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conhecimento
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Traficando conhecimento
Jéssica Balbino
TRAFICANDO CONHECIMENTO
produtor gráfico
SIDNEI BALBINO
designer assistente
DANIEL FROTA
revisão
CAMILLA SAVOIA
LETÍCIA BARROSO
revisão tipográfica
CAMILLA SAVOIA
B145t
Balbino, Jéssica
Traficando conhecimento / Jéssica Balbino. - Rio de Janeiro : Aeroplano,
2010. il. - (Tramas urbanas)
ISBN 978-85-7820-041-1
aeroplano@aeroplanoeditora.com.br
www.aeroplanoeditora.com.br
A ideia de falar sobre cultura da periferia quase sem-
pre esteve associada ao trabalho de avalizar, qualificar
ou autorizar a produção cultural dos artistas que se
encontram na periferia por critérios sociais, econômi-
cos e culturais. Faz parte da percepção de que a cul-
tura da periferia sempre existiu, mas não tinha oportu-
nidade de ter sua voz.
No entanto, nas últimas décadas, uma série de traba-
lhos vem mostrar que não se trata apenas de artistas
procurando inserção cultural, mas de fenômenos orgâ-
nicos, profundamente conectados com experiências
sociais específicas. Não raro, boa parte dessas histórias
assume contornos biográficos de um sujeito ou de um
grupo mobilizados em torno da sua periferia, das suas
condições socioeconômicas e da afirmação cultural de
suas comunidades.
Essas mesmas periferias têm gerado soluções originais,
criativas, sustentáveis e autônomas, como são exem-
plos a Cooperifa, o Tecnobrega, o Viva Favela e outros
tantos casos que estão entre os títulos da primeira fase
desta coleção.
Viabilizado por meio do patrocínio da Petrobras, a con-
tinuidade do projeto Tramas Urbanas trata de procurar
não apenas dar voz à periferia, mas investigar nessas
experiências novas formas de responder a questões
culturais, sociais e políticas emergentes. Afinal, como
diz a curadora do projeto, “mais do que a internet,
a periferia é a grande novidade do século XXI”.
Sérgio Vaz
Dedicado a você.
Para
Meus pais, pelos pequenos gestos e grandes demonstrações
diárias de carinho e afeto.
Agradecimentos
Heloisa Buarque de Hollanda, por acreditar que o projeto poderia
virar livro.
13 Prefácio
14 Introdução
Prefácio
Sérgio Vaz
Poeta da Cooperifa
Introdução
Prazer, conhecimento!
Da mesma maneira que salvou a minha vida, eu penso
que o hip-hop, o conhecimento e a literatura podem ser
ferramentas de resgate dentro das periferias.
Como uma sociedade que quer evoluir dá as costas
para a periferia? Para alcançar propósitos é preciso
incluir os que são esquecidos.
O livro desvela a periferia de Poços de Caldas sem medo
de expor as chagas de uma gente subtraída.
Propõe um olhar livre de preconceitos para a perife-
ria. Imagine as pessoas cantando as letras mixadas em
forma de protesto sem julgá-las antes mesmo de ouvir.
As balas de borracha não vão parar a produção cultural
dos guetos.
Os quilombos modernos são grandes centros culturais.
Não existe mais utopia na periferia e sim gente que
sonha com as mãos e faz acontecer.
Os salários-misérias ainda são os mesmos, mas a cida-
dania exercida por meio do conhecimento e da litera-
tura são novos.
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Jéssica Balbino
Traficante de conhecimento
Cap.01
Periferia adentro: o hip-hop
Cap.01
Periferia adentro: o hip-hop
O início
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Trajetória
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Periferia adentro: o hip-hop 21
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Periferia adentro: o hip-hop 25
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Periferia adentro: o hip-hop 37
Com uma voz forte, a moça, que não teria mais que 18
anos, chamava a atenção de todos os presentes ao
embalar-se no ritmo e na poesia da música feita pela
cultura nascida nas ruas. Ao lado dela, o marido, dava
sentido ao rap, relatando os fatos cotidianos do lugar e
incrementando com um pouco do amor que sentia pela
esposa. Nasceu então, acompanhando a paixão do casal
e o amor dos garotos pela dança e pela cultura de rua, o
meu envolvimento com o hip-hop.
A magia do evento podia ser sentida diante da cena real
vista por centenas de jovens reunidos com um único
objetivo comum, descoberto depois, de promover paz,
amor, diversão e união, como profetizou o criador da cul-
tura Afrika Bambaataa, nos anos 1970, nos guetos nova-
iorquinos. Mais tarde, este mesmo casal ficaria conhe-
cido como Os tios do hip-hop.
Tentei encontrar alguma forma de contribuir com aquilo
que deu um novo sentido a minha vida: a cultura hip-hop.
Devagar, alguns garotos que moravam próximos a mim,
começaram a levar os passos para a escola e, alheios ao
que as gangues pregavam, passaram a disputar as dife-
renças através dos passos de break.
Diariamente, comentava com duas das minhas amigas
— Juliana e Karina — que me apresentaram, mesmo
que involuntariamente, à arte do hip-hop, tão próxima da
minha realidade, que mais de uma opção sempre existia
nas nossas vidas e entre o tráfico, o sexo tão aflorado
e as culturas populares, ficamos com a terceira opção.
Rapidamente, os intervalos de aula sangrentos e cheios
de medo foram substituídos pelo som que ecoava dos
micro-systems e faziam dançar.
Era hora de fazer alguma coisa.
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Os tios do hip-hop
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Homem do Gueto
Hoje o hip-hop chora, o homem do gueto foi embora.
Cantou, pregou, tentou. Não conseguiu. Cansou, não
aguentou. Se matou.
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O poder do dicionário
Poucas pessoas o sabem, muitas o desconhecem, somente
algumas sabem manuseá-lo com eficácia.
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(x . y) + z = vazio
Vazio. Sim, vazio jornalístico. É o que encontramos nos
jornais, um total vazio.
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
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Passos pela vida 95
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Passos pela vida 97
Uma brasileira
Lavando roupa, limpando a casa, dando banho no filho,
esquentando a janta, pensando no trabalho do próximo
dia, aguardando o amanhã...
Mas correr pelo certo nem sempre era fácil. Assim sen-
tia-se o casal, com um filho de três anos para criar.
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CON
CEP
ÇÃO
Cap.03
Concepção
Com os olhos apertados e enxugando as lágrimas, a pro-
fessora Rosa Helena Carvalho Serrano, responsável pela
disciplina de Antropologia para o curso de Jornalismo,
se desculpa pelo choro em plena banca examinadora de
um trabalho de conclusão de curso.
A emoção é justificada pela surpresa de sequer imaginar
que, algum dia, um tema tratado naturalmente em sala
de aula poderia se tornar um livro-reportagem ou, ainda,
um trabalho junto à periferia e um caldeirão de eferves-
cência cultural dentro e fora do curso.
E a pergunta dela na banca examinadora foi: “Após o tra-
balho, o que ficou e mudou na vida de vocês?”.
Para chegar nesta cena, vale voltar no tempo a um
ano antes. Na sala de aula, durante uma abordagem
comum, esta mesma professora entregou aos 32 alu-
nos um chumaço de folhas contendo inúmeros textos
do escritor Ferréz.
A sugestão do assunto em sala de aula surgiu de um
outro aluno que trabalhava com jovens de periferias e foi
apresentado aos textos produzidos pelo escritor, mora-
dor do Capão Redondo.
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HIP
Vem ardendo, sangrando e machucando. É o berro que
emana dos morros, guetos e favelas. Vem dos locais mais
pobres, o grito desesperado que vem da periferia. Chega
ao asfalto carregado de protesto, indignação, carência,
vontade, luta e marginalidade.
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Cap.04
No ar: o hip-hop
A tênue linha entre o crime e os cidadãos de bem é cru-
zada diariamente por milhões de jovens que vivem nos
guetos de todo país. Na minha quebrada não é diferente
e o livro “Hip-Hop – A Cultura Marginal” revelou-se uma
arma. Diferente das empunhadas pelos soldados do
tráfico, a munição veio em forma de palavras, que pas-
saram a chamar a atenção dos jovens em oficinas pro-
movidas nas escolas, centros comunitários e sedes de
Organizações Não-Governamentais (ONGs).
Assim, o desejo de voltar à cultura marginal e levá-la
adiante se tornou realidade. Não foi possível iniciar pós
ou mestrado em antropologia, mas dar sequência no que
tinha vontade, foi algo vital.
Meu telefone toca.
— Alô?
— Oi Jéssica. Aqui é Aline Bertolli. Você pode participar
do programa da Tereza no sábado de manhã aqui na Rádio
Difusora, onde trabalho?
— Posso. Mas para falar o quê?
— Sobre o seu livro.
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Será que ela vai cancelar o trabalho? Foi meu único pen-
samento naquela hora, ainda entre o sono e o despertar.
— É que a Nitinha se foi...
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— Como assim?
— Ela morreu esta noite. Teve uma parada cardíaca. Ainda
não sabemos direito. Será enterrada em Mogi Mirim, mas
ainda não sei o horário do enterro.
livro e não sabia como fazer. Ele não era mais da forma
como concebemos. Faltava um pedaço. No livro, na minha
vida, na da família dela e nas minhas lembranças da vida
universitária, que eram só nossas e nunca mais puderam
ser compartilhadas.
Resolvi escrever um texto para ela. Publiquei no jornal
onde trabalhava, no jornal de Serra Negra, cidade onde
ela morreu e resolvi que seria uma espécie de dedicatória
no livro. As pessoas que receberam a segunda remessa
dos exemplares puderam conhecer um pouco do que ela
representou para mim. Senti, novamente, o meu rosto
molhado pelo meu choro. Senti o hip-hop chorando por
ter perdido mais uma pessoa para o mundo das drogas
e mais uma vez foi ele que me salvou, que deu rumo e
sentido a minha vida. Foi nas manifestações artísticas e
culturais que senti força para seguir adiante.
Valeu a pena!!!
Blog
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Salve!
Jéssica Balbino
Escravidão Moderna
Hoje não existe mais escravidão. Será que não mesmo?
Acredito naquilo que chamamos de “escravidão moderna”.
Ela atinge a todas as raças, negros, brancos, índios ou
amarelos. A escravidão foi substituída pelo salário, que
nunca dá para o que precisamos. Se chegarmos atra-
sados no serviço, o patrão olha torto. Com endereço da
favela ou da periferia, ninguém consegue emprego. Se
o pé estiver sujo de barro da enchente da noite anterior
então... Esquece.
Poeta do gueto
Hip-Hop, literatura marginal e o sistema são discutidos
pela escritor da periferia Alessandro Buzo.
Informação é fundamental
“Hoje, 90% do que eu ouço em casa é rap nacional, desde
que me envolvi mais com a cultura, passei a promover
eventos, vender shows de grupo, só depois de pesquisar
e me informar sobre o movimento através de jornais e
revistas é que eu virei escritor”, conta Buzo, lembrando
que a boa informação dentro do hip-hop é fundamental.
E no dia a dia...
“Meus contos são ficção, mas sempre relatam histórias
que poderiam ter acontecido. Vejo acontecer parecido na
minha quebrada”, informa Buzo, quando questionado a
respeito de como é a literatura marginal que ele produz,
e diz ainda: “Me baseio no meu cotidiano, passo para o
papel as dificuldades do dia a dia”. Para o escritor, a lite-
ratura marginal assusta o sistema, porque segundo ele:
“A elite pensava que não sabíamos nem ler e, agora, esta-
mos escrevendo livros. Só tem conhecimento quem pisa
no barro, quem sobe e desce o morro, quem atravessa
suas vielas. Acho que a literatura marginal é importante,
porque a cena está forte e não é só modinha.”
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Jéssica Balbino
por Renato Vital
Cabelos longos
Longos como a jornada
Jornalista do Jornalismo
Jornada imensa, imenso caminho
Jéssica Balbino
Seu olhar brilha
Seu rosto que penumbra
Através da luz
Jéssica és bela
Suas palavras te cercam
Seu sorriso se preza
É uma linda guerreira aqui na terra.
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Assistência Social
A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas)
tem um trabalho chamado Atendimento Cidadão, que
recolhe as pessoas em situação de risco das ruas da
cidade e as encaminha para centros de tratamento e de
Desenvolvimento Humano.
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Em foco 265
O que ouvi foi “da próxima vez que eu for à lan house vou
visitar o site” e também “vou deixar de jogar country
strike e ler um pouco mais”. Frases como estas, soltas
em meio às oficinas me fazem crer que as transforma-
ções são possíveis.
Com o recurso audiovisual dos documentários e da con-
fiança em cada um dos garotos para emprestar os meus
materiais e deixá-los circulando na roda, de mão em
mão, ficou mais fácil, também, verbalizar um pouco do
contexto. Trabalhar com tudo isso em um horário tão
ingrato como o que eu tinha de tempo disponível era
como um brinde, uma promoção incrível, um número
acertado na loteria.
A maioria dos garotos que participava tinha entre 9 e 13
anos e todos pediam mais clipes de rap, mais vídeos e em
um dos encontros um pedido inusitado mexeu comigo,
chamou minha atenção. Um dos garotos me lembrou que
fazia tempo que não trazia um texto novo, feito por mim.
Um conto talvez. Eu já havia lido “O homem do gueto”,
“Uma brasileira”, os que estavam no “Suburbano” e algu-
mas partes do livro-reportagem, sem falar nos textos do
Elo da Corrente, do Sacolinha e do Buzo.
O questionamento me fez reparar que eu estava tão
embalada no Jornal de Poços, cobrindo a editoria de polí-
cia que eu havia assumido no Carnaval e que não gostava
nem um pouco, que não tinha mais tanta disposição para
atualizar o blog ou mesmo escrever meus contos da lite-
ratura marginal. Percebi também que o tempo estava
passando e que eu precisava, com urgência, me dedicar
mais ao hip-hop. Reformulei o blog, fiz um layout dife-
rente e soltei na rede textos novos. Produzi o conto “Peri-
feria Adentro”, inspirado em uma realidade que observei
durante as pesquisas do TCC e cheguei na oficina do mês
seguinte toda feliz, mostrando o texto:
Em foco 267
Periferia adentro
Quarta-feira, uma hora da tarde. O trem para. Estação
Jaraguá, Zona Oeste, São Paulo, capital. Para sair do
trem é um sofrimento já que ele está parado muito longe
da plataforma e é preciso pular. É mês de julho, inverno.
Mas o sol está muito quente. Passa dos 30°C. É preciso
caminhar um quarteirão e tomar um ônibus para a Praça
Panamericana. Uma praça bonita, porém, sem muito
verde. Tem uma pista de skate toda grafitada, denun-
ciando a presença do hip-hop por ali.
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Em foco 275
Talvez por ser nova. Talvez por ser boba. Talvez pela falta
de experiência. Uma sequência de talvez é o que eu con-
sigo para justificar a minha ausência, mais uma vez, nos
eventos de hip-hop, a falta de entusiasmo para as ofici-
nas e a pausa na produção literária. Quase corrompida
pelo sistema, deixei de usar as armas — o hip-hop e a
literatura — que sempre estiveram ao meu alcance para
driblar os adversários que jogam a favor do sistema.
Esgotada por trabalhar quase doze horas por dia e pas-
sar a maior parte do tempo atrás de sirenes de polícia,
bombeiros e Samu, sempre montada na garupa de uma
moto — com sol, frio ou chuva — deixei, mesmo que por
um período de tempo pequeno, de acreditar que poderia
mudar alguma coisa e me rendi à escravidão moderna
de trabalhar em troca do salário, que nunca dá para o
mínimo e aguentar esculacho de patrões bem abonados
que tentavam me demover da ideia de ser eu mesma, de
correr pelo meu povo oprimido, de escrever as minhas
injustiças e de gritar para o mundo, através de cinco
manifestações criadas há mais de trinta anos, o quão
interessante pode ser a vida periférica.
Esgotada por não ter nem o mínimo, que seria a dignidade
no emprego e ter de comer marmita fria, ser obrigada a
trabalhar bem vestida mesmo depois de um temporal
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Em foco 279
Guerreira
Parece título de livro. E é neste ramo mesmo que ela quer
trabalhar.
Da história...
Uma outra história, de uma também guerreira não apenas
poços-caldense, mas do Brasil, é a vivida por Laudelina
Mello, que nasceu em Poços de Caldas, em 12 de outubro
de 1904 e começou a trabalhar com 7 anos de idade em
casas de família, como era típico na época.
No cinema
Existentes por todas as partes, as domésticas, que
sempre fizeram um papel de pano de fundo no cinema,
passaram às telonas, em “Domésticas - O Filme”, como
protagonistas da própria história, deixando de ser as
figurantes de bandeja na mão, como as donas dos con-
flitos e tramas.
Mãe do vício
“Lágrimas, medo, sobressaltos e cansaço”, isto é o que
marca a rotina de Marta P., 52 anos, nome fictício da mãe
de Lucas P., 20 anos, e que vive o drama de ter um filho
dependente químico em casa. A família mora na Zona Sul
da cidade e, chorando, ela conta como é o dia a dia de um
usuário de drogas e de como a família fica comprometida
em razão do vício do filho.
“Eu sei que meu outro filho sofre por me ver assim,
mas ele nem comenta nada. Eu não tenho mais ânimo
para nada. Trabalho porque devo trabalhar. O pai deles
também sofre bastante com isso e sente-se culpado de
alguma forma”, diz.
290 Traficando conhecimento
“Faz uns dois dias que ele disse ter parado de usar dro-
gas e afirmou, chorando, que a única solução seria uma
internação forçada, mas nunca sabemos se isto resol-
verá de fato, ou se ele irá recair. Ele sempre afirma que
acabou, mas sabemos que este é um discurso comum.
Creio que, se ele ficasse internado, talvez resolvesse,
mas, eu também preciso fazer algo mais por ele, porque
com meu coração de mãe, eu acabo atrapalhando, aju-
dando a financiar a droga”, cobra-se Marta.
Para o Dia das Mães, Olga diz que não está totalmente
feliz, por saber que Pedro passará longe dela, na cadeia,
mas, pretende fazer um almoço para os outros três filhos
e a família deles. “Vamos almoçar em casa, fico feliz
pelos meus outros filhos, mas, no fundo do coração,
sempre tem aquela dor, aquele desespero, porque eu
queria que o Pedro estivesse conosco”, lamenta.
Na estrada
Já na estrada, Osmar lembra que, para comer, gastava
o dinheiro que havia levado. A princípio, pensou que as
economias conseguiriam mantê-lo até São Paulo, mas se
enganou e já no interior da Bahia o dinheiro estava prati-
camente no fim, o que o obrigou a arranjar bicos em bares
e restaurantes de beira de estrada, bem como postos de
gasolina e oficinas mecânicas. “Eu trabalhava horas em
troca de um prato de comida, para tentar chegar até a
próxima cidade e prosseguir a viagem”, diz.
juntos, mas, por fim, ele acabou indo para São Paulo
comigo”, relata.
Seguindo viagem
Mesmo com a morte de Pernilongo, Osmar continuou
peregrinando pelo Brasil afora e conta que já esteve em
estados como a Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo, Paraná e, atualmente, em Minas Gerais.
Em Poços de Caldas
Osmar diz que chegou até Poços após vir caminhando
pelo interior de São Paulo e conversando em bares, onde
adquiriu um gosto especial por tomar pelo menos uma
pinga por dia em cada local que passa. Assim ele desco-
briu que aqui é uma cidade com águas termais e veio até
aqui, conhecer.
O primeiro momento
Para ambos, é difícil falar do momento em que se acei-
taram e assumiram como homossexuais e cada um tem
uma história diferente.
A vida à dois
Ao serem questionados sobre a vida à dois, o casal
comenta que, assim como um casal hétero, existem as
dificuldades de um casamento. Eles dão risada ao se
atacarem sobre as preferências domésticas de cada um e
Daniel brinca com Caio. “Sempre discutimos sobre o modo
de apertar a pasta de dentes ou arrumar a cama”, ri.
Preconceito
“O preconceito deixa marcas”, afirma Daniel, que diz que
já sofreu vários tipos de preconceito, na rua, em antigos
empregos e em situações corriqueiras.
“Não tem como um gay dizer que não aparenta ser gay.
Claro que alguns demonstram mais, outros menos, mas
as diferenças de comportamento são visíveis e o precon-
ceito, mais visível ainda”, destaca.
Iniciativa
Discretamente, pois onde Daniel trabalha, nem todas as
pessoas sabem de sua vida com Caio, o casal se orga-
niza em manifestações e campanhas contra a homofo-
bia e o preconceito.
“Um dia é maré alta, outro dia maré baixa, mas, investi-
mos o dinheiro em nossa história, além de alimentação,
temos um dinheiro guardado, para ser investido numa
terra em Manaus.”, diz Pivô.
Desmistificando
Apesar de viverem pelas estradas, acampando nos
campings, praças e locais públicos, o casal destaca que
também tem casas, como a dos pais, onde passam algum
tempo quando a saudade aperta.
Amizade
Acompanhando o casal está uma amiga, também conquis-
tada na estrada. É Kelly da Silva Pereira, 23 anos, que saiu
de Alagoas para viajar pelo país. “Conhecer o movimento
hippie foi uma revolução na minha vida. Há cinco anos que
eu estou vivendo assim e é muito bom. Massa”, diz.
O movimento hippie
A cultura e movimento hippie nasceu e teve o maior
desenvolvimento nos Estados Unidos da América (EUA),
com uma juventude rica e escolarizada que recusava
as injustiças e desigualdades da sociedade americana,
nomeadamente a segregação racial.
Profissão: Prostituta
Maquiagem, salto alto, vestido curto e bolsa pequena,
estes são apenas alguns acessórios de Flávia Oliveira,
18 anos, que adotou este nome fictício ao tornar-se
travesti e começar fazer o famoso ponto, nas ruas de
Poços de Caldas.
O programa
Ao assumir que realiza programas sexuais por dinheiro,
Flavinha faz questão de ressaltar que é por opção e que
faz isso simplesmente porque gosta e sente prazer.
O inusitado
Ao ser questionada sobre situações ou programas inu-
sitados, Flavinha conta que já saiu para fazer programa
com dois casais heterossexuais. “O que eu observo é que
as mulheres querem ter uma relação sexual com uma
travesti. Já saí com dois casais. Porém, da primeira vez,
não fiz nada com a mulher. Já na segunda vez, eu fiz por-
que fiquei com vontade, aí aconteceu. Foi a primeira vez
que eu tive relações com uma mulher”, detalha.
Os perigos da prostituição
Por semana, Flavinha consegue ganhar em média R$ 350,
ou seja, um pouco menos que um salário mínimo. Porém,
vários fatos tristes também fazem parte da história, pouco
comum, de Flavinha. Ela conta que no Carnaval de 2007,
saiu com um rapaz da cidade vizinha de Caconde (SP).
Ela relata ainda que nem sempre anda como armas bran-
cas como facas, estiletes ou navalhas e diz que naquela
noite, por sorte, estava com uma navalha.
O preconceito
“Tem muitas pessoas que nos apontam nas ruas. Acham
que somos alvo de zombaria”, diz, ao referir-se ao precon-
ceito existente da sociedade com os travestis e, também,
com as prostitutas. Contudo, Flavinha destaca que pre-
fere ignorar o preconceito e levar a vida como está acostu-
mada, sem se deixar abater com o julgamento alheio.
Relacionamento
Além dos sonhos já citados por Flavinha e dos planos
para o futuro, Flavinha conta que possui um namorado
em Poços. “Ele é muito bacana comigo, acho que ainda é
a única coisa que realmente me prende na cidade”, conta.
Caminho de pedras
É uma manhã ensolarada de sábado. Os termômetros
marcam algo em torno de 22° C e, apesar da época ser
considerada fria, faz um dia agradável.
O antes e o depois
“Lutei muito tempo para me assumir como um depen-
dente de crack”, conta Toquinho. “Quando eu era mole-
que, fumava muita maconha e achava o máximo, até que
com uns 16 anos, fiquei amigo do pessoal que repassa
a droga e entre um repasse e outro, junto com eles,
treinando para ‘aviãozinho’ — pessoa que leva a droga
de um local a outro — eu experimentei cocaína e gostei
bastante. É estranho a gente falar que gostou de uma
coisa que faz mal, né?”, comenta.
Em foco 319
Sustentando o vício
Segundo o Departamento Estadual de Investigação sobre
Narcóticos (Denarc), o crack é a droga com um dos mais
altos poderes viciantes e uma pessoa, apenas de experi-
mentar, já se torna um viciado.
Sensação
A contradição de Toquinho é comum em usuários de
crack, conforme afirmam muitos psicólogos e pessoas
que lidam com situações semelhantes, como é o caso
de Luciana Marques, estudante de psicologia e estagiá-
ria em centros de reabilitação. “O crack gera um prazer
imediato, então, em cerca de dez segundos, o usuário
se sente um super-homem e toma coragem para fazer
abordagens. Mas o fim do efeito vem repleto de senti-
Em foco 321
Medo
Ao ser questionado sobre ter medo da morte ou mesmo da
polícia ou de traficantes, Toquinho hesita e diz que o medo
varia.“De morrer eu não tenho medo. Mas, por outro lado,
tenho dó da minha mãe, sabe? Ela faz tudo por mim. Vejo
que errei na vida. Sinto-me fraco e sem vontade de parar.
É mais forte do que eu. Só quem já fumou crack entende o
que digo. Mas é uma coisa que me comanda. Ao invés de
eu mandar em mim, quem manda é a droga. Imagino que
tentar parar dá mais trabalho do que continuar fumando.
Agora, da PM ou dos traficantes eu não tenho medo. Não
322 Traficando conhecimento
Futuro?
Não existe um tempo estimado de vida para os usuários
de crack, mas é sabido que grande parte deles, se não
deixam a droga, morrem por motivos já citados, como
dívidas, presos ou por degeneração do organismo.
Às Margens da Rodovia
São 12h15 de uma sexta-feira. É dia 16 de maio de 2008 e
Neusa Bastos, aproximadamente 35 anos, está estendida
às margens da rodovia L-MG 877, rodovia Geraldo Costa
Martins, conhecida também como rodovia do Contorno.
Os comentários:
Olá, Jéssica. Parabéns pela visão crítica ao hip-hop e pela
bela coluna escrita. Infelizmente o hip-hop é um movi-
mento quase que falido que não consegue responder mais
às questões, como você mesma fez no seu texto, poucos
que estão no ativismo devem ser respeitados e merecem,
cada vez mais, um suporte para nos tirar deste novo
modelo de escravidão que se perpetua, cada vez mais,
sobre os pobres e pretos deste país. Nossa maior prisão
ainda está na mente e para se livrar dela é necessário mais
do que só o hip-hop, que hoje é sexista, consumista e não
agrega mais valores para melhoria da nossa autoestima e
crescimento sócio-político do nosso povo.
Parabéns e paz!
Ass: MT Ton - CUFA BH / Realistas NPN
—
Em foco 335
Olá, Jéssica,
Abs,
GOG
Olá, Jéssica
Muito bacana e necessário seu texto. É isso aí. Obrigado por
ter me enviado. Havia feito um questionamento em minha
Coluna no Le Monde Diplomatique, mas a realidade foi
muito pior do que eu imaginava. Você foi brilhante nas suas
posições.
Abços,
Nelson Maca
Olá, guerreira!
Eu não estive na Virada Cultural, mesmo morando na
cidade, pois no sábado eu trampei e, domingo, preferi
prestigiar o evento Favela Toma Conta do Buzo, porém
fiquei sabendo de toda a movimentação, em especial sobre
os acontecimentos no palco do hip-hop. Gostei muito da
problematização que contém seu texto e pela descrição
da realidade sobre esse acontecido, por isso quero saber
se posso publicar em dois blogs do nosso coletivo: Elo da
corrente (www.elo-da-corrente.blogspot.com) e o Grupo
Alerta ao Sistema (www.alertaaosistema.blogspot.com).
Aguardo resposta.
Saudações!!!
Michel da Silva
336 Traficando conhecimento
Firmeza!
Valeu, Jéssica. O que precisar pode conta conosco, pode
crer? Admiro muito o seu trabalho. Essa conexão é muito
importante.
PAZ guerreira
Elemento.S
Pela vida
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Em foco 339
“Eita negro!
Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…
— Que foi que fizeste mano
para tanto falar assim?
— Plantei os canaviais do nordeste.
— E tu, mano, o que fizeste?
— Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau
…”
(Solano Trindade)
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Estatística 365
Produção
As pedras podem ser feitas de duas maneiras: com
pasta-base ou cocaína em pó, depende do produto dis-
ponível no mercado. As feitas com pasta-base – um pro-
duto bruto, não-refinado com éter ou acetona – apresen-
tam uma coloração escura, entre o amarelo e o marrom.
As pedras de cocaína em pó são mais claras. Os viciados
afirmam que a pedra da pasta-base é mais forte e não
esfarela com facilidade.
No caso de Buiú, ele comenta que não pode ver uma janela
aberta, que entra para furtar. Embora não cometa roubos
e nunca tenha utilizado de violência contra as vítimas, ele
confessa ter feito inúmeros furtos. “Faço isso para sus-
tentar meu vício, para comprar a pedra. Eu dou preferên-
cias às carteiras, mas furtava, também, outros produtos
como computador, tela de computador, capacete, celular,
enfim, o que tem pela frente eu levo embora”, relata.
368 Traficando conhecimento
Organismo em pedras
O programa de Álcool e Drogas do município também
recebe, diariamente, várias pessoas acometidas pelo uso
de drogas, principalmente do crack. O médico responsável
pelo atendimento clínico, Walter de Abreu, destaca que o
acompanhamento dos pacientes vai desde a parte psiqui-
átrica, com acompanhamento psicológico, com terapeuta
ocupacional para poder desvincular o paciente daquele
ritmo de vida que ele vem levando.
Problema social
Embora o crack esteja diretamente ligado apenas aos con-
sumidores, ou seja, viciados e as pessoas ao redor dele,
toda sociedade fica comprometida pelos problemas que a
droga traz. Além do comprometimento da saúde dos usu-
ários, os problemas sociais também ficam em destaque.
Trabalho policial
Diariamente, usuários ou traficantes são presos portando
drogas e o que, antigamente, era maconha ou, até mesmo,
papelotes de cocaína, hoje, foi substituído pelo crack.
Nesta semana, a Polícia Militar da cidade apreendeu
crack todos os dias em pontos diferentes do município,
mostrando que a droga, não atinge somente as pessoas
de baixo poder aquisitivo, como também as pessoas das
castas mais elevadas da sociedade.
Em busca de luz
Como não existe o tratamento previsto na Lei nº 11.343
para os usuários de drogas, os caminhos ficam interrom-
pidos e o voluntariado passa a ser a opção para quem
está na escuridão, grande parte das vezes, provocada
pela fumaça cinza do crack ao sair dos cachimbos.
Jéssica Balbino
Motivo
Para o delegado, como os pais geralmente não têm con-
dições de entregar aos filhos os bens materiais que eles
almejam, como camisetas, bonés e eletroeletrônicos,
eles terminam seduzidos pelos traficantes mais velhos.
“Essas crianças costumam ficar sozinhas o dia todo, sem
muitos cuidados e os traficantes, mais velhos, sabem
da dificuldade da polícia em apreender esses menores
e mantê-los presos então utilizam, com cada vez mais
frequência, a mão de obra destes adolescentes para rea-
lizar o tráfico”, acrescenta.
Procedimento
A máxima punição aos menores envolvidos com o tráfico
de drogas é a internação em algum estabelecimento de
reintegração social, no entanto, como a cidade não possui
um, em geral, quando os adolescentes são apreendidos, há
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Opção
Para reverter o quadro cada vez mais alarmante, Mariân-
gela pensa que um trabalho social e de conscientização
feito com as crianças, os adolescentes e os pais poderia
ser uma opção.
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Estatística 401
de pesquisa, que sei, ainda vai levar anos, até que seja
admitida em um mestrado de comunicação e possa tra-
balhar a produção literária vinda das quebradas.
Através de questionários, muitos escritores e afins da
literatura, frequentadores de saraus e agitadores cultu-
rais me contaram mais sobre o universo e toparam fazer
parte da pesquisa. Sem parar, me lancei novamente em
oficinas, desta vez em outras regiões e sem a obrigatorie-
dade de ser com estudantes. Bastava que quem estivesse
a fim aparecesse, até porque quem não quisesse não iria
se dispor a receber dicas de livros, textos e filmes.
Jovens apegados aos livros para o fortalecimento do
senso crítico. Esse era meu objetivo com as oficinas.
Fazer com que eles parassem de achar que porque eram
pobres, muitos deles negros e moradores da periferia
não tinham muito alimento nas mesas, precisavam ser
acomodados e conformados com a existência de miséria
que o sistema nos oferece.
Como exemplo, passei a usar a minha própria vida e traje-
tória. Encontrar um emprego não é fácil. Ganhar bem é o
mesmo que acertar seis números na loteria. Mas frequen-
tar, mesmo firme, a escola pendenga. Comer, mesmo fria,
a marmita amassada e procurar, mesmo com uma enorme
coleção de nãos. Nunca desisti de me encontrar e conti-
nuava, de alguma forma, lutando por aquilo que acredito.
Não é pecado ter a barriga vazia, mas a mente sem ide-
ologia é quase um crime, se não te leva para o mundo do
mesmo. A minha pequena trajetória passou a ser exem-
plo, citada com a de outros parceiros que também tive-
ram caminhos parecidos, mas que sempre foram firmes
ao dizer não para os convites às drogas e sim para o con-
vite às leituras. Dispor ideais escritos por mim nem sem-
pre era uma tarefa fácil. Muitos passavam para uma fase
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Invisibilidade
Por Jéssica Balbino
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Favela – Identidade
Lá está ela, que vem, que fica.
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Não acho difícil fazer isso. Acho que falta vontade e incen-
tivo, portanto, a minha parte está sendo feita. E o mais
bacana é o prazer em poder servir, em poder distribuir os
livros, em ver a expressão de surpresa nas crianças.
Em pouco tempo o projeto ganhou as ruas centrais, onde
um grande número de pessoas circula diariamente.
As abordagens se inverteram e durante a distribuição,
sempre que alguém nos pede esmolas, oferecemos um
livro, que raramente são recusados. Os bairros também
já fazem parte do itinerário por onde as histórias circu-
lam e a intenção é continuar arrecadando cada vez mais
livros e fortalecendo a corrente de conhecimento.
Sempre peço que alguém vá comigo, seja a minha amiga
Juliana, algum artista local para realizar intervenções
urbanas, como entregar o livro a alguém recitando uma
poesia ou pintando poesias com giz na rua e nas praças,
para que sejam apagadas apenas com a chuva. No rosto
de quem recebe as histórias pode se notar a expressão
de surpresa, afinal, por muito tempo, os livros foram
considerados produtos das elites.
Assim, a ideia de que livro na estante só tem vida quando
manuseado e lido por alguém é colocada em prática. O
fato mais marcante foi de uma garotinha, de não mais do
que oito anos, em um dos bairros da região onde moro.
Ao nos ver com os livros nas mãos, começou a nos acom-
panhar, discretamente, e, depois de algum tempo, nos
observando enquanto entregávamos os livros aos pas-
santes e à outras crianças, começou a chorar baixinho,
um pouco distante.
Intrigada, me aproximei e perguntei o que estava acon-
tecendo. Com vergonha, ela tentou enxugar os olhos
e relutou até começar a falar, que na casa onde a mãe
dela trabalha como doméstica, os dois filhos da patroa
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Dias depois...
— Posso enviar o texto?
— Claro!
— Então vou digitar.
— Ok.
Horas depois...
— Aí está meu primeiro texto.
— Tudo bem, vou ler e depois comento.
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P.140
Anita Motta entrevistando aluno da oficina de MC
na Casa do Hip-Hop
foto: Acervo pessoal
P.141
Grafite no Vale do Anhangabaú
foto: Acervo pessoal
P.143
Jéssica Balbino nas pick-ups do DJ Pow, na Zona Oeste de
São Paulo durante as pesquisas do livro
foto: Anita Motta
P.155
Jéssica Balbino e Anita Motta, no banheiro da faculdade,
provando as roupas para apresentação do TCC
foto: Acervo pessoal
P.175
Gravação de programa sobre Hip-Hop nas aulas
de radiojornalismo
foto: Acervo pessoal
P.185
Anita e Jéssica no encerramento das aulas no
4º ano de faculdade
foto: Acervo pessoal
P.189
Grafite no centro de São Paulo
foto: Acervo pessoal
P.209
Oficina de Hip-Hop e literatura na Zona Sul de
Poços de Caldas
foto: Juliana Martins
P.221
Jéssica Balbino na biblioteca pública em Poços de Caldas
foto: Marcos Corrêa
P.260
Grafite no Hip-Hop Em Foco e Leopac no Hip-Hop Em Foco
foto: Acervo pessoal
P.277
Jéssica Balbino no Jornal de Poços de Caldas em 2007
foto: Michele Miyake
P.288
Jéssica Balbino durante entrevista para o livro-reportagem
foto: Acervo pessoal
P.328
Palco do Hip-Hop na Virada Cultural em 2008
foto: Jéssica Balbino
P.337
Grafite no palco do Hip-Hop na Virada Cultural em 2008
foto: Jéssica Balbino
P.357
Gabriel, O Pensador lendo durante a Feira de Livros,
em Poços de Caldas
foto: Acervo pessoal
P.358-359 Jéssica Balbino entrevista MV Bill durante palestra na
Feira do Livro em Poços de Caldas
foto: Márcio Pinto
P.385
Ensaio do grupo de break Silêncio Crewativo
foto: Anita Motta
P.387
Oficina de DJ na Casa do Hip-Hop
foto: Anita Motta
P.398
Jéssica Balbino e o escritor Renato Vital
foto: Acervo pessoal
P.399
King Nino Brown no acervo da Casa do Hip-Hop
foto: Acervo pessoal
P.407
DJ Pow do grupo Império Z/O durante as entrevistas para
o livro-reportagem
foto: Acervo pessoal
P.416
UClanos durante show no Circo Voador no Hutúz 2009
foto: Jéssica Balbino
P.445
Projeto Passa Livros na periferia de Poços de Caldas
foto: Elza Balbino
P.455
Jovens fazem letras de rap na Casa do Hip-Hop
foto: Acervo pessoal
P.474
Professor entrega textos sobre literatura marginal
para alunos
foto: Luciano Santos
P.502
Jéssica Balbino
foto: Marcos Corrêa
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Sobre a autora