; é ele, o autor que fala no texto
e não um eu-lírico ou um narrador;
- Valoriza a subjetividade;
- Vale-se de várias métricas tradicionais, mas também adota o verso livre e branco.

Saudosismo

- Valoriza a memória, a história, o passado, a infância numa perspectiva saudosista;


- Canta a ausência do que já foi vivido, a aversão ao novo e o descontentamento com
o abandono das tradições;
- Busca resgatar a tradição medieval, romântica e clássica.

Poesia

Fernando Pessoa
Poesia ortônima (ele mesmo)

Características
- Orphismo e Saudosismo;
- Musicalidade sutil e misticismo: influências do Simbolismo e do Ocultismo;
- Sebastianismo: nacionalismo místico;
- Ausência de uma filosofia nítida;
- Vale-se de diversos tipos de metrificação;
- Conseguiu “integrar (e em alguns casos, superar) e enriquecer a herança recebida
do lirismo tradicional das cantigas de amor, em Camões, Bocage, Antero, João de
Deus, Cesário Verde e Camilo Pessanha” (MOISÉS, 1960, p. 241);
- Captou “as agitações operadas na cultura ocidental” e fez um verdadeiro “painel (...)
das comoções históricas havidas em torno e em razão da guerra de 1914.” (MOISÉS,
1960, p. 241);
- Avesso a sentimentalismo;
- Emoções pensadas;
- “Parte do Relativo para o Absoluto” (MOISÉS, 1960, p. 242);
- Recebe “como se fosse pela primeira vez os impactos mil vezes sofridos pelos
homens no curso da História e sentido-os como descoberta “pura”, isenta das
anteriores deformações intelectuais.” (MOISÉS, 1960, p. 242);
- Obras: “Mensagem” e “Cancioneiro”.
Fernando Pessoa
Poesia heterônima (os outros “eus”)

Alberto Caeiro
- Mestre dos outros heterônimos e do ortônimo;
- Poeta da natureza: bucolismo – elogio à vida rural, natural e primitiva;
- Sensorialismo: capta o mundo pelos sentidos / sinestesias;
- Valorização da visão: cromatismo, formas, contornos;
- Negação da intelectualização das coisas;
- Empírico: valoriza o senso comum;
- Versos longos, livres e brancos;
- Coloquialismo e oralidade: escrita próxima da fala;
- Visão panteísta: fusão do homem com a natureza;
- Obra: “O Guardador de Rebanhos”

Ricardo Reis
– Dupla relação com o mestre Alberto Caeiro: paganismo, objetividade / odes
helênicas, negação do verso livre e do derramamento sentimental cristão. (Osakabe,
2002);
– Racionalista: racionalização universal;
– Negação do “sentir individual”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Desejos mantidos no “grau zero”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Encontra certo consolo à sua ausência de respostas na generalização filosófica.
(Perrone-Moisés, 1982);
– Influências clássicas, principalmente do poeta romano Horácio;
– Reduz o vazio subjetivo ao “nada”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Distanciado, altivo. (Perrone-Moisés, 1982);
– Poeta da “ficção da renúncia”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Versos na maioria curtos, rigorosamente metrificados;
– Mitologia pagã: neopaganismo. (Osakabe, 2002);
– Capta o mundo intelectualmente;
– Inspirado por uma musa: Lídia;
– Visão panteísta;
– Pessimista, melancólico e descrente. (Osakabe, 2002);
– Neurótico: transitoriedade, falência inexorável da vida e quase inércia. (Osakabe,
2002);
– Faz muitas referências a passagem do tempo;
– Epicurista, mas suas reflexões sobre o tempo não têm como conseqüência o “carpe
diem” horaciano (os prazeres de Reis são congelados). (Perrone-Moisés, 1982);
– Estóico – “é a aceitação tristíssima e orgulhosa (por saber, e por saber que sabe) de
que somos nada porque tudo caminha para o nada”. (Perrone-Moisés, 1982);
– “Ricardo Reis é a instância do Superego em Fernando Pessoa”. (Perrone-Moisés,
1982);
– Ressentido, sofre por ser efêmero, dói-lhe o desprezo dos deuses, aflige-o a imagem
da morte;
– Lúcido e cauteloso, constrói para si uma felicidade relativa, feita de resignação e
moderado gozo dos prazeres;
– Estilo latinizante no vocabulário e na sintaxe.
– Obra: “Odes de Ricardo Reis”.

Álvaro de Campos
- Poeta das sensações;
- Sensorialismo: capta o mundo pelos sentidos / sinestesias;
- Influências futuristas: Futurismo;
- Mostra-se impaciente, ansioso e apressado;
- Exalta a civilização, o industrial e a tecnologia, mas também se mostra saturado da
vida moderna;
- Figuras de harmonia (sonoras): aliteração, assonância (harmonia imitativa) e
onomatopéias;
- Valorização de aspectos visuais;
- Coloquialismo e oralidade;
- Principais poemas: “Opiário”, “Ode Triunfal”, “Lisbon Revisited”, “Tabacaria”,
“Aniversário”;
- Obra: Poesias de Álvaro de Campos.
AUTOPSICOGRAFIA (Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

No entardecer (Alberto Caeiro)

Ao entardecer, debruçado pela janela,


E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês


Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos …

Por isso ele tinha aquela grande tristeza


Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros…

Dez Odes de Ricardo Reis

I
Coroai-me de rosas, (Ricardo Reis)
Coroai-me em verdade
De rosas –
Rosas que se apagam
Em fronte a pagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves,
E basta.
II
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. (Ricardo Reis)
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas
(Enlacemos as mãos)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida


Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.


Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,


Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,


Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as


No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te às de mim depois


Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,


Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira rio.
Pagã triste e com flores no regaço.

III
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo, (Ricardo Reis)
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,


Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranqüilo,


E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

IV
As rosas amo dos jardins de Adônis, (Ricardo Reis)
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.

V
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. (Ricardo Reis)
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam


Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida ao sol).

Pouco a pouco o passado recordemos


E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida


Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso


Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E Há só noite lá fora.

VI
Segue o teu destino (Ricardo Reis)
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios

Suave é viver só.


Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

VII
Seguro assento na coluna firme (Ricardo Reis)
Dos versos em que fico,
Nem temo o influxo inúmero futuro
Dos tempos e do olvido;
Que a mente, quando, fixa, em si contempla
Os reflexos do mundo,
Deles se plasma torna, e à arte o mundo
Cria, que não a mente.
Assim na placa o externo instante grava
Seu ser, durando nela.
VIII
Quando, Lídia, vier o nosso outono (Ricardo Reis)
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa –
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.

IX
Não só quem nos odeia ou nos inveja (Ricardo Reis)
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.

X
Sim, sei bem (Ricardo Reis)
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

XI
Nada fica de nada. Nada somos. (Ricardo Reis)
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta.
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas


Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

XII
Para ser grande, sê inteiro: nada (Ricardo Reis)
Teu exagera, ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
XIII
Aos deuses peço só que me concedam (Ricardo Reis)
O nada lhes pedir.
Adita é um jogo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Tem prazer ou dores.

POEMA EM LINHA RETA (Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.


Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo


Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana


Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!


Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,


Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Modernismo no Brasil

Período de 1922 a 1970

Contexto Histórico

- Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial até o início da Era Espacial.

Divide-se em 3 fases, particularizadas pela temática e pelos usos com a linguagem.

1ª fase ou geração: 1922 a 1930

Início: Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922, em São Paulo.

Características
- Tradição dionisíaca;
- Ruptura radical em tom de paródia com o passadismo literário e o academicismo,
sobretudo a estética parnasiana;
- Nacionalismo crítico; ama a pátria, mas reconhece seus problemas;
- Grupo Verde-amarelo (radical) e grupo Anta (moderado);
- Fase heroica e iconoclasta (que ou aquele que destrói imagens em geral);
- Antropofagia cultural: devoração e incorporação das Vanguardas Europeias aos
valores próprios da cultura nacional;
- Coloquialismo e oralidade: escrita próxima da fala;
- Uso de termos regionalistas, indígenas, estrangeirismos, neologismos;
- Tentativa de criar uma língua brasileira;
- Brasilidade: cor local – valorização da cultura nacional (festas, danças, culinária,
crenças, superstições, costumes, biodiversidade, recursos naturais, religiosidade e
misticismo, tradições populares etc.);
- Incorporação de lendas, mitos (o folclore) às Vanguardas Europeias (Cubismo,
Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e Expressionismo);
- Pontuação relativa e, em alguns casos, ausente;
- Mescla / confluência entre os gêneros literários (lírico, épico e dramático);
- Aproximação com as artes visuais;
- Ironia e muito humor (humor malicioso, malandro);
- Erotismo sensual “apimentado”;
- Metalinguagem: a lúdica e a filosófica;
- Intertextualidade: paródias, alusões, citações etc.;
- Crítica maliciosa à estagnação mental, aos costumes e à futilidade da burguesia e à
mediocridade de toda a sociedade;
- Carnavalização: irreverência com valores hierárquicos, inversão de valores e
insubordinação à ordem instituída e aos paradigmas da sociedade e da cultura
acadêmica e elitizada;
- Surgimento de inúmeras revistas que trabalhavam na divulgação do movimento
modernista: Klaxon, Festa, Verde, Revista de Antropofagia.

- Poesia: poema-pílula ou poema-minuto, poema-piada, poesia cinematográfica, poema


em prosa, predominância de versos livres e brancos, poemas de estrutura vertical
cubista, paródia, pontuação ausente ou relativa, valorização dos aspectos visuais e
sonoros, prosaísmo, coloquialismo e oralidade.
- Prosa: prosa poética, prosa telegráfica cubista (sintetização radical de múltiplos e
simultâneos acontecimentos), prosa de introspecção psicológica (influência freudiana),
coloquialismo e oralidade.
- Teatro: Comédia de costumes, teatro agressivo, crítica mordaz à sociedade,
Surrealismo, Expressionismo, erotismo sensual “apimentado”, oralidade.
Autores

Manuel Bandeira
- Sua obra se divide em 3 fases: Pré-Modernismo / Modernismo / Pós-Modernismo

Fase Pré-Modernista:
- Aura crepuscular e melancolia;
- Monotonia, tédio e tristeza;
- A solidão, o desalento;
- O fluir do tempo e a morte;
- Métrica tradicional: ora medieval ora clássica.

Fase Modernista:
- Usa o verso livre e branco, mas não abandona a métrica tradicional;
- Coloquialismo e oralidade;
- Prosaísmo;
- Paródia, humor e ironia;
- Poema-piada;

Fase Pós-Modernista:
- Compôs sonetos e cantigas segundo os valores da tradição poética ocidental;
- Experimentou formas poéticas da tradição oriental (Gazal, Haicai);
- Continua usando o verso livre e branco;
- Experimenta as novas vanguardas (Concretismo).

Características gerais de Manuel Bandeira


- Presença da doença (tuberculose) e da morte;
- Memória: infância e adolescência no Recife, as pessoas da família, vultos familiares
do passado, o cotidiano, costumes e comportamento;
- Escapismo: fuga para a felicidade (Pasárgada);
- Solidão e melancolia;
- Brasilidade: cor local;
- Carnavalização: irreverência com valores hierárquicos, inversão de valores e
insubordinação à ordem instituída e aos paradigmas da sociedade e da cultura
acadêmica e elitizada;
- Erotismo sensual lírico;
- Metalinguagem: reflexão sobre o fazer poético;
- Usa o verso livre e branco, mas não abandona a métrica tradicional;
- Coloquialismo e oralidade.

Poemas importantes: “Poética”, “Evocação do Recife”, “Pneumotórax”, “Os Sapos”,


“Vou-me embora pra Pasárgada”, “Profundamente”.

Guilherme de Almeida

- A essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”;


- Dominou amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso
livre;
- Explorou os recursos da língua tais como a onomatopeia, as assonâncias e aliterações;
- Na época heroica do Modernismo, soube seguir diretrizes muito nítidas e conscientes,
sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista;
Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais, à
perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo, porque
continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem;
- Manuel Bandeira considerou o maior artista do verso em língua portuguesa.
- Sua obra compreende mais de 70 publicações, entre poesia, prosa, ensaio, tradução,
além do extenso trabalho jornalístico, ainda esparso; deste, destaque-se sua coluna
"Cinematographos", pioneira da crítica cinematográfica em nosso país.

Alcântara Machado

- Retratou, em suas obras, o cotidiano dos imigrantes italianos, que viviam na cidade de
São Paulo na segunda metade da década de 1920. Apresentou também diversos
aspectos culturais e sociais da cidade de São Paulo nesse período.
- Usou expressões italianas misturadas com portuguesas, mostrando a mistura
linguística e cultural dos italianos com os paulistanos.
- Algumas de suas obras são marcadas pelo estilo jornalístico, principalmente as
crônicas.
- Usou estilo rebuscado e rompeu com muitas estruturas literárias tradicionais.
- Utilizou muitas experimentações em suas prosas, principalmente no uso de linguagem
espontânea carregada de bom-humor.
- Em 1928, publicou uma de suas principais obras: Brás, Bexiga e Barra Funda.
Mário de Andrade
- Foi poeta, prosador, músico, jornalista, crítico;
- Considerado o Papa do Modernismo;
- Tentou sugerir uma língua brasileira com sua obra;
- Valoriza as lendas, os mitos e o folclore brasileiro;
- Mistura de paixão e desencanto com cidade de São Paulo: cidade arlequinal,
carnavalizada;
- Critica a futilidade da burguesia paulistana;
- Como poeta buscou a harmonia do verso, a recusa de reproduções e a valorização de
estéticas de vanguarda;
- Valoriza os ritmos da toada, da moda, do samba e do rondó;
- Como prosador escreveu um romance freudiano (“Amar, verbo intransitivo”), em que
busca denunciar a hipocrisia da elite burguesa de São Paulo; escreveu também um
romance-rapsódia (“Macunaíma”), explorando seu lado de folclorista e incorporando,
nessa obra, as Vanguardas Europeias; escreveu ainda um livro de contos de inspiração
freudiana (“Contos Novos”).

Oswald de Andrade
- Ruptura radical (verde-amarela) com a tradição, demolição satírica e debochada dos
paradigmas acadêmicos;
- Adotou uma postura anarquista na arte e na política;
- Escreveu o primeiro romance moderno publicado no Brasil, “Memórias Sentimentais
de João Miramar” (1924): Cubismo (prosa telegráfica cubista), narrado em flashes
cinematográficos, retrata os conflitos da burguesia perante a modernidade – turismo
extravagante, casamento burguês, adultério, divórcio, vida literária e insucessos
financeiros;
- Erotismo sensual malicioso (“apimentado”);
- Vale-se do ready-made dadaísta na composição de “Pau-Brasil” (1924-25),
recontando, parodicamente, a Historia do Brasil do “descobrimento” até o seu tempo;
- Poesia: versos livres e brancos, coloquialismo e oralidade, ironia e humor, paródia,
carnavalização, metalinguagem, pontuação ausente ou relativa, poemas de estrutura
vertical cubista, erotismo “apimentado”,
- Antropofagia cultural: devoração e incorporação das Vanguardas Europeias aos
valores próprios da cultura nacional – essência do “Manifesto Antropofágico” (1928);
- Prosa poética em “Serafim Ponte Grande” (1933), teatro agressivo de crítica à conduta
burguesa em “O Rei da Vela” e teatro surrealista / expressionista em “A Morta”.
SONETO IX (Guilherme de Almeida)

Nessa tua janela, solitário,


entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exílio, teu canário
canta, eu sei que esse canto te consola.

E, lá na rua, o povo tumultuário,


ouvindo o canto que daqui se evola,
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.

Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,


calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.

E eu chorarei. Teu pobre confidente


ensinou-me a chorar tão docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.

CUIDADO! (Guilherme de Almeida)

Ó namorados que passais, sonhando,


quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo... E quando


pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando...

Mais cuidado! Não vá vossa alegria


afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada


dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!
Poemas de Mário de Andrade:
Poemas da amiga

A tarde se deitava nos meus olhos


E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.

Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.


Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.

Quando eu morrer quero ficar,


Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,


No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem


O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido


Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,


A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,


Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
Moça linda bem tratada

Moça linda bem tratada,


Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,


De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...

Plutocrata sem consciência,


Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.

Poemas de Oswald de Andrade


Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

O gramático

Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou

O capoeira

— Qué apanhá sordado?


— O quê?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.

Erro de português

Quando o português chegou


Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

Poemas de Manuel Bandeira:


Poética

Estou farto do lirismo comedido


Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres etc

Quero antes o lirismo dos loucos


O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:


Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa


Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.


A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:


— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
...............................................................................................................

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.


— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Modernismo 2ª fase – 1930 a 1945:

Características

- Predomina a Tradição Apolínea;


- Retomada dos valores do Passadismo Literário na forma de Neossimbolismo,
Neoparnasianismo, Neorrealismo, Neorromantismo, Neobarroco e Neomedievalismo;
- Predomínio da paráfrase;
- Intertextualidade: paráfrase, alusão, citação, epígrafe, pastiche, paródia;
Intratextualidade: palinódia, citação, alusão, paráfrase, pastiche;
- Metalinguagem lúdica e reflexiva filosófica;
- Ironia e humor amargos;
- Existencialismo: questionamento sobre o ser e o estar no mundo;
- Memorialismo: referência à terra natal, à família, à infância, aos costumes, valores e
tradições;
- Brasilidade: cor local;
- Carnavalização: quebra de valores hierárquicos, anarquia e insubordinação quanto
aos paradigmas sociais e os valores da sociedade;
- Misticismo, espiritualismo e religiosidade;
- Prosa: romance neorrealista psicológico, romance neorrealista regionalista, prosa
neorrealista memorialista;
Poesia: neossimbolismo, neobarroco, neomedievalismo; versos livres e brancos;
métricas medievais populares, métrica tradicional clássica; isometria e polimetria do
verso;

Autores:
Poesia
- Carlos Drummond de Andrade
- Vinícius de Morais
- Jorge de Lima
- Murilo Mendes
- Cecília Meireles
- Henriqueta Lisboa

Prosa
- José Américo de Almeida
- Lúcio Cardoso
- Dyonélio Machado

Graciliano Ramos

- Escreveu romance e conto;


- Praticou o Neorrealismo regionalista de análise psicológica e social, com ênfase para
a análise psicológica;
- Teve muitas influências de Machado de Assis;
- Escreveu uma prosa dinâmica, com linguagem clara e objetiva, sem abrir mão da
simbologia cara ao discurso literário, porém, com um poder de síntese muito
significativo, uma clareza e concisão importante na expressão de suas ideias e um
elevado bom gosto na produção de suas imagens;
- Ateve-se a correção gramatical sem as afetações da retórica tradicional;
- Suas personagens são construídas com doses intencionais de profundidade ou de
ausência dela;
- Uso contido de advérbios e adjetivos e preferência por compor construções sintáticas
com orações coordenadas;
- Linguagem concisa de sintaxe simples;
- Determinismo de meio: retrata a figura de homens rústicos embrutecidos pelo
ambiente hostil dos ermos e sertões nordestinos da caatinga e do semiárido;

José Lins do Rego

- Retrata a desestruturação da velha oligarquia açucareira do Nordeste;


- Narra a decadência dos senhores de engenho, cuja supremacia passou a ser
contestada pela proliferação das usinas de açúcar;
- Mistura em suas obras memórias e reminiscências de sua própria vida;
- Descreve com precisão o sistema socioeconômico criado pelas monoculturas, em
que vigora o trabalho com traços ainda escravocratas e a autoridade dos proprietários
de terra;
- Importantes aspectos do Nordeste do período são incorporados pelo escritor às suas
narrativas
tais como o cangaço e o misticismo;
- A sua obra romanesca pode ser dividida em três eixos principais: o ciclo da cana-de-
açúcar, o ciclo do cangaço, misticismo e seca e as chamadas obras independentes;

Ciclo da cana-de-açúcar:
- Pertencem a esse ciclo Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934),
Usina (1936) e Fogo morto (1943);
- As obras que integram essa fase literária têm como traço comum componentes
autobiográficos, os quais remetem à vida do escritor no engenho do avô ou às
lembranças da época de
internato;
- Há uma relação de continuidade intratextual em tom de paráfrase entre as obras
Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), Usina (1936);
- Fogo morto figura como uma narrativa independente;

FOGO MORTO:
- Na primeira parte, intitulada “O mestre José Amaro”, apresenta-se o drama humano
do seleiro José Amaro, cuja profissão é, lentamente, esvaziada pelos produtos e
artigos de origem industrial;
- Na segunda parte, “O engenho de seu Lula”, narram-se o apogeu e a decadência do
engenho de Santa Fé, controlado pelo coronel;
- Na terceira parte, denominada “O capitão Vitorino”, destaca-se a figura de um
justiceiro que anda pelos
engenhos defendendo os oprimidos.

Ciclo do cangaço, do misticismo e da seca


- Dois livros compõem esse período: Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1958). Do
mesmo modo que as obras que integram o ciclo da cana-de-açúcar, os romances
dessa fase também estão interligados intratextualmente na forma de paráfrases;
- Nessas obras, descortina-se um universo humano e geográfico distinto daquele
apresentado no primeiro ciclo: troca-se a Zona da Mata pela Caatinga no semi-árido
nordestino;
- Descreve a luta pela sobrevivência no Sertão nordestino;
- Reconstitui a diversidade natural e sociocultural do Nordeste brasileiro da época;
- Explana o tema do problema do fanatismo religioso por meio de alusões ao
acontecimento messiânico conhecido como “Pedra do Reino” ou “Reino Encantado”,
ocorrido durante o século XIX, em Pernambuco.
Jorge Amado
- Caráter seco, participante e lírico, descreve a miséria e opressão do trabalhador
rural, romance proletário, região cacaueira da Bahia, ambiente urbano, descuido
formal. Tom ameno e humorístico, urbano, a partir de Gabriela, melhor cuidado
formal.
- Ficção regionalista: (Jorge Amado)
- Na obra pode se distinguir:
- “Romance Proletário”: Cacau (1933), Suor (1934) – a vida baiana, rural e citadina.
- “Depoimentos Líricos”: sentimentais, espraiados em torno de rixas e amores
marinheiros: Jubiabá (1935), Mar Morto (1936), Capitães de Areia (1937).
Jubiabá: romance de tensão mínima: há conflito, mas este se configura em termos de
oposição verbal, sentimental quando muito: as personagens não se destacam
visceralmente da estrutura e da paisagem que as condicionam.
- “Escritos de pregação partidária”: O Cavaleiro da Esperança (1942, edição argentina;
1945, edição brasileira), O Mundo da Paz (1951).
- “Afrescos da região do Cacau” : as lutas entre coronéis e exportadores: Terras do
Sem Fim (1942), São Jorge de Ilhéus (1944).
- “Crônicas amaneiradas de costumes provincianos” : Gabriela, Cravo e Canela
(1958), Dona Flor e Seus dois Maridos (1967).
- São mais recentes, nessa linha, formam uma obra à parte as novelas reunidas em
Os Velhos Marinheiros (1961).

Raquel de Queiroz
- Praticou o romance neorrealista regionalista de temática social;
- Trabalhou com a divulgação dos problemas sociais e com a investigação dos dramas
humanos;
- Prosa marcada pelo o dinamismo e a concisão;
- Valeu-se de linguagem coloquial;
- Usava com frequência o discurso direto em suas narrativas;
- Buscava o equilíbrio entre análise social e análise psicológica;

Érico Veríssimo
- Neorrealismo regionalista de análise social e política e análise psicológica;
- Busca retratar os costumes e valores do povo gaúcho, o ambiente rural e natural
sulista, as cidade do Rio Grande do Sul e suas características geográficas, sociais,
históricas;
- Reconta a História do povo gaúcho em narrativas que retratam a vida cotidiana do
povo dos Pampas e seus costumes e comportamentos;
- Mescla História com ficção;
- Propõe um panorama da condição da mulher nas discussões políticas, na vida
conjugal, no ambiente familiar e nos tempos de conflitos e guerras;
- Pratica um humor fino e ironia ácida no retrato moral das personagens e suas
ações;
- Criou uma narrativa épica no seu círculo novelístico de "O tempo e o vento": nele
reuniu várias de suas novelas em três partes: O continente, O retrato e Arquipélago;
- Sua linguagem apresenta-se próxima do coloquial oral para reproduzir os modos de
dizer gaúchos, tem muitas vezes ritmo de crônica historiográfica e rico vocabulário
regionalista do Sul do Brasil.
- De estilo simples e despojado, construiu sua prosa de ficção com base em técnicas
narrativas como o discurso indireto livre, o monólogo interior e o ritmo cinematográfico
de ações e acontecimentos. Em suas obras, narram-se, paralelamente, os destinos
individuais das personagens e os desdobramentos
da vida coletiva. Com o intuito de compor o retrato da elite gaúcha depois de 1930, o
autor mesclou a crônica de costumes com a descrição intimista.
Modernismo 3ª fase - 1945 a 1970:

- Relação de continuidade com os dois primeiros tempos do Modernismo;


- Metalinguagem lúdica e filosófica: o brincar/jogar e o refletir sobre o fazer poético;
- Universalismo: trata os temas universais da arte e da condição humana em dimensão
universal;
- Existencialismo: faz um registro das reflexões advindas da filosofia existencialista e
do questionamento universal sobre qual é o sentido da vida, de onde viemos, para
aonde vamos e o que fazemos aqui;
- Intertextualidade: dialoga não somente com textos literários, mas também com textos
oriundos de outras áreas da arte e do conhecimento, dentre elas a psicanálise;
- Prosa poética: prosa escrita com ritmo e melodia e outros elementos próprios do
discurso literário em versos;
- Narrativa intimista de tom confessional e monólogo interior com predominância do
discurso indireto livre no caso de autores como Clarice Lispector e Guimarães Rosa;
- Presença de quatro correntes estilísticas diferentes para a poesia: “Oswaldianismo”,
Concretismo, Neoparnasianismo, Construtivismo;
- Panteísmo existencialista: fusão do homem com a natureza;
- Poesia e prosa metafísica: espiritualismo, religiosidade e misticismo aliados ao
pensamento filosófico antigo, moderno e contemporâneo;
- Empirismo – reflexões fundamentadas no senso comum;
- Valorização de crenças, superstições e folclore, bem como dos mitos populares e
das mitologias clássicas;
- Misticismo, espiritualismo e religiosidade;
- Análise crítica da sociedade também fundamentada em valores conservadores que
não contemplam com bons olhos a hipocrisia, o falso moralismo, a falsa religiosidade,
a falta de ética e moral, a inversão de valores, a decadência das virtudes humanas, a
futilidade, a superficialidade das relações, a desvalorização do casamento e da família,
a banalização do divórcio e a objetificação do corpo;
- Principais autores: João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Fernando Sabino, João
Cabral de Melo Neto, Mário Quintana, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Nelson
Rodrigues, Gustavo Corção, Ariano Suassuna.

Autores e obras:

João Guimarães Rosa


- Praticava a prosa poética: prosa com ritmo, linguagem, vocabulário e expressões
próprias da linguagem poética em versos;
- Usava um vocabulário regionalista tipicamente mineiro enriquecido de coloquialismo
e oralidade, neologismos, arcaísmos, estrangeirismos aportuguesados, palavras e
expressões oriundas dos modos de dizer e do vocabulário africano e indígena;
- Praticava o Panteísmo existencialista: homem, animais, plantas e fenômenos
naturais e os elementos da natureza (ar, fogo, terra e água) se fundem, misturam-se
em uma só existência;
- Apresenta profundo conhecimento da psicologia e dos costumes, valores, crenças,
superstições e comportamentos do homem rústico do sertão de Minas Gerais;
- Valeu-se de um coloquialismo e oralidade estilizados, trabalhados conforme os
costumes, sotaque e valores do homem do campo no interior de Minas Gerais;
- Universalismo: expressa grande preocupação com os temas universais da arte e da
condição humana;
- Praticava o regionalismo universalista: “o sertão é o mundo” – o sertão de Minas
figura na obra do autor como um microcosmo do mundo;
- Frequência de metáforas e alegorias que evocam a presença dos quatro elementos
da natureza: terra, água, fogo e ar;
- Misticismo, espiritualismo, religiosidade, existencialismo e poética metafísica –
valorização de crenças, superstições, mitos, folclore e lendas;
- Retrata a violência no campo fomentada pelos jagunços – pistoleiros e valentões que
aterrorizaram o sertão do Brasil até a década de 1940;
- Apresenta uma imensa galeria de personagens típicos do universo sertanejo de
Minas Gerais: vaqueiros, lavradores, enxadeiros, meeiros, seleiros, almocreves,
fazendeiros, jagunços, militares, delegados, imigrantes, padres, beatos (as),
prostitutas, loucos, crianças, coronéis senhores de fazenda, bandidos, canoeiros,
índios, bugres etc.
- Guimarães Rosa escreveu contos, novelas, um romance e um livro de poemas;
- Buscou retratar em seus textos a linguagem rústica dos homens do campo, os
sertanejos de Minas Gerais, de maneira a valorizar a oralidade regional e criar através
dela um estilo individual único com uma linguagem única que mescla o coloquial oral
com o erudito, enriquecido por um árduo trabalho de recriação linguística,
metalinguagem lúdica e filosófica;
- Escreveu contos longos em “Sagarana” e contos curtos em “Primeiras estórias” e
“Tutameia”;
- O misticismo, o sobrenatural e o onírico predominam nos contos de “Primeiras
estórias” em que há também o cotidiano, a violência no campo e o pitoresco e
anedótico;
- O romance “Grande Sertão: Veredas” possui um epígrafe que diz “O diabo na rua no
meio do redemoinho” e esta antecipa o clímax da obra;
- “Grande Sertão: Veredas” narra a história do jagunço Riobaldo e suas aventuras,
amores, conflitos, dilemas, lutas e guerras internas e externas, tendo como cenário o
sertão de Minas Gerais.

Prosa e teatro
Nelson Rodrigues
- Escreveu crônica, conto, romance e peças de teatro;
- Promove em seus enredos um mergulho na psicologia das personagens;
- O universo psicológico influencia também o espaço/cenário de suas narrativas e
peças teatrais;
- Influências freudianas: constrói figuras arquetípicas e sonda o consciente e o
subconsciente dessas personagens;
- O mergulho no psicológico de suas personagens não é apenas uma análise
comportamental padrão, pois o autor destrói determinadas convenções e aproxima as
personagens de um mundo destruído, revelando os instintos mais doentios delas;
- Obsessão pelo sexo: o autor usa Freud e o afastamento dos valores cristãos de
família, casamento e honra para tratar o sexo sem responsabilidade como o que
impulsiona o adultério;
- As personagens de suas peças teatrais (dramas e tragédias) são vítimas de paixões
arrebatadoras que as leva a ruína;
- Sua obsessão pelo sexo não faz dele um autor de textos eróticos ou pornográficos,
ao contrário, pois suas personagens são vítimas de suas próprias e infelizes escolhas,
que demonstra o intento moralizante das obras de Nelson Rodrigues;
- Promove em seus textos um verdadeiro retrato do comportamento obsessivo e
paranoico das personagens;
- Em suas peças teatrais, por exemplo, a natureza humana é retratada pelos seus
instintos quase sempre abomináveis;
- Suicídio, adultério, neuroses, crimes, loucura e vícios são elementos frequentes em
seus textos;
- Em seus textos o homem moderno é vítima da vida moderna que leva e de suas
próprias ações, sendo com isto, o antagonista de si mesmo;
- Clima mórbido e baixo: o comportamento degradante de suas personagens que se
entregam aos seus instintos cria ambientes nos quais diversas convenções sociais são
quebradas;
- Compõe diálogos enxutos e sempre no limiar que harmonizam com a multiplicidade
de ação característica de suas tramas;
- O ritmo de suas peças é ágil e direto e ao mesmo tempo composto de diversos
núcleos;
- Suas tramas têm caráter folhetinesco com enredos focados no dia a dia (cotidiano),
mas que ganham profundidade pela construção de seus dilemas morais e pelas
dualidades apresentadas pelas personagens;
- Como cronista compôs crônicas repletas de aforismos, retratos iconoclastas dos
costumes da sociedade brasileira e fusão entre personagens reais e fictícias;
- Teatro: Nelson Rodrigues escreveu Peças psicológicas – “A mulher sem pecado”,
“Vestido de noiva”; Peças míticas – “Álbum de família”, “Anjo negro”; Tragédias
cariocas – “A falecida”, “Boca de ouro”, “O beijo no asfalto”, “Toda nudez será
castigada”.
- Vestido de noiva é sua principal peça. Possui um enredo focado na personagem
Alaíde e seu processo de rememoração de fatos passados. A peça possuí três planos:
o da alucinação, o da memória e o da realidade.
Literatura contemporânea - 1960 a 2024:

- União das propostas de todas as fases do Modernismo;


- Reflexão sobre a condição humana em face dos paradoxos da modernidade e dos
avanços tecnológicos;
- A escrita passa a querer representar de maneira engajada grupos específicos e, por
essa razão, se divide em várias células que apresentam valores e características
próprias, bem como interesses individualizados e comprometidos com militâncias e
ideologias progressistas, globalistas e também, porém modestamente, conservadoras;
- A metalinguagem se converte ainda mais na obsessão da reflexão sobre o fazer
poético e sobre a construção da narrativa literária;
- Neorregionalismo – ampliam-se a busca por aproximar o cotidiano, os
acontecimentos restritos de uma comunidade ou região das questões universais da
condição humana e da arte;
- Estreita-se ainda mais as relações da Literatura com a política, a psicanálise, a
sociologia, a filosofia, a antropologia, a religiosidade, a teologia, o jornalismo e as
ideologias militantes;
- A cor local e o cotidiano, bem como a visão pessoal, intimista e individualista passa a
ser mais importante que o universal;
- Coloquialismo e oralidade figuram como resistência política e ideológica à uma
linguagem acadêmica e formal que por sua vez age como oposição ao mau gosto nos
usos da linguagem literária;
- Drástica redução na complexidade dos conflitos universais da condição humana, no
vocabulário e nas construções sintáticas trabalhadas – essa característica, porém, não
se aplica a todos, apenas aos escritores e poetas presos ideologicamente aos
movimentos globalistas e progressistas que adentraram na cultura e nas artes ao
longo dos últimos anos;
- Busca de simplificação no campo do vocabulário e da linguagem literária não só na
escritura das obras contemporâneas como nas reedições das obras do passado,
gerando um considerável empobrecimento vocabular e morfossintático do idioma
falado e escrito e, por consequência disso, um empobrecimento da inteligência
nacional;
- Revisão de algumas formas literárias e tentativa de resgate de formas consagradas
do passado como por exemplo o romance de cavalaria épico, o romance de horror
sobrenatural, o conto fantástico, o romance de ficção-científica, o romance de
suspense policial, todos de aspecto cinematográfico ou televisivo com ritmo de roteiro
de cinema ou de séries de televisão;
- Surgimento do “romance melodramático de conflito amoroso contemporâneo” e
supervalorização do best-seller: passou-se a considerar valoroso o que se lê mais por
ser de fácil entendimento e o que mais se consome (o que se é mais vendido) – na
ótica geral, a “obra literária” deveria reduzir-se a um objeto de consumo o qual tem que
ser de fácil assimilação (portanto, pobre no trabalho artístico com a palavra), tem que
agradar ao gosto popular abaixo do mediano, tem que vender, ser apelativa, sedutora,
lúdica, gratuitamente prazerosa e, se possível apresentar apelo erótico sexista;
- Nesse sentido, a adoção de formas clássicas, linguagem apurada e trabalhada
artisticamente, temáticas de sentido universal da arte e da condição humana
promovida por uma pequena parte de escritores prosadores ou poetas figura como
uma espécie de resistência da tradição literária intelectual desprovida de “afetação” e
de obsessão pelos holofotes da mídia marrom;
- Ausência de empatia com o humano universal para valorizar mais os conflitos
pessoais do indivíduo em suas particularidades, complexos de inferioridade,
vitimizações e enquadramento às chamadas minorias;
- Apelo erótico e muitas vezes sexista, em muitos casos desprovido de lirismo, e que,
medidas a proporções e os usos da linguagem, atinge até a literatura infantil e infanto-
juvenil como uma espécie de relativização dos valores relacionados ao respeito as
etapas da infância e da adolescência e seguindo um obscuro projeto de doutrinação
ideológica;
- Relativização dos valores éticos e morais;
- Subjetividade engajada a uma carnavalização (relativização e total inversão de
valores no campo ético, moral, religioso, político, legal, educacional, afetivo etc) e
representativa de uma visão egocêntrica, individualista, hipócrita e de falsa empatia
porque limitada a interesses particulares que na verdade excluem e relativizam o real
interesse da coletividade;
- Ampliação do campo intertextual para além do meio literário, dialogando com o
cinema, a música, as artes plásticas, o designer gráfico, a arquitetura, os quadrinhos,
a televisão, a pop art, a propaganda, a psicanálise, a filosofia moderna e
contemporânea, a sociologia, a antropologia, a militância político-ideológica e a mídia
tecnológica;
- Valorização editorial do romance ou de formas contemporâneas que se assemelham
à forma romanesca e drástica diminuição do interesse pelas formas em versos.

Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo

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