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O que é Literatura?
Literatura é, evidentemente, representada por obras literárias tais como poemas,
sonetos, odes, éclogas, epopeias, canções de gesta, romances, novelas, contos,
crônicas, fábulas, peças de teatro (tragédias, comédias, farsas, autos, dramas)
pertencentes ao cânone ou tradição literária.
A Literatura é a expressão do nosso livre-arbítrio, é o verbo e, portanto a arte de
Deus. Ela não julga, nem condena, não é conivente com nossos erros, mas solidária.
Tudo que ela nos permite ver, pensar, sentir, ouvir, falar, sonhar, refletir, contemplar é
ensinamento. Ela não tem compromisso com o bem, nem com o mal, nem com o terceiro
excluído. Ela tem compromisso é com a verdade profunda da condição humana, da
natureza humana, da própria natureza; compromisso com o entendimento sobre o
sentido da vida, a beleza do belo e a beleza do feio, a beleza da paz e a beleza da
guerra, a beleza do amor e a beleza do horror, a beleza da vida e a beleza da morte. As
suas formas e seus conteúdos são um espelho das mãos do Criador, uma centelha do
Fogo Divino na mente, na alma dos humanos. Imperfeitos somos, a Literatura é Deus
nos lapidando. Nós, diamantes brutos.
A arte que tem como matéria-prima as palavras organizadas em estruturas que
criam, recriam e transformam a realidade da linguagem, possibilitando a conservação e
ao mesmo tempo a evolução do idioma em que ela se expressa. A Literatura transcende
o esquema da comunicação objetiva de viés denotativo e literal para apresentar um
universo de possibilidades por via da linguagem conotativa (figurada) que aguça, forma
e enriquece o imaginário dos leitores, apresentando a eles uma coleção diversa de
símbolos que só sua expressão pode proporcionar.
Como arte é provocadora dos sentimentos, das emoções e das sensações que
as pessoas têm quando contemplam o belo. Adentra o intelecto e a alma e investiga as
questões profundas da existência, da condição humana e de tudo o que diz respeito a
nossa evolução intelectual e espiritual. Como ciência diz através da teoria da literatura
e da crítica literária o que a ciência da linguagem precisa para preencher suas lacunas.
Vai além do estudo da norma culta e das variedades linguísticas para explicar questões
relativas a forma e ao conteúdo da obra literária, ao gosto e a recepção, bem como
questões relacionadas com outras teorias de outros ramos das ciências tais como
psicologia, psiquiatria, filosofia e antropologia. Deve, portanto, ser apreciada como arte
e estudada como uma ciência.
Ler um livro cuja linguagem é a reprodução da fala diária do seu meio e os
conflitos são a crua reprodução do que há de mais frívolo, trivial e leviano no seu
cotidiano pode ser uma faca de dois gumes: se o autor quer apenas ser popular e vender
livros, você estará diante daquela senhora que vive na janela vigiando a vida dos outros
para narrar suas fofocas; se o autor quer ser mais que apenas popular e vender livros,
mas dar forma, conteúdo e vida à linguagem coloquial e reproduzir o cotidiano de
maneira a levar os leitores às reflexões profundas sobre a condição humana ou a
natureza humana, o sentido da vida e os conflitos universais da nossa existência, você
estará diante de uma obra literária e terá verdadeiro contato com a Literatura.
Tentar construir um sujeito crítico sem ensiná-lo a buscar na leitura, na Literatura
e no estudo das ciências e das artes o que ele precisa para começar a ir a diante é como
executar a construção do barco de Robinson Crusoé: maravilhoso barco muito bem
construído no meio da mata, no interior da ilha e longe do mar – é um barco, mas não
funciona na terra distante da água.
O náufrago só pensou no resultado do trabalho, dispensando a razão e a
funcionalidade do que ele estava construindo. O caminho para o conhecimento é longo,
difícil, árduo, leva tempo e investimento e exige sacrifícios. Não se forma um sujeito
crítico por atalhos, caso contrário o resultado não navega e nem vai adiante. Salvo se
fizer parte de um grupo fechado de aduladores ou ideólogos.
Os ideólogos não fazem Literatura. A ideologia é o contrário da inteligência, pois
engessa a real capacidade de discernimento do indivíduo e o faz perder a conexão
consigo mesmo e com a realidade. A lacuna deixada por essa conduta representa tudo
o que não podemos perder: o nosso próprio EU. A ideologia é oposta a inteligência, a
autonomia de pensamento e a verdade e, por esse motivo, oposta a liberdade. Literatura
é liberdade. Literatura é vida.
As funções da Literatura:
Função estética
Busca o equilíbrio e a harmonia entre forma e conteúdo, visando a beleza e
buscando a perfeição. Trabalha com o conceito Aristotélico de Mimese em que o artista
deve imitar a natureza em tudo que produz como arte, seja representação do bem ou
do mal, do belo ou do feio. A beleza aqui não deve ser vista como algo sempre pacífico,
passivo ou leve ao espírito, mas como algo que convida à contemplação.
Leia o poema de Emily Dickinson:
Eu morri pela beleza
Função poética:
Função metalinguística:
Signo linguístico
Linguagem denotativa:
Significante – FLOR
Significado –
- A tulipa é uma flor.
Significado –
- Carolina é uma flor.
Figuras de linguagem
Comparação ou símile
José nada como um peixe.
Esta casa parece uma prisão.
A tristeza é igual a uma nuvem escura.
Ele é semelhante a um orangotango.
Tropo de similaridade
Metáfora
José é um peixe na piscina.
Esta casa é uma prisão.
Preciso sair dessa prisão que meus pais fizeram para mim.
A tristeza é uma nuvem escura.
Não sei que nuvem escura habita no teu peito que só te faz chorar.
Ele é um orangotango.
Esse orangotango não me deixa passar!
A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio da imaginação
criadora do homem, as palavras podem ter seu significado ampliado, deixando de
representar apenas a ideia original (básica e objetiva).
Metáfora
A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de
outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso
espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças.
É importante notar que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo; se
a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese (é o que
ocorre, por exemplo, com "pé de alface", "perna da mesa", "braço da cadeira").
Observe agora:
Catacrese
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A
catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um
conceito, toma-se outro "emprestado".
Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Exemplos:
"asa da xícara"
"maçã do rosto"
"braço da cadeira"
"batata da perna"
"pé da mesa"
"coroa do abacaxi"
Perífrase
Exemplos de Antonomásias:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
Sinestesia
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por
diferentes órgãos do sentido.
Exemplos:
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo;
negro = visual)
Ó, sonora audição colorida do aroma (audição, visão e olfato)
Figuras de pensamento
Antítese
Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando
há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos
conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos.
Observe os exemplos:
Paradoxo
Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha menos recebe
e tem mais dificuldades econômicas.
Oximoro
Eufemismo
A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor. Veja
os exemplos abaixo:
Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima!
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.
Hipérbole
Prosopopeia ou personificação
Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres
inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Observe os exemplos:
Apóstrofe
"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)
Gradação
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana com seus olhos claros e
brincalhões...
"Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac)
"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)
Elipse
2) Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira. (Nesse exemplo, as
desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse
"eu".)
3) Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir
direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem
em agosto.)
Zeugma
Silepse
A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no
texto, mas sim com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal,
psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente
subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.
Silepse de gênero
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que
gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
cidade de Porto Velho).
Silepse de número
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram, estão e gritavam não
concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no
singular, procissão, turma e povo, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade
que neles está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso
que os verbos estão no plural.
Silepse de pessoa
Polissíndeto / Assíndeto
Polissíndeto
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e
tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe
da natureza."
Assíndeto
"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)
Anáfora
Anacoluto
Obs.: o anacoluto deve ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais.
Em geral, deve-se evitá-lo.
Hipérbato / Inversão
São como cristais as palavras. (Na ordem direta seria: As palavras são como cristais.)
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)
Figuras de som
Aliteração
Assonância
Onomatopeia
Exemplos:
Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.
Linguagem, estrutura e elementos do texto poético em versos
Verso – verso é uma linha do poema, uma sequência de sílabas poéticas.
Sílaba poética – é um fragmento de som átono ou tônico. Ex:
Cor/dei/ri/nha/lin [da]
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Tipos de Versos de acordo com o número de sílabas poéticas:
O verso, do latim versus, que significa “linha de escrita”, é o nome dado às linhas
que compõem uma composição poética em versos.
De tal modo, a poesia é formada por uma quantidade de versos, que apresentam
ou não rimas, os quais são agrupados em estrofes.
Os versos livres recebem esse nome por não seguir nenhuma regra poética de
metrificação. Já os chamados versos brancos são aqueles que não possuem rima,
entretanto, podem apresentar uma métrica.
Revendo o exemplo:
Cor/dei/ri/nha/lin [da]
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Nesse verso, cada sílaba numerada é uma sílaba poética, exceto a sílaba
átona pós-tônica [da] que se encontra entre colchetes.
Estrofe ou estância é um agrupamento de versos.
Tipos de Estrofes
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Regras da escansão:
1- a contagem das sílabas poéticas é feita até a última sílaba tônica do verso.
2- a(s) sílaba(s) átona(s) pós-tônica(s) não entra(m) na contagem e é(são)
isolada(s) das demais entre colchetes.
3- a divisão das sílabas poéticas é feita com barras (/) e elas devem ser numeradas.
4- as sinalefas (elisões e crases) devem ser marcadas com ( ) ligando uma átona
a outra.
5- as sinalefas ocorrem quando há o encontro de sílabas átonas de palavras
diferentes, átonas com tônicas ou outros casos passíveis de avaliação.
Ex:
A/mor/é um/fo/go/que ar/de/sem/se/ver
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Sinalefas
Do grego syn (=juntar), as sinalefas juntam vogais de palavras diferentes
quando átonas, átonas com tônicas e outros casos passíveis de análise. Há vários
tipos de sinalefas, as mais comuns são: elisão, crase e sinérese.
Elisão: uni vogais diferentes.
Ca / ro / li / na es / ta / va / pá [lida]
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Obs: não há sinalefa entre as sílabas 6 e 7, pois a pronúncia do “i” e do “e” são
notadas apesar de serem, respectivamente, uma semivogal de um ditongo
decrescente e uma vogal átona.
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Diérese
A diérese separa ditongos quando necessário.
Ex:
“Derramando chumbo na saüdade”
De/rra/man/do/chum/bo/na/sa/ü/da [de]
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Obs:
1- Na escansão ou divisão silábica poética os dígrafos SS ou RR sempre ficam
juntos da vogal seguinte como acontece no exemplo acima (De/rra/man/do/...)
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diferente da divisão silábica gramatical.
2- O trema aqui é usado no “ü” apenas para marcar a presença da diérese no
verso.
O verso quanto à posição da sílaba tônica:
Verso agudo: termina com palavra oxítona ou monossílabo tônico acentuado ou
não.
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Atividade:
Leia o poema e faça a escansão dos versos abaixo:
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Exercício resolvido:
O/po/e/ta é um/ fin/gi /dor
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Fin/ge/ tão/ com/ple/ta/men [te]
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A /dor/ que/ de/ve/ras/ sen[te].
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E os/ que/ le/em /o/ que es/cre [ve],
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Rimas
(Vinícius de Moraes)
Rimas consoantes – são as que iniciam na sílaba tônica e vão até ao final da palavra.
Ex:
Amante
Instante
Rimas toantes – são as que ocorrem apenas na vogal tônica e na átona pós-tônica da
palavra. Ex:
Outros exemplos:
gato/pato;
correr/fazer;
amarelo/singelo.
Rimas ricas
a) ocorrem entre palavras de classe gramatical diferentes;
Ex:
Terra – substantivo
Berra – verbo “berrar”
Outros exemplos:
noz/veloz;
altar/desenhar;
pente/surpreendente.
Figuras de harmonia
Ambas têm o objetivo de apresentar uma harmonia imitativa que representa com sons
aquilo que o poeta expressa com o sentido das palavras escolhidas para a mensagem.
Exs: Leia estes versos do poema “Violões que choram”, de Cruz e Sousa:
Aliteração em V/Z para imitar o som do violão e S para imitar o som de uma voz que
sussurra uma canção.
Versos isométricos – são aqueles que possuem o mesmo número de sílabas poéticas
em todos os versos da composição. Exemplo: sonetos.
(...)
(Olavo Bilac)
Gênero lírico (poesia) – Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo
Características:
- O termo “lírico” vem de “lira”, um instrumento musical usado pelos primeiros poetas na
Grécia Antiga para compor seus poemas;
- A poesia ocidental surgiu na Arcádia, uma região agropastoril da Grécia: era oral, em
versos e cantada;
- Na poesia, as emoções provocam ações;
- Predominam as funções emotiva, poética e metalinguística da linguagem;
- Predomina a linguagem conotativa ou figurada (metáforas, comparações, ironias,
hipérboles, alegorias, antíteses, paradoxos, hipérbatos, quiasmos, eufemismos,
prosopopeias, gradações, metonímias, aliterações e assonâncias etc.);
- Apresenta-se comumente em versos, estrofes, rimas, ritmo e musicalidade, com
versos ora rimados, ora brancos (sem rima), versos ora metrificados, ora livres (sem
métrica); pode se apresentar também em prosa (com períodos e parágrafos) ou na
forma verbivocovisual (poesia visual);
- Manifesta sentimentos, emoções, sensações, sentidos; descreve cenas e quadros;
- Presença de um “eu” que fala no poema, é denominado “eu lírico” ou “eu poético” e
fala pelo poeta e nem sempre representa o que o autor está sentindo;
- Poema
- Soneto
- Ode
- Elegia
- Canção e cantiga
- Haicai
Poema
Exemplo:
Soneto
Horácio
Elegia
Composição lírica criada originalmente para homenagear pessoas queridas que
faleceram ou para lamentar alguma perda. A dor, o remorso, a melancolia, a tristeza e
os infortúnios são assuntos comuns numa elegia. Hoje, trata-se de um poema
melancólico que também fala de solidão e abandono ou o resultado final de um conflito
ou separação.
Exemplo:
Exemplos:
Canção
Ao desconcerto do mundo
Haicai
A neve branquinha
Que derreteu suavemente
Acordou as flores.
Fernando A. B. Araújo
Gênero épico (narrativo) – Prof. Fernando Antônio Brasil de Araújo
Características
- Manifesta-se em verso e em prosa;
- As ações provocam emoções;
- Presença de um narrador que intercambia suas experiências, participando direta
ou indiretamente dos fatos narrados, ou apenas é conhecedor de toda a história
e narra a trama como narrador onisciente;
- Foco narrativo: 1ª pessoa do discurso quando o narrador é personagem
protagonista ou testemunha; 3ª pessoa do discurso quando o narrador é
onisciente, ou seja, tem domínio total da trama e sabe tudo sobre as personagens;
- Pode haver mais de um narrador contando a mesma história, a isso chamamos
“polifonia”;
- Predominam as funções emotiva, poética, metalinguística da linguagem, mas
ocorrem também a referencial e a fática (essa última nos diálogos);
- Dramaticidade: presença de diálogos em discurso direto e indireto;
- Descrições detalhadas ou parciais de cenários (espaço), ação e personagens;
- Presença de personagens que interagem entre si e com o meio;
- Presença de elementos estruturais que organizam a narrativa: espaço (onde),
tempo (quando), personagens (quem), ação/conflito (o quê?) e enredo (como);
- Presença de um enredo que organiza toda ação.
- apresentação;
- ação/conflito;
- clímax;
- desfecho.
Foco narrativo
- 1ª pessoa
- 3ª pessoa
Personagens:
- protagonista
- antagonista
- coadjuvante
- planas
- típicas
- esféricas ou redondas
- simultâneas
- anáforas
- históricas
- míticas/ficcionais
Os cinco graus de personagens conforme seu nível de poder:
- O personagem é um deus, um ser divino e pode tudo por ser onipotente.
- O personagem é assistido por um Deus e tem qualidades sobre-humanas que se
manifestam não o tempo todo, mas de vez em quando.
- O personagem não é assistido por um Deus, mas tem qualidades notáveis (um gênio,
um herói, um sábio).
- O personagem é uma pessoa comum do meio social burguês e suas ações são
reproduções estéreis do cotidiano.
- O personagem é uma pessoa abaixo de sua própria condição humana e não consegue
compreender nem suas próprias vivências ou experiências.
Epopeia
Características:
Exemplos de epopeias:
- Ilíada, de Homero;
- Odisséia, de Homero;
- Teogonia, de Hesíodo;
- Argonáutica, de Apolônio de Rodes;
- Heracleia, de Panyassis;
- Eneida, de Virgílio;
- A divina comédia, de Dante;
- Orlando furioso, de Ludovico Ariosto;
- Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões;
- O paraíso perdido, de John Milton;
A canção de gesta
Características:
- Poema narrativo longo, porém menor que uma epopéia, que narra a estória
fabulosa de um herói e suas proezas bélicas ou lutas contra seres mitológicos,
homens e feras;
- Presença de mitologia celta, germana ou nórdica viking (escandinava);
- Presença de Paganismo e Cristianismo com predominância do primeiro;
- Uso frequente e obsessivo de metáforas e linguagem eloquente;
- Visão simplória da geografia do mundo ou invenção de espaços geográficos
reduzidos ou feéricos, fabulosos e sobrenaturais;
- Valorização do herói, das armas e do saber usá-las em combate, do combate
desigual e da morte em glória;
- Gestas mais famosas:
A canção de El Cid;
A canção de Rolando;
A canção de Beowulf;
A canção dos Nibelungos.
Cordel
Características:
O conto
Características:
- Narrativa curta em prosa, com núcleo dramático concentrado em que predomina
a concisão;
- Pode ou não ter elementos poéticos que podem amplificar sua carga dramática
e intensidade do núcleo e do clímax;
- Há limite de tempo, espaço, ação e personagens, mas nem sempre há unidade
de tempo e espaço;
- A concisão do conto pode ser de tal modo que o narrador o inicia “no meio do
caminho” e chega ao desfecho no clímax, provocando o anticlímax;
- Os contos mais tradicionais possuem enredo completo com apresentação,
ação/conflito, clímax e desfecho, já o conto moderno e contemporâneo tem uma
tendência a enredos concisos com apenas ação/conflito e clímax;
- Descrições detalhadas e parciais, predominando a parcial;
- Dramaticidade: presença de diálogos que dinamizam a ação;
- O conto aborda temas diversos, os mais comuns são: conto de humor, conto de
terror, conto de suspense policial, conto anedótico e conto fantástico;
O conto maravilhoso
O conto maravilhoso é um texto narrativo que geralmente se inicia situando
o herói ou a heroína em seu ambiente familiar, no tempo e no espaço, e apresenta
suas características. Apresenta um ou mais protagonistas, um vilão e um
problema a ser resolvido. Suas personagens são reis, príncipes, bruxas, anões,
princesas etc, e os lugares onde transcorre a ação são bosques, florestas,
castelos etc. Apresenta geralmente fatos mágicos e um final feliz. Inicia-se por
uma expressão que indica tempo impreciso e os fatos ocorrem no passado. O
narrador, em geral, é observador. Apresenta diálogo e a linguagem empregada é
predominantemente a norma padrão.
A crônica
A crônica é uma narrativa curta em prosa com estrutura geralmente
cronológica, limite de tempo, espaço, ação e personagens.
O cronista capta instantes do cotidiano e apresenta-os poeticamente com
humor, sensibilidade, ora também com ironia e tom crítico anedótico.
Há crônicas que valorizam o diálogo e estruturam-se dessa forma, quase
sem passagens narrativas. Nesse caso, há a predominância do discurso direto.
Outras valorizam a narrativa e outras a reflexão de caráter dissertativo.
A linguagem da crônica tem uma tendência ao coloquialismo e em alguns
casos a oralidade, quando busca ser uma reprodução estilizada dos “causos”
típicos da literatura popular do interior do país.
Valendo-se também da linguagem poética, a crônica valoriza a descrição e
o detalhe que não escapa aos olhos do cronista.
Os principais cronistas da literatura brasileira são: Rubem Braga, Fernando
Sabino, Otto Lara Rezende e Carlos Drummond de Andrade.
A fábula
Características:
- Surgiu na Grécia Antiga. Advém de uma festa pagã grega chamada “Canto do
bode”;
- As personagens são superiores: pertencem a nobreza;
- O protagonista passa por uma catarse ou expiação: sofre constantemente e,
muitas vezes, morre no final;
- O expectador tende a sofrer com o protagonista e viver o terror experimentado
por ele ao longo da peça;
- A angústia e o terror experimentado pelo protagonista são inevitáveis e a morte
figura, quase sempre, como o menor dos males.
- Tragédias famosas e seus autores: Édipo-rei, de Sófocles; Medeia, de Eurípedes;
Prometeu acorrentado, de Ésquilo; Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
Comédia
Características:
- Peça teatral cômica que promove o riso através da sátira fomentada pela crítica
social ácida de costumes, comportamentos e valores;
- A comédia surgiu na Grécia Antiga advinda de uma festa tradicional chamada
“Festa do Canto da Aldeia”;
- As personagens da comédia são mistas, podendo ser superiores (representantes
da nobreza) ou inferiores (representantes da plebe – o povo), predominando as
inferiores; podem ser também típicas ou caricaturais, apresentadas de maneira a
expor o ridículo de suas ações, pensamentos, costumes e valores;
- A comédia propõe uma crítica à sociedade através dos vícios de seus
representantes;
- Erotismo picaresco;
- Aborda temas familiares, conjugais, sexuais, políticos e sociais com a finalidade
de promover uma análise crítica dos valores, visando um riso que representa, na
verdade, a nossa consciência do quão podemos ser equivocados e patéticos;
- A linguagem da comédia é dinâmica, cheia de diálogos “no limiar”, ironia,
sarcasmo, malícia; é também de caráter sexista e cheia de ambiguidades;
- Os comediógrafos e suas peças: “Lisístrata – a greve do sexo”, “As nuvens” e
“As aves”, de Aristófanes; “Sonho de uma noite de verão” e “A megera domada”,
de William Shakespeare; “O noviço” e “Juiz de paz na roça”, de Martins Pena; “O
demônio familiar”, de José de Alencar.
Farsa
Características:
- Peça teatral cômica criada na Roma Antiga baseada num provérbio latino que
diz “castigat ridendo mores” (rindo castiga-se maus hábitos);
- Pratica o riso fácil, a comédia pastelão, estilo “bolo na cara”;
- Valoriza a caricatura, os personagens planos e típicos e também uma linguagem
dinâmica, cheia de diálogos “no limiar”, ironia, sarcasmo, malícia, sexismo e
ambiguidades;
- Critica a sujeira moral e as deficiências físicas, bem como aspectos estéticos
das personagens;
- Um exemplo de farsa é “A farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente – fundador e
principal representante do teatro português; e a “Farsa da boa preguiça”, de
Ariano Suassuna.
Auto
Características:
Drama
Características:
Século VI a.C.
Hipônax
- Lirícas e Satíricas
Alceu
- Líricas
Safo de Lesbos
- Líricas
Esopo
- Fábulas
Tales de Mileto (filosofia)
Anaximandro (filosofia)
Demócrito (filosofia)
Heráclito (filosofia)
- Dialética (o caminho entre as ideias)
Século V a.C.
Anacreonte de Teos
- Líricas
Eurípedes
- Medeia (tragédia)
Sófocles
- Édipo-Rei (tragédia)
Ésquilo
- Prometeu acorrentado (tragédia)
Píndaro
- Líricas
Século IV a.C.
Aristófanes
- Lisístrata (comédia)
- As nuvens (comédia)
Sócrates (filosofia)
Platão (filosofia)
- O banquete (o amor)
- Íon (poesia, inspiração divina ou produto do conhecimento?)
- Teeteto (natureza do conhecimento escrito)
- Protágoras (virtude se aprende?)
- República (definição de justiça)
- Cármides (ética)
- Menexeno (a morte no campo de batalha)
Láques, ou da coragem (esse livro apresenta um novo conceito de coragem ao
cidadão grego, acostumado antes à concepção de heroísmo relacionada a Aquiles e
Odisseu, mas que agora passa a ganhar uma conotação de ação moralmente
equilibrada e justa.)
Aristóteles (filosofia)
- Arte poética (os gêneros literários e o conceito de Mimese)
- Da alma (a imaginação e o pensamento e as relações entre sensação e intelecto)
- Retórica (Persuasão – dialética e retórica criam uma parceria para um sistema de
persuasão baseado no conhecimento, e não na manipulação e omissão.)
Século III a.C.
Apolônio de Rodes
- As Argonáuticas (epopeia)
Menipo de Gadara
- Sátiras
Século II a.C.
Mosco
- Líricas bucólicas
- Gramática
Eratóstenes
- Hermes
Aristófanes de Bizâncio
- Crítica literária
Antípatro de Sídon
- Líricas
- As sete maravilhas do mundo antigo
Aristarco de Samotrácia
- Escreveu críticas severas a Homero, alegando o caráter ilegítimo dos versos do
poeta.
Século I d.C.
Titus Petronius Arbiter - Petrônio
- Satíricon (narrativa pré-romanesca)
Século II d.C.
Lucius Apuleius - Apuleio
- Metamorfoses ou o Asno de ouro (narrativa pré-romanesca)
Literatura da Idade Média
Trovadorismo
Em Portugal
- 1189: “Cantiga da Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós; 1418: surgimento o
Humanismo em Portugal.
Contexto Histórico:
- Baixa Idade Média
- Feudalismo
- Teocentrismo
- Estrutura social: Clero/Rei, Nobres/Plebe
- Guerras de reconquista do solo Ibérico (Português e Espanhol)
- Cruzadas
- Peste Negra
Poesia Medieval
Cantigas Lírico-Amorosas
Cantiga de Amor
- Eu lírico masculino;
- Mulher superior ao homem;
- Vassalagem amorosa;
- Coita amorosa: dor, sofrimento;
- Amor cortês: de cavalheiro;
- Amor platônico, espiritualizado;
- Origem Provençal (sul da França);
- Linguagem poética elaborada;
- Ambiente palaciano.
Exemplo:
Cantiga de Amor
Cantiga de Amigo
- Eu lírico feminino;
- Mulher inferior ao homem;
- Coita amorosa: saudade do amigo (namorado);
- Amor carnal, erótico;
- Metáforas eróticas extraídas da natureza;
- Origem popular Lusitana;
- Ambiente rural, familiar ou natural;
- As cantigas de amigo podem ser campesinas (ambiente rural), marinas (ambiente
litorâneo), serranas (ambiente serrano ou montanhês) e silvícolas (ambiente: bosques
e florestas), domésticas (ambiente doméstico);
- Linguagem simples;
- Presença de paralelismo e refrão.
Exemplo:
Cantiga de Amigo
D. Dinis
Cantigas Satírica
Cantiga de Escárnio
- Crítica indireta;
- Não cita o nome da pessoa criticada;
- Linguagem maliciosa e cheia de ambiguidades.
Cantiga de Escárnio
Cantiga de Maldizer
Prosa Medieval
Novelas de Cavalaria
Características
Origens:
Itália, século XIV:
- 1418: Fernão Lopes é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo; 1434: Fernão Lopes
é nomeado cronista-mor do reino de Portugal.
Contexto Histórico:
Características gerais:
Poesia Palaciana
- Versos redondilhos maiores (7 sílabas poéticas) e redondilhos menores (5 sílabas
poéticas);
- Poesia composta pelos fidalgos da corte e da burguesia mercantil, daí o
termo “palaciana”: poesia feita pelos filhos da nobreza e da burguesia mercantil que
viviam em palácios e tinham acesso às escolas e universidades;
- Tentativa de imitar os modelos e valores da poesia clássica da Antiguidade greco-
romana;
- Temas: Amor platônico (exaltação da figura feminina, idealização da beleza da
mulher, coita amorosa de dor, sofrimento e saudade) e Amor carnal (erotismo,
encontro físico dos amantes); Sátira social (críticas ao clero e aos cavaleiros); Poesia
religiosa (moralizante e alegórica); Poesia de louvor épico (louvor aos feitos heroicos e
guerreiros dos portugueses).
Cantiga, partindo-se
Prosa Historiográfica
- Realismo: preocupação com os detalhes, narrações e descrições detalhadas,
diálogos;
- Averiguação, investigação das fontes históricas, pesquisa e leitura crítica de
documentos e artefatos históricos;
- Inclusão das classes populares na história oficial: referência a ação popular na
construção da história oficial de Portugal;
- Obras: Crônicas de Fernão Lopes.
Teatro Humanista
Gil Vicente
Obras importantes:
- Auto da barca do Inferno, Auto da Lusitânia, Farsa de Inês Pereira, O Velho da Horta.
Renascimento: Classicismo
Contexto Histórico
- Idade Moderna
- Imprensa de Gutenberg e Heliocentrismo de Copérnico
- Renascimento
- Antropocentrismo
- Absolutismo
- Mercantilismo
- Grandes Navegações
- “Descobrimento” da América
- Reforma e Contrarreforma
Características
- Poesia lírica
Medida velha
- Versos redondilhos menores (5) e maiores (7);
- Cantigas e canções;
Medida nova
- Versos decassílabos (10);
- Sonetos, Odes, Elegias e Éclogas;
- Poesia épica
- 10 cantos e 5 partes: 1ª) Proposição, 2ª) Invocação, 3ª) Dedicatória, 4ª) Narração, 5ª)
Epílogo.
Os Lusíadas - Canto I
Proposição:
1
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Invocação:
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.
5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Dedicatória:
6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antígua liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Para do mundo a Deus dar parte grande;
7
Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou)
8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco oriental, e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo rio;
9
Inclinai por um pouco a majestade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno:
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de til gente.
11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas,
Que excedem as sonhadas, fabulosas;
Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro,
E Orlando, inda que fora verdadeiro,
12
Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei o ao Reino tal serviço,
Um Egas, e um D. Fuas, que de Homero
A cítara para eles só cobiço.
Pois pelos doze Pares dar-vos quero
Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço;
Dou-vos também aquele ilustre Gama,
Que para si de Eneias toma a fama.
13
Pois se a troco de Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele que a seu Reino a segurança
Deixou com a grande e próspera vitória;
Outro Joane, invicto cavaleiro,
O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.
14
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Fizeram, só por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo, e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora;
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a morte.
15
E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que pelo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras, e do Oriente os marços,
16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu exício afigurado;
Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tethys todo o cerúleo senhorio
Tem para vós por dote aparelhado;
Que afeiçoada ao gesto belo e tenro,
Deseja de comprar-vos para genro.
17
Em vós se vêm da olímpica morada
Dos dois avós as almas cá famosas,
Uma na paz angélica dourada,
Outra pelas batalhas sanguinosas;
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos tem lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.
18
Mas enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Para que estes meus versos vossos sejam;
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.
Narração:
19
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteo são cortadas
20
Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via-Láctea juntamente,
Convocados da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
(...)
Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões – Editora Martin Claret.
O Quinhentismo no Brasil
Limites
- 1500: “Carta ao rei Dom Manuel”, de Pero Vaz de Caminha.
- 1601: “Prosopopeia”, de Bento Teixeira (início do Barroco no Brasil).
Contexto Histórico
- Idade Moderna
- Imprensa de Gutenberg e Heliocentrismo de Copérnico
- Renascimento
- Absolutismo
- Mercantilismo
- Grandes navegações
- “Descobrimento” da América
- Reforma e Contrarreforma
Características
- Divide-se em duas manifestações:
Limites
- 1601: “Prosopopeia”, de Bento Teixeira.
- 1768: “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa (início do Arcadismo)
Contexto Histórico
- Contrarreforma
- Invasões holandesas no Brasil
- Ciclo da cana-de-açúcar
- Início da mineração e exploração do ouro em Minas Gerais
Características
- Tradição Dionisíaca (romântica);
- Retorno aos valores medievais sem abandonar os valores do Renascimento e do
Maneirismo;
- Barroco = pérola deformada, porosa, áspera e de tons claros e escuros;
- Arte do homem em conflito e angústia existencial e moral;
- Tentativa de unir valores opostos: razão X fé, Medievalismo X Renascimento,
Teocentrismo X Antropocentrismo, Cristianismo Católico X Mitologia Pagã greco-
romana, êxtase místico religioso X êxtase carnal erótico etc..
- Técnicas de composição: Espelhismo – consiste em atribuir a um substantivo vários
adjetivos ou palavras e expressões de mesmo valor; Disseminação e recolha de
palavras: dissemina palavras nos vários versos de uma estrofe depois as recolhe na
estrofe seguinte apenas no último verso; Disseminação e recolha de ideias: Dissemina
argumentos num texto para depois aproximá-los do argumento principal que deu
origem ao tema desenvolvido;
- Propõe um trabalho de linguagem envolvente e ao mesmo tempo complexo com o
uso de figuras de linguagem e tropos;
- Linguagem rebuscada e complexa, que mescla o erudito com o coloquial/oral;
- Expressão exagerada e extravagante de sentimentos e emoções;
- “Memento Mori”: obsessão pelo tema da morte;
- Presença de duas correntes estilísticas:
Contexto Histórico:
Características gerais:
Origens:
Alemanha (2ª metade do século XVIII): Surgimento do romance passional – “O
sofrimento do jovem Werther”, de Goethe.
Poetas e/ou prosadores: Lenau, Heine, Schiller, Goethe, irmãos Schlegel e Novalis.
Poetas e/ou prosadores: Sir Walter Scott, William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge,
Walter Savage Landor, John Keats, Lord Byron, Percy Bysshe Shelley.
Características gerais
Poesia
A poesia romântica brasileira se divide em 3 fases:
1ª fase – o sabiá
Principal representante: Gonçalves Dias (poesia e teatro)
2ª fase – o corvo
Principal representante: Álvares de Azevedo (poesia, prosa e teatro)
- Ultrarromantismo;
- Influências do romance negro/gótico de horror sobrenatural;
- Byronismo (influências do poeta inglês Lord Byron);
- Mal do século;
- Domjuanismo;
- Espírito livre, rebelde e aventureiro;
- Pessimismo;
- Morbidez, fantasmagoria, locus horrendus e imagens satânicas;
- Amor e morte;
- Erotismo sensual imaturo;
- Misticismo e valorização de crenças e superstições;
- Narcisismo e egocentrismo;
- Subjetividade;
- Poesia dramática e exclamativa;
- Solidão e melancolia;
3ª fase – o condor
Principal representante: Castro Alves (poesia e teatro)
1- Formas romanescas:
- Romance urbano de costumes burgueses: “Senhora”, “Lucíola” e “Diva”, de José de
Alencar.
- Romance sertanejo (algumas vezes épico e histórico): “Til”, “O Tronco do Ipê”, “O
Gaúcho” e “O Sertanejo”, de José de Alencar; “Inocência”, de Visconde de Taunay.
- Romance histórico (algumas vezes épico): “Alfarrábios”, “As Minas de Prata” e “A
Guerra dos Mascates”, de José de Alencar.
- Romance indianista (algumas vezes épico e histórico): “Iracema”, “Ubirajara” e “O
Guarani”, de José de Alencar.
- Romance abolicionista/passional: “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.
- Romance pícaro (malandro): “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel
Antônio de Almeida.
- Romance fantástico (sobrenatural): “A Luneta Mágica”, de Joaquim Manuel de
Macedo.
2- Contos:
“Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo (contos de terror, mistério, morte e ações
impulsivas passionais (movidas por exagerada paixão).
Teatro
Comédia de costumes: Martins Pena (O noviço, Quem casa quer casa, Juiz de paz na
roça) e José de Alencar (O demônio familiar, Rio de Janeiro em prosa e versos);
Dramas: Gonçalves Dias (Leonor de Mendonça), Álvares de Azevedo (Macário) e
Castro Alves (Gonzaga ou A revolução de Minas).
O Realismo
Origens:
França
Portugal:
Brasil:
Contexto Histórico:
Características gerais:
1 Thérèse Raquin (1867), de Émile Zola é seu primeiro romance Naturalista de grande repercussão.
2 O romance no século XVIII: As mudanças políticas, tanto na França como na Grã-Bretanha,
prosseguiram no âmbito literário e, mais concretamente, na narrativa. O surgimento de um novo leitor, que
buscava no romance realismo, humor crítico, emoções intensas e novas idéias, ajudou esse gênero a
chegar ao auge nos dois países. A partir da França, os círculos iluministas expandiram uma nova prosa,
- Análise crítica do conflito da essência com a aparência;
- Oposição ao sentimentalismo emotivo, à adjetivação extravagante, ao idealismo, ao
devaneio (sonho) e a valorização da ação heroica exagerada do Romantismo (oposição
ao Romantismo);
- Valorização da verdade, preocupação com a verdade, o real e a visão racional;
- Racionalismo: culto à razão;
- Objetividade: visão da realidade tal como ela é (sem artifícios ou máscaras);
- Temáticas de sentido universal;
- Observação, análise e representação verdadeira do real;
- Espírito crítico, analítico e questionador;
- Desacerto do mundo – temáticas sociais: o cotidiano árduo da classe trabalhadora, a
vida medíocre da pequena burguesia (classe média), a vida luxuosa e cheia de
ostentações da elite burguesa e a hipocrisia da igreja e do clero;
- Análise de comportamentos e costumes;
- Preocupação formal: correção gramatical, clareza e concisão na exposição das ideias,
vocabulário rico e erudição, prosa narrativa bem estruturada;
- Muitas descrições: gosto pelo detalhe, atenção a pormenores significativos na
representação de cenários, comportamentos e cotidiano;
- Presença de quatro correntes de estilo que podem dialogar entre si: Realismo,
Impressionismo, Naturalismo e Expressionismo;
- O Impressionismo vincula-se mais comumente ao Realismo e o Expressionismo
vincula-se mais comumente ao Naturalismo.
Realismo
repleta de idéias políticas e sociais. Na Grã-Bretanha, a principal novidade estaria nos temas e em seu
tratamento. Considera-se que o romance inglês do século XVIII tem três grandes linhas, que muitas vezes
aparecem entrelaçadas: A crítica ideológica, que rompe as bases religiosas, morais e filosóficas do antigo
regime, utilizando o humor e a sátira; A descrição dos costumes da época, com um fundo crítico e
moralizador; A exaltação sentimental, que caracteriza um relato melodramático ao qual poderíamos chamar
romântico. Principais autores e obras:
Daniel Defoe (1660-1731) – obras: As Aventuras de Robinson Crusoé (1719); Moll Flanders (1722) e O
Coronel Jacque (1722).
Samuel Richardson (1689-1761) – obras: Pamela ou A Virtude Recompensada (1740), Clarissa (1742 a
1748); História de Sir Carlos Grandisson (1754).
Jonathan Swift (1667-1745) – obras: A História do Tonel (1704); A Batalha dos Livros; As Viagens de
Gulliver (1726); A Confissão dos Animais.
Henry Fielding (1707-1754) – obras: A História das Aventuras de Joseph Andrews (1742); Miscelânea:
Viagem deste Mundo ao Outro e A História de Jonathan Wild, o Grande (1743); A História de Tom Jones,
um Enjeitado (1749); Amélia (1751).
Lawrence Sterne (1713-1768) – obras: Vida e Opiniões do Cavalheiro Tristam Shandy (1760); Uma Viagem
Sentimental pela França e a Itália (1768).
Naturalismo
Machado de Assis
Aluísio Azevedo
- Naturalismo;
- Expressionismo;
- Romance de tese;
- Adota as teorias do Cientificismo (Materialismo, Determinismo, Positivismo,
Evolucionismo);
- Fisiologia como explicação de comportamentos;
- Preferência por retratos de habitações coletivas e espaços degradados: pensões,
cortiços etc.;
- Força do sexo (Determinismo e Fisiologismo);
- Devoração do homem pelo próprio homem (exploração no trabalho);
- Caricatura e zoomorfismo;
- Fatalismo e tragédia;
- Patologias e desvios de comportamento;
- Ênfase na marginalidade e na sujeira moral das personagens.
Raul Pompéia
- Realismo-Naturalismo;
- Impressionismo;
- Expressionismo;
- Romance de formação de estrutura episódica e tom memorialístico;
- Narrativa de aspecto ensaístico;
- Retrato crítico da sociedade do Segundo Reinado;
- Caricatura e zoomorfismo;
- Ironia e humor amargos;
- Ateneu = microcosmo da sociedade brasileira do Segundo Reinado;
- Homossexualismo na adolescência;
- Memorialismo ressentido e irônico.
Realismo em Portugal
- Fase ultrarromântica
- Fase Realista-Naturalista
- Fase Realista fantasista
O Parnasianismo
Limites
- 1882: “Fanfarras”, de Teófilo Dias.
- 1922: Semana de Arte Moderna.
Contexto Histórico
- O mesmo do Realismo.
Características
- Tradição Apolínea (Clássica)
- Retorno, estudo e imitação dos modelos e valores do Neoclassicismo, do
Classicismo Renascentista e do Classicismo Antigo greco-romano;
- Racionalismo, Objetividade, Universalismo;
- Mitologia Pagã greco-romana;
- Simetria: busca pelo equilíbrio e a harmonia da forma com o conteúdo, visando à
beleza, a pureza, a simplicidade e a perfeição;
- Arte como mimese: imitação da natureza (realidade);
- Obsessão pela forma: rigor formal (preferência por composições de forma fixa
(sonetos, p. ex.), métrica rigorosa, rimas ricas, vocabulário culto e escolha criteriosa de
palavras, correção gramatical, clareza e concisão na exposição das ideias;
- Arte pela arte
- Metalinguagem: escrita sobre a escrita, reflexão apaixonada sobre o fazer poético;
- Impassibilidade (relativa);
- Arte que busca o efeito, o impacto (chave de ouro);
- Descritivismo plástico: gosto pelo detalhe;
- Descrição erótica do nu artístico feminino, idealização neorromântica da mulher;
- Descrição de obras de arte e objetos de relicário fino de gosto aristocrático;
- Exaltação do bom gosto e do chique;
- Temperamento neorromântico: erotismo sensual lírico, lirismo reflexivo filosófico,
memorialismo emotivo, nacionalismo, indianismo tardio;
- Uso de arcaísmos e neologismos.
A um poeta (Olavo Bilac)
Olavo Bilac
Vaso Chinês (Alberto de Oliveira)
Raimundo Correia
O Simbolismo
Origens:
E.U.A.
Edgar Allan Poe (1809 a 1849):
Poeta, contista, novelista, ensaísta e crítico literário estadunidense cuja obra,
apesar de apresentar-se dentro do contexto do Romantismo, engloba traços de
Ultrarromantismo, Realismo, Simbolismo e Modernismo. Poe criou o conto e a novela
de suspense/mistério policial e reformulou o conto de terror, mistério e morte,
influenciado pelo horror sobrenatural dos romances negros/góticos do século XVIII.
França:
Charles Baudelaire
Obsessão
Arte Poética
Paul-Marie Verlaine (Tradução de Augusto de Campos)
Limites
- 1893: “Missal” (poemas em prosa) e “Broqueis”, de Cruz e Sousa.
- 1922: Semana de Arte Moderna.
Contexto Histórico
- O mesmo do Realismo e Parnasianismo, mais: Decadentismo, Belicismo (paz
armada), difusão do Espiritismo, Psicanálise de Freud e Jung, 1ª Guerra Mundial, Gripe
Espanhola.
Características
- Tradição Dionisíaca (Romântica);
- Retorno aos valores do Ultrarromantismo, do Barroco e da Literatura Medieval
(Trovadorismo), sem abandonar de todo o formalismo típico do Parnasianismo;
- Subjetividade: enxerga a realidade não como ela é, mas como o indivíduo a idealiza;
- Onirismo / devaneio: valorização do sonho, do pesadelo, da fantasia, do fantástico,
do maravilhoso e da imaginação;
- Misticismo, espiritualismo, transcendentalismo, religiosidade e existencialismo:
poesia metafísica;
- Melodia e musicalidade: Obsessão pela música, instrumentos musicais, sons e
referências à musica;
- Memento mori: “lembre-se de morrer”, obsessão pelo tema da morte, morbidez,
atmosfera triste, melancólica, sombria e lúgubre que evoca as imagens sinistras da
morte, do horror sobrenatural, do gótico medieval, do neogótico barroco e imagens
satânicas;
- Conflito existencial: dor de existir, medo, horror, pessimismo e angústia diante da
morte;
- Conflito entre corpo e espírito;
- Sensorialismo: sinestesias – cruzamento de dois ou mais sentidos num verso, estrofe
ou frase (visão, audição, tato, olfato, paladar);
- Uso de figuras sonoras: aliterações (repetição de consoantes), assonâncias (repetição
de vogais), ecos, paronomásias (jogos com sílabas ou vocábulos, reprodução de sons
semelhantes em palavras de significados diferentes):
Exemplo de paronomásia:
Cruz e Sousa
Alphonsus de Guimarães
Poemas simbolistas:
MÚMIA (Cruz e Sousa)
X (Alphonsus de Guimarães)
XXXIII
ISMÁLIA (Alphonsus de Guimarães)
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
Limites
- 1902: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha e “Canaã”, de Graça Aranha.
- 1922: Semana de Arte Moderna.
Contexto Histórico
Características
Autores e obras
Euclides da Cunha
- Estilo neobarroco;
- Visão determinista;
- Arcaísmos e neologismos;
- Estilo ensaístico: mescla de discurso jornalístico (reportagem), histórico (crônica
histórica), tese científica (dissertação), didático e literário;
- Vale-se do coloquial / oral;
- Análise crítica, em tom de denúncia, do abandono social e isolamento cultural legado
aos sertanejos;
- Análise crítica das diferenças sociais e culturais entre sertão e cidade (ou litoral);
- Denúncia da desastrosa campanha do Exército Brasileiro em Canudos (o massacre
de Canudos);
- Crítica ao ufanismo;
- Crítica à cultura de fachada;
- Análise crítica do preconceito racial;
- Análise crítica do desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro;
- Estrangeirismos;
- Aproximação da linguagem jornalística com a linguagem literária;
- Coloquialismo e oralidade;
- Análise crítica das diferenças sociais entre centro e periferia;
- Análise crítica da recepção burguesa em relação à cultura popular.
- Obras: Triste Fim de Policarpo Quaresma, Clara dos Anjos, Recordações do
Escrivão Isaías Caminha.
Monteiro Lobato
- Experimentalismos ortográficos;
- Coloquialismo e oralidade;
- Mescla linguagem culta com expressões oriundas da oralidade;
- O tema do preconceito racial;
- Análise crítica do subdesenvolvimento da região do vale do Paraíba no estado de
São Paulo;
- Criador da personagem Jeca Tatu – símbolo caricato do caboclo brasileiro;
- Análise crítica dos problemas sociais, culturais e econômicos e dos problemas de
saúde pública;
- Escreveu contos humorísticos, de mistério, horror e morte, em ritmo de narrativa de
suspense policial, mesclado ao típico “causo” do meio rural;
- Obras: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha, O Presidente Negro.
- Escreveu poesia;
- Obra: Eu;
- Influências realistas, naturalistas, expressionistas, impressionistas, simbolistas;
- Existencialismo e obsessão pelo tema da morte e da putrefação da carne;
- Coloquialismo e oralidade;
- Vocabulário patológico e científico oriundo da química e da biologia;
- Pessimismo e morbidez;
- O tema da degradação da matéria viva e da pós-morte;
- Ênfase no grotesco e no chocante;
- Locus horrendus e fantasmagoria;
- Preferência pela forma fixa de composição, principalmente, pelo soneto.
O MORCEGO (Augusto dos Anjos)
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Cubismo (1907)
Futurismo (1909)
Expressionismo (1910)
Dadaísmo (1916)
Surrealismo (1924)
Início
- 1915: revista Orpheu.
Orphismo:
Presencismo
Saudosismo
Poesia
Fernando Pessoa
Poesia ortônima (ele mesmo)
Características
- Orphismo e Saudosismo;
- Musicalidade sutil e misticismo: influências do Simbolismo e do Ocultismo;
- Sebastianismo: nacionalismo místico;
- Ausência de uma filosofia nítida;
- Vale-se de diversos tipos de metrificação;
- Conseguiu “integrar (e em alguns casos, superar) e enriquecer a herança recebida
do lirismo tradicional das cantigas de amor, em Camões, Bocage, Antero, João de
Deus, Cesário Verde e Camilo Pessanha” (MOISÉS, 1960, p. 241);
- Captou “as agitações operadas na cultura ocidental” e fez um verdadeiro “painel (...)
das comoções históricas havidas em torno e em razão da guerra de 1914.” (MOISÉS,
1960, p. 241);
- Avesso a sentimentalismo;
- Emoções pensadas;
- “Parte do Relativo para o Absoluto” (MOISÉS, 1960, p. 242);
- Recebe “como se fosse pela primeira vez os impactos mil vezes sofridos pelos
homens no curso da História e sentido-os como descoberta “pura”, isenta das
anteriores deformações intelectuais.” (MOISÉS, 1960, p. 242);
- Obras: “Mensagem” e “Cancioneiro”.
Fernando Pessoa
Poesia heterônima (os outros “eus”)
Alberto Caeiro
- Mestre dos outros heterônimos e do ortônimo;
- Poeta da natureza: bucolismo – elogio à vida rural, natural e primitiva;
- Sensorialismo: capta o mundo pelos sentidos / sinestesias;
- Valorização da visão: cromatismo, formas, contornos;
- Negação da intelectualização das coisas;
- Empírico: valoriza o senso comum;
- Versos longos, livres e brancos;
- Coloquialismo e oralidade: escrita próxima da fala;
- Visão panteísta: fusão do homem com a natureza;
- Obra: “O Guardador de Rebanhos”
Ricardo Reis
– Dupla relação com o mestre Alberto Caeiro: paganismo, objetividade / odes
helênicas, negação do verso livre e do derramamento sentimental cristão. (Osakabe,
2002);
– Racionalista: racionalização universal;
– Negação do “sentir individual”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Desejos mantidos no “grau zero”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Encontra certo consolo à sua ausência de respostas na generalização filosófica.
(Perrone-Moisés, 1982);
– Influências clássicas, principalmente do poeta romano Horácio;
– Reduz o vazio subjetivo ao “nada”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Distanciado, altivo. (Perrone-Moisés, 1982);
– Poeta da “ficção da renúncia”. (Perrone-Moisés, 1982);
– Versos na maioria curtos, rigorosamente metrificados;
– Mitologia pagã: neopaganismo. (Osakabe, 2002);
– Capta o mundo intelectualmente;
– Inspirado por uma musa: Lídia;
– Visão panteísta;
– Pessimista, melancólico e descrente. (Osakabe, 2002);
– Neurótico: transitoriedade, falência inexorável da vida e quase inércia. (Osakabe,
2002);
– Faz muitas referências a passagem do tempo;
– Epicurista, mas suas reflexões sobre o tempo não têm como conseqüência o “carpe
diem” horaciano (os prazeres de Reis são congelados). (Perrone-Moisés, 1982);
– Estóico – “é a aceitação tristíssima e orgulhosa (por saber, e por saber que sabe) de
que somos nada porque tudo caminha para o nada”. (Perrone-Moisés, 1982);
– “Ricardo Reis é a instância do Superego em Fernando Pessoa”. (Perrone-Moisés,
1982);
– Ressentido, sofre por ser efêmero, dói-lhe o desprezo dos deuses, aflige-o a imagem
da morte;
– Lúcido e cauteloso, constrói para si uma felicidade relativa, feita de resignação e
moderado gozo dos prazeres;
– Estilo latinizante no vocabulário e na sintaxe.
– Obra: “Odes de Ricardo Reis”.
Álvaro de Campos
- Poeta das sensações;
- Sensorialismo: capta o mundo pelos sentidos / sinestesias;
- Influências futuristas: Futurismo;
- Mostra-se impaciente, ansioso e apressado;
- Exalta a civilização, o industrial e a tecnologia, mas também se mostra saturado da
vida moderna;
- Figuras de harmonia (sonoras): aliteração, assonância (harmonia imitativa) e
onomatopéias;
- Valorização de aspectos visuais;
- Coloquialismo e oralidade;
- Principais poemas: “Opiário”, “Ode Triunfal”, “Lisbon Revisited”, “Tabacaria”,
“Aniversário”;
- Obra: Poesias de Álvaro de Campos.
AUTOPSICOGRAFIA (Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
I
Coroai-me de rosas, (Ricardo Reis)
Coroai-me em verdade
De rosas –
Rosas que se apagam
Em fronte a pagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves,
E basta.
II
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. (Ricardo Reis)
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas
(Enlacemos as mãos)
III
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo, (Ricardo Reis)
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
IV
As rosas amo dos jardins de Adônis, (Ricardo Reis)
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
V
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. (Ricardo Reis)
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,
VI
Segue o teu destino (Ricardo Reis)
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
VII
Seguro assento na coluna firme (Ricardo Reis)
Dos versos em que fico,
Nem temo o influxo inúmero futuro
Dos tempos e do olvido;
Que a mente, quando, fixa, em si contempla
Os reflexos do mundo,
Deles se plasma torna, e à arte o mundo
Cria, que não a mente.
Assim na placa o externo instante grava
Seu ser, durando nela.
VIII
Quando, Lídia, vier o nosso outono (Ricardo Reis)
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa –
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
IX
Não só quem nos odeia ou nos inveja (Ricardo Reis)
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
X
Sim, sei bem (Ricardo Reis)
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
XI
Nada fica de nada. Nada somos. (Ricardo Reis)
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta.
Cadáveres adiados que procriam.
XII
Para ser grande, sê inteiro: nada (Ricardo Reis)
Teu exagera, ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
XIII
Aos deuses peço só que me concedam (Ricardo Reis)
O nada lhes pedir.
Adita é um jogo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Tem prazer ou dores.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Contexto Histórico
- Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial até o início da Era Espacial.
Características
- Tradição dionisíaca;
- Ruptura radical em tom de paródia com o passadismo literário e o academicismo,
sobretudo a estética parnasiana;
- Nacionalismo crítico; ama a pátria, mas reconhece seus problemas;
- Grupo Verde-amarelo (radical) e grupo Anta (moderado);
- Fase heroica e iconoclasta (que ou aquele que destrói imagens em geral);
- Antropofagia cultural: devoração e incorporação das Vanguardas Europeias aos
valores próprios da cultura nacional;
- Coloquialismo e oralidade: escrita próxima da fala;
- Uso de termos regionalistas, indígenas, estrangeirismos, neologismos;
- Tentativa de criar uma língua brasileira;
- Brasilidade: cor local – valorização da cultura nacional (festas, danças, culinária,
crenças, superstições, costumes, biodiversidade, recursos naturais, religiosidade e
misticismo, tradições populares etc.);
- Incorporação de lendas, mitos (o folclore) às Vanguardas Europeias (Cubismo,
Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e Expressionismo);
- Pontuação relativa e, em alguns casos, ausente;
- Mescla / confluência entre os gêneros literários (lírico, épico e dramático);
- Aproximação com as artes visuais;
- Ironia e muito humor (humor malicioso, malandro);
- Erotismo sensual “apimentado”;
- Metalinguagem: a lúdica e a filosófica;
- Intertextualidade: paródias, alusões, citações etc.;
- Crítica maliciosa à estagnação mental, aos costumes e à futilidade da burguesia e à
mediocridade de toda a sociedade;
- Carnavalização: irreverência com valores hierárquicos, inversão de valores e
insubordinação à ordem instituída e aos paradigmas da sociedade e da cultura
acadêmica e elitizada;
- Surgimento de inúmeras revistas que trabalhavam na divulgação do movimento
modernista: Klaxon, Festa, Verde, Revista de Antropofagia.
Manuel Bandeira
- Sua obra se divide em 3 fases: Pré-Modernismo / Modernismo / Pós-Modernismo
Fase Pré-Modernista:
- Aura crepuscular e melancolia;
- Monotonia, tédio e tristeza;
- A solidão, o desalento;
- O fluir do tempo e a morte;
- Métrica tradicional: ora medieval ora clássica.
Fase Modernista:
- Usa o verso livre e branco, mas não abandona a métrica tradicional;
- Coloquialismo e oralidade;
- Prosaísmo;
- Paródia, humor e ironia;
- Poema-piada;
Fase Pós-Modernista:
- Compôs sonetos e cantigas segundo os valores da tradição poética ocidental;
- Experimentou formas poéticas da tradição oriental (Gazal, Haicai);
- Continua usando o verso livre e branco;
- Experimenta as novas vanguardas (Concretismo).
Guilherme de Almeida
Alcântara Machado
- Retratou, em suas obras, o cotidiano dos imigrantes italianos, que viviam na cidade de
São Paulo na segunda metade da década de 1920. Apresentou também diversos
aspectos culturais e sociais da cidade de São Paulo nesse período.
- Usou expressões italianas misturadas com portuguesas, mostrando a mistura
linguística e cultural dos italianos com os paulistanos.
- Algumas de suas obras são marcadas pelo estilo jornalístico, principalmente as
crônicas.
- Usou estilo rebuscado e rompeu com muitas estruturas literárias tradicionais.
- Utilizou muitas experimentações em suas prosas, principalmente no uso de linguagem
espontânea carregada de bom-humor.
- Em 1928, publicou uma de suas principais obras: Brás, Bexiga e Barra Funda.
Mário de Andrade
- Foi poeta, prosador, músico, jornalista, crítico;
- Considerado o Papa do Modernismo;
- Tentou sugerir uma língua brasileira com sua obra;
- Valoriza as lendas, os mitos e o folclore brasileiro;
- Mistura de paixão e desencanto com cidade de São Paulo: cidade arlequinal,
carnavalizada;
- Critica a futilidade da burguesia paulistana;
- Como poeta buscou a harmonia do verso, a recusa de reproduções e a valorização de
estéticas de vanguarda;
- Valoriza os ritmos da toada, da moda, do samba e do rondó;
- Como prosador escreveu um romance freudiano (“Amar, verbo intransitivo”), em que
busca denunciar a hipocrisia da elite burguesa de São Paulo; escreveu também um
romance-rapsódia (“Macunaíma”), explorando seu lado de folclorista e incorporando,
nessa obra, as Vanguardas Europeias; escreveu ainda um livro de contos de inspiração
freudiana (“Contos Novos”).
Oswald de Andrade
- Ruptura radical (verde-amarela) com a tradição, demolição satírica e debochada dos
paradigmas acadêmicos;
- Adotou uma postura anarquista na arte e na política;
- Escreveu o primeiro romance moderno publicado no Brasil, “Memórias Sentimentais
de João Miramar” (1924): Cubismo (prosa telegráfica cubista), narrado em flashes
cinematográficos, retrata os conflitos da burguesia perante a modernidade – turismo
extravagante, casamento burguês, adultério, divórcio, vida literária e insucessos
financeiros;
- Erotismo sensual malicioso (“apimentado”);
- Vale-se do ready-made dadaísta na composição de “Pau-Brasil” (1924-25),
recontando, parodicamente, a Historia do Brasil do “descobrimento” até o seu tempo;
- Poesia: versos livres e brancos, coloquialismo e oralidade, ironia e humor, paródia,
carnavalização, metalinguagem, pontuação ausente ou relativa, poemas de estrutura
vertical cubista, erotismo “apimentado”,
- Antropofagia cultural: devoração e incorporação das Vanguardas Europeias aos
valores próprios da cultura nacional – essência do “Manifesto Antropofágico” (1928);
- Prosa poética em “Serafim Ponte Grande” (1933), teatro agressivo de crítica à conduta
burguesa em “O Rei da Vela” e teatro surrealista / expressionista em “A Morta”.
SONETO IX (Guilherme de Almeida)
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Vício na fala
O gramático
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
O capoeira
Erro de português
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres etc
Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Pneumotórax
Características
Autores:
Poesia
- Carlos Drummond de Andrade
- Vinícius de Morais
- Jorge de Lima
- Murilo Mendes
- Cecília Meireles
- Henriqueta Lisboa
Prosa
- José Américo de Almeida
- Lúcio Cardoso
- Dyonélio Machado
Graciliano Ramos
Ciclo da cana-de-açúcar:
- Pertencem a esse ciclo Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934),
Usina (1936) e Fogo morto (1943);
- As obras que integram essa fase literária têm como traço comum componentes
autobiográficos, os quais remetem à vida do escritor no engenho do avô ou às
lembranças da época de
internato;
- Há uma relação de continuidade intratextual em tom de paráfrase entre as obras
Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), Usina (1936);
- Fogo morto figura como uma narrativa independente;
FOGO MORTO:
- Na primeira parte, intitulada “O mestre José Amaro”, apresenta-se o drama humano
do seleiro José Amaro, cuja profissão é, lentamente, esvaziada pelos produtos e
artigos de origem industrial;
- Na segunda parte, “O engenho de seu Lula”, narram-se o apogeu e a decadência do
engenho de Santa Fé, controlado pelo coronel;
- Na terceira parte, denominada “O capitão Vitorino”, destaca-se a figura de um
justiceiro que anda pelos
engenhos defendendo os oprimidos.
Raquel de Queiroz
- Praticou o romance neorrealista regionalista de temática social;
- Trabalhou com a divulgação dos problemas sociais e com a investigação dos dramas
humanos;
- Prosa marcada pelo o dinamismo e a concisão;
- Valeu-se de linguagem coloquial;
- Usava com frequência o discurso direto em suas narrativas;
- Buscava o equilíbrio entre análise social e análise psicológica;
Érico Veríssimo
- Neorrealismo regionalista de análise social e política e análise psicológica;
- Busca retratar os costumes e valores do povo gaúcho, o ambiente rural e natural
sulista, as cidade do Rio Grande do Sul e suas características geográficas, sociais,
históricas;
- Reconta a História do povo gaúcho em narrativas que retratam a vida cotidiana do
povo dos Pampas e seus costumes e comportamentos;
- Mescla História com ficção;
- Propõe um panorama da condição da mulher nas discussões políticas, na vida
conjugal, no ambiente familiar e nos tempos de conflitos e guerras;
- Pratica um humor fino e ironia ácida no retrato moral das personagens e suas
ações;
- Criou uma narrativa épica no seu círculo novelístico de "O tempo e o vento": nele
reuniu várias de suas novelas em três partes: O continente, O retrato e Arquipélago;
- Sua linguagem apresenta-se próxima do coloquial oral para reproduzir os modos de
dizer gaúchos, tem muitas vezes ritmo de crônica historiográfica e rico vocabulário
regionalista do Sul do Brasil.
- De estilo simples e despojado, construiu sua prosa de ficção com base em técnicas
narrativas como o discurso indireto livre, o monólogo interior e o ritmo cinematográfico
de ações e acontecimentos. Em suas obras, narram-se, paralelamente, os destinos
individuais das personagens e os desdobramentos
da vida coletiva. Com o intuito de compor o retrato da elite gaúcha depois de 1930, o
autor mesclou a crônica de costumes com a descrição intimista.
Modernismo 3ª fase - 1945 a 1970:
Autores e obras:
Prosa e teatro
Nelson Rodrigues
- Escreveu crônica, conto, romance e peças de teatro;
- Promove em seus enredos um mergulho na psicologia das personagens;
- O universo psicológico influencia também o espaço/cenário de suas narrativas e
peças teatrais;
- Influências freudianas: constrói figuras arquetípicas e sonda o consciente e o
subconsciente dessas personagens;
- O mergulho no psicológico de suas personagens não é apenas uma análise
comportamental padrão, pois o autor destrói determinadas convenções e aproxima as
personagens de um mundo destruído, revelando os instintos mais doentios delas;
- Obsessão pelo sexo: o autor usa Freud e o afastamento dos valores cristãos de
família, casamento e honra para tratar o sexo sem responsabilidade como o que
impulsiona o adultério;
- As personagens de suas peças teatrais (dramas e tragédias) são vítimas de paixões
arrebatadoras que as leva a ruína;
- Sua obsessão pelo sexo não faz dele um autor de textos eróticos ou pornográficos,
ao contrário, pois suas personagens são vítimas de suas próprias e infelizes escolhas,
que demonstra o intento moralizante das obras de Nelson Rodrigues;
- Promove em seus textos um verdadeiro retrato do comportamento obsessivo e
paranoico das personagens;
- Em suas peças teatrais, por exemplo, a natureza humana é retratada pelos seus
instintos quase sempre abomináveis;
- Suicídio, adultério, neuroses, crimes, loucura e vícios são elementos frequentes em
seus textos;
- Em seus textos o homem moderno é vítima da vida moderna que leva e de suas
próprias ações, sendo com isto, o antagonista de si mesmo;
- Clima mórbido e baixo: o comportamento degradante de suas personagens que se
entregam aos seus instintos cria ambientes nos quais diversas convenções sociais são
quebradas;
- Compõe diálogos enxutos e sempre no limiar que harmonizam com a multiplicidade
de ação característica de suas tramas;
- O ritmo de suas peças é ágil e direto e ao mesmo tempo composto de diversos
núcleos;
- Suas tramas têm caráter folhetinesco com enredos focados no dia a dia (cotidiano),
mas que ganham profundidade pela construção de seus dilemas morais e pelas
dualidades apresentadas pelas personagens;
- Como cronista compôs crônicas repletas de aforismos, retratos iconoclastas dos
costumes da sociedade brasileira e fusão entre personagens reais e fictícias;
- Teatro: Nelson Rodrigues escreveu Peças psicológicas – “A mulher sem pecado”,
“Vestido de noiva”; Peças míticas – “Álbum de família”, “Anjo negro”; Tragédias
cariocas – “A falecida”, “Boca de ouro”, “O beijo no asfalto”, “Toda nudez será
castigada”.
- Vestido de noiva é sua principal peça. Possui um enredo focado na personagem
Alaíde e seu processo de rememoração de fatos passados. A peça possuí três planos:
o da alucinação, o da memória e o da realidade.
Literatura contemporânea - 1960 a 2024: