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DE ARIANA
PARA DIONÍSIO.
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu.
III
VI
IX
Pensando
Quando lancei meu primeiro disco, enviei um exemplar a Hilda Hilst, com carinho
de fã, sem maior expectativa. Foi grande a minha surpresa ao receber, dias depois,
um telefonema da própria, com a fala ainda debilitada por uma dispnéia recente.
Falou que queria se tornar minha parceira, afinal “literatura não dá camisa a
ninguém”. “Quero ser famosa, cansei dessa história de prestígio”, disse ela, entre
irônica e sincera.
Ali mesmo, ao telefone, ela pediu que eu anotasse um poemeto, destinado a ser
nossa primeira “parceria”. Assustei-me com o inesperado do telefonema de Hilda, e
mais ainda quando, meses depois, ela fez chegar às minhas mãos um disquete com
toda a sua obra poética.
Ali descobri a delicadeza e força de sua “Ode Descontínua e Remota para Flauta e
Oboé”, um dos capítulos do livro “Júbilo Memória Noviciado da Paixão”, conjunto de
10 poemas, profundamente líricos e femininos sobre o amor impossível de Ariana e
Dionísio, relato de uma paixão que - depois vim a saber por ela mesma -, era auto-
biográfica.
Um grande desejo seu está realizado neste trabalho – ter seus versos tornados
canções e eternizados nas vozes de dez cantoras fabulosas, sua poesia ao alcance
de ouvidos e alma de qualquer mortal.
[Zeca Baleiro]
Sim, ouviu, aprovou, corrigiu a métrica de uns dois versos lá. Ela
gostava de cantarolar a Canção X, dizia ser a sua preferida.
Tinha alguma canção sua que ela gostava especialmente?
Bom, estaria mentindo se dissesse que não fico envaidecido com isso,
que considero o maior elogio que um artista possa receber – “difícil
de ser rotulado”. Já disse alguém que “se você não pode esclarecer,
então confunda!”.
Depois de cinco CDs, qual avaliação que você pode fazer sobre sua
carreira?
Nem um pouco. Não faço músicas nem para o mainstream nem para o
underground, faço para o mundo, para quem queira ouvir. Para
alguns sou cult, para outros sou pop. Estou no meio de um caminho
que me é muito confortável. Quero ser tudo e nada. Apenas isso.